O Estúdio de Alberto Giacometti

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O Estúdio de Alberto Giacometti



Jean Genet visitou o estúdio de Alberto Giacometti, publicando mais tarde as suas conversas e o seu fascínio pelas suas obras descrevendo‐as de forma profunda e nostálgica. A obra de Giacometti, que para alguns parece monótona, pouco estimulante e inventiva com as suas formas repetitivas, revela‐nos uma imensa procura e abstracção de uma realidade que pensamos conhecer. Uma realidade na qual Giacometti capta a profunda solidão, a profunda procura de uma beleza única e obscura na qual a sua origem “está unicamente na ferida, singular, diferente para cada qual, escondida ou visível, que todos os homens guardam dentro de si, preservada, e onde se refugiam ao pretenderem trocar o mundo por uma solidão temporária mas profunda, fora de miserabilismos. A arte de Giacometti parece querer revelar essa ferida secreta dos seres e das coisas, para que ela os ilumine.” (pág. 18) São obras muito mais que um simples objecto estático em cobre. São imagens sem repouso e ao mesmo tempo estáticas e verticais, cuja forma é obtida por meio de distorções e subtracções. Transmitem um imenso dinamismo e movimento, um enorme desejo de lhes tocar e sentir a nobreza do seu material e a esbelteza da forma tornando‐nos aptos a compreende‐las e a sermos tocados por elas. O próprio Genet sentiu no atelier de Giacometti: “é inevitável tocar nas estátuas: afasto os olhos e a minha mão prossegue sozinha à descoberta: pescoço, cabeça, nuca, ombros…confluem sensações na ponta dos dedos. Nenhuma se repete, de modo que a mão percorre essa paisagem variada e viva”. (pág. 35) Procura a realidade que ele vê e que parece impossível de representar, em especial a realidade do retrato. Peças de uma enorme simplicidade formal mas de um único poder hipnotizante e eterno, alteram completamente o espaço e surgem como um deus. “Uma estátua dessas no quarto e o quarto transforma‐se num templo” (pág. 21), um templo intemporal, único, estático mas ao mesmo tempo dinâmico no qual elas nos olham lá de cima dando a sensação de quão pequenos e insignificantes somos. “As estátuas não só caminham ao nosso encontro, como se estivessem muito longe, ao fundo, num horizonte extremamente afastado, mas também, e onde quer que nos situemos relativamente a elas, fazem com que ao olhá‐las estejamos sempre num plano inferior. Estão lá longe no horizonte, sobre uma elevação, e nós no sopé. E vêm ter connosco, sequiosas desse encontro e de nos ultrapassarem.” (pág. 50) Genet rendeu‐se à grandiosa obra de Giacometti, à forma como ele vê o mundo e se comove com a sua beleza. O seu trabalho é de uma natureza superior, que anula a possibilidade de existência nas palavras, deixando por vezes o próprio Genet maravilhado. Genet, Jean; “O estúdio de Alberto Giacometti”, Assírio & Alvim, 1999. Mariana Fartaria . 2009



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