Paper . Atmosferas

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FICHA DE LEITURA 01 PETER ZUMTHOR . ATMOSFERAS

Mariana Fartaria . 2011


“Atmosphere is my style.” J. M. W. Turner a John Ruskin, 1844.

Peter Zumthor, em “Atmosferas. Espaços arquitectónicos – as coisas à minha volta.” fala da sua relação com a arquitectura, dos aspectos essenciais na criação de espaços de qualidade e de como será possível criar as atmosferas. Fala de uma relação entre vários pontos que em conjunto criam aquilo que o homem precisa para viver bem, lugares, ambientes, espaços, relações. “Ao falar da sua arquitectura sobressai inevitável e imediatamente o conceito de atmosfera, um ambiente, uma disposição do espaço construído que comunica com os observadores, habitantes, visitantes e, também, com a vizinhança, que os contagia.” Pág. 7 Na sua palestra começa por abordar o tema ‐ qualidade arquitectónica, fazendo uma comparação entre a arquitectura e a música. Em ambos essa qualidade expressa‐ se quando o que nos rodeia, ouvimos ou sentimos nos toca de forma marcante. É essa a essência que Peter Zumthor procura criar nas suas obras. “Qualidade arquitectónica só pode significar que sou tocado por uma obra.” Pág 11. Todos os elementos existentes num espaço, num momento, de uma certa forma provocam emoções, criando uma relação directa e emocional entre o homem e o que o rodeia. Basta que um desses elementos falte para que aquela emoção, aquela atmosfera, aquela relação deixe de existir. É esta relação entre o homem e as coisas que torna a arquitectura tão única e apaixonante. ”Mas ao eliminar a praça – os meus sentimentos desaparecem. Naquela altura nunca os teria tido da mesma forma sem a atmosfera da praça. Existe um efeito recíproco entre as pessoas e as coisas. E é com isto que me identifico como arquitecto. E é isto a minha paixão.”Pág.17 Na procura de criar atmosferas arquitectónicas, Peter Zumthor fala‐nos de nove respostas pessoais e sensíveis que o “levam a fazer as coisas desta forma.” Na sua primeira resposta define a arquitectura como um corpo e como este se relaciona com tudo o que o rodeia. O corpo físico, um conjunto de “materiais do mundo” que se ligam de forma lógica, com sentido e que nos podem tocar. “O corpo! Não a ideia do corpo – o corpo! Que me pode tocar!” Pág.23 O equilíbrio entre estes materiais influência o espaço e a emoção com que vivemos esse espaço. Uma simples alteração no material e toda a essência do espaço se altera. “Materiais soam em conjunto e irradiam, e é desta composição que nasce algo único. Os materiais são infinitos – imaginem uma pedra que podem serrar, limar, furar, cortar e polir, e ela será sempre diferente.” Pág.25 Este fascinante jogo entre formas e materiais levam a uma consonância de sons que, numa harmoniosa relação, nos marcam para toda a vida. É como se o espaço e o que o rodeia quisessem falar connosco, com uma enorme subtileza e naturalidade. “Cada espaço funciona como um instrumento grande, colecciona, amplia e transmite os sons. Isso tem a ver com a sua forma, com a superfície dos materiais e com a maneira com que estes estão fixos.” Pág.29 Como quarta resposta, a temperatura do espaço, é abordada a relação entre temperatura e material. Cada material tem a sua temperatura que acaba por classificar cada espaço, podendo esta questão ser considerada tanto física como psíquica. É através desta relação que o arquitecto pode procurar encontrar o ambiente certo, conseguindo temperar o espaço de forma que este se torne confortável para o homem, ou marcante nas suas vivências. “O que vejo, o que sinto e o que toco...mesmo com os pés.” Pág.35 Por vezes, no mundo da arquitectura, torna‐se impressionante a forma como as pessoas se apropriam dos espaços criados pelo arquitecto, com uma forte relação, amor e cuidado. Aqueles espaços ganham vida, ganham aquela essência e 1


atmosfera que tanto se procurava. “...terá sido tarefa da arquitectura criar o invólucro para receber estes objectos?” De certa forma pode‐se considerar que sim, pois o arquitecto enquanto cria estes espaços, pensa nas coisas que necessariamente entrarão e que à partida não controla, mas que lhe poderão dar uma visão futura dos seus edifícios e das suas vivências. “A arquitectura é certamente uma arte espacial, é o que se diz, mas a arquitectura também é uma arte temporal.” Pág.43 É necessário tempo para que o homem se aproprie dela, para que todas as suas qualidades sejam reveladas e aqueles pontos de emoção ou tensão sejam encontrados. Entre a serenidade e a sedução desperta‐se a atenção de quem percorre o espaço; espaços serenos, calmos onde não há procura e nos podemos sentir livres contrastam com espaços fascinantes, que nos seduzem a percorrer uma viagem de descoberta. “Conduzir. Seduzir. Largar, dar liberdade.” Pág.45 Toda esta procura é possível num mundo mais fechado, o interior, como num mundo mais amplo e livre, o exterior. Surge uma tensão entre dois mundos, “desenrolando‐se então o jogo entre o indivíduo e o público, entre a privacidade e o público.” Pág.47 O exterior é revelado de uma forma mais directa, as relações entre praças e fachadas, as quais escondem um interior misterioso, que guarda aquilo que não quer revelar. Esta tensão entre exterior e interior leva‐nos a pensar na proximidade e distância, na escala, porpoção, massa e o peso das coisas. A escala da cidade, a escala humana, as suas relações e equilíbrios são necessários quando se procura criar atmosferas únicas e fascinantes. “...a Villa Rotonda de Andrea Palladio, uma coisa grande, monumental, mas quando estou lá dentro não me sinto intimidado, mas sim enaltecido.” Pág.53 Estas atmosferas não poderiam existir sem um elemento essencial na arquitectura e na vida do homem, sendo denominada por Zumthor como a luz sobre todas as coisas. A forma como a luz penetra nos espaços, a sua intensidade, as sombras que cria e a sua relação com os materiais, se a luz se reflecte ou não sobre eles, são questões muito importantes na criação de atmosferas, marcando‐as de uma forma poética quando bem pensadas e conseguidas. “Mesmo ao fundo havia barras de madeira, revestidas com folha de ouro. E este ouro – que, embora o esperasse, me tocou de novo quando o vi ‐ , este ouro reluziu da profundeza, da escuridão do espaço!” Pág.59 A arquitecura como espaço envolvente, é um tema que Zumthor aborda no seu discurso, revelando a sua paixão na criação de edifícios que se relacionam e se tornam parte integrante do espaço envolvente, e consequentemente parte da vida das pessoas, marcadas pelas coisas que lá existiam e pelas suas vivências. Quando todos estes aspectos se encontram, formando um todo, poderá ser dito que a arquitectura encontrou de forma harmoniosa a sua beleza e finalmente o homem conseguiu ser feliz. “Amo a arquitectura, amo os espaços envolventes construídos e acho que amo quando as pessoas os amam também. Devo admitir que me daria muito prazer conseguir criar coisas que os outros amem.” Pág.67 ‐ Peter Zumthor

Zumthor, Peter; “Peter Zumthor – Atmosferas. Entornos arquitectónicos – As coisas que me rodeiam.”, editorial Gustavo Gili, Barcelona 2006.

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Seminário de Investigação 01 . 2011


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