A Ideia Construida

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A Ideia Construída de Alberto Campo Baeza



O título da obra remete para um dos temas mais importantes deste livro; para se construir arquitectura tem que se ter uma ideia, sendo esta “materializada à medida do Homem”. A arquitectura não é só as formas que assume, é também a ideia que se revela com essas formas e permanece enquanto que as formas desaparecem ao longo do tempo. Este aspecto permite que a arquitectura, mais do que uma história de formas e estilos, tenha uma história de ideias, coerentes e sustentáveis, que nos permitirá evoluir futuramente. Na arquitectura é necessário tempo; tempo para estudo e análise, para reflexão, para criar a ideia, para construir as formas e tempo para relação do Homem com o espaço. Só a arquitectura criada com tempo é uma boa arquitectura, criada de forma coerente e com razão; sem tempo apenas se criam formas vazias e frias que não possuem a verdadeira essência da arquitectura. Esta essência referida é composta por dois elementos centrais na arquitectura e que a poderão tornar perfeita quando bem questionados. “Quando a luz atravessa o espaço definido por estruturas (…) ligadas ao solo para transmitir a força da gravidade, quebra o feitiço e faz com que o espaço flutue, levite, voe.” A gravidade que constrói o espaço e a luz que constrói o tempo, numa relação mútua e lógica, transporta‐nos para um mundo fascinante onde o Homem vive em equilíbrio. A luz é a matéria principal da arquitectura,mais que um sentimento, sem ela nada é possível e apenas existiriam simples construções. Consoante a posição do sol em relação aos planos construídos, o tipo de luz varia, luz vertical, horizontal ou diagonal, criando espaços com diferentes qualidades e sensações. Mas esta luz deve ser estudada e pensada sendo que os excessos num mesmo espaço anulam por completo a sua poética. “Eis que a arquitectura sem luz ainda é menos que nada.” O peso da matéria inevitável sustentado pela gravidade torna‐se leve e sublime quando a luz atravessa por ele e anula a força gravítica. A luz é o único elemento capaz de vencer a gravidade, convocando a beleza sublime. Esta revela‐se despida, hábil e essencial, sendo sempre capaz de nos prender. “Tendo‐me convertido em meu próprio chefe, supliquei‐lhe (à arquitectura) que se despojasse do seu vestido de mármore, limpasse a maquilhagem da cara e se revelasse como ela própria, despida como uma deusa jovem e graciosa e tal como a verdadeira beleza, renunciasse a ser agradável e complacente.” (Konstantin Melnikov, Na Shchet Doma, 1953). A arquitectura tantas vezes adornada com elementos superficiais torna‐se sublime por acção do tempo, que a despe e exalta. Todas estas questões se relacionam entre si criando o que se pode denominar de arquitectura essencial – nada mais e nada menos. Surge uma vontade de conseguir mais com menos; apenas com uma ideia, luz e gravidade conseguir a verdadeira arquitectura que é ideia construída, que se materializa num espaço essencial iluminado, na sua existência pela luz, e que seja capaz de suscitar no homem a suspensão no tempo, a emoção. Associado a esta arquitectura essencial está também a cor branca que muito mais do que uma simples abstracção é um princípio firme, seguro e eficaz para resolver problemas de luz. O espaço fica perfeito quando a luz controlada ilumina os planos brancos que o definem. “O branco é símbolo do universal no espaço e do eterno no tempo”. Os mestres que construíram a história da arquitectura também defendiam a essência da cor branca, desde a Farnsworth de Mies Van der Rohe, até à Villa Savoye de Le Corbusier. O branco semelhante ao silêncio, à nudez, à exactidão, à simplicidade, à ausência presente. Temos mais com menos. A arquitectura surge quando se atinge o perfeito diálogo entre o espaço, a luz que o percorre e o Homem que o habita. O seu futuro dependerá das ideias dos arquitectos que dedicam tempo tentando dominar a luz e a gravidade, procurando o que de melhor a arquitectura tem para oferecer ao Homem, espaços para o acolher e apaixonar. Esta verdadeira arquitectura jamais desaparecerá, permanecerá eternamente na cabeça e no coração do Homem pois marcará a sua vivência. “A verdadeira arquitectura, ideia construída, permanece para sempre. Tornando real o desejo firme de perdurar. Com o aroma da eternidade.”

Baeza, Alberto Campo; “A Ideia Construída”, Caleidoscópio, 2006. Mariana Fartaria . 2007



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