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Trabalho formação profissional CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, domingo, 1º de julho de 2012
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Segundo pesquisa da Fundação Dom Cabral, estes profissionais são os mais raros no mercado brasileiro. Para suprir a demanda, as opções de cursos aumentam a cada dia
Cadê os técnicos?
Fotos: Carlos Moura/CB/D.A Press
» MARIANA NIEDERAUER trabalho de diarista não satisfaz mais os objetivos profissionais de Kelly Santos de Oliveira, 32 anos. Ela concluiu o ensino médio na adolescência e, desde então, ficou longe da sala de aula. Quando surgiu a oportunidade de se especializar em uma área técnica, não pensou duas vezes. Esta semana, está terminando o curso de qualificação para reparador de aparelhos de refrigeração e climatização no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). A área, totalmente nova e diferente da que está acostumada, não intimida. “As vantagens são o salário maior, a carteira assinada e a possibilidade de subir na carreira. Quem sabe um dia eu viro chefe?”, diz, rindo. O primeiro passo para que isso aconteça já foi dado: Kelly tem agendada entrevista de emprego em um hospital. Em agosto, ela pretende voltar a estudar. Fará o curso de eletricidade para complementar a formação. A diarista foi indicada pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (Sedest) para receber uma das bolsas do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e não paga nada pelo curso. Criado em outubro de 2011, o Pronatec pretende expandir, interiorizar e democratizar a oferta de turmas de educação profissional e tecnológica no Brasil. Das 7,9 milhões de vagas prometidas, 1,1 milhão já foram ocupadas. Uma das formas de criar essas oportunidades é ampliando a Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica. Atualmente, há 427 câmpus em funcionamento, e 208 (48%) ainda não estão prontos. O investimento que o governo federal anunciou para o Pronatec é alto:
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R$ 24 bilhões até o fim do programa, em 2014. O professor da Fundação Dom Cabral (FDC) Paulo Resende concluiu, no segundo semestre de 2011, estudo sobre a carência de profissionais no Brasil. A pesquisa ouviu executivos de 130 empresas de grande porte e apontou que os mais raros no mercado são os técnicos de nível médio. Mais de 45% das organizações têm dificuldade em encontrá-los. Além disso, eles são os que possuem pior qualificação. Esse foi um problema apontado por 64% dos entrevistados. “Estamos passando pela consequência de uma situação que aconteceu muito na década de 1980 no Brasil. Criamos uma cultura de que a falta do diploma universitário significava muita dificuldade de colocação no mercado”, afirma o professor. Nessa época, a situação econômica do país era ruim. Com o aquecimento da economia nos anos 2000, as empresas começaram a crescer e a precisar mais
Público e privado O Pronatec atende alunos do ensino médio da rede pública, trabalhadores, pessoas reincidentes pela terceira vez em 10 anos no seguro-desemprego, beneficiários de programas federais de transferência de renda e praças que dão baixa do serviço militar. O financiamento, nesse caso, é para estudar em cursos de instituições públicas federais. Está em fase de implantação o Fies Técnico, que oferecerá uma linha de crédito para matrículas em escolas privadas. Tanto o Pronatec quanto o Fies Técnico oferecem bolsas também por meio de instituições do Sistema S (Senai, Senac, Sesi etc.).
Sérgio Henrique se capacita para ser mecânico e abrir o próprio negócio
Mais 40 mil vagas Com a proximidade de grandes eventos no país, como a Copa do Mundo de futebol, em 2014, e as Olimpíadas, em 2016, profissionais de nível técnico serão ainda mais procurados. Na última segunda-feira, a presidente Dilma Rousseff anunciou a criação de 40 mil vagas em cursos para áreas ligadas ao turismo pelo Pronatec, justamente para suprir essa demanda.
de profissionais no nível técnico. Mas aí, porém, o país já havia passado, segundo Rezende, por um processo de desvalorização da formação de técnicos. “O Brasil perdeu capacidade de formação de técnicos justamente por causa de uma cultura de formação de graduados”, aponta. A partir do diálogo que manteve com os empresários durante a pesquisa, ele acredita que o momento é de pensar na quantidade da oferta. Carolina Freire Mota da Silva, 18 anos, e Sérgio Henrique Soares Castro, 33, são outros dois dos 800 alunos bolsistas do Pronatec que fazem um dos 30 cursos ministrados pelo Senai-DF. Ela está no 3º ano do ensino médio e entrou para o curso de técnico em administração, com duração de dois anos. “Hoje, não basta ter só o ensino superior, o curso técnico é um diferencial no mercado de trabalho. Além disso, há alguns concursos com vagas para técnico, e o salário é maior que o de nível médio”, afirma. Sérgio foi contemplado por receber o seguro-desemprego e se matriculou no curso de capacitação de mecânico de freio, suspensão e direção. “Tenho a intenção de abrir um autocentro, meu próprio negócio na área automobilística. Já realizei um estudo do mercado de onde eu
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Ainda no ensino médio, Carolina já procurou uma turma do Senai-DF
moro, em Águas Claras, e vi que há pouca oferta e um público carente desse serviço.” Segundo Zuleica Ferreira, responsável pelo Pronatec no Senai-DF, os cursos proporcionam acesso rápido ao mercado de trabalho. “A vantagem é que eles estão alinhados às demandas da economia do DF. Os jovens e adultos podem entrar logo nas empresas, uma vez que a necessidade de mão de obra qualificada é crescente.” O professor PhD em educação João Batista Oliveira acredita que o programa criado pelo governo federal é apenas um paliativo para a falta de técnicos. “O Pronatec não cuida do que precisamos: fortalecer uma política permanente de formação de mão de obra. Isso se faz com instituições, com programas regulares de formação profissional, de ensino médio profissional”, afirma João, que preside o Instituto Alfa e Beto (IAB), ONG criada para disseminar e promover políticas e práticas de educação. Como solução para valorizar os profissionais de nível técnico e incentivar as pessoas a buscarem esse tipo de profissionalização, João Batista aponta o uso da tecnologia. Em vez de varrerem as ruas, os profissionais podem dirigir um veículo de coleta de lixo, por exemplo. Com mais qualificação, o perfil do trabalhador vai mudando e esse tipo de serviço passa a ser mais valorizado. Mas o presidente do IAB alerta: esse é um processo lento. “O importante é que as autoridades e a sociedade reflitam sobre isso, reconheçam que precisam e usam os serviços, e, portanto, devem valorizar e preparar bem as pessoas para as várias ocupações. Se o encanador não for profissional, vaza água”, exemplifica. »Leia mais na página 2
Perto de se formar, Kelly tem entrevista de emprego agendada