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CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, domingo, 6 de março de 2016 • 11
Artigo
RAÍZES DO DIÁLOGO ADRIANO MACHADO RIBEIRO* ode-se definir o diálogo? Para responder a questão vale a pena dialogar com a própria palavra, trazendo uma Grécia distante no tempo, mas ainda presente em vocabulário e significados. Diálogo compõe-se do prefixo dia (através) juntamente com logos, cujo amplo sentido abrange razão, discurso, palavra, argumento, raciocínio. O logos foi na Grécia a condição humana de construir um mundo não ancorado no mito, palavra que significava narrativa. Tal relato provinha da inspiração divina das Musas sobre o poeta. Este podia, então, narrar os tempos imemoriais em que viviam deuses e heróis. A inteligibilidade das coisas provinha desta fala divina. Do 8 ao 6 a.C., o logos torna-se laico e histórico. Os gregos criaram então cidades, quase estados independentes, a polis. Dela deriva nossa palavra política. Em Atenas, em 5 a.C., surge nova forma de governo, a democracia. A instância aí soberana é a assembleia. Nesta, reunidos os cidadãos, iniciava-se com a pergunta: quem quer falar? Havia tanto igual direito à fala quanto igualdade ante a lei. Falava-se para argumentar e convencer: discursos opostos eram apresentados para persuadir a maioria. A palavra vencedora, ao obter a maior quantidade de votos, era decisiva. Havia, contudo, problemas: o logos do orador numa assembleia, ao falar a muitos, atingia sobretudo as emoções. A persuasão da maioria podia ser mais pelo pathos do que pelo logos. Com o enfraquecimento de Atenas e a morte de Sócrates, o dialogar surge no 4 a.C. como contraposto a tais disputas discursivas apaixonadas. Platão cria, então, um novo gênero (o diálogo) para uma nova atividade (a filosofia). No diálogo filosófico, quando um interlocutor diz algo ser
“Passado tanto tempo, em nossa democracia representativa, o que valerá: o embate de opiniões produzido pelas redes sociais ou o conhecimento do especialista?”
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justo, Platão faz Sócrates perguntar: mas o que é a justiça? Ao tentar respondê-lo, o interlocutor é testado, pois é preciso conhecer o fundamento do que se diz. Dialogar com alguém implica assim argumentar com a razão; despersonalizar a fala; entender as ressalvas do interlocutor; urbanamente saber o momento de falar e de ouvir para obter o conhecimento que as opiniões na
assembleia não eram capazes de produzir. Passado tanto tempo, em nossa democracia representativa, o que valerá: o embate de opiniões produzido pelas redes sociais ou o conhecimento do especialista? Talvez, para responder a questão, valha, sobretudo, conseguir reconhecer o próprio erro e o saber alheio. Afinal, como dizia Platão, o saber nunca é solitá-
rio, pois o próprio pensar se inicia com o diálogo da alma consigo mesma. » *Adriano Machado Ribeiro é professor do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas na USP, além de membro da Sociedade Brasileira de Retórica e da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos
A era do “eu sozinho” chegou ao fim
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