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CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, domingo, 6 de março de 2016 • 5
Cerca de 100 pessoas estiveram no auditório do Correio Braziliense para assistir ao seminário Dialogar para Liderar
TEMA DO ANO Foi com o intuito de incentivar as organizações a estimularem o diálogo entre os públicos e em diversos níveis que a Aberje elegeu o tema Dialogar para Liderar, que guiará as ações da associação em 2016. “Quando a Aberje coloca a questão, está preocupada em aperfeiçoar as técnicas de domínio da argumentação, para assim ampliar a relevância e a qualidade do diálogo”, resume o diretor-geral, Hamilton dos Santos. De acordo com ele, não há mais sentido em narrativas unilaterais, pois as novas tecnologias criaram arranjos sociais. “No campo da gestão, por exemplo, acabou o tempo das reuniões professorais. O bom gestor é aquele que conversa o tempo todo com a equipe, individualmente, em grupo, em dupla, sempre argumentando, revendo pontos e, sobretudo, tendo a coragem e a disposição tanto de abrir mão das próprias ideias como de ter a perseverança e o poder de argumentação para defendê-las quando julgá-las essenciais para os resultados buscados.” Santos relata que houve receio em eleger o tema. Isso porque a palavra diálogo, segundo ele, caiu num lugar comum, desgastada pelo uso frequente e sem embasamento. “Qualquer problema de relacionamento costuma ter o diálogo como uma certa prescrição: problema familiar ou na escola, crise institucional no país, crise de liderança dentro das empresa”, observa. Para o diretor-geral, isso significa que há consenso sobre a importância do diálogo, mas também indica que os problemas de comunicação são cada vez mais presentes. Por isso, o primeiro passo da associação foi
questionar o próprio diálogo e trabalhar para a qualificação de todos — associações, entidades de mídia, governo, famílias e cidadãos — para o debate. Vencida a etapa da qualificação, foi preciso entender o motivo do diálogo, e chegou-se à conclusão de que ele era necessário para liderar mudanças. “Isso desemboca na questão do projeto de país. Quais são as consequências que eu espero do diálogo? Preciso definir que problemas eu estou envolvendo com isso. Não adianta trazer soluções para problemas que sequer existem.” O diretor-presidente da Aberje, Paulo Nassar, acrescenta que esse é um tema permanente. “Não seria correto dizer que o diálogo é um tema de tendência”, afirma. Segundo ele, os momentos cruciais de diálogo do século 20 vieram depois de duas grandes guerras mundiais. Hoje, ele ocorre, no Brasil, porque o país passa por um momento de crise “Não apenas econômica, mas moral, política, cultural, tecnológica, de mobilidade, saneamento básico, todos esses temas que vemos nas ruas. Vamos estabelecer pontos de contato pessoais, institucionais e corporativos para a formação de uma liderança que busque a transformação real da sociedade”, finaliza.
Próximos passos Todos os anos, a Aberje elege uma questão relevante e centra suas ações para ampliar a compreensão a respeito dela e gerar ganhos para toda a comunidade da comunicação brasileira. Neste ano, serão exploradas as qualidades para um diálogo efetivo e de-
✓ O jornalista Hamilton dos
Santos é graduado e pósgraduado em filosofia pela USP. Atuou na área de recursos humanos da Editora Abril por 20 anos. Atualmente, é um dos líderes do Tem Mais Gente Lendo, projeto que estimula a leitura em espaços públicos. É também consultor editorial, autor de Lucio Cardoso — Nem leviano nem grave (Editora Brasiliense), O Perigo da hora (organizador e tradutor — Editora Scritta) e Enfim, grávidos (Editora Best-Seller).
No campo da gestão, por exemplo, acabou o tempo das reuniões professorais. O bom gestor é aquele que conversa o tempo todo com a equipe, individualmente, em grupo, em dupla, sempre argumentando, revendo pontos” ✓ Paulo Nassar é professor
Hamilton dos Santos, diretor-geral da Aberje
mocrático. A ideia é dar atenção à atuação em duas frentes fundamentais relativas a esse processo: qualificar a empresa e os funcionários e contar com profissionais capacitados na gestão e no aspecto comportamental. Para colaborar na qualificação dos profissionais, a Aberje está elaborando, em parceria com outras instituições, um programa de Certificação em Gestão da Comunicação em Empresas e Instituições para que os comunicadores
realizem um processo de autoavaliação de conhecimentos, técnicas, comportamentos e habilidades profissionais. Essa certificação está sendo elaborada em conformidade com os critérios de uma plataforma global de gestão da comunicação. Além disso, a área de conteúdo da associação vai trabalhar o tema Dialogar para Liderar em seus vários canais, por meio de reportagens, entrevistas, artigos e posts, conforme explica o head de Con-
teúdo da Aberje, Luis Antonio Giron. “Vamos abordar e discutir questões cruciais, como compliance, reputação, relações governamentais, gestão de crise, inovação disruptiva e interação via novas mídias. O objetivo é suscitar a discussão de ideias qualificadas”, completa. Acompanhe mais informações sobre o evento e a cobertura completa do seminário no hotsite www.correiobraziliense.com.br/ dialogarparaliderar.
livre-docente da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Também dá aulas no curso de MBA em Gestão da Comunicação Empresarial da Aberje/ESEG. Desenvolve pesquisas na área de comunicação, com ênfase em comunicação organizacional e relações públicas.
INTERAÇÃO EM DIVERSOS NÍVEIS ações nos tribunais. “A promessa de campanha do prefeito tem que ser estabelecida em metas na lei. É um compromisso que pode ser cobrado”, explicou. A partir desse diálogo, que o advogado chama de “interinstitucional”, a questão foi resolvida determinando-se um prazo para cumprimento da promessa e também um grupo de monitoramento, presidido pelo desembargador do Tribunal de Justiça. “É a grande novidade. Passamos a ter um grupo formado por representantes da sociedade civil e do poder público, dialogando com a prefeitura”, comemorou.
Até o momento, 50 mil vagas foram criadas, segundo ele.
Sem omissão Para Naves, a judicialização da política não é um mal, na medida em que há uma omissão do Poder Legislativo e do Executivo. “É uma vitória? É um caminho. Esse caminho é o que chamam hoje, no direito, de uma decisão dialógica, em que você consensa a decisão sob o princípio da razoabilidade, do diálogo.” Ele acrescentou ainda o papel importante das empresas
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Ainda durante a mesa do seminário que tratou dos desafios do presente, o advogado Rubens Naves, da Rubens Naves Santos Jr. Associados, expôs um caso de interação e diálogo envolvendo diversos setores da sociedade, a prefeitura e o Poder Judiciário. Foi uma tentativa de se fazer cumprir uma promessa de campanha do atual prefeito da cidade de São Paulo, Fernando Haddad. O político havia prometido a criação de 150 mil vagas em creches. As mães, reivindicando o direito, recorriam ao Ministério Público, e o tema acabava em
nesse processo, mostrando que não há mais espaço para terceirização da culpa, ou seja, é reponsabilidade de todos enfrentar os problemas sociais que se impõe ao país. “Não adianta você ser uma ilha de prosperidade se vive com vizinhos em uma situação sub-humana, como algumas metrópoles e zonas mais distantes do Brasil”, declarou. “Um projeto de país, retratado em uma Constituição como a nossa, precisa ser realizado. Dentro desse projeto, temos a missão de cada ator, e as empresas têm esse papel.” (leia mais na página 10)
O advogado Rubens Naves: responsabilidade compartilhada