NEGOCIAÇÃO ESTRATÉGICA E GESTÃO DE CONFLITOS Volume II – Tipos e Estratégias Marilda Andrade
TIPOS E ESTRATÉGIAS DE NEGOCIAÇÃO 3. TIPOS
A. Negociações Distributivas B. Negociações Integrativas
VOLUME
II
IMPORTANTE: Esse é o segundo volume de uma série de cinco, que compõem o ebook “Negociação Estratégica e Gestão de Conflitos”. Não deixe de ler os demais
4. ESTRATÉGIAS
A. B. C. D. E. F.
Matriz estratégica Evasão Acomodação Competição Colaboração Conciliação
3– TIPOS DE NEGOCIAÇÃO
“Quando perdemos o direito de ser diferentes, perdemos o direito de ser livres.” Charles Evans Hughes
3
TIPOS DE NEGOCIAÇÃO Só existe um jeito de negociar? É um processo em que todos querem levar vantagem? Ou em que todos ganham?
Há uma série de mitos em relação às negociações, alguns bastante incoerentes entre si. Ouço muitas pessoas descreverem a negociação como um processo em que todos ganham, enquanto outras a definem como uma forma de obter vantagens sobre outra. O que disso é verdadeiro?
Para compreendermos melhor, vamos primeiro afirmar que não há somente um tipo de negociação, e eles diferem, principalmente, quanto à maneira que lidamos com a
DE GANHOS
VISÃO
que orienta o comportamento na negociação.
Como já disse, se negociamos com alguém, é por que temos expectativas de ver atendidos interesses e necessidades. Isso quer dizer que sempre haverá, no caso de um acordo, distribuição de resultados entre as partes. Esses resultados podem ser recursos, monetários ou não (como tempo, propriedades, objetos, etc), atividades, ações, comportamentos, informações e conhecimento ou sentimentos. É a forma como os negociadores intentam distribuir esses resultados que define se uma negociação é Distributiva ou Integrativa.
A
NEGOCIAÇÕES DISTRIBUTIVAS
São aquelas conhecidas por negociações de “BOLO FIXO” e elas costumam acontecer, invariavelmente, quando observamos algumas características do processo:
Marilda Andrade
Recursos escassos/ poucos elementos negociáveis: são aquelas situações em que não há vários interesses das partes envolvidos – ou seja, eles são concentrados em um único ou poucos tipos de resultados, há poucas coisas a serem negociadas. Ou os negociadores têm pouca quantidade desses resultados a serem distribuídos.
Interesses opostos:
aquilo que um negociador necessita como resultado se contrapõe frontalmente àquilo que o outro precisa. Há algumas outras características que podem levar uma negociação a se tornar distributiva, mas trataremos delas adiante, em razão de necessitarmos refletir sobre alguns outros conceitos para compreende-las melhor. Se há poucos recursos e elementos alternativos para se distribuir, e os interesses divergem, a consequência clara é que, para que um negociador aumente a satisfação de suas necessidades, fatalmente o outro ou outros, terão que se satisfazer com menos do que esperavam. Essa é a razão de ser chamada de negociação de “bolo fixo”: imagine que você vai dividir um bolo com alguém, e os dois têm interesse em angariar a maior parte possível dele. O bolo é bastante limitado em termos de tamanho, e seus pedaços são o único elemento que estão negociando. Na medida em que você consiga aumentar o seu pedaço, o do outro negociador terá que diminuir. Assim, podemos resumir essa relação com a frase: “PARA QUE UM LADO GANHE, HAVERÁ PERDA OU REDUÇÃO DE GANHO DO OUTRO”.
Uma negociação distributiva pode ser a única alternativa, também, quando há negociadores de personalidade muito competitiva na mesa, e não se encontra a oportunidade de levá-los a aceitar fazer outro tipo de interação.
O que, em minha opinião, é fundamental ressaltar aqui, é o sentido que damos para as palavras “ganho” e “perda” no contexto das negociações. Culturalmente, sempre atribuímos a essas expressões o sentido de vencer ou ser subjugado pelo outro. É sempre ganhar do outro ou perder para o outro. Porém, é muito mais eficaz e adequado se pensar em ganho ou perda relativamente às expectativas que o negociador tem em relação ao nível de satisfação de suas necessidades.
daquilo que eu esperava obter (ou se superar, obviamente), mais eu ganhei. Ao contrário, quanto mais se distanciar, mais aquém ficar daquilo que eu esperava, mais eu perdi. Assim, quanto
mais próximo
o acordo chegar
Marilda Andrade
Obviamente, o fato de, nas negociações distributivas, o “ganho” de um implicar na “perda” do outro, reforça a impressão de que é um contra o outro. E apesar de parecer que essa diferença não tem importância prática, ela pode dificultar a compreensão de algumas reflexões que faremos mais para frente. É possível que grande parte dessa interpretação venha do fato de, tradicionalmente, ao menos até a década de 1960, os estudos relativos à negociação tentavam entender e buscar ferramentas para o que se conhece como “barganha posicional”. Ou seja, encontrar maneiras de um negociador manter sua posição e tirar o outro da sua, obtendo vantagens no processo. E como esse era o principal foco dos estudos, consolidou-se a imagem de vitória sobre o inimigo. Claro que, se em uma negociação distributiva um ganha e outros perdem, o foco terá que ser em “como aumentar a satisfação” ou “como minimizar a diminuição da satisfação”. de um ou outro.
Mas veja que o foco, como já falado, deve ser mantido em relação à satisfação dos interesses e não da conquista sobre o outro, sob o risco de se entrar em um processo de
IRRACIONALIDADE
que pode não levar aos resultados esperados ou causar danos colaterais indesejáveis, tais como confrontos ou rompimentos.
B
NEGOCIAÇÕES INTEGRATIVAS
A partir da década de 1960 as pesquisas e literaturas sobre negociação começam a expressar interesse em modelos alternativos ao tradicional. Proposições matemáticas aplicadas ao comportamento humano, tais quais a Teoria dos Jogos (Morgenstern e Von Neumann, Teoria dos Jogos e Comportamento Econômico, 1944) e pesquisas relacionadas a ela, como as de John Nash, que originaram o que se conhece hoje por Equilíbrio de Nash (Pontos de Equilíbrio em Jogos de N-Pessoas", "O Problema da Barganha" "Jogos Cooperativos de Duas Pessoas”, John Nash, 1950), passam a influenciar os estudos sobre o tema.
O modelo alternativo ganha força na década de 1980, com o trabalho de William Ury, Roger Fisher e Bruce Patton, com a pesquisa para o projeto de Negociação da Universidade Harvard, e que originou o livro “Como chegar ao Sim” (1981).
Esse tipo de negociação é praticável em interações com as seguintes características:
Recursos abundantes ou possibilidade de integração/ vários elementos negociáveis: são negociações em que os envolvidos têm, ao mesmo tempo, diversos interesses a ser atendidos no processo; os recursos não são tão limitados, e é possível trazer mais recursos, e de tipos diferentes, em função da diversidade de interesses.
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Interesses
diferentes
e/ou
comuns:
as partes apresentam predominantemente necessidades que são diferentes entre si, mas não se contrapõem; ou, ainda, têm alguns deles que são idênticos aos da outra parte.
Para explicar isso melhor, vou retomar a negociação do bolo. Imagine que, ao entrar na negociação, você tenha a expectativa de comer a cobertura do doce, porque é só do que você gosta. A pessoa com quem você está negociando, porém, não gosta de coberturas, e só gosta da massa. Nesse caso, é possível atender ao máximo o interesse de ambos, já que você pode ficar com toda a cobertura e o outro com toda a massa, igualando o resultado distribuído da expectativa inicial de cada participante. Imagine outra situação: você precisa que um colega seu desenvolva um relatório com informações específicas da área dele, para que você entregue um trabalho solicitado por seu chefe. Ao começarem a negociar , ao mesmo tempo em que ele expressa interesse em atendê-lo, porque o trabalho que você irá fazer poderá facilitar outras atividades dele, demonstra a impossibilidade de atendê-lo no prazo, porque precisa terminar de desenvolver uma apresentação em PowerPoint para o chefe. Para isso ele despenderá todo o tempo disponível até a data em que você precisa das informações dele, porque não tem muita habilidade com o software. Ao aprofundar a conversa, você percebe que ele está preocupado. O chefe usará sua apresentação para fazer uma palestra em um congresso, em que a imagem da empresa e do chefe estarão expostas.
Aparentemente, há escassez de um recurso nessa negociação: o tempo. Não há, porém, interesses divergentes; há o interesse comum na conclusão do seu trabalho, e outros que são somente diferentes.
Você, no entanto, é muito bom com o PowerPoint. E propõe montar a apresentação para ele, enquanto ele levanta as informações para você. Nesse exemplo simples, a solução encontrada implica na integração do recurso “tempo”, já que você o tornou mais abundante quando disponibilizou o seu. E tratou de envolver interesses diversos, como a necessidade dele de se mostrar eficiente para o chefe. Tipicamente uma abordagem integrativa. Nesse tipo de negociação o ganho de um não implica na perda de outro. No caso dos exemplos acima, os envolvidos potencializaram a concretização de seus interesses, sem que os outros precisassem abrir mão do atendimento dos seus. Mas, para que o processo ocorra realmente de forma integrativa, algumas condições são
confiança e a disposição para discutir de forma mais profunda as necessidades dos envolvidos, bem como para formular propostas e tomar decisões indispensáveis: a
baseadas nelas. Isso tudo exige tempo para ser desenvolvido e construído. Por isso é que as negociações integrativas, apesar de muito atraentes, são muito difíceis e trabalhosas de serem concretizadas. Por essa razão, ao contrário do que muitas vezes apregoamos aos quatro ventos, elas não são “panaceia universal”. Não servem e não são possíveis de serem aplicadas para todas as situações, em minha opinião. Para aprofundarmos, então, essa linha de pensamento, vamos ao tópico seguinte:
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4 – ESTRATÉGIAS
“Jamais negociemos por medo, mas jamais temamos negociar.” Marilda Andrade Charles Evans Hughes
ESTRATÉGIAS DE NEGOCIAÇÃO Como eu devo negociar? Em que situações as negociações são diferentes?
Como eu já disse anteriormente, alguns pré-requisitos definem o tipo de negociação que podemos utilizar e, consequentemente, suas estratégias. Porém, em algumas situações é possível fazer uma escolha consciente da estratégia a ser utilizada. Para nos ajudar nessa escolha, bem como para nos auxiliar a reconhecer a possibilidade de uso de cada estratégia, consideraremos alguns fatores essenciais:
4 Marilda Andrade
Interesses divergentes Como foi falado quando tratamos dos tipos de negociação, a predominância de interesses divergentes entre as partes define substancialmente se a negociação será distributiva, demandando por alguma de suas estratégias. Já a constatação de que a maior parte dos interesses não se contrapõe, sendo somente diferentes ou comuns entre ambos, possibilita um processo integrativo, demandando estratégia correspondente.
Importância do Relacionamento Negociamos o tempo todo, com diversas pessoas. Algumas delas são caras e importantes para nós, para a empresa ou para outras pessoas em nome de quem estamos negociando. Outras, nem tanto. Com as primeiras, obviamente, haverá a preocupação de manter a continuidade, com qualidade, da relação. Com as outras, é possível que isso não nos interesse, ou até não seja viável. Portanto, relacionamento é uma variável fundamental na definição estratégica.
Importância dos Resultados/ Riscos Às vezes entramos em processos negociais em que esperamos obter resultados extremamente impactantes para nós em nossas carreiras, remuneração, receitas e despesas, qualidade de vida, imagem pessoal e profissional, atividades, relacionamentos pessoais, etc. Ou para nossa empresa ou alguém em nome de quem realizamos o processo. Outras vezes negociamos resultados que não têm grande impacto. E essa é outra variável que deve ser, então, considerada.
Posse dos Fatores Condicionantes Os fatores condicionantes, ou Campos de Força da negociação, serão, para os efeitos que nos interessam aqui, aqueles que determinam, ou condicionam – como o nome pressupõe – os resultados do processo. Eles são três: Poder, Tempo e Informação. Há quem considere que só há, de fato, o Poder, porque os outros dois acabam por se transformar neste. Mas isso é assunto para outro capítulo. Por enquanto, basta saber que eles interferem na escolha estratégica. E interferem de tal maneira que, se uma das partes detiver um ou mais deles em nível muito superior ao da outra parte, sequer haverá negociação. Haverá, sim, imposição dos interesses de um sobre o outro, sem possibilidade de discussão. Ao relacionarmos estas considerações, podemos nos encontrar em quatro situações diferentes. Para cada uma delas, havendo possibilidade de escolha, há diferentes estratégias
estratégias comportamento,. recomendadas. Três
de
negociação,
e uma
estratégia
de
Há, ainda, a possibilidade de uma alternativa estratégica que fica no “meio termo” entre umas e outras, e cuja utilização será detalhada logo adiante. Vamos a elas:
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ESTRATÉGIAS
MATRIZ ESTRATÉGICA
A
COMPORTAMENTO DE EVASÃO
Em interações com pessoas que são pouco
importantes para o negociador, e cujo resultado de uma possível negociação também será de pouco impacto em qualquer área da sua vida, o comportamento mais eficaz é a abstenção de se envolver no processo. Não há qualquer ganho significativo a se obter e somente desperdício de tempo e energia. Além disso, quando um negociador percebe que em um eventual processo de negociação o outro tem muitos interesses divergentes dos seus, e não tem poder, prazo ou informações suficientes para realizar o processo de forma a atender suas necessidades, é conveniente que nem o comece , já que não conseguirá chegar a um acordo satisfatório. Como isso significa evitar a negociação, não chamo de estratégia de negociação, mas de estratégia de comportamento. Evadir-se da negociação é, muitas vezes, a maneira mais produtiva de se comportar em algumas situações. É um comportamento diplomático.
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Os problemas podem surgir quando, em uma situação como essa, adotamos outra estratégia – o que nos faz desviar atenção e energia que poderiam ser canalizadas para soluções mais produtivas e convenientes. Ou, ainda, quando os resultados obtidos seriam melhores ao se adotar o processo, mas o negociador não o faz. Nesse caso, há a renúncia a um acordo e a uma situação melhor, e não há atendimento dos interesses de nenhuma das partes, reduzindo expectativas de ambos e diminuindo chances de soluções satisfatórias para um problema.
ESTRATÉGIAS DISTRIBUTIVAS
B
ESTRATÉGIA DE ACOMODAÇÃO
Algumas vezes nos vemos compelidos a negociar com pessoas com as quais queremos ou precisamos preservar o relacionamento, já que o rompimento ou desgaste deste nos traz impactos negativos, ou profissional ou pessoalmente.
E algumas dessas vezes percebemos que o
objeto da negociação não é assim tão
relevante para nós. Ou, ainda, que – ao final – os interesses não divergem tanto assim, o que significa que a maneira como eles serão atendidos pode não ser fundamental. E mais, podemos perceber que não somos detentores de poder, prazo ou informações para persuadir o outro a respeito de nossas posições. Nesses casos a estratégia mais eficaz é a de Acomodação ou Subordinativa, em que eu escolho, de maneira consciente, abrir mão dos meus desejos, priorizando a manutenção do relacionamento. Muitas vezes fazemos isso por vislumbrar, na continuidade do relacionamento, possibilidade de obter resultados mais significativos do que o que poderíamos obter no processo em questão. E percebemos que vale a pena renunciar aos objetivos de curto prazo e sacrificar nossos interesses. Podemos, ainda, escolher essa estratégia por puro desprendimento ou generosidade. E, como se pode depreender, por sermos obrigados a nos render por falta de condições de lutarmos pelos resultados esperados.
Marilda Andrade
Alguns cuidados, porém, devem ser tomados. Quando abrimos mão de nossos interesses, não por escolha consciente, mas por incapacidade de adotarmos outra maneira para buscar atender nossas necessidades, eu considero que não estamos escolhendo uma estratégia, mas sendo pouco assertivos.
Além disso, é necessário observar que, dependendo da personalidade do outro negociador, da sua percepção, ou do momento em que o processo se dá, ceder aos interesses do outro pode ser por ele interpretado
como
um
exigências, como ingenuidade, ainda
convite fraqueza
a
novas ou
como
que não seja esse o caso. Portanto, fundamental esclarecer os motivos e razões pelos quais essa escolha foi feita. Essa é uma negociação, então, em que o negociador escolher Perder, para que o outro Ganhe, sempre considerando a relativização com o seu nível de expectativas. Não é um processo que demande táticas, somente comportamentos de cooperação que levam ao abandono claro dos interesses.
C
ESTRATÉGIA DE COMPETIÇÃO
Muitas vezes somos compelidos a negociar com pessoas com quem a continuidade do
relevante
relacionamento não é
ou, às vezes, é até inviável. E algumas dessas
negociações implicam para nós.
resultados
bastante
importantes
Além disso, há casos em que os interesses entre as partes são muito divergentes, impossibilitando o encontro de um denominador comum. Ou, ainda, podemos perceber, em alguns processos que nos envolvemos nessas situações, que temos mais prazo, informações ou poder que o outro. Aí é que é recomendada a estratégia de competição, em que, legitimamente, o negociador procurará extrair o máximo de concessões possíveis da outra parte, garantindo a “maior fatia do bolo” para si – ainda que para isso abra mão de um relacionamento mais próximo no futuro. Ele escolhe Ganhar, aumentando a satisfação de suas necessidades, ainda que o outro tenha que Perder, se afastando das suas expectativas.
Marilda Andrade
Isso não quer dizer, porém, que deverá haver confrontação aberta, atritos ou, ainda, comportamentos desonestos ou fraudulentos. Tudo isso poderá levar ao rompimento e impedirá o atendimento das necessidades de ambos. Há, sim, a necessidade de utilização de táticas eficazes executadas com competência e talento. Descreveremos essas táticas adiante. Essa estratégia, muitas vezes, pode dar a um negociador que a escolhe, a vantagem da iniciativa, porque parte do pressuposto em que ele tentará impor suas vontades e interesses ao outro, que pode se submeter por falta de experiência, desapego ou inabilidade. Por outro lado, deixa pouco espaço para uma solução construtiva, e geralmente leva – quando as circunstâncias permitem uma estratégia integrativa – a um menor grau de satisfação das necessidades não só de quem é dominado, mas de quem consegue dominar. Por essa razão, sua escolha tem que ser bem pensada, levando em consideração as variáveis apontadas e resumidas na Matriz Estratégica. Ao ser escolhida sem se levar isso em conta, puramente por desejo de “vencer” ou por características de personalidade ou, ainda, por falta de domínio das emoções, o risco de se obter menos resultados que o possível caso a escolha fosse por uma estratégia integrativa , é bastante grande.
ESTRATÉGIA INTEGRATIVA
D
ESTRATÉGIA DE COLABORAÇÃO
A estratégia colaborativa é aquela recomendada para situações em que temos que negociar, com
pessoas importantes
para nós,
resultados igualmente
relevantes.
Como já dissemos anteriormente, ela prescinde da existência de predominância de interesses comuns, ou que não se contraponham. E depende, também, da existência de certo nivelamento na posse dos fatores condicionantes. Como ela é a única estratégia do tipo integrativo, encontramos na literatura as diversas nomenclaturas querendo dizer a mesma coisa: negociações integrativas, colaborativas, cooperativas ou o tão famoso
ganha-ganha. Marilda Andrade
As negociações colaborativas são aquelas que otimizam ou
potencializam
os
resultados
de ambos, evitando que as partes necessitem ceder, e proporcionando a maior aproximação possível entre os resultados e as expectativas de obtenção de resultados iniciais dos envolvidos. É, portanto, a consequência do esforço em se construir uma solução efetiva de parceria, que se foca no interesse de todos, e que normalmente demanda uma abordagem criativa, elaborada conjuntamente, por meio da compreensão das reais necessidades próprias e do outro, por meio de uma interação aberta e de confiança. Volto a afirmar que essas demandam tornam o processo trabalhoso e difícil. Claro que vale a pena, quando as características que o permitem estão contempladas. Mas é ingenuidade se pensar que sua execução possa ser realizada com eficácia sem conhecimento de método, de maturidade, autoconhecimento
e interesse pessoas.
genuíno
por
outras Marilda Andrade
O grande desafio em relação a esse modelo é, em minha opinião, o fato de que se tornou moda, além de “politicamente correto”, a propagação de que toda negociação boa é aquela que resulta no ganha-ganha. Como vimos, isso não é possível, e nem recomendado para todas as situações. E esse mito, então, pode fazer com que as pessoas percam a credibilidade no processo, já que percebem que esse discurso, quando aplicado na prática, é inconsistente. Acredito que esse mito tenha origem em duas verdades: A primeira está relacionada ao fato de que essa moda é em grande parte oriunda das negociações corporativas. E as empresas são lugares onde, realmente, negociamos muitas vezes com pessoas importantes (chefes, funcionários, clientes, fornecedores, parceiros), resultados também importantes (relacionados à remuneração, imagem profissional, carreira, conquista de objetivos). E essas situações são, de fato, aquelas em que a colaboração é a estratégia mais eficaz. A segunda origem do mito é muito provavelmente o fato de que as negociações colaborativas foram consolidadas e sistematizadas pelo pessoal da Universidade de Harvard, cujo nome tem um peso inegável no modo de pensar das organizações.
Marilda Andrade
E
COMPORTAMENTO DE CONCILIAÇÃO
Este é um assunto ao qual convém darmos uma atenção considerável, porque há uma confusão generalizada sobre a conciliação ser um curso de ação eminentemente colaborativo, e isso não é realmente verdade. A conciliação é uma alternativa de ação quando a estratégia mais produtiva a ser adotada é a colaborativa, mas a outra parte não é cooperativa a ponto de se chegar a uma solução que potencialize ganhos, mas não é tão inflexível a ponto de exigir uma acomodação total ou a competição. Ou, ainda, quando ela não pode exigir a acomodação ou não queremos desgastar o relacionamento demasiadamente. Ao contrário da colaboração, que visa uma solução que aumente os ganhos das partes, a conciliação visa diminuição das perdas. Por tudo isso, podemos dizer que a conciliação é a “arte do possível” – fazemos o que dá para fazer para evitar as consequências indesejadas das estratégias distributivas. Ela presume que as partes caminhem uma em direção à outra, por meio de concessões, para uma situação intermediária, a fim de conseguir uma solução aceitável.
Essa solução não se aproxima das expectativas das partes como o desejado, mas também não significa a cessão total dos interesses por nenhuma delas. Uma abre mão de algo para conseguir outra coisa, a outra faz o mesmo, até que se chegue a resultados que satisfaçam minimamente a ambos.
Não é, então, uma solução que substitua a colaboração, mas é muitas vezes a única realizável. O grande problema está no fato de que, às vezes, uma conciliação pode parecer a melhor solução e, por ser mais fácil, deixamos de perceber que, com um pouco mais de esforço, poderíamos obter resultados melhores e consolidar mais fortemente o relacionamento. Além disso, a covardia ou a avidez de uma das partes podem levar a conciliações insatisfatórias – a um acordo ruim.
MOVIMENTAÇÃO ESTRATÉGICA Agora vou complicar as coisas! Até aqui tratamos os tipos e estratégias de negociação de maneira separada. Mas, na prática, os processos negociais não acontecem exatamente assim.
Marilda Andrade
Muitas vezes os comportamentos relativos a um ou outro tipo se misturam. Vou explicar um pouco melhor: As negociações distributivas podem ser exclusivas. Ou seja, usamos comportamentos de um só tipo. É o caso da estratégia de Acomodação, em que é possível que usemos somente
comportamentos cooperativos,
cedendo nossas posições para manter o
relacionamento. Nos processos competitivos utilizamos
táticas
e
comportamentos de
competição; mas, para diminuir a tensão e conseguir chegar no acordo, é possível que tenhamos que usar, eventualmente, comportamentos cooperativos, cedendo em alguns aspectos menos relevantes – ou que preparamos como carta na manga para dar ao outro sensação de vitória e não provocar inflexibilidade. Ou, ainda, para interromper a escalada do conflito ou reestabelecer clima amigável, de forma a evitar confrontos. Já a tática necessária para a execução da estratégia colaborativa pressupõe o uso de
comportamentos cooperativos, sempre.
mas também usamos os
competitivos,
Não iremos usar competitivas, mas comportamentos, colaboração implica na próprios interesses.
táticas sim,
os
porque a garantia dos E usamos
comportamentos cooperativos, porque
visa, também, o atendimento dos interesses do outro. Para conseguirmos esses resultados, é possível que, em algum momento, tenhamos que deixar de negociar por algum tempo, o que significa se evadir, recuando estrategicamente.
A figura na próxima página ilustra essa dinâmica:
Marilda Andrade
EVASÃO
COLABORAÇÃO
Recuo tático
Solução Possível minimiza perdas
Competir Interesses próprios
TENSÃO
Cooperar Interesses do outro
Ceder os próprios interesses
CONCILIAÇÃO ACOMODAÇÃO
Garantir os próprios interesses
COMPETIÇÃO
Solução Criativa maximiza ganhos
Ao nos movimentarmos entre os diversos comportamentos é que manejamos a tensão adequadamente. Diminuímos a tensão, quando ela está alta, ao cooperar ou, quando muito alta, evitarmos momentaneamente o processo, fazendo uma pausa. E a elevamos nos momentos em que está muito baixa, ao buscar nossos interesses utilizando comportamentos competitivos. A integração eficaz entre os comportamentos é que cria as condições para que se encontre uma solução criativa que, realmente, integre resultados e atenda aos interesses de todos. Por essa razão, é adequado dizer que
TODA NEGOCIAÇÃO COLABORATIVA ABRIGA, EM SI, NEGOCIAÇÕES DISTRIBUTIVAS. . Iremos tratar das táticas, tanto das competitivas, quanto da colaborativa, em outro capítulo.
Marilda Andrade
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