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NEGOCIAÇÃO ESTRATÉGICA E GESTÃO DE CONFLITOS Volume IV – Competição Marilda Andrade


COMPETIÇÃO 8. NEGOCIAÇÕES COMPETITIVAS

VOLUME

IV

IMPORTANTE: Esse é o quarto volume de uma série de cinco, que compõem o e-book “Negociação Estratégica e Gestão de Conflitos”. Não deixe de ler os demais

9. COMPORTAMENTOS

Contexto e Dicas

COMPETITIVOS

A. Fazer exigências B. Propor Trocas

10. TÁTICAS COMPETITIVAS

A. B. C. D. E. F.

Pessoais Surpresa Associação Comparação Restrição de autoridade Pressão


8– NEGOCIAÇÕES COMPETITIVAS

“Obstáculo é aquilo que lhe dá medo quando você tira os olhos de seu objetivo.” Marilda Andrade Henry Ford


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NEGOCIAÇÕES COMPETITIVAS Como fazer para garantir a minha “fatia do bolo”?

Antes de entrarmos nas táticas e comportamentos competitivos, cabe destacar o fato de que as negociações competitivas são mais frequentes do que costumamos pensar, ou até do que gostaríamos. Então, é bastante prudente, sempre que sabemos que vamos negociar, estarmos preparados para a necessidade de ter que defender nossos interesses de maneira competitiva.


Muitas vezes elas acontecem porque as negociações se dão em situação de

emergência, quando as decisões têm que ser tomadas rapidamente, e não há tempo para o estabelecimento do clima de confiança necessário a uma negociação colaborativa. Outras vezes, porque uma das partes tem muito mais posse dos

fatores

condicionantes

(mais poder, prazo e/ou informações), e não se vê estimulada a negociar colaborativamente.

poucos predominantemente divergentes. Ou, ainda, porque há realmente

interesses a serem negociados, e eles são

Ainda há vezes em que, por mais que tenhamos consciência de que a colaboração é a melhor estratégia a ser adotada, e que temos todas as condições para esse procedimento, encontramos o outro negociador muito competitivo e não conseguimos fazê-lo perceber vantagem em alterar o seu comportamento – inclusive, porque muitas vezes a competitividade extremada pode ser característica de personalidade ou modelo aprendido e enraizado. Vale, ainda, tratarmos de refletir sobre algumas considerações: A primeira delas diz respeito ao fato de que uma negociação competitiva é, sempre, um

JOGO DE FORÇAS.

Os resultados serão mais satisfatórios para quem é percebido

como tendo mais poder.

Marilda Andrade


Outra é em relação à nossa percepção sobre inexistência de ZOPA. Claro que, enquanto ela não existir o acordo não sairá. Mas, sempre é possível que os reservas sejam alterados e se

crie uma área de possível acordo. A dificuldade é que em uma negociação competitiva, que é compreensivelmente mais tensa, os negociadores podem desistir facilmente de tentar criala. Vale a pena pensar que, às vezes, com um pouco de paciência, é possível levar o outro a mudar o seu reserva. E podemos fazer isso quando conseguimos mudar a percepção da outra parte sobre o valor de nossa oferta, ou demonstrar algum fato novo sobre o qual o outro não havia pensado (como os riscos e custos que ele terá ao ter iniciar outro processo de negociação), ou, ainda, quando o outro tem a sensação de que obteve alguma vitória. Outras vezes, porém, devemos repensar o nosso reserva, avaliando se começar um novo processo de negociação não será mais oneroso e desgastante do que abrir mão de alguma coisa. Precisamos, ainda, tomar alguns cuidados ao nos envolvermos em negociações competitivas. Ainda em razão de ser um processo mais tenso, é mais fácil perdermos o controle das emoções e começarmos a agir com o que chamamos de “irracionalidade

competitiva”. Isso significa que, ao percebermos que não satisfaremos nossos interesses na medida de nossas expectativas, corremos o risco de – como “vingança” – passemos a focar nossos esforços em prejudicar o outro.


Esse comportamento pode levar à uma escalada irracional de compromissos, em que uma parte, para impedir o outro de satisfazer seus interesses, passe a prejudicar sua própria possibilidade de garantir, ao menos em alguma medida, a satisfação de suas próprias necessidades. Vamos, então, aos comportamentos que nos levam a garantir nossa “fatia do bolo”:

Marilda Andrade


A direção nas negociações competitivas Como já dissemos, os resultados de uma negociação competitiva dependem do poder das partes. Você pode ser, ou não, quem detém maior poder no processo. A avaliação correta deste fato determina em que direção suas expectativas devem seguir durante o diálogo.

mais poder, o ideal é que você tente levar o outro a chegar até o seu valor alvo. Ou seja, sua tentativa de chegar ao acordo visa aumentar sua “fatia no bolo”. Se sim, você avalia que detém

Por exemplo, imagine que você está negociando, competitivamente, com uma companhia de teatro, ingressos para uma peça que eles apresentarão, e que você dará como brinde a seus clientes.

Como você comprará um grande número deles, para uma data que cai em um dia de semana e em que, tradicionalmente, não há muito público para assistir, você avalia que tem mais poder nessa negociação. O seu alvo é um preço 40% menor que aquele que foi pedido pelo representante do grupo teatral. Você, então, usará os comportamentos descritos e algumas das táticas arroladas adiante para levá-los a chegar o mais próximo possível do valor que você quer pagar, indiferente ao preço que eles eventualmente tenham como reserva.


Agora, imagine a mesma situação, só que o que você está tentando comprar são ingressos para uma peça disputadíssima, que terá uma única apresentação. Nesse caso, é possível que

menos poder

você avalie que detém que a companhia teatral. Sua tentativa será a de minimizar suas perdas, tentando fazer com que o outro, ao menos, chegue próximo ao

reserva dele. Ou seja, o reserva do outro, nesse caso, é o preço mínimo que ele estaria disposto a vender, e você tentará se aproximar dele.

proteger

Assim, você estará tentando o seu “pedaço do bolo”, minimizando possíveis perdas e tentando chegar a uma solução conciliatória – já que o acordo puramente competitivo não deve atender suas necessidades na medida desejada. Você usará as táticas e comportamentos competitivos com cuidado e, principalmente, para se defender. Claro está, porém, que – a não ser que o outro negociador seja muito ingênuo – dificilmente você saberá qual o reserva dele. É possível, porém, estimar quando os valores estão se aproximando desse marco: Nós tendemos a criar padrões de concessões, de forma inconsciente, inclusive. Então, imagine que o outro negociador lhe conceda descontos de 5% em 5%. Em determinado momento, ele passa a diminuir a distância entre essas concessões, e lhe oferece 3% em uma vez, 2% em outra. Quando isso começar a acontecer, provavelmente ele estará chegando próximo ao seu reserva. Isso indica que, se é possível para você o fechamento do acordo, deve parar de insistir, ou o outro sairá da mesa de negociação, e o acordo não acontecerá.

Marilda Andrade


E aqui vão algumas competitiva:

DICAS

para que você seja eficiente em uma negociação

Pense bem sobre sua âncora, já que ela tem um grande impacto psicológico no outro. E pense em ancorar primeiro, se você tiver conhecimento suficiente sobre o que está negociando, e o valor que tem o objeto da sua negociação. Se achar que seus conhecimentos não são suficientes, tente fazer com que o outro expresse primeiro sua oferta.

Em uma negociação competitiva, proteja suas informações o máximo possível; tanto seus reais interesses, como suas preferências, suas restrições e suas alternativas (e sempre dê a entender que tem alternativas). Ao mesmo tempo, procure obter essas informações do outro negociador. Se ele não estiver tão bem preparado, pode fornecê-las inadvertidamente.


Lembre-se, porém, que uma negociação não é uma guerra, mesmo quando competitiva, e a outra parte não é inimiga. Então, tente manter os limites racionais do diálogo, para evitar confrontos ou o rompimento do processo – o que o levará a não atender seus interesses.

Faça todo o esforço possível para controlar suas reações, evitando que suas emoções o dominem. Uma boa maneira de fazer isso é se convencer que o outro tem o direito de fazer quaisquer propostas, assim como você tem o direito de dizer não a elas.

Marilda Andrade


9– COMPORTAMENTOS COMPETITIVOS

“O inferno são os outros.” Jean Paul Sartre Marilda Andrade


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COMPORTAMENTOS COMPETITIVOS Quais têm que ser minhas condutas para que eu possa ser eficaz ao buscar garantir meus interesses?

Os comportamentos competitivos por excelência são: fazer

trocas.

exigências e propor

A figura adiante ilustra, na dinâmica da negociação, a localização dessas condutas:



Fazer exigências Para garantir que sejamos mais eficazes fazendo exigências, precisamos

específicos

ser ao expressá-las, deixando claro exatamente o que estamos demandando. Além disso, devemos anunciá-las de

concisa,

maneira justificativas,

sem grandes mas

assertivamente

e evitando

fazer julgamentos de valor.

repetimos

Se necessário, as , do mesmo jeito, quantas vezes for acharmos adequado. E, se houver contestação da outra parte, após nossa exigência, o melhor a fazer é manter

silêncio.


Propor trocas Se preciso for, para que obtenhamos o que desejamos, e como forma de resolver impasses, podemos propor trocas. Mas, para que sejamos eficazes, e não acabemos por ceder o que não gostaríamos sem obter o que nos

planejar antecipadamente que concessões fazemos e para interessa, precisamos

obter o quê, especificamente.

Marilda Andrade


10 – TÁTICAS COMPETITIVAS

“Jamais negociemos com medo, mas jamais temamos negociar.” Andrade J. F.Marilda Kennedy


TÁTICAS COMPETITIVAS De que maneiras posso atuar para conseguir aumentar ou proteger minha “fatia do bolo”?

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É possível, em uma negociação competitiva, usarmos uma ou mais das táticas apresentadas a seguir, sem nos esquecermos de que neste tipo de processo os riscos de um

confronto ou de um rompimento são sempre maiores. Marilda Andrade


Por isso, o uso de táticas competitivas sempre implica em

riscos e armadilhas.

Também vale lembrar que a competição não é a melhor estratégia para lidar com impasses e negociações em que nos envolvemos com pessoas cujo relacionamento é importante para nós.


A

PESSOAIS

São aquelas em que o negociador faz demonstração de força, ou finge indiferença com o acordo ou, ainda, se coloca em posição de vítima, fazendo com que o outro se sinta como vilão, e tudo isso para levá-lo a aceitar seus termos e propostas. Para que se usem táticas pessoais, os. negociadores têm que conseguir “entrar no papel”, já que é necessária uma atitude e uma postura que convença o outro. E, durante o diálogo, buscar conectar a pessoa ao problema, levando a conversa no sentido de provocar culpa no outro. O perigo desta tática, é que ela pode aumentar impedindo o acordo.

B

resistências pessoais,

SURPRESA

Essas táticas consistem em fazer mudanças de rumo imprevisíveis, com a intenção de desestabilizar o outro negociador e levá-lo a aceitar as condições propostas. Marilda Andrade


Essas mudanças podem ser de comportamento que vinha sendo apresentado, como quando um negociador que vinha se mostrando controlado e cordato, de repente se mostra agressivo e dominador, ou vice e versa. A intenção dessa mudança é impedir o outro negociador de descobrir padrões de comportamentos que fragilizem a parte que a utiliza. Podem, ainda, vir via a apresentação de novos fatos e dados que sustentem a argumentação do negociador que está usando a tática. Um exemplo é a exposição inesperada de pessoas que são a favor ou contra a proposta de uma das partes, dentro da organização. Outro, a opinião de especialistas que contestem os dados e opiniões do outro negociador. Ou podem, ainda, advir da substituição do negociador com quem a outra parte já havia acordado alguns aspectos, que passam a ser rediscutidos, levando o processo para a “estaca zero” novamente. . Além disso, pode se dar por meio da retomada de impasses em pontos que já haviam sido acordados ou de baixa importância para resultados, com a intenção de provocar desgaste na outra parte. O risco que se ocorre é que, ao agir de forma imprevisível, a reação do outro também poderá ser imprevisível, e ao tentar surpreender a outra parte, o primeiro negociador poderá

surpreendido de maneira desagradável – o que pode inviabilizar a

também ser continuidade do processo.


C

ASSOCIAÇÃO

Significa buscar se conectar com o outro negociador, usando o charme e a bajulação, provocando confusão e levando o outro a aceitar a proposta, ainda que não goste do conteúdo, por gostar do proponente. Ou, ainda, usar a influência de terceiros que têm poder sobre quem se tenta influenciar. Por exemplo, ao tentar convencer um colega de trabalho a implantar um projeto seu, você pode citar que conversou com o chefe dele e que esse último gostou muito das suas ideias, e gostaria de vê-las implantadas. Obviamente , o exagero no uso do charme e da bajulação pode provocar defesas, levando o

resistência

desconfiança

outro a desenvolver e . Além disso, negociadores treinados vão, sempre que possível, evitar que a outra parte se aproxime de quem tem poder, para inviabilizar o uso da tática. Marilda Andrade


D

COMPARAÇÃO

Visa criar uma referência artificial na cabeça do outro negociador, por meio do contraste entre propostas exageradas. Pode se dar com a oferta comum representada pela frase

nem eu, nem você: vamos dividir ao meio

“ ”, dando uma impressão de justiça que, nem sempre, corresponde à realidade. Isso em razão de se ter criado, inicialmente, valores propositadamente pensados para que, ao se dividir ao meio, o negociador que faz a proposta consiga atender seus interesses verdadeiros. Ou, ainda, por meio da apresentação de uma oferta sabidamente inviável para o outro, antes da oferta que realmente se quer aceita, gerando maior dificuldade para o outro falar não (posto que já negou uma vez), bem como a impressão que a segunda, então, é mais justa. Ou, por meio de uma âncora superestimada, de forma a provocar constrangimento no outro negociador, que tenderá a modificar sua faixa de valores. A armadilha é que, se o outro estiver mais bem preparado do que o negociador imagina, poderá

perder definitivamente a confiança neste, rompendo o processo.


E

RESTRIÇÃO DE AUTORIDADE

É quando o negociador anuncia que não tem autoridade e alçada suficientes para aceitar a proposta da outra parte, com a intenção de que o outro se contente com uma oferta menos vantajosa para ele e desista de insistir em sua argumentação. Obviamente, restrições de autoridade existem legitimamente, mas muitas vezes são alegadas propositadamente, com a intenção de levar o outro a aceitar a proposta de quem as exprimem. Um dos maiores erros que um negociador comete em uma negociação competitiva é declarar que tem “carta branca” para tomar quaisquer decisões no processo, por que, ao fazer isso, impossibilita a si mesmo de usar essa tática.

B

PRESSÃO

São aquelas em que o negociador leva o outro a perceber um alto risco em não aceitar a

última proposta”, de que suas alternativas são melhores (leilão), ou de que há um “prazo final” próximo. oferta feita, por meio do anúncio de que ela é a “

Marilda Andrade


DEFESA O maior problema dessas táticas é o de que, se o outro ignorar a pressão feita pelo

cumprir

negociador, ele terá que a ameaça, ou perderá sua credibilidade. E o outro pode ignorar porque seu risco foi superestimado.

É fundamental que conheçamos as táticas competitivas não somente para usá-las, mas principalmente, para nos delas contra nós.

defendermos se o outro negociador tentar fazer uso

E para que consigamos nos defender com eficácia, vale lembrar de que sempre devemos esperar a possibilidade de uma negociação competitiva, para não sermos pegos de surpresa e para que consigamos manter o

controle e a tranquilidade.

Também é importante nos prepararmos bem, angariando poder. Além disso, é eficaz, quando o outro negociador tenta usar táticas competitivas contra nós, que desconfiemos do que fala, e que avaliemos a possibilidade de “pagar para ver”, sugerindo que vai sair da mesa ou, até, sair realmente.


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