A Relevância da Ilustração de Moda como Linguagem Visual e suas Características

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A RELEVÂNCIA DA ILUSTRAÇÃO DE MODA COMO LINGUAGEM VISUAL E SUAS CARACTERÍSTICAS 1


PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ ESCOLA DE ARQUITETURA E DESIGN CURSO DE DESIGN DE MODA

MARIANA SOBIRAY MACAGNAN

A RELEVÂNCIA DA ILUSTRAÇÃO DE MODA COMO LINGUAGEM VISUAL E SUAS CARACTERÍSTICAS

CURITIBA 2019


MARIANA SOBIRAY MACAGNAN

A RELEVÂNCIA DA ILUSTRAÇÃO DE MODA COMO LINGUAGEM VISUAL E SUAS CARACTERÍSTICAS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Design de Moda da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, como requisito parcial para a conclusão do curso de Design de Moda em 2019. Orientador: Prof. Dr. Gláucio Henrique Matsushita Moro.

CURITIBA 2019


Resumo A ilustração tornou-se quase indispensável em todas as áreas do design, porém ainda é um tema controverso que gera diversas questões discutíveis sobre o assunto. A ilustração de moda foi o primeiro meio de se representar o vestuário por ele mesmo, tendo grande importância no estudo da história da moda, contudo ainda é uma disciplina pouco considerada pelos estudiosos de história e da arte, sendo considerada apenas uma “arte menor” ou arte comercial. Com isso, esse projeto busca trazer relevância à ilustração de moda unicamente, separada do design e da arte, apresentando algumas de suas características e diferenciais. Através de pesquisas bibliográficas, foram descritos vários aspectos da ilustração e de sua história, assim como da ilustração de moda, apresentando infográficos das linhas do tempo de cada um, o que facilita a visualização da evolução de cada uma, seguido por alguns dos principais materiais e técnicas utilizados, apresentando alguns artistas juntamente com suas técnicas. A compreensão de todo esse universo foi essencial para que a pesquisa se tornasse completa e permitiu a observação de características que são marcantes nas ilustrações de moda especificamente, mostrando como essa disciplina se desenvolveu para tornar-se independente da arte e do design e ainda mantendo seus atributos mais marcantes. Por fim foi possível descrever o que pode ser considerada a aura da ilustração; sua capacidade de representar, influenciar e ser influenciada pela cultura na qual está inserida Palavras-chave: Ilustração; Moda; História; Expressão.


Abstract Illustration has become almost indispensable in all areas of design, but it is still a controversial topic that raises a number of debatable questions on the subject. Fashion illustration was the first way to represent clothing by itself, having great importance in the study of fashion history, but it is still a discipline little considered by history and art scholars, being considered only a “minor art�or commercial art. Thus, this project seeks to bring relevance to fashion illustration solely, separated from design and art, presenting some of its characteristics and differentials. Through bibliographic research, various aspects of illustration and its history, as well as fashion illustration, were described, presenting infographics of the timelines of each, which facilitates the visualization of their evolution, followed by some of the main materials and techniques used, featuring some artists along with their techniques. Understanding this entire universe was essential for the research to be complete and it allowed the observation of features that are remarkable in fashion illustrations specifically, showing how this discipline developed to become independent of art and design while still maintaining its most remarkable attributes. Finally it was possible to describe what can be considered the aura of illustration; its ability to represent, influence and be influenced by the culture in which they operate. Keywords: Illustration; Fashion; History; Expression.



Agradecimentos A realização dessa pesquisa não teria sido possível sem a ajuda de diversas pessoas durante o processo. Queria primeiramente agradecer a todos que de algum modo me auxiliaram durante todo o curso, me permitindo chegar até aqui. Aos professores Glaucio Henrique Matsushita Moro e Raquel Pasternak Glitz Kowalski por orientarem esse projeto durante esse ano e acreditarem na minha capacidade para desenvolvê-lo. À minha mãe, por estar sempre presente, me ajudando nos momentos de stress e me inspirando a continuar e não desistir e por ser a mulher forte, independente e inspiradora que você sempre foi. Ao professor Leandro Tadeu Catapam, por ter aceitado fazer uma pesquisa de PIBIC comigo, o que gerou todo meu interesse no assunto e culminou na pesquisa aqui desenvolvida. Por fim, gostaria de agradecer a todos os meus amigos que estiveram do meu lado durante esse ano, seja corrigindo meus textos e me ajudando com a pesquisa, seja me dando palavras de apoio e encorajamento, vocês foram muito importantes para manter a minha sanidade.



“Great things are done by a series of small things brought together� - Vincent Van Gogh


Sumário 1

1 Introdução 1.1 Justificativa 1.2 Problemática 1.3 Objetivos 1.3.1 Objetivo Geral 1.3.2 Objetivos Específicos 1.4 Procedimentos Metodológicos

2

2.1 Ilustração 2.2 História da Ilustração 2.3 Ilustração de Moda 2.3.1 A representação da figura humana no desenho de moda 2.4 História da Ilustração de Moda 2.5 Materiais e técnicas de ilustração 2.5.1 Técnicas Secas 2.5.1.1 Grafite 2.5.1.2 Lápis de Cor 2.5.1.3 Pastel 2.5.1.4 Carvão

14 20 22 24 25 25 26

32 40 48 55 62 72 74 74 78 80 84


2.5.2 Técnicas úmidas 2.5.2.1 Marcadores 2.5.2.2 Aquarela 2.5.2.3 Gouache 2.5.2.4 Nanquim 2.5.3 Digital 2.5.4 Técnicas Mistas

3

3. Considerações Finais

4

Referências

87 87 90 92 94 97 100

108

112



CapĂ­tulo 1


NTRODUÇÃ


termo

Com isso a ilustração evolui para

ilustração é um assunto muito

se tornar uma ferramenta, um

discutido, pois cada autor possui

meio dinâmico de se produzir

um ponto de vista diferente,

arte e uma forma de se produzir

baseado em seus conhecimentos

e moldar ideias e tendências

e suas experiências. Por ser uma

(HARRINGTON, 2009).

ferramenta utilizada em diversas

áreas, até mesmo fora do design,

a moda também é porosa e

possui significados intrincados e é

híbrida. Como afirma Hopkins

difícil de limitá-la a uma definição

(2012), a moda está ligada à

de dicionário; essa característica

diversas questões sociológicas,

é definida por Martins e Martins

culturais, psicológicas, comerciais

(2013)

e

e econômicas. Devido a isso,

hibridização, que é a capacidade

também não pode ser definida

de

de maneira simplista, ela está

A

definição

como

absorção

do

porosidade de

técnicas

e

conhecimentos de outras áreas.

Conforme Silva e Nakata

(2016), o assunto ilustração é

ligada com a maneira como a sociedade em que está inserida foi construída.

controverso, pois é um tema que

pode

ser

compreendido

Assim como a ilustração,

Para a moda, a ilustração

foi a principal ferramenta de

pessoas,

registro do vestuário, tendências e

pelo mercado e até mesmo

costumes até a metade do século

por profissionais da área. Um

XX, quando a fotografia se tornou

ilustrador, quando escolhe seguir

mais acessível e popular. Após a

essa profissão, deve ser capaz

década de 50, a ilustração perdeu

de compreender a essência da

grande parte de seu espaço

ilustração e sua totalidade.

na

erroneamente

A

pelas

ilustração

tornou-se

mídia,

observar

porém o

é

possível

reaparecimento

presente e fundamental para as

das

áreas do design: moda, gráfico,

por meio das ilustrações na

industrial, digital, interiores. É

moda nos últimos anos, devido

uma maneira de impulsionar a

a revalorização dessa técnica

capacidade intelectual e criativa

(LUGLI, 2014).

dos

designers,

impactando

diretamente na sua produtividade.

representações

gráficas

A popularização da foto-

grafia no século XX trouxe uma

15


forte concorrência para os ilus-

vai além da representação fiel e

tradores de moda. No início as

realista do vestuário, ela busca

duas ainda coexistiam, porém

identificar e representar códigos

em alguns anos a fotografia to-

sociais, proporcionando “drama-

mou o espaço nos meios midiáti-

ticidade e subjetividade, exigindo

cos (RASCHE (2013, in WIEDE-

a interpretação do observador e,

MANN (ED.) 2013). Existe um

consequentemente, despertan-

questionamento sobre como a

do diferentes sensações e ana-

ilustração de moda ainda pode

logias conforme seu repertório.”

ser relevante num momento em

(LUGLI, 2014 p. 24).

que a fotografia se tornou o re-

Como afirma Gragnato

curso padrão utilizado para cap-

(2008, p.52) “a moda pode ir

turar e transmitir “o encanto da

mais além e também propor

moda”, principalmente na atua-

novos

lidade, com câmeras cada vez

se da arte e da tecnologia, a

melhores e softwares gráficos

ilustração de moda é um meio

de edição que permitem mudar

para veicular essas propostas,

quase qualquer coisa em uma

produzindo imagens intrigantes

foto (HELLER (2013, in WIEDE-

e reveladoras.” A ilustração de

MANN (ED.) 2013).

moda é experimental, sempre

De acordo com Lugli

corpos.

buscando

Apropriando-

novas

técnicas,

(2014), a revalorização da ilus-

novas estéticas e maneiras de

tração se dá por meio do reco-

representar conceitos e estilos.

nhecimento desta como uma ferramenta que permite a construção de estilo e identidade, agregando valor artístico e criativo aos produtos de moda. Diferente do desenho de moda, dos desenhos técnicos e até mesmo da fotografia, a ilustração

16



USTIFICATIV


O

design

tornou-se

de especialização desconhecidas

quase indispensável na vida da

a eles, porém a busca era rápida,

grande maioria das pessoas, ele

apenas para obter o necessário

está sempre presente na rotina

na

diária de cada um, em casa, no

específicos (LIDWELL, HOLDEN

trabalho, no lazer, nos estudos,

E BUTLER, 2010).

na saúde, nos transportes, nos

pesquisa

de

problemas

Com o desenvolvimento

ambientes, tudo possui influência

das atividades dos designers,

do design em suas configurações.

foram

Em função disso, as pessoas se

design, com algumas diretrizes e

definem e se comunicam umas

tendências de comportamentos

com as outras, determinando sua

gerais e, ao mesmo tempo, o

posição social no meio em que

design começou a se subdividir

vivem (BÜRDEK, 2006).

em outras áreas cada vez mais

específicas para certos tipos de

De acordo com Baecker

(2002, in Bürdek, 2006, p. 11):

o

Até pouco tempo atrás,

design

era

profissionais

composto

que

por

estudavam

um pouco de cada área, com o objetivo de compreender o funcionamento das coisas e aplicar o que aprendiam solucionando os problemas encontrados. O conhecimento

princípios

do

produtos e problemas (LIDWELL,

Design é comunicação. Espera ser lido, ser compreendido. É com um olhar em sua e nossa compreensão que se dá uma comunicação da comunicação, onde nenhuma existe, especialmente entre os dois lados de uma interface.

criados

interdisciplinar

que era comum no design era de difícil acesso; os profissionais precisavam se aventurar em áreas

HOLDEN E BUTLER, 2010).

O design de moda faz parte

de um sistema mundialmente estruturado da indústria da moda. Essa indústria está em constante crescimento desde a Revolução Industrial, quando produtos de moda começaram a se tornar mais acessíveis para todas as classes sociais. Atualmente, a moda está presente na vida de toda a população, todos usam roupas, alguns se preocupam mais com a sua aparência que com a impressão que ela causa, outros não se preocupam com isso, porém todos consomem produtos de moda (HOPKINS, 2012).

19


ela

A

moda

representa

comunica, o

zeitgeist¹

de cada época. O design de

uma nota de rodapé na história da arte (ZEEGEN, 2009).

A produção de imagens

moda possui a função de criar

existe desde muito antes da

peças que conversem com seu

invenção da escrita, imagens

público consumidor, as pessoas

também

vestem roupas com as quais

habilidade

elas se identificam e é isso

mensagens

que o designer de moda deve

infinitamente maior que a escrita,

compreender (HOPKINS, 2012;

é uma linguagem muito mais

JONES, 2011).

universal. O estudo da linguagem

A

de

uma

comunicar ou

ideias

sempre

visual pode, na maioria das

design,

vezes, complementar o estudo

são duas disciplinas que se

da linguagem escrita e até

complementam

muitos

mesmo mostrar detalhes que a

momentos. Devido a isso, são

escrita não apresenta (KNAUSS,

geralmente

2006).

esteve

ilustração

possuem

presente

no em

estudados

como

uma coisa só, como se um

Seguindo

o

mesmo

dependesse do outro, porém

pensamento de Knauss, Zeegen

isso não é totalmente correto

e Roberts (2014) afirmam que a

(ZEEGEN, 2009).

ilustração influencia diretamente

A história da ilustração

na maneira como as pessoas

raramente é abordada em livros

compreendem o mundo. As

e artigos; por alguma razão,

primeiras marcas criadas pelos

a

recebeu

seres humanos, provavelmente

reconhecimento histórico próprio,

com gravetos na areia, tiveram

está sempre sendo analisada

o papel de comunicar antes

como uma via paralela ao design

mesmo da fala ter evoluído.

gráfico ou é apresentada como

A única maneira de registrar

ilustração

nunca

Palavra de origem alemã, significa o “espírito de uma época”, define características específicas de períodos da história. ¹

20


acontecimentos

e

histórias

Como afirma Morris (2009, p.

de

imagens.

140) “a história da ilustração

a

ilustração

de moda é uma história de

pode ser considerada a arte

mudanças”, na qual percebe-

mais antiga da humanidade,

se alterações no estilo artístico

permitindo humanos comunicar,

e na maneira de se vestir de

descrever e tentar entender as

cada período histórico; a moda

complexidades da vida.

é dinâmica e está em constante

evolução.

era

por

Sendo

meio assim,

O ser humano olha e

O

estudo

dessas

vê as coisas muito antes de

transformações e das diferentes

aprender palavras, seja na fala

maneiras de representação da

ou na escrita, sendo assim, a

figura pode apresentar detalhes

linguagem visual alcança as

sobre tendências, estilos de vida

pessoas

e organizações sociais durante

desde

muito

cedo

e de uma maneira que as

a

palavras

KNAUSS, 2006).

não

conseguem,

história

(MORRIS,

portanto, dependendo do saber

e conhecer de mundo de cada

incontável

um, sua leitura de imagens será

falando sobre o tema ilustração e

diferente; por exemplo, durante

ilustração de moda, porém todas

a Idade Média, quando existia

são muito dispersas e utilizam o

a crença de que o Inferno era

termo apenas dentro da definição

um lugar físico, a imagem de

necessária para cada pesquisa,

fogo possuía um contexto e

sem tratar de suas multifacetas

significado muito mais carregado

na maioria dos casos. Portanto,

do que se comparar com os

justifica-se esta pesquisa em

tempos atuais (BERGER, 1996).

um âmbito acadêmico para um

Existe

um

2009;

de

número bibliográfias

Os ilustradores de moda

futuro designer de moda ou

“surgiram” da necessidade de

ilustrador que quiser conhecer

retratar trajes e tendências de

mais sobre sua área de atuação.

determinado local ou época.

21


ROBLEMÁTIC


A

ilustração

pouco

ilustrações de moda tornaram-

estudiosos

se um indicador de estilo, gostos

da história e da arte, sendo

e tendências de cada época

categorizada como uma “arte

na história (HOPKINS, 2012;

menor” se comparada à pintura,

HOPKINS, 2018).

escultura, arquitetura e literatura.

A partir dessas constatações, de

Por ser uma arte comercial,

maneira a trazer mais destaque

difundida em larga escala e

para a ilustração de moda como

sendo acessível para uma grande

disciplina

parcela de pessoas, a ilustração

este projeto busca investigar o

ganha uma reputação de arte

seguinte questionamento: de que

popular, que muitos acadêmicos

maneira é possível apresentar a

consideram não possuir valor

relevância da ilustração de moda

artístico (OLIVEIRA, 2008, apud,

particularmente,

REIS, 2013).

do design e de motivo projetual,

Mesmo com a argumentação de

analisando suas conceituações e

autores como Zeegen e Roberts

funcionalidades como linguagem

(2014), de que a ilustração seria

visual,

a primeira forma de expressão

particularidades em relação à

artística,

outros tipos de ilustração?

considerada

é

por

utilizada

desde

as

individualmente,

assim

desvinculada

como

suas

pinturas rupestres, ainda existem historiadores da a

arte

e

que

ilustração,

apenas

uma

acadêmicos desconsideram considerando-a

ferramenta

do

design. faz

A representação imagética parte

de

um

processo

evolucionário de comunicação, or meio do qual desenvolveu-se uma variedade de técnicas, estilos e aplicações. A representação da moda pela ilustração sempre teve o objetivo de comunicar e, com o passar do tempo, as

23


B J ET I VO


GERAL

Pesquisar e descrever brevemente a história da ilustração de moda no contexto ocidental, de maneira a compreender o contexto dos seus usos em cada época, resultando em uma linha do tempo, permitindo a análise das imagens e como isso afeta o espectador que as observa.

utilizadas para desenvolver ilustrações; d) Desenvolver uma linha do tempo com os principais fatos da história da ilustração de moda, baseando-se em artistas que contribuíram para essa construção; e) Discutir como a leitura e as representações das ilustrações de moda se distinguem da ilustração em geral.

ESPECÍFICOS

a) Pesquisar conceituações do termo ilustração e ilustração de moda; b) Analisar a diferenciação entre desenho de moda e ilustração de moda; c) Pesquisar e descrever os materiais e técnicas

25


ROCEDIMENTO ETODOLÓGICO

26


Para Gil (2002), uma pesquisa tem como objetivo responder uma pergunta ou resolver um problema proposto por meio da utilização de métodos, técnicas e procedimentos científicos. A presente pesquisa pode ser considerada de ordem intelectual, resultante da busca pelo conhecimento pela própria satisfação de conhecer. Para se obter êxito em uma pesquisa, é necessário que o processo de desenvolvimento seja devidamente planejado, levando em consideração todas as etapas integrantes para que o projeto possa ser concluído (GIL, 2002). Toda pesquisa deve passar por uma fase de planejamento, na qual determinase diretrizes e estratégias para o desenvolvimento do mesmo (CASTRO, 1967, apud KÖCHE, 2011). Köche (2011, p.121) ainda acrescenta: Essa exigência de planejamento não significa, porém, que se sigam normas rígidas. A flexibilidade deve ser a característica principal do planejamento da pesquisa, de tal forma

que as estratégias previstas não bloqueiem a criatividade e a imaginação crítica do investigador. A investigação não deve estar em função das normas mas em função do seu objetivo que é buscar a explicação para o problema investigado.

Como

afirma

Barros

(2005), o termo metodologia refere-se

à

maneira

de

desenvolver algo, “a metodologia vincula-se a ações concretas, dirigidas à resolução de um problema; mais do que ao pensamento, remete à ação” (p. 80). De tal modo, é necessário ao investigador ter em mente que tipo de pesquisa e quais métodos serão utilizados para atingir seus objetivos.

Analisando

o

objetivo

geral da presente pesquisa, é

possível

classificá-la,

de

acordo com Gil (2002), como uma pesquisa exploratória, que tem como objetivo aprofundar o conhecimento do tema e problemática aprimorando pesquisa

do as

trabalho, ideias.

exploratória,

A em

muitos casos, assume a forma

27


de pesquisa bibliográfica para atingir seus fins.

A pesquisa bibliográfica

consiste no levantamento de dados já existentes sobre um determinado assunto, por meio de livros, textos, artigos e outras fontes, o investigador faz uma compilação dos conhecimentos sobre o tema. Posteriormente, esses conhecimentos adquiridos auxiliarão a compreender e/ou explicar o objeto pesquisado (KÖCHE, 2011). Para o desenvolvimento da pesquisa bibliográfica, foram estabelecidos alguns tópicos principais a serem estudados e, dentro de cada um, alguns autores destacaram-se como mais relevantes. Para o estudo sobre a área da ilustração, Zeegen (2009), Zeegen e Crush (2005), Zeegen e Roberts (2014) e Wigan (2008) foram os mais importantes, enquanto na área da ilustração de moda, Puls e Montanheiro (2012), McKelvey e Munslow(2007) e Bryant (2012), tiveram mais influência na pesquisa. No âmbito do estudo de materiais

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e técnicas, Donovan (2010), Morris (2009) e Bryant (2012) tiveram grande contribuição para o desenvolvimento da pesquisa. Para a elaboração da narrativa histórica da ilustração e da ilustração de moda, os autores Zeegen e Roberts (2014), Blackman (2007) e Reis (2013) colaboraram com os principais aspectos. Visando desenvolver, como um produto resultante dessa pesquisa, uma linha do tempo da ilustração e da ilustração de moda, foi utilizada a metodologia de pesquisa analítica, que busca avaliar as informações disponíveis a fim de explicar um contexto ou fenômeno. Na questão histórica, investiga-se eventos que já ocorreram buscando “descobrir fatos que providenciarão maior compreensão e significância de eventos passados para explicar a situação presente ou estado atual do fenômeno estudado” (KERLINGER, 1980, p.348). O autor Turin (2014, p.150, in TEIXEIRA et al. 2014), ainda complementa, falando sobre a metodologia analítico-indutiva:


A metodologia analíticoindutiva caracterizase pela valorização da singularidade da experiência histórica e pela fundamentação empírica do conhecimento. Ela busca, assim, sistematizar o conhecimento histórico com o objetivo de que seja capaz de representar os eventos do passado do modo mais fiel possível ao que eles realmente foram, sem conformá-los a nenhum modelo teórico prévio (...) [construindo] uma ordem sequencial dos eventos, sempre apoiado nos documentos.

O uso de diferentes

metodologias de pesquisa será um facilitador para desenvolver cada

parte

do

projeto,

por

exemplo, a pesquisa bibliográfica terá

capítulos

histórica,

onde

de

pesquisa

duas

das

metodologias serão utilizadas. Porém a conclusão será mais comparativa e analítica.

29



CapĂ­tulo 2


LUSTRAÇÃ


A palavra Ilustração tem origem no latim illustrare, illustratio que tinha um sentido de iluminação, direcionar luz à. A partir do século XVI, esse significado se estendeu à iluminação não apenas física, criou-se um significado de esclarecimento, ligado às ilustrações de textos bíblicos que auxiliavam o entendimento daqueles que não sabiam ler. À isso ligou-se o sentido de embelezamento e adorno para a palavra ilustração. Definir o termo ilustração é complexo, pois abrange diversos pontos de vista diferentes. Alguns autores acreditam que a ilustração precede a escrita e que as primeiras ilustrações teriam sido criadas nas paredes das cavernas durante a pré-história, porém existem outros autores que consideram a ilustração como um complemento para outros trabalhos, não sendo nem considerada como uma forma de arte (WIGAN, 2008). Vários autores como Oliveira (2012), Antunes (2014), Maia (2003) e Freire (2004)

definem a ilustração como uma imagem que sempre vem acompanhada de um texto, com o objetivo de exemplificar o que está escrito. Apesar dessa definição não ser necessariamente incorreta, Silva e Nakata (2016) afirmam que a ilustração não deve ser equivocadamente entendida como apenas um adorno gráfico. De acordo com Zeegen e Crush (2005), a ilustração pertence a uma zona crepuscular entre a arte e o design, sendo considerada muito excêntrica pelos estudiosos de arte, porém artística demais para pertencer ao design. A ilustração também pode ser considerada por alguns como o espectro entre a arte e o design gráfico, dependendo do ilustrador, essa disciplina estará mais próxima de um extremo do espectro do que do outro, podendo ser denominada por alguns profissionais como uma arte gráfica (ZEEGEN, 2009). A autora Oliveira (2006) descreve uma possível diferenciação entre imagens produzidas nas diversas áreas

33


do design e imagens que são consideradas obras de arte. Ela afirma que a funcionalidade é um fator que contribui fortemente na análise de uma imagem, considerando que muitos estudiosos da arte afirmam que a arte não possui uma função, ela deve apenas “funcionar esteticamente”; enquanto o estudo do design tem como um

sua principal funcionalidade é considerada uma imagem artística; quando uma imagem possui a estética como uma característica secundária, sendo sua principal função a de comunicar, essa pode ser considerada uma imagem do design (OLIVEIRA, 2006; WIGAN, 2008). Em outro momento,

de seus princípios preocuparse com a função daquilo que é produzido. A autora conclui (p. 25): “o parâmetro da funcionalidade pode contribuir para o estudo da imagem, mesmo não sendo absoluto nem definitivo, uma vez que não se trata de um referencial destituído de polêmica.” Sendo assim, é possível concluir que uma imagem que possui a função estética como

Zeegen e Roberts (2014) também descrevem a ilustração como “a arte do povo”, descrevendo como ela reflete a cultura e o estilo de vida da sociedade quando analisada dentro do contexto no qual foi produzida, como exemplificado pela Figura 1. A ilustração foi a primeira maneira de se registrar história, sendo precursora da linguagem escrita. Wigan (2008) afirma que

>> Figura 1: O ilustrador Shigeo Fukuda era conhecido por ser um ambientalista e antiguerras. Seu poster mais famoso, Victory 1945, enfatiza a insensatez da guerra. A ilustração mostra uma bala indo em direção ao cano de uma arma, representando como a guerra trás consequências negativas para ambos os lados, independente de quem foi considerado o vencedor. Essa ideia apresenta bem o contexto de sua época, com a preocupação da população com os vários conflitos e ameaças mundias, os maiores sendo a Guerra do Vietnã e a Guerra Fria, pairando sobre todos. Nesse momento surgiram diversos movimentos e protestos anti-guerra e a favor da paz, influenciando artistas e designers.

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Figura 1 – Victory 1945, poster do ilustrador Shigeo Fukuda, 1975

Fonte: notes on design, 2017

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a ilustração é uma maneira conveniente de comunicação, combinando criatividade, imaginação e habilidade para passar uma mensagem ou contar uma história, seja ela real ou fictícia. Zeegen e Crush (2005, p. 17) descrevem essa habilidade de comunicação: A essência de uma ilustração está no pensamento – nas ideias e nos conceitos que formam a espinha dorsal do que uma imagem está tentando comunicar. O papel do ilustrador é dar vida e forma visual a um texto ou a uma mensagem – os melhores na indústria combinam pensamento analítico inteligente com habilidades práticas refinadas para criar imagens que têm algo a dizer e que têm suas formas e meios para dizêlo.

O senso comum geralmente limita a linguagem à fala e à escrita, porém existem autores que defendem que exista também a linguagem

visual. “Estruturas visuais encerram sentidos assim como as estruturas linguísticas” (FREIRE, 2004, p. 2), aquilo que, na fala e na escrita, é expresso por meio da escolha de palavras e frases, na linguagem visual – ilustração – é expressa mediante as escolhas de composição: linhas, cores, posicionamentos, proporções, etc, como o artista Laurent Cilluffo demonstra com seu estilo simplista (Figura 2). (FREIRE, 2004). “Uma ilustração deve comunicar uma mensagem, a maneira que essa mensagem será transmitida é crucial.” (tradução livre de ZEEGEN, 2009, p. 30²). A comunicação visual, por meio de imagens, é uma maneira de ler o mundo. “A leitura de mundo é antes de tudo visual e não-verbal. O uso do estímulo visual não verbal para a comunicação é tão antigo quanto a civilização.” (COUTO (Org.) et al, 2014, p.199). A visão é direcionada às imagens

“An illustration is about communicating a message, how that message is delivered is crucial.” 2

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Figura 2 – Charlie or Charlot?, tirinha de Laurent Cilluffo, 2007

Fonte: Laurent Cilluffo, 2018 É possível perceber que a tirinha tem um estilo de ilustração muito simples, mas o ilustrador usa dos conceitos básicos de composição para apresentar a mensagem: as linhas coloridas, os blocos na cor amarela e os personagens simplificados, feitos em cor contrastante, tornando a interpretação da ilustração mais clara e fácil.

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inconscientemente; quando esse sentido está funcional, ele é o meio dominante pelo qual uma pessoa recebe informação perceptiva (MALAMED, 2009). Ainda com o raciocínio de Malamed (2009), pessoas tendem a sempre tentar entender as imagens, no momento em que veem algo, perguntam-se “o que é isso?”

e intencional. A comunicação visual casual é uma imagem que passa uma informação indeliberadamente, podendo ser interpretada livremente pelo “leitor”. Por outro lado, a comunicação visual intencional, é aquela que passa uma mensagem propositadamente, ela deve ser clara para que o receptor compreenda o

e “o que isso significa?”. A mente humana procura uma significação em tudo, muitas vezes inconscientemente e, para isso, ela utiliza-se de memórias e padrões conhecidos para criar associações e interpretar o que está sendo visto. “Como nós obtemos prazer, satisfação e competência pelo entendimento, procuramos sempre entender mais.” (tradução livre, p.9)³. Como afirma Munari (1997), imagens possuem interpretações diferentes que dependem do contexto no qual estão inseridas. Dessa maneira, podemos distinguir a comunicação visual em casual

significado pretendido em toda sua totalidade. É relevante notar que a mensagem visual, quando enviada, passará por filtros para chegar ao receptor. Esses filtros podem ser externos ou internos – os externos relacionam-se com o local onde se encontra a mensagem, por exemplo, uma ilustração muito detalhada que é vista em um papel muito pequeno terá seus detalhes todos anulados. Os filtros internos são aqueles de caráter pessoal de cada um que recebe a mensagem, podem ser sensoriais (um daltônico vê cores de outra maneira em

“As we derive pleasure, satisfaction, and competence from understanding, we seek to understand more.” 3

38


uma imagem), psicofisiológicas (um criança interpretará uma mensagem de modo diferente de um adulto) e culturais (a mesma imagem pode ter significados totalmente distintos no ocidente e no oriente) (MUNARI, 1997). O conhecimento sobre linguagem e comunicação visual, assim como a compreensão de como essas informações são processadas por quem vê, é essencial para que ilustradores possam expressar sua mensagem de maneira mais clara e com mais acurácia. Por exemplo, se o objetivo de uma determinada ilustração é evocar uma reação de afeto, é interessante que o ilustrador entenda como emoções e suas reações são ligadas a memória visual do seu público, para que ele possa criar uma ilustração que gere a resposta desejada (MALAMED, 2009).

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ISTÓRIA D LUSTRAÇÃ


Para a pesquisa do contexto histórico da ilustração, será feito um recorte ocidental, com um foco maior na Europa. Esse é o recorte com mais bibliografias disponíveis e também com o conteúdo mais conhecido dentro do senso comum de ilustração. Se o assunto se estendesse ao oriente, o texto se tornaria muito extenso e variado, além de que as características das ilustrações ocidentais e orientais acabam sendo opostas e contraditórias em muitos aspectos, o que resultaria em uma finalização confusa para o trabalho. A ilustração serviu como uma maneira de registrar as conquistas humanas desde muito antes da invenção da escrita ou mesmo da fotografia. Observando pinturas pré-históricas, os hieróglifos e os desenhos feitos pelos egípcios (Figura 3), os murais de Pompeia ou Figura 3 - Passagem do Livro dos Mortos

Fonte: Wikipédia, 2019 O Livro dos Mortos é um conjunto de papiros com rituais e feitiços feitos para ajudar os mortos na passagem pelo Duat, o submundo da mitologia egípcia. É possível perceber na Figura 46 como os desenhos mostram o rito de pesagem do coração, comparando-o com a pena da verdade. As figuras são claras sobre o que está acontecendo e quem está presente na cena, complementando perfeitamente o texto escrito. É importante ressaltar que até mesmo os hieróglifos egípcios, que eram a linguagem escrita, são baseados em desenhos para representar cada palavra ou sílaba.

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as pinturas nas paredes feitas por aborígenes na Austrália é possível compreender uma parcela do tempo em cada um dos lugares, juntamente com suas crenças e hábitos (ZEEGEN, 2005). É discutível que até mesmo os manuscritos iluminados do século XIV (Figura 4) e os afrescos italianos poderiam pertencer à história da ilustração, assim como as pinturas medievais em livros sagrados, pois cumprem uma função de ilustração, de comunicar e, nesses exemplos, até ensinar as pessoas. E aqui é importante ressaltar, a história da ilustração e a história da arte não são duas disciplinas completamente distintas (ZEEGEN, 2009).

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Figura 4 - Iluminura de um Livro de Horas francês, 1440

Fonte: Wikipédia, 2005 As iluminuras e os manuscritos iluminados eram textos, na maioria das vezes com tema bíblico, extremamente ornamentados e acompanhados de ilustrações. No início, o termo iluminura referiase apenas aos trabalhos feitos com técnicas de douração, pois a palavra vem do latim illuminare, iluminar. Porém, com o tempo, para tornarem-se mais acessíveis, os detalhes de ouro ou prata foram sendo deixados para trás, criando-se apenas páginas extremamente decoradas e coloridas.


Durante toda a história antes do surgimento da arte moderna, as imagens artísticas possuíam o objetivo de representar algo ou alguém e, com isso, contar uma história, passar uma mensagem. Zeegen (2009) afirma que, por quase todo esse tempo, os artistas eram comissionados para produzirem as obras, portanto

então, a reprodução de livros e impressos em geral em uma escala muito maior (SIMON, 2011). Isso transformou a profissão dos artistas comissionados, que agora começavam a trabalhar para aqueles que escreviam e publicavam os livros. Como a maior parcela da população ainda era iletrada, os impressos era ilustrados e é por volta dessa

trabalhavam de acordo com a demanda e necessidade do cliente. Durante a Idade Média, por exemplo, a maior parte das obras de arte produzidas foram encomendadas pela Igreja Católica, para representar figuras religiosas importantes nos templos religiosos ou ilustrar o texto bíblico. Através dessa descrição, é notável que isso não varia muito do trabalho do ilustrador nos dias atuais, que recebe uma briefing do cliente e deve desenvolver o trabalho baseado naquilo, e no final irá receber um valor em dinheiro pelo projeto desenvolvido. No século XV, por volta de 1440, Gutenberg criou a prensa móvel, o que permitiu, a partir de

época que o termo ilustração começa a tornar-se relevante, pois os ilustradores “iluminavam” os textos para aqueles que não sabiam ler. Durante o Renascimento, as impressões em massa aceleraram a comunicação e a chegada de informação às pessoas,alterandotodaaestrutura social da época. Conforme mais pessoas aprendiam a ler, os textos publicados tornaramse formadores de opinião e, gradativamente, mudou a forma de pensar da sociedade. Como Zeegen (2009) afirma, com o crescimento da imprensa no século XIX, os ilustradores começaram a trabalhar para as editoras. As publicações impressas e

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ilustradas eram uma das maiores formas de entretenimento da época, portanto o papel do ilustrador tornou-se de suma importância, vendo que a maneira como o profissional reproduz um acontecimento afeta diretamente na maneira como o leitor irá compreender o fato. Com novos métodos de impressão, cada vez mais rápidos

já haviam adotado a fotografia quase completamente, a ilustração tornou-se um meio de se fazer críticas dentro de um contexto de revolução cultural gerada pelo sentimento de pósguerra mundial juntamente com a tensão da Guerra do Vietnã e Guerra Fria (Figura 5). Houve também o facilitador de que, nesse momento, a ilustração

e com mais qualidade e também tornando o material impresso mais acessível para a maior parte da população, a área da publicidade impressa começou a crescer e, com isso, as empresas contratavam ilustradores para representar seus produtos da maneira que estimulasse as pessoas a consumirem. Sendo assim, a ilustração ficou conhecida como uma arte comercial e começou a se ligar cada vez mais ao design, que estava surgindo no início do século XX. Os ilustradores começam então a trabalhar para revistas e jornais e são profissionais indispensáveis até a popularização da fotografia. Durante a década de 60, quando os jornais e revistas

começa a se tornar acessível para uma audiência muito maior com o surgimento de uma imprensa de contracultura que não valorizava apenas os valores consumistas da década de 50 (ZEEGEN E ROBERTS, 2014). Desde então, a ilustração tornou-se um meio fazer críticas aos assuntos que iam surgindo; através de capas de discos e, mais tarde, CDs, charges, revistas e, mais recentemente, a internet, os ilustradores acharam meios de mostrar suas opiniões ao mundo. Por isso, se analisadas as ilustrações de cada época, é possível perceber a representação do zeitgeist.


Figura 5 - Cartaz do filme Laranja Mecânica, de 1971

Fonte: Wikipédia, 2018 O filme Laranja Mecânica é um filme distópico, produzido e dirigido por Stanley Kubrick em 1971. A ambientação do filme representava bem a juventude rebelde da época, trazendo discussões sobre temas morais e comportamentais. O cartaz, feito por Philip Castle representa o filme através das formas pontiagudas, a expressão dos personagens e pelo alto contraste entre as cores. A forma triangular direciona o olhar através da ilustração, iniciando na sensualidade da mulher e indo até o rosto com expressão fanática no fundo escuro, por fim uma lâmina afiada que representa a violência.

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Uma breve linha do tempo da ilustração

Teto da Capela Sistina, projetado por Michelangelo (1508-1512)

Poster The German Babylon, por ToulouseLautrec (1894)

Pinturas Rupestres de bisões na Caverna de Altamira, Espanha (~ 30.000 a.C.)

Brasão feito por Albrecht Dürer (1523)

Xilogravura feita por Hans Holbein (15231525)

Aero Cab Station, parte da coleção de imagens En l’na 2000, por Jean-Marc Côté (1900)

Nefertari jogando Senet, pintura da tumba da Rainha Nefertari do Egito (~1.200 a

A Rake’s Progress – VII – T Madhouse por William Hoga (1735)

A Pequena Sereia, por Edmund Poster Ag Dulac, ilustrando o conto de Vladimir M Hans Andersen (1911) (1920)


a a.C.)

The arth

Diana e Acteão, vaso grego de figuras vermelhas (470 a.C.)

Ancient of Days (cópia D) por William Blake (1794)

gitprop, por Mayakovsky

Action Comics #1, por Joe Shuster e Jack Adler (1938)

Mosaico de do imperador bizantino Leon VI, na Basílica de Santa Sofia (séc. IX)

Alice no País das Maravilhas: O chá da tarde com o Chapeleiro Louco, por John Tenniel (1865)

Banana, por Andy Warhol, ilustração produzida para a capa do álbum da banda The Velvet Undergroud (1967)

Iluminura - Página 63 do Livro de Horas (14601465)

Satan, por Gustav Doré, ilustrando o Inferno de Dante, na Divina Comédia (1890)

Capa do album You Could Have It So Much Better, da banda Franz Ferdinand, produzido por Rich Costey (2005)

Figura 6 - Infográfico de linha do tempo da ilustração Fonte: A autora, 2019


LUSTRAÇÃ E MODA


A ilustração de moda é uma forma de desenho estilizado que tem como objetivo mostrar uma representação artística do objeto ao mesmo tempo que tenta retratar um estilo de moda. A ilustração de moda tem grande importância no processo de produção, marketing e vendas de um produto, sendo que, antes de ser produzido

criar uma ilustração é mais livre, permitindo o uso de variadas técnicas e ferramentas, sem sentir-se tão preso a uma metodologia projetual. O autor Hopkins (2012) complementa que uma ilustração de moda não deve apenas retratar informação visual, mas deve também expressar uma emoção ou estado de espírito, “isso

fisicamente, deve-se criar uma imagem do que se espera como resultado após produzido (MCKELVEY E MUNSLOW, 2007). Para Puls e Montanheiro (2012) a ilustração de moda busca representar conceitos mais subjetivos e abstratos. Ao mesmo tempo que representa uma peça de roupa, por exemplo, também representa o conceito da marca, conceito da revista na qual é publicada ou até mesmo o contexto da época em que foi criada, na Figura 67é possível perceber algumas dessas características da ilustração. O processo para se

continua sendo um dos atributos mais importantes em uma ilustração efetiva.” (tradução livre, p. 62)4. Bryant (2012, p. 7) apresenta uma definição mais lúdica do conceito:

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Uma ilustração de moda é um pouco como um conto de fadas – uma criação imaginativa que incorpora o suficiente da realidade para contar uma história convincente. Embora a tradição peça para alongar os membros e editar rigorosamente a informação visual, a mensagem-chave (...) é a de que não há maneira certa ou errada de desenhar a moda.

De acordo com Heller

“this remains one of the most important attributes of an effective illustration.”

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Figura 7 – Ilustração inspirada em uma capa vintage da Vogue, Leeay Aikawa, 2012

Fonte: Laurent Cilluffo, 2018

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(2013, in Wiedemann (Ed.) 2013), a ilustração de moda no contexto atual busca gerar emoções e experiências que a fotografia não é capaz, por meio de sensações que só “são possíveis graças ao toque da mão humana a pintar sobre papel ou tela, onde a fluidez das linhas, as cores escolhidas e até alguns borrões de tinta contribuem para o encanto do resultado final” (p. 9), dando ao ilustrador a liberdade de se expressar dentro do seu próprio estilo, sendo mais realistas ou abstratos, usando-se dos maneirismos para atribuir à roupa distinção e personalidade. No universo do design de moda é preciso ser cauteloso para não confundir ilustração com desenho de moda ou desenho técnico. O primeiro (Figura 8) pode ser definido como a representação gráfica das peças sobre o suporte do corpo, apresentando detalhes da peça como caimento, acabamentos, estampas, cores, texturas, etc; o desenho deve ser funcional e informativo. Em contrapartida, o desenho técnico (Figura 9) é aquele apresentado às modelistas, deve conter uma representação clara do produto, com medidas, costuras, aviamentos, recortes, para que os moldes sejam Figura 8 – Desenho de moda

Figura 9 – Desenho técnico de moda

Fonte: @artsysparkly on Instagram, 2019

Fonte: Audaces, 2014

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feitos a partir dele (PULS E MONTANHEIRO, 2012). No design de moda, o desenho é uma ferramenta projetual muito utilizada pelos designers durante o processo de criação. Durante a concepção de novas peças, o designer dificilmente vai desenhar uma representação hiper-realista do que ele está criando, mas sim

um esquema com diferenças e funções da ilustração e do desenho de moda, assim como do desenho técnico (PULS E MONTANHEIRO, 2012). A figura humana funciona como um suporte para a ilustração de moda, sobre o qual serão desenhadas as peças de roupa; essa figura é comumente conhecida como

vai fazer um desenho ou esboço com proporções exageradas, idealizando e dando foco nas características principais da peça. A habilidade de representar graficamente diversas texturas e tecidos também agrega no resultado final (MAOMAO PUBLICATIONS, 20085). A maneira escolhida para se apresentar as figuras de moda tem influência direta no desenvolvimento de um projeto ou em qualquer outra função que esse desenho ou ilustração vá ter futuramente. O Quadro 1, a seguir, apresenta

croqui – uma palavra vinda do francês, que significa esboço (HOPKINS, 2012). O croqui permite que o designer ou ilustrador explore opções sem precisar de respostas definitivas, é um desenho com traços livres e dinâmicos, possibilitando a visualização das opções e combinações de peças, assim como diferentes materiais, cores e texturas possíveis de serem aplicadas (PULS E MONTANHEIRO, 2012). “O croqui é uma ferramenta importante, pois através dele

O livro Essential Fashion Illustration Color + Medium é um compilado de textos de diversos autores sobre técnicas de ilustração, porém em sua ficha técnica não existe o nome de nenhum organizador, assim como o texto de introdução não possui autor. Por isso, as referências feitas ao livro estão com o nome da editora. 5

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Quadro 1 - Características de ilustração, desenho e desenho técnico dentro do Design de Moda

Fonte: Releitura da autora baseada em Puls e Montanheiro (2012)

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(na postura dos manequins, no uso de acessórios, nas combinações produzidas) é que o designer transmite a relação entre peças isoladas e o tema da coleção” (TREPTOW, 2013, p.137) A autora Reis (2013) utiliza o termo croqui como sinônimo de desenho de moda, considerando-o uma ferramenta

plana e sem dimensões não terá o mesmo impacto que uma ilustração bem composta, levando em consideração a atitude da modelo e o conjunto de roupas, acessórios e sapatos, criando um estilo próprio na imagem. Uma ilustração de moda não precisa necessariamente ser feita com um estilo realista, mas ela deve,

utilizada somente durante o processo de criação, possuindo caráter inerentemente projetual. Porém como Treptow (2013) afirma, os croquis têm grande influência no marketing e vendas de uma coleção, pois sua composição define muito do tema e da essência desta, podendo, assim, ser considerados ilustrações de moda, quando utilizados com a finalidade de representar algo além da aparência visual das peças. O valor de uma peça de roupa encontra-se no ato de vestir, como afirma Yajima (1989), portanto uma ilustração

de alguma maneira, representar a realidade. Essa representação da realidade está ligada com o equilíbrio da imagem, principalmente em relação as proporções, Yajima (1989) complementa que existem momentos nos quais os ilustradores intencionalmente “deformam” as proporções, em especial as pernas, cabeça e pescoço, com o objetivo de mudar a essência da ilustração. “Isso se dá porque o exagero é mais interessante que a realidade, enquanto o equilíbrio geral for mantido” (tradução livre, p. 46).

“This is because over-exaggeration is more interesting than reality as long as overall balance is maintained.” 6

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A representação da figura humana no desenho de moda

O estudo da representação da figura humana existe desde a Antiguidade, os egípcios foram um dos primeiros a criar regras para o desenho do corpo, elaborando princípios e proporções a serem seguidos. O corpo humano sempre despertou curiosidade aos artistas, que buscavam representá-lo da maneira mais fiel possível e, com isso, foram surgindo princípios de desenho cada vez mais matemáticos (DRUDI E PACI, 2010). Drudi e Paci (2010) continuam descrevendo como os gregos desenvolveram um sistema com regras de proporção baseando-se no ideal de beleza e perfeição que existia na época, no qual acreditava-se que o corpo era perfeitamente simétrico e harmônico. De acordo com Morris (2009), a base desse cálculo era o tamanho da cabeça, utilizando essa medida para calcular o tamanho do corpo; a proporção média era que um corpo “perfeito” possuía 7 cabeças e meia de altura. Durante o Renascimento, com a revalorização dos valores clássicos, os artistas voltaram a usar essa regra de proporção. Os estudos de Vitruvius, na Antiguidade Clássica, foram resgatados por Leonardo Da Vinci, que os aprimorou e criou o Homem Vitruviano (Figura 10) no final do século XV, no qual Da Vinci descreveu detalhadamente as relações geométricas e matemáticas entre as partes da figura humana (GRAGNATO, 2008). Esse modelo de proporção baseado no tamanho da cabeça é

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Figura 910 - O Homem Vitruviano de Da Vinci (1452 – 1519)

Fonte: Wikipedia, 2007

utilizado até os dias atuais para a representação da figura humana, porém as proporções adquiriram algumas variações. Como afirma Yajima (1989), as proporções mais comuns em croquis de moda são 8:1, 9:1 e 10:1 (Figura 11), nas quais o corpo possui a altura de 8, 9 ou 10 cabeças, dependendo de quanto o ilustrador decidir distorcer o corpo realista. A proporção 8:1 é a mais realista e balanceada, não gera atenção especial para nenhuma parte do corpo e, geralmente, é usada quando as peças são mais sóbrias e básicas. A proporção

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Figura 11 – Proporções 8:1, 9:1 e 10:1

Fonte: Yajima, 1989

9:1 já é mais estilizada e considerada mais fashion, a cabeça parece pequena e os quadris e pernas ganham mais foco, facilitando a visualização da roupa representada. Por outro lado, a proporção 10:1 é mais dinâmica e alongada, podendo causar certo desconforto a quem vê, por se distanciar tanto da proporção “real”; se não for compreendida corretamente, desenhos com essa proporção podem parecer excessivamente desbalanceados (YAJIMA, 1989). Morris (2009) afirma que a estilização e a utilização de exageros na ilustração de moda são largamente utilizados com

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o objetivo de gerar interesse, tornando a figura mais esguia e graciosa. As ilustrações de moda mais clássicas costumavam alongar as pernas da figura quase como uma regra, porém esse costume não é mais tão comum atualmente, vendo que muitos ilustradores buscam inovar e experimentar técnicas novas, pois, como

é possível perceber que cada época possuía traços e silhuetas marcantes nas representações do corpo humano, de acordo com o padrão de beleza regente (Figura 12, pgs 56-57). Por exemplo, no início do século XX, com uma mudança no conceito de feminino, a silhueta tornouse retangular, sem curvas, marcada por linhas verticais

afirma Gragnato (2008), desde o início do século XXI é possível perceber o ideal de perfeição de beleza sendo questionado e isso é claramente exposto através do desenho de moda, que começou a se ajustar a essa realidade. A composição da figura humana no desenho de moda sempre foi diretamente influenciada pelo padrão de beleza vigente em determinada época e local, principalmente quando se trata da figura feminina. Isso se deve ao desenho buscar representar o zeitgeist, com o objetivo de contextualizar o produto representado (GRAGNATO, 2008). Por meio desse estudo

e sem volumes, contrariando a moda do final do século anterior, que marcava as curvas femininas, com busto e quadril avantajados e cintura apertada (GRAGNATO, 2008). A beleza teve diversas definições durante a história, cada período e cada contexto definiu um conceito diferente para o belo, porém uma concepção que parece ser presente em quase todos os momentos é a de que aquilo que é belo, também é bom. Se algo agrada à maioria da sociedade, só pode ser algo bom (ECO, 2004). Eco (2004) ainda continua, se analisar o cotidiano, o conceito de bom não está apenas naquilo que agrada às


pessoas, mas também naquilo que cada um quer para si mesmo, como por exemplo, riqueza. Portanto, o padrão de beleza define quem é “melhor”, quem é bonito e quem não é, quem é “bom” e quem não é. Apresentar ilustrações de moda que representam um corpo dentro do padrão de beleza da época, em um catálogo ou revista por exemplo, faz o leitor ver aquilo como algo bom. É algo que interessa ao público consumidor, pois, além de agradar-lhe visualmente, na maioria dos casos, também é algo que as pessoas desejam; elas desejam ter o “corpo perfeito”, a “aparência perfeita” acreditando que isso vai trazer a aceitação daqueles ao seu redor e também certo reconhecimento pela sua beleza.

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Figura 12 – Evolução histórica dos padrões de beleza

Vênus de Willendorf ~ 25.000 a.C.

Akhenaten ~ 1300 a.C.

La Princesse de Broglie Jean-Auguste-Dominique Ingres 1851 - 1853 60

Vênus de Milo 101 a.C.

Josephine Baker 1920

O Nascimento de Vênus Sandro Botticelli 1492

Greta Garbo 1930

Marilyn M 1950


VĂŞnus ao Espelho Diego Velazquez 1650

Monroe

Brigitte Bardot 1970

A Maja Desnuda Francisco Goya 1797 - 1800

Kate Moss 1990

Fonte: A autora (2019), baseado em Drudi e Paci (2010) e Eco (2004)

Kylie Jenner 2015

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ISTÓRIA D LUSTRAÇÃO E MODA


A moda como é conhecida atualmente passou a existir a partir do Renascimento, com a expansão do capitalismo mercantil. A ilustração de moda segue a mesma cronologia. Com as Grandes Navegações, no século XVI, o interesse nas vestes dos povos do “Novo Mundo” gerou a primeira publicação com

surgimento de artistas que começaram a se especializar em representar a moda e o vestuário. A partir de 1670, começaram a ser publicados os primeiros periódicos de moda, que podem ser considerados os precursores das revistas, nos quais apresentavam-se os modelos que eram tendência

foco na representação do vestuário: o livro De gli Habiti Antichi e Modérni di Diversi Parti di Mondo por Cesare Vecellio públicado em 1598 (LUGLI, 2014). Mesmo que por séculos a indumentária já fosse representada em pinturas, esculturas, afrescos, as roupas nunca eram representadas por si só, mas sim como uma consequência da figura ou cena que era retratada. Por muito tempo, a representação da indumentária e depois da moda estava ligada à arte, onde tinham menor relevância do que os outros elementos da cena. Com a popularização da moda e a criação de tendências, foi de grande importância o

assim como recomendações de lojas e alfaiates locais. Esses periódicos tornaram-se muito populares principalmente na França e começaram a ditar a moda em quase toda Europa. Por volta do século XVIII, as revistas tornaram-se o principal meio para as mulheres da burguesia buscarem modelos e inspirações (BLACKMAN, 2007). A revista Le Cabinet des Modes (Figura 13), publicada quinzenalmente, foi criada em 1785 e apresentava catálogos com ilustrações coloridas de moda feminina, masculina e infantil, assim como acessórios, perucas, objetos de decoração e até mesmo carruagens (DUARTE, 2010).

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Figura 13 - Le Cabinet des Modes, 1786

Fonte: Luxe, 2019

Com os desenvolvimentos de métodos de impressão cada vez mais eficientes, a popularização das revistas levou tendências ao resto do mundo, América do Norte, Rússia e Ásia e começou a gerar mais interesse pela área. Diversos ilustradores começaram a surgir e até mesmo artistas começaram a se interessar pelos estudos de representação do vestuário. Como afirma Morris (2009), no final do século XIX, dois ilustradores se destacaram ao criarem imagens que mudaram a visão sobre a moda. É nesse momento que as ilustrações começam a ditar os padrões de beleza de maneira mais impactante socialmente. O primeiro ilustrador foi Alphonse Mucha, que tinha um estilo inspirado no Art Nouveau, desenhava mulheres lânguidas, com cabelos esvoaçantes e muito elegantes. O segundo

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foi Charles Dana Gibson, suas ilustrações criaram a figura da Gibson Girl, elegante e sempre bem vestida, usava espartilho apertado que deixava o corpo em forma de S (Figura 14), era alta e bem magra, com as feições do rosto delicadas e olhos grandes. A Gibson Girl foi a inspiração inicial para as pinups nas décadas seguintes.

novas formas de representação nas ilustrações, representando figuras coloridas sobre fundos monocromáticos, com as modelos em poses laterais ou até mesmo de costas (BLACKMAN, 2007). Por volta de 1910, a ilustração de moda recebeu influências dos diversos estilos artísticos que estavam surgindo,

As primeiras décadas do século XX foram marcadas pelas inspirações orientais que chegaram ao ocidente. Léon Bakst, que trabalhou no Ballets Russes, trouxe cores vivas em suas ilustrações, que contrastavam com os tons pastéis comuns à Belle Époque. O Orientalismo de Bakst influenciou diretamente o costureiro Paul Poiret, que era famoso por lançar suas coleções em catálogos ilustrados. Poiret foi inovador ao equiparar a moda com a arte, dando uma visibilidade muito maior ao vestuário e às suas coleções. Em 1908, Poiret comissionou Paul Iribe para ilustrar seu catálogo Les Robes de Paul Poiret, que trouxe

como Art Nouveau, Art Déco e movimentos modernistas como o Cubismo e Neoplasticismo. Com o início da Primeira Guerra Mundial, a moda não foi muito afetada, porém os meios de comunicação, as revistas e jornais, sofreram um grande impacto. Com isso houve um crescimento na indústria de filmes e muitos ilustradores migraram para essa área, trabalhando com figurinos e cartazes. Na década seguinte, no pós-guerra, houve uma demanda para peças de roupas mais práticas e sem tanto tecido, principalmente para as mulheres que começavam a alcançar certa independência. Isso influenciou diretamente

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Figura 14 - Le Cabinet des Modes, 1786

Fonte: Etsy, 2019

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nas figuras das ilustrações de moda, que antes eram mais realistas e curvilíneas e tornaram-se mais angulares e alongadas; as figuras também começaram a ser mais simplificadas, como um resultado da influência dos movimentos artísticos na moda (MORRIS, 2009). Com a Segunda Guerra Mundial acontecendo no início da década de 1940, Morris (2009) afirma que grande parte dos ilustradores de moda se mudaram para os Estados Unidos, onde a área da ilustração teve um grande crescimento e popularizou a imagem das pin-up girls (Figura 15). No final da década, Dior criou seu New Look, que trazia de volta os vestidos e saias volumosos, Figura 15 - Ilustração pin-up por Alfred Leslie Buell

Fonte: American Pin-Up, 2019

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com muito tecido. Nas décadas seguintes, a ilustração perdeu seu espaço nas revistas para a fotografia, que se tornou acessível e mais barata. Fotógrafos e modelos eram as novas celebridades para a moda. Os ilustradores foram conquistando novos espaços e muitos começaram a trabalhar como autônomos,

Lugli (2014, p. 28): “a recente revalorização da ilustração na moda se deve à sua possibilidade de representar não apenas o vestuário, mas também todo o aspecto simbólico de informação e comportamento que ela carrega”. Gragnato (2008) descreve o diferencial da

para diversas marcas e designers. O zeitgeist de cada década continuava sendo uma das maiores influências no estilo dos artistas; a figura curvilínea criada pelo New Look da Dior, que marcou os anos 50, na década de 60 a cultura jovem, de personalidade despreocupada também foi muito marcante, permitindo aos ilustradores criarem poses mais relaxadas e com ângulos mais livres. No final do século, nos anos 1990, com a popularização de softwares de edição de imagem e o foco de muitos ilustradores se tornando a ilustração digital, a ilustração de moda voltou a ser mais valorizada. Segundo

ilustração em relação à representação fotográfica como sendo a sua abrangência, a ilustração não se prende a realidade e não é limitada por ela, podendo representar diversas possibilidades de mundo, utilizando o real apenas como uma referência para a representação.


Uma breve linha do tempo da ilustração de moda

Femme de Paris, Wenceslau Hollar (1661)

Vestes dos jovens da nobreza inglesa, Cesare Vecellio (1598)

Les Adieux, da revista Le Monument du Costume (1777)

The Arts - Dance, Alphonse Mucha (1898)

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Gibson Girls na praia, Charles Dana Gibson (1898)

New Look da Dior, Christian Bérard (1947)

Les Robes de Paul Poiret, Paul Iribe (1908)

Blazer Jackets, René Gruau (1963)

The Firebird, figurino de ba Léon Bakst (1910)

Back to Nature, Antonio López (1970)

LORI, Pa


alé,

Capa da Harper’s Bazar, Erté (1920)

atrick Nigel (1982)

Coluna Garotas, na revista O Cruzeiro, Alceu Penna (~1940 1950)

Ilustração de ZOLTAN+, 1993

Christian Dior Beauty, Bil Donovan (2011)

Figura 16 - Infográfico de linha do tempo da ilustração de moda Fonte: A autora, 2019


ATERIAIS E ÉCNICAS D LUSTRAÇÃO


A habilidade de desenhar a figura humana e, sobre ela, peças de roupa é apenas um aspecto da ilustração de moda como um todo. O planejamento da ilustração, levando em consideração, principalmente, os elementos de composição é a maneira mais efetiva de comunicar a mensagem desejada. Uma composição bem desenvolvida é capaz de capturar a atenção de quem está vendo e manter seu interesse, direcionando a visão através dos elementos da figura e construindo um fluxo de visualização da imagem, facilitando o entendimento dela (HOPKINS, 2012). Os materiais utilizados para se desenvolver uma ilustração são comumente divididos entre materiais secos e materiais úmidos ou molhados. Dentre os secos, os mais comuns no meio dos ilustradores de moda são os lápis de cor, grafite, giz pastel e carvão. Os materiais molhados são ainda mais utilizados, dentre eles destacam-se os marcadores, aquarela, gouache e nanquim (BRYANT, 2012). Com a popularização dos computadores e, principalmente, dos softwares de criação e edição,

a ilustração de moda alcançou um novo patamar por meio da ilustração digital, podendo ser considerado um terceiro tipo de técnica a ser utilizada (TALLON, 2008). Por fim, existem as ilustrações de técnicas mistas, que podem envolver o uso de diversas técnicas manuais de desenho e pintura, assim como pode ser uma mistura de técnicas manuais e digitais (MAOMAO PUBLICATIONS, 2008). Conforme McKelvey e Munslow (2007), a escolha da técnica a ser utilizada na ilustração deve sempre levar em consideração qual o objetivo dela, onde será usada e com qual finalidade. Uma vez que a ilustração procura “contar uma história”, a preocupação em como essa história é contada deve envolver também a atenção no momento de decidir os materiais com os quais há de ilustrá-la. A seguir serão descritas algumas das técnicas e materiais de desenho e pintura mais comuns dentro do universo da ilustração de moda – assim como alguns exemplos de artistas ou ilustradores que utilizam-nas – divididas em categorias de técnicas secas, úmidas, digital e técnicas mistas.

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Grafite

Técnicas Secas De acordo com Morris (2009), o lápis grafite (Figura 17) é um dos materiais mais comuns, principalmente devido ao fato que durante o processo de aprendizagem de desenho, o desenho com lápis é uma das primeiras técnicas a serem dominadas. “A maioria das obras de arte começa com um desenho a lápis” (MORRIS, 2009, p.66).

Figura 17 - Lápis grafite Mitsu-Bishi

Fonte: Jet Pens, 2019

Como Morris (2009) explica, o grafite pode ser encontrado em forma de lápis, feito em madeira, ou pode vir como refil para lapiseiras – encontrado em diferentes calibres, comumente vari- ando entre 0.3mm e 0.9mm7). Outra característica muito importante desse material é a graduação, também chamada de dureza do grafite; essa Atualmente é possível encontrar lapiseiras com grafites mais grossos, variando entre 2.0mm e 5.6mm. Essas espessuras são mais utilizadas no meio artístico em técnicas de sombreamento. 7

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variação vai das numerações de H (hard), que caracteriza os grafites mais duros; às numerações de B (black), que são os lápis mais macios e mais pigmentados, mais pretos. Dentro das marcas mais populares, essa variação ocorre entre o 6H e o 6B, tendo o HB como mediano e mais comum, também conhecido como Nº2, porém, na extensão de algumas marcas artísticas mais profissionais é possível encontrar variações que vão desde o 9H ou até mesmo 10H, progredindo até o 9B ou 10B, dependendo da marca (Figura 18). Figura 18 - Durezas de grafite

Fonte: Jet Pens, 2015

O grafite é um material prático e que possibilita acrescentar profundidade à ilustração facilmente. Por mais que seja monocromático, oferecendo apenas tons de cinza, ele é funcional ao oferecer diversas maneiras de utilizá-lo – com a ponta no papel para criar linhas e traços marcados, com a lateral para criar blocos de cor e valor; se o artista for criativo ele pode até mesmo fazer pó de grafite e usá-lo para preencher áreas maiores ou criar efeitos diferenciados (DONOVAN, 2010).

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Figura 19 - Coleção Primavera 2006, por Alena Akhmadullina.

Fonte: Borrelli, 2008

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A ilustradora e designer Alena Akhmadullina produz coleções prêt-à-porter desde 2001 e suas ilustrações (Figura 11) buscam representar fielmente aquilo que irá para a passarela. Por exemplo, no desfile da coleção de Primavera 2006, algumas modelos realmente usaram máscaras de cabeças de animais. Sobre a técnica utilizada, é perceptível que a ilustradora usa mais a expressão das linhas, sem muitos preenchimentos, degradês ou esfumados, o desenho é simples e direto em sua mensagem. “Desenhar é uma busca, um entrelaçamento da realidade e de imagens inventadas; é a melhor fixação de uma ideia” (AKMADULLINA, in BORRELLI, 2008, p.18)


Figuras 20 e 21 - Iben Høj, Primavera/Verão 13 lookbook, por Montse Bernal.

Fonte: Wiedemann (Ed.), 2013

Montse Bernal é uma ilustradora que possui um foco em retratos, ela usa seus trabalhos como uma ferramenta para redescobrir as pessoas e expressar o que está além da superfície. Em questão de técnica, a maioria dos seus trabalhos é feito com diversos materiais, podendo ser caracterizados como trabalhos de técnicas mistas, porém é possível notar como Montse utiliza o grafite nos retratos para obter certo nível de realismo e expressividade, trabalhando com luz e sombra e detalhes minuciosos nos cabelos trançados.

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Lápis de Cor

O que dá a cor às minas dos lápis é uma junção de pigmentos, aglutinantes e ceras, formando uma massa que depois é moldada e colocada no suporte de madeira. Os lápis de cor podem ser aplicados de maneira muito parecida ao grafite, porém a presença de uma variedade de cores permite o artista trabalhar de outros modos em diferentes características da ilustração como luz e sombra, contrastes e texturas (MORRIS, 2009).

Uma técnica muito comum com lápis de cor é a utilização de camadas, consistindo em criar novos tons e subtons acrescentando camadas de cores diferentes sobre cores que já estão no papel (MCKELVEY E MUNSLOW, 2007). Existem também os lápis de cor aquareláveis (Figura 22) que são como os comuns, porém quando misturados com água, o pigmento se dissolve, comportando-se quase como tinta. Essa técnica não possui linhas marcadas como a técnica do lápis Figura 22 - Lápis de cor aquareláveis

Fonte: A autora. Foto por Marco Mattana, 2019

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seco, possuindo uma aparência muito mais suave (MCKELVEY E MUNSLOW, 2007; MORRIS, 2009).

Figuras 23 e 24 - Ilustrações de Jean-Philippe Delhomme para seu blog The Unknown Hipster

Fonte: The Unknown Hipster, 2013 As ilustrações feitas com lápis de cor por JeanPhilippe Delhomme podem parecer quase infantis para alguns, os traços rápidos e as áreas de cor preenchidas desatentamente, porém são essas características que tornam o resultado final tão expressivo. As pessoas são reconhecíveis, assim como as ações que estão realizando e até mesmo suas expressões e emoções são identificáveis. O artista utiliza essa técnica quando vai ilustrar em eventos ou lugares em que ele observa as pessoas e precisa resolver a ilustração rapidamente, obtendo um resultado mais significativo.

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Pastel

O giz pastel é composto, basicamente, por pigmentos e um agente aglutinante; a proporção do aglutinante vai determinar a dureza do material, que pode variar entre duro, médio e macio, sendo que os macios possuem a maior concentração de pigmento (DONOVAN, 2010).

De acordo com Budnik (in Maomao Publications, 2008), a opacidade dos pasteis permite que ele seja utilizado sozinho, mas também possibilita o uso sobre superfícies previamente coloridas com aquarela, gouache, acrílica ou nanquim, sendo uma técnica conveniente para representar dobras no tecido, profundidade e volumetria. O pastel seco (Figura 25) é comumente encontrado em dois formatos: bastões ou lápis; os bastões possuem uma concentração maior de pigmento e, no geral, são mais macios e possuem cores mais vibrantes, enquanto os lápis são menos pigmentados e mais duros, porém permitem trabalhos mais detalhados e em tamanhos menores (BUDNIK, in MAOMAO PUBLICATIONS, 2008). Figura 25 - Pastel seco em formato de bastão

Fonte: A autora. Foto por Marco Mattana, 2019

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O giz pastel seco é a forma mais tradicional desse material, porém, a partir da metade do século XX, popularizou-se no meio artístico o uso do giz pastel oleoso (Figura 26), que consiste em uma formulação igual à do pastel seco, porém com o acréscimo de ceras e óleos ao aglutinante, com o objetivo de reproduzir as características da tinta à óleo em um bastão, possibilitando uma aplicação mais prática e em superfícies mais variadas (OTANÁSIO, 2013). Figura 26 - Bastões de giz pastel oleoso

Fonte: Jackson’s Art, 2017

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Figura 28 - Ilustração com giz pastel oleoso, por Ko Jihyun

Fonte: @gozitive on Instagram, 2019

<< Figura 27 - Ilustração inspirada nas estampas da África oriental, por Nelly Mensah

A artista coreana Ko Jihyun não é diretamente da área da moda, porém seus trabalhos com giz pastel oleoso se destacam pela paleta de cores e pelo uso proposital da textura do material no papel. As cores sempre giram em torno de tons mais pasteis e as paletas não são baseadas nas cores reais das coisas, criando uma atmosfera diferente em cada ilustração.

Fonte: Nelly Mensah on Behance, 2015 O pastel seco sobre papel pardo proporciona cores vibrantes e chamativas, que representam muito bem as estampas coloridas africanas que inspiraram a ilustração. O giz pastel dá a versatilidade de criar linhas, manchas de cor e degradês, dando vida à ilustração.

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Carvão

O carvão (Figura 29) é um material básico para muitos artistas, sendo associado a desenhos expressivos, rápidos e com energia; está ligado fortemente ao desenho da figura humana e tem um histórico longo dentro do desenho e ilustração de moda. É uma técnica simples que dá liberdade ao artista para usá-la de diversas maneiras, podendo ser encontrado em formato de bastão, lápis ou pó (DONOVAN, 2010).

Figura 29 - Kit de materiais para desenho com carvão

Fonte: Dick Blick Art Materials, 2019

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Donovan (2010, p. 137) descreve o material: O carvão, em contraste com a grafite, tem apenas um valor – preto. Mas esse preto é diferente de qualquer preto encontrado em outros materiais. É um preto rico, aveludado, que satura o papel, borra e mancha com facilidade, deixando um traço empoeirado de resíduos, dependendo da maciez ou da dureza do carvão.

Figuras 30 e 31 - Carolina Herrera, Primavera/Verão 2014, por Tobie Giddio

Fonte: Tobbie Giddio, 2019

A artista Tobbie Giddio produz ilustrações bem gestuais com carvão, ela se preocupa com a marca que o material deixa no papel, apagando muito pouco durante o processo. Nos exemplos apresentados é possível reconhecer a forma da figura humana e ter uma noção básica das peças, um vestido e um blazer com uma calça, respectivamente, porém ela não apresenta detalhes, das roupas, mas sim busca mostrar o movimento, a fluidez e a ação da modelo ao caminha na passarela.

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Figuras 32 e 33 - Ilustrações de Carl Erickson Fonte: Illustrators’ Lounge, 2015

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Carl Erickson foi um ilustrador de moda muito conhecido no início do século XX, principalmente pelos seus trabalhos para a revista Vogue. Seus trabalhos eram quase sempre feitos a partir de um modelo vivo. O ilustrador usava o carvão de maneira delicada, representando a delicadeza das modelos que ele desenhava, alcançando um realismo mais lúdico.


Marcadores

Técnicas Úmidas Bryant (2012) afirma que os marcadores são o material mais padrão na indústria da moda e podem ser encontrados em diferentes composições, à base de álcool, óleo ou água. A técnica com marcadores não permite muitas misturas de cor, porém o material oferece, na maioria das marcas, uma tabela de cores extensas que permitem uma aproximação mais precisa à cor real do material a ser representado.

Os marcadores à base de álcool são os mais comuns e possuem, na maioria das marcas, duas pontas, variando entre chanfrada, de pincel e extrafina. A marca Copic (Figura 34) é a Figura 34 - Marcadores à base de álcool da marca Le Plume

Fonte: A autora, 2019

mais famosa para marcadores – tendo sido popularizada pelos mangakas japoneses – esses marcadores permitem misturas de cores quase sem marcações do traço, a caneta possui a vantagem de ser recarregável e a marca oferece uma das maiores variações de cor do mercado, disponibilizando 358 cores no modelo Copic Sketch (BRYANT, 2012; DEZAINA, 2017).

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Os marcadores à base de óleo foram inicialmente desenvolvidos para uso em artesanato e scrapbook, possuem pigmentos opacos e funcionam através de uma válvula (é necessário sacudi-los antes de usar para ter um bom desempenho). Esse tipo de marcador pode ser utilizado em quase qualquer tipo de superfície

aplicação de cores claras sobre cores escuras (BRYANT, 2012). Por fim, os marcadores à base de água (Figura 35) são os menos tóxicos, não exalam cheiro forte como os anteriores. As opções mais profissionais desse material geralmente possuem duas pontas, assim como os marcadores à base de álcool. Alguns artistas utilizam

e sobre outros materiais, além disso possuem a vantagem de que a opacidade alta permite a

técnicas com água para obter efeitos aquarelados com essas canetas (BRYANT, 2012).

Figura 35 - Marcadores à base d’água das marcas Koi e Faber-Castell (metálicos)

Fonte: A autora, 2019

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Figuras 36 e 37 - Ilustrações do workshop de ilustração em parceria com a Dior, por Alena Lavdovskaya

A ilustradora de moda Alena Lavdovskaya utiliza a técnica de marcadores à base de álcool de maneira mais solta, utiliza tons de cinza para criar sombras e profundidade onde é necessário, o foco maior é quase sempre no rosto; na maioria das suas ilustrações, Alena utiliza uma cor para compor a figura e dar destaque ao que for necessário.

Fonte: Alena Lavdovskaya on Behance, 2016

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Aquarela

A aquarela (Figura 38) é uma tinta à base de água, podendo ser encontrada em tubos ou em pastilhas secas, que devem ser ativadas com água para liberar a cor, ainda existem também as aquarelas líquidas, também podendo ser conhecidas como anilinas. As tintas em tubo possuem uma pigmentação maior pois podem ser diluídas com menos água se necessário, enquanto as pastilhas tendem a soltar menos cor, por serem tinta em formato sólido e seco (DONOVAN, 2010; MORRIS, 2009).

Figura 38 - Variações de aquarela: em bisnaga, em pastilha e líquida

Fonte: A autora. Foto por Marco Mattana, 2019

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Como dito por Donovan (2010), a técnica de aquarela concede fluidez e leveza à ilustração, as aguadas de cor e a técnica de pintura com camadas são utilizadas desde sempre por artistas para dar essência e sensibilidade à imagem. O material também concede grande liberdade ao artista, possibilitando o uso de técnicas

diversos e “capturar o místico etéreo da ilustração de moda” (p. 145). A aquarela tornou-se popular através das ilustrações que representavam a natureza: ilustrações botânicas, topográficas, de vida selvagem e paisagens. No mundo contemporâneo, a popularização da aquarela é fortemente ligada

de úmido sobre seco e úmido sobre úmido para criar efeitos

ao campo de ilustração de moda (WIGAN, 2009).

Figuras 39 e 40 - Ilustrações em aquarela e aquarela metalizada por Katie Rodgers

Katie Rodges possui um traço muito livre e expressivo, a ilustradora utiliza muito de tintas com efeito metálico em quase todos os seus trabalhos. A figura humana é muito estilizada e o foco é realmente a roupa e não a modelo, ao mesmo tempo que a expressão corporal Fonte: @paperfashion on Instagram, 2017 também ajuda a compor a ilustração.

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Gouache

A gouache (Figura 41) é uma tinta opaca à base de água, encontrada geralmente em bisnagas ou potes. Por ser solúvel em água, pode ser usada tanto mais espessa como acrílica, como mais diluída, obtendo um efeito aquarelado (DONOVAN, 2010).

Figura 41 - Gouache em potes e em bisnagas

Fonte: A autora. Foto por Marco Mattana, 2019

Essa técnica é muito utilizada para criar cores fortes e definidas, pois a tinta seca rapidamente e não escorre, tornando-a também uma boa opção na hora de cobrir grandes áreas com cor. Sua opacidade permite que seja aplicada por cima de outros materiais para criar detalhamentos e, por secar opaca e fosca, permite que outros materiais secos sejam utilizados sobre ela, os mais comuns são lápis de cor e pastel (MORRIS, 2009; DONOVAN, 2010).

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Figuras 42 e 43 - Ilustrações para Oscar Jacobson, por Fredrik Tjernström

Fredrik Tjernström trabalha com diversos estilos de ilustração. Seus trabalhos são ricos em detalhes e o ilustrador usa a gouache de maneira quase minimalista, representando apenas o necessário, porém o foco na composição, principalmente através da silhueta, torna a imagem interessante e transmite a atitude do modelo de forma ideal. Fonte: Agentbauer, 2012

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Nanquim

O nanquim preto (Figura 44) é o material favorito de muitos artistas, devido às suas diversas funcionalidades. O nanquim pode ser aplicado com pincel, bico de pena ou com uma vareta fina de bambu. A tinta pode ser diluída em água para obter-se tons mais claros e para obter efeitos diferentes na ilustração. O nanquim também pode ser encontrado em canetas, muito utilizadas para finalizar ilustrações com linhas e contornos (MORRIS, 2009).

Figura 44 – Tinta e canetas nanquim

Fonte: A autora. Foto por Marco Mattana, 2019

Tinta nanquim não é apenas preta, existem disponíveis no mercado outras cores como azul, vermelho, amarelo, branco e até em tons metálicos; que, quando diluídos em água criam infinitos tons de aguadas que podem ser utilizados para realçar a ilustração (DONOVAN, 2010). Ainda de acordo com Donovan (2010), o pincel utilizado pode gerar efeitos diferentes dependendo de suas características e do ilustrador. O manuseio do pincel depende da segurança do

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ilustrador durante o processo; cada pincelada é definitiva no papel, portanto deve ser precisa. O autor descreve (p. 135): A tinta nanquim é um material dinâmico e elegante, tão versátil como o seu usuário. É imediato e espontâneo. (...) Esta ferramenta não é para almas delicadas ou com corações frágeis. Ela é forte e precisa ser tratada como tal. Antes de usar o pincel, observe e pense onde você quer que sua linha seja traçada. Então, sem hesitação, mergulhe o pincel na tinta e pinte.

Figura 45 – Ilustrações da coleção de Outono 2007 de Phillip Lim, feitas pelo próprio designer

Phillip Lim utiliza de canetas nanquim pretas para fazer ilustrações rápidas e lineares, mas ao mesmo tempo expressivas e claras em sentido. O ilustrador usa a linha como a maior e mais importante ferramenta em seus desenhos, alcançando resultados simples porém carregados de significado.

Fonte: Borrelli, 2008

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Figuras 46 e 47 – Ilustrações para a LVMH, por Cecilia Carlstedt

A ilustradora Cecilia Carlstedt trabalha muito com técnicas aguadas, utilizando principalmente nanquim e acrylic ink. A tinta espalhada cria volumes e sombras, dando expressividade à imagem mesmo sem definir as feições perfeitamente.

Fonte: Agents and Artists, [201?]

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Digital Ilustrações digitais de moda começaram a se tornar populares por volta da década de 90, quando muitos ilustradores tiveram acesso a computadores e softwares de edição e começaram a explorar novas técnicas e novas maneiras de se expressar, por meio de um estilo artístico incipiente (TALLON, 2008). Ainda de acordo com Tallon (2008), os softwares podem ser utilizados para a produção de ilustrações completas, desde os primeiros sketches até os acabamentos finais, porém muitos artistas usam para retocar, aprimorar, corrigir ou complementar ilustrações feitas nos meios tradicionais. Para se desenvolver ilustrações digitais, é necessário, em primeiro lugar, um computador, podendo ser

PC ou Mac, de mesa ou portátil (notebooks). Em segundo lugar é necessário obter o software que será utilizado – os softwares mais conhecidos são o Photoshop (em bitmap8) e o Illustrator (vetorial9). Por fim, é necessária uma ferramenta física que permita fazer uso no software, para que se possa produzir a ilustração, a mais popular é a mesa digitalizadora (Figura 48) , porém alguns artistas ainda se utilizam do mouse para tal – sendo usado mais nos casos de a ilustração ser vetorial (MORRIS, 2009). Atualmente, no mercado, existem também mesas digitalizadoras com monitor integrado que permitem “a visualização da imagem na tela própria, sem a necessidade do monitor do computador” (HOLANDA, 2014, p. 22). O fato do artista poder riscar

Conteúdo armazenado em pixels. Conteúdo armazenado em fórmulas matemáticas vetoriais que descrevem cores, formas e linhas. 8 9

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diretamente na tela com a caneta proporciona uma percepção mais real de estar usando papel e lápis, tornando o processo mais fácil e intuitivo (HOLANDA, 2014). Figura 48 – Mesa Digitalizadora

Fonte: A autora. Foto por Marco Mattana, 2019

As ferramentas digitais podem ser facilitadores, permitindo que o ilustrador altere seu trabalho quantas vezes forem necessárias, apagando, recortando, preenchendo, acrescentando ou removendo elementos. Porém essa mesma funcionalidade da técnica pode se tornar uma inconveniência quando o ilustrador não souber utilizar as ferramentas ou não souber quando parar por tentar alcançar uma perfeição que não existe. O digital pode tirar a expressividade de alguns trabalhos se não for aproveitado com cautela.

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Figuras 49 e 50 -150 anos de moda em fotos. Livro M.O.D.A. por Katarzyna Bogucka Fonte: Bogucka, 2011

A ilustradora Katarzyna Bogucka produz ilustrações digitais coloridas e com cores mais chapadas. É possível perceber que ela acrescenta certo tom de humor nas ilustrações. As formas simplificadas misturam alguns elementos vintage ao mesmo tempo que mantêm um equilíbrio com o minimalismo das formas, criando figuras quase cubistas.

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Técnicas Mistas As ilustrações com técnicas mistas, popularmente conhecidas como mixed-media, abrangem ilustrações que misturam duas ou mais das técnicas analógicas tradicionais, ou que misturam técnicas analógicas com as digitais (MAOMAO PUBLICATIONS, 2008). A maioria dos ilustradores de moda combina duas ou mais técnicas em suas ilustrações. A artista Vikki Yau postou em seu Instagram uma foto de sua mesa de trabalho, mostrando diversos materiais à sua frente (Figura 51). Figura 51 - Mesa de trabalho da ilustradora Vikki Yau

Fonte: @vikkiyau on Instagram, 2013

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O autor Donovan (2010) afirma que o conhecimento sobre e a habilidade de manusear diferentes materiais, assim como combiná-los de maneira harmônica, é o melhor caminho para um ilustrador encontrar um estilo próprio que seja único. O autor ainda complementa (p. 149): Cada material tem características e nuanças particulares, mas combiná-los com diferentes métodos e técnicas pode ajudar a reinventar o material e seu trabalho. A exploração deve ser a força propulsora para descobrir métodos em consonância com seu estilo pessoal.

Quando se fala em mixed-media, uma das primeiras técnicas que vêm à mente é a colagem, tanto que vários autores consideram essa a única na categoria de técnicas mistas. De acordo com Morris (2009), a colagem é uma ilustração composta pela junção de elementos inicialmente aleatórios – papel, recortes de revista e jornal, textos impressos, fotografias,

cartões postais, botões, fios, linhas, qualquer material que inspire o artista –, formando uma composição que combina arte e imaginação. Com a popularização das ilustrações digitais, popularizou-se também colagens digitais, e de técnica mista, possibilitando o uso de filtros, efeitos, sobreposições ou qualquer detalhe que o ilustrador imaginar em seu trabalho. Um termo utilizado por alguns autores para essa combinação de técnicas é o hibridismo. Originalmente, essa palavra tem como significado a formação de vocábulos com influência de duas ou mais línguas. Porém, quando aplicado ao design e à ilustração pode referir-se ao hibridismo de técnicas ou tecnologias, no qual é possível perceber a sobreposição de camadas, utilizando diferentes técnicas, resultando em uma imagem com traços e texturas distintas, feitas com cada material (OLIVEIRA, 2017).

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Figura 52 e 53 - Ilustrações de Izziyana Suhaimi

Fonte: Wiedemann (Ed.), 2013

As ilustrações de Izziyana Suhaimi misturam técnicas tradicionais de desenho com bordados coloridos e intrincados. A ilustradora utiliza os materiais à sua própria maneira, combinando o tradicional com o inovador; nota-se como um desenho inicialmente simples, torna-se único ao acrescentar os bordados, que adicionam cores e textura à composição.

<< Figura 51 - Colagem de Cem Bora para a Vogue Itália Fonte: Cem Bora, 2007 Cem Bora cria colagens com inspirações surrealistas, suas composições criam uma atmosfera quase misteriosa para as ilustrações. Na Figura 51, é possível perceber na capa da Vogue uma mulher com um estilo vintage, porém ela não possui feições no rosto, apenas a boca, criando uma sensualidade imprevisível mas que ainda demonstra perfeitamente a expressão da modelo. Muitos de seus trabalhos ficam entre a representação do zeitgeist e um conceito atemporal.

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Quadro Síntese Material

Grafite

Lápis de Cor

Pastel

Carvão

Marcadores

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A partir das pesquisas de materiais e técnicas comumente utilizados para a produção de ilustrações, foi desenvolvido um quadro síntese condensando as principais características de cada técnica apresentada.

Classificação

Seca

Tipos Os tipos de grafite são as diferentes graduações

A base de óleo, a base Seca ou úmida de cera ou (aquareláveis) aquarelável (a base de goma)

Seca

Seco, oleoso, em bastão, em lápis

Seca

Lápis, bastão

Úmida

A base de álcool, a base de água, a base de óleo

Técnicas

Gama de Cores

Linhas, hachuras, Monocromático preenchimento, esfumado Preenchimento, hachuras, linhas, construção Policromático de camadas, aguadas (no caso do aquarelável) Preenchimento, Policromático sombreado, linhas Linhas, hachuras, esfumado, preenchimento

Monocromático

Preenchimento, Policromático linhas


Material

Aquarela

Gouache

Nanquim

Digital

Mistas

Classificação

Úmida

Úmida

Úmida

-

-

Tipos

Técnicas

Gama de Cores

Em pastilha, em bisnagas, líquida, bastão, lápis, marcador

Aguada, preenchimento, construção de camadas, úmido sobre seco, úmido sobre úmido

Policromático

Em potes, em bisnagas

Pode ser utilizada mais aguada ou mais opaca, preenchimento, construção de camadas

Líquido em potes, canetas

Aguada, preenchimento, podendo ficar mais transparente se diluído

Existem diversos softwares que permitem a criação de ilustrações digitais

Pintura, colagem, edições, gifs, animações, aplicação de texturas

Existem infinitas combinações de técnicas e materiais diversos

Colagem, bordado, costura, combinação de outros materiais, camadas,

Policromático

Comumente o nanquim é apenas preto, porém existem algumas marcas que oferecem o produto em algumas outras cores

Policromático

Policromático

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CapĂ­tulo 3


ONSIDERAÇÕE INAIS


A ilustração é uma área complexa de se estudar por ser tão abrangente e multidisciplinar. Ao longo da pesquisa foi possível conhecer uma parcela desse universo tão intrincado, podendo perceber sua importância para o design principalmente como meio de comunicação. No design de moda, a ilustração possui

fundamental pela apresentação de diversos ilustradores, mostrando diversos estilos e maneiras de representação, reforçando o discurso da ilustração como linguagem visual. A análise dos diversos estilos dos artistas apresentados demonstrou como existem infinitas maneiras de comunicar a mensagem a ser transmitida.

aplicações um pouco diferentes mas os princípios se mantêm os mesmos. O entendimento da história da ilustração e da sua relevância em cada época permitiu a compreensão de fatores que foram essenciais para o desenvolvimento desta área como ela é hoje. As linhas do tempo desenvolvidas a partir das pesquisas históricas de ilustração e de ilustração de moda especificamente apresentaram diversas obras e artistas que foram relevantes em suas respectivas épocas, o formato de infográfico é mais objetivo e facilita a visualização das informações. O estudo de materiais e técnicas de ilustração foi

A ilustração pode comunicar sua mensagem de diversas maneiras, e é preciso que quem vê a imagem saiba como lê-la para compreender tal mensagem. A autora Woodford (1987) descreve quatro maneiras de se observar uma imagem, sendo elas: a finalidade da imagem - o motivo pela qual ela foi produzida, por exemplo uma ilustração para ser publicada como propaganda em uma revista -, o que a imagem diz sobre a cultura dentro da qual foi produzida - como aquela imagem está ligada ao zeitgeist -, a relação da imagem com a realidade - a imagem não precisa ser realista, mas está ligada à realidade de alguma maneira, novamente uma ligação com o

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zeitgeist -, por fim, a imagem pode ser analisada por suas escolhas de composição - cores, linhas, formas, posicionamentos podem dizer muito sobre a perspectiva do artista ao criar a ilustração. A abrangência da ilustração permite que os ilustradores se insiram em um contexto cultural mais amplo, tratando de temas ligados às tendências contemporâneas. Dessa forma, se vários ilustradores desenvolverem um trabalho com o mesmo tema, as ilustrações serão todas distintas e comunicarão a mensagem de formas diferentes. O autor Walter Benjamin (1955) descreve como a aura de uma obra de arte está ligada ao momento no tempo e no espaço em que ela foi produzida, uma “manifestação única de uma lonjura, por muito próxima que esteja” (p. 5) e esse mesmo conceito também se aplica às ilustrações, relacionando-se com a mensagem que a imagem representava no momento em que foi criada. A aura da ilustração de

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moda está ligada diretamente com a maneira que ela busca de representar os produtos de moda, não representando apenas o produto mas a aura em volta dele; a ilustração de um vestido representa a aura desse vestido ao mesmo tempo que tem sua própria aura como imagem. A ilustração de moda traz o “pulsar do tempo”, pois carrega traços desse tempo, valores e comportamentos, mudanças e oscilações, que influenciam a percepção e a concepção de novas estéticas, bem como análise e interpretação do espírito do tempo, da época em que ela foi realizada. (GRAGNATO, 2008, p.46).

Como foi descrito durante a pesquisa, existem algumas características que definem uma imagem como ilustração e no geral elas se aplicam a ilustrações feitas em qualquer área, porém cada tipo de ilustração acaba tendo algumas características que definem-nas especificamente. Para a ilustração de moda,


algumas características seriam a representação da figura humana, a relação com a indústria da moda e com os produtos resultantes dela ou até mesmo ilustrações criadas para fins específicos como revistas, desfiles e vitrines. Em última análise, qualquer uma das características mencionadas acima podem ser

vezes, geram confusão ou ambiguidade em quem estuda sobre o assunto, este projeto busca trazer reconhecimento para a ilustração para que ela seja estudada individualmente, separada da arte ou do design, como uma área própria do conhecimento, que possui tanta relevância histórica e social quanto a arte e o design.

utilizadas em ilustrações que não necessariamente são de moda, portanto conclui-se que a principal característica que define uma ilustração de moda é a capacidade de representar sensorialmente os produtos, seja o toque de um tecido sobre a pele, o cheiro de um perfume, o conforto de um calçado ou a sensação ao usar aquela roupa. A ilustração deve buscar representar a informação estética e sensorial daquilo que está sendo representado. Esta pesquisa buscou contribuir ao estudo da ilustração principalmente na moda, ao reunir informações sobre diversas facetas do tema, buscando esclarecer alguns pontos que, por muitas

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ReferĂŞncias


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