CMYK
&Arte
Editor: José Carlos Vieira josecarlos.df@diariosassociados.com.br
cultura.df@diariosassociados.com.br
Diversão
3214 1178 • 3214 1179
CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, terça-feira, 27 de outubro de 2009
Brasília que te quero viva
João Almino anuncia novo romance para 2010 em homenagem aos 50 anos de Brasília. O cenário: a Cidade Livre na década de 1960
Três perguntas // João Almino
Com a recente publicação de As cinco estações do amor na Argentina, como você avalia a recepção da sua obra ficcional em outros países? Da mesma forma como no Brasil. Não sou um autor de best-sellers, mas tenho contado com a boa crítica e um pequeno público fiel e entusiasta.
» MARINA SEVERINO
ete parecia ser o número de sorte de João Almino. No entanto, após 21 anos de ficções lançadas a cada sete anos, a última em 2008, o escritor e embaixador brasileiro pretende quebrar a sequência e lançar mais um romance — o quinto de sua série passada em Brasília — no ano que vem. A motivação, o cinquentenário da construção da capital do país, dita também o enredo da nova história, baseada em lembranças de antigos moradores e acontecimentos do período entre 1956 e 1960. Em Brasília para uma conferência, João Almino antecipou o enredo e um fragmento do texto ao Correio. A história acontece na primeira cidade-satélite do Distrito Federal, a Cidade Livre, criada provisoriamente para abrigar trabalhadores das construções e que, mais tarde, daria origem ao Núcleo Bandeirante. “O enredo se passa antes da inauguração e contém, mais do que nos demais tomos do quinteto, elementos históricos. Como sempre, há algum personagem que migra de um livro para o outro, mas, também como ocorreu nos anteriores, esse personagem é visto de um ângulo novo. Apesar disso, esse e os outros romances podem ser lidos de maneira totalmente independente”, adiantou João Almino. Há 22 anos, o escritor explora o cenário brasiliense para desenvolver o que chama de uma “literatura sem raízes”, fruto da recente
S
A característica universal de Brasília, traduzida em seu livro pela ausência de regionalismo e por personagens, em consequência, singulares, colaboram para a receptividade das histórias em outras culturas? Não creio. A visão do exótico, os aspectos pitorescos de um lugar e até mesmo os estereótipos podem às vezes ser mais atraentes. O leitor, em geral, seja no Brasil ou no exterior, se surpreende ao ver Brasília associada à literatura ou esperaria de uma literatura de Brasília que fosse apenas preocupada com o poder ou as intrigas políticas. São razões de sobra para remar contra a correnteza. Dito issto, acho que, por mais universal que seja, uma literatura não deixa de refletir de alguma forma as experiências do lugar de onde provém e terá tanto mais impacto sobre o leitor quanto melhor possa criar personagens singulares e convincentes, que sejam percebidos como verdadeiros no âmbito da realidade ficcional.
construção da capital em comparação às demais unidades da Federação, e desenvolve experimentações literárias a partir do sentimento de despertencimento das personagens. Essa linha resultou nas ficções Ideias para onde passar o fim do mundo (1987), Samba-enredo (1994), As cinco estações do amor (2001, vencedor do Prêmio Casa de las Americas em 2003) e O livro das emoções (2008). Além das ficções, João Almino é um aficionado por literatura, com ensaios publicados em Escrita em contraponto (2008) e um estudo sobre Machado de Assis, O diabrete angélico e o pavão: Enredo e amor possíveis em Brás Cubas (2009). Especialista em história e filosofia política, em consequência da carreira, João Almino fala com propriedade de Brasília por ser, como muitos de seus personagens, um morador transitório — o escritor é natural de Mossoró (RN). Desde o primeiro romance, sua relação com a capital mudou de forma intensa. Começou na década de 1970, em férias na cidade, se reforçou durante as duas décadas seguintes, quando entrou para a diplomacia e assumiu a direção do Instituto Rio Branco, e continua mesmo com a saída do país em 2004, quando assumiu a função de embaixador. “Pelo menos de uma forma consciente para mim, creio que deixar de morar em Brasília não afetou minha escrita. A literatura é, no meu caso, produto de um trabalho solitário de reflexão e pesquisa que pode ser realizado em qualquer lugar”, acredita.
DIÁLOGO COM ESCRITORES: O QUARTETO DE JOÃO ALMINO Hoje, às 10h, no Auditório da Reitoria da Universidade de Brasília, mesaredonda com João Almino, Barbara Freitag Rouanet, Gustavo Lins Ribeiro e Eloísa Barroso. Entrada franca e classificação indicativa livre.
www.correiobraziliense.com.br
Leia trechos do livro inédito e de Ideias para onde passar o fim domundo, Samba-enredo, As cinco estações do amor e O livro das emoções.
CMYK
Bia Wouk/Divulgação
De O livro das emoções para cá, você se mudou de Brasília por motivos profissionais. Como isso afeta seu processo de criação? As informações a que eu tenho acesso em cada lugar podem influir no que escrevo, mas não a ponto de interferir na forma de escrever e nas tramas da história.