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Editor: José Carlos Vieira josecarlos.df@dabr.com.br
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Diversão CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, domingo, 29 de novembro de 2009
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Embaixada
CULTURAL
Casas da vila: local de criação e ensaios dos artistas
Artistas vivem em uma pequena vila na 813 Sul e transformam vizinhança numa comunidade de poesia, música e circo » MARINA SEVERINO asas de pau-a-pique, mosquitos e cataventos a disputar a brisa enquanto cachorros, gatos e galinhas compartilham com crianças a sombra de numerosas árvores. Difícil acreditar que essa vila simples se localize no Plano Piloto. O endereço, na 813 Sul, constitui ainda o epicentro de um novo movimento artístico candango: a Embaixada Cultural, que concentra músicos, palhaços, malabaristas, artesãos e quem mais quiser se agregar. Eles moram e exercitam sua arte no local. “Nos sentimos em uma Arca de Noé onde há de tudo, sem limitação de quantidade para cada espécie. Aqui, coexistem todas filosofias e formas de fé”, conta o artesão Leonardo Leal, que mora no vilarejo há um ano. Para entender o espaço no Setor de Embaixadas, deveras ousado para sediar lares, é necessário voltar 40 anos, quando a área foi ocupada por um centro espírita. Desde então, o terreno foi subdividido, vendido ou alugado, possibilitando aos moradores uma convivência de interior em meio à capital de concreto. Tico Magalhães, líder do grupo Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro, foi o primeiro a ver o potencial do espaço para a arte. “Como confeccionamos fantasias, bonecos e brinquedos de grandes dimensões, procurávamos um galpão para guardar todo o material. Essa casinha para alugar na 813 Sul foi um achado, principalmente porque alguns
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integrantes vêm de outras cidades ou países e temos muitos convidados, que podem se abrigar”, explica. O grupo ocupa há dois anos a casa, onde os integrantes conciliam ensaios, ateliê e depósito de fantasias. Nos fins de semana, os festejos do Seu Estrelo se espalham por toda a vila. Os ensaios ocorrem aos sábados. No domingo, a trupe gosta de brincar nos espaços abertos, caminhando pelo gramado e levando música ao centro da vila. “Essas manifestações geraram situações curiosas. Por diversas vezes, o pessoal das embaixadas chamou a polícia, mas, quando chegaram ao local, tiravam fotos e apreciavam a brincadeira. Agora, acostumaram-se”, observa Tico. Empolgados com o investimento do Seu Estrelo, os artistas do Circo Rebote se mudaram para o local assim que uma das casas ficou vaga. Motivos pessoais e profissionais. O casal Ataualpa Coello e Érica Mesquita, juntos à filha Iacy, encontraram no novo lar o espaço perfeito para morar e instalar, no quintal, a estrutura de circo móvel onde ensaiam e se apresentam. O movimento continuou com Leonardo Leal, que já morou em duas casas no local — a atual, construída por ele mesmo de forma ecologicamente sustentável, e a anterior, para onde se mudaram algumas Juvelinas do Mestre Zé do Pife neste ano. “Cada uma vivia em um lugar distante e ficava complicado para os ensaios. Como morávamos em repúblicas, unimos as necessidades em uma mesma casa”, explica Isa Flor.
Sustentabilidade e diversão Atualmente, os grupos se misturam em colaborações artísticas e nos trabalhos manuais. Os encontros de domingo se ampliaram para tardes de diversão e projetos junto à comunidade, enquanto a vizinhança apertou os laços de amizade. “Como a comunidade é muito antiga, existiam problemas de uso indevido do espaço e maus-tratos à natureza. Nos unimos na conscientização dos moradores”, conta o artesão Leonardo Leal. A vila possui coleta seletiva de lixo seco, que segue para a reciclagem e reutilização, e orgânico, condicionado em contêineres destinados à adubagem. Garrafas, vidros e madeira geram artesanato e entram na concepção visual de cenários e roupas dos grupos. Enquanto isso, os quintais servem de espaço para oficinas ministradas à comunidade. “Tudo se agrega de forma cultural e familiar. Todo mundo colabora como pode. Alguns dão aulas de luta, música… Nós mostramos nossas acrobacias. Os ensaios também estão abertos às pessoas de fora, basta chegar”, convida Érica Mesquita.
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Fotos: Edílson Rodrigues/CB/D.A Press
O pessoal da vila: Tico Magalhães, Isa Flor, Leonardo Leal, Isaac Nunes (em pé), Gutcha Ramil, Érica Mesquita e Andressa Ferreira
» QUEM É QUEM Cia Circo Teatro Rebote Ataualpa Coello e Érica Mesquita realizam espetáculos de teatro e de rua com estética circense desde 2004. As encenações, pautadas no Novo Circo, fazem referência ao mambembe, pano de roda, clowns, dança e música. A dupla não possui circo montado, mas uma estrutura móvel que usam para viajar com o espetáculo.
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Ateliê Gambiarra Leonardo Leal une arte e reciclagem para criar objetos de uso diário, artesanato e decoração para eventos culturais. Madeiras mortas, bambus, cabaças e vidros vão para o ateliê em sua forma inutilizada e se transformam em fonte de renda. O artesão é especialista na montagem de tubetes, varas de grande resistência feitas com garrafas pet e usadas na estrutura de construções.
Mestre Zé do Pife e as Juvelinas O pernambucano Zé do Pife, tocador e fabricante de pife há 50 anos, reuniu nove jovens mulheres como aprendizes e tocadoras de uma banda de pífano nada tradicional. Agrega diversas vozes, um pífano principal e três auxiliares, caixa, pratos, triângulo, contrasurdo, zabumba e intervenções com instrumentos melódicos como violino, sanfona, rabeca, violão e violoncelo.
Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro Com uma equipe de 20 colaboradores, o grupo uniu terreiro e picadeiro para modernizar a cultura popular. Desde 2004, trabalha no aprimoramento do mito brincante Calango Voador, montado a partir de figuras do cerrado misturadas a dança, música e jogos de grupo. É deles o samba pisado, um ritmo com batida de tambor diferenciada que dita as apresentações.