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• Brasília, domingo, 2 de maio de 2010 •
Diversão&Arte
Brasília em » MARINA SEVERINO
literatura sobre Brasília registra momentos anteriores à concepção. Desde o século 19, os ideais de interiorização da capital brasileira ecoavam em estudos, debates políticos e sonhos — o de Dom Bosco, mesmo que nublado, aqueceu os idealistas, enquanto Olavo Bilac, de forma incisiva, incentivava em 1905 a exploração de riquezas no interior do país. Dos anseios modernistas e críticas à saga de Kubitschek no Planalto Central, Brasília surge em ensaios, poemas, romances e discursos como símbolo do futuro nacional. Depois de inaugurada, é descrita por visitantes como capital da solidão, marcada pelo contraste do concreto com a terra vermelha. Entre os ilustres, Clarice Lispector, Iuri Gagarin, Nelson Rodrigues e Simone de Beauvoir expressaram o choque causado pela magnitude da construção à primeira vista. De dentro para fora, pioneiros exibiram, a partir de 1960, o lado cotidiano da construção, a movimentação na Cidade Livre e na Vila Planalto e o ritmo ainda calmo das asas Sul e Norte, seguidos de denúncias sobre a falta de segurança e abismo social que surgiu da explosiva lotação das cidades satélites. Plural e poética, a literatura sobre Brasília serve ainda a novos visitantes, uma geração que a enxerga urbana, com o ritmo apressado das grandes cidades e o diferencial de representar, em um mesmo espaço, as mais variadas nuances da identidade nacional.
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“Da amplidão”, de Stella Maris Rezende Conhecida pela vasta produção infantil, a escritora lança mão da densidade na hora de falar de Brasília. De forma indireta, o poema evidencia aspectos climáticos e naturais, como o canto das cigarras, o “horizonte retilíneo” e o “calor cerrado”, para representar o sofrimento dos pioneiros, personagens de corpos e sonhos famintos. “Arquitetura nascente”, de Joaquim Cardozo Engenheiro e calculista responsável pelas bases das construções de Niemeyer, Joaquim Cardozo acumulou trabalhos em poesia, dramaturgia e crítica. No livro Signo estrelado, de 1960, cantou a arquitetura em versos como “Às colunas; a luz do sol/ Passa rasando as caneluras:/ Asa branca de sobrevoo/ No mármore de eterna espuma”. O Brasil desperta, de John dos Passos O consagrado escritor norte-americano esteve na construção da capital e publicou, em 1964, um livro de memórias com diálogos e impressões da estadia. Entre as histórias, destaca-se uma conversa com Israel Pinheiro, durante a qual o político discorre sobre a importância do improviso para acelerar as obras.
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Carta de Vinicius de Moraes Convidado por Juscelino Kubitschek para passar alguns dias no Catetinho e compor com Tom Jobim a Sinfonia da Alvorada, o poeta passou 10 dias em meio à natureza que rodeava o palácio. Após a experiência, Vinicius declarou por carta a “gratidão, não só pela confiança que tiveram em nós, como pelo exemplo que nos deram de ânimo, modéstia e espírito de luta”.
A cidade modernista, de James Holston Considerada uma das mais incisivas críticas à capital. Mesmo avesso à utopia urbana do modernismo, o antropólogo americano James Holston reconheceu em Brasília o poder de mudança. Segundo ele, a construção de uma cidade previamente planejada a partir do marco zero evidenciou a busca da sociedade por novos pontos de partida. “Claro calar sobre uma cidade sem ruínas”, de Paulo Leminski Após visitar a cidade em 1984 e almoçar com amigos numa pensão na W3, o poeta paranaense registrou suas impressões da capital em versos como “Em Brasília, admirei não a niemeyer lei, a vida das pessoas penetrando nos esquemas”. O autor de Catatau incluiu ainda entre os motivos de suas admirações “o tempo que já cobre de anos tuas impecáveis matemáticas”. “Crônica elegíaca de Brasília”, de Fernando Mendes Viana Em um poema dividido em seis partes, esta história lírica começa no cerrado virgem, passa pela construção da cidade e culmina nos dias atuais, quando se torna “uma cidade como outra/ — freadas, engarrafamentos, gincanas, repartições”. Diário de um candango, de José Marques da Silva Escrito no fim de 1961, é valioso relatório biográfico. O autor trabalhou como caixa no Brasília Palace Hotel e comprou o restaurante São José, na Vila Planalto, de onde assistia uma rotina diferente da oficialmente divulgada sobre Brasília; ali, favelada e perigosa. Discurso de André Malraux Então ministro de Assuntos Culturais da França em 1959, o escritor proferiu discurso no dia 24 de agosto em nome da presidência de seu país, definindo Brasília como “a ressurreição do lirismo arquitetural nascido com o mundo helênico”. É dele o título “capital da esperança”, que mais tarde se tornou referência em textos e músicas dedicadas à cidade. Efemérides: as grandes datas de Brasília e JK, de Adirson Vasconcelos Durante seis anos, o jornalista estudou documentações, gravações e vídeos que registraram importantes momentos da cidade. Mas é da memória e dos preciosos blocos de anotações do autor, que cobriu a inauguração e centenas de momentos importantes, que saem os principais fatos detalhados em Efemérides, lançado em 2009.
Mas não conheci pelo mundo qualquer outra cidade que me comovesse em sua integridade, só pela compreensão estética de suas linhas, independentemente de sua história ou de minhas motivações subjetivas”
Por que construí Brasília, de Juscelino Kubitschek Quando lançado, em 1975, o livro escrito pelo presidente simbolizou uma visão única. A construção da Rodovia Belém—Brasília, a atuação da CPI contra a Novacap e a história do Catetinho, antiga residência oficial, são relatadas com paixão. Entre interessantes histórias, está a conhecida conversa com Iuri Gagarin em visita a Juscelino. “A ideia que tenho, presidente, é a de que estou desembarcando num planeta diferente, que não a Terra”, definiu o astronauta.
História de Brasília: um sonho, uma esperança, uma realidade, de Ernesto Silva Membro das comissões de localização e planejamento da nova capital, o pioneiro se fixou em Brasília, onde morou até a morte, em 3 de fevereiro deste ano. Além do legado histórico, o ativo defensor da capital registrou fatos oficiais da construção neste livro de 1970.
Edson Ges/CB/D.A Press - 18/11/03
Zuleika de Souza/CB/D.A Press - 23/11/04
“Ode a Oscar Niemeyer”, de Cassiano Nunes O escritor e professor santista se mudou para Brasília em 1970. Sua casa, na Asa Sul, se tornou reduto de intelectuais. Sobre Brasília, fez elogios à arquitetura no poema “Ode a Oscar Niemeyer” (que, curiosamente, dedicou a Athos Bulcão), e falou sobre a rotina solitária entre livros em “Sou de Santos”.
Flor do Cerrado: Brasília, de Ana Miranda A partir de pesquisas em escritos de Lucio Costa, Juscelino Kubitschek e Darcy Ribeiro, Ana Miranda desenvolveu uma história infantil. No centro, as descobertas de uma menina que vai a Brasília junto com o pai, pioneiro da cidade.
Carlos Vieira/CB/D.A Press - 19/4/06
Paulo Mendes Campos Acácio Pinheiro/CB/D.A Press
“Brasília”, de Paulo Mendes Campos Publicado no livro Brasil brasileiro: crônicas do país, das cidades e do povo, o texto exalta a construção da capital como um bem-sucedido projeto, exemplo de determinação e capacidade técnica na competição das cidades modernas.
História da terra e do homem no Planalto Central, de Paulo Bertran A história anterior ao desbravamento do Distrito Federal foi perseguida por Bertran neste livro de 18 capítulos. O autor, morto em 2005, discorre sobre a passagem de viajantes do século 19, as primeiras propostas de interiorização da capital e analisa aspectos préhistóricos que definiram a formação geográfica do cerrado.
“Altiplano”, de Anderson Braga Horta Um dos mais atuantes poetas da cidade, autor de coletâneas, estudos e ensaios, Anderson Braga Horta tem como inspiração os pioneiros, heróis anônimos da cidade. No premiado poema “Altiplano”, ele conta a construção como um tabuleiro de xadrez, com os candangos no lugar dos peões.
Instituto Moreira Salles/Divulgação
Edilson Rodrigues/CB/D.A Press - 23/7/03
“A Catedral”, de Ronaldo Costa Fernandes Radicado em Brasília, o romancista maranhense dedicou dois poemas à cidade. “A Catedral” revela uma construção dinâmica, “furtiva, confessionária, passante e pia”. Já o poema “A garça II” é indireto, desenha a cidade com a graça do voo de uma ave.
Zuleika de Souza/CB/D.A Press - 2/4/03
Poemas, de Chico Alvim Desde 1968, o poeta e diplomata traduz o cotidiano em metáforas e imagens descritos em linguagem simples. Na coletânea Poemas, poucos textos citam Brasília de forma direta, mas o escritor a evidencia a todo momento, dos “planos ridentes” e “arcos convexos” de “Riso” ao questionamento “O senhor é de Brasília?”, do poema “Em minas”.
“Nos primeiros começos de Brasília”, de Clarice Lispector Talvez o texto mais lembrado quando o assunto é Brasília na literatura, compara a nova capital ao início da humanidade, um espaço com urgência de ser ocupado. As revelações da escritora diante da cidade de concreto, que visitou em 1962, são sonhadoras, com cavalos brancos e ratos gigantes. O encantamento exercido por Brasília no universo ficcional e artístico foi, mais tarde, reunido por Wagner Hermuche em Abstrata Brasília concreta. Douglas Alexandre/O Cruzeiro/Arquivo EM
Monique Renne/Esp. CB/D.A Press - 29/6/05
“A derrota dos cretinos”, de Nelson Rodrigues A crônica, publicada em 1960, foi inspirada em uma viagem à inauguração da capital, em que ele acompanhou um grupo de alunos militares. Entre eventos grandiosos, destacou a correria das mulheres para urinar na grama da estrada Belo Horizonte—Brasília e a poeira cor de canela, que acreditava, no futuro, ter de ser produzida artificialmente.
Reprodução da Internet/simonebeauvoir.kit.net
Ideias para onde passar o fim do mundo, de João Almino Em 1987, o diplomata deu início a uma série de romances ambientados em Brasília. A estreia, vencedora do Prêmio do Instituto Nacional do Livro e do Prêmio Candango de Literatura, foi seguida de Samba enredo, As cinco estações do amor, O livro das emoções e o novo Cidade Livre, a ser lançado neste mês.
Eu sei que, segundo os inimigos de Brasília, a beleza passou a ser uma indignidade. Diante do belo, do simplesmente belo, rosnam: — “Fascismo! Fascismo!” E, no entanto, o paralelepípedo mais analfabeto teria vontade de chorar lágrimas de esguicho ante a beleza de Brasília” Nelson Rodrigues
Brasília, o enigma da esfinge: a construção e os bastidores do poder, de Luís Carlos Lopes Resultado de uma tese de doutorado da Universidade de São Paulo, o livro apresenta rica documentação, feita a partir de pesquisas em arquivos e biografias. A análise de Lopes parte das bases políticas e ideológicas e explora efeitos sociais e econômicos da construção. Poesília, de Nicolas Behr “SQS ou SOS? Eis a questão!” Nessa coletânea estão reunidos versos emblemáticos sobre a cidade do mais pop dos poetas brasilienses, expoente da geração mimeógrafo nos anos 1970 e ainda em intensa atividade. Entre a ironia e o lirismo, Behr retorce o concreto, abre os braços para o cerrado e encontra uma outra cidade, não capital: a sua Braxília.
Sob o signo da história, de Simone de Beauvoir No diário, publicado em 1963 no Brasil, a dama do feminismo registrou com acidez crítica sua passagem por Brasília em forma de anotações de campo, com o olhar de antropóloga. A escritora se impressionou com as ruas, pavimentadas de forma a desencorajar as caminhadas, enquanto a empoeirada Cidade Livre lembrava o faroeste.
À noite, enfim, chegamos à Brasília. Uma maquete em tamanho natural. Essa falta de humanidade salta logo aos olhos… Só se pode circular de automóvel” Simone de Beauvoir
Expresso Brasília, de Edson Beú De conversas com pioneiros, Beú reuniu no livro histórias dos candangos, entre ajudantes e peões da construção da capital. Depois, em Os filhos dos candangos: exclusão e identidades, descortinou o orgulho dos herdeiros, misturado a um cotidiano de falta de oportunidades.
“Favelário Nacional”, de Carlos Drummond de Andrade Após exaltar a natureza do cerrado e criticar a política e correrias da cidade grande em “Destino: Brasília”, Drummond coloca a capital novamente em foco em “Favelário nacional”. No poema, ele é rígido a respeito da criação de Ceilândia e das más condições de vida dos moradores. “Por que Brasília resplandece/ ante a pobreza exposta dos casebres / de Ceilândia,/ filhos da majestade de Brasília?”
“Reencontro”, de Adriana Lisboa Na cidade a passeio, Adriana escreveu “Reencontro”, que faz parte da coletânea de textos sobre o cotidiano lançada em 2004, Caligrafias. Como ela, Elisa Lucinda e Fabrício Carpinejar representam a nova geração que descreve a cidade com o olhar urbano contemporâneo, em, respectivamente, “Minha Sampa” e “A luz bate e não volta”.
Brasília é uma epifania e é também um suave bocejo feito de coisas pequenas e instantâneas, de cantinhos e surpresas. Paradoxo? Norma. Não existe nada tão falso quanto a suposição da coerência, sobretudo em Brasília” Adriana Lisboa
Brasília Kubitschek de Oliveira, de Ronaldo Costa Couto A partir de documentos e relatos, o autor descreve momentos da concepção e criação de Brasília, com ênfase na história de Juscelino, sua infância e ascensão política. A obra se torna importante referência história e biográfica e serviu como base para roteiro da minissérie JK, de Maria Adelaide Amaral, exibida em 2006.
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O capital da esperança, de Gustavo Lins Ribeiro Crescido na Asa Sul, o antropólogo Ribeiro destaca as diferenças sociais que separavam pioneiros de empresários e políticos. Já Quanto custou Brasília, livro com temática similar, de Maurício Vaistman, contesta a construção pelo viés econômico.
Registro de uma vivência, de Lucio Costa Mistura de ensaios e autobiografia, o único livro lançado por Lucio Costa é um importante guia de arquitetura e urbanismo modernista. No livro, ele comenta a concepção, já descrita no Relatório do Plano Piloto de Brasília, originada “do gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz”.
escritos
“Brasilia”, de Sylvia Plath O poema foi escrito poucos meses antes do suicídio da autora, em 1963. Nele, as características modernistas da cidade puxam a revolta de um povo bruto e oprimido, composto por superseres angelicais, “pessoas com torso de aço/ cotovelos e sobrancelhas alados”.
Brasis, Brasil, Brasília, de Gilberto Freyre O contraste entre unidade e pluridade cultural da sociedade brasileira é o principal tema do livro, lançado em 1968. O autor retoma pensamentos de Casa-Grande & Senzala para definir a mistura de origens em Brasília, cidade que, segundo ele, apontava para o futuro como símbolo de modernidade e progresso.
Paulo de Araujo/CB/D.A Press - 1/8/06
Claudio Versiani/CB/D.A Press
Carlos Vieira/CB/D.A Press - 1/7/05
4/5 • CORREIO BRAZILIENSE
Invenção da Cidade, de Clemente Luz O primeiro registro literário de um escritor pioneiro em Brasília foi publicado em 1968. O livro, de Clemente Luz, foi lançado a partir da reunião de suas crônicas publicadas em jornais. No texto, a rotina da Cidade Livre e o movimento nas construções.
A invenção da superquadra, de Matheus Gorovitz e Marcílio Ferreira Em estudo pioneiro, os arquitetos dissecaram o conceito desenvolvido por Lucio Costa para o Plano Piloto. “Lucio Costa, ao reformular o caráter introvertido, hierárquico, intimista, autônomo e suburbano, que distingue o conceito original de Unidade de Vizinhança, confere às áreas residenciais um caráter aberto e permeável”, definiram.
Lênin nos subterrâneos do Conic, de Ezio Flavio Bazzo O escritor e psicanalista aproveitou um dos espaços mais democráticos da cidade como cenário, onde o protagonista, psicólogo, e uma prostituta filosofam e debatem suas profissões. O assunto reaparece em Prostitutas, bruxas, donas de casa: notícias do Éden e do calvário feminino.
Luana, de Garcia de Paiva A primeira narrativa ficcional ambientada em Brasília só não é candanga de edição, rodada em São Paulo, em 1962. Luana é uma jovem e bela moradora da cidade, de “boca vermelha, de lábios cheios, de firme desenho, fresca como uma flor”. Meu testemunho de Brasília, de Manuel Mendes Antigo almoxarife de obras na 208 Sul, o autor publicou em textos e fotografias o nascimento da nova capital. Incessante, registrou mais tarde a construção do Itamaraty e a transferência do corpo diplomático, que publicou sob o título O cerrado de casaca. “Uma mineira em Brasília”, de João Cabral de Melo Neto O escritor pernambucano relacionou o espaço dedicado à nova capital a uma boa pousada para mineiros com os versos “Nos cimentos de Brasília resguarda/ maneiras de casa antiga de fazenda,/ de copiar, de casa-grande de engenho,/ enfim, das casaronas de alma fêmea”. Ele também destacou a arquitetura em outro poema, “À Brasília de Oscar Niemeyer”.
Minha experiência em Brasília, de Oscar Niemeyer Escrito durante a construção da cidade, o arquiteto não se restringe à experiência no gigante canteiro de obras candango. No livro, ele explica os projetos arquitetônicos e descreve sentimentos e anseios vividos durante a estadia. Dos murais de Portinari aos espaços de Brasília, de Mario Pedrosa A coletânea, lançada dias antes do falecimento do autor, em 1981, reúne artigos e críticas de arte. O livro contempla a produção de várias décadas do crítico, com destaque para estudos sobre as obras modernas e contemporâneas sediadas em Brasília. “De novo caminharei pelo Eixo Rodoviário”, de Cyro dos Anjos Reconhecido romancista e ensaísta da chamada Geração de 30, Cyro dos Anjos escreveu um poema escapista que publicaria em sua fase madura, em 1967. Integrante do livro livro Poemas coronários, o texto representa uma forma de vencer o cansaço “lá, onde o céu teve de alongar-se para tocar a terra”.
“Planaltiana”, de Reynaldo Jardim Para este precursor dos movimentos concretista e neoconcretista, Brasília é uma cidade de prazeres e passeios nefelibatos pelas Regiões Administrativas e Entorno. “Que se me morde tão fina,/ que se me dança molhada/ Me agasalha em Planaltina /me seca à beira da estrada”, recita em “Planaltiana”. “Poente em Ceilândia Sul”, de Rumen Stoyanov Búlgaro radicado na cidade e divulgador da literatura brasileira no mundo, Stoyanov publicou o livro Poemas no Brasil em 1981, no qual dedicou três textos ao Distrito Federal. “Poente em Ceilândia Sul” aproxima o vermelho do ocaso à terra batida. À cidade, dedicou “Brasília” e “Planalto”.
“Registro”, de Olavo Bilac A crônica de Bilac é anterior à construção, data de 1905, mas foi usada por Juscelino Kubitschek como argumento para a mudança da capital na Coleção Brasília, de 1960. Na fábula, uma onça se encarrega de dar o conselho: “Vocês devem tratar quanto antes de explorar, de desbravar, de povoar, de fecundar este país imenso e inculto”.
Se eu dissesse que Brasília é bonita, veriam imediatamente que gostei da cidade. Mas se digo que Brasília é a imagem de minha insônia, veem nisso uma acusação; mas a minha insônia não é bonita nem feia — minha insônia sou eu, é vivida, é o meu espanto” Clarice Lispector Relatório Cruls A Comissão Exploradora do Planalto Central, criada pelo governo Floriano Peixoto em 1892, desbravou o cerrado para demarcar a área do já imaginado Distrito Federal. O relatório da exploração ressaltava o céu, “de uma beleza notável”, definindo o crepúsculo como movimento que parecia “fazer cortejo ao Sol”. Romance do Vaqueiro Voador, de João Bosco Bezerra Bonfim Em formato de literatura de cordel, a narrativa apresenta um retirante que trabalhou na obra das torres do Congresso Nacional. Durante um dia de trabalho, o “vaqueiro endiabrado/ Vaquejando no cimento” cai do alto da construção, de onde até hoje se pode ouvir seu lamento sofrido. No tempo da GEB (1956-1960): trabalho e violência na construção de Brasília, de Hermes Aquino Teixeira Dos tempos em que a segurança da capital estava sob a supervisão de um órgão paramilitar (Guarda Especial de Brasília), surgiram denúncias sobre violência sistemática contra os candangos. Entre várias falhas de segurança, Hermes Aquino Teixeira pesquisou e relatou casos de punição física a quem reclamasse das intensas jornadas nos canteiros de obras. “Toada para se ir a Brasília”, de Cassiano Ricardo A vasta produção do nacionalista Cassiano Ricardo passa pela capital em um tempo que muitos questionavam o projeto. O poeta parodia Manuel Bandeira e toma a cidade como sua Passárgada. “Vou-me embora para Brasília/ que já nos meus olhos brilha,/ porque é a única cidade/ onde não haverá saudade.” A universidade interrompida, de Roberto Salmeron As memórias do primeiro coordenador-geral dos Institutos Centrais de Ciências e Tecnologia da UnB sobre os primeiros anos de funcionamento configuram essencial documentação da era de ouro da universidade. Em destaque, o processo de adaptação da sociedade ao inovador formato acadêmico e as perseguições durante o regime militar.
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