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O ESTADO DE S. PAULO
SEGUNDA-FEIRA, 11 DE AGOSTO DE 2014
Economia B3
Fabricante de motores e de... cristais Depois de comprar o controle da Oxford Porcelanas, donos da WEG investem na fabricação de copos e taças no interior de Santa Catarina Naiana Oscar
No centro de Pomerode – uma cidadezinha catarinense com apenas 30 mil habitantes–, está o negócio mais charmoso dos donos da fabricante de motores elétricos WEG, uma das maiores multinacionais brasileiras, com 26 fábricas em nove países e um total de funcionários no mundo que beira o número de moradores do município de colonização alemã. Na planta de Pomerode, não há engenheiros, jargões em inglês, nem tecnologia de ponta. O trabalho é artesanal, feito por 50 homens e o resultado passa longe dos motores sisudos da WEG: eles produzem delicados copos e taças de cristais. “A Cristaleria Pomerana é o charme do nosso portfólio”, diz Décio da Silva, filho de um dos três fundadores da WEG, o empresário Eggon João da Silva. De certa forma, é o pai de Décio o “culpado” pela fábrica de cristais.Foieleque,nadécadade80, comprou um punhado de ações da fabricante de porcelanas Oxford, de São Bento do Sul (SC) – na época, era muito mais um negócio entre amigos do que um investimento estratégico. Hoje,aempresaéumdosnegócioscontroladospelaWPA,companhia que reúne os negócios dos Silva e das famílias de Werner Goigt e Geraldo Werninghaus,osoutros doisfundadores da WEG. A holding detém 50,1% dafabricantedemotores(oequivalente a R$ 11 bilhões), 3,5% da empresa de alimentos BRF (R$ 1,6bilhão),alémdepequenascentrais hidrelétricas, imóveis e participação em fundos de ações. Portanto, não foi à toa que, em 2013, o trio apareceu na lista de bilionários da revista Forbes. Ametadessastrêsfamíliascatarinenses para a Oxford e seus cristais é tão ambiciosa quanto foi para a WEG. Em dez anos, a fabricante de louças passou de um faturamento de R$ 81 milhões para R$ 170 milhões. Nesseperíodo, a empresa deixou de lado sua vocação exportadora para se dedicar ao mercado interno, onde as vendas saltaram de R$ 36 milhões, para R$ 151 milhões entre 2009 e 2013. Comumaparticipaçãodemercado de 50%, a Oxford se tornou líder nacional no segmento de louças, à frente da Schimidt, que entrou em recuperação judicial em2008.A empresa tem capacidade para produzir 45 milhões de peças por ano em São Bento do Sul e está construindo uma fábrica no Espírito Santo que vai acrescentarmais15milhõesaesse total daqui um ano e meio. “Queremos fazer esse negócio crescer como fizemos com a WEG”, disse Décio. Nessa lógica, entram os cristais de Pomerode. Assim como a fabricante demotores cresceu fazendo pequenas aquisições mundo afora, a Oxford também já fez sua investida. Em 2011, a empresa decidiu entregar aos clientes uma linha completa para “pôr a mesa” e viu que faltavam justamente copos e taças.
Aempresacomprouumafábrica de cristaispara decoração, como vasos, e adaptou a produção para copos e taças. Desde que a Oxford assumiu, a produção foi de 1,4 mil para 1,8 mil peças por dia,comtrocademáquinaseprocessos. Ainda assim, os cristais respondem por apenas 2% das vendasdaempresa.“Éumtrabalho artesanal em que dificilmente teremos escala. A ideia era complementarnossa linhae ajudar a preservar essa atividade”, diz Irineu Weihermann, presidente da Oxford. Aos 51 anos, ele se orgulha de ter passado metade da vida na empresa, onde começou como técnico de informática. Engenheiro por formação, Weiher-
mann teve de treinar seu olhar e sua sensibilidade para trocar ideia com designers e especialistas em moda. Em 2013, contratou o badalado designer egípcio Karim Rashid para assinar uma linha de louças. Seubraçodireitoparaessesassuntos é a filha de Décio, Zaira Zimmerman da Silva, diretora de marketing. Ela está entre os três herdeiros da WEG que trabalham em alguma empresa do grupo. Os demais acompanham os negócios em encontros anuais,quereúnemasquatrogerações.Noúltimo,elesforamconhecer a fábrica de Pomerode. “Viram que não é o que nos dá mais dividendos”, diz Décio. “Mas virou o xodó da família.”
GILBERTO VIEGAS/ESTADÃO-17/7/2004
Artesãos. Um grupo de 50 homens trabalha na Cristaleria Pomerana, em Pomerode (SC)
A briga da Oxford com os chineses Os chineses despertam sentimentos incompatíveis nos donos da WEG. Na fábrica de motores, são grandes aliados – tanto que há cinco meses,a companhia adquiriu duas empresas no país e planeja investimentos de US$ 135 milhões na região. Na fábrica de porcelanas Oxford,elessão inimigos declarados. Nos últimos dez anos, as fabricantesde louças foramfortemente prejudicadas pela avalanche de produtos chineses, a preços baixíssimos,que desembarcaram no País – o que obrigou a Oxford a se concentrar no mercado doméstico e reduzir drasticamente as exportações. Há dois anos, a empresa entrou com um pedido de investigação de dumping no MinistériodoDesenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e em janeiro conseguiu uma decisão a seu favor. A Câmara de Comércio Exterior (Camex) aplicou uma medida de antidumping, com validade de cinco anos, à importação de artigos de louça de mesa produzidosnaChina. Asalíquotas variam de US$ 1,84 a US$ 5,14 por quilo do produto. A resolução também exige que as empresas chinesas parem de exportar ao Brasil itens com preços inferiores a US$ 3,20 por quilo do produto. A medidafez com que opresidente da Oxford, Irineu Weihermann, se arriscasse a fazer projeções mais otimistas para este ano, quando espera atingir um faturamento de R$ 200 milhões. “Isso nos anima muito porque, 70% das louças vendidas no País vem de fora e, desse total, 90% vem da China”, diz Weihermann. “É uma concorrência desleal, porque o produto chinês chega aqui três vezes mais barato.” Para ocupar o espaço da louça que vem da China, a Oxford aposta na marca Biona, que já existe no mercado e é voltada para as classes C e D. / N.O.
Aluguel de loja de rua está 18% mais barato no Sudeste Anna Carolina Papp
A desaceleração nos preços dos imóveis, que já vem sendo observada no mercado residencial, também chegou aos pontos comerciais. Segundo a última edição da pesquisa Market View, que avaliou 900 imóveis em 12 cidades brasileiras, houve queda de 5% no preço médio dos aluguéis de lojas de rua entre novembro de 2013 e maio deste ano. Na região Sudeste, o recuo nos preços foi de 18%. Segundo o estudo, parceria da consultoria Gouvêa de SouzacomaBG&HRetailRealEstate, a média do preço do aluguel nas lojas de rua ficou em R$ 69 por m² em maio, ante R$ 72 em novembro. Das 12 cidades, apenas Rio, Brasília, São Paulo e Salvador se mantiveram acima da médianacional.Ometroquadra-
● Valores
R$ 69
R$ 109
do mais caro está no Rio, com média de R$ 109 – alta de 6% na comparação com novembro. Já a capital paulista, apesar de ter ficado acima da média, com R$ 70 pelo m² do aluguel nas lojas de rua, apresentou queda de 10% em seis meses. Em Curitiba, o recuo de preços no período foi de 12%; já em Belo Horizonte e no Grande ABC, de 10%. “Nos últimos anos, identificamos aumento nos aluguéis. Essa
é a primeira vez que notamos queda”, diz Marcos Hirai, um dos responsáveis pelo estudo. “Ovarejoémuitosensível.Quando começa uma desaceleração nas vendas, ele freia a expansão.” O estudo mostra, no entanto, que a queda no ritmo ainda é lenta. O fato de haver pouca oferta de bons pontos de rua, sobretudo nas grandes cidades, ajuda a manterosvalores de negociação. No recorte por regiões, o Su-
é o preço médio do aluguel de lojas de rua no País, segundo pesquisa da consultoria Market View realizada em maio. Em novembro de 2013, o valor era de R$ 72
é o valor por metro quadrado em lojas de rua do Rio de Janeiro, cidade que registrou o aluguel mais caro do País. A pesquisa levantou dados em 900 cidades brasileiras.
deste foi a única que apresentou quedadepreços–18% denovembro a maio. No entanto, ainda tem os aluguéis mais altos, com médiadeR$74 porm².“OSudeste estava com preços absurdamente altos em relação ao que realmente valia. Com o arrefecimentodoconsumo, aregiãoacabou sentindo mais rapidamente”, diz Hirai. Entre as regiões, a alta maior foi no Nordeste, onde a média do m² avançou 22% no período. Já a cidade que teve avanço mais expressivo nos preços entre as pesquisadas foi Campinas, com alta de 35% em seis meses. O preço do m² foi para R$ 58 – ainda abaixo da média nacional. Corporativo. Depois de um período de alta, o segmento de escritórios corporativos vive um descompassode ofertaedeman-
da. Segundo estudo da consultoria Colliers International Brasil, no segundo trimestre do ano, quase 19% dos empreendimentos corporativos de alto padrão na capital paulista estavam disponíveis. Já os preços de locação tiveram queda de 0,8%, com média mensal de R$ 116,62 por m². “Os preços mantêm ritmo de quedadesde2012,quandoaofertacomeçou adescolar dademanda”, diz Leandro Angelino, gerentede pesquisadaColliers.Para ele, essa tendência deve se manter e até se intensificar ao longo dos próximos meses e em 2015.“Isso porque entrarão muitos empreendimentos novos nesse período”, diz. Os imóveis com padrão A+ e A fecharam o segundo trimestre com taxa de disponibilidade de 23,6% e 14,8%, respectivamente. Os empreendimentos da classe
B, de 82%. “A categoria de alto padrão é a que mais entrega novos edifícios desde 2012. A taxa dedisponibilidadenaclasseBdeve aumentar também, pois no mercado atual muitas empresas estãoaproveitandoessemomento favorável aos negócios para migrarparaprédios mais modernos por uma diferença às vezes bem pequena”, diz Angelino. Os imóveis das classes A+ e A terminaramotrimestrecommédia de locação de R$ 116,62 por metro quadrado – queda de 4% em relação ao final do ano passado.Osempreendimentosdaclasse B caíram no mesmo ritmo – de R$ 86,89 para R$ 83,72 por m². As regiões da Faria Lima e Itaim Bibi continuam com os preços mais salgados da cidade: R$ 161,69 e R$ 157,50 por m², respectivamente. A região da Avenida Paulista aparece em quarto lugar com R$ 134,29, atrás de Cidade Jardim (R$ 145). Já Santo Amaro tem o m² mais barato: R$ 53,83.