em busca das esfinges aladas:
qual o tamanho do teu olhar?
Há
uma
mesma,
definição ao
longo
própria da
sua
de
cidade,
história.
revelada
por
Actualmente,
ela
Cidade
é
complexidade, rapidez, circulação, extensão ao infinito, comunicação tempo.
É
e
transformação
conquista
de
contínua
poder,
na
riqueza,
relação
espaço/
comércio,
indús-
tria, habitação trabalho, transporte, liberdade, mas também pobreza, anonimato e solidão. Cidade suas e
o
é,
acima
estruturas Homem
ainda
é
um
afirmar
de e
tudo
características
constante que
interacção
a
a
construtor
Cidade
é
a
com
o
Homem.
Cidade de
própria
faz
o
Cidades.
Com
as
Homem, Pode-se
convivência
hu-
mana: o lazer, a possibilidade de escolha, o exercício da cidadania, a família, amigos e comunidade. A Cidade é um paradoxo económico e politico pela sua riqueza e miséria, pelos dominantes e dominados. Da
mesma
forma
que
a
concepção
de
Cidade
está
ligada
à
concepção de Homem, a concepção de Urbanização também está ligada à concepção de Homem. A Urbanização fez com o Homem acreditasse
que
a
felicidade
é
o
bem-estar
corporal.
“É
a afirmação do corpo contra a mente, do reino do matéria contra da
o
reino
felicidade
do
espírito.”
exclui
os
Em
pobres,
consequência, conduzindo
à
a
procura sua
pro-
cura nos bens económicos, o que revela enormes carências, forçando-nos a encontrar soluções imediatas com respostas subjectivas e privadas, inclusivamente na religião.
andar
por
lisboa,
viver
na
cidade,
é
lidar
com
margens.
margens no sentido de umbrais, de pontos de passagem, de fronteiras; de
dúvida,
margens de
no
sentido
incertezas;
inseguranças;
margens
no
de
margens sentido
periferias, no
de
sentido desvios,
de
de
zonas
riscos,
diferenças
inconfessáveis ou só parcialmente compreendidas; margens no sentido de ambiguidades definicionais. quem abrir bem os olhos, cedo se aperceberá dessa «difusão das margens» — a vida urbana, toda ela, é feita de marginalidades e das respectivas centralidades. sim,
porque
em
lisboa,
como
em
todas
as
outras
cidades,
não há um centro, há uma pluralidade de fenómenos de centralidade. há centros dentro de centros; há centros subalternos;
há
centros
móveis
e
temporários e circunstanciais.
transmutantes;
há
centros
porque eu sou do tamanho do que vejo e não, do tamanho da minha altura... nas cidades a vida é mais pequena que
aqui
na
minha
casa
no
cimo
deste
outeiro.
na
cidade
as
grandes
casas
fecham
a
vista à chave, escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu, tornam-nos
pequenos
porque
nos
tiram
o que os nossos olhos nos podem dar, e
tornam-nos
pobres
porque
a
única riqueza é ver.
A l b e r t o C ae i r o , i n “ O G ua r dad o r de Re b a n h o s - P o e m a V II ” H e t e r ó n i m o de F e r n a n d o P e s s o a
nossa
escrever “cidade”! os pr dia, as memórias das pas esses
textos
cidades
que
já
existem!
vivemos,
são
textos
visitamos,
ou
sobre
os
sonhados.
prazeres foram
e
os
escritos
faz-de-conta por
alguém
das que
vive da escrita. maculados pelo pecado original do ofício solitário e egoísta da escrita só perdoado pelo devasse da leitura e imaginação alheias. fica-me a possibilidade do outro olhar! a obrigação de encontrar o optimismo que esbata o desconforto de quem habita o enredo urbano, e o encanto de quem acredita que todas as estórias de cidade são, no seu limite, ensaios de felicidade.
razeres, do dia a ssagens.
outra vez te revejo, cidade da minha infância pavorosamente perdida cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui
Ă l va r o de C a m p o s
lisboa com suas casas de várias cores, lisboa com suas casas de várias cores, lisboa com suas casas de várias cores ... à força de diferente, isto é monótono. como à força de sentir, fico só a pensar. sorrio, porque, aqui, deitado, é outra coisa. a força de monótono, é diferente. e, à força de ser eu, durmo e esqueço que existo. fica só, sem mim, que esqueci porque durmo, lisboa com suas casas de várias cores. á l va r o de ca m p o s , e x ce r t o d o p o e m a l i s b o a
quem faz os lugares?
“é no regresso, a nossa nem parece cidade. só o tempo das casas velhas lhe deixou sinais de cidade. o rasto do nosso tempo
foi
levado
para
fora
da
nossa
cidade.
os
saberes-
fazer já não conseguem melhor que subúrbio. a cidade como objectivo, produção e aprendizagem é outra. —
de
agora
em
diante
serei
eu
a
descrever
as
cidades
—
disse o kan — tu nas tuas viagens verificarás se existem. mas as cidades visitadas por marco polo eram sempre diferentes das pensadas pelo imperador. — de
contudo
eu
tinha
cidade
de
que
construído
deveria
na
minha
deduzir-se
mente
todos
os
um
modelo
modelos
de
cidades possíveis - disse kublain - ontem tudo o que corresponde à norma. como as cidades que se afastam em grau diverso da norma, basta-me prever as excepções à norma e calcular as combinações mais prováveis. — as
também
pensei
outras
excepções,
—
num
respondeu
modelo marco
impedimentos,
de —
cidade é
uma
que
cidade
contradições,
deduzo feita
todas só
incongruências
contrassensos.” I t a l o C a l v i n o , A s C i dade s I n v i s í ve i s , ed i t o r i a l Te o r e m a
de e
lídia, ignoramos. somos estrangeiros onde que quer que estejamos. lídia, ignoramos. somos estrangeiros onde quer que moremos, tudo é alheio nem fala língua nossa. façamos de nós mesmos o retiro onde esconder-nos, tímidos do insulto do tumulto do mundo. que quer o amor mais que não ser dos outros? como um segredo dito nos mistérios, seja sacro por nosso. RI C A R D O R E IS , e x ce r t o d o p o e m a l Í D I A
E eu, entre a vida, que am e a morte que temo com s levo comigo, só de ouvir estas sombras de discurso humano que é afinal tudo em que se ocupa a maioria das vidas conscientes, um tédio de nojo, uma angústia de exílio entre aranhas e a consciência súbita do meu amarfanhamento em gente real; a condenação de ser vizinho igual, perante o senhorio e o sítio, dos outros inquilinos do aglomerado, espreitando como nojo, por entre as grades traseiras do armazém da loja, o lixo alheio que se entulha à chuva no chão de saguão que é a minha vida.
mo com despeito, sedução.
alma
–
mais
pobre;
não
que
veio
atrás
do
máximo,
descansasses.
essa
alma
e,
preferiria
da
experiência
não
embora que
tu
do
mínimo
a
escolha
não
te
mais —
rica,
não
da
gostava
que
tu
seja
sempre
tornasses
tua,
vaidoso
ou
acomodado, e sobretudo que não caísses na apatia. porque há tanto para mudar no mundo, tanto deixado de si mesmo para criar. há sempre uma nova montanha para escalar, uma nova há
fronteira
sempre
um
visão maior.
para
lugar
explorar, melhor,
um
um
novo
medo
conceito
para
mais
vencer.
amplo,
uma
SIMPLICIDADES a impossibilidade da cidade - subúrbio
já
não
praticamos
desprevenidos memória,
e
talvez
a
cidade.
deslumbra. cultura
ou
e
a o
modo
espaços prazer de
ela
apanha-nos
perdura,
estar,
torna-se
obrigação
de
descobrir, procurar e construir. lisboa ressente-se. a última praça que conheceu foi o areeiro, incompleto dos anos 40.
E X CENTRICIDADES aprende-se
o
que
se
pratica.
safrónia
compõe-se
Pratica-se
o
que
se
aprende.
“a
cidade
muma o
fica
carrocel
de a
grande com
a
montanha
sua
de
russa
auréola
de
duas de
meias
cidades.
íngremes
correntes,
a
bossas, roda
das
gaiolas giratórias, o poço da morte com os motociclistas de cabeça para baixo, a cúpula do circo com o cacho dos trapézios a pender no meio. a outra meia cidade é de pedra e mármore e cimento com o banco, os opiários, os prédios, o
matadouro,
a
escola
e
tudo
o
resto.
uma
das
meias
cidades está fixa, a outra é provisória e quando acaba o tempo da sua estadia despregam-na, desmontam-na e levamna dali para fora, para a enxertar nos terrenos vagos de outra meia cidade.” I t a l o C a l v i n o , A s C i dade s I n v i s í ve i s , ed i t o r i a l Te o r e m a
MULTIPLICIDADES conhecer os lugares
são textos de viagem. antecipação e revisitação de prazeres e
lugares
de e
únicos.
combinações tempo,
se
de
irrepetíveis sinais
trata.
e
e
inesquecíveis.
gestos
percorremos
precisos,
de
enfiamentos,
porque espaço
chegamos
para partir, procuramos segredos, encontramos memórias e surpresas já vividas ou ainda por sonhar, mas sempre para lembrar, contar e talvez voltar. são poucos os edifícios que
devassamos.
por
fora,
donde
os
reconhecemos
e
lhes
damos nomes e memória são sobretudo cascos que enfrentam e encaminham as marés de viajantes obsessivos em que nos tornámos.
é
essa
cidade/mar
com
as
suas
costas,
portos,
cabos, ventos, correntes e marés, mais percurso que estadia, que
desafia
e
organiza
as
nossas
memórias
e
afectos.
maneiras como conhecemos e lembramos os lugares.
as
kublain kan verificara que as cidades de
marco
como
se
polo a
eram
paisagem
todas de
parecidas,
uma
para
outra
não implicasse uma viagem mas sim uma troca
de
elementos.
agora
de
todas
as cidades que marco que descrevia, a mente do grão kan partia por sua conta e
risco,
e
desmontada
a
cidade
peça
por peça, reconstruía-a de outro modo, substituindo ingredientes, deslocandoos, invertendo-os.” Italo Calvino, As ed i t o r i a l Te o r e m a
C i dade s
I n v i s í ve i s ,