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Pedro Pires, vice-presidente do Conselho Diretivo da

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Pedro Pires vice-presidente do Conselho Diretivo da Ordem dos Médicos Dentistas

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O impacto no nosso setor de atividade poderá ser devastador”

A Ordem dos Médicos Dentistas (OMD) criou um “gabinete de crise”, com reuniões quase diárias do Conselho Diretivo, e tem em marcha um grupo de trabalho especial para acompanhar a pandemia provocada pelo novo coronavírus, que veio ditar particulares dificuldades aos médicos dentistas e demais profissionais de saúde oral. Pedro Pires, vice-presidente do Conselho Diretivo da Ordem, adianta como prioridade assegurar, com a devida proteção e segurança, as urgências e os tratamento inadiáveis. Por outro lado, a OMD reclama ao poder político “um assumir de responsabilidades”, de modo a minorar os danos enormes causados pela suspensão da atividade de um setor que, para já, só tem uma certeza: no rescaldo da crise, nada será como dantes.

De um modo geral, como encara a OMD o surto que está a afetar o país (e o mundo)?

A OMD, como as restantes ordens profi ssionais da área da saúde, encara este surto com grande preocupação, mas igualmente com sentido de responsabilidade e com uma enorme disponibilidade para colaborar com os decisores políticos para, todos juntos, fazermos face a este “estado de guerra” que enfrentamos. Não queremos ser parte do problema; não queremos, nem devemos, ser alarmistas; não queremos aumentar o “ruído”; queremos ajudar a encontrar soluções. É isto que se nos pede e se exige, neste momento. Antes do Estado de Emergência ser declarado, já a OMD tinha alertado e dado indicações aos colegas para suspenderem a normal atividade clínica, por existir um grande risco de contágio para a população em geral, para os nossos colegas, para as equipas de saúde oral e para as nossa famílias. Nesse sentido, uma delegação da OMD, chefi ada pelo senhor bastonário, reuniu em Lisboa, no dia 13 de março, com a senhora ministra da Saúde e com o senhor secretário de Estado da Saúde, para lhes transmitir as nossas preocupações e as nossas prioridades enquanto classe, para podermos enfrentar esta pandemia e minorar os perigos para a saúde, em primeiro lugar. Como é do conhecimento geral, dois dias depois, foi assinado o despacho que suspendeu a nossa atividade clínica, com exceção dos tratamentos de urgência e inadiáveis. Foi uma importantíssima medida para combater a propagação do vírus. De salientar que em muitos países, onde a profi ssão se encontra bem organizada, esta medida foi também tomada. Por outro lado, nesta situação em que estamos, enfrentamos enormes difi culdades para atendermos, com segurança, as urgências e os tratamento inadiáveis, uma vez que não dispomos dos necessários equipamentos de proteção individual. A outra vertente do problema é a situação económica e fi nanceira dos nossos consultórios e clínicas. Tem que haver, por parte do poder político, um assumir de responsabilidades, como o fez aliás

Não queremos, nem devemos, ser alarmistas; não queremos aumentar o “ruído”; queremos ajudar a encontrar soluções. É isto que se nos pede e se exige, neste momento

para outros setores da economia que também encerraram, de modo a minorar os danos enormes causados pela suspensão da nossa atividade. É nestas duas frentes que a OMD está focada e a trabalhar todos os dias. Temos tido reuniões quase diárias, tipo “gabinete de crise”, do Conselho Diretivo e temos reunido, também regularmente, com os presidentes dos restantes órgãos sociais.

Que especiais recomendações e medidas tem adoptado a OMD no contexto do novo coronavírus?

A OMD criou um “gabinete de crise” com reuniões quase diarias do Conselho Directivo e criou também um grupo de trabalho especial para acompanhar toda esta epidemia. Todas as medidas e recomendações da OMD constam no site da Ordem. Enumero aqui algumas delas: logo no dia 18 de março, o Conselho Directivo aprovou, por unanimidade, a isenção de quotas por três meses, podendo esta medida ser prorrogada

A data limite para as apresentações de comunicações e de pósteres do congresso deste ano foi alterada, bem como o prazo de inscrição para os expositores na Expodentária: passou de março para junho. Pedro Pires considera que a crise instalada pela pandemia vai impor uma alteração nos hábitos sociais e, muito provavelmente, nos protocolos clínicos.

em função da evolução da situação; o Centro de Formação Contínua da OMD adaptou o calendário de eventos previsto e os cursos agendados passaram a ser transmitidos online e em direto, nas datas previstas; disponibilizamos na página eletrónica da OMD, uma nova secção com respostas às perguntas mais frequentes que os médicos dentistas têm remetido à Ordem; em resposta a um apelo da OMD, a Agência Portuguesa do Ambiente não cobrará taxas durante o Estado de Emergência; a colaboração entre a OMD e a OCC (Ordem dos Contabilistas Certifi cados) permitiu aos médicos dentistas aceder a informação legislativa, fi scal, fi nanceira e social; a OMD elaborou um documento, por entender haver a necessidade de estabilizar as recomendações sobre a metodologia a seguir no atendimento dos doentes e onde consta, por exemplo, a defi nição de situações comprovadamente urgentes e inadiáveis; temos mantido, desde a primeira hora, contactos com o governo de modo a obter as medidas de compensação sobre a suspensão das atividades de Medicina Dentária.

No plano económico/fi nanceiro, que impacto se vislumbra na atividade do setor dentário em Portugal?

O impacto no nosso setor de atividade poderá ser devastador. Dependendo sempre do tempo que os consultórios vão ter a atividade suspensa. Hoje ainda não sabemos exatamente, com precisão, quantas semanas durará esta medida de suspensão da atividade. Sabemos que todos nós, médicos dentistas, com consultório próprio, ou a trabalhar por conta de outrem, fi cámos, de um dia para o outro, impossibilitados de trabalhar. Nós, as nossas assistentes, os higienistas orais,

A OMD criou um “gabinete de crise”, com reuniões quase diárias do Conselho Diretivo, e um grupo de trabalho especial para acompanhar esta inesperada crise de saúde pública.

protésicos, etcétera. E quando o pior tiver passado, quando o tal pico da epidemia for atingido, a nossa atividade não vai ser recuperada de imediato. Provavelmente alguns consultórios poderão não reabrir e muitos colegas que trabalham a “recibo verde” podem perder o seu trabalho, porque mesmo os grandes grupos económicos não irão precisar de todos os profi ssionais que tinham antes desta crise.

A OMD considera que o Governo tem sabido, na medida do possível, dar uma resposta adequada às preocupações dos profi ssionais do setor?

Na primeira fase o governo tomou a medida mais importante: suspender a atividade dos consultórios, de modo a prevenir o contágio da popupação, dos médicos dentistas e das nossas famílias. Foi uma medida de extraordinária importância. Mas depois não conseguiu, conforme se tinha comprometido, adquirir em quantidade sufi ciente os equipamentos de proteção individual necessários para que pudessemos atender as urgências e os tratamentos inadiáveis. E também não conseguiu responder às medidas exigidas pela OMD para compensar os profi ssionais liberais que viram a sua atividade suspensa; até esta altura, nem para os que são profi ssionais liberais, nem para os sócios gerentes dos consultórios e clínicas, categoria profi ssional sem direito a qualquer compensação no atual quadro de apoios. Pelo menos até à data. Esperamos, naturalmente, que o governo venha a atender as exigências apresentadas pela Ordem.

Seremos capazes, como sempre o fi zemos, de encontrar as soluções necessárias para continuarmos a atender os pacientes com a máxima segurança e com a proteção necessária para todos

Tendo em mente a atual conjuntura, prevê-se alguma alteração substancial ao fi gurino do próximo congresso da OMD?

Em relação ao congresso anual, marcado para o início de novembro, pretendemos manter o fi gurino, a qualidade do programa científi co, a dimensão da Expodentária e pretendemos também manter todo o programa social. Isto seria o ideal e o que todos os médicos dentistas desejam. No entanto, já tivemos de fazer algumas alterações ao cronograma do evento. A data limite para as apresentações de comunicações e de pósteres foi alterada, a data de inscrição para os expositores na Expodentária também passou de março para junho, etcétera. Repare que, neste momento, muitas empresas expositoras do congresso tiveram também grandes quebras nas suas atividades e na sua faturação e não sabem se vão poder ter o mesmo tipo de representação no congresso. Mesmo no caso do programa de formação contínua da OMD, fomos obrigados a adaptá-lo a esta nova realidade do “teletrabalho” e os cursos agendados passaram a ser transmitidos online.

Quando esta crise for ultrapassada, acha que a rotina em Medicina Dentária recuperará total normalidade?

Infelizmente, não. Nem a atividade do setor, nem as rotinas na Medicina Dentária, recuperarão a normalidade, muito menos de forma imediata. Temos todos que ter a consciência de que nada será como dantes. Nem na Medicina Dentária, nem na maioria das restantes atividades. Vamos ter que alterar hábitos sociais, vamos ter que nos proteger de forma diferente, vamos, muito provavelmente, alterar os protocolos clínicos, poderemos ter que reequipar os consultórios com novos sistemas de aspiração de aerosois, por exemplo, novos sistemas de desinfeção dos espaços, etcétera. É difi cil prever quando, e como, vamos reiniciar a nossa atividade. Mas nada será com dantes. Quero, terminando, deixar uma palavra de esperança e de confi ança tanto para a população, como para os meus colegas médicos dentistas: tenho a certeza de que seremos capazes, como sempre o fi zemos, de encontar as soluções necessárias para continuarmos a atender os pacientes com a máxima segurança e com a proteção necessária para todos.

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