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Márcia Almeida, médica dentista e voluntária

Relatos

Márcia Almeida

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Médica dentista. Natural de Felgueiras. Experiência clínica: seis anos como médica dentista generalista e seis meses com prática exclusiva em Prótese Fixa e Estética Dentária.

Conheci a Mundo A Sorrir durante o meu percurso académico e exultei ao perceber que poderia concretizar o sonho de auxílio em África na minha área de formação. Ainda durante o Mestrado Integrado em Medicina Dentária associei-me à causa desta organização não governamental, participando em formações de voluntariado organizadas pela mesma e conhecendo melhor a sua ideologia e ação em projetos nacionais. Nunca mais me desvinculei.

Imediatamente após a conclusão do curso, parti para a Guiné-Bissau com uma expectativa difícil de suprir. Levava uma mala de material dentário e uma mochila de sonhos e ambições. Para trás deixava uns pais receosos e expectantes, incapazes de me demover. Entrei em território guineense acompanhada por uma colega de viagem que se viria a transformar numa companheira de vida incessante e não podíamos ter sido melhor recebidas.

Ao longo das semanas, a vontade de fazer mais ia crescendo e, além de tratamentos dentários em consultório, em Bissau, atuámos na área da prevenção, com rastreios dentários e ações de sensibilização para a saúde oral em escolas e orfanatos. Nas ilhas de Formosa e Uno, no Arquipélago de Bijagós, conseguimos fazer a diferença fazendo chegar, a uma população totalmente isolada, a ajuda em saúde oral que nunca tivera. O trabalho foi exigente, mas muito gratificante, enriquecedor e profícuo para uma população que nos ficou profundamente agradecida.

Não existe nada mais motivador do que perceber que caminhamos juntos no sentido certo

Márcia Almeida, de 29 anos, cumpriu em outubro de 2013, pela mão da Mundo A Sorrir, um sonho antigo: realizar uma missão de voluntariado em África. A jovem médica dentista, natural de Felgueiras, não tem “uma resposta que justifique racionalmente a minha motivação”, até porque nunca tinha estado no continente africano, mas o facto é que, desde muito nova, “o desejava profundamente”. O desejo materializou-se na Guiné-Bissau, onde recentemente – sete anos depois da sua estreia em território guineense – assistiu in loco, e com particular orgulho, à inauguração de uma clínica dentária “nunca antes vista” naquele país africano de língua oficial portuguesa.

Márcia Almeida sublinha que um problema dentário não tratado carrega consigo “uma série de consequências em cadeia que podem ser irreversíveis e potencialmente catastróficas”.

A voluntária considera-se uma felizarda por poder assistir à evolução guineense no que toca a condições de saúde oral e decréscimo do índice de cárie e patologias orais.

Toda a experiência foi verdadeiramente inesquecível, desde o aproximar de uma realidade paralela, que se conhece apenas à distância, à sensação de se fazer parte da diferença num país “renegado” e sedento de cuidados de saúde oral.

Como sabemos, a saúde oral é uma componente essencial da saúde em geral e está diretamente relacionada com a taxa de morbilidade e abstenção ao trabalho ou escola. Um problema dentário não tratado carrega consigo uma série de consequências em cadeia que podem ser irreversíveis e potencialmente catastróficas. Desta forma, foi fácil identificar- -me com a ideologia da Mundo A Sorrir para quem a saúde oral é um direito humano fundamental e cabe a cada um de nós fazer o possível para que esse direito chegue a todos.

Regressei absolutamente rendida a um país que me fez sentir em casa e a pessoas que se tornaram uma segunda família. As marcas desta missão ficaram tão carimbadas num povo agradecido por cada uma das nossas “pequenas” ações como em dois espíritos irreversivelmente presos a cada pessoa que

Além de tratamentos dentários em consultório, em Bissau, Márcia Almeida atuou na área da prevenção, com rastreios dentários e ações de sensibilização em escolas e orfanatos.

A médica dentista refere que a missão foi exigente, mas também enriquecedora e profícua para “uma população que nos ficou profundamente agradecida”.

abraçaram. ”Bó fika ku paz! Bó na riba pa nós” foi a frase da despedida e significa: “Vai com paz! Volta para nós”. E voltei, voltei a vestir a t-shirt da Mundo A Sorrir, já este ano, com um orgulho enorme e o desejo de fazer ainda mais e melhor.

Nas ilhas de Formosa e Uno, no Arquipélago de Bijagós, conseguimos fazer a diferença fazendo chegar, a uma população totalmente isolada, a ajuda em saúde oral que nunca tivera

Assistir à inauguração da clínica da Mundo A Sorrir na Guiné- -Bissau e ver, na primeira pessoa, o fascínio estampado na cara de quem entrava numa clínica dentária nunca antes vista no país, é absolutamente indescritível. Testemunhar in loco a evolução dos resultados descritos estatisticamente da ação da Mundo A Sorrir ao longo dos anos é um poderoso boost de motivação para continuar.

Considero-me uma felizarda por poder assistir à evolução no que toca a condições de saúde oral e decréscimo do índice de cárie e patologias orais no povo da Guiné-Bissau, entre 2013 e 2020. Não existe nada mais motivador do que perceber que caminhamos juntos no sentido certo. Assim, em nome do “meu país do coração” e dos “meus” que lá vivem, agradeço genuinamente à Mundo A Sorrir e a todos os parceiros e voluntários que, com força, resiliência e capacidade de trabalho, tornam este sonho realidade. Desejo que nunca deixem esmorecer esta paixão de levar sorrisos além-fronteiras porque “a saúde oral é um direito de todos” e há ainda muito caminho a percorrer.

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