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Indústria

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Xavier Struillou,

presidente da Federação Europeia de Periodontologia (EFP)

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“A EFP promove medidas para potenciar os cuidados de saúde oral em total segurança e com toda a confiança, apesar da pandemia”

AFederação Europeia de Periodontologia (EFP) adaptou-se da melhor forma ao cenário pós-pan-

demia, adotando uma orientação muito clara em matéria de cuidados de saúde oral: “aplicação de protocolos rigorosos para assegurar uma total segurança para os nossos pacientes, funcionários e clínicos”. Quem o afirma é Xavier Struillou, atual presidente da federação que abrange mais de 16.000 especialistas em periodontologia e outros profissionais da área da Medicina Dentária, bem como cerca de quatro dezenas de sociedades científicas nacionais. O também professor associado de Periodontologia na Universidade de Nantes (França) adianta à MAXILLARIS as prioridades que traçou para o seu mandato, entre as quais se incluem campanhas de sensibilização sobre a estreita ligação entre as patologias do foro periodontal e a cárie ou as doenças cardiovasculares, entre outras, a reforma do sistema de governança da EFP e o reforço dos esforços com vista ao reconhecimento da periodontologia como especialidade dentária, em geral e ao nível da União Europeia.

Como está a EFP a enfrentar a crise do coronavírus, e qual é a sua posição relativamente às novas diretrizes na prática odontológica?

A Federação Europeia de Periodontologia teve que adaptar-se e desenvolver uma estratégia digital a partir de bases que, em todo o caso, já existiam. Todos na EFP nos consagramos ao serviço das 37 sociedades estatais que compõem a nossa federação. A posição da EFP no que diz respeito às novas diretrizes na área dos cuidados de saúde oral é muito clara: aplicação de protocolos rigorosos para assegurar uma total segurança para os nossos pacientes, funcionários e clínicos. A EFP promove medidas encaminhadas a permitir e potenciar os cuidados de saúde oral em total segurança e com toda a confiança, apesar da pandemia do coronavírus.

Que medidas tem vindo a tomar a EFP a fim de prevenir e lutar contra esta crise global de saúde pública?

Desenvolvemos diversas iniciativas, entre as quais a realização de um vasto inquérito pan-europeu afim de conhecer as implicações práticas da pandemia e as medidas tomadas a nível de cada país. Em paralelo, elaborámos uma série de recomendações em forma de ina fografias, mostrando de modo simples e prático as medidas de precaução anti-Covid-19 que se recomenda tomar às clínicas dentárias. Tratámos de as difundir através das 37 sociedades estatais que fazem parte da EFP, por internet e através das redes sociais, o que nos permite comunicar com os médicos dentistas e os restantes membros das equipas de saúde oral das Europa e do resto do mundo.

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A pandemia provocou alterações profundas na maneira de transmitir o saber e a informação. “A EFP deu uma resposta cabal a esse desafio”, sustenta o presidente da federação.

À margem da pandemia, em que outras prioridades se centra a atual presidência da EFP?

A EFP desenvolve atualmente numerosos projetos dirigidos tanto ao grande público como à comunidade médica e dentária, como por exemplo a campanha Perio & Cardio, para informar e consr ciencializar sobre os vínculos entre a saúde das gengivas e a cardiovascular, ou Perio & Caries, que se centra nas conee xões entre as doenças do foro periodontal e a cárie, que são os problemas de saúde oral mais frequentes no mundo. Outros projetos da EFP dirigem-se especialmente aos profissionais da equipa dentária, por exemplo a difusão das conclusões das nossas reuniões anuais Perio Workshop, tais como as diretrizes para tratar a periodontite de estado I, II e III ou as da nova classificação de doenças periodontais. Estes workshops são os trabalhos de referência científica mais esperados pelos periodontologistas a nível mundial. Por outro lado, na EFP trabalhamos igualmente em prol do reconhecimento da periodontologia como especialidade dentária, em geral e ao nível da União Europeia, e iniciámos uma profunda reforma do nosso sistema de governança, tendo em vista o objetivo de otimizar as nossas relações com as sociedades membro da federação. A nova estratégia da EFP até 2025 foi discutida e aprovada na assembleia geral virtual que celebrámos no passado mês de outubro.

Em que consistem os esforços da EFP dirigidos à deteção precoce, ao controlo e ao tratamento da doença periodontal?

Tanto a EFP como as sociedades que a integram trabalham desde há muitos anos com o fim de melhorar o conhecimento que a comunidade médica e o grande público têm das doenças periodontais, do seu impacto e do seu tratamento. Procuramos sinergias com as nossas sociedades e com os nossos diferentes parceiros na indústria do setor dentário. Desde há seis anos que celebramos, no dia 12 de maio, una jornada de consciencialização, designada por Gum Health Day (Dia da Saúde das Gengid vas). Inicialmente de alcance europeu, esta iniciativa foi evoluindo e crescendo com tal sucesso dentro e fora do nosso continente – e de forma destacada em Portugal – que hoje pode ser considerado um evento global, incluindo atividades e eventos em mais de 40 países, em particular na América Latina, mas também na Ásia, África e Oceânia. As sociedades que fazem parte da EFP envolvem-se de forma extraordinária numa série de iniciativas mediáticas e divulgativas, desenvolvidas em torno a um slogan e um logo comum, a partir

“Um excesso de licenciados parece dificilmente conciliável com uma formação e um serviço prestado ao paciente com os standards de qualidade que a EFP defende”

de uma série de materiais comuns que a EFP desenvolve cada ano e põe à sua disposição e que elas adaptam e traduzem a nível nacional. Imagine-se o impacto do Gum Health Day com cerca de 40 ou 50 países implicados.

Apesar de se constatar, nos últimos anos, alguma evolução neste capítulo, a saúde oral continua a ser tratada por muitos governos como uma questão secundária. Quais são as suas expectativas, por exemplo no domínio da relação com a periodontologia?

Na EFP estamos em contacto com a Comissão Europeia e os responsáveis políticos dos distintos países, frequentemente através das sociedades nacionais que pertencem à federação, com o objetivo de promover o acesso à saúde periodontal e posicionar a periodontologia dentro de um conceito de saúde global que evidencie as interações entre a saúde das gengivas e a saúde global e o bem-estar, incluindo uma crescente gama de doenças crónicas e de coletivos. Campanhas de divulgação da nossa responsabilidade tais como Perio & Diabetes, Oral Health & Pregnancy (saúde oral e gravidez) ou as já mencionadas Perio & Cardio e Perio & Caries, contêm de resto um alto conteúdo científico e uma vertente dirigida a influir nas autoridades e nos decisores políticos.

Do seu ponto de vista, que papel deveriam ter os sistemas públicos de saúde nesta questão?

As doenças periodontais estão entre as patologias mais frequentes entre os adultos de mais de 40 anos. Os vínculos com outras patologias e as suas implicações para a saúde geral estão hoje muito bem documentados. Parece-me, portanto, importante que as autoridades políticas tomem consciência de que, em grande medida, se trata de um problema central de saúde pública. A generalização da deteção precoce, um tratamento atempado e a adoção de medidas preventivas permitiria igualmente ajudar a combater certas patologias sistemáticas graves, algumas das quais já foram aqui mencionadas, mas às quais é preciso acrescentar patologias inflamatórias, como a poliartrite reumatóide, ou degenerativas, como a doença de Alzheimer.

Que recomenda a EFP para evitar que o mercado de profissionais do setor dentário se veja prejudicado por um excesso de oferta, como acontece em alguns países, entre os quais Portugal, com o consequente risco que daí possa advir para o controlo da qualidade do serviço ao paciente?

Neste assunto a EFP não pode exercer mais do que um papel complementar, que delegamos a nível local na sociedade estatal que corresponda em cada caso perante as autoridades políticas, que são as únicas competentes para decidir as condições de formação dos médicos

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Xavier Struillou é o segundo francês a liderar a EFP, depois de Jean- -Louis Giovannoli, que em 1992 foi o primeiro presidente desta federação europeia.

“Por razões compreensíveis, ligadas à pandemia, a EFP decidiu atrasar um ano a realização do EuroPerio10, de 2021 para 2022, de forma a garantir que o congresso se celebrará nas melhores condições”

dentistas. Nós somos a favor de uma harmonização europeia a fim de garantir tanto os standards de qualidade de formação dos profissionais de Medicina Dentária, como uma alta qualidade do serviço prestado em toda a União Europeia. Claramente, um excesso de licenciados parece difícilmente conciliável com uma formação e um serviço prestado ao paciente com os standards de qualidade que a EFP defende.

Quais são as suas expectativas quanto à próxima edição do congresso EuroPerio?

Por razões compreensíveis, ligadas à pandemia, a EFP decidiu atrasar um ano a realização do EuroPerio10, em Copeç nhaga, de 2021 para 2022, de forma a garantir que o congresso se celebrará nas melhores condições. Como é sabido, o EuroPerio é hoje o maior congresso de periodontologia e implantologia do mundo, e um dos mais significativos de toda a Medicina Dentária. Trata-se de um evento muito aguardado pelos membros das 37 sociedades científicas nacionais que pertencem à EFP, mas também por muitos outros representantes do setor. Nas duas últimas edições estivemos próximos dos 10.000 inscritos, dos quais metade não eram membros da EFP, e a percentagem de delegados de fora de Europa é cada vez maior. O programa científico do EuroPerio10 está encerrado e é de nível bastante elevado, incluindo algumas surpresas interessantes. Neste contexto, agradeço em especial a David Herrera, da Universidade Complutense de Madrid, que é o presidente científico desta décima edição do encontro. Esperamos poder reencontrar-nos todos na Dinamarca, na primavera-verão de 2022, para viver esse momento especial de intercâmbio de conhecimento e de experiências, e também de reunião com todos os nossos amigos europeus e não europeus da comunidade periodontal. Entretanto, todos os interessados no EuroPerio10 podem manter-se informados através do nosso site em www.efp.org/europerio10/, da nossa newsletter mensal e das nossas páginas nas redes sociais: Facebook, Twitter, LinkedIn, Instagram e TikTok.

Educação à distância, serviços de formação online e webinars estão a assumir cada vez mais importância, sobretudo devido à pandemia. Como encara a EFP estas novas formas de transmitir o conhecimento sobre saúde oral?

Efetivamente, a pandemia provocou alterações profundas na maneira de transmitir o saber e a informação. A EFP deu uma resposta cabal a esse desafio com o lançamento do conceito EFP Virtual, que inclui um novo enfoque de transmissão de conhecimento online e ao vivo, sempre com conteúdo de alto nível científico e não comercial. A EFP Virtual envolve, por um lado, os webinars da nossa série EFP Perio Seso sions, que lançámos no final da primap vera de 2020 e que retomámos em novembro passado. A outra vertente da EFP Virtual são os nossos EFP Perio Talks, que são sessões em streaming sob o formato Instagram Live, que permitem uma conversa mais direta e menos formal entre o orador e o público. Por outro lado, a EFP desenvolveu também estratégias de comunicação para transmitir a suas mensagens à imprensa, aos nossos membros, à comunidade médica e dentária e ao grande público, sempre com transparência e credibilidade.

A maioria da comunicação da EFP é disponibilizada em inglês. Existe alguma publicação em português ou a perspetiva de isso vir a acontecer a curto prazo?

Sim. Geramos também alguma produção em português, por exemplo a animação dos programas Perio & Caries e Perio & Cardio, e outras que podem ens contrar-se no nosso canal YouTube, que estão integralmente em português e até incluem legendas. Além disso, editamos o JCP Digest em português: é uma sucinta publicação mensal de apenas duas páginas, dirigida a clínicos e estudantes de Medicina Dentária, que resume um artigo científico sobresselente publicado no nosso Journal of Clinical Periodontology (JCP). Até ao momento, o JCP Digest é a nossa única publicação multilingue, e estamos satisfeitos de saber que muitos médicos dentistas e membros das equipas de saúde oral em Portugal, no Brasil e nos países lusófonos de África consideram útil a sua leitura para completar e atualizar a sua formação e melhorar o seu rendimento profissional.

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