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Brasília, domingo, 24 de fevereiro de 2013 — CORREIO BRAZILIENSE
Entre em campo também Tina Coelho/Esp. CB/D.A Press
COPA DO MUNDO DE 2014 E OLIMPÍADAS DE 2016 REFORÇAM APOSTAS DE MUITAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO. ELAS ATENDEM PROFISSIONAIS QUE DESEJAM SE PREPARAR ESPECIALMENTE PARA A OCASIÃO Copa do Mundo de 2014 representa para algumas pessoas não apenas um grande evento esportivo, mas também uma chance de alavancar a própria carreira. Com o fluxo de negócios, turistas e dinheiro chega também a oportunidade de conseguir avanços na profissão, e diferentes cursos buscam atender aqueles que desejam se qualificar para a vinda do torneio de futebol mais importante de todos. Alguns deles, inclusive, surgiram a partir do incentivo que a Copa do Mundo representa. “Um evento desse tamanho certamente aquece o mercado, e, por isso, é uma oportunidade para o aperfeiçoamento”, diz Pedro Trengrouse, coordenador de um curso de especialização on-line de gestão, marketing e direito no esporte. Surgido em 2012, ele é oferecido por uma instituição de ensino em parceria com a Federação Internacional de Futebol Associado (Fifa). “A Copa foi, sem dúvida, um catalisador para que o curso fosse criado, pois percebemos a importância da profissionalização relacionada à vinda do campeonato. A primeira turma vai ser formar em maio”, conta Trengrouse. O curso tem duração de um ano e oferece certificado. “O diferencial é que preparamos a pessoa de forma multidisciplinar. Em eventos como a Copa do Mundo, é importante entender a gestão do esporte em diferentes áreas”, Trengrouse comenta ao explicar o
Duilio, ex-jogador de futebol: esforço para continuar na área que tanto gosta
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Outros cursos ◗ A Secretaria de Trabalho do Distrito Federal tem o programa Qualificopa, que oferece formação e capacitação em trabalhos como supervisor de hospedagem, organização de eventos e camareira. ◗ O Sebrae possui um programa que ajuda e orienta empreendedores a estarem bem estruturados para oferecer bons serviços durante o campeonato de futebol mundial. Entre as ações do programa estão inclusos cursos de gestão e empreendedorismo.
porquê de serem ensinadas noções de marketing e de direito. Quem está aproveitando o surgimento desse tipo de curso voltado para a Copa é o ex-jogador profissional de futebol José Duilio, 43 anos, que vai fazer parte da primeira turma de uma pós-graduação em jornalismo esportivo oferecida por uma instituição de ensino na Asa Norte. As aulas estão
previstas para começar em abril e terão um ano e meio de duração. Duilio chegou a jogar no Flamengo quando tinha 15 anos e depois fez carreira em times de Brasília. Hoje, além de ser diretor na organização não governamentalVida Positiva, que cuida de crianças com HIV, ele é também comentarista esportivo em uma rádio de Brasília. “Quando encerrei minha carreira no futebol, em 2004, decidi me graduar em jornalismo. Depois, consegui esse trabalho de comentarista e agora tenho a satisfação de poder seguir trabalhando com o futebol, só que de outra forma”, explica. Para ele, o principal objetivo com a pós-graduação é “poder me qualificar e me aprofundar melhor na minha paixão. É um curso que eu faria de qualquer forma, mesmo se a Copa não viesse ao Brasil”, afirma Duilio. Segundo o ex-jogador, após ter se formado em jornalismo em 2008, ele passou a buscar esse tipo de pós-graduação em Brasília, mas não encontrava. “Felizmente, a Copa vem aí e isso fez com que esse curso finalmente surgisse”, diz.
De acordo com Sergio Galdino, coordenador da pós em jornalismo esportivo, o curso de fato teve a Copa como grande incentivo para ser criado. “Mas isso não significa que vamos dar maior foco ao futebol, pois serão trabalhadas noções de cobertura para diversos esportes, como basquete, tênis, handeball e vôlei”, explica o professor. Duilio aponta a Copa como uma grande oportunidade para crescer. “É lógico que sonho trabalhar ao lado dos grandes nomes do jornalismo esportivo. E fazer esse curso é uma forma de me qualificar para que, quem sabe, um dia eu chegue lá”, afirma. Para ele, tratase de uma oportunidade para ter mais um diferencial. “Já considero que tenho certa vantagem por ter sido jogador profissional e, por isso, tenho uma bagagem diferente da dos demais jornalistas esportivos. E com uma pós assim, poderei me aprofundar mais”, explica Duilio. “Todo mundo precisa se qualificar, e minha formação vai me ajudar a ter mais credibilidade quando eu expuser minha opinião.”
Caminhos do futuro/Um guia educacional completo
“Pós da moda” não funciona o d o profissional se depara com uma importante dúvida: qual a hora certa de fazer uma pós-graduação? A escolha representa um direcionamento na carreira e, se feita da forma apropriada, pode abrir muitas portas no mercado de trabalho. “Exige muito cuidado, porque é um grande investimento, não apenas de dinheiro, mas também de tempo”, afirma Carmen Cavalcanti, especializada em recrutamento e seleção. Segundo ela, a escolha certa depende apenas dos objetivos da pessoa. “O essencial é fazer uma pós para agregar algo à carreira e não apenas porque está na moda”, aponta Carmen.
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Tina Coelho/Esp. CB/D.A Press
AFINAL, QUAL O MOMENTO CERTO PARA DAR UM UPGRADE NA CARREIRA? FAÇA UMA ANÁLISE CUIDADOSA — E NADA DE SEGUIR A MANADA
Para quem está inserido no mercado de trabalho há alguns anos, é preciso, antes de se decidir por uma pósgraduação, observar o próprio percurso profissional já trilhado. De acordo com Carmen, é importante analisar por quais experiências passou, quais desafios foram superados e quais habilidades são bem dominadas. Segundo ela, um engenheiro que atua muito com administração pode fazer um MBA em gestão de empresas, por exemplo. “Mesmo que não seja uma pós na área original dele, esse curso pode alavancá-lo a um ótimo patamar caso ele seja bom e deseje crescer nessa vertente”, explica Carmen.
Há vezes, porém, em que se opta por emendar a graduação com uma pós. É o caso de Isabella Pina, estudante de artes cênicas da Universidade de Brasília (UnB), que mal terminou a monografia e já foi convidada pelo professor orientador para fazer mestrado. “Minha principal motivação ao seguir esse caminho é minha curiosidade e a vontade de me aprofundar mais na relação entre teatro e música, o tema do meu trabalho de conclusão de curso”, explica. Contudo, a estudante afirma não pretender seguir carreira acadêmica e virar professora. “Muita gente emenda os dois cursos justamente para ensinar depois, mas não é o que quero.”
Isabella Pina: da gradução direto para a pós
Como escolher ◗ Estabeleça objetivos de carreira a curto e médio prazo ◗ Pesquise as possibilidades de trabalho que a carreira permite ◗ Identifique os cursos disponíveis ◗ Pesquise sobre as instituições de ensino que oferecem a pós-graduação (preços, qualidade do curso, reputação, etc)
Sustentabilidade gigante oi-se o tempo em que apenas residências mais modernas possuíam sistema de reaproveitamento de água. De acordo com dados do Green Building Council (GBC), organização internacional dedicada à engenharia sustentável, a construção civil é responsável pelo consumo de 21% de toda a água tratada do planeta. Para reduzir esse tipo de impacto, cada vez mais construções de grande porte no Brasil têm investido em projetos que utilizem os recursos hídricos de forma econômica e ambientalmente correta. Um dos principais exemplos disso na capital é o Estádio Nacional Mané Garrincha, atualmente em fase final de reforma para ser inaugurado em 21 de abril, aniversário da capital. A construção contará com cinco cisternas no interior do local, além de um lago externo, todos destinados à retenção da água da chuva para reaproveitamento. “O que for captado será reutilizado principalmente na irrigação do gramado, nos mictórios e nos vasos sanitários”, explica Cláudio Monteiro, secretário extraordinário da Copa do Mundo de 2014. Segundo ele, de todos os estádios nas 12 cidades sedes, o de Brasília será o mais ecológico. “Todos eles têm de atender às exigências básicas da Fifa, mas apenas o daqui tem um projeto que vai além”, comenta Monteiro. A intenção do Governo do Distrito Federal é que o estádio consiga ser o primeiro no país a conquistar o selo Leed Platinum, concedido pelo GBC e reconhecido internacionalmente como garantia de construção ecologicamente responsável.
Tina Coêlho/Esp.CB/D.A Press
Grandes empreendimentos começam a reaproveitar a água em sistemas econômicos e ambientalmente corretos. Essa ação é bem-vinda: 21% de todo o líquido tratado do planeta é consumido apenas pela construção civil
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Segundo Cláudio Monteiro, o Estádio Nacional vai economizar até 80% de água com a captação pluvial e o reaproveitamento durante a Copa
As diferenças O selo Leed possui diferentes níveis, que variam de acordo com a pontuação adquirida pelo empreendimento avaliado, após analisados aspectos como eficiência energética, uso racional da água e materiais, entre outros. Atualmente, existem apenas dois edifícios certificados com o selo de maior valor, o Leed Platinum, localizados em São Paulo.
1 – Básico: de 40 a 49 pontos 2 – Silver: de 50 a 59 pontos 3 – Gold: de 60 a 79 pontos 4 – Platinum: de 80 a 110 pontos
“Queremos que o Mané Garrincha seja referência para outras arenas não só no Brasil, mas também em outros países”, diz Monteiro. Para Marcos Casado, diretortécnico e educacional do GBC Brasil, o mercado de construções sustentáveis de grande porte cresceu muito nos últimos cinco anos. “O GBC chegou ao Brasil em 2007 e, naquele ano, só tivemos oito construções registradas para avaliarmos e concedermos o selo Leed”, explica Casado. “Hoje, já temos 85 empreendimentos certificados e mais 600 em processo de análise.”
De acordo com o diretor, isso se deve não apenas à maior exigência do público por construções ecologicamente corretas, mas também porque percebeuse que um projeto sustentável traz diversos benefícios. “O mercado tem visto que não se trata apenas de poupar mais água. Junto, vem economia nos gastos, uma vez que os recursos hídricos são reaproveitados. Sem contar o fato de que algumas cidades já têm o chamado IPTU Verde, que dá incentivos fiscais a empreendimentos com projetos ecológicos de infraestrutura”, lista Casado. Apesar de tantos incentivos,
ele considera que ainda é baixo o número de grandes construções sustentáveis no Brasil em comparação com países mais desenvolvidos. Uma das razões para isso seria o fato de um empreendimento ecológico custar de 1% a 7% mais caro. “Mas essa apreensão é infundada, pois esse preço que se paga a mais no início é compensado logo depois com a economia resultante do reaproveitamento da água”, explica Casado. “As construções sustentáveis não representam sequer 2% do mercado. Mas não faltam motivos para que esse número cresça. Temos um futuro promissor pela frente.”
o café do Bioon, um ecomercado que trabalha apenas com produtos orgânicos, naturais e ambientalmente corretos, os clientes são surpreendidos quando têm de decidir quanto pagar pelo que consumiram. O estabelecimento é pioneiro em Brasília nesse comércio, conhecido como de “preço justo”. Brownies, sucos naturais, pizzas sem glúten e outras opções estão disponíveis em um cardápio que não exibe preço nenhum. Caso o cliente queira pagar R$ 6 após comer um sanduíche e dois bolinhos de arroz, por exemplo, ele pode. Se preferir ir embora sem gastar um centavo, também. “Quando tivemos a ideia do preço justo, a maioria das pessoas teve uma reação pessimista”, conta Davi Neves, sócio-propietário do Bioon. “O argumento era de que não daria certo porque o povo é desonesto.” Mas a realidade se mostrou diferente: Neves diz que, em quase um ano de funcionamento, apenas cinco clientes foram embora sem pagar. “Certa vez, uma mulher fez isso, mas no mesmo dia ligou para a gente avisando que havia se esquecido de dar o dinheiro. No dia seguinte, ela voltou e pagou”, lembra. A reação do público ao descobrir que ele próprio definirá o preço varia bastante. Uns gostam da ideia, outros chegam a se irritar. “Outro dia veio uma família comer aqui. Quando a mãe descobriu que não definimos o valor a ser pago, ela ficou com raiva e deu bronca, chamando isso de um absurdo”, relata Marcos Lana, atendente do café e que serviu em um restaurante de comida vegetariana na Rio+20. Para quem se incomoda demais em pagar às cegas, existe uma tabela de preços sugeridos guardada com um funcionário. Há quem goste da proposta a ponto de se tornar cliente rotineiro, como Julio Mariano Carvalho, consultor de empresas que frequenta o café de duas a três vezes por semana. “Vim para cá porque descobri a proposta deles do preço justo e resolvi ver como era. Hoje eu sou fã da ideia”, conta. Cristina Flores é um caso diferente: foi ao café sem saber e des-
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12 • Brasília, quarta-feira, 5 de junho de 2013 • CORREIO BRAZILIENSE
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Sócio da loja Bioon, Davi Neves adotou o preço justo no estabelecimento: a iniciativa está ligada à economia solidária, tema da Cúpula dos Povos
Quer pagar quanto? Ecomercado de Brasília deixa cliente escolher o preço do que compra. A prática, ainda pouco explorada na cidade, propõe reflexão sobre consumo consciente
A impressão de que todo mundo é desonesto está bastante errada, poucos foram ‘injustos’ com a gente” Davi Neves, sócio da loja Bioon
cobriu ao entrar. “A proposta é muito interessante. O problema é o cliente pagar de forma justa, pois nem todos conhecem o processo de produção desses alimentos — e não deve ser barato. Assim, ele pode acabar desvalorizando o trabalho”, afirma. O preço justo é uma das ferramentas da chamada economia solidária, preocupada em elaborar práticas que tenham impacto positivo na sociedade de diferentes formas. O tema foi tratado na
Cúpula dos Povos da Rio+20 e resultou em novos debates e ideias. Para Diogo Rêgo, coordenador da Rede Moinho, cooperativa de comércio justo, a prática tem alto caráter educativo. “Quando uma empresa diz aos clientes que são eles que determinam o preço, ela propõe uma reflexão sobre como consumimos”, explica Rêgo. Ele prega que, a partir disso, as pessoas poderiam repensar as práticas e adquirir hábitos cada vez mais sustentáveis.
Para Davi Neves, a experiência funciona porque há equilíbrio nos caixas. “Enquanto alguns pagam menos do que o produto vale, por não terem condições de pagar ou por não terem muita noção do real valor do que consumiram, outros pagam a mais. Um compensa o outro.”
CONFIRA CLN 303, Bloco B, loja 6 - 3326-2944 www.bioon.com.br/web/loja
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4 • Brasília, quarta-feira, 5 de junho de 2013 • CORREIO BRAZILIENSE
Justiça ecológica Tribunal internacional (informal) dedicado a julgar crimes contra a natureza, proposto por político brasileiro há 30 anos, foi levado à França depois de passar pela conferência relação entre homem e natureza alcançou patamares tão graves nas últimas décadas que casos de agressão ao meio ambiente não podem mais passar impunes. Essa é a lógica defendida por um grupo de políticos, sociólogos e outros pensadores que criaram o Tribunal pelos Crimes Contra a Natureza. A proposta é julgar, com visibilidade mundial, ações prejudiciais que deveriam ser consideradas delitos. O tribunal, porém, não teria o poder de aplicar penas. “É o que tem feito a Comissão da Verdade, por exemplo. Não vamos prender ninguém, mas a gente vai criar uma punição moral”, explica o senador Cristovam Buarque, que fez a proposta inicialmente em 1980, inspirado no Tribunal Russell. “A intenção é afetar a imagem do culpado perante o mundo”, afirma o político. Apesar de a ideia existir desde então, só agora ela seguiu adiante. “Achei que poderia ser um legado para Rio+20 deixar, mas os governos não se interessaram”, conta Buarque, que a apresentou na Cúpula dos Povos. O grupo liderado pelo sociólogo francês Edgar Morin, no entanto, gostou do conceito e decidiu ajudar. Após divulgar a proposta no Brasil e no Equador, Cristovam e o sociólogo Elimar Pinheiro continuaram os planos de concretizar o tribunal com a ajuda do Centro Edgar Morin, em Paris.
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Tribunal Russell Criado em 1966 pelo filósofo britânico Bertrand Russell, foi responsável por julgar crimes cometidos por soldados norteamericanos no Vietnã. Também chamado de Tribunal Internacional de Crimes de Guerra, era opinativo e não aplicava penas. Entre os nomes conhecidos, reunia o escritor Julio Cortázar e o filósofo francês Jean-Paul Sartre.
Segundo Pinheiro, ainda não há um consenso sobre os tipos de casos julgados, mas ele acredita que o melhor seja tratar de crimes que envolvam mais de um país. “É como a questão do efeito estufa, que afeta o mundo todo”, afirma o sociólogo. “Em casos assim, sabe-se quais países abrigam empresas que podem ser responsabilizadas pelo dano ecológico em diferentes partes do planeta.” Atualmente, o tribunal está na etapa de preparação. O francês Alfredo Vega, um dos coordenadores do projeto no Centro Edgar Morin, está convidando nomes importantes para compor o que ele chama de comitê de sábios. “São 20 pessoas de alto nível moral. Inclusive, vamos convidar vencedores do Prêmio Nobel”, explica. Segundo Cristovam Buarque, esse grupo responsável
O sociólogo Elimar Pinheiro defende a criação do órgão internacional: a sociedade pode pressionar governos por analisar os casos selecionados será composto por figuras de credibilidade para que a posição tomada “não pareça uma decisão leviana ou superficial”. Há um aspecto, porém, que diferencia bastante esse projeto do Tribunal Russell: a internet. Está definido que a participação da sociedade civil por meio virtual é importante. No momento,
já está disponível no site do tribunal uma pesquisa em sete idiomas para saber o que a população mundial considera crime contra a natureza. “Nossa função no tribunal é também tocar na sensibilidade da população para que ela possa ser receptiva às informações que a mídia e os cientistas produzem a respeito desses fenômenos. É
assim que ela fará pressão aos governos”, explica Elimar Pinheiro. Ainda de acordo com o sociólogo, serão os internautas que decidirão se um caso escolhido pelo tribunal deve realmente ser julgado ou não.
SAIBA MAIS www.tribunal-nature.org
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24 • Brasília, domingo, 21 de abril de 2013 • CORREIO BRAZILIENSE
Juventude fora dos eixos Onde estão os rebeldes? Plebe Rude A banda ainda existe,mas não com a formação original,da qual restaram Philippe Seabra (guitarra e vocal) e André Mueller (baixo).Completam o grupo hoje Clemente Nascimento (guitarra e segunda voz) e Marcelo Capucci (bateria).Segundo Philippe,a Plebe vai lançar um disco novo ainda este ano,no final de maio. Além disso,o músico compôs a trilha sonora de Faroeste Caboclo, novo filme de René Sampaio baseado na canção escrita por Renato Russo.
Irmãos Fê e Flávio Lemos
O Aborto Elétrico fazia apresentações em esquema de guerrilha nas superquadras
Após o fim do Aborto Elétrico em 1982,os dois formaram a banda da qual são integrantes até hoje,o Capital Inicial,cuja formação atual conta ainda com Dinho Ouro Preto (vocal) eYves Passarel. O grupo lançou,em novembro do ano passado,um disco de estúdio, chamado Saturno.
Cascão Londres do fim da década de 1970 fervilhava. Chocada, a sociedade via jovens sem conhecimento musical formarem bandas. Com penteados pontiagudos e roupas rasgadas, eles eram agressivos e criticavam o sistema político, considerado por eles caduco, com palavras e performances de espírito anárquico, Tal descrição, contudo, poderia servir também para a Brasília mergulhada na ditadura militar na transição entre os anos 1970 e 1980, quando grupos como Aborto Elétrico, Plebe Rude e Detrito Federal mostraram que ser punk não era exclusividade dos ingleses. Foi graças às viagens internacionais de alguns garotos da Colina, setor habitacional pertencente à Universidade de Brasília (UnB), que o punk rock pôde se irradiar na nova capital. Os irmãos Fê e Flávio Lemos, futuros membros do Aborto Elétrico e do Capital Inicial, foram viver com a família durante um ano em Leicester, na Inglaterra. André Mueller, que se tornaria André X, baixista da Plebe Rude, também passou um tempo na Grã-Bretanha. Era o fim dos anos 1970 e bandas como Sex Pistols, The Clash e Buzzcocks explodiam nas páginas de jornais e revistas, além de tocarem na rádio com enorme sucesso na terra da rainha Elizabeth. Não demorou para o novo rock britânico conquistar esses jovens brasileiros. “A sonoridade era diferente, as letras eram boas e a atitude chamava muito a atenção”, lembra Flávio. O irmão maior, Fê, então com 15 anos, gostou tanto do punk que passou a se vestir a caráter para ir à escola. Em pouco tempo, o futuro baterista também começou a ir a shows de bandas como The Clash e Buzzcocks. De volta a Brasília em 1978, os irmãos Lemos perceberam que o punk rock era praticamente desconhecido entre a turma da Colina. “Tivemos a impressão de que nossos amigos tinham ficado parados no tempo”, conta Fê. Mas não demorou para ele um dia conhecer o jovem Renato Russo em uma festa. “Finalmente, eu havia encontrado alguém que também tinha discos de punk como eu”, relembra Fê. Nos meses seguintes, os dois formaram o Aborto Elétrico, juntamente com André Pretorius, filho do então embaixador da África do Sul no Brasil. Com os primeiros alvoroços do punk rock por aqui, o estilo começou a se propagar entre a turma, o que não teria ocorrido com muita facilidade se não fosse pelo fato de Brasília abrigar as embaixadas. “Os diplomatas eram a nossa internet”, brinca Philippe Seabra, vocalista da Plebe Rude. “Com eles, a gente tinha acesso ao mundo inteiro, conseguíamos os discos quase imediatamente. Saía um álbum lá fora e quatro dias depois a gente já tinha em mãos”, relata.
PELO FIM DA REPRESSÃO
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No início da década de 1980, a capital se tornou sede de bandas punks que ousaram contestar a repressão da ditadura militar. Músicos relembram as aventuras e desventuras dos tempos de rebeldia
A presença de muitos diplomatas não era a única característica de Brasília que a tornou um local propício para a popularização do punk. Jovens na faixa etária de 15 anos moravam em uma cidade com pouco mais de 20 anos de existência e eles, frequentemente, viam-se sem muito o que fazer em um lugar tão novo. “A gente estava em uma capital sem identidade, em meio a um marasmo cultural”, afirma Philippe Seabra. Para muitos jovens, Brasília era parada, um deserto sem programas interessantes. “Se a gente não tinha festa para ir, parávamos um carro em uma quebrada, colocávamos música para tocar no som e abríamos o vinho”, relata Philippe. Segundo o músico, a pacata Brasília obrigava a turma a aderir à cultura do faça você mesmo, lema do punk rock. “Não havia lojas para comprar camisetas ou bottons de grupos estrangeiros, então nós mesmos produzíamos esse tipo de coisa sozinhos. Eventualmente, a brincadeira evoluiu e formamos nossas próprias bandas também”, conta Philippe. Mas havia um elemento em especial que servia de faísca para que o punk se consolidasse de vez em Brasília: a repressão do governo militar gerava indignação entre a turma. O ex-vocalista do Detrito Federal Paulo Cesar Cascão relembra como se sentia na época. “A gente tinha um grande objetivo: a redemocratização do país. O punk tinha um discurso muito interessante contra a ditadura e chamava a atenção de quem queria chutar a bunda de um general”. Os jovens moravam em uma cidade sem nada para fazer e que era o berço da ditadura. “Sendo um adolescente com as emoções à flor da pele e vivendo em uma capital reprimida, com censura, só podia dar no que deu”, comenta Philippe. “O punk rock desafiava os jovens a fazer alguma coisa e não ficarem de braços cruzados.” Com a revolta contra a repressão militar, as bandas perceberam que poderiam servir como porta-vozes dos inconformados, em um esforço de mudança real. Para Fê Lemos, o punk representou o despertar do senso crítico. “Você percebia a sociedade de uma forma diferente, conseguia enxergar os podres. Então, você passava a se ver como algo além de uma peça a ser manipulada”, diz Fê. Já na função de baterista do Aborto Elétrico na época, o músico via o grupo como uma arma poderosa para questionar o sistema. “A gente tinha algo que a maioria dos outros jovens não tinha. Conseguíamos causar ruído, chamar a atenção e, principalmente, irritar, criar polêmica. Ter uma banda era uma ferramenta maravilhosa.”
A contestação serviu de estopim para episódios memoráveis para os jovens. Cascão lembra quando, em 1983, apresentava-se com a banda Ratos do Cerrado. “Era a época do movimento Diretas Já e, no meio de uma canção, comecei a gritar junto com o público o slogan da campanha. Aí alguém de trás do palco começou a puxar meu microfone pelo cabo, até ele sair da minha mão e ser arrastado para longe”. O ex-vocalista afirma que não conseguia ver quem fez aquilo, mas tem uma ideia bem clara do que pode ter acontecido. “Era a polícia política, com certeza deveria ser algum informante. A gente estava em um show com vários jovens contestando a ditadura. Mas, mesmo sem microfone, segui cantando com a galera por eleições diretas.”
BADERNAS Como não poderia deixar de ser, os jovens fãs do punk em Brasília às vezes arranjavam encrenca e causavam problemas. Fê Lemos e os amigos gostavam de entrar de penetras em festas e trocar a música que estivesse tocando por fitas de punk rock. Mas, por mais que a intenção fosse chocar, algumas vezes as pessoas gostavam das canções rápidas. Fê relembra outro episódio, desta vez na companhia de Renato Russo. “A gente teve a ideia de assustar os guardinhas que ficavam vigiando as entradas do Minhocão [apelido do principal prédio do campus Darcy Ribeiro da UnB] à noite. Então eu e Renato decidimos pegar várias lâmpadas fosforescentes e nos aproximarmos escondidos deles. Começamos a jogá-las no chão e cada estouro fazia muito barulho, parecia que alguém estava dando tiros”, relata o músico. Os dois fugiram aos risos, mas, após certo tempo, ouviram o sinal do carro dos guardas se aproximar. “Nesse momento, a gente ficou desesperado. O Renato disse que seríamos pegos e saiu correndo como nunca, criou asas nas pernas”, lembra Fê. A dupla conseguiu se afastar e saiu impune. Também é famosa a rixa existente entre os punks e os playboys naquela época. “Eles ficavam meio irritados porque as meninas bonitas andavam com a gente, apesar de termos calhambeques caindo aos pedaços e eles terem carrões”, lembra Philippe Seabra. Para Cascão, as eventuais brigas entre tribos ocorriam por um motivo claro. “Eles se incomodavam porque a gente era muito diferente, nós incomodávamos mesmo. E aí rolava porrada de vez em quando”, explica. Ao analisar em retrospectiva, Philippe brinca com a situação. “A nossa vingança foi que eles passaram a comprar os nossos discos depois.”
O ex-membro do Detrito Federal chegou a trabalhar naWarner Music, foi gerente de loja de discos e DJ durante os anos 1990. No fim dessa década, ele começou a exercer a profissão de advogado e hoje trabalha em firma própriano Lago Sul.
Poesia punk Veraneio Vascaína (Aborto Elétrico) “Se eles vêm com fogo em cima, é melhor sair da frente Tanto faz, ninguém se importa se você é inocente Com uma arma na mão eu boto fogo no país E não vai ter problema eu sei estou do lado da lei Cuidado, pessoal, lá vem vindo a veraneio Toda pintada de preto, branco, cinza e vermelho Com números do lado, dentro dois ou três tarados Assassinos armados, uniformizados”
Geração Coca-Cola (Aborto Elétrico) Depois de vinte anos na escola Não é difícil aprender Todas as manhas do seu jogo sujo Não é assim que tem que ser Vamos fazer nosso dever de casa E aí então, vocês vão ver Suas crianças derrubando reis Fazer comédia no cinema com as suas leis
Censura (Plebe Rude) “Contra a nossa arte está a censura abaixo a postura, viva a ditadura Jardel com travesti, censor com bisturi corta toda música que você não vao ouvir”
Brasil (Detrito Federal) “Se elege o presidente militar parlamentar Na realidade tudo é desculpa Para um idiota que não sabe governar Do Oiapoque ao Chui o Brasil foi colonizado Pelo BID, e o FMI, pelo BID e o FMI”
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CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, domingo, 21 de abril de 2013 • 15
Viola Júnior/Esp. CB/D.A Press
Integrantes da primeira Micarecandanga
Capital boa de folia
Blocos de Durval Lélys e Daniela Mercury
Ao longo das décadas, Brasília se mostrou uma das cidades mais receptivas ao axé. O Chiclete com Banana, por exemplo, cost u m a s e a p re s e n t a r p o r aqui de duas a três vezes p o r a n o, a s s i m c o m o o s outros grandes nomes do estilo. A cidade também serviu de palco para artistas locais. Na década de 1 9 9 0 , o g r u p o Tre m d a s Cores fazia sucesso ao interpretar canções de outras bandas e músicas próprias. Eles se apresentaram em boates de Taguatinga e ParkShopping, entre outras. Outro nome conhecido da cena candanga é mais recente e segue na ativa: a cantora Adriana Samartini. A artista começou a chamar a atenção ao interpretar canções de grandes nomes do axé, como Ivete Sangalo, e, com o passar do tempo, acrescentou ao repertório canções originais e outros estilos, como MPB. Segundo Adriana, a música baiana foi par te importante da vida adolescente. “Quando completei 15 anos de idade, pedi de presente de aniversário um abadá para ver o Chiclete com Banana”, relembra. Hoje, ela conta que já se apresentou em cidades como Salvador e Rio de Janeiro, além de ter realizado um sonho. “Ano passado tive a oportunidade de dividir o palco com Durval Lelys [vocalista do Asa de Águia], que sempre foi uma grande inspiração”, conta a cantora.
Nana Banana Comandado pelo Chiclete com Banana
Pérolas Adriana Samartini, na beira do Paranoá: abadá de presente de 15 anos
Aê, aê, aê, hêêhêêhê N Asa de Águia e de Daniela Mercury, o carnaval fora de época partia do Eixão Norte, na altura da 106, e terminava no Estádio Mané Garrincha, percurso que foi repetido no ano seguinte. Em 1993, o palco do evento foi a Esplanada dos Ministérios. Lá, os nomes de maior expressão do gênero, como Chiclete com Banana, Banda Eva e Cheiro de Amor, apresentaramse para o público da rua e dos camarotes montados em frente ao Congresso Nacional. A folia no local, porém, incomodou políticos e representantes da Igreja Católica, que prontamente pediram a transferência do evento para outro local. De 1997 a 2000, a Micarecandanga passaria a ser realizada próximo à Torre de TV; depois,noAutódromoNelsonPiquet, primeiro local fechado a receber a festa. A partir de 2005, a Micarecandanga mudou oficialmente de nomeepassouasechamarBrasília Indoor, como é conhecida até hoje.
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Com canções alegres e shows animados, o axé estourou em Brasília nos anos 1990, em carnavais fora de época (aqui, a Micarecandanga). A cidade continua palco consumidor do ritmo
os anos 1980, Brasília era conhecida no Brasil, e por que não, no mundo, como a capital do rock. Paralelamente, outro movimento musical chegava à cidade e conquistava fãs adoidado. O ritmo era alegre; as letras despojadas (às vezes, ingênuas e de mau gosto); e os shows, frenéticos. Aí, o axé music explodiu. Os primeiros acordes do estilo baiano começaram a ser ouvidos por volta de 1988, quando a boate Zoom recebeu o grupo Reflexu’s, em julho daquele ano. Em seguida, viriam as apresentações da banda Eva (na época, ainda com Daniela Mercury) e da Beijo, com o vocalista Netinho, no estacionamento do Gilberto Salomão. Outro local que tocava axé music era a Hyppo’s, onde havia a Noite Bahia-Caribe todas as quartas-feiras, às 22h. Mas foi com a primeira edição da Micarecandanga, em 1991, que o ritmo começou a estourar em Brasília. Com apresentações do
A saída das ruas e a adoção do modelo indoor se deram, principalmente, por conta de constantes problemas de segurança, como assaltos e brigas em meio ao numeroso público, que chegou a contar com 200 mil pessoas em uma edição realizada próximo à Torre deTV. Para o bancário André Macarini, que frequentou as Micarecandangas de rua, o modelo em local fechado é mais conveniente hoje. “Quando a gente é jovem, tem mais disposição de sair naquela multidão. Hoje em dia, eu prefiro ter mais conforto e segurança, então é melhor o evento indoor”, diz Macarini. Para o vocalista do grupo Chiclete com Banana, Bell Marques, a diferença entre tocar na rua e em local fechado é grande. “Sentimos muita falta de tocar em rua aqui, porque tem uma magia diferente, mas entendemos que o indoor funciona e é mais seguro”, afirma o músico.
Se você é chicleteiro (Chiclete com Banana) "Se você é chicleteiro Deus te abençoa Se você não é, Deus te perdoa" Dança do Vampiro (Asa de Águia) Gatinha põe o dente No pescoço do rapaz Na dança do vampiro Você se satisfaz... Arerê (Banda Eva) Arerê, Um lobby, um hobby, um love Com você, ê ê Arerê,
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CORREIO BRAZILIENSE • Brasília,QUARTA-FEIRA, de 2013 • C•ORREIO BRAZILIENSE • BRASÍLIA, 5 DE JUNHO DE 2013
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Tina Coêlho/Esp. CB/D.A Press
PEQUENOS EMPRESÁRIOS, NO CENTRO DA CIDADE, CONSERVAM ATIVIDADES QUE RESISTEM AO TEMPO E CONTRIBUEM COM A ECONOMIA LOCAL
Tina Coêlho/Esp. CB/D.A Press
Dentro de uma Kombi, Adriano Brandão vende livros usados: os preços são até 30% mais baixos
A PRAÇA DOS AUTÔNOMOS
Foto em três minutos Alguns passos mais para baixo, em direção ao relógio da praça, e pode-se encontrar um senhor ao lado de uma singela cabine branca, com um teto e uma lâmpada branca pendendo. Tratase de Francisco Xavier Bezerra, 62 anos, fotógrafo que, há 40 anos, faz retratos 3x4. “Quando cheguei em Taguatinga, comecei a trabalhar em obras, mas logo vi que fotografar não só era mais fácil como também dava mais dinheiro, então comecei a realizar essa função”, explica Bezerra.
Hoje, ele está totalmente adaptado aos tempos digitais. Uma mulher se aproxima e pergunta em quanto tempo fica pronta uma série de fotos 3x4. “Em três minutos só”, responde o fotógrafo. O processo é, de fato, rápido. Quando a cliente se senta, Bezerra acende a lâmpada, bate a foto, conecta o aparelho a uma impressora e, um minuto depois, sai a imagem da mulher repetida oito vezes em uma folha. Ele corta cada retrato, entrega-os e recebe os R$ 12 cobrados pelo serviço. Segundo Bezerra, com o passar do tempo a clientela diminuiu, em parte por conta da facilidade que as câmeras digitais trouxeram. Mas, mesmo assim, não falta trabalho. “Se não estivesse dando certo, eu não estaria aqui ainda mexendo com isso”, assegura Bezerra. Quando perguntado sobre qual é a maior vantagem em ser autônomo, ele não hesita. “É poder fazer as coisas do jeito que você quer. Quem trabalha em uma empresa, para outra pessoa, só enriquece o patrão”, brinca. Outro negócio de tradição nas redondezas da praça é a Banca Vilela, com 35 anos de existência. Referência para outras bancas de revistas no local, ela foi fundada por Ailton Vilela, que comandou o estabelecimento com a ajuda da família até morrer, em 2009. Hoje, quem dirige o lugar é o filho, Rafael. “Sempre deu muito certo; com os lucros daqui, ele sustentou três filhos”, explica. De acordo com o proprietário, para ter sucesso como autônomo, é preciso muito empenho. “Nesse ramo, o que você ganha é diretamente proporcional ao seu esforço.”
Francisco Bezerra tira fotos há 40 anos no centro da cidade: apesar da diminuição da clientela, não falta trabalho para o autônomo Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 31/3/10
27 ANOS DA ACADEMIA DE LETRAS A Academia Taguatinguense de Letras (ATL) completa hoje 27 anos de existência com uma cerimônia especial, a partira das 19h, no auditório da Administração Regional de Taguatinga. No evento, haverá a posse dos novos acadêmicos honorários, dos correspondentes e dos beneméritos. Em 7 de junho, a ATL será homenageada pela Câmara Legislativa do DF em sessão solene no plenário, ocasião em que cada acadêmico receberá moção de louvor em reconhecimento pelo trabalho dedicado à educação, à cultura e à arte.
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uem tira alguns minutos para andar em volta da Praça do Relógio, em Taguatinga, pode encontrar diversos tipos de estabelecimentos comerciais, como lojas de eletrodomésticos, esportes, roupas e óticas. Mas um olhar mais atento revela pequenos empreendimentos que resistem à passagem do tempo e oferecem diferentes serviços para quem passa pelo lugar diariamente. Lá estão desde os tradicionais camelôs até um sebo montado dentro de uma Kombi. São figuras cotidianas que compõem o cenário dos autônomos do ponto central da cidade. A inusitada livraria dentro do automóvel se chama Cultura Universal e fica estrategicamente situada perto dos pontos de ônibus. O dono, Adriano Brandão, 27 anos, abriu o negócio com um amigo após terminar o colégio em Micaraí (BA) e chegar em Taguatinga, em 2008. Com o passar do tempo, o sócio desfez a parceria e Brandão passou a ser o único proprietário do carro literário. “Tínhamos visto esse modelo de sebo em Kombis antes. Gostamos da ideia e criamos a nossa aqui”, relembra o vendedor, que gosta de ler, principalmente, obras de filosofia. “Nietzche é um dos meus preferidos.” De segunda a sábado, Brandão chega ao seu posto às 7h e gasta cerca de uma hora para abrir a Kombi e retirar de dentro as publicações que serão expostas em pilhas e estantes armadas do lado de fora. Segundo ele, o tipo de literatura que mais vende é a estrangeira. Um dos grandes best-sellers do sebo é o mesmo das livrarias maiores: 50 tons de cinza. “Mas os clientes são bem ecléticos. Compram livros nacionais, didáticos, para concurso e por aí vai”, explica Brandão. Entre as vantagens do negócio, ele lista a localização privilegiada, onde passam centenas de pessoas diariamente, e o preço menor. “Vendo com valores normalmente 30% mais baratos do que os das grandes lojas”, explica.
Os ambulantes da Praça do Relógio: ilegalidade combatida pela administração
A CALÇADA DOS FORA DA LEI Quem caminha pela Praça do Relógio também encontra outro tipo de autônomo: os camelôs. São homens e mulheres que vendem frutas, sandálias, capas de celular e bijuterias, entre outros produtos. A atuação deles é, porém, uma das principais atividades combatidas pela administração regional. “Essas pessoas estão em situação irregular, pois não têm autorização para vender produtos ali”, explica Giovane Corradi, gerente de Serviços Públicos da Administração de Taguatinga. Para tentar inibir esse tipo de comércio,
patrulhas ficam todos os dias em ronda para fiscalizar. Há, no entanto, quem consiga bons lucros com o comércio de calçada. De acordo com um vendedor de cocadas da Praça do Relógio, há um camelô de capas de telefones celulares que acaba de se formar em uma faculdade particular, pagando as mensalidades com a ajuda do lucro de vendas. Segundo Corradi, caso algum desses vendedores queira se regularizar, existe a possibilidade. “Mas eles não têm interesse e isso só dificulta o nosso trabalho.”
PALAVRA DE ESPECIALISTA
POR QUE O SEBO NA KOMBI DEU CERTO Surpreende-me bastante saber que um dos autônomos de mais sucesso na Praça do Relógio seja um sebo dentro de uma Kombi. Afinal, há estabelecimentos desse tipo que cresceram muito, como o da 406 Norte, mas, normalmente, vender livros é uma atividade que demanda espaço. O dono tem sucesso por uma série de fatores prováveis. Primeiramente, há a questão da localização, que é estratégica. Ele conseguiu conquistar um espaço em uma área extremamente movimentada, algo bom para atrair os clientes. Depois, tem o quesito seriedade. Se ele não fornecesse bons produtos, o negócio não teria dado certo. E, além disso tudo, ele conseguiu autorização para vender naquele lugar, muito provavelmente porque a administração se sentiria desencorajada a proibir alguém de vender livros, de vender cultura. Não é como se ele estivesse vendendo alimentos de origem duvidosa. Roberto Piscitelli, professor de economia da Universidade de Brasília
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2/3 • Turismo • Brasília, quarta-feira, 24 de julho de 2013 • CORREIO BRAZILIENSE
AÇÃO E TERROR
Cenários de aventuras Cecília Pinto Coelho/Divulgação
Nem todos os locais exóticos dos filmes de aventura ou cenários assustadores dos longas de suspense são criados em estúdio. Descubra que ver esses lugares nas telonas e depois visitá-los não é ficção e reserva muitas surpresas
Petra, Jordânia Em Indiana Jones e a última cruzada, terceira aventura da série de filmes protagonizada por Harrison Ford, uma das cenas finais mostra o arqueólogo se aproximando de uma impressionante construção esculpida em uma alta parede vermelha, que serve de entrada para uma caverna onde estaria localizado o Santo Graal, mítica relíquia sagrada. O visual do lugar pode parecer fantasioso, mas se trata de Al Khazneh, uma das principais atrações de Petra. Além da impressionante arquitetura em pedra, o lugar impressiona pela combinação entre arquitetura e natureza. Construída pelos nabeteus, um povo árabe que ali viveu por 2 mil anos, a cidade contém templos, altares e 500 túmulos esculpidos em rocha. Por causa da beleza e da história, o local foi tombado como Patrimônio Mundial pela Unesco e eleita uma das sete maravilhas do mundo moderno. Os turistas que quiserem conhecer melhor o lugar podem ainda visitar o Museus Nabeteu e o Museu Arqueológico.
oragem e medo sempre andaram juntos. No cinema ou na vida real, o lugar é essencial para despertar esses sentimentos. Em filmes de aventura, suspense ou terror, o cenário pode ser simples, contendo apenas uma casa escura, em que portas e janelas abrem e rangem a qualquer instante, ou complexo, como um belo museu com mais de 300 anos, vários andares e arquitetura admirável. Há vários destinos que despertam o espírito aventureiro de qualquer um, como o Monument Valley, nos Estados Unidos, onde é possível passear nas areias vermelhas que serviram de palco para o longa Missão impossível 2. Na Ilha Kaui, no Havaí, o visitante pode realizar atividades de tirar o fôlego e se sentir um verdadeiro Indiana Jones. Turquia, Jordânia, e Hobbiton, na Nova Zelândia, onde está a vila de Frodo, da trilogia O senhor dos anéis, também foram cenários de grandes clássicos que viraram atrações turísticas. Para quem quer vencer o medo e ir a algum lugar horripilante visto no cinema, uma boa pedida é o assombroso Castelo do Drácula, na Transilvânia, ou o Glamis Castle, que coleciona várias lendas assustadoras. O roteiro obscuro mostra ainda Londres e Paris.
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Monument Valley, Estados Unidos As imponentes formações de rocha avermelhada e o amplo terreno de MonumentValley podem parecer bastante familiares a vários fãs do cinema. O local, que fica na fronteira entre os estados do Arizona e de Utah, nos Estados Unidos, serviu de cenário para diversos filmes de faroeste. Lá foram feitas as filmagens de três longas-metragens de John Ford, um dos maiores diretores do gênero: No tempo das diligências, Sangue de heróis e Rastros de ódio. Também passaram pela locação as produções de Era uma vez no oeste, De volta para o futuro — parte III e Missão impossível 2. Lá, turistas têm a oportunidade de conhecer o Parque Tribal Navajo, todo localizado em território indígena, onde é possível percorrer trilhas e ter uma vista mais próxima das imensas rochas que compõem a paisagem. Também existem passeios de jipe e um restaurante com comida típica. Para descansar dentro do parque, duas opções podem ser interessantes: o TheView Hotel ou o camping MittenView.
Polihale/Divulgação
Maciej Lewandowski/Divulgação
Ilha Kauai, Havaí Com uma rica e variada paisagem natural, a Ilha Kauai, a quarta maior do arquipélago do Havaí, serviu de locação por causa dos vales, das montanhas e das praias. Diversas cenas de Jurassic park – O parque dos dinossauros foram filmadas lá. A ilha também recebeu as produções de Os caçadores da arca perdida, Trovão tropical e Piratas do caribe: navegando em águas misteriosas. As principais programações turísticas de Kauai envolvem atividades em contato com a natureza, como snorkel, caiaque e zipline. Alguns pontos são acessíveis apenas por trilha, por mar ou via aérea, o que dá a oportunidade de explorar a ilha ainda mais a caminho de destinos novos. Lá está também o Cânion Waimea, considerado o “Grand Canyon do Pacífico”, que oferece uma vista panorâmica de diversos vales.
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