Bichos do
lixo Ferreira Gullar
Bichos do
lixo Ferreira Gullar
Ao leitor A palavra lixo nos faz pensar em sujeira, mas não é este o caso aqui. Este é um lixo limpo, colorido, que, não obstante, iria certamente para a lixeira, não fosse esta minha mania de brincar com restos de envelopes, convites, propagandas, revistas, calendários, catálogos e muitos outros materiais em papel que recebo pelos correios. Na verdade, brinco com as possibilidades do acaso, isto é, com a probabilidade de que, lançados a esmo, os recortes coloridos façam nascer alguma coisa: um bicho, por exemplo. Um bicho que eu identifico aleatoriamente como uma ave e você talvez o identificasse como outro animal qualquer. Animal que, aliás, não precisa existir. É em suma uma brincadeira. Divirta-se. F.G.
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O lagarto verde 
Este animal ĂŠ feito de papel e acaso.
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A danรงarina
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Quando ela danรงa, a fauna inteira danรงa com ela.
Seres azuis
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Aqui, diferentemente da natureza, a essĂŞncia dos seres ĂŠ a cor.
Pássaro no ninho Sei que as coisas não estão claras. Quanto ao pássaro, acho que sim, é um pássaro.
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Mas se não está no ninho, está onde? In dubio pro reo.
O gato que ri
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Ele surgiu assim, de repente, em meio a retalhos coloridos, rindo nĂŁo se sabe de quĂŞ.
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C
até e , o r la
pa
au. p e d rece
Não está evidente que tem uma perna menor que a outra?
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O manco
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Sua Majestade, o Urubu
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Quem é rei não perde a majestade. Mesmo se não cheira bem.
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• 38
Filhote Está na cara que é filhote, só que de outra mãe.
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Bichos verdes Certos seres valem pelo que mostram. Nesses casos, as aparĂŞncias nĂŁo enganam.
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Ave de
o.
briga orça f a é , z uem di
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q u e u o s Não
d
que m e g a a im
oa
. Eu u o i r c o cas
só
cas a o i e d aju
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Dr. Urubu Doutor urubu, a coisa tรก preta.
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Canguru Se isso não é canguru, é o quê?
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Cachorro
É enfeitado demais para ser um cachorro?
Sim, mas há cachorro de todo tipo e tamanho. Em matéria de cachorros, a natureza é muito inventiva.
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O mordomo da floresta
Ele é bicho, como se vê, mas tem a cor e o silêncio dos vegetais.
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Solene, para estar a serviço da realeza.
Maternidade
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É próprio da mãe reconhecer o filho – até mesmo quando não é dela.
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Pรกssaro Quixote
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Ele anda preparado para uma batalha que nรฃo hรก. Por isso, ataca moinhos de vento.
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Jacarés Há jacarés e jacarés. O pantanal está cheio deles.
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Já eu me sinto mais à vontade com estes, de papel.
O louva-deus
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Bicho prestigiador, que a todos encanta e engana.
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Habitantes da รกgua
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sia.
Hรก mais peixes de diferentes feitios do que sonha a nossa fanta
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Abre-alas Esta ĂŠ a verdadeira vaca louca que, quando se invoca, saiam todos da frente.
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Ele 茅 s贸 garganta
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Que culpa tem o coitado de ter nascido assim?
Ferreira Gullar é um poeta diferente. Até porque não é apenas poeta – é também crítico de arte, tradutor e ensaísta. É que Gullar gosta muito de palavras, mas também de imagens, suas formas, cores e surpresas. Há alguns anos, descobriu que também gosta muito de bichos, principalmente aqueles que cria ao acaso com pedaços de papel, tesoura e cola. Eles estão sempre por perto, assim como Gatinha, sua gata siamesa, de carne, osso e olhos azuis. Gullar nasceu em São Luís do Maranhão em 10 de setembro de 1930 e foi batizado José de Ribamar Ferreira. Aos 19 anos, publicou seu primeiro livro de poesia, Um pouco acima do chão, e dois anos mais tarde mudou-se para o Rio de Janeiro, cidade em que mora até hoje. Em mais de seis décadas, colaborou para jornais e revistas, escreveu peças de teatro, diversos ensaios e publicou algumas das mais importantes obras da poesia brasileira como o Poema sujo, escrito nos anos 1970, período em que esteve exilado, e os livros A luta corporal (1954), Dentro da noite veloz (1975), Na vertigem do dia (1980), Barulhos (1987) e Muitas vozes (1999). Em 2010 ganhou o Prêmio Camões, o mais importante da língua portuguesa, pelo conjunto de sua obra. No mesmo ano, lançou mais um livro de poemas, Em alguma parte alguma (José Olympio), e uma edição apresentando sua Zoologia bizarra (Casa da Palavra), eleito pela Academia Brasileira de Letras a melhor obra infantojuvenil do ano. Em 2012, as ilustrações que fez para seu livro Bananas podres (Casa da Palavra) deu a Gullar o Prêmio Jabuti, o primeiro que ganhou como ilustrador. É que Gullar adora novidades. E o melhor: diverte-se muito com elas.
© 2013 desta edição Casa da Palavra © 2013 Ferreira Gullar Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610, de 19.2.1998 É proibida a reprodução total ou parcial sem a expressa anuência da editora. Direção editorial Ana Cecilia Impellizieri Martins e Martha Ribas Coordenação editorial Renata Nakano Projeto gráfico e direção de arte Tratamento de imagens revisão
Mayumi Okuyama
Trio Studio
Duda Costa
Este livro foi revisado segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil desde 2009.
cip brasil. catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, rj G983b Gullar, Ferreira, 1930Bichos do lixo / Ferreira Gullar. – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013. il.
isbn 978-85-7734-330-0
1. Literatura infantojuvenil brasileira. i. Título. 12-9021 10.12.12 13.12.12
cdd 028.5
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Beijo e tchau. Este livro foi composto com a fonte Gazz e impresso em offset 120g, pela Grรกfica Santa Marta, em janeiro de 2013.
Selo para utilização na quarta capa Escala 1:1 Atualizado em 17/05/2011 Não há regra para posicionamento na página
Constelação Ao olhar para o céu, muitas pessoas veem um touro nas estrelas. Outras, ao olhar para o lixo, veem o mesmo touro em restos de papel. E se continuam observando aqueles pequenos recortes, veem surgir, ao lado do bicho, as estrelas que antes só brilhavam no céu.
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E você, o que consegue ver nestes Bichos do lixo?
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www.casadapalavra.com.br
ISBN 978-85-7734-330-0