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PROVÍNCIA

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OBSERVAÇÃO

OBSERVAÇÃO

SILÊNCIO DAS ARMAS EMBALA O RITMO LENTO DA ESTABILIDADE

O porto da Beira, a linha de Sena, a Zona Económica Especial de Manga Munga-Mungassa e o Parque Nacional da Gorongosa estão entre os principais motivos para acreditar no futuro da Província de Sofala, onde o crescimento foi interrompido pelas armas, mas que hoje testemunha um retorno à estabilidade política e social

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o franco crescimento da actividade

económica que se registava há alguns anos foi interrompido pelo ressurgimento do conflito político-militar na serra do Gorongosa, e o relógio parece ter andado para trás no tempo. Mas, de há alguns meses a esta parte, ele parece ter-se voltado a cronometrar com os dias do presente. Mas porque (re)construir dá muito mais trabalho do que destruir, a recuperação irá exigir mais tempo do que os três anos que fizeram retrair a economia local. A retoma será determinada pela dinâmica de áreas-chave como a logística, o turismo ou a indústria. Com a utilização plena do corredor da Beira, o restabelePROVÍNCIA SOFALA

CAPITAL BEIRA ÁREA 68 018 KM² POPULAÇÃO 2 280 000 REGIÃO Centro

cimento da linha de Sena (que tinha sido interrompida durante o conflito) para o transporte de pessoas e carvão de Moatize, (na Província de Tete) e o repovoamento do Parque Nacional da Gorongosa que tem um peso assinalável ao nível da receita turística da região, juntando à Zona Económica Especial (ZEE) de Manga-Mungassa, que volta a gerar oportunidades de negócios aos empresários locais e estrangeiros. “Naturalmente, Sofala está a voltar a entrar na rota do desenvolvimento. O volume de investimento que temos tido demonstra um crescimento extraordinário, e sentimos que, a breve trecho, Sofala volta a entrar no

xadrez da economia nacional”, afirma Lénio Mendonça, director provincial da Economia e Finanças de Sofala à E&M, enfatizando que “todos os indicadores que a província tem vindo a registar estão a permitir que os investidores comecem a olhar para a Província pelo que ela tem de melhor, da sua localização geo-estratégica ao agronegócio”. A posição é perfilhada pelo Instituto de Estudos Económicos e Sociais (IESE), que confirma alguns indícios de renascimento da economia de Sofala, graças ao fim do conflito político-militar: “nos principais distritos nota-se impacto significativo do ponto de vista da estabilidade política, social e económica”, revela uma publicação intitulada “Desafios para Moçambique”, publicada no final do ano passado. Na mesma linha, Mendonça aponta que o volume de investimento neste momento tem estado a crescer uma vez que se tem “feito o melhoramento das vias de acesso que ligam o corredor a outras províncias e países vizinhos”, assinala. E um sinal disso, é que as receitas já começaram a aumentar exponencialmente. “Só no primeiro semestre deste ano, conseguimos chegar aos 14,6 milhões de dólares, e isso corresponde a um aumento de 71,2% em relação ao período homólogo”, revela. Para o governo local “não restam dúvidas” quanto ao potencial económico de que Sofala dispõe. E além das infra-estruturas, também a agricultura, pescas e a indústria de transportes são outros vectores essenciais para o desenvolvimento da economia da Província, de acordo com a Direcção da Economia e Finanças de Sofala. “A agricultura contribui hoje com um volume entre 35% a 45% da produção global da região. Depois seguem-se as pescas e os transportes e logística.”

O potencial Do ponto de vista geográfico Sofala sempre teve uma importância vital no trânsito de bens e mercadorias entre o hinterland (nomeadamente o Zimbabwe) e a costa marítima, através do corredor da Beira. Por via terrestre, o tráfego percorre a Estrada Nacional EN 6, ou o sistema ferroviário (Beira-Machipanda, Beira-Moatize, por onde é escoado o carvão da mina da Vale), que desagua no Porto da Beira (o terceiro mais movimentado do país atrás de Maputo e Nacala). Recentemente, e reconhecendo as potencialidades de Sofala, o Governo aprovou em Conselho de Ministros, um plano de investimento no valor de 290 milhões de dólares com vista a alargar a capacida-

PORTO DA BEIRA VAI AUMENTAR CAPACIDADE

Plano de investimentos prevê 290 milhões de dólares até 2033. Incremento vai gerar superavit de receita de 900 milhões de dólares. A Cornelder renovou a concessão do Porto por mais 15 anos

Capacidade em milhares de toneladas

2018 2033 750 1 200

FONTE: Governo Provincial

INVESTIMENTO 334

MILHÕES DE DÓLARES O VALOR DOS PROJECTOS DE INVESTIMENTO QUE O SECTOR DA AGRICULTURA DE SOFALA RECEBEU ENTRE 2011 E O PRIMEIRO SEMESTRE DO ANO CORRENTE

de de manuseamento de carga do porto, de forma faseada ao longo da próxima década e meia. Na primeira fase, pretende-se um aumento dos actuais 750 mil toneladas de carga, para 1,2 milhões de toneladas por ano. Com isso, espera-se um aumento da receita global na casa dos 900 milhões de dólares, e parte dela, já tem destino marcado, até porque na concepção do governo de Sofala este constitui apenas um de vários mecanismos de adição de receitas fiscais que serão destinadas à melhoria de infra-estruturas de apoio à agricultura. Mas não só, diz-nos o representante do governo local: “de uma forma geral, os investimentos feitos na melhoria de infra-estruturas de que Sofala dispõe, constituem-se como resposta ao compromisso de alavancar o desenvolvimento integrado na reanimação da economia provincial, a melhoria do ambiente de negócios para, de forma paulatina, fazer face aos desafios existentes na conjuntura actual de desenvolvimento. Queremos retomar a posição que a Província sempre ocupou no capítulo do desenvolvimento.” Para o presidente do Conselho Empresarial (CEP) em Sofala, Ricardo Baúte, o ambiente de negócios na província“ tem registado melhorias, principalmente nos últimos dois anos, com enfoque na área empresarial, após a implantação dos conselhos empresariais em todos os distritos da província”, revela. Pedro Coelho, gestor de transportes de carga da transportadora TCO, alinha no mesmo diapasão: “Sofala está a voltar aos bons níveis de desenvolvimento e não há motivos para lamentações, uma vez que o governo provincial tem feito esforços para voltar a colocar a Província na rota do desenvolvimento económico”, diz. Os números da produção global confirmam essa recuperação: este ano, as estimativas apontam para mais de 4,9 mil milhões de meticais, o que representa um crescimento de 43.5% face ao período homólogo, sustentado pela melhoria registada nos sectores da agricultura, pescas, indústria e comércio, tendo-se registado ainda uma subida no valor dos projectos de investimento aprovados pelo Centro de Promoção de Investimento para a região de 1,2 mil milhões de meticais há dois anos, para 3,8 mil milhões de meticais, no ano passado.

Há que reconstruir as vias de acesso Nos próximos anos, o grande desafio passa pelas vias de acesso, e o governo provincial aponta esse como “o grande investimento futuro”. Nomeadamente, a finalização do troço Beira-Machipanda (270 quilómetros), mas não só: “há um conjunto de infra-estruturas públicas a recuperar como a asfaltagem do troço Tica-Buzi e nova Sofala, que vai provocar grande impacto na estrutura económica da zona sul da província, o que, aliado à reabilitação da EN6 e das linhas férreas da Beira-Machipanda e de Sena, no percurso de Beira-Moatize, voltará a colocar a província na rota do desenvolvimento económico.” No entanto, os projectos de investimento não se ficam pelas infra-estruturas. Lénio Mendonça, avança que nos últimos dois anos, o número de projectos tem registado uma evolução. “No ano passado tínhamos 28 projectos, este ano, foram aprovados 32 em áreas como a agricultura, a indústria e a logística.” Alguns desses projectos, destinam-se a integrar a Zona Económica Especial de Manga-Mungassa (ZEE, ou áreas de actividade económica em geral, geograficamente delimitadas e reguladas por um regime fiscal e aduaneiro específico), criada em 2012 e que, segundo o director provincial da Economia e Finanças de Sofala, “regista um crescimento do número

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Gorongosa: o Parque Nacional mais emblemático do país será uma importante fonte de receita para o turismo

O valor dos investimentos quase triplicou nos últimos dois anos e também o número de projectos em áreas como a agricultura, a logística e a indústria seguiram pelo mesmo caminho

de investimentos. Sentimos em alguns momentos um abrandamento, mas já se sente claramente um movimento que nos leva a prever que nos próximos tempos a ZEE de Manga-Mungassa vai impulsionar o desenvolvimento de Sofala”.

Agro-processamento ainda fraco Se a agricultura tem atravessado um mau período noutras províncias, por Sofala é uma actividade sustentável, devido ao alto nível de produtividade, acima da média nacional, sobretudo na produção de ananás, arroz e citrinos. Mas esta realidade não é acompanhada por uma outra: a implantação de uma indústria de processamento suficientemente capaz, já que actualmente apresenta uma capacidade bastante limitada para responder às necessidades. A esse respeito, a Província conta com alguns apoios externos. Ainda no mês passado, o Banco Mundial anunciou um investimento de mais de 50 milhões de dólares ao sector agrícola de Sofala e outras províncias do norte de Moçambique, direccionados a programas de reabilitação de regadios com vista a incrementar a produção do arroz. A cadeia de valor do agronegócio tem sido, de resto, das mais beneficiadas a este nível, e totaliza 334 milhões de dólares doados desde 2011. No entanto, a devastação provocada pela instabilidade político-militar levou a que os frutos desse investimento, nunca tivessem sido colhidos, neste caso literalmente, sendo o próprio executivo local a admitir ser esta, “uma área deficitária na Província.” De acordo com o director provincial de Agricultura e Segurança Alimentar de Sofala, Adérito Mavie, os distritos do Dondo, Gorongosa, Nhamatanda e de Chibaba, são os principais pólos de produção agrícola da província, e é onde estão maiores projectos de investimento agrícola. O desafio, passa agora por melhorar substancialmente as vias de acesso nesses distritos de forma a permitir um melhor escoamento da produção.” Gorongosa reconquista lugar no turismo O Parque Nacional da Gorongosa constitui-se como um dos principais chamarizes turísticos da região e uma das maiores maravilhas de Moçambique no que à biodiversidade diz respeito. Foi graças ao repovoamento das espécies que incrementou o volume de visitantes, que contribui já hoje com uma importante fatia das receitas (no caso turísticas) para a Província, incluindo a criação de oportunidades de emprego na região. No entanto, para a direcção provincial de Cultura e Turismo, este ainda não atingiu o nível exponencial expresso na captação de receitas à altura do seu potencial. “As receitas têm demonstrado uma ligeira subida depois da instabilidade político-militar que afectou aquela zona, e notamos que o Parque tem voltado a merecer a visita de muitos turistas. Porém, ainda não o estamos a explorar no seu máximo potencial.” Segundo Mateus Mutemba, administrador do Parque, a captação de receitas “provém do desenvolvimento do ecoturismo no local, uma fonte que tem proporcionado ganhos significativos à Província de Sofala, mas ainda há um longo trabalho que está a ser feito por vários sectores do governo que vão ajudar o Parque Nacional da Gorongosa a entrar no mapa de captação dos principais contribuintes para o Estado.” E até dá um exemplo de como o Executivo pode ajudar a este nível: “a título de exemplo, o ministro das Obras Públicas e Habitação acaba de lançar a primeira pedra para a reabilitação do troço Inchope- Caia. São estes investimentos que por vezes estão a montante da nossa capacidade, e que vão, em última análise, permitir que o volume de turistas e visitantes do Parque aumente”, assegura Mutemba. Para já, o governo provincial de Sofala coloca o desafio na “criação e melhoria de infra-estruturas suficientes para impulsionarem a economia, sobretudo a componente de estradas e serviços logísticos”. Porque, como nos diz Lénio Mendonça, director provincial da Economia e Finanças “tendo as vias asfaltadas, o resto da economia vai começar a evoluir”. Recentemente, Sofala até foi eleita como a melhor expositora da FACIM, que aconteceu no início de Setembro. Vale o que vale, mas é bom para o orgulho local e até pode ser um sinal de que algo está a mudar.

JUVE-INOVA, ESTÃO LANÇADAS AS PRIMEIRAS SEMENTES DO FUTURO JUVE-INOVA, TO SEED THE FUTURE AND THE GROWTH OF MOZAMBIQUE

A criação de uma cadeia de valor no agronegócio está em marcha, e será determinante para a criação de uma nova geração de empresários The creation of a value chain in agrobusiness is underway. And it will be a decisive step for the creation of a all new generation of entrepreneurs

nos arredores de maputo, na zona das

Mahotas, nasceu a primeira horta comunitária onde estarão instalados os primeiros 30 candidatos do programa Via: Rotas para o Trabalho, que se propõe a lançar no mercado 1 250 jovens empresários nas área do agro-negócio (hidroponia) e da indústria de construção, até 2025 .“Temos já um conjunto de candidatos que querem dar aqui os primeiros passos de uma nova vida profissional, ligada à produção agrícola, iniciando o seu próprio negócio”, explica Rui Amaral coordenador da área de género e juventude da Gapi, responsável pela implementação do programa. A iniciativa , desenvolvida em parceria com a The Master Card Foudation e a International Youth Foudation, enquadra-se nas acções do Juve-Inova, uma plataforma implementada pela Gapi em conjunto com uma rede de parceiros com competências para identificar, seleccionar e prestar assistência técnica multiforme a jovens que revelem capacidades e empenho na criação e/ou expansão de pequenos negócios. E Amaral acrescenta que “a ideia é que, após o processo de candidatura, haja um período de aprendizagem nestas sombrites (espécie de estufas equipadas com sistemas de hidroponia e rega gota-a-gota, e tecnologias que respondem aos desafios das mudanças climáticas e permitem a produção em todas as épocas) em que irão ser formados no cultivo e comercialização dos seus produtos.”

Técnicas inovadoras Depois, mesmo ao nível das técnicas agrícolas, o processo é inovador. “Sim, de facto. A ideia é que se utilizem técnicas de agricultura modernas, como a hidroponia (usando água ou substracto mison the outskirts of maputo, in the

Mahotas area, was born the first community garden where the first 30 candidates of the Program ‘Via: Rotas para o Trabalho’ will be installed. The goal, is audacious, and it aims to launch 1,250 young entrepreneurs in the agribusines and the construction industry until 2025. “We already have a set of candidates who want to take the first steps of a new professional life, linked to agricultural production, starting their own business”, explains Rui Amaral, coordinator of the gender area Gapi, responsible for implementing the program. The initiative, developed in partnership with The Master Card Foudation and International Youth Foudation, is part of the actions of Juve-Inova, a platform implemented by Gapi in conjunction with a network of partners with the proved skills to identify, select and provide technical assistance to young entrepeneurs who reveal the will and commitment in the creation and expansion of small businesses. And Amaral adds that “the idea is that after the application process there will be a learning period in these sombrites (kind of greenhouses equipped with hydroponic and drip irrigation systems and technologies that respond to the challenges of climate change and allow production at all times) in which they will be trained in the cultivation and marketing of their products. “

Innovative techniques Then, even at the level of agricultural techniques, the process is innovative. “Yes, indeed. The idea is to use modern farming techniques such as hydroponics (using water or substrate mixed with a solution of essential nutrients to the plant, rather than turados com uma solução de nutrientes essenciais à planta, em vez de terra), ou até recorrendo a hortas elevadas (para proteger fisicamente os agricultores do desgaste). E também damos formação ao nível da escolha das melhores sementes de rendimento, e quais as culturas mais adequadas”, explica. Os ciclos de formação prolongam-se por quatro meses, sendo os jovens acompanhados, em permanência, pelos técnicos da Gapi, que irão também leccionar “matérias ligadas à gestão de negócios, literacia financeira, habilidades de vida e técnicas de acesso e contacto com os mercados” complementa. No final, e após as etapas pelas quais os jovens agricultores-empresários irão passar, o objectivo é tão simples quanto auspicioso: dotá-los de instrumentos, e ferramentas de experiência e conhecimento essenciais para que possam tornar-se, eles próprios, continuadores do seu negócio. E é nesse sentido que a Gapi preconiza a criação de um conjunto de instrumentos financeiros que os

land), or even using lifeted gardens (to physically protect farmers from wear and tear from their hard labour). And we also train at the level of choosing the best yield seeds, and which crops are the most appropriate, “he explains. The training courses are extended for a perior of four months, with the young people being continuously monitored by Gapi specialized staff, who will also teach “the studentes and duture entrepeneurs a set of skills related to business management, financial literacy, life skills and market access techniques and contact with the retail markets “complements. In the end, and after the steps all of this young entrepreneurs will take, the goal is, as simple as it can be audacious and bold: to equip this 1250 young mozambicans up to age 35, with the right tools of knowledge and experience, absolutely essential for them to lead their own businesses, in the future. In this sense Gapi advocates the creation of a set of financial instruments that can support them at this stage, which will possam apoiar nessa fase, e que serão desenhados em função da especificidade de região do País em que este programa, bem como outros desenhados ao abrigo do Juve-Inova, venham a ser implementados. “A ideia será, após o período de formação prática, que apresentem um plano de desenvolvimento do seu negócio que será orientado e debatido com a Gapi e que, em caso de viabilidade, possam candidatar-se a um financiamento que lhes permita adquirir o material necessário para o investimento no seu terreno, nos materiais, e nos métodos produtivos”, assinala Rui Amaral. O Juve-Inova, uma plataforma considerada estratégica pela Gapi e seus parceiros já implementa o Agro-Jovem, com o apoio da Danida, tendo, desde o seu início em 2015, lançado ao mercado de 90 novas pequenas empresas detidas por cerca de 100 jovens técnicos que geraram mais de 500 postos de trabalho. E é isso que o Juve-Inova se propõe a ser. A primeira semente, de um novo futuro para milhares de jovens de todo o país. be developed and designed according to the specific region of the country in which this program, as well as others implemented under the Juve-Inova Program will be implemented. “The idea will be, after the practical training period, to present a business development plan that will be oriented and discussed with Gapi and, if feasible, they will be able do apply for funding to acquire the necessary equipment for investment in their own land, work materials, and to invest in production methods“ says Rui Amaral. Juve-Inova, is a platform considered to be strategic by Gapi and its partners, that already implements Agro-Jovem, with the support of Danida. Since its inception in 1990, we’ve helped 90 new small companies that have been launched by nearly 100 young people technicians who generated more than 500 jobs in all the country. And this is what Juve-Inova proposes to be. The first seed of a new future for thousands of young people across Mozambique.

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