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ESPECIAL INOVAÇÕES DAQUI 50 Diplomacia Digital

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NAÇÃO

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especial inovações daqui

50 DIPLOMACIA DIGITAL

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A pandemia do novo coronavírus acelerou o uso dos meios digitais na interacção entre as pessoas. As alterações estendem-se para a forma como os países e organizações se relacionam entre si em vários domínios

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AQUA 3I

A Empresa que Criou Um Filtro Capaz de Purificar Água Turva em Apenas Dez Minutos

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PANORAMA

As Notícias da Inovação em Moçambique, África e no Mundo

África e o Futuro da Diplomacia digital

Com as novas tecnologias que proporcionam acesso massificado à informação instantânea e à comunicação interactiva, a utilização destas ferramentas também se generalizou na diplomacia. Mas levanta questões e desafios

TEXTO Louise Fox e Landry Signé • FOTOGRAFIA Global Economy and Development, Africa Growth Initiative

Apandemia revelou ainda mais a grande medida em que o mundo moderno depende da tecnologia e das ferramentas digitais. Como qualquer outro aspecto da vida, a diplomacia também teve de se tornar “digital”, com muitas actividades transferidas para o online devido a restrições relacionadas com a pandemia.

Zoom, Google Meet e outras plataformas deste tipo tornaram-se importantes para reuniões globais de tomada de decisões, encontros diplomáticos e conferências, uma vez que as viagens se tornaram impossíveis ou impraticáveis.

A diplomacia digital refere-se à ampla utilização da tecnologia, particularmente a Internet e outras inovações baseadas nas tecnologias de informação e comunicação (TIC), na condução da diplomacia

Os dois lados da diplomacia digital

A primeira dimensão da diplomacia digital — a diplomacia digital privada — tem que ver com as práticas confidenciais que ocorrem à ‘porta fechada’, tais como assuntos administrativos, ligações interministeriais, negociações comerciais ou políticas, espionagem e serviços consulares. No que diz respeito a negociações, por exemplo, vários prestadores de serviços estão a desenvolver instalações de tele e videoconferência para assegurar compromissos virtuais seguros. No que diz respeito aos serviços consulares, muitos países têm estado totalmente online, utilizando frequentemente contratantes como a VFS Global para a emissão de passaportes e vistos, e a pandemia acelerou este processo.

Em muitos aspectos, o elemento perturbador da pandemia ajudou a desencadear novas formas de processos virtuais de tomada de decisão. Durante este período, os países africanos abraçaram a diplomacia digital através destes processos virtuais.

Por exemplo, apesar da pandemia, os governos africanos, a União Africana (UA) e organizações não governamentais realizaram várias conferências virtuais sobre paz e segurança, reunindo milhares de intervenientes africanos. Em Maio de 2020, a UA organizou com

sucesso uma conferência online “Silenciando as Armas”, que se prolongou por três semanas. Os intervenientes participaram tanto física como virtualmente, contribuindo para o debate e fazendo novas ligações. Os líderes africanos — por exemplo, o Presidente da UA Cyril Ramaphosa, da África do Sul — tem realizado reuniões online com as partes interessadas desde o início da pandemia.

Estas discussões online não só reduziram os custos de reunir os principais interessados, como também permitiram uma tomada de decisões mais rápida, uma vez que mais participantes, que poderiam não comparecer normalmente por várias razões, estão disponíveis para negociações.

No entanto, estes sucessos não implicam necessariamente que as reuniões virtuais devam substituir a tradição das interacções presenciais. Em vez disso, devem ser complementares. As reuniões físicas são importantes porque as negociações decorrem frequentemente à margem dos encontros internacionais, através de discussões improvisadas entre líderes globais nos intervalos para chá ou almoço, ou de um encontro casual no corredor ou na sala de descanso, por exemplo.

Além disso, as reuniões físicas proporcionam aos participantes uma oportunidade de observar e interpretar a linguagem corporal e as emoções das partes, o que pode ajudar na tomada de decisões.

Assim, o formato híbrido de interacções físicas e reuniões virtuais parece ser a melhor abordagem para os compromissos diplomáticos. As reuniões devem ser realizadas fisicamente à medida que se tornam mais centradas na tomada de be e a utilização de meios de comunicação digitais, tais como emissoras e sites de notícias, é outra forma de diplomacia digital exterior.

Assim, Twitter, Facebook, WhatsApp e Instagram têm provado ser poderosos instrumentos para influenciar o público, especialmente em termos de melhorar a imagem de um país, entre várias outras utilizações.

Por exemplo, muitos líderes africanos, ministérios dos Negócios Estrangeiros e outras agências relacionadas operam contas de meios de comunicação social, a este nível, especialmente no Twitter e no Facebook.

Um bom exemplo é o do Presidente Muhammadu Buhari, da Nigéria, que é o líder africano mais seguido, com mais de 5 milhões de followers no Facebook, Instagram e Twitter combinados. É seguido pelo Presidente do Gana, Nana Akufo-Addo, e pelo líder do Ruanda, Paul Kagame, com mais de 4 milhões de seguidores nas três redes sociais combinadas.

Muhammadu Buhari, da Nigéria, é o Chefe de Estado africano com maior número de seguidores nas plataformas de social media. Chega aos 5 milhões de seguidores no Facebook, Instagram e Twitter combinados.

decisões e representação de alto nível, tais como questões que exigem um elevado nível de sigilo envolvem situações de conflito ou negociações complexas.

A diplomacia digital pública: o papel da Social Media

A diplomacia digital pública, por outro lado, está virada para o exterior, orientada tanto para os cidadãos nacionais como para os globais. Este tipo de diplomacia digital destina-se a promover a imagem dos países, projectando o poder e influenciando cidadãos estrangeiros.

Esta última versão está ligada aos conceitos e práticas mais antigos da diplomacia pública e do soft power, de tal forma que começamos a falar da noção de “diplomacia pública na era digital” e de “soft power na era digital”.

Este tipo de diplomacia baseia-se fortemente nas comunicações e é levada a cabo através de sites populares de redes sociais como o Twitter, o Facebook e o LinkedIn, para citar apenas alguns. A marca da nação e do lugar através de plataformas como o YouTuFilipe Nyusi, o Presidente moçambicano, tem pouco mais de 400 mil seguidores na sua página de Facebook mas, mesmo assim, a plataforma é um canal que a presidência utiliza para informar o público da agenda do Presidente e dos momentos mais importantes da presidência com bastante sucesso.

Olhando para trás, o Presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta, foi o líder africano mais seguido, com mais de 7 milhões de seguidores no Facebook, Instagram e Twitter combinados até que desactivou as suas contas em Março de 2019, o que, segundo o próprio, se ficou a dever aos constantes insultos e chamadas de atenção que inundaram a sua inbox.

Além disso, no auge da pandemia, as plataformas de comunicação social ajudaram governos e agências governamentais a manter laços com os cidadãos, fornecendo assistência consular ou outras informações úteis relacionadas, por exemplo, com cuidados preventivos de saúde para fazer diminuir os contágios ou até indicações sobre como prorrogar vistos de permanência nos diferentes países.

A diplomacia digital enfrenta, contudo, uma série de desafios em África, incluindo infra-estruturas de TIC deficientes (por exemplo, Internet e energia fiáveis e acessíveis).

Os principais líderes também demonstraram desconfiança em relação à Internet, com vários governos africanos (por exemplo, de países como Uganda, Tanzânia, Zimbabué, Togo, Burundi, Chade, Mali e Guiné) a encerrar ou a restringir de forma controversa o acesso à Internet e às plataformas dos meios de comunicação social.

O RANKING MUNDIAL DA DIPLOMACIA DIGITAL

O Índice de Diplomacia Digital (DDI) avalia a influência global online de cada país do G20 numa escala de 0 a 10. Actualmente baseia-se em nove indicadores-chave baseados em dados do Twitter e actualizados todos os dias.

EUA

Índia

Rússia

8.97

8.95

8.56

França

Reino Unido

México

8.46

8.32

7.98

Japão

Canadá

Brasil

Austrália

África do Sul

5.67 7.88

7.86

7.83

7.73

FONTE Digital Diplomacy Index

O Governo nigeriano também proibiu o Twitter a 4 de Junho do ano passado, dois dias depois de a empresa ter eliminado um tweet do Presidente Buhari que ameaçava punir os secessionistas regionais, o qual, segundo o Twitter, violava as suas regras.

Estes obstáculos atrasam a diplomacia digital de África. Essencialmente, como suplemento à diplomacia tradicional, os países africanos precisam de abraçar todo o potencial da diplomacia digital a fim de avançar com os seus objectivos de política externa, alargar o alcance internacional e influenciar o público estrangeiro no espaço cibernético.

É importante que os países africanos alavanquem a sua posição na arena diplomática global com a utilização dos meios de comunicação social.

Ao serem activas nas plataformas de comunicação social, os ministérios dos Negócios Estrangeiros podem acelerar a disseminação de informação precisa e permitir que os serviços diplomáticos tradicionais sejam prestados de forma mais rápida e rentável.

Além disso, podem amplificar as vozes e os interesses dos seus países na comunidade internacional, reforçando assim a imagem dos países e promovendo os seus objectivos.

Os três impactos da digitalização na diplomacia

Na realidade, a massificação do digital provoca três impactos fundamentais nas relações diplomáticas. Primeiro, multiplica e amplifica o número de vozes e interesses envolvidos na elaboração de políticas internacionais. Segundo, acelera e liberta a divulgação de informação — exacta ou não — sobre qualquer questão ou evento. Terceiro, e por fim, permite que os serviços diplomáticos tradicionais sejam prestados de forma mais rápida e rentável. O futuro será mesmo, e inevitavelmente, por aqui!

AQUA 3I Uma Solução para a Purificação de Água Contaminada

Transforma água turva em potável em dez minutos e com 99,9% de eficácia. Se no cenário óptimo esta tecnologia for acessível a todos resolve um dos problemas de milhões de moçambicano e encurta o caminho de uma das mais importantes metas dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável

TEXTO Hélio Nguane • FOTOGRAFIA Mariano Silva

Num país em que 27% da população não tem acesso a qualquer forma de saneamento, segundo estimativas apresentadas em 2019 pela ONU, a tecnologia começa a dar o seu contributo para melhorar este indicador, também previsto nos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Trata-se do “Aquatos”, um filtro desenvolvido para transformar água turva em limpa, pronta para beber, o que pode solucionar o martírio de quem tem como fonte única as águas estagnadas das enxurradas, dos rios e lagos.

Como que a confirmar a ideia de “ver nos desafios as oportunidades”, defendida pelos “visionários” na área de negócios, a inspiração para desenvolver este filtro nasce mesmo da constatação de que milhares de pessoas foram afectadas pelos ciclones e outros desastres naturais. Com quase tudo perdido, famílias “herdaram” águas estagnadas e sujas no seu meio, o que piorou a sua condição de saneamento. Foi então que Nério Cutana, jovem formado em engenharia e gestão industrial, e com pós-graduação em gestão de projectos, decidiu, em conjunto com os seus sócios, criar a empresa AQUA 3i, que detém o filtro a que já nos referimos.

“Fiz parte de um grupo de voluntários que colhia donativos para ajudar as vítimas e, no meio disso, tínhamos de levar água mineral ou purificada às zonas assoladas pelo ciclone. Ao longo do processo apercebi-me que tentando resolver um problema criávamos outro, pois a água vinha em garrafas de plástico que poluem o ambiente. Além disso, em pouco tempo, a água esgotava-se e as pessoas entravam em desespero”, explicou. Depois de estudos de viabilidade e busca de parceiros, foram adquiridos os primeiros filtros, que transformam água das inundações ou turvas em águas seguras para beber. Nério Cutana garante que o Aquatos reduz a necessidade de mulheres e crianças levarem muito tempo dos seus dias em actividades relacionadas com a busca de água em fontenárias (muitas vezes distantes) e de lenha para fervê-la. “Porque o nível de filtração é 99,9% eficaz, o Aquatos reduz os casos de doenças transmitidas pela água não tratada como a diarreia, cólera, entre outras”, explicou.

O processo de filtração é instantâneo e não recorre a químicos, energia eléctrica ou outros métodos dispendiosos. O pequeno “engenho”, que mais parece uma tigela quadrada com uma mangueira, reserva até seis litros de água e, dependendo da agilidade de quem o manuseia, pode purificar essa quantidade em até sete ou dez minutos.

“O filtro é de gravidade, por isso deve estar em cima e o recipiente que vai receber a água purificada em baixo. A filtragem é natural, a água é purificada gota a gota, sem adição de produtos químicos, reduzindo impurezas e retendo partículas sólidas, o que garante uma água saudável, cristalina e livre de microorganismos”, esclareceu, acrescentando que um filtro pode servir a uma família por até três anos.

“Porque a nossa acção não é sazonal, também fornecemos o Aquatos nas zonas periurbanas onde, apesar do desenvolvimento, o saneamento é pobre e a água precisa de ser tratada. Além disso, também encabeçamos um projecto, o Water Against HIV, que apoia pessoas vivendo com HIV”, oferecendo filtros.

B

ÁREA DE ACTUAÇÃO

Água e Saneamento

EMPRESA

AQUA 3i

PRODUTO

Aquatos

TRABALHADORES

13

CO-FUNDADOR E GESTOR OPERACIONAL

Nério Cutana

Administração Pública

Governo lança programa de gestão documental

A gestão de processos na Administração Pública do País passa, a partir de Abril deste ano, a ser feita através de um sistema electrónico que vai reduzir os custos de gestão do papel e flexibilizar o atendimento ao público.

Carlos Manhique, Director Nacional da Transformação Digital no Instituto Nacional de Governo Electrónico (INAGE), explica que se trata de um instrumento que permite a sistematização de processos e vai colmatar a tramitação de expediente físico, acrescentando que existem instituições já eleitas para gerir o processo, nomeadamente o Centro Nacional de Documentação e Informação de Moçambique (CEDIMO), o Gabinete de Informação (GABINFO), o Instituto Nacional de Governo Electrónico (INAGE) e alguns Ministérios. Assegura, também, que será um sistema que garante segurança contra os ataques cibernéticos.

A gestão da documentação na função pública tem sido um grande desafio na gestão dos conteúdos, o que automaticamente incorre na má prestação dos serviços. “Por exemplo, as perdas constantes dos documentos, por vezes sigilosos, a demora e dificuldade na localização de informações, sobretudo em casos de urgência, e a dificuldade de partilhar documentos que, pela natureza, podem ser partilhados com o público”, admitiu a ministra da Administração Estatal e Função Pública, Ana Comoana.

Emprego

Projecto “+Emprego” promove sala de negócios em parceria com o BCI

O projecto “+EMPREGO” — Promover o emprego e as parcerias público-privadas no sector do gás natural em Cabo Delgado” promoveu, durante a última edição da Conferência Anual do Sector Privado (CASP), uma sala de negócios em que quatro jovens da província de Cabo Delgado apresentaram as suas ideias de negócio a uma equipa do BCI, que avaliou os projectos nas áreas da construção, agro-negócio e tecnologia, e deu inputs face aos modelos de negócio apresentados.

O “+Emprego” é um projecto cofinanciado pela União Europeia e pelo Camões, I.P., e consiste num programa de desenvolvimento orientado para a criação de oportunidades para os jovens de Cabo Delgado avaliado em 4 milhões de euros.

Telecomunicações

Moçambique torna-se no terceiro país africano com a tecnologia 5G

A Moçambique Telecom, SA. (Tmcel) procedeu ao pré-lançamento da tecnologia 5G, a mais alta ao nível da indústria das telecomunicações. A introdução desta tecnologia enquadra-se no âmbito da modernização e expansão tecnológica, no contexto da estratégia de desenvolvimento da Rede Nacional de Telecomunicações.

A implementação desta inovação é realizada em parceria com a empresa chinesa Huawei e, segundo refere a Vice-ministra dos Transportes e Comunicações, Manuela Rebelo, a tecnologia 5G trará grandes mudanças para os serviços públicos e privados, impulsionando o desenvolvimento económico de Moçambique, à semelhança do que já está a acontecer no mundo.

Segundo enfatizou Manuela Rebelo, as vantagens que o 5G traz para Moçambique são vastas, permitindo ao País superar muitos desafios estruturais, sistémicos e de desenvolvimento, usando as tecnologias e soluções de próxima geração, que estão neste momento disponíveis nas áreas da medicina, agricultura, educação, entre outros sectores.

Com a introdução desta tecnologia, Moçambique fica entre os primeiros três países africanos a disporem da 5ª geração de tecnologia de comunicação sem fio, depois da África do Sul e do Quénia.

Sustentabilidade

Tunísia fabrica triciclos e bicicletas movidos a energia solar

A startup tunisina Bako Motors está a fabricar a sua própria linha de bicicletas e triciclos movidos a energia solar que pretende implementar em todo o continente africano.

O objectivo da jovem empresa sediada em Hamman Lif, na Tunísia, é contribuir para o desenvolvimento da mobilidade urbana sustentável, em linha com o desejo do Governo tunisino de reduzir em 46% suas emissões de gases de efeito estufa.

Fundada pelo empresário Boubaker Siala, a start-up tunisina pretende fabricar localmente e exportar triciclos e bicicletas eléctricas a partir do segundo semestre de 2022. As máquinas, movidas a energia solar, serão inicialmente implantadas em várias províncias. Posteriormente, a startup planeia lançar uma subsidiária na Nigéria, em Dezembro de 2022.

O motor do carro de três rodas (triciclo) pode percorrer cerca de 17 500 quilómetros por ano (50 por dia) aproveitando simplesmente a energia solar. Custa 1,5 dinar (31 meticais) em energia por 100 quilómetros, possui uma velocidade máxima de 45 km/h e tem uma capacidade de carga de 350 Kg.

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