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NAÇÃO

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50 CONFIANÇA NA ERA DIGITAL

Estudos sugerem que a tecnologia está a mudar os critérios que a sociedade usa para escolher em quem ou em que confiar. Há uma clara tendência de confiar mais em estranhos do que nas instituições.

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PROINCO

Uma Plataforma que Faz a Diferença na Captação de Investimentos

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PANORAMA

As Notícias da Inovação em Moçambique, África e no Mundo

Como a Era Digital Está a Mudar a Concepção da Confiança

Assim como a definição da ‘verdade’ mudou radicalmente com o advento da Internet e das redes sociais, a definição de ‘confiança’ no século XXI será reescrita por novas tecnologias como a Blockchain. Uma pesquisa da escritora e professora da Universidade de Oxford, Rachel Botsman, faz menção a profundas mudanças que o avanço tecnológico está a trazer no comportamento das sociedades. Perigo à solta!

TEXTO Celso Chambisso • FOTOGRAFIA D.R.

“Deixámos de confiar nas instituições e começámos a confiar em estranhos”, resume a escritora e especialista em assuntos relacionados com o estabelecimento de relações de confiança nos diversos domínios da vida da sociedade. Autora de um livro intitulado

“Em quem vocês confiam?”, Rachel Botsman elucida que as pessoas, agora, confiam menos em grandes empresas, bancos, governos e grupos religiosos, e estão a transferir as suas crenças e confiança para outras pessoas, muitas vezes, nas que não se devia confiar facilidade.

Quem imaginava que entraríamos no carro de um desconhecido ao invés de chamar um táxi (Uber)? Ou que aceitaríamos receber ou nos hospedar na casa de alguém que nunca vimos

O exemplo vai para as plataformas Airbnb e Uber, accionadas através de tecnologias como a cadeia de blocos (Blockchain).

“Quem imaginava que entraríamos no carro de um desconhecido ao invés de chamar um táxi (Uber) confiando num ranking? Ou que aceitaríamos receber ou hospedar-nos na casa de alguém que nunca vimos na vida no lugar de escolher um hotel (Airbnb)? E o que leva milhões de investidores a acreditarem numa moeda virtual sem lastro com nenhum activo financeiro tradicional?”, questiona. Resposta: Confiança. A autora critica o facto de que “muitos pensam que a confiança é algo que podem criar ao realizar certas acções ou que é um valor”. Mas, no seu entender, “não se pode criar confiança”. Isto é, “a confiança é algo que as pessoas oferecem, geralmente às pessoas erradas”, enfatizou.

Um dos exemplos que avança sobre a influência da era digital na postura dos indivíduos em relação à confiança ocorreu dentro da sua própria casa. Conta que os seus pais, certa vez, contrataram uma babá cujo perfil tinha sido extraído de um anúncio na The Lady, uma publicação inglesa da alta sociedade. A mulher falava com sotaque escocês, usava óculos e disse que perten-

cia ao Exército de Salvação. Todos esses atributos eram sinais de confiança, os tipos de indicadores que as pessoas utilizam para avaliar a confiabilidade de alguém. Após dez meses, a babá desapareceu. Mais tarde, a família soube que ela dirigia uma das maiores operações de tráfico de drogas.

Ou seja, a confiança na plataforma que permitiu a contratação da babá não deixou margens para o devido cuidado em averiguar o perfil de uma pessoa que chegou a oferecer perigo à estabilidade da família por tanto tempo. E isto aplica-se a diversas áreas da vida da sociedade, em que a tecnologia “cega” as pessoas,

inibindo-as de observar o perigo. “Estamos a atravessar um vácuo de confiança que surge quando a nossa crença em factos e na verdade é continuamente questionada… Neste vácuo tornamo-nos mais susceptíveis e vulneráveis a teorias da conspiração, a diferentes vozes que sabem falar com os sentimentos da pessoa acima dos factos. É uma nova forma tóxica de transparência”, conclui Rachel Botsman. Ainda assim, para a pesquisadora, a falta de confiança nas instituições “não é sinal de crise de confiança”. Isto é, “as interacções de hoje reflectem as mudanças da era tecnológica”.

‘Confiança’ não é tema de hoje

Esta questão começou a ganhar destaque em 2018 quando Mark Zuckerberg declarou guerra às “fake news”, anunciando que o Facebook passaria a dar prioridade aos posts dos seus amigos no feed em detrimento dos posts de notícias. A ideia era evitar que mentiras mente ligada ao ambiente laboral, partindo do princípio de que há cada vez mais pessoas a questionarem a gestão da sua carreira, a exigirem líderes mais preparados para diálogos e a não aceitar mais o modelo de obediência “cega”.

Nesse cenário, surge um novo contrato psicológico. O funcionário da empresa não é mais um recurso que vai sendo utilizado de acordo com o projecto empresarial. Ele passa a avaliar o impacto do trabalho no desenho da sua vida, com temas de carreira, como saúde, família e propósito. E aí a confiança é a chave.

Num estudo da consultora norte-americana Gartner, entre os factores de perda de talentos na organização está a falta de perspectiva e diálogos de carreira. A pesquisadora norte-americana Rachel Botsman afirma que essa será a chave para as relações de consumo e de trabalho. Num dos seus levantamentos, concluiu que apenas 20% dos profissionais sentem liberdade para dialogar de

Neste novo mundo, segundo o levantamento da EY, compartilhar dados pessoais tornou-se vital, mas as pessoas começaram a se questionar e entender o contexto e a segurança necessários antes de permitir a troca de informações

(ou falsas verdades) fossem espalhadas pela Internet. Quando as redes sociais deram vez e voz aos usuários, a verdade entrou em xeque e gerou uma crise de confiança, abrindo um terreno fértil para infestar as timelines dos usuários com as mais variadas ‘verdades’. “Creio que, depois da Internet e das redes sociais, a verdade nunca mais foi ou será a mesma. Foi exterminada no momento em que cada um de nós passou a ser um novo media. Por isso, a verdade nunca mais será monopólio dos meios de comunicação. Agora, cada um constrói e conta a verdade que quer. Não há mais o que fazer. As novas gerações confiam mais no youtuber do que no jornal, na revista ou na TV. Os seus influenciadoras já não são os colunistas, professores ou experts diplomados, mas blogueiros, tuiteiros, facebookeiros, celebridades digitais”, exemplificou Botsman.

Confiança é a nova moeda organizacional

Outro ângulo de análise sobre a questão da confiança na era digital está directamaneira transparente com os seus líderes. E 56% preferem ter conversas de carreira com outras pessoas, porque sentem que o líder directo não irá ouvir ou poderá fazer retaliações, dependendo do rumo da conversa. Assim, e pela falta de confiança, o indivíduo diz ao seu chefe o que este gostaria de ouvir sobre a sua carreira.

“Além de deprimente, isso significa o oposto do ambiente de trabalho ideal”, constatou, concluindo que “boa parte das pessoas não sente confiança para dialogar sobre as suas expectativas e tem receio dos seus chefes, que ainda são viciados no modelo de comando e controlo”.

Défice de confiança, a outra face da moeda

Afinal, a questão da confiança pode ser interpretada sob diversos ângulos. Enquanto o estudo de Rachel Botsman aponta mudanças sobre “em quem confiar”, outras abordagens estudam o que se considera ser “défice de confiança” induzida pela própria era digital, em áreas específicas e sensíveis. Em 2020, a Ernst & Young realizou uma pesquisa global sobre a privacidade do consumidor cujo objecto girava em torno da questão “O lockdown tornou os consumidores mais abertos para a privacidade?”.

Explorando um mundo impactado pela pandemia do coronavírus e as medidas governamentais de isolamento social, o estudo tem por contexto um mundo hiperconectado, sem planeamento nem reflexões sobre impactos da digitalização total, com excesso de vi-

deoconferências e eventos online, conversações profissionais e pessoais quase que exclusivamente através de mensagens instantâneas e com a imposição governamental de aplicativos de rastreamento do coronavírus.

Neste novo mundo, segundo o levantamento da EY, compartilhar dados pessoais tornou-se vital, mas as pessoas começaram a questionar-se e entender o contexto e a segurança necessários antes de permitir a troca de informações: 61% estavam confortáveis em compartilhar dados de contacto quando cientes de que os seus dados pessoais estariam seguros, contra 26%, que aceitariam conceder acesso aos seus dados pessoais mesmo a organizações com má reputação em privacidade.

No ano passado, já num mundo em recuperação lenta dos efeitos sociais e económicos da pandemia, outro estudo revelou que 72% dos entrevistados ainda encontram dificuldades em obter informações sobre as práticas de tratamento de dados pessoais na internet, indicando falta de transparência nos serviços online. 60% dos participantes disseram ter abandonado contas em serviços online por questões de privacidade, sendo que 46% já o fizeram mais de uma vez. Ainda segundo essa pesquisa, 33% dos entrevistados desistiram de criar contas num website por razões como a recolha excessiva de informações. A resposta para o problema da confiança, neste caso, está, de alguma forma, ligada aos princípios e exigências da cibersegurança, nomeadamente a transparência, privacidade e segurança, especialmente com o uso de dados sensíveis.

PROINCO A Plataforma Que Faz a Diferença na Captação de Investimento

Atrair investidores para o desenvolvimento do País é tarefa habitualmente assumida pelo Governo. Mas, afinal, os privados podem (e devem) fazer parte, e a PROINCO procura fazer isso mesmo

TEXTO Hélio Nguane • FOTOGRAFIA Mariano Silva

Moçambique já esteve entre os três maiores receptores de Investimento Directo Estrangeiro (IDE) de África, depois da Nigéria e da África do Sul, em 2014, quando recebeu cerca de cinco mil milhões de dólares. Mas uma combinação de factores veio baixar, gradualmente, estes números para os actuais dois mil milhões de dólares. Apesar de ser verdade que a maior parte destes fluxos provêm da indústria extractiva, Eugénio Dombo, mestre em gestão de negócios, usou a sua experiência como antigo funcionário de uma instituição pública ligada à atracção de investimentos para criar uma plataforma que, ao mesmo tempo que é rentável, ajuda a aumentar o volume de investimentos em diversas áreas.

Trata-se da Agência Privada de Promoção de Investimentos e Comércio (PROINCO), que congrega uma rede de projectos de investimento com uma base de dados composta por mais de 3000 empresas nacionais e estrangeiras de todas as dimensões, que procuram estabelecer negócios em diversas áreas. Além de ter um portal acessível em mandarim, inglês e português, o aspecto inovador desta empresa é o facto de ter identificado uma oportunidade, que aparentemente nenhuma outra empresa privada apostou até agora em Moçambique, segundo o respectivo proprietário. Ou seja, Eugénio Dombo acredita ser pioneiro nesta área, detendo as instituições públicas ligadas à promoção de investimentos como parceiras estratégicas.

Como funciona? Com uma equipa de profissionais jovens, a agência avalia as vastas oportunidades de negócios que o País oferece, bem como na promoção do comércio internacional de diversos produtos e commodities. “A consultoria que prestamos ajuda os clientes na tomada de decisões de investimento precisas, com uma visão de oportunidades mais consistente para optimizar os seus negócios, gerir riscos e maximizar lucros”, explicou Eugénio Dombo.

A PROINCO trabalha com parceirosde empresas privadas asiáticas, multinacionais árabes, da União Europeia, representações diplomáticas e empresas locais. “Da lista de empresas com que trabalhamos podemos destacar as chinesas Lian Feng, do sector da agricultura, e a Qing An Construction Internacional, a indiana Varenyam, a sul-africana Unitrans Africa, a inglesa Power Blox e a empresa moçambicana Trans Mazenga”.

Ao longo dos quatro anos de existência, conseguiu captar investimentos em sectores como o Agro-negócio, Pescas, Turismo, Oil & Gas, Mineração, Construção, Infra-estruturas, Tecnologia, Energia e Transporte. Mas não revela o valor total.

A empresa cobra uma taxa pela assistência que presta aos clientes para investirem, sendo que para as grandes empresas somam-se grandes valores e para os pequenos cobra taxas correspondentes, comprometendo-se, também, a fazer uma avaliação contínua dos resultados obtidos pelos seus clientes.

Em resultado da credibilidade que vem ganhando no mercado, a sua base de dados cresce a olhos vistos e a ambição, segundo Eugénio Dombo, é que nos próximos cinco anos a agência aumente a carteira de clientes e cimente o seu nome como referência no sector.

B

EMPRESA PROINCO

SECTOR

Promoção de Investimentos

CRIAÇÃO

2018

TRABALHADORES

seis fixos e oito sazonais

PROPRIETÁRIO Eugénio Dombo

Ciência

Moçambique cria ‘Sala do Futuro’ que serve de oficina pedagógica para o ensino integrado

A ‘Sala do Futuro’ é aplicada para Ciências, Tecnologias, Engenharias e Matemática (STEM), equipada com kits de ciências, robótica e equipamento digital e irá permitir a integração de várias áreas do saber no mesmo espaço com novos métodos de ensino para o desenvolvimento de competências de aprendizagem baseada na resolução de problemas reais.

Esta inovação foi desenhada para a aplicação de novas técnicas de ensino integrado e permitirá a rápida comutatividade entre o sistema clássico de ensino, a utilização de tecnologias, o ensino experimental e a promoção de práticas cooperativas e colaborativas tão necessárias para a maximização dos resultados de aprendizagem e de resposta aos novos estímulos com que a juventude se depara.

Com esta visão, pretende-se, segundo o ministro da tutela, Daniel Nivagara, melhorar a aprendizagem dos estudantes de todos os sistemas (Ensino Superior, Educação Profissional e Ensino Geral) e níveis, promover o gosto pela área STEM e aumentar a investigação e a sua relevância na vida dos moçambicanos.

A ‘Sala do Futuro’ foi estabelecida no campus da Universidade Pedagógica de Maputo e é a primeira das quatro previstas no País.

Empreendedorismo

Vodacom e ideiaLab lançam iniciativa para fomentar negócios digitais de jovens moçambicanos

A Vodacom Moçambique, em parceria com a ideiaLab, lançou, em Maputo, o programa “Vodacom PUXAP”, uma iniciativa que tem por objectivo desenvolver negócios inovadores de jovens e apoiar o seu crescimento no mercado. O referido programa está alinhado com o propósito da operadora de telefonia móvel e do seu parceiro, ideiaLab, em promover a inovação centrada em soluções tecnológicas para jovens, com foco na promoção do empreendedorismo digital. Foram anunciadas, no quadro desta iniciativa, 11 startups seleccionadas para o programa que irá decorrer em duas fases: os primeiros sete meses para a aceleração dos negócios através de workshops de capacitação em empreendedorismo, acompanhados por especialistas em várias áreas, e os restantes 11 meses, durante os quais será feito o acompanhamento, a monitoria e a avaliação do progresso das várias startups.

Healthtechs

Startup queniana utiliza Inteligência Artificial para diagnóstico de doenças em tempo real

A Neural Labs Kenyan startup está a utilizar imagens médicas habilitadas para Inteligência Artificial (IA) para facilitar o diagnóstico em tempo real de várias doenças respiratórias, cardíacas e mamárias.

Fundada em Janeiro de 2021 por Tom Kinyanjui e Paul Mwaura Ndirangu, dois engenheiros mecânicos, a Neural Labs desenvolveu uma plataforma chamada NeuralSight numa tentativa de reduzir a carga de doenças e a carga de trabalho hospitalar em África, com melhores resultados para os pacientes e acesso democratizado aos cuidados de saúde. A Neural Sight pode, assim, identificar, rotular e destacar mais de 20 doenças respiratórias, cardíacas e mamárias e patologias, incluindo pneumonia, tuberculose, covid-19, enfisema e mais. Os co-fundadores têm vindo a trabalhar em diferentes tecnologias centradas na gripe aviária desde 2020, acabando por zerar na resposta aos desafios dos cuidados de saúde.

No continente africano, os serviços de cuidados de saúde são excessivamente utilizados, mas com poucos recursos, o que significa que o tempo de espera de um doente para receber os resultados laboratoriais analisados é muitas vezes superior a 72 horas.

Isto resulta em tratamentos tardios, reduzindo as hipóteses de sobrevivência. A plataforma de imagiologia médica habilitada para IA da NeuralSight acelera este processo, sendo que a fase de testes está actualmente a decorrer em Nairobi.

Pagamentos

Homem cria chip que permite efectuar pagamentos com a mão

Os pagamentos com cartões bancários, telemóveis e relógios tornaram-se comuns com a pandemia mas, pelos vistos, o acto de pagar em lojas ou restaurantes poderá tornar-se ainda mais rápido. Tão rápido quanto passar com a mão por um terminal de pagamentos.

É esta a proposta de uma empresa de nome Walletmor, que diz ter-se tornado, no ano passado, a primeira a implantar um chip de pagamento numa pessoa. O chip em questão pesa menos do que um grama, é pouco maior do que um grão de arroz e faz uso de tecnologia NFC, que está presente em dispositivos capazes de realizar pagamentos ‘contactless’.“O implante pode ser usado para pagar uma bebida na praia em Maputo, um café em Nova Iorque, um corte de cabelo em Paris – ou na sua mercearia. Pode ser usado onde quer que sejam aceites pagamentos ‘contactless’”, afirmou à BBC o fundador e CEO da Walletmor, Wojtek Paprota. O primeiro cliente da Walletmor foi Patrick Paumen, um segurança de 37 anos que não usa cartão bancário ou telemóvel para pagar. Basta-lhe passar a mão num terminal de pagamento. “São impagáveis as reacções que obtenho dos caixas”, diz Paumen, adiantando que “o procedimento para implantar não dói muito, é como quando alguém nos belisca”.

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