karina werner esad.cr junho 2020
A representação da botânica no design de superfície
“As pessoas estão se voltando para as raízes, para a simplicidade, procurando soluções que não agridam o planeta.
INTRODUÇÃO A natureza com toda sua beleza e fragilidade oferece esperança e inspiração para todos nós. A natureza, em especial a botânica, é sem dúvida a musa inspiradora de muitos artistas e designers. Suas cores e formas são majoritariamente responsáveis por grandes obras de artes e são elas as primeiras escolhas para serem usadas na estamparia.
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Os primeiros desenhos e referências botânicas datam 10.000 anos atrás e é daí que se tem informações da palavra escrita como meio de comunicação humana, por isso a presente pesquisa para dissertação possui como tema a ilustração botânica, pois para mim a botânica não é apenas um dos maiores meios de inspiração para artistas e criativos desde a idade média, mas sim a força vital que nos une no planeta. Desde minha breve passagem pela Biologia, onde me encontrei apaixonada pelo universo botânico, e a minha formação em Design de Moda que decidi unir minhas duas paixões, a Botânica e o design de superfície.
Para este tema, é proposto levantar questões como: Qual o objetivo para a representação botânica na estamparia e no design em geral? Qual é a dimensão histórica do tema dentro do design gráfico? Quem são os principais artistas e designers da antiguidade e da atualidade? O que pensavam e faziam? Quais os movimentos que foram/são importantes para a propagação do tema? Nesta publicação você encontrará alguns textos, livros e artigos que servirão de apoio para essa pesquisa. Os estudos começam com a dimensão histórica, através de uma busca aos primeiros livros de botânica, os herbários.
Será de extrema O fato de trabalhar com estamparia importância conhecer no Brasil me fez querer entender o poeta, romancista como a representação da botânica e medievalista William ajuda na comunicação visual a Morris, considerado o partir da estamparia seja ela em pai do Movimento Arts tecido ou como auxiliar visual & Crafts e um dos para embalagens de produtos. precursores da primeira escola de design do mundo, a Bauhaus.
Bouganville de Sydney Parkinson
Um estudo às representações botânicas na época do Renascimento, como também, conhecer a história de um dos maiores artista, e botânico, da humanidade na época do renascimento, Leonardo da Vinci, através da biografia de Walter Isaacson. Promovendo assim uma investigação que mostra a força e pertinência da ilustração botânica no design gráfico. Será feita uma análise nos trabalhos de designers atuais que usam da ilustração botânica para a elaboração de trabalhos de design de superfície, como Edith Rewa e Katie Scott. Vamos conhecer os métodos artesanais de impressão, como o EcoPrint, descoberto por India Flint em 1997. Poderá ser usado também na pesquisa, para uma busca de projetos atuais, o site “The Planthunter” que possui uma curadoria grande de projetos no âmbito arte e design. representações fantasiosas, e outras bastantes fiéis a realidade.
O ladrão de morangos de William Morris
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Para essa investigação pretende-se ter uma contextualização do tema para que seja mostrada a dimensão histórica da botânica. O estudo do reino vegetal começou com Theophrastus (371286 a.C), que foi aluno de Aristóteles e é considerado o pai da botânica, pois foi ele que entendeu a diferença entre monocotiledoneas e dicotiledoneas e também dividiu o reino vegetal em quatro grupos de plantas: árvores, arbustos, subarbustos e ervas.
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Na Europa medieval, até o renascimento, a ciência botânica era mais utilizada por suas propriedades medicinais e as suas representações artísticas eram retratadas de forma
Theophrastus
bastante fantasiosa, porém foi no iluminismo, com as expedições européias juntamente com o método de Carls Von Linné de classificar as plantas, que a ilustração botânica ganhou força, pois era o método de catalogar toda as espécies que encontravam em suas viagens. Apesar de Theophrastus ser considerado o pai da botânica, para Carls von Linné, Otto Brunfells é que é considerado o pai da botânica, porque, em seus escritos botânicos, ele não se baseava tanto nos autores antigos, mas sim em suas próprias observações. Em Herbarum Vivae Eicones (1530) e Contrafayt Kräuterbuch (1532), as plantas alemãs que ele mesmo encontrou durante seus estudos botânicos são representadas com xilogravuras de Hans Weiditz. No entanto, Duane Isely atribui grande parte da popularidade de Brunfels à Weiditz, cujas xilogravuras estabelecem um novo padrão técnico.
Brunfels também introduziu informações sobre plantas alemãs não encontradas em Dioscorides1 e as descreveu independentemente de seus valores médicos, embora as descrições geralmente sejam mal escritas. O gênero de planta Brunfelsia (Solanaceae) recebe o nome dele. Outro autor importante para os estudos botânicos foi William Turner (1510 –1568) um naturalista, e um dos primeiros herbalistas e ornitólogos do mundo. No início de sua carreira, Turner se interessou por história natural e começou a produzir listas confiáveis de plantas e animais ingleses, que publicou como Libellus de Re Herbaria em 1538. Em 1787, surgiu a primeira revista de botânica e foi iniciada por William Curtis, como um jornal ilustrado de jardinagem e botânica. Curtis era um boticário e botânico que ocupava um cargo em Kew Gardens.
1- Pedânio Dioscórides (50-70 d.C.) foi um autor greco-romano, considerado o fundador da farmacognosia através da sua obra De materia medica, a principal fonte de informação sobre drogas medicinais desde o século I até ao século XVIII.
O manacá-de-jardim ou manacá-decheiro (Brunfelsia uniflora)
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Curti’s Botanical Magazine
A publicação familiarizou seus leitores com plantas ornamentais e exóticas. As ilustrações eram inicialmente impressões coloridas à mão, tiradas de gravuras em cobre e destinadas a complementar o texto que foi acompanhado por uma página ou duas descrevendo as propriedades das plantas, história, características de crescimento e alguns nomes comuns para as espécies.
As deslumbrantes ilustrações botânicas de Sydney Parkinson realizadas no Brasil jamais foram publicadas em seu conjunto.
Fontes: https://bit.ly/30xHvdi
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Sydney Parkinson: ilustrações botânicas de espécies brasileiras na expedição de James Cook, 1768 – 1769 reúne um impressionante registro visual da notável expedição comandada por James Cook entre 1768 e 1771 para mapeamento dos Mares do Sul. O objetivo da viagem era observar a passagem do planeta Vênus, mas o mapeamento do hemisfério Sul e suas possíveis riquezas terminaram por envolver uma equipe de civis que incluía a grande comitiva do naturalista Joseph Banks, que convidou o artista escocês Sydney Parkinson para registrar as descobertas efetuadas ao longo da viagem. A expedição chegou ao Rio de Janeiro em novembro de 1768, mas a tripulação foi proibida de desembarcar pelo vice-rei. Ignorando essa instrução, os membros da expedição foram a terra e coletaram 315 espécimes da flora brasileira, dos quais Parkinson ilustrou 35 de próprio punho.
Sydney Parkinson: ilustrações botânicas de espécies brasileiras na expedição de James Cook, 1768 – 1769 vem suprir esta lacuna. Com textos do botânico Haroldo Cavalcante de Lima (Jardim Botânico do Rio de Janeiro), da historiadora Lorelai Brilhante Kury (Fiocruz) e da ilustradora botânica Malena Barretto (Jardim Botânico do Rio de Janeiro), o livro se debruça sobre os resultados da passagem da famosa expedição do navio Endeavour pelo Rio de Janeiro, avaliando o conjunto de espécimes coletados, o acervo inédito de imagens de espécies brasileiras produzidas por Parkinson bem como o contexto histórico da viagem. A edição tem apoio do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que há dez anos vem elaborando a lista da flora brasileira com o intuito de dar a conhecer o patrimônio natural brasileiro.
y Sy dne n; so n i k r pa es o ç a r ilust as c i n â bot
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“Os trajetos das viagens de circunavegação incluíam muitas vezes uma curta estada na costa do Brasil para reabastecimento, geralmente no Rio de Janeiro ou na Ilha de Santa Catarina. Graças a essas paradas, muitas plantas do brasil passaram a ser conhecidas pela botânica, como é o caso da Bouganvillea spectabilis, coletada no Rio de Janeiro e nomeada pelo naturalista Philibert Commerson em homenagem ao comandante da expedição”
Fontes: https://bit.ly/2XJA68I 08
de a c i n â a bot o d r a n Leo i c n i v da Como em inúmeros outros campos, Leonardo foi muito além dos seus contemporâneos em seus estudos científicos de botânica. Ele não só representou as plantas de modo preciso, mas procurou compreender as forças e os processos subjacentes a essas formas. Nesses estudos, em geral baseados em observações quase inimagináveis para o seu tempo, ele foi pioneiro ao introduzir a botânica na categoria de ciência autêntica. Neste livro/ obra de arte, Fritjof Capra usa a botânica de Leonardo para ilustrar as características básicas do seu pensamento científico e da sua síntese original de arte e ciência. A imagem que se revela neste estudo, é a de um Leonardo da Vinci como pensador sistêmico e ecologista: um cientista e um artista com profundo respeito por todas as formas de vida, cujo legado é extremamente importante para os dias atuais.
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Considerado o primeiro pantone, a Nomenclatura das Cores serviu como uma referência obrigatória para artistas, cientistas, naturalistas e antropólogos. O guia mostra a rica variedade de cores da Terra, separando-a em tons específicos. Ilustrado apenas por uma pequena amostra, cada entrada manuscrita é acompanhada por um nome e um número de identificação. O livro possui uma descrição poética de onde cada tom pode ser encontrado na natureza. Por exemplo, o verde água é evidente na parte inferior das asas de algumas mariposa. O azul prussiano, poderia estar localizado no ponto de beleza de uma ala de pato selvagem, na resistência de uma anêmona azul-roxa ou em um pedaço de minério de cobre azul.
Fontes: https://bit.ly/3hkxKoM
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Os nomes poéticos do livro, como Arterial Blood Red, Berlin Blue e Verdigris Green, adicionaram floreio aos escritos de muitos pesquisadores, permitindo descrições vívidas de prosa que anteriormente se limitaram a uma paleta de cores mais elementar. Com essas notas, naturalistas e outros observadores curiosos do passado puderam estudar seus arredores como nunca antes. A Nomenclatura de Cores de Werner foi criada pelo mineralogista alemão Abraham Gottlob Werner, o pintor escocês Patrick Syme e o naturalista escocês Robert Jameson, em 1814. Embora tenha sido usado por pessoas em uma variedade de profissões e campos, resgatou mais fortemente como ferramenta científica, com o naturalista Charles Darwin como talvez o leitor mais renomado. Enquanto a Nomenclatura de Cores de Werner pode parecer uma relíquia do passado, a Smithsonian Books optou recentemente por reescrever o trabalho.
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ra u t a l c e Nomen d s e r das co er wern
fontes: https://bit.ly/2AW801m
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A Primavera, obra também conhecida como Alegoria da Primavera, quadro de Sandro Botticelli. A história da obra não é muito conhecida mas há indicios de que tenha sido encomendada por um membro da família Médicis. Botticelli se inspirou nas odes de Ângelo Poliziano para realizar esta obra. As outras fontes de inspiração são da Antiguidade: os “Faustos” de Ovidio e “De rerum natura” de Tito Lucrécio. O quadro representa e festeja a chegada da Primavera. No meio do bosque de laranjeiras Vénus, a deusa do Amor, surge em um prado, por cima do qual o seu filho Eros atira as flechas de amor, com os olhos vendados.
Soberana do bosque, Vénus encontra-se um pouco atrás. A atitude e o movimento das personagens demonstram uma harmoniosa unidade entre o homem e a natureza. Por cima de Vénus, as laranjeiras fecham-se em semicírculo, como uma auréola que circunda a deusa, principal personagem do quadro. O lirismo também terá servido de inspiração a Botticelli e assim, surge a divindade de Zéfiro, brisa que banha as planícies de orvalho, as cobre de doces perfumes e veste a terra de inúmeras flores. Esta personagem está representada à direita do quadro sob a forma de um ser alado, azul esverdeado.
pRIMAVER A DE BOTTICELLI É Zéfiro que persegue uma ninfa com vestes transparentes (Clóris) que olha para o deus com horror. Da sua boca caem flores e misturam-se com as que decoram o vestido de uma outra personagem que avança ao lado dela. Esta nova personagem tira do regaço um punhado de rosas que coloca no jardim. Do lado esquerdo, vemos as Três Graças (Aglaia, Tália e Eufrósina), que representam a beleza, a castidade e a sensualidade, dançando numa roda cheia de encanto. A seguir está Mercúrio, o mensageiro dos deuses, que fecha o quadro à esquerda. É reconhecido pelas suas sandálias aladas e a espada que tem na mão direita. A presença do sabre que Mercúrio transporta, demonstra a sua função de guardião do bosque.
representado como Mercúrio, (alguns autores referem que é Juliano de Médicis quem aparece representado como Mercúrio) esta Graça olha fixamente para o seu marido (Mercúrio). Tem sido proposto que o modelo de Vénus foi Simonetta Vespucci, musa de Sandro Botticelli. Enquanto a maioria dos críticos concordam que a pintura, retrata um grupo de figuras mitológicas num jardim (alegoria para o crescimento exuberante da Primavera), outros sentidos também foram dados ao quadro. Entre eles, o trabalho é por vezes citado para ilustrar o ideal de amor platônico.
Esta obra destaca-se tanto pelo seu realismo que encontramos nas figuras e também no estudo detalhado da anatomia, como pelo seu naturalismo; é também um claro exemplo de retrato. No quadro poderão estar representadas algumas figuras importantes da época: a Graça da direita é Catarina Sforza, a Graça do meio poderá ser Semiramide Appiani, esposa de Lourenço o Popolano que está
A representação da Flora
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influenciou o início do movimento francês Art Nouveau.
am i l l i W s i r r o M 14
Apesar de William Morris ter sido mais conhecido internacionalmente como poeta, foi como designer têxtil que ele trouxe um novo rumo para a história do design. Foi com o Movimento Arts & Crafts e seus padrões inspirados pelo observação do mundo natural que William Morris contribuiu para o renascimento das artes têxteis britânicas tradicionais. Reconhecido por Walter Gropius, fundador da Bauhaus, a produção de William Morris influenciou a primeira escola de design do mundo, já que a junção da arte e artesanato foi um dos principais fundamentos da escola criada por Gropius. Além disso a arte de Morris era considerada muito emocional e mítica. Ele possuía amor pela natureza e pelos ideais medievais da cavalaria, bem como pelo apego romântico a florestas, jardins, flores e pássaros, que inspirou e
Outro legado importante foi que autores do gênero fantasia, como Lord Dunsany, E.R. Eddison e James Branch Cabell, que conheciam as obras de Morris, o que os influenciou profundamente. ”The Wood Beyond the World” influenciou ”As Crônicas de Nárnia” de C.S.Lweis. Assim como J. R. R Tolkien afirmava que muitas de suas obras foram influenciadas pelos textos de Morris. Nos anos 70, a venda de papéis de parede não era mais tão popular e com isso a venda de tecidos estampados aumentou fortemente e Morris & co. começa a influenciar também na moda até os dias de hoje.
Mary “May” Morris foi um artesã inglêsa, designer de bordados, joalheira, socialista. Ela era a filha mais nova do artista e designer pré-rafaelita William Morris e sua esposa e modelo dos artistas, Jane Morris. May Morris nasceu em 25 de março de 1862 em Red House, Bexleyheath. May aprendeu a bordar com a mãe e a tia Bessie Burden, ensinadas por William Morris. Em 1878, ela se matriculou na Escola Nacional de Treinamento em Arte, precursora do Royal College of Art. Em 1885, aos 23 anos, tornou-se diretora do departamento de bordados da empresa de seu pai, Morris & Co. 15
Em 1907, ela fundou a Guilda das Artes das Mulheres com Mary Elizabeth Turner, pois a Guilda dos Trabalhadores da Arte não admitia mulheres.
mAY MORRIS
movimento arts & c ra ft
s
O movimento de Arts & Crafts foi uma tendência internacional nas artes decorativas e de belas artes que se desenvolveram mais plenamente nas Ilhas Britânicas e posteriormente se espalharam pelo Império Britânico e pelo resto da Europa e América. Iniciado em reação ao empobrecimento percebido das artes decorativas e às condições em que foram produzidas, o movimento floresceu na Europa e na América do Norte entre 1880 e 1920. No Japão, surgiu na década de 1920 como o movimento Mingei. Representava o artesanato tradicional e costumava usar estilos de decoração medievais, românticos ou folclóricos. 16
Defendia a reforma econômica e social e era antiindustrial em sua orientação. Ele teve uma forte influência sobre as artes na Europa até ser substituído pelo modernismo na década de 1930, e sua influência continuou entre fabricantes de artesanato, designers e planejadores de cidades muito tempo depois. O termo foi usado pela primeira vez por T. J. CobdenSanderson em uma reunião da Sociedade de Exposições de Artes e Ofícios, em 1887, embora os princípios e o estilo em que se baseava estejam em desenvolvimento na Inglaterra há pelo menos 20 anos. Foi inspirado nas idéias do arquiteto Augustus Pugin, escritor John Ruskin e designer William Morris.
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É uma manhã nublada de verão em Mullumbimby, escondida na floresta atrás de Byron Bay, no norte de Nova Gales do Sul. A previsão do tempo de hoje é de 36 graus Celsius - condições perfeitas para fermentação.
Fontes: https://bit.ly/37kwvBl
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O ar está cheio de antecipação e o aroma perfumado de incenso. Durante sete dias, nosso grupo de sete estudantes ansiosos e um mestre tintureiro de índigo, Aboubakar Fofana, cuidam amorosamente de um tanque de folhas de índigo naturalmente fermentado, alimentando-o com farelo de trigo orgânico e equilibrando-o com limão todos os dias. Hoje, como todos os dias, Aboubakar chegou mais cedo do que todos os outros para passar um tempo com o tanque. Seu amor pelo tingimento de índigo é imediatamente aparente pela maneira como ele fala sobre esse antigo corante natural e pela maneira cuidadosa como ele lida com o tanque. Se estivermos atentos o suficiente, os ingredientes são de alta qualidade, as condições são adequadas e as estrelas estão alinhadas, hoje teremos um tanque de índigo fermentado naturalmente para colorir nosso tecido.
Uma vez que a tampa é gentilmente retirada e deixada de lado, imediatamente o cheiro de amônia nos olhos enche minhas narinas. Fisicamente, meu corpo quer recuar desse aroma pungente, mas meu fascínio por essa extraordinária solução e emoção pelas cores que poderei extrair me aproxima. Esse aroma e a flor metálica de espuma azul-púrpura profunda significam que este líquido dourado está pronto para aceitar nosso tecido por algumas horas hoje. Um a um, baixamos suavemente nosso linho, penas, seda, couro e lã para o tanque, trabalhando o índigo através das fibras sob o olhar atento de nosso professor. Aboubakar acredita em aprender observando e depois praticando, então nós o vimos demonstrando no índigo e realizamos muitos ensaios em água limpa antes de colocarmos as mãos neste líquido sagrado.
ANAIS RTES A pROCESSOS DE TINGIMeNTO Quando removemos nossas peças do tanque, elas ficam com uma cor verde dourada. Depois de alguns minutos balançando-os suavemente no ar, eles se oxidam para o azul índigo que todos conhecemos tão bem. A imersão repetida e o trabalho no tanque aprofunda esses azuis. Perdi a conta após horas trabalhando no índigo, mas calculo que imergi uma peça mais de 30 vezes, resultando em um azul profundo da meia-noite. Como qualquer ser vivo, o tanque não pode ser trabalhado o dia todo sem descanso. Após meio dia de colheita da cor, substituímos a flor com cuidado e fechamos a tampa. Quaisquer quedas repentinas de temperatura podem levar o tanque à morte, por isso o enrolamos em um cobertor de lã para mantê-lo confortável durante a noite.
todas as fases da vida. A partir do dia em que seu filho nasce, uma mãe começa a reservar recursos para criar para ele um xale tingido de índigo especial que ele usará desde o dia de seu casamento até o dia em que deixar este mundo - e nesse dia ele estará envolto naquele xale sagrado quando ele é devolvido à terra. Da mesma forma, o índigo é mais do que apenas uma cor para Aboubakar. Seu fascínio pelas folhas verdes que produzem uma cor azul começou quando ele tinha sete anos de idade. Passando um tempo na casa de sua avó, no interior da Guiné, ele passou a entender os diferentes usos das plantas silvestres, e o que mais chamou sua imaginação foi o índigo.
Um designer gráfico de profissão, Aboubakar agora dedicou sua vida a reviver a indústria têxtil do Mali, compartilhando sua paixão e conhecimento de habilidades ancestrais de crescimento, tecelagem e tingimento com sua comunidade em Bamako e no mundo. No Mali, as plantas índigo nativas, Lonchocarpus cyanescen e Indigofera arrecta são mais do que apenas um corante têxtil. Eles são plantas curativas usadas para tratar feridas, repelir insetos, aliviar a dor e afugentar os maus espíritos. Tradicionalmente, o tecido tingido com suas folhas fermentadas ocupa um lugar em
“De uma maneira pequena, usando o mesmo método que tem sido praticado na África Ocidental há séculos, fazemos parte do projeto ao longo da vida de Aboubakar para reviver essa prática tradicional que quase foi perdida em seu país natal, o Mali”.
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Nesta fase, o corante índigo natural já era quase uma tradição completamente perdida no Mali, tendo sido amplamente substituído pelo corante azul sintético. O suprimento relativamente barato e relativamente interminável de índigo sintético torna irresistível para os tintureiros comerciais que buscam atingir esse tom que, tradicionalmente, tem sido uma das cores mais difíceis de se obter.
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Mas, como atesta qualquer aficionado por tingimento de plantas, a profundidade de cor que o índigo natural alcança nunca pode ser comparada a substitutos sintéticos. Segundo Aboubakar, mesmo os tecidos tingidos com índigo natural que foram preparados com hidrosulfito de sódio tóxico (o método mais comum de tingimento de índigo em todo o mundo) carecem da riqueza que o índigo fermentado naturalmente produz. Isso ocorre porque os tanques quimicamente desenvolvidos, embora muito mais rápidos e fáceis de preparar, conterão amplamente apenas indigotina, o componente da planta índigo que cria a cor azul. Por outro lado, as cubas de folhas fermentadas naturalmente também contêm altos níveis de compostos de indirubina e isoindirubina (vermelha) e isoindigo (marrom), absorvendo os tecidos com uma variedade de cores.
Indigofera arrecta - Fotografia por Aboubakar
Tendo ficado cara a cara com tecidos tingidos de índigo que se encaixam em todas as categorias acima, posso concordar sinceramente com Aboubakar. Não há nada como a beleza de fios e tecidos tingidos índigo verdadeiramente naturais.
As mulheres que querem conceber uma criança usam uma saia tingida com as folhas fermentadas para aumentar sua fertilidade e, quando o fazem, deitam seus bebês para dormir em lençóis tingidos de índigo para abrir suas mentes jovens. Folha de indigo fermentada no Aboubakar’s Bamako studio - fotografia por Gianni and Tiziana
Aboubakar trabalhando em seu atelier - fotografia por Francois Goudier Fofana
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; ECOPRINT FLINT INDIA
Fontes: https://bit.ly/3e3f9M1
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India Flint nasceu em Melbourne, na Austrália, mas comemorou seus três primeiros aniversários em Montreal, Canadá. Isso não apenas estabeleceu um padrão nômade, como também significou que, ao iniciar sua educação formal no retorno da família à Austrália, aprender a falar inglês era o obstáculo inicial. Suas primeiras tentativas de costura foram guiadas por sua avó materna, que exagerou nas roupas desbotadas em várias combinações de folhas de chá, calêndulas e cascas de cebola. Quando criança, ela descobriu acidentalmente, enquanto esfregava vigorosamente a lã recolhida das cercas de arame farpado perto de Werribee. Seu fascínio por têxteis foi muito incentivado por sua mãe, que sempre parecia ter um bordado ou tricô em andamento. Em 2002, ela morava e trabalhava com seus três filhos em uma propriedade no leste das cordilheiras Mount Lofty, no sul da Austrália, ela combina palestras sobre processos de tintura ecologicamente sustentáveis na Escola de Arte da Austrália do Sul com pesquisa, prática têxtil e interpretação de tenor, saxofone e agricultura. A maior parte da lã e das
plantas usadas em seu trabalho são provenientes da fazenda. Seu trabalho é representado em vários museus europeus e em coleções particulares.“Eu já sabia que as folhas de eucalipto podiam produzir cores extraordinárias quando fervidas em água, e já fazia algum tempo que eu já estava experimentando corantes naturais, combinando o método letão de tingir ovos com pano, juntando peles de cebola, ervas da cozinha e têxteis. Decidi juntar as folhas de eucalipto em um pano de seda e descobri pura magia. Impressões de folhas duras com detalhes incríveis, sem necessidade de mordente. Várias pessoas me aconselharam a patentear imediatamente o processo. Em vez disso, optei por validá-lo por meio de um diploma de pesquisa de pósgraduação (MA.VA, premiado em 2001) e compartilhá-lo com os que rodam.
FLOR DE GELO A técnica de coloração iceflower nasceu depois que descobri que ferver pétalas de flores era uma péssima idéia. Publicado pela primeira vez na Eco Color (Murdoch Books 2008), é um método de extrair cores de partes de plantas sensíveis ao calor (florais e foliares) sem destruir sua cor por meio de congelamento e aplicação lenta e fria. Os resultados podem ser bonitos, mas nem sempre são
substantivos, e as cores podem mudar (até se intensificar) como conseqüência da lavagem. HAPAZOME Nome que dei ao processo de espoliar matéria fresca de folhas em tecido. Após quatro dias fazendo exatamente isso, criando um pano de chão de 6 x 6 metros que era para “assemelharse ao chão da floresta” para a produção ‘Wanderlust’ de Leigh Warren + Dancers em colaboração com o falecido e maravilhoso dançarino. Hilariamente, essa técnica “japonêsa de cozinha” é agora citada regularmente por acadêmicos como a “técnica japonesa antiga do Hapazome”. O que não é. Em 2012, eu aprendi que o método de bater folhas em tecido é na verdade chamado ‘Tataki zomé’ no Japão, mas nessa época o nome Hapazome havia desenvolvido seu próprio impulso.
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A generosidade da natureza vai muito além daquilo que é essencial à vida, como água, ar e alimentos.
Fontes: https://bit.ly/3f9rJt6
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É fácil intuir isso navegando pelo site do ateliê As Tintureiras, especializado em tingimento natural e impressão botânica. Folhas, raízes, rizomas, flores, cascas e sementes emprestam suas cores e servem de decalque a lenços, quimonos e almofadas. Em breve, estarão em 14 estampas criadas por elas que serão vendidas por metro e sob encomenda por este mesmo site. As Tintureiras são duas, mãe e filha: Adriana Fontana, 56, e Maria Fontana, 28. Desde 2016 elas vinham fazendo testes com tecidos no quintal de casa, em São Paulo. A partir de 2018, a coisa ficou mais séria. Durante um ano e meio, o foco foi tingir e estampar roupas, acessórios e itens de
decoração e vender pelo site e em feiras de produtos artesanais. O B2C, porém, virou uma fatia menor do negócio (aliás, pode reparar que vários dos itens à venda no site estão esgotados). Hoje, 90% da atividade do ateliê é sob encomenda para confecções. Em 2019, a empresa — tocada apenas pelas duas, sem funcionários — faturou 90 mil reais. O tingimento natural é uma técnica milenar; a impressão botânica (ou ecoprint), por sua vez, foi uma inovação da artista australiana India Flint, que em 1999 descobriu a possibilidade de imprimir plantas em tecidos usando eucalipto. A técnica consiste em passar para os tecidos as cores e as formas das plantas por meio da compressão e do cozimento (sim, o tecido vai para dentro da panela!).
AS
AS TINTUREIR
Adriana sempre gostou de plantas e de trabalhos manuais. Ao descobrir o universo da impressão botânica, mergulhou em cursos e leituras — e começou a testar em casa. Fazia lenços, acessórios e almofadas, para uso pessoal e para presentear amigos, e criou uma conta no Instagram para repercutir sua produção: Na época, ela era professora de italiano e facilitadora de trabalhos manuais no Terceiro Setor. Acabou abandonando estas atividades para seguir com As Tintureiras. Maria, a filha publicitária, embarcou no sonho da mãe: aproveitou uma estadia de seis meses em Nova York para estudar tingimento e impressão botânica e deixou a sociedade numa agência de marketing digital para se dedicar 100% ao projeto. Em Nova York, diz Maria, há lojas especializadas em pigmentos naturais. É de lá que elas compram o pau-campeche, o catechu e a Rubia cordifolia, um dos corantes naturais mais antigos de que se tem notícia (outro é o índigo, que dá a cor azul e as sócias importam do Canadá). Por aqui, porém, o acesso à matéria-prima é mais complicado. Maria explica:
“O Brasil está um passo atrás nesse quesito. Não há livro em português sobre a impressão botânica e o tingimento, e os livros importados não falam de plantas brasileiras — o que é ruim, porque temos uma flora muito rica” Três vezes por ano, Adriana vai à Chapada dos Veadeiros, em Goiás, para comprar plantas do Cerrado e algumas espécies amazônicas, como o crajiru. O pau-brasil, conhecido pela tintura vermelha, é fornecido por um fabricante brasiliense de arcos de violino. Flores e folhagens são compradas em São Paulo, na Ceagesp; embora usem plantas frescas, mãe e filha secam algumas delas, sobretudo as sazonais, para manter um estoque e usar conforme a demanda.
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Um ponto quando se fala em aplicar a impressão botânica para a grande indústria é que simplesmente não é possível, nesse caso, produzir estampas em séries, cores perfeitas ou padronagens milimetricamente simétricas. “Essa é a parte mais bonita do trabalho”, diz Maria. “O consumidor acaba tendo uma peça única.” O resultado final é influenciado por diversos fatores: a época em que a planta foi colhida, a quantidade de tanino, a proporção do fixador usado, o tempo de contato com o calor, a intensidade e o tempo de pressão das plantas com o tecido 26
Por falar em fixador: para fixar as tintas, as sócias usam alúmen de potássio (um tipo de sal utilizado também na cosmética natural) e ainda “água enferrujada”, um fixador de nome autoexplicativo que mãe e filha produzem deixando objetos enferrujados “de molho” em um tonel, por cerca de um mês — para saber se está bom ou não, só testando. Segundo Adriana: “O importante é não usar nada que agrida o meio ambiente. Tudo que a gente usa pode ser descartado no ralo” Diante desse modo de produção, as marcas que chegam ao ateliê já estão abertas ao imprevisível. Mesmo assim, de vez em quando aparece algum potencial cliente
com a expectativa de uma entrega com padrão industria “Nestes casos nem aceitamos [a encomenda], porque sabemos que lá na frente teremos problemas”, diz Maria. EM VEZ DE GANHAR ESCALA, ELAS PREFEREM DAR UM PASSO DE CADA VEZ Hoje, o ateliê consegue tingir pedaços de tecido de até 3 metros. Esse trabalho leva cerca de um dia inteiro. Já na parte de impressão botânica, elas dão conta de fazer até 30 metros por dia. São as duas, sozinhas, que lavam, enrolam, tingem, estampam, lavam novamente, estendem e passam os tecidos. Isso sem falar nas outras tarefas: comprar as matériasprimas, secar as plantas quando necessário, estocar, dar aulas, produzir conteúdos, atender os clientes, administrar as contas da empresa… Viver de um negócio 100% artesanal e sustentável exige, segundo Adriana, muita disciplina e organização.
“As pessoas estão se voltando para as raízes, para a simplicidade, procurando soluções que não agridam o planeta. Criamos a marca porque as plantas e o trabalho manual já faziam sentido para nós. E percebemos que existe um nicho de pessoas interessadas”
Realiz ar um trabalho artesanal Ê abraçar a imprevisivilidade
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x Burle mar Descobri Roberto Burle Marx no meu primeiro ano de estudo de paisagismo, quando tivemos que fazer uma apresentação sobre o trabalho de um conhecido paisagista. Nomes como Barragán, Masuno, Jekyll e Olmstead foram trocados, mas havia algo sobre a exuberância e a filosofia do homem renascentista brasileiro que me atraíram. Eu escolhi Roberto. Desde então, tenho uma profunda reverência por Burle Marx (1909-1994). Ele era um artista, arquiteto paisagista, caçador de plantas e ambientalista. Ele não era aquele que brincava nos campos acima mencionados - ele era brilhante em todos eles.
Fontes: https://bit.ly/2ARJnmh
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Ele não apenas mudou a maneira como os jardins eram vistos e considerados em todo o mundo, ele foi um dos primeiros campeões em proteger as vastas florestas tropicais do Brasil e tem mais de 50 plantas com o nome dele - o melhor elogio! Burle Marx nasceu em São Paulo, Brasil. Depois de terminar o colegial, ele foi para a Alemanha e estudou pintura. Foi no jardim botânico de Berlim que Burle Marx viu pela primeira vez a flora brasileira. Eu acho que, naquela época, o Brasil era um pouco como a Austrália no passado - evitando plantas, culturas e paisagens nativas em favor das supostamente mais sofisticadas européias. Burle Marx mudou isso - celebrando espécies nativas brasileiras de uma maneira totalmente nova em suas paisagens de vanguarda Talvez hoje em dia seus jardins não pareçam tão revolucionários, mas nos anos 50, quando belos jardins eram a norma, Burle Marx estava pintando paisagens com blocos de cores e texturas arrojadas e usando plantas que ninguém jamais se preocupara em valorizar antes, de maneiras que não considerado anteriormente. Basta dizer que ele criou uma grande agitação. Ele não é chamado de pai da arquitetura modernista da paisagem à toa.
Para Burle Marx, os jardins eram arte. As plantas eram sua paleta, e a terra, sua tela. Ele explica sua abordagem e o contexto artístico de seu trabalho em seu ensaio de 1954, Concepts Of Composition In Landscape Architecture, dizendo: “Em referência à minha vida como artista, tendo recebido um treinamento mais rigoroso nas disciplinas de desenho e pintura, o jardim era, de fato, o produto de circunstâncias sedimentares. Surgiu do meu interesse em aplicar os fundamentos da composição estética à própria natureza, de acordo com o sentimento estético de minha época. Em suma, foi uma maneira que encontrei de organizar e compor meu desenho e pintura com materiais menos convencionais. Em grande parte, posso explicar meus desenvolvimentos em relação à realidade da minha geração, quando os pintores se deparam com o cubismo e o abstracionismo. A justaposição dos atributos estéticos desses movimentos artísticos com elementos da natureza foi o que me levou a uma nova experimentação. Decidi então usar a topografia natural como superfície para composição, tomando elementos minerais ou vegetais encontrados na natureza como materiais para organização estética, assim como outros artistas usam telas, tintas e pincéis para suas composições.” A abordagem de Burle Marx é clara em todos os aspectos de seu trabalho de design - desde os planos de design, que eram obras de arte em si, às linhas ousadas e sinuosas de seus jardins, até a natureza escultural das plantas usadas neles. Ao contrário de muitos arquitetos paisagistas e designers, Burle Marx encarou os desafios estéticos e hortícolas da criação de jardins, favorecendo nem um nem o outro, mas entendendo e comemorando o valor de ambos em sua contribuição para um jardim bem-sucedido.
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E jardins de sucesso que ele fez. Desde jardins públicos ao redor de muitos dos edifícios projetados por Oscar Niemeyer em Brasília, às famosas ondas do passeio de Copacabana na praia do Rio de Janeiro, a muitas residências privadas amplas e em torno de São Paulo, Burle Marx foi um prolífico fabricante de jardins. E pintor, cozinheiro, designer de jóias e tecidos e mais, mais, mais. Os esforços de Roberto Burle Marx certamente não foram em vão. Que homem espantoso. É claro que todo arquiteto paisagista e colecionador de plantas precisa de um pouco de sujeira e, em 1949, Burle Marx adquiriu uma grande propriedade nos arredores do Rio de Janeiro, acomodando seu viveiro de plantas, coleção de plantas tropicais e sua maior tela - o seu jardim. A propriedade agora é chamada Sítio Roberto Burle Marx e atualmente está sendo considerada como Patrimônio Mundial da UNESCO. Também é aberto a visitantes. Burle Marx foi maravilhoso por muitas razões, mas acho que o que mais ressoa comigo é o modo como
ele combinou sua paixão pelo meio ambiente com sua abordagem aos jardins como artista. Em seu ensaio de 1962, The Garden as Art Form, ele fala disso, dizendo: de certa forma, estamos travando uma batalha defensiva. Um arquiteto paisagista deve tentar impedir a destruição do ambiente natural onde ainda existe; e, ao mesmo tempo, criar novas paisagens com ecos de seu contexto natural original, de modo a construir e conservar um legado artístico digno daqueles que virão mais tarde. Um jardim deve ser coeso e independente; se não pode incluir a paisagem, é melhor refletir o ambiente em que nasce. Pouquíssimas pessoas terão o privilégio de encontrar uma natureza intocada. Poucos sentirão a antecipação de uma floresta ao nascer do sol, ou o vasto silêncio das montanhas ou da tundra, por onde o homem passa. Lá encontra-se a paz que ultrapassa todo entendimento; paz que o homem está gradualmente eliminando da face da terra. Nunca mais encontraremos a paz do Éden, mas podemos tentar nos aproximar dela criando ambientes tranquilos e edificantes. Não é um trabalho fácil. Sempre haverá pessoas prontas para minar ou desviar nosso propósito. Se, no entanto, a cada dia que passa, pelo menos uma pessoa faz uma pausa, por um momento, para olhar e se sentir recompensada, nosso esforço não terá sido em vão.
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A notável carreira de Maija Isola (19272001) como designer têxtil começou na Printex, a antecessora de Marimekko, em 1949 e durou 38 anos. Ela projetou mais de 500 padrões de tecido, que cobrem uma variedade incrivelmente diversificada de motivos e técnicas de design.
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Ela se inspirou em seu trabalho da arte folclórica tradicional e da arte visual moderna, da natureza e de suas inúmeras viagens ao redor do mundo. Seus desenhos, como Kivet (pedras), Unikko (papoula) e Kaivo (bem), continuam a ser uma parte essencial das coleções de Marimekko.
Fonte: https://bit.ly/3hiOKM4
Maija Isola é provavelmente o designer mais famosa de Marimekko. A artista finlandesa projetou seus primeiros tecidos impressos em 1949 para a Printex Oy, a antecessora de Marimekko. Ela trabalhou como designerchefe dos tecidos até 1987. Ela também teve uma carreira ilustre como artista visual. Maija Isola era uma artista tremendamente versátil e ousada. Ela interpretou os eventos de sua época a partir de sua própria perspectiva única e previu tendências futuras. Seu corpo de trabalho inclui mais de 500 impressões - uma brilhante seleção de padrões que representam diferentes temas e técnicas. Ela se inspirou na arte folclórica tradicional, arte visual moderna, natureza e suas inúmeras viagens ao redor do mundo. Nos anos 80, ela começou a desenhar tecidos com sua filha Kristina. Juntas, elas produziram tecidos florais frescos, padrões abstratos arrojados e desenhos
ornamentais que se tornaram grampos de Marimekko. Quando Maija faleceu em 2001, Kristina continuou a tradição de sua mãe, produzindo novas ondas de cores dos desenhos clássicos de Maija. O padrão mais conhecido de Maija Isola é o Unikko florido. O padrão Unikko surgiu em 1964, depois de Armi Ratia, fundador da Marimekko, ter anunciado em público que não havia tecidos florais em Marimekko. Maija Isola não aceitou regras ou restrições e projetou em protesto uma coleção completa de padrões florais ousados: Unikko, uma palavra finlandesa que significa papoula. Hoje, o Unikko é provavelmente mais popular do que nunca, e uma quantidade incontável de diferentes produtos de padrão Unikko está disponível. A gama de cores disponíveis também é muito grande.
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ol s i ja i a m
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Se as plantas fossem de fato objetos, poderíamos dizer: “Olhe para aquela folha verde com o caule avermelhado e a guarnição esbranquiçada; ela tem uma veia inferior esquerda com uma curvatura que abraça um arco com um raio de 156 mm” e “a cabeça dessa rosa rosada tem exatamente 88 mm de largura e 86 mm de altura” e “essa vagem é um tanto esférica por natureza, cuja forma específica ocorre a partir da interceptação de três diâmetros diferentes ”. Se as plantas fossem objetos, poderíamos tentar usar essas medidas para capturar seu caráter absoluto.
Fonte: https://bit.ly/3cNmIF7
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Mas as plantas não são objetos, e não há absoluto. Eles são transitórios e sua forma existe dentro de um estado constante de fluxo. E, na verdade, não podemos resumir o design de uma planta em uma única sessão de medição e registro, pois mesmo dentro do espaço de tempo entre a medição e o registro suficiente sobre a planta pode ter mudado para tornar as medições obsoletas. Mesmo essa série fotográfica só pode permanecer como uma representação bidimensional solta de um único momento no tempo - pois mesmo no momento anterior, como no momento seguinte, a imagem seria diferente. Essas imagens só podem existir como uma compreensão geométrica fugaz da vida vegetal momentânea. Eles capturam a beleza transitória.
Aí reside a minha descoberta: talvez seja a mera aceitação de mudanças constantes que permita as condições para a beleza permanente Agora, e quanto a nós? Também não somos tão transitórios quanto uma planta? Não estamos, por nossa própria natureza, em constante estado de mudança? Como seria a vida se nos tratássemos como plantas? E se não desejássemos ter mais pétalas, menos buracos ou menos espinhos. E se o Pinheiro não desejasse ser um arbusto? E se a bolota não desejasse que fosse uma pêra ou desejasse que já fosse o carvalho? E se, como essas plantas, nós simplesmente aproveitássemos cada momento para cada momento, em toda a sua glória e esplendor, e com uma completa ausência de suposições ou deveres? Se as e nós se as então
plantas são transitórias, somos transitórios, e plantas não julgam, talvez julgar pessoal
“ Esta série fotográfica é um estudo de desenho artístico de plantas como se fossem objetos com um modo de ser fixo. Pergunteime como seria criar um desenho geométrico de uma planta - criar um registro permanente de algo que, por natureza, não tem permanência. Descobri nisto um paradoxo divertido e uma lição de vida.”
também possa ser considerado ilógico - porque segue que mesmo no período em que o julgamento foi aprovado, o que inicialmente provocou o julgamento pode já começaram a se tornar obsoletos - e o julgamento, portanto, pode ser considerado redundante. E, sem julgamento, talvez encontremos um amplo espaço para ser bonito.
karina s hape
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Edith Rewa é uma designer, aventureira e amante de plantas nativas
Fonte: https://bit.ly/2AfufPP
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Quando vi pela primeira vez o incrível trabalho de Edith Rewa Barrett, havia tanta coisa que fez meu coração cantar. Aqui estava alguém que se aventurava na grande extensão da paisagem australiana, sua riqueza e vida vegetal escondida penetrando profundamente em seu senso de si. Documentando sua reverência pelo mundo das plantas nativas com caneta e papel, Edith traz consigo as histórias de suas viagens adornando lenços de seda e gravuras de arte com ilustrações altamente detalhadas do mato e das cores do deserto. Você pode nos contar um pouco sobre você e sua vida com plantas? Minha vida com plantas começou cedo, absorvendo perifericamente o jardim nativo dos meus pais
e passando férias no mato à beira-mar. Uma mudança de Victoria para NSW para trabalhar na universidade (BA, Design Têxtil) me deixou muito fim de semana explorando o tempo e um interesse crescente na flora de arenito de Sydney. Pintar e desenhar desenhos florais em tempo integral em um estúdio de impressão mantinha meus lápis afiados e as viagens às Montanhas Azuis e arredores de Sydney me faziam ansiosamente desenhar e aprender sobre espécies nativas locais. Combinei meu trabalho freelancer de design/ilustração têxtil com uma mudança para Blackheath nas Montanhas Azuis, o que me permitiu participar de aprendizados de plantas, desenhos e divagações em tempo integral. Você também pode nos contar sobre sua marca de design, Edith Rewa? Edith Rewa evoluiu nos últimos anos. Principalmente, ele se concentra em lenços de seda ou “museus de cabeça usáveis”, mas recentemente tenho trabalhado em gravuras e em uma pequena coleção de roupas. Tudo o que eu crio para Edith Rewa é compartilhar a excitação da minha planta e o desejo de incentivar a reverência às plantas nativas da Austrália. Todos os desenhos, pinturas e padrões são o culminar de viagens e tempo que passei em diferentes paisagens desenhando e fazendo marcas..
Como seu trabalho reflete sua identidade e conexão ao local?
“Os passeios diários pelo mato rapidamente desenvolveram em mim uma afeição por certos cantos de Blackheath, um lugar com algumas áreas de flora distintamente diferentes. Um lugar particularmente especial para mim era a prateleira do penhasco atrás de onde eu morava, que era prolífica com flora de ponta, gomas de rabisco e uma das minhas vistas favoritas para o vale de Kanimbla. ” Foi aqui que fiz muitos dos meus desenhos para esta coleção de trabalhos, concentrando-me nas plantas que moldaram minha experiência pessoal de morar lá, em vez dos waratahs e rododendros mais comumente associados de Blackheath, que já têm bastante tempo para mostrar!
Penso que o meu trabalho é um reflexo bastante transparente dos meus desenvolvimentos, interesses, aprendizados, desafios e como eu navego no meu dia a dia. Embora eu equilibre o trabalho de ilustração / design freelance com o meu trabalho pessoal de Edith Rewa, é sempre o último que permanece intransigente e fiel a mim. Você cria as ilustrações botânicas mais bonitas e detalhadas que são traduzidas em linda estampas. Você pode nos falar sobre o seu processo de design? Minha inspiração é quase sempre centrada no lugar e na planta! A partir daí, passarei um tempo com a planta, decidindo qual aspecto da amostra quero destacar no meu desenho e qual o melhor ângulo ou forma de lidar com a composição. Normalmente, desenharei a lápis no local, tirarei fotos e depois voltarei ao meu estúdio para desenhar a ilustração final em caneta. Eu digitalizo isso no Photoshop e brinco com cores e padrões a partir daí. Depois que o design é final, tenho os desenhos impressos digitalmente em crepe de chine de seda no Think Positive em Sydney. As roupas são feitas pela costureira Jessica Allison em Sydney também - tenho orgulho de poder manter meu ciclo de produção o mais local e consciente possível.
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Você viajou para tantos ambientes incríveis para ver a vida vegetal australiana nativa. Quais foram alguns dos seus lugares favoritos para visitar? Minha viagem mais recente foi a Kakadu e Litchfield National Park, que ainda me parece muito fresco e emocionante, um ambiente tão extremo e bonito. Alguns outros favoritos teriam que ser o Parque Nacional Karijini, Cape Range (W.A), o Jardim Botânico Olive Pink (Alice Springs) e a Tasmânia alpina. Quais são alguns dos seus nativos australianos favoritos?
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Flores de flanela (Actinotus helianthi e Actinotus minor), mallee de folhas redondas (Eucalyptus orbifolia) e praticamente qualquer acácia, embora a Acacia pyrifolia tenha um lugar especial comigo. Sua mais recente coleção de retratos de plantas captura a identidade botânica da região de Blackheath, onde você viveu por um tempo. O que é esse lugar em que você estava tão conectado e como seu trabalho reflete isso? Este foi o primeiro lugar onde morei, onde pude observar facilmente as mudanças diárias e sazonais e os ciclos das plantas, individual e coletivamente. Eu também tive muito tempo sozinho enquanto morava lá, o que acho que permite um tipo mais intenso de conexão com um lugar.
Você destaca a planta do deserto Eremophila neglecta e muitas plantas australianas nativas menos conhecidas em sua coleção recente, Field Trip. Você pode nos contar sobre o seu fascínio pelas espécies menos comuns? Sempre sou levado a mostrar uma planta que pode não ter necessariamente os holofotes de sempre, ou talvez destacar uma característica interessante da planta - como capturar os terminais da Acacia em brotos estrelados, em vez de flores! seja verdadeiro de alguma maneira com a paisagem em que a planta habita. É frequentemente por isso que gosto de isolar as plantas em uma extensão preta nas minhas ilustrações, para que a planta esteja na vanguarda do design. Com minha coleção Field Trip, eu queria celebrar algumas das plantas áridas menos conhecidas da Austrália e colocá-las dentro dos lenços de seda. Penso que o nome ligeiramente trágico de Eremophila neglecta capturou perfeitamente essa noção, uma das espécies menos vistosas de eremeophila, mas tão bonita assim. O que é viajar e conhecer novos lugares e espaços que inspiram seu espírito criativo?
“Eu acho que é uma reação muito natural, uma sensação de excitação pelo desconhecido, uma intensa curiosidade para aprender e, acima de tudo, uma sensação de admiração.” Definitivamente, tenho menos valor quando estou viajando e acho que isso sempre permite uma lente especial de apreciação. Como suas roupas e tecidos conectam o público à paisagem? Gosto de esperar que, transferindo para o pano meus desenhos de plantas e lugares que nem sempre sejam geograficamente ou sazonalmente acessíveis em nossas vidas diárias, traga trechos de paisagens para as pessoas. Permite uma curiosidade e um lugar para manter memórias e plantas vivas em um sentido diferente. Você tem um projeto favorito em que trabalhou? Ilustrar a capa e os títulos dos capítulos do romance ‘Flores Perdidas de Alice Hart’ de Holy Ringland teria que ser um dos meus trabalhos de comissão favoritos até hoje. Recebi um manuscrito para me aprofundar e uma linda e longa lista de plantas para desenhar, focada na flora de algumas áreas geográficas diferentes da Austrália. O Field Trip provavelmente foi um dos meus projetos pessoais favoritos - muitas viagens, desenho / pintura e colaboração com amigos e artistas para que
tudo se reúna. Claire Mcardle desenhou um brinco para se sentar com os lenços, Nick Mckinlay filmou os bastidores, Georgia Blackie fez toda a fotografia e estilo, Jessica Allison era a costureira da camis e até mesmo um pouco de colaboração com a Clutch Purse with Esther from Togetherness Design, phoar! Havia uma pessoa importante em sua vida que inspirou seu amor pelo mundo natural? Minha mãe, Erica Nathan. O que você mais ama na paisagem australiana? A diversidade! Se você pudesse estar em qualquer lugar agora, onde estaria? Foi um grande final de ano, e agora estou ansiosa para férias na Tasmânia em algumas semanas! Em quem você se inspira? Margaret Flockton, Margaret Stones, Marianne North, Emily Kame Kngwarreye, John Wolsely, William Morris, Ngarra, John Olsen, Linda Jackson, Jenny Kee… Se você fosse uma planta, o que seria? Uma ervilha (ervilha do deserto de Sturt, Swainsona formosa, é claro!)
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Katie Scott transforma ciência em fantasia co m sua versão mo derna da ilustração anatômica Continuando o trabalho de uma longa tradição de artistas anatômicos, Katie Scott é uma espécie de artesão. Ela trabalhou com inúmeras revistas e instituições médicas e publicou três livros enciclopédicos, História da Vida: Evolução, Botanicum e Animalium, este último premiado com o Livro Infantil do Ano pelo Sunday Times.
Fonte: https://bit.ly/2MMRdAa
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Ilustradora, natural de Londres, se inspira em estudos naturais e na história da arte botânica. Seus temas principais são a fauna e a flora, o qual ela usa constantemente para criar papéis de parede, capas de livros e pôsteres. Ela colaborou com Kew Gardens, Phaidon e Urban Outfitters. Um dos seus projetos - Botanicum - é um álbum de ilustrações em associação com Kew que foi lançado em setembro de 2016.
Enquanto o trabalho de Katie fica confortavelmente dentro da linhagem da ilustração científica, acenos de fantasia, ficção científica e design contemporâneo trazem uma compreensão cultural única ao seu mundo natural. É isso que atraiu a atenção de designers de moda, varejistas internacionais, designers de interiores, tatuadores, músicos e cineastas. Projetos com duas grandes casas de moda e uma linha para crianças estão em andamento, provando o quão amplo é seu apelo. O ponto de partida para essas criações é o estúdio de Katie, no norte de Londres. Ela divide o espaço com um grupo de amigos e seu namorado, um designer de motion graphics. No canto de um quarto está a mesa dela, cercada por plantas e livros. Alguns são dela, o resto é daqueles por quem ela é influenciada artistas igualmente interessados no estranhamente maravilhoso. Ernst Haeckel, Fritz Kahn, Albertus Seba, Makoto Azuma - é uma coleção variada, mas todos os artistas estão ligados por
meio da celebração de detalhes e elaboração de formas. “Sou inspirada por todo tipo de arte antiga de história médica e natural, mas não estou interessada em fazer reproduções simples disso”, diz ela. “Minha linguagem visual baseia-se em diferentes elementos de centenas e milhares de anos de obras de arte científica, mas espero que dê uma reviravolta moderna.” Em cima da mesa dela, há dois tablets eletrônicos, um pequeno e ligeiramente desgastado, um enorme e brilhante. “Era para ser uma recompensa por todo o meu trabalho duro, mas é muito grande, é cansativo!” ela diz. Dois dias depois, ele está sendo devolvido em favor do “habitual”. Isso não quer dizer que Katie é uma tecnofóbica. Ela cresceu com design digital. Seu pai é designer gráfico e sua mãe trabalhava em motion graphics, então a tecnologia sempre teve um lugar bem-vindo em ajudar sua criatividade. “Minha mãe comprou um trailer, o colocou no jardim e o transformou em seu próprio estúdio de motion graphics, então eu cresci usando o Photoshop dos anos 90 e uma mesa digitalizadora em vez de um mouse”. O sucesso de seus pais também provou que as artes poderiam ser uma carreira viável, o que significa que ela contornou a temida conversa de adolescentes. “Felizmente, nunca tive que convencer meus pais a me deixar ir para a escola de arte.” No entanto, foi preciso mudar de Kent para
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Londres aos 16 anos para abrir os olhos para a possibilidade de ilustração. “Eu nem sabia o que era ilustração até conhecer alguns amigos que estavam prestes a ir para a universidade para estudá-la! Gostei muito de arte e de design gráfico na escola, mas nenhum dos dois parecia exatamente certo. Quando me disseram sobre ilustração, isso fez sentido. ” Katie deixou Londres para estudar em Brighton, uma cidade costeira inglesa conhecida por celebrar sua cena artística local. Em seu último ano, o conhecido site de design It’s Nice pegou seu trabalho e a apresentou como a aluna do mês. Isso fez a bola rolar e ela não teve muito trabalho desde então. 42
Voltando a Londres depois de se formar, ela e vários amigos se mudaram para uma casa juntos: “Compartilhar um lugar com amigos significa que podemos nos concentrar em ser freelancers sem precisar de um emprego. Tivemos uma sorte incrível. Acho que não poderíamos dar às nossas carreiras o mesmo começo em Londres que é agora. “ Além do histórico, talento e um pouco de sorte, uma coisa que sem dúvida serviu bem à carreira de Katie é sua atitude. Ela é descontraída e extremamente modesta, mas tem uma confiança subjacente em sua própria habilidade. Para os clientes, você imagina que é uma combinação vencedora. Mas sua própria humildade torna mais difícil lutar contra si mesma? “A todo momento, tento
manter as coisas que considero importantes. Não sou muito argumentativo, mas estou ficando muito melhor em dizer não. Quando eu trabalhava no Royal Botanic Gardens, Kew no Botanicum, o padrão de precisão que eles queriam era obviamente muito alto. Mas eles entendiam totalmente minha visão artística. Não é um livro para cientistas, é um livro para inspirar pessoas, principalmente crianças, a apreciar o mundo natural. “ O sucesso de Botanicum e dos outros livros da série de livros Bem-vindo ao museu provou que há um público jovem para seu estilo sofisticado, mas não é fácil levar as pessoas a se arriscarem com algo novo, explica Katie. “Em última análise, é necessário ter essas personalidades fortes
“As plantas não precisam ser adoráveis. Quero mos trar o lado sombrio das plantas e dar a elas essa riqueza de personalidade. ” no braço editorial dos editores que podem suportar a pressão das vendas que estão apenas divulgando números do que foi bem-sucedido anteriormente. Não gosto de ilustrações de livros infantis ingênuas ou infantis. Eu sei que nem todas as crianças são assim, mas quando eu era mais nova, eu queria ver desenhos impressionantes que eu não sabia fazer, que poderia aspirar. Ao fazer esses livros, eu sabia que tinha que haver mais um pouco de mim por aí. ” A prática de Katie difere de projeto para projeto. Enquanto trabalhava em Botanicum, ela recebeu rédea livre do Royal Botanic Gardens, Kew, o que significa que ela passou um tempo estudando plantas exóticas. Chegar perto e pessoalmente de animais selvagens nem sempre é uma possibilidade. Para isso, ela conta com uma variedade de ilustrações e artigos para lhe dar uma compreensão de sua anatomia. “Gosto de desenhar os dois, mas acho os animais mais difíceis porque eles têm muita personalidade. As plantas são quase matemáticas. Se você passar alguns minutos estudando uma planta muito brevemente, entendendo em que ângulo os galhos saem do caule, observando como o caule se une à folha - basicamente, estudando a estrutura da planta e os momentos de mudança - você pode manipulála e encaixe-o em qualquer espaço que desejar. Você pode obter
quase um arquétipo na sua cabeça para trabalhar. É o mesmo com flores. Enquanto um animal tem caráter e individualidade, ele tem um rosto.” Por esse motivo, ela costuma desenhar animais em caneta antes de passar para o tablet. “Quando você aproxima um olho e gasta muito tempo aperfeiçoando, perde a realidade e o caráter. Tornase muito hiperreal. Uma vez no computador, ela usa variantes de cores feitas com as mesmas cinco amostras de aquarela que digitalizou anos atrás. É essa paleta distinta que lhe confere uma assinatura tão rica e refinada, que se presta perfeitamente à moda e ao design de interiores. O que dá a seu trabalho um peso extra é esse senso de história e cultura por trás de cada design. “Para mim, não é apenas que esta planta seja bonita aqui e agora, mas também como ela existia antes. Eu poderia ter visto uma foto dele em um livro medieval ou em uma fotografia on-line que afeta como eu o desenho posteriormente. Para ilustrar, você não está apenas produzindo uma representação, mas também transmitindo qualquer número de imagens e influências que absorveu. ” Isso é particularmente evidente olhando para o storyboard ousado e tecelão atrás da mesa de Katie, um trabalho em andamento no qual ela se uniu ao namorado animador James Paulley e ao artista florista japonês
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Makoto Azuma. Foi Makoto, cujos projetos anteriores incluíam feitos como explodir um bonsai de pinheiro branco na estratosfera e congelar buquês em enormes blocos de gelo, que entraram em contato pedindo colaboração. Katie mencionou que o processo usual de conseguir trabalho envolve “alguém entrando em contato comigo e pedindo que eu faça algo, sendo um pouco hesitante, pois quero garantir que posso dedicar tempo suficiente a cada projeto, e então eles acabam me convencendo!” Seus estilos são diferentes, mas compartilham fortes sensibilidades e referências artísticas; por um lado, celebrando uma história da compreensão humana e domínio da vida vegetal, por outro, explorando o mistério e as possibilidades do mundo natural.
Por esse motivo, ela costuma desenhar animais em caneta antes de passar para o tablet. “Quando você aproxima um olho e gasta muito tempo aperfeiçoando, perde a realidade e o caráter. Uma vez no computador, ela usa variantes de cores feitas com as mesmas cinco amostras de aquarela que digitalizou anos atrás. É essa paleta distinta que lhe confere uma assinatura tão rica e refinada, que se presta perfeitamente à moda e ao design de interiores. O que dá a seu trabalho um peso extra é esse senso de história e cultura por trás de cada design. “Para mim, não é apenas que esta planta
seja bonita aqui e agora, mas também como ela existia antes. Eu poderia ter visto uma foto dele em um livro medieval ou em uma fotografia on-line que afeta como eu o desenho posteriormente. Para ilustrar, você não está apenas produzindo uma representação, mas também transmitindo qualquer número de imagens e influências que absorveu. ” No cerne da arte de Katie, e também na carreira, está o equilíbrio. Em sua arte, há um jogo entre sedução e perigo, claro e escuro, realidade e fantasia, o conhecido e o desconhecido. Em sua carreira, ela equilibra visão e compromisso, técnica e tecnologia, quando dizer sim e quando não. “Às vezes, os limites ajudam a alimentar sua criatividade”, diz Katie, discutindo layouts de página neste momento, mas ela pode estar falando com mais facilidade. Ao sintonizar os detalhes do mundo natural, ela criou um espaço onde a imaginação - tanto a dela quanto a nossa - pode correr solta.
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lus tração i a e u q s “Há co isa azer para f m e d o p ísico que e a arte f o d n u ar o m fias não a r represent g o t o f que as eu acho po dem.”