Arte Nova Helena Barbosa

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Arte Nova por Helena Barbosa A transição entre o final do séc. XIX até à primeira década do séc. XX, simboliza um período de transformações sociais pelo intenso cruzamento que se verifica entre arte e ciência. As sucessivas, descobertas e invenções, foram as causas motoras dessas transformações. A par disso, o crescimento da produção deu origem ao aparecimento de novos objectos e de novos serviços, como os transportes colectivos e pessoais, a fotografia, o cinema, a máquina de escrever, o telefone, as seguradoras, as agências de publicidade, os produtos de higiene pessoal e pública, entre outros. O mercado foi alargando-se a nível interno e com a implementação de produtos exportados, proporcionou a competitividade com os produtos nacionais. As marcas internacionais, procuravam no mercado português, a expansão da sua imagem, por sua vez Portugal procurava manter-se alinhado com o panorama internacional e reproduzir os mesmos comportamentos sociais e tecnológicos, ainda que estivesse estagnado pela falta de uma indústria coesa, como sucedia no estrangeiro. Neste período, a mecanização e a produção em grande escala, contribuiu para o crescimento de um número significativo de objectos que não foram devidamente pensados, ou reflectidos em termos estéticos. Por norma, os industriais procuravam inspiração nos modelos da época com carácter historicista, os quais, não tinham sido criados a pensar numa produção industrial. As peças resultantes dessa realização, eram cópias pobres, desprovidas de criatividade e inadequadas. Consequentemente, surgiram duas reacções estéticas na época: as Arts and Crafts e a Arte Nova. O primeiro movimento surge como antítese à industrialização, por rejeição à cópia efectuada pela produção em série e à cópia dos modelos para serem introduzidos nessa produção. Para isso, procurou promover o trabalho manual e o processo criativo relacionado com um conjunto de conceitos relacionados com a Idade Média, rejeitando por completo a ideia de mecanização industrial. O segundo movimento surge numa base similar que reage à réplica, procurando elevar a criatividade como forma de expressão, encontrando alguma influência nos conceitos das representações evocadas pelas Arts and Crafts. No entanto, não se insurgiu de forma tão vincada contra a industrialização. Se por um lado a Arte Nova encontrou na indústria um aliado para realizar grande parte dos seus artefactos, por outro, reage à simplicidade formal imposta pela produção em série e à estética vigente, enaltecendo a linha curva, onde esta se propaga de forma exagerada, transmitindo e a ideia de sinuosidade e movimento, independentemente, da tipologia do objecto. Os movimentos surgidos no âmbito da industrialização emergem em países mais industrializados, no sentido de dar resposta aos problemas que a produção em série levantava. A França, país palco do aparecimento da Arte Nova, apresentava as suas Academias como instituições creditadas por serem, consideradas a nível


mundial, modelos de referência donde provinham os movimentos artísticos mais modernos. Embora a Arte Nova rompa com os academismos da época, consequentemente, esta nação apresentava uma cultura artística acima da média, por englobar na mesma época diferentes pontos de vista em relação às representações. A dilatação do espectro dessas representações, garantiram a sua supremacia cultural e artística em diversas frentes, a nível nacional e internacional. Apesar de ter existido uma ligeira diferença ao nível do acompanhamento da industrialização, quando comparada com o fenómeno inglês, a França conseguiu manter-se como referência estética em muitos países ocidentais. Paris era o centro dos acontecimentos, era o local por excelência onde se sucediam os grandes eventos.

Portugal não é alheio a estes acontecimentos, sobretudo pela forte influência francesa que se fazia sentir no país. A requisição de obras por parte do estado ou de particulares abarcavam sempre os artistas mais ligados à Belas Artes que obviamente também não fugiram à regra no que diz respeito às influências provenientes de França. Entre o final do séc. XIX e início do séc. XX surgem um punhado de pintores e decoradores como António Baeta, Benvindo Ceia, Domingos Costa, Eloy do Amaral e Gabriel Constante, que trabalharam sobretudo em decoração de tectos, paredes, lojas, cafés, edifícios públicos e privados e raramente em mobiliário. A sua representação baseava-se muito na influência francesa, muito decorativa, com os seus nus femininos, caules, flores, folhagens, arabescos, frisos arquitecturais adivinhando-se alguns traços de Arte Nova. Em 1900 a Exposição Universal de Paris sublinhou a Arte Nova contribuindo fortemente para a sua divulgação. Portugal não se manteve alheio, inspirando-se nessa estética, e ao contrário do que sucedia com a arquitectura onde se viviam os estilos historicistas, as manifestações da Arte Nova acabaram por existir de forma pontual com o trabalho de alguns arquitectos como Raul Lino, Tertuliano Marques e Nicola Bigaglia. Apesar das manifestações estéticas deste movimento terem sido na sua grande maioria, remetidas para a decoração de espaços ao nível da cantaria, serralharia, mobiliário, azulejo, vitrais, vidro e cerâmica, este movimento adquiriu a sua importância ao demarcar-se dos estilos historicistas vigentes com a sua retórica visual baseada em linhas fluidas inspiradas em elementos fitomórficos com um forte carácter ornamental. Ao nível da produção de mobiliário e dos objectos decorativos distingue-se o trabalho de José Maior, assim como se distinguem as marcenarias, em Lisboa, Barbosa & Costa e António Augusto Lima e no Porto, Venâncio do Nascimento & Filhos. Além de satisfazerem as necessidades do público particular, estas marcenarias contribuíram muito para a divulgação da Arte Nova, nas mais diversas aplicações, visíveis nos espaços públicos, cujos revestimentos em madeira, fizeram parte da indumentária de diferentes tipos de lojas comerciais, que se iam propagando pelas cidades de Lisboa e Porto. Os


exemplos sobressaem com a Panificadora Moderna de Campo de Ourique onde o mobiliário coexiste com os azulejos Arte Nova, criados por Rafael Bordalo Pinheiro, a fachada do animatógrafo do Rossio (1907) com ilustrações de Miguel Queriol. Simultaneamente, o design gráfico apropriou-se desta estética de imediato e sem preconceitos, evidenciando-a pela representatividade em número, consequência directa da sua condição. A produção realizada que utilizava essa linguagem, era considerada a mais evoluída ao nível das representações da época, por ser inovadora e apresentar uma ideia de modernidade. Além disso, com base na facilidade de execução ou produção de artefactos deste carácter, a Arte Nova encontrou um dos meios de excelência para a sua divulgação. A este nível as referências foram encontradas em produções idênticas provenientes de França, através de revistas e magazines, onde a facilidade de transposição dos modelos, executada pelo desenho e materializada por processos de impressão, serviu de campo para a experimentação e expressão individual dos autores.


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