Projecto museográfico do Museu Arte Nova Autores: Francisco Providência, designer Paulo Providência, arquitecto Colaboradores: Inês Carvalho, designer Salomé Peralta, designer Enquadramento teórico: 1. Arte Nova foi um movimento artístico internacional que aconteceu na passagem do séc. XIX para o séc. XX, reflectindo-se na arquitectura, artes decorativas e belas artes, fundado numa nova figuração que valoriza a empatia como meio para o conhecimento abstracto. Por isso a Arte nova não é naturalista (José Augusto França). 2. A Arte Nova caracteriza-se pela ruptura com o academismo naturalista do fim de século, promovendo a ligação entre arte e ciência, consequência da emergência da burguesia progressista e urbana. 3. A Arte Nova vem repor a dignidade humana numa sociedade massificada pela revolução industrial, através do culto do corpo e da vida, introduzindo a necessidade de fruição e conforto. 4. A Arte Nova serve-se das novas tecnologias da fotografia e do cinema para observar a motricidade animal, assim contribuindo para a “fisiologia” descobrindo que a forma segue a função (Louis Sullivan), origem da estética funcionalista do modernismo. Objectivos: O que nos interessou foi compreender a Arte Nova como movimento e de que forma poderia servir as gerações futuras. Ao estudá-lo, verificamos que cem anos mais tarde, na passagem do séc. XX para o XXI, surgem movimentos artísticos e de design com conteúdo semelhante, mas agora centrados na biónica e na simbiose do homem com a máquina. Programa: O museu será organizado funcionalmente em 3 áreas distintas: 1º piso Acolhimento de visitantes e comunicação da rede Arte Nova de Aveiro (objectos distribuídos pela cidade). Hall de entrada e loja do museu (merchandising), sala de interpretação, sala da música (com pianola e musica da época), sala de chá e bar exterior (esplanada). 2º piso
Informação distribuída por três espaços: formação audiovisual para grupos em conferência; Didáctica e interpretação da Arte Nova através de painel de expositivo, com referência à produção artística de Aveiro; Experimentação pedagógica através de instrumentos lúdicos interactivos, para a compreensão geométrica dos motivos Arte Nova (da linha concordante ao fractal, passando pela espiral de proporção dourada), através de jogos analógicos e meios informáticos. 3º piso Divulgação e promoção da Arte Nova através de sala de exposições temporárias, contígua a pequeno gabinete de arquivo e estudo da Arte Nova. Projecto Museográfico: O programa museográfico decorreu da análise dos constrangimentos espaciais do edifício, procurando cumprir as expectativas do programa funcional solicitado. Dada a natureza afirmativa do restauro de arquitectura, recuperando os materiais de revestimento vidrados e coloridos, o forte cromatismo das paredes e caixilharias e a complexa forma das serralharias e cantarias, a intervenção museográfica adoptou uma estratégia de máxima neutralidade. Todo o equipamento inserido (mobiliário, iluminação e dispositivos de exposição e interacção), assume a cor cinza claro, reforçando a leitura cromática dos ambientes preexistentes, assim evitando a contaminação entre o novo equipamento e o antigo edifício. A nova ocupação não pretende mimetizar a “casa museu”, ainda que o conjunto das novas formas que o ocupam, se unam pela cor e textura (variando entre uma forma arte-nova e outra biónica), no esforço comum de devolver ao visitante uma experiência cinestésica singular. A intervenção museográfica concentra-se em objectos funcionais que condensam desempenho e afirmação retórica em dispositivos técnicos por vezes digitais. Parte do esforço de desenho cumpre um papel comunicacional por vezes oculto em écrans dissimulados. Conclusão: O edifício de acolhimento do Museu Arte Nova, Casa Major Pessoa, foi projectado por Francisco Silva Rocha em 1904 e recentemente restaurado pelo Arquitecto Mário Sarabando Dias para a CM de Aveiro. O edifício constitui a manifestação de afirmação estética, liberdade e capacidade financeira, própria de alguém “afortunada e cosmopolita que dividia o seu tempo por Aveiro, S. Tomé e Príncipe, Paris e Suíça, trazendo das viagens influências culturais e gostos artísticos”. Mais do que conservar objectos, este museu pretende divulgar e inovar através do exemplo da Arte Nova, constituindo um novo ponto de vista sobre o mundo, com resultados práticos para a sociedade e economia local, através do desenho industrial; por isso o Museu terá também uma sala de exposições temporárias dedicada ao tema e um centro de interpretação, para além de um pequeno centro de estudos. Porto, Novembro 2008