Brusque Ilustrada 3

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nessa edição

Um ano para o torcedor não esquecer A chegada do Bruscão à série B

O comendador Cyro Gevaerd E sua sereníssima república da Fala-Fala

Rock na Praça Vinte anos de “toca Ramones!”

e mais

brusque ilustrada entrevista

João Amorim

3 3


2 І Brusque ILUSTRADA 3 І ÍNDICE

4

8

A ASTRONOMIA E SUA HISTÓRIA SILVINO DE SOUZA

HABITAR RICARDO WESCHENFELDER M Á RC I A CARDEAL

6

UM ANO MUITO PROFÍCUO

MIGRAÇÃO DANI ZOTTIS

O POETA CAIPIRA CONTEÚDO PATROCINADO

CONTEÚDO PATROCINADO

10

ROCK NA PRAÇA PIO CUMMINGS

BRUSQUE ILUSTRADA ENTREVISTA

JOÃO AMORIM

12

14

QUEM QUER DAR UMA “BANDA” EM BERLIM? SOFIA HALFPAP

20

MÁQUINA DE ESCREVER SAULO ADAMI

16

POVO DE DENTRO

25 ANDRÉ SCHLINDWEIN

O COMENDADOR CYRO GEVAERD

E SUA SERENÍSSIMA REPÚBLICA DA FALA-FALA CAU FORMONTE

30

PARTE 1

VÂNIA GEVAERD

MARIA ZUCCO EDUARDA BRUNS

UM ANO PRO TORCEDOR NÃO ESQUECER

24

DOUGLAS LEONI

FEZ-SE ARTE

JORNAL AGORA

22

32

28 LEMBRANÇAS 34 CENTENÁRIAS DE UM CLUBE

ANDRÉ SCHLINDWEIN


Brusque Ilustrada é uma revista lançada em agosto de 2020 para comemorar os 160 anos de Brusque, ela é uma produção do escritório de comunicação Metrô 47. Na ocasião, reunimos relatos e causos de pessoas que fazem parte da história da cidade, com ilustrações originais e contadas de uma forma diferente. O intuito era trazer diferentes olhares sobre o nosso lugar e fazer com que a publicação chegasse a todos que têm um carinho pela memória local. A primeira Brusque Ilustrada foi distribuída gratuitamente em padarias e locais de fluxo, com o apoio essencial de empresas parceiras, além da colaboração de cronistas, artistas e entrevistados. Chegamos à terceira edição com uma tiragem de cinco mil unidades, distribuídas gratuitamente e o apoio do jornal Município. A Brusque Ilustrada foi idealizada para manter viva a história não oficial da cidade, através das pessoas que a vivem todos os dias. Se você tem interesse em contribuir ou tiver sugestões, entre em contato! Todos são bem-vindos para fazer parte da Brusque Ilustrada!

Siga: @brusque.ilustrada E-mail: brusqueilustrada@metroquatrosete.com.br UMA PRODUÇÃO

COMERCIAL

MATERIAL GRÁFICO DE APOIO

Gabriel Noel

Eduarda Bruns

EDIÇÃO

REVISÃO

Maria Zucco

Edina Maria Calegaro

PROJETO GRÁFICO E ILUSTRAÇÕES

IMPRESSÃO

Luiz Zucco

Gráfica NF


Brusque ILUSTRADA ILUSTRADA 33 ІІ 44 ІІ Brusque

com o apoio de


Pá g i n a ex t ra í d a d o l i v r o : H a b i t a r : C a s a s c o m H i s t ó r i a e m B r u s q u e , m a r ç o d e 2 0 2 1 ; Tex t o d e R i c a r d o We s c h e n f e l d e r e I l u s t ra ç ã o d e M á r c i a C a r d e a l .


6 І Brusque ILUSTRADA 3 І

A ASTRONOMIA E SUA HISTÓRIA Silvino de Souza

Chefe do Observatório Astronômico de Brusque

A

Astronomia é a mais antiga das ciências. Durante milhares de anos as pessoas investigaram o Universo e procuraram descobrir a posição da Terra perante o Cosmos. No distante ano 4.000 a.C os egípcios desenvolveram um calendário baseado no movimento dos objetos celestes. A observação dos céus levou à previsão de fenômenos como os eclipses. Desde o século XVII o ritmo das descobertas e do entendimento se tornou mais rápido: aprendemos mais sobre o espaço neste último século do que em qualquer outra época. Além disso, um astrônomo não é mais uma pessoa que trabalha em vários campos da ciência, mas um especialista que se concentra em aspectos específicos da pesquisa astronômica.

Os estudos da astronomia As antigas civilizações confiavam nos movimentos dos corpos no espaço como um referencial. As posições do Sol e da Lua serviam para medir o tempo em dias, meses, estações e anos. A navegação dependia do Sol, da Lua e das estrelas. E como não eram bem entendidos, algumas previsões eram consideradas agourentas. No início, os primeiros astrônomos dependiam apenas de seus olhos. No século XVI, Tycho Brahe tornou a medição das estrelas mais precisa a olho nu, em seu observatório e o telescópio foi usado pela primeira vez em 1610, tornando-se uma ferramenta fundamental. Durante o século passado, o foco da astronomia mudou. Em vez de catalogar e tentar entender o movimento das estrelas, os astrônomos começaram a tentar descobrir o que as estrelas eram de fato (estudo da astrofísica). Em 1860, um astrônomo inglês, William Huggins, analisou a luz das estrelas. Outros levaram seu trabalho adiante e logo foi possível classificar as estrelas por seu espectro, uma espécie de impressão digital de uma estrela. Atualmente o estudo do céu estrelado converte-se em um trabalho complexo, no qual é preciso investir somas consideráveis e que se descarta quase por completo o trabalho individual. A distante época em que Galileu ou Herschel trabalhavam sozinhos tem cedido lugar a tempos em que o trabalho em equipe conta, no anonimato, com uma verdadeira legião de homens da ciência. Hoje o “astrônomo puro” é uma exceção, porque os modernos Observatórios necessitam de matemáticos, químicos, físicos, geólogos, etc., cuja íntima colaboração depende, quase sempre da ciência astronômica, ou seja, de poder avançar uns passos a mais neste complicado caminho do progresso humano.

Tycho Brahe

A evolução da exploração espacial

Telescópio Kepler

No século XX mandamos várias sondas não tripuladas a quase todos os planetas do Sistema Solar. Pousamos sondas robôs em Vênus, Marte e Titã, a maior lua de Saturno, e também em asteroides e cometas. Com o desenvolvimento da Ciência e com a tecnologia ainda mais apurada, podemos ir mais além e observar as mais distantes galáxias e planetas ao redor de outras estrelas, (exoplanetas). Telescópios como o Telescópio Espacial Hubble, Herschel, Kepler e outros telescópios em órbita da Terra, possibilitam que façamos novas e surpreendentes descobertas até então sequer imaginadas.


O poder dos computadores À medida que os astrônomos respondem essas questões, novos problemas tomam seu lugar. Por exemplo, atualmente é aceito que o Universo se originou com uma grande explosão, o Big Bang. Mas como o material do Big Bang se juntou para formar as galáxias? Os cientistas atuais podem trabalhar mais rápido em tais problemas com a ajuda de computadores. Estes podem resolver problemas matemáticos em horas, em vez de semanas, como era normal há centenas de anos atrás. Os computadores também permitem que astrônomos em todo o mundo se comuniquem e possam trabalhar em conjunto na busca do entendimento do Universo. É necessário cada vez mais, não só uma colaboração dos Observatórios de uma nação determinada, mas o intercâmbio de informações e de ideias entre todos os Observatórios. Somente a interpretação e estudo dos dados fornecidos pelos satélites artificiais requerem um tempo considerável para análise dos dados fornecidos, aumentando, assim, ainda mais nosso conhecimento acerca deste grandioso Universo que nos cerca.

A aplicação da astronomia Um grande número de dados obtidos no estudo do espaço tem somente interesse científico, por exemplo, examinar a velocidade de fuga das galáxias, mas, grande parte também busca um resultado prático aplicado à Astronáutica. A colocação em órbita dos satélites artificiais, os intentos de utilizar foguetes para observações astronáuticas, a conquista da Lua e de Marte, são exemplos desta utilização concreta da Astronomia.■


8 І Brusque ILUSTRADA 3 І

com o apoio de

Migração Daniele zottis estilista

O

ano era 2001, encaixotei os últimos livros e organizei as últimas roupas, pois no dia seguinte, aos 21 anos de idade, deixaria a casa de meus pais em Gravataí, RS, para morar em Blumenau. Frequentemente viajava para Blumenau e para Brusque à trabalho. Acompanhava alguns processos têxteis de uma marca, a qual eu era estilista na época. Morei um ano em Blumenau, depois morei em Balneário Camboriú por 8 meses. Todas as vezes que precisava vir a Brusque para comprar tecidos e aviamentos, sentia que algo me chamava para esta cidade e em 2004 me mudei para cá. Comecei um novo trabalho, como estilista, numa empresa bem conhecida aqui da região, pois já havia intensão de ficar um tempo maior na cidade. Sempre me considerei uma pessoa de fácil comunicação, adoro conhecer pessoas, suas histórias... E assim, como nas outras cidades, imaginei que me relacionaria fácil com todos em minha volta. Mas não foi assim que aconteceu. Inicialmente, sentia que as pessoas desconfiavam de tudo que eu falava. Do meu sotaque gauchês, ainda carregado, da forma que eu gesticulava, dos motivos pelos quais eu estava na cidade e do meu ar independente. Por vezes, com algumas pessoas, eu sentia dificuldade de compreender os inúmeros “Xs” na mesma palavra e na mesma frase!!! A forma “rapidinha” de falar, influência da colonização açoriana. Enquanto as pessoas falavam eu perguntava algumas vezes: “O Que?” “Oi?” “Desculpe, não entendi”! Fixava meus olhos na boca das pessoas, (agora entendi porque desconfiavam de mim, hahaha), e assim fui treinando minha audição! Existiam os grupinhos formados, e por mais que eu me esforçasse, não faria parte. Eu gostava e ainda gosto muito de andar pelas ruas observando as construções antigas, (se você ficou parado no trânsito em algum momento porque o carro da frente estava reduzindo em frente a uma construção antiga, sim, provavelmente era eu nesse carro, me desculpe!) Gosto de observar os jardins bem cuidados, ruas limpas e as áreas verdes preservadas. Adoro ficar imaginando como eram as relações das famílias mais

antigas, como cultivam até hoje diversas tradições e datas comemorativas. Mas também me perguntava como os jovens viviam nessa cidade, pequena, disciplinada e conservadora? Tive uma breve ideia ao assistir uma palestra do professor Deschamps falando sobre os anos 80, as bandas de garagem, os encontros no domingo, no centro da cidade, para trocas de conversas sob o olhar das famílias que saiam da igreja Matriz. Ali eu pude entender uma porção de coisas sobre a cidade e seus moradores. Em Porto Alegre, saíamos a noite com os amigos e a sensação era totalmente contrária, a cidade era imensa, pouco conservadora e mal sabíamos o sobrenome de nossos melhores amigos. Como seria me adaptar com tantas características fortes, tantas diferenças?! Não foi fácil. Mas Brusque tem um ar de riqueza histórica, misturada com o anseio do desenvolvimento. Traz um certo choque de culturas e de processos. Pude conversar noites inteiras com pessoas riquíssimas de conhecimento e lucidez. Me apaixonei pela cidade e todas as suas contradições. Me misturei como pude, do meu jeito, mantendo minha personalidade. Fiz algumas amizades fortes, que permanecem até hoje, 16 anos depois. Confesso que essas amizades valeram por qualquer outro número expressivo. E também, o choque cultural impediu de me relacionar com tantas outras pessoas. Mas entendi que isso é natural e está tudo bem. Demorou um pouco para me sentir acolhida pela cidade. Precisei aprender a comer palmito de todas as formas possíveis, em todos os tipos de pratos. Conheci sabores de cucas que nem imaginava serem possíveis de combinar. Marreco com repolho roxo e o Pirão com linguiça da Fenarinha. O café colonial da antiga Wegner, que agora é um empório, (tão gostoso quanto)! E quando conheci a Vila do Pelznickel ou dancei a noite inteira na Fenarreco. Ouvi tantas e tantas histórias maravilhosas de um povo que tem por principal característica o trabalho duro. Vi pessoas chegarem e partirem. Acredito que enriquecemos todos os cenários quando as culturas se misturam. Acredito que boa parte de minhas melhores lembranças só foram possíveis porque eu estava aqui. ■



10 І Brusque ILUSTRADA 3 І

UM ANO MUITO PROFÍCUO conteúdo oferecido por irmãos fischer s.a. Texto extraído do livro Fischer - 50 Anos de Princípios, Virtudes e Memórias.

O

ano seguinte ao da sua fundação, em 1966, foi um tempo de pequenos, mas decididos avanços para a Irmãos Fischer. Talento e persistência, quando inventam, podem ir bem longe. O primeiro avanço tecnológico, a compra de uma dobradeira de chapas de aço, não foi tão grandioso se comparado com os robôs e as máquinas progressivas que hoje atuam ali nas plantas da rodovia Antônio Heil. Mas a nova máquina logo disse a que veio quando um primeiro cliente, Laércio Knihs, veio encomendar uma pia de aço inox para sua nova casa, em 1967. Nessa época, Egon Fischer também estava construindo sua casa e também encomendou uma pia. A confecção desses equipamentos exigia a compra de chapas de aço em São Paulo, quando, então, a jovem empresa ganhou o decisivo apoio do Padre Guilherme Kleine, diretor do Hospital e do Seminário de Azambuja, para quem os Irmãos Fischer vinham prestando alguns trabalhos para a cozinha, a lavanderia e salas cirúrgicas. O problema era simples e complicado: a empresa crescia, precisava comprar mais chapas. Ingo expôs o problema ao Padre Kleine, que na hora ofereceu a solução: “Compra em nome do Seminário. Quando a encomenda chegar aqui, eu mando para vocês”. Para a primeira carta de encomenda, Ingo vai procurar a ajuda de Nelson José Penk, dono de uma lojinha de tintas e de uma máquina de escrever Remington,

onde, como quem “cata milho”, conseguiu escrever a carta solicitando, em nome do Seminário, três chapas de aço da empresa Norsar S.A., em São Paulo. A dobradeira funcionou muito bem com as chapas de aço compradas em São Paulo e as pias foram um sucesso. Num bem-humorado depoimento para o Jubileu de Ouro dos 50 anos da Fischer, Laércio Knihs conta que, na época, ao encomendar a pia, não teve uma boa impressão do tamanho da oficina e da pouca idade daqueles meninos. Outros consertos e reformas foram aparecendo. E atenção para este fato: da reforma da parte interna e externa dos fornos elétricos, eles partem para fabricar os próprios fornos para uso doméstico, ainda que de uma forma artesanal. Com o tempo, eles se tornariam o principal produto da empresa. Foram sendo contratados os primeiros funcionários. Sempre ajudando os amigos, Odécio Zucco, excelente latoeiro da Metalúrgica Brusque, Antônio Cervi, responsável pela parte contábil, terminaram trabalhando na empresa. Mas vale registrar: os primeiros funcionários foram Carlito Lubke e Aneri Heckert. Um outro cliente fundamental nesse ano foi Arno Gracher, dono da Sorveteria Real. Ele encomendou um equipamento para fazer picolé. Com a


ajuda do marceneiro Roberto Fischer e do técnico de refrigeração Pedrinho Gracher, foi fabricado um congelador de 4 metros de comprimento. Para isso, foi preciso mandar vir de São Paulo um compressor e tubos de cobre para as serpentinas. De quebra, inovou-se também a apresentação dos picolés, que passaram a ser melhor aceitos em suas formas arredondadas. Valendo-se de rodas de bicicleta, foi criado ainda um carrinho para vender picolé com tanque de aço inox e isolamento com lã de vidro, um sistema capaz de mantê-los congelados por pelo menos 12 horas. O protótipo ficou tão bom que 50 unidades foram encomendadas em Brusque e na praia de Balneário Camboriú. Mais tarde, foram encomendados também outros congeladores desse modelo. E assim foi indo. Quando uma compra de chapas envolveu a alta cifra de 14 milhões de cruzeiros, o diretor da empresa fornecedora, a Norsar S.A., Dr. Hertwig, foi até o Seminário visitar o tão bom cliente, curioso por descobrir porque eles precisavam de tanto aço. Foi então que o Padre Kleine o conduziu à presença dos seus reais clientes, e, na oportunidade, ele recebeu

Ingo e Nivert nos anos 60, quando fundaram a irmãos Fischer.

ao vivo todo o dinheiro. Edemar lembra que, para contar tantas notas, teve de pegar a bicicleta e correr até uma loja para comprar uma daquelas almofadinhas de molhar os dedos. Impressionado, o Dr. Hertwig abriu na hora uma linha de crédito direto para a jovem empresa. E disse a Ingo: “Vi que vocês têm este pequeno espaço alugado, mas, de agora em diante, compra o que precisar em teu nome. Agora quem vai se responsabilizar sou eu!” Padre Kleine, do Seminário, e Dr. Hertwig, não foram os únicos. Ingo, como se viu desde cedo, possuía esse dom de fazer com que a confiança que tinha em si mesmo inspirasse a confiança dos outros nele. E foi assim, galgado no empreendedorismo e criatividade de seus fundadores, Ingo e Nivert, junto de seus irmãos Egon, Edemar e Norival, que a empresa Irmãos Fischer cresceu para entrar para a história de Brusque.■


12 І Brusque ILUSTRADA 3 І

com o apoio de

ROCK NA PRAÇA pio cummings

Músico e Publicitário

É

muito provável que se tu moras em Brusque há pelo menos mais de 2 anos, já deves ter ouvido falar ou até mesmo prestigiado uma das edições do Rock na Praça em Brusque. Pois é... o evento chegaria a 20ª edição em 2020, mas, por causa da pandemia não aconteceu e, muito provavelmente, não acontecerá em 2021. “Mas diz aí Pio, o que tem esse lance do tal Rock na Praça, qual é que é a pira desse evento?” Bom, vamos resgatar aqui algumas memórias e histórias desse evento que já patrimônio cultural do município! Ainda lá em 2001, quando estava começando a sair de casa, na adolescência, fui impactado em cheio por esse evento. Marcou demais e acredito que muita gente ainda tem aquele saudosismo da época. Porém, a evolução é um processo natural e, muitas vezes, necessária. Era uma época sem redes sociais e era comum ver as pessoas curtindo umas às outras em uma roda de conversa, compartilhando aquele “capetão” e tal que era vendido pelo ambulante, quando as edições eram ali em frente ao Terminal Urbano, ao lado da Praça do Chafariz. As pessoas chegavam dos seus bairros e já estavam no evento. As ruas ficavam fechadas, a polícia controlava o trânsito e o Joselito não perdia um clique! E, certamente, no dia seguinte você podia ir ao estúdio fotográfico e pegar a foto, ou então olhar as fotos das pessoas que estavam no evento, aquela pessoa que você achou interessante... Uma forma de “stalkear” a moda antiga. E, - se desse sorte de aparecer nas fotos selecionadas pro mural que ficava na vitrine, aí sim - era o auge do auge. Mas o tempo passa, o tempo voa e o Bamerindus nem existe mais. As edições foram acontecendo a cada ano e eu estava lá presenciando e sonhando em um dia quem sabe ter uma banda e, logicamente, poder tocar ali, mesmo sem nem se quer saber tocar algum instrumento musical. Mas, de certa forma, prometi para mim mesmo que um dia realizaria esse sonho e a partir disso virou uma meta. Nessa mesma época em 2001, vendo as bandas e sem muita informação é claro, ao meu ver só tocavam covers, então pensei que se fizesse minhas próprias letras seria diferente. E foi assim que comecei a escrever os primeiros versos, antes mesmo de saber tocar um acorde. Hoje eu sei uns 3 ou 4. Foram tantas bandas, tantos músicos que vi tocar nesse evento, muitos deles hoje tenho como amigos e até já pude tocar com alguns deles. Isso soa meio surreal, ao menos para mim. É algo que sei, que acompanhei

essa evolução de forma intensa. Teve uma vez, num show da banda Bersadi (anos depois alguns dos integrantes fundaram a Etílicos & Sedentos), eu queria que eles tocassem Ramones, mas não estava no repertório. Eu era um daqueles malucos que ficava na frente do palco se batendo, e aí tem aquela clássica né: A voz do povo, é a voz de Deus. Eu fui de um em um dos que estavam ali na frente e falei assim: - Quando acabar a música, ajuda a gritar: HEY HO! LET’S GO! E assim fizemos... O Moa, guitarrista da banda só olhava para mim e ria e não teve como não mudar o repertório e incluir o Ramones no Show. “Isso foi épico” eu pensava na época. No mesmo dia ainda teve Nasdak, que posteriormente mudou o nome para Claviceps e depois para Claviceps Purpúrea. Pô, os caras mandaram um “Surfin Bird” paulada naquele dia. Isso foi em 2003. Veio 2004, 2005 e nessa época eu já estava em uma banda. Mas, minha participação se resumiu em ficar na frente do palco, pedindo por mais músicas autorais. Em 2006, o grande dia finalmente chegou. A nossa banda tocou no Rock na Praça. Lembro a sensação ao subir ao palco, a adrenalina ao olhar aquele mar de gente que ia da frente do palco até o terminal, atravessava a rua, e ainda tinha as pessoas ali no estacionamento da FIDEB e as que ficavam ali no Cako, quando ainda era um trailer. Para quem está perdido aí, hoje é o local onde está localizada a Fundação Cultural e a Policlínica. E era muita gen-


te, muita gente mesmo. Era o sonho de um moleque que há uns anos estava ali no público se realizando. As edições seguiram neste mesmo local até 2009. E teve um ano em que estava tudo certo para o evento acontecer, mas choveu e aí teve que ser adiado porque não tinha tenda no palco e os equipamentos ficaram na chuva... Lembro que o cartaz era igual, apenas com um dizer: “Com sol ou chuva, o Rock vai rolar” algo nesse sentido. Em 2010 e 2011 as edições foram na Praça Sesquicentenário, em frente à prefeitura, mas aí já deu treta com a vizinhança e 2012 foi para o estacionamento do Pavilhão da Fenarreco. E por ali seguiu em 2013 e em 2014. Nessas três edições tinha uma estrutura de dois palcos, o que agilizava bastante as trocas de bandas. Muita gente criticou porque deixou de ser na Praça, aquele negócio do saudosismo né. Óbvio que algumas coisas mudam, mas ainda assim considero o evento mais importante do que o local em si. Em 2015 e 2016 as edições aconteceram no estacionamento da Fundação Cultural, nesta última com direito a Gravação do DVD da banda HANGAR. Em 2017 o evento retornou para o Pavilhão da Fenarreco, mas dessa vez dentro do Pavilhão e em 2 dias de evento, conforme definido em votação pelos músicos locais. Chegamos em 2018 e finalmente o Rock voltou a ser na praça, só que na Praça de Alimentação da Fenarreco.

Um formato bem bacana, com toda infraestrutura com o apoio de alimentação, banheiros, local coberto, estacionamento. Para mim, um formato que se consolida como o ideal para os dias de hoje. Em 2019 a edição ocorreu no mesmo local, só o palco inverteu de lado, mas isso não interferiu em nada e foi só um mero detalhe. A vigésima edição está aí para acontecer e para mim já é a mais aguardada de todas. Não sabemos quando, mas temos a certeza de que vai acontecer em um momento possível. “Mas, e aí Pio, tu falou tudo isso e não comentou sobre o lance de cover e autoral. Acha que deveria ter mais bandas cover, é isso?” - Olha, sou 100% a favor de mesclar meio a meio. O Rock na Praça, antes de ser um evento de Rock, é um evento de entretenimento, ou seja, serve para entreter as pessoas. E para a população em geral o cover é fundamental. Ninguém (que não seja do meio) sai de casa para ver/ouvir 10 bandas tocando músicas que ele ainda não conhece. E, para mim, isso fez com que, em algumas edições, o evento perdesse a força. Mas ele continua vivinho da silva e está voltando. Foi ouvindo as versões covers das bandas que eu gostava, que passei de um moleque ali no meio do público para um cara que estava no palco fazendo as minhas próprias músicas. Saber entender essa lógica é fundamental para a continuidade do evento e consolidação do público. Que venha a 20ª edição!■


14 І Brusque ILUSTRADA 3 І


O POETA CAIPIRA conteúdo oferecido por exp mark

“A

lô, meu povo! Estou chegando na Rádio Cidade de novo! Estou aqui para apresentar o programa Música da Gente, alegre e contente!” A moda de viola deu boas-vindas ao ouvinte que sintonizava para ouvir a rima irreverente de Goianinho. “No campo ou na cidade você tem a felicidade tanto de manhã quanto de tarde”, exclamou sorridente, antes de ler as mensagens e anúncios anotados no caderninho. Mesmo depois de quarenta anos de rádio, o apresentador fazia questão de visitar cada patrocinador e perguntar sobre as novidades e promoções que a audiência não podia perder. “E olha gente, a música é do jeitinho que a turma quer, venha de onde vier!” Depois da música bem caipirada de Carlito e Baduy, um canto de passarinho foi se avolumando até se transformar na revoada que indicava o intervalo comercial. Tinha início o último programa de Valdir Reis, o Poeta Caipira. O grande sonho de Reis era viver da música. Desde novinho tocava no violão suas composições sobre a natureza, amores e as coisas da vida. Inclusive foi Anésio Tomasoni, componente de sua primeira dupla, quem lhe deu o apelido, que nada tinha a ver com a origem do parceiro, nascido em Pinheiral. “Você vai ser o Goianinho e eu vou ser o Pião de Ouro”. Simples desse jeito estava batizada a mais nova dupla sertaneja da região. Nos anos de 1960, os dois venceram um festival de música promovido pela Rádio Clube de São João Batista, cujo prêmio era ter espaço na programação durante um mês. O programa semanal ajudou a tornar a dupla conhecida, além de apresentar Goianinho para uma nova paixão. “Oi, meu amiguinho, tudo bem? A hora certa tem!” As rimas de Valdir Reis cativaram os ouvidos de Brusque e região por mais de quarenta anos. Os primeiros doze anos na Rádio Araguaia, depois, na recém-inaugurada Rádio Cidade. Goianinho era sucesso de audiência, ele mesmo garantia os inúmeros patrocinadores do programa um a um e entregava um festival de propagandas em versinhos, provocando a simpatia do anunciante e, principalmente, da audiência. “Material de construção a preço de promoção!” O Poeta Caipira entendia de argumento, em poucas conversas e uma valsinha, convenceu a jovem Erotides a fugir de Canelinha. A moça era protegida, o irmão mais velho compensava a falta do

pai com vigilância redobrada. Mas, o baixinho era insistente e, depois de se enamorar numa tarde dançante, apareceu na casa da jovem de camisa e calça social brancas bem engomadas, com o cabelo penteado pro lado. A família olhou torto e, no outro dia, os dois se encontraram na porteira à meia-noite e meia para fugir de bicicleta e começar a vida juntos. O primogênito chegou em meio ao caos de uma das grandes enchentes dos anos 1960, na casa da sogra em Canelinha, batizou Valci. Vilmar, Vanicio, Vanildo, Valmir e Valcemir que foram chegando enquanto o casal atravessava os apertos de quem vivia de ser locutor. Toda vez que vinha a água, a antena da rádio caía. Teve ano que Valdir Reis passou mais tempo consertando o equipamento no meio do mato do que no ar. Em épocas, precisou largar a rádio para trabalhar na usina de açúcar e outros serviços que garantiam a comida na mesa da família. No trabalho da fábrica de tubos, perdeu três dedos da mão esquerda e nunca mais conseguiu tocar violão. Ficou o instrumento empoeirado debaixo da cama até o caçula Mimi se interessar pelos dedilhados. “Música da Gente, a hora certa é de presente!” Passaram a chover patrocinadores embarcando no sucesso de Goianinho, que conquistava um público cada vez mais fiel. Bom de negócio, a vida da família Reis começou a mudar com o sucesso do programa. Terrenos, carros, materiais de construção, roupas, insumos agrícolas, todo comerciante tinha espaço nas anotações do locutor que, além de incentivar a audiência, avisava nas festas de família as lojas que deviam ser prestigiadas. “Estou no embalo, por isso que eu falo!” “Me chamo José Escuro, não quero dinheiro da Caixa porque não gosto de pagar juro!” Até para as atendentes de telemarketing o homem esbanjava bom-humor. Gostava de uma boa festa com música caipira e de cozinhar as receitas que ficaram na memória da família “Eu que não sou gente tola, é linguiça com ovo e cebola!” O lendário Goianinho entrou para história da cidade pelas ondas do rádio e deixou em todos com quem conviveu uma saudade imensa, de um homem carismático, que distribuía alegria por onde passava. “E com o abraço, o boa tarde do Goiano, tchau, tchau! Inté amanhã cedinho, se Deus quiser!”.■


16 І Brusque ILUSTRADA 3 І


com o apoio de

João AMORIM Brusque ilustrada entrevista

C

om mais de vinte anos de história, o Bar Corujão é um daqueles lugares de Brusque que são parte do cenário, dos que se usa como ponto de referência, dos que deixam o gostinho na memória. A pequena construção azul bic, marcada por uma grande porta de correr branca, passou por quase nenhuma mudança desde que João Amorim assumiu. Ao lado da esposa, Dalila, ele toca o bar conforme a idade vai permitindo. Se antes os carros da clientela ficavam estacionados até de madrugada na Barão do Rio Branco, hoje as portas do Corujão estão fechadas “no mais tardar às oito e pouco”. Os clientes amadureceram com o bar, e, aos 74 anos, João serve cada vez menos cervejas. Não faz falta, sempre tem gente nova chegando atrás do famoso pão com bolinho, seja pra levar ou pra comer na hora acompanhado de uma Laranjinha. A Brusque Ilustrada conversou com o João, que contou um pouco dos seus anos à frente do Corujão em parceria com a esposa, Dalila. Brusque Ilustrada: Qual a história do Corujão? Sempre foi esse o nome do bar? João: Foi um nome que foi colocado quando eu era mais novo, era eu e um tal de Gabriel, um sócio que morava aqui atrás. Ficamos juntos uns quatro ou cinco meses, ele estava meio doente e depois saiu fora. Aí eu fiquei sozinho aqui, isso faz vinte e nove anos (...) Esse rapaz que começou aqui comigo, ele já tava com tudo prontinho. Então eu dei uma ajudada no último mês, limpamos tudo certinho e pronto. Combinamos uns quinze dias antes, e abrimos. Aqui na rua eram duas mãos e já tinha bastante movimento, ali na frente era a funerária, a loja de móveis do Seu Pedro, ali onde é a Talinda era uma casa de idosos. Isso aqui foi uma loja, uma

venda de secos e molhados no passado, depois foi um moinho de sal. O caminhão descarregava na frente e aqui era moído e empacotado. Ficou uns seis, sete anos fechado e depois eu vim pra cá. Começamos aqui em março de 1992. E aí fiquei, arrumei uma turma muito boa de clientes. E essa turma que eu tenho aí, de uns vinte e poucos, trinta rapazes, foi quem me aguentou aqui.

BI: A freguesia era fiel?

João: No começo eu vendia muita cerveja. Aquela turma, Os Batatinhas, da Festa da Oma, em outras épocas ia ter um monte deles aqui bebendo. Ficavam ali fora, um pouco lá, um pouco aqui e bebiam bastante. Depois foram casando, diminuindo, não deixam de vir aqui, mas já não é como antes. Tem outros que já vem com o filho e assim foi passando o tempo. Todos os casamentos nós fomos convidados. Dalila, quantos casamentos nós fomos num ano? Dalila: Em onze meses vinte, isso em um ano. Fora, todo ano eram doze, quinze. João: Passou de sessenta casamentos, na minha concepção. Ninguém dava presente, eu fazia lista com o nome de todo mundo, todo mundo pagava certinho sem reclamação. Recolhia o dinheiro e, no dia da festa, eu dava o envelope pro noivo com o nome de todo mundo. Eles têm muita confiança em mim, toda a vida para as festas que tiveram, eles me convidaram. Hoje, estão tudo com quarenta e cinco, quarenta e seis anos. Começaram aqui com dezoito, antes disso eu não vendia bebida alcoólica. Um ou outro ficava ali pedindo, mas eles acabavam indo embora. Estavam toda se-


18 І Brusque ILUSTRADA 3 І

mana aqui, sempre com respeito, nunca foram de falar palavrão, de entrar em discussão. E assim eu fui levando eles. Nos casamentos, me chamavam no palco e ainda faziam uma homenagem, era muito bonito.

BI: Porque as pessoas gostam do Corujão?

João: É pela amizade, ninguém perturba. As mulheres, namoradas, passavam na frente, viam os carros deles aqui e ficavam tranquilas. Sabiam que não tinha ninguém diferente. Nunca veio polícia aqui por causa de barulho, nunca deu problema com nada, graças a Deus. (...) Jogo de baralho, dominó, essas coisas não tinham. Não, porque quem perde não quer ir embora, quer recuperar. E quem tá ganhando, fica porque quer ganhar mais. Então isso não pegou. No começo eles até jogavam truco, batiam em cima da mesa e era uma barulheira. Mas depois acabou e pronto. (...) Antigamente tinha uma mesa de sinuca pra brincar, mas nada sério. Tinha uma mesa comprida lá atrás onde eles faziam comida de panela, carreteiro, macarronada, faziam por conta deles. Eu

vendia a cerveja e eles faziam a comida, depois dividiam. Dava umas cinquenta pessoas, sessenta nesses dias. Nas quintas-feiras também era lotado, não tinha nem lugar pra botar carro aqui. Às vezes domingo eu vinha e tinha que deixar o carro escondido. Se eles vissem, vinha um, vinha outro e não saía mais. Eu sei que uma vez, no dia de natal, dia 24 de dezembro, eu não abri. Chamei um rapaz pra tomar uma cerveja e foi essa a vez que eu tomei aqui, ficou a porta meio aberta, entrou um, entrou outro, cheguei em casa às oito horas da noite.

BI: Sempre foram só vocês dois que cuidaram do bar? J oão: Nunca tivemos funcionário, foi sempre nós dois. A Dalila chega aqui às seis da manhã e eu vou comprar pão. Pelas oito e pouco vou lá e compro mais. (Dalila) se dá bem com a


turma, ela sempre foi música, toca violão. No aniversário das amigas, na igreja tocou em muitas missas. Vivemos a vida toda numa boa, nada de enguiço, nada de discussão, ela é livre pra ir onde quiser e eu não sou de sair muito por aí. Tudo sempre na paz. BI: O prato principal sempre foi o pão com bolinho? João: Foi o pão com bolinho que sustentou o bar, isso é receita nossa. Dalila: O pão com bolinho, vem gente de fora (comer). Eu tenho clientes de toda região aqui. As pessoas comentam, né? Tem uns que trabalhavam aqui na frente e eram de Florianópolis, daí vinha os caras de lá e diziam “É aqui que é o bar do pão com bolinho? Tá sendo comentado”. Em Camboriú, tenho clientes, em Blumenau, em tudo quanto é lugar.

BI: E o que tem nesse bolinho?

Dalila: É carne e tempero.

João: Um tempero simples que a gente faz, que é sal, cebola e tomate. O segredo é a carne boa, a farinha de rosca, não é botado igual aquele montão que se põe por aí. Nós gastamos muito óleo, porque é trocado sempre (…) E eu vou dizer pra ti, eu vou no Archer de três a quatro vezes por dia buscar pão. Pra manter o pão sempre fresquinho, crocante. Muitos lugares não têm a sorte de ter um mercado perto, compro pão de manhã e chega de tarde, já tá murcho, velho. Então eu vou muitas vezes ali no Archer buscar. Chega a ir cem, cento e vinte pães num dia de semana normal. O mínimo que chega a ir é setenta pães, menos que isso é difícil. Então é trabalho o dia todo. A maionese é a campeã também, e ela (Dalila) faz todo dia. Se sobrar à noite, vai fora. Nunca colocamos coisas de outro dia, tudo é sempre feito no mesmo dia.

BI: A vida antes do Corujão, como era?

João: Eu era caminhoneiro, viajei por vinte e três anos. Depois enjoei de viajar, os filhos cresceram e eu não vi. Na verdade, ela (Dalila) foi pai e mãe nesses anos. (...) São quarenta e seis anos de

casado, quando eu viajava ela ficava com as crianças. Depois que eu montei o bar, começou a trabalhar comigo. Eu ficava fora de trinta dias pra cima, era carreta. Carregava pro Norte, Nordeste: Natal, Recife, João Pessoa, Paraíba, tudo estrada de terra por dentro do mato. Chegava lá, e pra ligar pra casa não tinha telefone. Então mandava telegrama e era só assim: “CHEGUEI BEM”. Eram caras as letras. Ia para Porto Velho, às vezes ficava dois dias sem ver uma pessoa. Então eu estava enjoado, carregava o caminhão e já não conseguia dormir pensando na estrada. Hoje ainda me lembro de certos buracos que tinha na pista lá em Natal, isso marca na cabeça da gente. Mas graças a Deus nunca aconteceu um acidente.

BI: E depois do bar?

João: Enquanto eu puder, eu quero ficar trabalhando, não quero ir embora pra casa pra não fazer nada. Enquanto eu puder ficar aqui, eu fico. Nem que daqui a pouco eu abra só umas duas, três horas por dia, mas eu quero ficar aqui. Não é qualquer lugar que tem uma história dessas, que conseguiu manter as pessoas por perto tanto tempo.■


20 І Brusque ILUSTRADA 3 І

Quem quer dar uma “banda” em Berlim? Sofia Halfpap estudante

O

ano era 2019 e um concurso musical promovido pelo governo alemão, achado por acaso na internet, botou a gente em movimento. O Concurso “Dein Song fur Eine Welt” (Sua Canção por Um Só Mundo), realizado de dois em dois anos, premia músicas autorais com temas globais feitas por jovens de todo o mundo. Nós tínhamos uma banda, formada na escola: Elas e o Jairo. Como o nome já sugere, Sofia, Bruna, Gabi, Ana Carolina e o Jairo juntavam suas “habilidades musicais” pra se divertir, aprender

a tocar e se apresentar no recreio do colégio. Por causa do concurso, surgiu o desafio: fazer uma música autoral. E mais... tratando de um tema que tivesse impacto global. O meu pai era o mais empolgado: tinha certeza que iríamos pra Berlim! Mas como? Da onde? A gente se perguntava… Nossas aulas semanais de música foram então dedicadas a fazer a bendita música... Elegemos a temática da Amazônia, tão descuidada, discutida e ameaçada. E tão cara também aos alemães. A gente fazia a música… não cabia na letra… alterava a letra, não cabia na música. Ao final de muitos experimentos, chegamos na canção “Só de Nós”. Além da seleção do júri técnico, o concurso premiava a música mais votada pelo público, numa votação pela internet. Nossa esperança aumentou, afinal, com cara de pau o suficiente seria possível alcançar os votos necessários. Nas últimas semanas acompanhamos a votação online e todos se empolgaram em catar votos com amigos, parentes e até pessoas no meio da rua. O círculo foi se ampliando e fomos todos pra praça, pros shoppings e todo lugar onde tinha gente. Ficamos surpresos como todos nos apoiaram. A intenção era só alcançar a meta de votos e acabamos quase ficando famosos, com entrevistas na rádio, no jornal e show em outras escolas. Conseguimos 2.582 votos e ganhamos. Viva! Uma bandinha adolescente de Brusque ia, então, gravar sua música em um estúdio em Berlim. A viagem já foi uma aventura: cinco amigos, dois professores, um pai e um avô correndo pelo aeroporto depois de quase perder uma conexão; noutro aeroporto ajudamos brasileiros na imigração e enfim, a Alemanha... Ah! Berlim... a gente parece que tá dentro de um livro de história. Pra onde se olha tem uma referência que a gente já viu na escola ou na TV. A cidade é linda, o clima friozinho, o chocolate gostoso e barato. Ficamos num hostel com gente do mundo todo pelos corredores. Nunca pensei que


conversaria com um sérvio, um turco e um francês ao mesmo tempo. Todo dia acordava cedo, tomava um café alemão e ensaiava bastante pra poder conhecer a cidade à tarde. Todos têm muita curiosidade sobre o Brasil: carnaval, futebol e o Rio de Janeiro. A gente improvisava no alemão e eles se esforçavam muito para nos compreender. Foram muito gentis e tivemos todo o apoio pra nos sentirmos em casa. Encontramos até uma cantora brasileira, Sol, pra cantar samba nos intervalos dos ensaios. Depois de muito treino, chegou a hora de gravar a música. Para uma banda que nunca nem entrara em um estúdio, estrear em Berlim estava ótimo, né? Estávamos nervosos, mas logo passou quando vimos que o cara da produção era superlegal. Um de cada vez, com o apoio dos amigos e professores, gravou sua parte e o alemão até ficou impressionado porque foi quase de primeira. Me belisca... que eu tô sonhando! Foram só 5 dias e foram os 5 dias que eu mais vivi na minha vida! As fotos estão aí pra provar e a música está no CD da terceira edição do concurso. Escrevo isso para estimular mais gente a participar, o concurso está acontecendo de novo. Para nós foi um crescimento pessoal e musical muito grande, conhecemos outro país e muita gente bacana. Só não foi a realização de um sonho porque 5 adolescentes de 14 anos nem sonhavam em viajar juntos para gravar em outro país!■


22 І Brusque ILUSTRADA 3 І

Máquina de escrever saulo adami escritor

O

som da pequena máquina de escrever – sonho de consumo mais acalentado nos meus primeiros nove anos de vida –, teclada a todo vapor, foi uma das marcas da minha infância e adolescência. Quem passava próximo da nossa casa – um misto de residência e comércio de secos e molhados, como costumavam dizer, naqueles tempos –, podia ouvir o tec-tec-tec da pequena Olivetti Lettera 32, verde como meus sonhos de aspirante a escritor. Aos nove anos de idade, eu viajava dois quilômetros no bagageiro da bicicleta de um dos peões que construíam a ponte ligando o Arraial dos Cunhas a Laranjeiras, interior de Itajaí, onde morei até o final de 2006. Lá, no escritório da construtora, quando havia uma folga, tinha à minha disposição uma grande máquina de escrever, o momento mais aguardado para exercitar minha catação de milho, como dizia meu primeiro professor de datilografia, o chefe do escritório, Sebastião Felizardo de Mello. Afinal, chegou minha própria máquina de escrever, em uma maleta azul, com zíper, cheirando a nova, vinda de uma loja de Itajaí. Hoje, seria como um guri que ganha de presente um microcomputador. Foi a primeira máquina de escrever da família, um privilégio – presente de meus queridos pais. Aos poucos, eu me mostrei um datilógrafo mirim habilidoso, que não apenas transcrevia textos, mas que criava suas próprias histórias. Nascia – ou melhor, materializava-se assim – o pequeno escritor nascido em Brusque. Alguns colegas se sentiram relegados a um segundo plano, quando me convidavam para sair ou para brincar e eu lhes respondia que não poderia ir porque tinha algumas coisas para datilografar. Da sala da casa ou do quarto, a máquina de escrever passou a ocupar uma das mesas do lado de fora do balcão da venda do seu Avaní e da dona Teresa. Transformou-se em uma atração aquele garoto com sua máquina de escrever. A curiosidade das pessoas, tão simples como eu ou como meus pais, era um estímulo para mim, que me sentia muito mais importante do que na realidade imaginava ser.

Frequentei dois cursos de datilografia – um perto de casa, com aulas particulares, em 1976, e outro na Escola Brasil, em Itajaí, em 1978, aonde eu ia depois das aulas no Colégio Estadual Deputado Nilton Kucker, na Vila Operária, e depois do almoço preparado com carinho de mãe por minha tia Florisa Batista Adami. A professora era exigente, mas o meu objetivo era mais o diploma do que o aprendizado, pois há três anos tinha minha própria máquina de escrever, já não era um mero batilógrafo. Além de escrever minhas histórias e peças de teatro, aquela Olivetti Lettera 32 (produzida no México) me deu dinheiro, fazendo trabalhos escolares para os preguiçosos da minha turma. Preguiçosos, mas bons pagadores! Tudo o que escrevi e publiquei, até 1986, foi produzido com aquela máquina. Só em 1987, quando já atuava no Jornal de Santa Catarina, como repórter da sucursal de Brusque, consegui dinheiro para comprar uma máquina maior: Olivetti Línea 98, uma supermáquina! Com ela, fiz a maior parte dos jornais, livros e revistas da minha carreira profissional. Prestei serviços por muitos anos para sindicatos de trabalhadores e outras entidades, como assessor de comunicação social. Hoje, a Olivetti Lettera 32 está aposentada, ocupa lugar de destaque junto da tela do meu computador. Mesmo convivendo com as facilidades da informática, resisti até comprar meu próprio microcomputador para trabalhar, em 1996. Guardo minhas máquinas de escrever com carinho, pois elas me foram caras e preciosas. Além das primeiras e mais fieis testemunhas de minhas criações.■


com o apoio de


24 І Brusque ILUSTRADA 3 І

povo de dentro

J

aneiro de 2021: Um povo estranho invade as ruas de uma pacata cidade do interior. Pelos muros das casas, escolas e estabelecimentos surgem criaturas estranhamente simpáticas, pensativas, inquiridoras, minúsculas, gigantes, estranhamente estranhas.



26 І Brusque ILUSTRADA 3 І



28 І Brusque ILUSTRADA 3 І

FEZ-SE ARTE

parte 1

Vânia GEvaerd Professora e Artista piano de cauda estava num dos patamares da longa escadaria da majestosa Igreja Matriz Paróquia São Luís Gonzaga, o som ecoava por todos os cantos. Ele, Arthur Moreira Lima, um dos maiores nomes da música e Embaixador do Piano Brasileiro, tocava desde as músicas clássicas de Chopin, Liszt, até os modernistas tais como Prokofiev e Villa-Lobos. A multidão se aglomerava e bebia desse momento de encantamento. Não só uma vez, mas, em outras oportunidades a cidade ganhou com a presença do pianista, lá pelos anos 80. O palco principal para essa e tantas outras apresentações era o Teatro da FEBE - Fundação Educacional de Brusque, atual UNIFEBE, que ficava bem no centro da cidade, lugar acessível a todos. Nesse mesmo espaço os shows de final de ano das academias de dança provocavam correria nas bilheterias para todos garantirem o seu lugar, e que bom que essas apresentações ainda acontecem. Ah, e os shows da Alina Lamparina, que grande espetáculo vivenciamos!

O

como o da “Turma da Pedra”, pois se reuniam nos degraus de pedras onde cantavam, recitavam, desenhavam e expunham sua arte, na maioria das vezes para eles mesmos, apresentavam uns para os outros aquilo que estavam fazendo. Desse movimento cultural inspirado na cultura hippie nasceu o Cogumelo Atômico, um jornal que ganhou notoriedade em muitas cidades e capitais, um meio de comunicação de uma época onde liberdade era algo inimaginável. Porém, nem o conservadorismo e a vigência da ditadura militar foram barreiras para que a vontade de transgredir intelectualmente fossem motivos de desistência ou desânimo, muito pelo contrário, resistir e insistir foram palavras de ordem e muitos outros jovens daquela época se inspiraram, ousaram, “caminhando e cantando e seguindo a canção”. A cidade é musical Dos títulos, Berço da Fiação Catarinense, Vovô do Futebol Catarinense, leia-se Clube Atlético Carlos Renaux, Berço dos Jogos Abertos de Santa Cata-

As décadas de 70 (final), 80 e 90 também foram bem agitadas nesta pequena e pacata cidade. Era uma geração sem a contaminação dos computadores e celulares, a criatividade e ousadia brotavam espontaneamente. Aos pés da estátua do Cônsul Carlos Renaux, na praça central um grupo fazia a diferença, o padrão dito “normal” para a época, fora quebrado de forma livre, leve e solta, o que assustava os transeuntes acostumados com o mesmo do mesmo, fazer arte era algo um tanto quanto estranho, coisa de quem não tinha o que fazer (será que mudou?). Conhecidos

rina, 1ª cidade a votar e implantar o voto eletrônico no Brasil, entre outros, não poderia deixar de mencionar que Brusque já foi a Capital do Rock do Sul do Brasil, isso lá na década de 80 com seu apogeu nos anos de 1988. Atitude, irreverência, vontade de extravasar suas ideias e sentimentos foi a dosagem exata para que o cenário musical dominasse bares, praças e garagens de residências. O disco de vinil, fitas cassete, instrumentos, etc. eram esperados nas lojas de som para a performance dos muitos grupos que aqui surgiram e deixaram sua marca. Toda essa


época gloriosa foi revivida em 2018 na exposição “BQ 80: Quando Brusque foi a capital do Rock no Sul”. Um revival da geração 80 com o saudosismo de uma época que, para muitos, ainda não acabou. Em toda essa atmosfera positiva que, aos poucos, assistíamos à queda da ditadura, o ousar era quase um mantra e voar na imaginação ainda era possível. As artes foram se fortalecendo por necessidade de uma geração carente em expressar suas vivências e os sonhos faziam parte dela. O local denominado Pavilhão da FIDEB – Feira Industrial de Brusque ou Pavilhão Antônio Heil, atual Fundação Cultural, foi o palco para a realização da Iª Bienal das Artes - Exposição Internacional, sob o comando e idealização do artista Jorge Grimm. Aquele espaço, antes ocupado por um público acostumado a partidas de futebol de salão ou feiras industriais, agora ditava a moda das telas coloridas e nomes inusitados, pois as obras de arte chegavam de todas as partes do mundo, um trabalho de anos a fio e incontáveis horas escrevendo cartas, explicando o motivo do envio de obras e da realização da exposição. Desenhos, pinturas, postais e diversos outros materiais começaram a ocupar os cômodos da casa do artista Grimm. Um grande acontecimento a nível estadual de grande relevância nas artes, cultura e educação de todo o estado. A cidade estava em clima de euforia. Escolas, artistas, visitantes e admiradores das artes para o pavilhão se dirigiam ao evento que marcou o calendário cultural nas datas de 28 de julho a 13 de agosto de 1989. Parte das obras desse magnânimo evento se encontra hoje na Fundação Cultural. Que grande feito para a cultura local, a cidade de Brusque já teve a sua Bienal das Artes! Com esse impulso, outras e mais outras pessoas foram se descobrindo, se descortinando e se aventurando no campo das artes. Muitas foram em busca da formação acadêmica em Artes Visuais, curso anteriormente inexistente aqui na região e que com essa nova oportunidade a possibilidade de estudar Arte em Blumenau na FURB e em Florianópolis, na UDESC, já era uma feliz realidade. Dos pequenos grupos de artistas da cidade já se observavam mudanças – O artista plástico agora é também o artista visual, pois outras linguagens artísticas começaram a surgir como a arte do grafite, instalação, performance, fotografia, etc. A ansiedade em expor tudo que se aprendia nas oficinas das universidades, junto dos nomes dos excelentes artistas cá da cidade, muitos deles autodidatas, surgiu o modo “Arte na Praça”. Passávamos o dia inteiro fazendo arte. Novamente a praça central abrigava esse povo carregado de cavaletes, tintas, argila, poesias em varais e transformava o local num grande atelier, uma galeria de arte ao ar livre. A comunicação, num tempo em que celular era uma palavra que não existia, funcionava muito bem e a arte acontecia. Tínhamos até patrocinadores e vestíamos camisetas padronizadas com a estampa ARTE NA PRAÇA. Que tempos !!■


30 І Brusque ILUSTRADA 3 І

UM ANO PARA O TORCEDOR NÃO ESQUECER andré schlindwein JORNALISTA

A

temporada de 2019 foi incrível para o Brusque, depois de anos tentando, o acesso à Série C chegou, e o melhor, com o título de Campeão Brasileiro. Com isso o futuro do time era promissor. E foi, 2020 era uma temporada para firmar o excelente trabalho, mas acabou indo além. Por fatores externos ao futebol, a última temporada foi atípica, mas acabou com um saldo muito positivo para o quadricolor. Ao fim, foi um título, um vice-campeonato, a melhor campanha da nossa história na Copa do Brasil do time, além do acesso à Série B do Brasileiro. Logo no primeiro jogo do ano o Brusque mostrou o motivo da boa expectativa que era depositada na equipe. Em jogo valendo o título da Recopa Catarinense, o time venceu o Avaí dentro da Ressacada por 2 a 0 e levou o troféu para casa. Ainda em âmbito estadual, foi por pouco que o segundo título de Campeão Catarinense não veio. O Brusque foi uma das melhores equipes da competição, liderando boa parte da primeira fase do campeonato. Se não fosse a derrota para o Figueirense na última rodada, teríamos fechado a primeira fase na liderança. Ao todo foram cinco vitórias, dois empates e duas derrotas na primeira fase, sendo sete jogos consecutivos sem perder. Foi um desempenho impecável. Com a ótima campanha, o time chegou às quartas de final para enfrentar o Joinville, com a vantagem de decidir o duelo em Brusque. Ao final, vencemos por 3 a 1 no agregado e passamos para a semifinal, onde enfrentamos o Juventus. Vencemos o primeiro jogo por 3 a 2 e garantimos a vaga na final com um empate em 0 a 0 no Augusto Bauer. Dá pra imaginar que, se a final contra a Chapecoense tivesse acontecido na data inicial, o Brusque teria muito mais chances contra o time do oeste.

Mas, como os dois jogos da final aconteceram em setembro, o adversário já vivia boa fase e estava em melhor momento do que o Brusque. Apesar disso, não dá pra jogar fora toda a campanha do quadricolor. O time conseguiu chegar em uma final do Estadual quase três décadas depois. O fato só ajudou a consolidar o Brusque como uma potência no futebol de Santa Catarina e quebrou a hegemonia dos chamados grandes. A última vez em que um time fora Avaí, Figueirense, Criciúma, Chapecoense e Joinville chegou à final foi em 2005 com o Atlético de Ibirama, que perdeu o título daquele ano para o Criciúma. Em âmbito nacional, o saldo também é positivo, começando pela Copa do Brasil e a melhor campanha do Brusque no torneio, chegando até a quarta fase da competição. Sabíamos que a primeira fase seria difícil, afinal o adversário era o Sport, um time da Série A. Mas a vitória também não era algo impossível, vencemos e eliminamos um time da elite nacional pelo placar de 2 a 1. Era só o começo. Na fase seguinte, um velho conhecido e mais uma vitória. Dessa vez com uma goleada que deixou o torcedor eufórico, um placar de 5 a 1 contra o Remo que permitiu ao Brusque chegar pela primeira vez à terceira fase da Copa do Brasil. O adversário foi o Brasil de Pelotas, e mais uma vez vitória quadricolor, tanto no Rio Grande do Sul quanto aqui em Brusque. Infelizmente a boa trajetória acabou na quarta fase. Nos dois jogos contra o Ceará, o time sofreu suas únicas derrotas na Copa do Brasil 2020. Na primeira partida no Augusto Bauer, 2 a 0 para o alvinegro, no jogo da volta em Fortaleza outra derrota, desta vez


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uma goleada por 5 a 2, encerrando o sonho do quadricolor de chegar ainda mais longe na copa nacional. Na Série C começamos com tudo, duas vitórias logo no início e nove jogos de invencibilidade na primeira fase. Mas nem tudo são flores. O quadricolor emplacou 10 jogos sem vencer, com direito a uma derrota por goleada em casa. Quase que não passamos para a segunda fase da Série C. No final, em um jogo eletrizante contra o Vila Nova os bons ventos voltaram e passamos de fase. Era hora de virar a chave! Em um grupo forte, a disputa foi grande para decidir os dois primeiros colocados que teriam direito ao acesso para a Série B. Mas o Brusque voltou a ter uma boa sequência e conseguiu uma das vagas! O acesso veio em um jogo contra o Ituano, velho conhecido da Série D 2019. A partida foi eletrizante, mas o Brusque se impôs contra o adversário do interior paulista, vencendo por 4 a 2 e garantindo, além do acesso, a festa do torcedor quadricolor. Infelizmente não chegamos à final, mas reclamar pra que? A temporada terminou com um acesso, um título e um vice-campeonato. Foi uma das melhores temporadas do Brusque em toda sua história. Além disso, foi a consolidação de um trabalho desenvolvido nos últimos anos. Agora é ver o que esse time vai aprontar daqui em diante, sabemos que até quando parece que não vai dar, esse time surpreende.■

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32 І Brusque ILUSTRADA 3 І

O COMENDADOR CYRO GEVAERD

E SUA SERENÍSSIMA REPÚBLICA DA FALA-FALA Cau formonte JORNALISTA (in memorian)

P

olítica... Gastronomia... E outros causos de um mestre na arte de viver... ISSO ERA CERTO: sem o tocador de obras Cyro Gevaerd não existiria o Parque do Centenário. E o Centenário de Brusque sem o Parque

seria só “meio” Centenário. Contra toda a oligarquia local venceu as eleições de 1960 para a Prefeitura de Brusque. Fez o gol e correu pro abraço, quer dizer, venceu as eleições e desenvolveu uma administração depois con-


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siderada modelo. O “Complexo Ambiental Cyro Gevaerd Zôo” na Santur em Bal. Camboriú é sua obra-prima. COMO UMA ONDA NO MAR: “Le commandant” fora um artista multifacetado. Começou sua vida profissional como tabelião. O jornal brusquense O Município publicou anos sua coluna: “Brusque em 10 minutos”. A Rádio Araguaia o tinha como uma espécie de Diretor Artístico quando em sua fase embrionária seu Cyro dava pitacos na programação. Master na arte da conciliação, sabia como ninguém falar mansinho, e o mais importante, poderia ficar horas escutando um interlocutor. Isso o tornou muito eficiente em canalizar investimentos para Brusque. Se perguntado por algum erro logo trazia a baila a questão da CimenVale, da qual fora um dos cabeças e emendava: -“O erro foi cutucar a onça com vara curta”-. Imagina querer peitar o poderoso lóbi do cimento em terras brasileiras. Chance zero em ter dado certo. AGENDA MARCADA: O “mestre” me convocou para uma reunião no escritório que mantinha em sua residência ao lado da então Loja Renaux... Não tinha recepcionista... Fui chegando e entrando. A porta da frente estava aberta... E a do escritório ao lado também... Ouvia-se a voz dele ao telefone... Uma grande mesa pesada de carvalho e ele se escondia atrás de uma enorme pilha de papéis na mais disparada bagunça... Papel pra todo quando é lado... Desligou o telefone e teve que ficar em pé para me ver sem que aquela ziquizirada toda atrapalhasse a visão. E no mais deslavado sotaque angelical afirmou: - “Desculpe, mas minha organização vem da desorganização... Se colocar essa tralha no devido lugar. Eu me dispirulito todo”-... VALEU: esse era o grande Cyro que nós tanto respeitávamos. Foi Secretário Estadual do Turismo... Presidente da Santur. UM MESTRE CUCA DE MUITOS COSTADOS: Na capital da Sereníssima República da Fala-Fala, isto é, na cozinha da sua chácara Fala-Fala no bairro de Bateias, monsieur Gevaerd, como bom chef francês que sempre fora... Desculpem a redundância... Comandava uma “cuisine française raffinée”, onde fazia um “faisan avec sauce au foie gras”, simplesmente pra lá de “divinô” (SIC). Mas a especialidade da casa era mesmo galinha de cabidela. Feita com tantos predicados que resvala na modinha... “Oh Minas Gerais / Quem te provou não esquece jamais / Oh Minas Gerais”... Tudo regado a um descontraidíssimo, maneiríssimo, inteligentíssimo “bota conversa fora” em sublime alto astral!!! Afinal, estamos tratando da mais alta hierarquia litúrgica da Sereníssima República da Fala-Fala! SEXTOU: Deve estar lá em cima... No Céu, abrilhantando aquelas intermináveis tardes da eternidade!!! Sem contar na possibilidade dele poder estar também dando um upgrade no cardápio da gastronomia celestial. ■

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34 І Brusque ILUSTRADA 3 І

LEMBRANÇAS CENTENÁRIAS DE UM CLUBE André schlinwein

texto baseado em entrevista realizada com Ewaldo Ristow Filho, ex-presidente do clube e no livro “Clube de Caça e Tiro Araújo Brusque: Memórias” de Ayres Gevaerd.

JORNALISTA

S

ou um dos clubes mais tradicionais da cidade, já vi e vivi muita coisa e resolvi compartilhar um pouco da minha história neste texto. Nasci em 1866, seis anos depois da fundação de Brusque, na época eu era conhecido como “Schützenverein”, fruto de minhas raízes alemãs. No início minha principal atividade era relacionada a caça e tiro. Era realizada a prática do tiro - modalidade presente até hoje - além da organização de grupos para expedições de caça pelas matas da região, algo bem comum naqueles tempos. Lembro que aos finais de semana a comunidade se reunia em minha antiga sede, um rancho simples, mas que abrigou inúmeras festas com música e dança, proporcionando diversão para famílias e amigos. Com o tempo a velha sede ficou pequena e um novo espaço se fez necessário. Em 1927 começou a construção do prédio que existe até hoje no número 190 da Rua Hercílio Luz. Dizem que parte do dinheiro para a construção veio da venda de um terreno anexo ao clube. Um ano depois e com a ajuda de vários sócios, aquele prédio que chama a atenção por sua beleza estava pronto para ser palco de muitos acontecimentos marcantes da cidade. Porém, mal sabia eu que minhas portas seriam fechadas por mais de cinco anos. Com a 2ª Guerra Mundial as colônias de origem alemã sofreram sanções e uma delas foi parar as atividades do clube. Muitos documentos que eu guardava - todos em alemão - foram destruídos e muito da minha história se perdeu. A sorte é que um dos diretores do clube conseguiu esconder algumas coisas, como os documentos de fundação, ao enterrar os papéis em uma parte do terreno. Com o fim da guerra, minhas atividades retornaram aos poucos e meu nome mudou, passei a me chamar Clube de Caça e Tiro Araújo Brusque. Veja só, Araújo Brusque também foi a pessoa que deu origem ao nome da cidade. Veja só,

meu salão já foi até local provisório dos primeiros anos do Colégio Feliciano Pires, antes do prédio da escola ficar pronto. Mais um fato que acaba reforçando os meus laços com a cidade de Brusque. Em meados dos anos oitenta fui palco do início de uma grande festa, até hoje uma das principais da nossa cidade. Em 1986, tinha início a Fenarreco, deu tão certo que minha sede foi o local da festa por três anos, até não comportar mais o crescimento da festa. Era muita gente, chegava até ônibus de outras cidades! Com o passar dos anos reformas foram feitas para me adequar aos novos tempos. Já fiz e continuo fazendo parte da vida de muitas famílias, seja nos casamentos, festas de formatura, confraternizações no dia-a-dia, na prática de esportes, entre outros. Os últimos tempos têm sido difíceis, longe das pessoas e com menos alegria. Mas eu sei que tudo vai melhorar e ainda vou ver e viver muitas coisas boas nessa cidade que também é parte da minha história.■




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