Brusque Ilustrada: Verão

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CONTEÚDO PATROCINADO

FATOS E ATOS HISTÓRICOS SOBRE A CÂMARA DE VEREADORES DE BRUSQUE, SEDE DO PODER LEGISLATIVO MUNICIPAL

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m 1º de janeiro de 2021, 15 representantes da sociedade eleitos pelo voto popular assumem o cargo de vereador na Câmara Municipal de Brusque. Serão 14 homens e uma mulher a compor originalmente a Legislatura 2021-2024, a 9ª desde a promulgação da Constituição Federal de 1988. Legislar, fiscalizar a gestão dos recursos públicos municipais e julgar as contas do prefeito serão suas principais tarefas. Instituição centenária, a Câmara foi fundada em 8 de julho de 1883, época final do Império Brasileiro. Nesses 137 anos de existência, inúmeros acontecimentos marcaram a história do Poder Legislativo brusquense. Acompanhe a seguir passagens selecionadas dessa trajetória:

Instalação Germano Willerding foi o primeiro presidente da Câmara, instalada em 8 de julho de 1883 na então Freguesia de São Luiz Gonzaga. O ato marcou a emancipação político-administrativa do município em relação à Colônia Itajahy. Willerding e mais 6 representantes haviam sido escolhidos meses antes, numa eleição na qual o direito ao voto era privilégio de uma minoria.

Germano Willerding.

Conselho de Intendência Em dezembro de 1889, nos primeiros dias da República, as câmaras municipais foram substituídas pelos Conselhos de Intendência. A primeira Intendência de Brusque, empossada em 14 de janeiro de 1890, teve Karl Renaux como presidente. Renaux e outros quatro conselheiros foram nomeados ao cargo por Lauro Müller, governador do estado. Karl Renaux.

Câmara Fechada Consequência do golpe de estado que alçou Getúlio Vargas à presidência, a Intendência municipal foi desativada em 1930. Nas eleições de 1936, Brusque elegeu sete vereadores, a maioria ligados à Ação Integralista Brasileira. O mandato durou pouco: em novembro de 1937, o golpe do Estado Novo manteve Vargas no poder e tornou a fechar o Legislativo.

Manchete do Jornal O Rebate, 1936.

Aníbal Diegoli.

Eleições Indiretas Em 1954, durante a 2ª Legislatura (1951 - 1955) após o Estado Novo, os vereadores elegeram o prefeito Aníbal Diegoli (1954-1955), que terminou o mandato de Mário Olinger (1951-1954), então candidato ao Legislativo estadual. Ambos eram da UDN. Já em 2016, coube à 7ª Legislatura (20132016) após a redemocratização a eleição de José Luiz Cunha (PP), sucessor de Roberto Prudêncio Neto (PSD). Este, que era vereador e presidente da Câmara, assumira o Executivo em 2015, após a cassação de Paulo Eccel (PT) e Evandro de Farias (PP).


Arena x MDB Durante a Ditadura Militar (1964-1985), o bipartidarismo também esteve presente na vida política de Brusque. De 1967 até 1983, todos os vereadores faziam parte da Arena, agremiação governista, ou do MDB, o partido de oposição. Em 1982, embora o bipartidarismo já estivesse extinto, apenas duas siglas se elegeram para o Executivo e o Legislativo municipal, o PMDB, antigo MDB, e o PDS, nova denominação da Arena.

Posse da Legislatura 1977-1982.

Enchente de 1984 A enchente de agosto de 1984 atravessou o mandato dos 13 vereadores da 10ª Legislatura (1983-1988) após o Estado Novo. Naquele ano, a sede da Câmara na Praça da Fideb, atual Praça da Cidadania, foi tomada pelas águas, sem que fosse possível salvar a tempo muitos documentos daquela e de outras épocas. Parte da história documental do Legislativo brusquense foi destruída pelo lodo.

Arquivos legislativos perdidos em 1984.

Popularidade Em 1992, Ivan Martins começava a primeira das cinco passagens que o levaram a ser o vereador com mais mandatos na história de Brusque. E ele está prestes a assumir o 6°, pelo DEM, em 2021. No ano de 2008, Eduardo Hoffmann também conquistou um marco. Pelo PDT, com 3009 votos, ele alcançou a vereança como o mais bem votado do município em todos os pleitos de que se tem registro.

Ivan Martins: eleito para seis mandatos.

Ana Helena Boos.

Marlina Schiessel.

Representatividade Feminina Desde a fundação da Câmara até hoje, seis mulheres foram eleitas em Brusque para representar a sociedade: Maria de Lourdes Fantini Benvenutti, pelo PDT (1993-1996), Gleusa Luci Fischer, pelo PPB (1997-2000), Paulina Coelho Härle, pelo PFL (1997-2000; 20012004; 2005-2008), que chegou a assumir a prefeitura em 2008, Marli Leandro, pelo PT (2013-2016), Ana Helena Boos, pelo PP (2017-2020), e Marlina Oliveira Schiessel, pelo PT (2021-2024).

Sedes Até meados de 1970, a Câmara funcionou junto à antiga Prefeitura, na Avenida Monte Castelo. Depois, foi transferida para a rua Adriano Schaefer e, em 1982, passou a funcionar junto à Biblioteca Pública Municipal, na Praça da Fideb. Em 1999, as instalações mudaram para a rua Manoel Tavares e, em 2008, para a sede atual, na Praça das Bandeiras.

Sede da Câmara, meados da década de 1970.

Sede da Câmara na rua Manoel Tavares, de 1999 a 2008.

Atual sede da Câmara, inaugurada em 2008.


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CACHOEIRA sete quedas Márcia Cardeal

O embate do ano zurico frota

Caderno de tempo ciro groh

Anjos do verão silvia teske

O CAMARADA DAS FOTOS Paulo moreli

o verão da lata maria zucco

Um verão inesquecivel ricardo weschenfelder

menos é mais Valmir ludvig

Baile do hawaii do bandeirante calinho luminoso

antes do filtro solar lieza neves

aprendendo a viver eder riffel

O ano é novo, e as atitudes? bruna Schwartz

avião da caixa d´água Felinho Valle


Apae de Brusque:

65 anos transformando vidas e fazendo a diferença

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undada em 14 de setembro de 1955, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – Apae de Brusque é a segunda Apae criada no Brasil. Nasceu da iniciativa dos saudosos Dr. Carlos Moritz e de sua esposa, dona Ruth de Sá Moritz, que buscavam recursos para melhor atender Pierre, seu segundo filho. O Rio de Janeiro (RJ), cidade natal de dona Ruth, foi o destino do casal que foi conhecer e buscar instituições referências no atendimento a pessoas com deficiência na época. Ao retornar para Brusque, o médico liderou o movimento para aquisição de um terreno e construção de uma escola. E assim, no dia 14 de setembro de 1955, foi fundada a Apae de Brusque: criada nove meses depois da Apae do Rio de Janeiro, sendo a primeira Apae de Santa Catarina e a segunda do país. Aos 75 anos, Pierre ainda é um dos alunos da entidade e com ele, cerca de 280 alunos recebem atendimento. Doação e apoio Ao longo dessas seis décadas, pais, familiares e amigos se juntaram à caminhada e contribuem de forma permanente, visando o fortalecimento da instituição e

a qualificação dos serviços a serem prestados à pessoa com deficiência intelectual, múltipla e com transtorno do espectro autista. A Apae Brusque oferece atendimento gratuito em todas as suas frentes de atuação: Clínica Uni Duni Tê, Instituto Santa Inês e Centro de Convivência Ruth de Sá. vvvDesde as medidas restritivas, adotadas em função da pandemia, entretanto, os atendimentos presenciais foram suspensos, sendo mantidos apenas os Testes do Pezinho e da Orelhinha, mediante a agendamento, realizados pela Clínica Uni Duni Tê, bem como foram retomados os atendimentos individuais na área de saúde, igualmente agendados, para os alunos das três unidades que compõe a Apae. Como contribuir Por conta dos impactos da pandemia, os eventos de arrecadação da instituição foram suspensos em 2020. Desta forma a Apae de Brusque conta com o apoio da comunidade para a contribuição, de qualquer valor, que possa auxiliar em suas despesas mensais.

Apae de Brusque Avenida Augusto Bauer, 350 – Bairro Jardim Maluche (47) 3351-2482 Facebook: Apae Brusque Instagram: @apaebrusque E-mail: contato@apaebrusque.org.br Site: www.apaebrusque.org.br Como doar: depósito - Banco do Brasil, agência 5233-7, conta 301640-4. Ou através da fatura de energia elétrica. Acesse nossas plataformas on-line e acompanhe nossos trabalhos.





O embate do Ano

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baseado na história de

zurico frota

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e já ouviu falar do futebol de praia entre Paysandu e Carlos Renaux organizado pela Mesa dos Dinossauros do Duda Belli, saiba que o negócio era bem mais sério do que aparentava. Apesar do nível etílico não condizer com o de campeonatos mais ortodoxos, quando aquela turma se juntava para agilizar sua partida anual, era tudo esquematizado em caderninho, listas, arrecadação e autonomia entre as equipes. Os amigos que batiam cartão no antigo Bar Duchê cruzaram caminhos no Clube Bandeirante. O Zurico Frota conheceu a esposa Helena e o cunhado Serginho “Roli” Hoffmann, também o Dodi Maffezzolli, Maurício Schaefer, Zeca Moritz e mais o pessoal que acabou andando junto por causa do esporte. Nas mesinhas servidas pelo Beto Belli, começou a história de organizar um jogo entre os torcedores do Paysandu e do Carlos Renaux para encerrar a temporada de verão e juntar os amigos em Balneário Camboriú. Nenhum dos clubes vivia seus dias de glória, mas brusquense que gostava de futebol tinha um lugar no coração para algum deles. Quando chegou do Rio Grande do Sul, o Zurico logo fez amizade com outros gaúchos que jogavam no Renaux e simpatizou com o time. Mas para os brusquenses, era caso de família. O Serginho, por exemplo, era Paysandu por causa do pai, então ficava no time comandado pelo Luciano Fialho. Já o Zeca Moritz, os Schaefer, Jaime Maffezzolli, esses vestiam a camisa azul, vermelha e branca. Quando a bola rolava na faixa de praia em frente a 2400, era um evento mesmo. Chegavam outros torcedores que veraneavam por ali e a rivalidade ficava à flor da pele. Certamente, a cervejinha do aquecimento tinha o seu papel na hora de deixar as coisas um pouco mais

quentes, difícil convencer um jogador determinado, mas com problemas de precisão, que ele precisava ir para o banco. Diz o Zurico que era sempre o Renaux que levava a vantagem, mas a versão é do próprio técnico da equipe. Mas a parte boa mesmo vinha depois. Tinha a vaquinha que bancava o churrasco da galera e mais a generosidade do Beto Belli que ajudava na cerveja, era o melhor jeito de fechar a temporada de verão com os amigos. Com o tempo, o negócio foi ganhando vida própria e o pessoal original acabou largando mão, mas sem deixar de manter as reuniões periódicas no Bar Duchê. A amizade continuou e o futebol na praia ficou para trás. Mais tarde, lá pelos anos 2000, quando o Clube Paysandu inaugurou uma reforma no seu estádio, a turma foi convocada para repetir o show que dava nas areias de Balneário. Depois de tanto tempo, e pela última vez, se dividiram e organizaram o que era preciso para tudo sair bonito para a plateia, o jogo foi divulgado, muita gente foi ver. Depois de virar a noite de sexta na concentração com os companheiros no Bar Duchê, o Zeca Moritz chegou dizendo que tinha sonhado com a partida. Que no sonho ele batia uma falta e fazia o gol da vitória para o Renaux. Era um sinal, pensaram. Então, quando o juiz marcou a falta contra o Paysandu, o Zurico logo interferiu: “Para, para! É o Zeca que bate!”. Estavam todos confiantes com a profecia, mais uma vez o Renaux ia levar vantagem no clássico. O Zeca embalou e deu um chute. Foi triste de ver a bola quicando perdida para longe do gol. O jogo acabou em empate, o Bar Duchê virou Duda Belli e a turma ainda está lá todo santo dia, uns mais, outros menos, com algumas baixas e várias novas caras.


caderno por Ciro groh

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imagem que ilustra esta introdução data de abril de 1992. Era apenas mais um período sendo registrado no meu “CADERNO DE TEMPO”, uma prática que assumi de forma diária, por mais de 25 anos, fielmente anotando todos os dados relacionados ao tempo em Brusque. Foi assim entre 1987 e 2012, quando as canetas e cadernos foram aposentados e eu me adaptava a uma nova era: o da internet com o computador e as redes sociais entrando em cena, facilitando e tornando público este trabalho que construí ao longo das décadas. Atualmente, tenho onze estações meteorológicas em operação espalhadas pelo Vale do Itajaí- Mirim, que geram dados ao vivo da situação em cada localidade. Posso olhar para o passado e dizer que todo este empenho, com algo que começou de forma simples, valeu a pena. Muita coisa mudou de lá pra cá, mas a paixão e a curiosidade pelas coisas que se passam pelos céus de nosso município e região continuam fortes. Certamente levarei esse amor junto para o meu caixão! A seguir estão mais de 25 anos de registros relacionados ao tempo na região de Brusque:

onde nasce o itajaí mirim

Localidade de Fazenda Rio Bonito. Alguém saberia dizer o que esse lugar do interior do município de Vidal Ramos tem a ver com Brusque? Pois tem tudo a ver! É nesse entorno que brotam as principais nascentes do nosso rio Itajaí-Mirim. Tenho 2 estações meteorológicas monitorando às condições do tempo nesse pequeno paraíso. Gosto de me deslocar até lá quando preciso fazer as devidas manutenções nos equipamentos. Me sinto bem, aquele ar me faz lembrar a paz, o sossego. Ah, esqueci de dizer: a fazenda Rio Bonito está entre as áreas mais frias de todo o Vale do Itajaí. É lá que normalmente são registradas as menores temperaturas de toda a região.


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de tempo ALTA TEMPERATURA Aquele fevereiro de 2014, vocês não imaginam o calor que fez em Brusque! Foram quase 15 dias seguidos com picos máximos acima dos 36ºC no município. Em mais de 3 décadas monitorando o tempo na região, jamais registrei uma onda de calor tão intensa e duradoura como naquela ocasião. O abafamento deste final de 2020 representa um calorzinho perto do caldeirão que durou 2 semanas da época!

brusque gelada Qual foi a menor temperaturas registrada em Brusque nessas últimas 3 décadas? Bem, creio que aquelas pessoas com mais de 20 anos de idade devem lembrar do inverno de 2000. Foi inesquecível! Aquele julho... ah! Aquele gélido mês! Foram 10 dias seguidos com temperaturas abaixo dos 5ºC no município, sendo 3 deles tendo marcas negativas. O pico mínimo dessa intensa onda de frio foi registrado em 14/07/2000, logo ao romper da aurora. Por 10 dias, Brusque teve a presença da geada nas primeiras horas daquelas manhãs.

LOCAL MAIS quente DO VALE Alguém saberia responder qual é o local onde faz mais calor no Vale do Itajaí no verão? Pois é, penso que poucas pessoas imaginaram que é o bairro Aymoré, em Guabiruba. Nesse lugar são registradas as maiores temperaturas da região na estação mais quente do ano. Mas por que isso ocorre? Uma das razões que contribui para esse aquecimento destacado são as altas montanhas que cercam o bairro. Detalhe curioso: Não muito longe do Aymoré, está o Lageado Alto, também em Guabiruba. Pois é nesse bairro que ocorrem os menores picos máximos de todo o Vale do Itajaí. Que lugar fresquinho no verão! Os termômetros nesse local costumam marcar índices em torno dos 5ºC a menos se comparados com o Aymoré. Bora pra lá então para fugir do calorão!

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13 ANJOS DO VERÃO silvia teske

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empre amei o Natal. A criança em mim ainda vibra, mesmo agora com meus cabelos embranquecendo. No passado, era o presente embaixo da árvore, que era realmente surpresa, e praticamente o único que eu iria receber no ano, o que me fascinava. Também o fato de que estávamos em férias e depois das festas iríamos para a praia, o mar, a brincadeira na areia, nos pés de café de Itapema. Por isso, quando, a Prefeitura de Brusque contratou a mim, a meu querido Osmar Luis Teske (falecido), ao João Celso Gomes Hyarup e Marta Haydée Ordoñez Hyarup (falecida) para fazer uma decoração de Natal para a principal rua da cidade, eu simplesmente amei!!! Foi no início da década de 90 (1993\94) e estávamos, os dois casais, com uma parceria de trocas de materiais e de técnicas artesanais. Havia uma sintonia e uma força criativa enorme: a proposta foi de preencher a rua principal com anjos gigantes. Resolvemos dividir o processo, pois cada casal tinha sua própria oficina e suas peculiaridades artísticas\artesanais. Enquanto João e Marta ficaram com o corpo dos anjos, eu e Osmar ficamos com as cabeças. E juntos desenhamos e recortamos em madeira trombetas e arpas. Para as asas encontramos bambus e arcamos no formato de asas e forramos com tule colorido. Não lembro ao certo quantos anjos eram, mas acredito que deveriam ser mais de 10. O que mais lembro é que aquele final de ano, e início de verão, nos fez trabalhar praticamente umas 18 horas por dia para dar conta de tudo até a data estipulada. Um dia antes de montarmos os anjos na rua, reunimos todo o material no antigo CEIB da Lala (minha mãe). Foi uma surpresa imensa quando foi constatado que a roupa dos anjos era extremamente pop, com estampas coloridas enquanto as faces eram envelhecidas e douradas, remetendo aos anjos barrocos das igrejas mineiras. Mas aquilo que num primeiro momento assustou, em seguida trouxe a certeza de que eram anjos peculiares, únicos e que representavam nosso trabalho e o poder que a arte proporciona para além do óbvio. Resolvemos colocar tule colorido da mesma cor das asas sobre suas faces para que a diferença não ficasse tão evidente. Assim, na noite seguinte após as 22 horas, começamos a instalação dos anjos. Varamos a noite inteira e quando amanheceu, as primeiras pessoas que chegaram na avenida Cônsul Carlos Renaux foram surpreendidas por uma saraivada de anjos enormes. Uns amaram, outros odiaram, outros ainda hoje não sabem bem o que sentiram, mas foram, todos, sem dúvida impactados. Nossa tarefa foi cumprida, trazer anjos para olhar pela cidade, olhar pelas pessoas… nunca dissemos que eles seriam bonitos, mas com certeza eram cheios de fé.


O CAMARADA DAS FOTOS Texto de Paulo Morelli, baseado em depoimento de Érico Zendron.

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ocê já deve ter visto fotos antigas de Brusque e se perguntado como era o cotidiano das pessoas naquela época. O que faziam para se divertir, passar o tempo? As roupas, os passeios, os encontros... E no verão? O acesso à praia era mais complicado, ninguém tinha piscina em casa, os Clubes eram para poucos. O contato com a turma era difícil. Como faziam para organizar um passeio com os amigos, sem telefone nem grupos de WhatsApp? Para responder isso, ninguém melhor que o senhor Érico Zendron, que desde os anos 1940 registra o cotidiano de Brusque e tem o maior acervo particular de fotos antigas da cidade. Esse camarada de 92 anos e de uma memória invejável relatou o que faziam nessa época, num depoimento cheio de curiosidades do cotidiano de Brusque nos anos 1940 e 1950. O site Brusque Memória tem dezenas de fotos feitas por Érico nessa época, retratando piqueniques e encontros de amigos. Ele conta que reunia essas turmas e ia junto para fotografar, com o intuito de vender as fotos. O objetivo era faturar. Todos se encontravam na missa de domingo, às 9 horas da manhã. Ali combinavam passeios para mais tarde ou para a semana seguinte. E assim iam para piqueniques, geralmente de bicicleta. Os destinos eram diversos. A Lagoa dos Orthmann, os campos da Guabiruba ou até a beira do Rio Itajaí-mirim. O Rio que cruza Brusque, ainda em seu traçado antigo, formava pequenas “praias”, onde as turmas se reuniam para paquerar, e Érico aproveitava para fazer


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as fotos. Um dos locais era em frente a onde hoje fica o SESC. E ali estão os rapazes vestindo terno e as moças em belos vestidos, curtindo dias de calor e posando para fotos. A água era limpa, sem a poluição de hoje! Para os passeios em locais mais afastados, as moças preparavam sanduíches, já que não havia restaurantes ou mercados em qualquer lugar. As opções de diversão eram escassas na cidade. Futebol, cinema, empada na Confeitaria Kohler, paquerar na Praça ou fazer piqueniques e pescarias. Poucas vezes, chegaram a sair da cidade. Para Nova Trento ou Balneário Camboriú, reuniram a turma e foram de ônibus. A viagem levava mais de duas horas! Os rapazes iam assistir ao futebol, ou reuniam os amigos para jogar pelos bairros. O cinema tinha sessões diárias às 8 da noite e 4 sessões nos finais de semana. As salas eram enormes e estavam sempre lotadas. Érico preferia reunir várias pessoas em uma foto, pois assim, com a mesma pose, poderia vender a foto várias vezes. Todo o lucro era contabilizado, com os custos do filme e da revelação, e as receitas com a venda das fotos. Todos andavam sempre em trajes elegantes, mantendo a pose na missa, no passeio, no cinema, no trabalho ou para assistir o futebol. A vestimenta era mais alinhada e o contato com as moças era mais respeitoso. Da conquista até o primeiro beijo, era uma longa jornada. Memórias de outros tempos, quando a vida era mais tranquila, as pessoas e a cidade tinham outro ritmo.

O depoimento completo está disponível no canal Brusque Memória no YouTube. Essas e outras fotos estão disponíveis no site: www.brusquememoria.com.br

érico zendron


A BRISA DO MAR QUE BATEU AQUI maria zucco


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verão de 1987 foi marcado por um evento que deixou de cabelos em pé as autoridades e atiçou os pescadores, surfistas, artistas e malucos de todos os cantos. No final daquele ano, o litoral brasileiro foi invadido pela carga de um navio suspeito, que vinha do outro lado do mundo, transportando uma mercadoria que a lei não admite. Do tipo que faz o tempo acontecer devagar e as pessoas precisarem de colírios. Os primeiros desavisados não entenderam muito bem quando encontraram latas de conserva sem rótulo algumas cheias do que parecia ser algum tipo de chá. Pescadores cruzaram caminho com o material misterioso em alto mar e acabaram entregando para a polícia, que deu início a uma caçada voraz para impedir que as latas chegassem à população. Mas a concorrência era grande demais, a notícia correu rápido e as pessoas estavam encantadas, fissuradas em suas buscas. Surfistas entravam na água com uma missão além das ondas, gente de todo o canto correu para o litoral pra garantir a sua cota. O frenesi foi geral, ninguém entendia o que estava acontecendo exatamente, mas a onda paz e amor tomou conta, o episódio ficou conhecido como “Verão da Lata”. E não era só o mistério que deixava o fascínio, dizem os entendedores que o negócio era de qualidade, muito superior ao que se encontrava no país. A quantidade também impressionava, o cálculo é de que mais de quinze mil latas seladas industrialmente chegaram à costa do Brasil. Soava como lenda, um sonho improvável, mas o brusquense sempre foi realizador e quando os jornais passaram a reportar as aparições milagrosas, teve turma de amigos que resolveu agir. Quem queimou da lata vivia outros tempos, épocas de solteiro, de correr atrás de aventura. Não precisaram ir para longe, a correnteza espalhou as latas pela costa de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul também. “Presente de Poseidon”, a galera comentava. A ditadura militar tinha acabado há pouco tempo e a Constituinte estava sendo instituída no Brasil. Como não era grande centro, Brusque pouco sofria com o clima de repressão que ainda pairava nas capitais ao norte. Todo mundo se conhecia por aqui, quem andava com quem, quem era filho de quem. Nessas épocas, a polícia era escassa na cidade, mas corria o rumor de que tinham uma lista com os nomes de quem observar de perto.


Da turma que “incomodava”, boa parte morava fora de Brusque, as famílias tinham condições de enviá-los para estudar fora nas cidades maiores da região. Ainda assim, no final de semana, se encontravam, sem falta. Não era preciso marcar nada, pouco prático, dado a falta de internet. Todos sabiam que o ponto de encontro era na Confeitaria Koehler, onde a cerveja acompanhava as tradicionais empadinhas da casa. Pelas 19h, quando o atendimento encerrava, o destino era o Beto Belli, no Duchê, hoje em dia, Duda Belli Bar, onde iam madrugada adentro. Quando o negócio das latas veio à tona, o destino era certo. Aceleraram para a Praia do Araçá, onde os pescadores eram amigos de longa data. Só que dessa vez, as embarcações não traziam só corvi-

nas, robalos e bagres. Depois de um final de semana bem aproveitado em Porto Belo, os brusquenses voltavam para casa enlatados e carregados com um estoque que garantiria um verão pra ficar na memória (ou muito pelo contrário?). Chamavam o negócio de Mike Tyson, nocauteava no primeiro, segundo assalto. A companhia perfeita para um sábado de sol na cachoeira. Com um Led Zeppelin bombando no toca-fitas, reuniam os amigos e partiam Guabiruba adentro fazendo fumaça e falando bobeira. O pessoal gostava da natureza, combinava com o estilo “hipongo”. Um sonho da galera era se mudar para aqueles cantos do interior. O Schuma era o favorito quando o estômago roncava, restaurante de família, onde chegavam de olhos


19 vermelhos, cheios de graça, prontos para atacar um delicioso marreco recheado. Claro que nem só de brisa viviam os rebeldes brusquenses. Na extinta Granja Fala Fala, varavam a madrugada do dia 24 para o 25 de dezembro, no embalo das primeiras festas de Natal de Brusque. Em datas menos especiais, Bar do Coelho era o lugar queridinho da galera, tinha uma galinha frita inesquecível e funcionava 24h, para alegria dos lariquentos da madrugada. Mesmo para quem tinha acesso fácil a todo tipo de experiência extrassensorial, a chegada das latas no Brasil foi um evento eufórico. Teve marchinha no carnaval carioca, “da lata” virou gíria para incrível e a Fernanda Abreu cantava sobre o “Veneno da Lata”, era só do que se falava naquele verão. Apesar dos esforços das for-

ças policiais, a conta é de que conseguiram recuperar apenas um quarto das 15 mil latas contendo 1,5 kg de “veneno” cada. Nunca chegaram a encontrar nada com criminosos profissionais. Parece que a mercadoria simplesmente chegou em quem deveria, de músicos famosos à molecada do interior. A origem do incidente se deu quando o Solana Star partiu da Austrália, uma embarcação com bandeiras panamenhas, que alegou uma pane elétrica para parar no Brasil. Oficialmente, o porão estava carregado com 22 toneladas de suco, mas uma investigação do DEA (Administração de Fiscalização de Drogas) americano, indicava que o conteúdo da carga não condizia com os papéis. Avisadas sobre o caso, as autoridades iniciaram as buscas pela embarcação, mas sem recurso o suficiente para fazer um trabalho eficaz. Não se sabe até hoje o que se passou no Solana Star. As teorias mais plausíveis especulam que avistaram de longe um antigo navio de guerra usado pelos brasileiros na investigação e tomaram um susto. Alguém em terra havia falado mais do que deveria. O plano original, segundo os americanos, consistia em atracar no Rio de Janeiro e dividir o conteúdo entre dois barcos rumo a Miami. A expectativa era 100 milhões de dólares de lucro para a quadrilha que organizou a transação. Mas quando notaram que havia algo suspeito acontecendo, a tripulação do Solana Star decidiu lançar as latas no mar e descer em terras cariocas. Tiveram uns dias de tranquilidade curtindo a cidade maravilhosa até as primeiras latas começarem a aparecer. Dos sete que estavam no navio, seis deixaram o Brasil às pressas, sabendo que a polícia logo chegaria neles. O único que ficou para trás identificou-se como somente o cozinheiro, mas a polícia não comprou a inocência e ele foi condenado. Descobriram que havia se apaixonado por uma carioca e tentou a sorte para ficar perto do novo affair. Diz que não sabia de nada, mas tem sugestões sobre quem deve interpretá-lo num filme hipotético sobre o episódio, “Seria um blockbuster!”. Pela perspectiva americana, a operação foi um sucesso, impediram que 22 mil quilos de maconha entrassem nos EUA. A polícia brasileira ainda lamenta a falta de equipamentos que não permitiu a apreensão da carga no momento certo. E quem encontrou as latas viveu um verão histórico que mudou o diálogo sobre a maconha no Brasil.



21 Um verão

inesquecível ricardo weschenfelder

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rusque não tem praia. A gente sonhava o ano todo com a ideia da praia, com o cheiro, as ondas, o picolé na areia, o fliperama, as meninas de biquíni. Mas, naquele ano, 91, eu reprovei na escola. Oitava série. Quem se importa com uma reprovação na oitava série quando se tem um verão brilhante, mágico e tão aguardado pela frente? Meu pai! O meu pai decidiu, como forma de retaliação, que eu ficaria em Brusque no verão cuidando da minha avó. Era o pior castigo e humilhação na terra para um adolescente de quatorze anos ficar na cidade no verão com a vó. O que me restaria seriam o calor, o suor, a inveja e a brita. A brita é a metáfora perfeita para a cidade. Mas isso eu tento explicar depois. E lá se foi a família para Perequê. Com o carro cheio de tralhas, ventilador, morebug, televisão, Banco Imobiliário e isopor. Parecia uma cena de retirantes às avessas, uma espécie de êxodo feliz. Ficamos eu e a minha vó. Ela falava pouco. Ficava na frente da TV quase todo tempo. Não me dava muito trabalho. Até fez uma cuca para mim. E sempre me chamava pelo nome do filho dela, meu pai. Eu fingia que estava tudo certo. Mas decidi, pelos meus antepassados, que nunca mais iria reprovar na escola. Cansado da minha vó, da televisão, do Roberto Carlos, do Reveillon da Globo, dos filmes reprisa-

dos infinitamente e dos especiais de fim de ano que mais pareciam um trailer para quem cansou de viver, decidi, depois que a minha vó dormisse, que iria explorar a cidade. Brusque fica vazia nessa época do ano. Uma cidade fantasma, quente e abandonada. Mas comecei a ver, assim mesmo sem querer, beleza naquilo tudo. Percebi a cidade como nunca tinha percebido. Os manequins nas vitrines até quase falavam comigo, as casas abandonadas ganhavam ares fantasmagóricos e solenes, o rio fluía como nunca, sinuoso e escuro, os morros do vale se tornavam gigantes verdes e marrons e a cidade era só minha. Nem táxi tinha na praça! O que me chamou a atenção foi a enorme quantidade de cartas e jornais na porta das casas vazias. Afinal, não tinha ninguém para receber e ler as cartas. Uma noite entrei, sorrateiro e curioso, no terreno de uma casa. Havia uma pilha de cartas esquecidas. Era uma casa simples. Com terreno grande e brita. Não esqueci da brita não. Então, a brita é uma instituição brusquense que diz muito sobre o imaginário da cidade. Caminhar na brita é difícil, duro, cinza e sem afeto. Pensei isso enquanto caminhava na brita daquela casa. Enquanto aquela família gozava de férias na areia. Lembrei imediatamente da areia. E fiz a associação dialética entre a brita e a areia. Tomei coragem e liberdade de abrir uma das cartas. Imaginei ser uma carta secreta, de amor ou um relato de ilhas distantes, aventuras extraterrenas. Nada disso. Para minha surpresa, era um boleto da Havan, referente à compra de uma geladeira. Eu ri sozinho. Eu, a cidade, a brita e o boleto da Havan na minha mão.


menos ĂŠ mais valmir ludvig


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nsistimos em preencher a vida com muitas coisas desnecessárias. Quanto mais temos coisas, mais tempo precisamos dispor para cuidar delas. Tem gente que tem muito dinheiro e se cerca de montanhas de coisas inúteis. Gasta energia e tempo para não perder nada. A gente escuta muito as pessoas falarem: eu conquistei isso, conquistei aquilo. Não dormem preocupadas que alguém possa roubar suas conquistas. O verão nos ensina coisas simples. Aliás, a vida seria muito mais simples não fosse nossa cabeça complicada. O que precisamos para, por exemplo, passar uns dias na praia, no campo? Não fosse o preço absurdo da alimentação, quase nada. Há alternativas que com organização e previsão podemos concretizar. Uma barraca, um barraco, um lugarzinho simples, uma bicicleta e um pouco de disposição já é um bom começo. Muitos jovens ficam “apressando o tempo” para completarem 18 anos para ter uma moto ou um carro. Sem problema. Mas poderiam ter, antes de tudo, uma bicicleta e fazer muitas coisas boas com ela. Infelizmente isso não está no horizonte de uma sociedade consumista. O verão que nos dá a sensação de liberdade, da gente se contentar com sol, mar, cachoeira, uma bebida gelada, deveria ser parâmetro para todos os momentos de nosso ano, de nossa vida. Não precisamos de muito para viver. A bicicleta ensina isso. Precisamos de muito pouco quando viajamos de bicicleta para a praia, para o campo ou para qualquer lugar: uma barraca, uma pousada, um alforje e estamos com tudo. Não percebemos o bem que faz a liberdade de nos livrar de muitas coisas que nos amarram, tomam o nosso tempo. Uma sociedade que incentiva o ter, as aparências, concentradora de renda, consumista, impede que muita gente possa ter essa vida mais simples e repleta de dignidade. Estamos numa pandemia. Talvez ela nos ensine que precisamos de muito pouco para viver. Esse acúmulo de muitos é o que falta para o pouco que todos precisam para viver. É uma “sobra” que daria uma vida decente para todos. A pandemia nos impede de fazer até as coisas mais simples, mas nos mostra o tamanho que temos. Com muitas ou poucas coisas o vírus não pede licença, não avalia nossos bens, nosso poder, nossa visibilidade na sociedade. Aprendamos que todos os seres humanos querem ser felizes. A felicidade acontece nas coisas simples que aprendemos a valorizar e que deveriam ser uma realidade na vida de toda gente! Lembremos que o momento exige que cumpramos todos os protocolos em relação ao Covid-19. Cuidemos de nossas vidas e da vida de todos.



25 BAILE DO HAWAII DO BANDEIRANTE M

Calinho Luminoso

e desculpem os indecisos e os irresolutos, mas para mim não houve e não haverá em terras brusquenses uma festa tão icônica e absoluta como o Baile do Hawaii do Bandeirante. Todos os anos quando veiculavam os clássicos outdoors da festa pela cidade, algo começava a acontecer! Preciso contextualizar as gerações atuais que estamos falando em um tempo pré-internet, onde tudo se comentava no “boca a boca” ou no máximo através das linhas de telefone fixo girando número por número. E quando eu escrevo “algo começava a acontecer” é neste ponto incrível que eu gostaria de tecer minha crônica. O Baile do Hawaii do Bandeirante tinha o poder de mexer com as almas mais pacatas, assim como saciar à vontade por uma boa festa das almas mais efusivas, resumindo: a cidade inteira de fato se encontrava e se preparava especialmente para essa festa. E o grande barato realmente antecedia ao baile. As mulheres passavam horas pensando e conversando sobre como iriam vestidas e produzidas, os homens pensavam em seus trajes, mas também como seriam os seus esquentas, onde estacionariam o carro, quem colocaria o som. Era bonito assistir o envolvimento de toda a cidade em torno do evento. Para muitos, o Baile do Hawaii foi a primeira festa da vida, o debutar das atividades noturnas, o início de uma vida social, uma das poucas festas em que os pais deixavam seus filhos irem de olhos fechados, ou semiabertos, mas deixavam, devido a tradição e ao renome do clube. Não menos importante, começavam semanas antes da festa as paqueras, aquela pergunta que parecia inocente, mas estava cheia de segundas intenções: Tu vai no Baile do Hawaii? A resposta era óbvia e a gente já sabia que sim, mas escondida na pergunta estava a vontade de quase todo mundo: dar um bom beijo tendo como testemunha algum cantinho do clube, quem nunca né?

Eu poderia afirmar que realmente o que antecedia ao baile seria mais legal do que o próprio baile, mas eu seria muito injusto com a minha própria memória e, é claro, com a própria festa, pois ela sempre cumpria o que prometia! Fechando os olhos eu consigo facilmente me transportar, subindo o morro do Bandeirante, vendo ao longe as luzes da festa e aquele som meio distante, os amigos ao redor do carro conversando e tomando Bacardi Lemon com Sprite, as meninas chegando em grupo, muitas trazidas por seus pais, sempre muito bonitas, e os pais sempre muito mal encarados, a tradicional mesa de frutas, os palcos, a boate, todo mundo se cumprimentando e se alocando em suas mesas pré reservadas, trocando abraços e sorrisos, dançando ao som da banda Estatura Mediana, enfim, uma saudade boa que só quem teve o privilégio de estar presente nessa festa entende do que eu estou falando. É com um carinho enorme que escrevo essas palavras e agradeço demais o pedido para escrevê-las. Pois tive que praticar um exercício muito gostoso de reviver e acessar algumas memórias que se encontram em um lugar muito especial dentro em mim. Um lugar rodeado de alegria, de amigos especiais, pessoas que fizeram e fazem parte da minha história e que tive a sorte de serem cúmplices, assim como as piscinas do Bandeirante, de momentos incríveis da minha vida. Tenho certeza que não sou só eu que guardo em um cantinho especial as histórias do Baile do Hawaii do Bandeirante e, se como eu, você também possui as suas queridas histórias desta icônica festa da nossa cidade, podemos ter a certeza que ela cumpriu com todo o mérito o seu devido papel! Viva o Baile do Hawaii do Bandeirante!


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Antes do

filtro solar G

osto de escrever e falar sobre memórias. Não à toa me tornei contadora de histórias. Depois de estudar e apresentar os contos de autores e os registros da tradição oral, me vi atraída recentemente pela pesquisa e coleta de relatos feitos diretamente com as fontes, ou seja, de vidas e pessoas reais. Esse trabalho me lembra o estilo da crônica – que muito me agradava quando cursava Jornalismo – em que a realidade ganha toques de literatura. Assim, mesclando entrevistas e fatos com arte, passei a desenvolver o projeto “Vozes e Memória: o que os antigos falavam”. Seu conteúdo traz dizeres de moradores antigos de Brusque e cidades vizinhas, categorizados em ditados, versinhos, crendices, cantigas, simpatias e vocabulário. O resultado dessa coleta está publicado no site www. vozesememoria.com além de informações correlatas ao universo da oralidade. Para a parte artística do projeto, foram produzidos seis vídeos ilustrativos, em que personagens brusquenses têm voz e sotaques, devolvendo assim, de certa forma, o conteúdo vindo da palavra falada, passado pelo registro escrito, para sua forma original. Durante os meses de trabalho, entre conversas com as pessoas que me emprestaram suas memórias, me vi aguçando as minhas próprias. Brincadeiras de infância, versos e cantigas me vinham como flashbacks enquanto esperava o sono vir, durante o banho ou lavando louça. Acabaram não entrando no projeto, pois o recorte dele exige que se enquadre na época “antiga” – o que delimitei, pela falta de um conceito exato, que seriam de moradores há mais de 60 anos da região escolhida. Desta forma, minhas anotações não poderiam ser incluídas. Então veio a chance de perpetuar e compartilhar essas lembranças: o convite desta revista que, ao propor o tema “verão”, me levou a relacioná-lo diretamente com as memórias de infância e adolescência. O clima de alegria, os cheiros e sensações desta época do ano, a possibilidade de brincar até mais tarde na rua, tudo isso que remete ao final de ano e início do próximo. Verão na minha infância e adolescência era sinônimo de férias escolares. E tenho mesmo a impressão de que estas duravam muito tempo, muitos meses. O entardecer era comprido, por conta do horário alterado, e assim a gente podia ficar na rua brincando até a noite, que não era escura. Os vizinhos se juntavam e a bola furada

Lieza Neves

era perfeita para jogar vôlei tendo o portão de casa como rede. Assim, vazia, ela ficava mais pesada e não ia parar do outro lado da rua com os saques e cortadas dos pouco habilidosos atletas. Brincávamos de fazer cabana nos terrenos baldios e, claro, levávamos para o banho da noite todo o barro impregnado nas roupas e unhas. Também ficávamos na calçada, contando piadas e brincando. O pé direito de cada um se juntava em roda, e então vinha o salto para trás acompanhado do grito “Rainha”. Era o nome da brincadeira de pisar no pé do amigo e suas sílabas correspondiam ao número de passos possíveis para cumprir o objetivo. Outros jogos que se valiam das palavras eram os que usávamos as mãos, com gestos e movimentos específicos, como que coreografados. Muitos tinham musiquinhas com letras sem sentido e cantadas com pausas entre as sílabas para marcar cada toque das mãos: “Dona Cacheta coluna recheada vai comer piolho com água e salada”, “Pepino Califórnia Babalu” e “Ema ema lagusta lagu-ê”, além da conhecida “Adoleta”. Diversão garantida vinda dos curtos recreios da escola, era pular elástico que, nas calçadas ao entardecer do início do verão, não tinha hora para acabar. Um elástico amarrado nas pontas era envolto em duas crianças e a terceira pulava no centro, dizendo palavras pausadas nas sílabas, para cada movimento de pés dentro, fora, em cima, puxando ou pulando o elástico. A cada série de palavras vencida, o elástico ficava mais alto, ampliando a dificuldade. Se não houvesse três crianças, pegávamos uma cadeira para substituir uma das bases. Com duas cadeiras também era possível brincar sozinha. Privilégio era ter vizinha filha de donos de confecção que nos cediam largos elásticos bem resistentes. Eu não passava as férias inteiras na praia, como a maioria dos meus amigos. Nessa época, Brusque já migrava para o litoral para curtir a estação quente, onde muitos tinham casa. Comigo era diferente. Meus pais sempre tiveram comércio e, por isso, não havia recesso para eles e, consequentemente, para mim. Na infância eu morava numa casa, em cima de um morro no Jardim Maluche. De lá de cima lembro de ver a enchente que chegou aos telhados e também acompanhei a construção da pracinha – local que virou ponto


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de encontro dos amiguinhos e de uma brincadeira nova: uma tirolesa (que não conhecíamos por esse nome, e chamávamos de “roldana”). Durante o dia, muitas vezes, eu e meu irmão tínhamos de ir para a loja com meus pais. E lá, naquela era sem celular e Internet, inventávamos brincadeiras atrás do balcão, com carimbos, adesivos e papel de presente. Muitas caixas de sapatos nos cercavam e com as vazias fazíamos brinquedos que nos entretinham entre o tédio e um lanchinho. Gosto de pensar que era justamente aí que brotava a criatividade, em meio ao ócio infantil, quando o brincar não era proposto pelo que estava fora de nós, e sim, o contrário. Tínhamos o hábito de tomar café e comer pão – assim como era pela manhã – na refeição noturna. Por causa do calor dessa época do ano, vivíamos o deleite de beber, em substituição, refrigerante gelado e o sanduíche às vezes vinha como pão picante, que também saía da geladeira. Outro sabor de verão eram os cubinhos de gelo que fazíamos com suco, geralmente o colorido capilé, e que nos deliciavam com seu refresco e doçura. O Natal era celebrado em Brusque, em casa. Depois vinham os dias de puro marasmo, quando a cidade ficava vazia e silenciosa. O comércio funcionava por conta das trocas de presentes. No Ano-Novo seguíamos para a praia, onde além dos castelos de areia e banho de mar, usufruíamos dos jogos. Variavam entre os de tabuleiro e as cartas, que perderam a preferência com a chegada do videogame Atari. Tenho lembranças de umas vizinhas da casa de praia, eram três irmãs. Brincávamos todos os dias, durante alguns verões. Não lembro os nomes e nem de onde eram. Reflexo de um tempo sem muitos registros,

sem contatos. O caminho até a praia tinha calçamento rústico e muitos terrenos com mato. Nem parecia a selva de prédios de hoje. Na adolescência, já morando no Centro, em apartamento, minhas férias passaram a ser mais curtas, por conta de uma ou outra recuperação no colégio. Era nesse clima de dezembro que as papelarias começavam a expor as agendas do ano seguinte e, eu, escritora de diários, fazia minha escolha cuidadosa, pensando na companhia que teria durante todos os 12 meses que viriam. Por isso, além da capa ser bonita, tinha que ter bastante espaço para escrever e colar os recortes da Capricho. As canetas coloridas e perfumadas também participavam da compra e seriam parceria dos escritos – todos guardados até hoje. Por volta dos meus 14 anos, numa temporada em Balneário Camboriú (que os brusquenses chamam apenas de Balneário como se fosse o único e não fosse um adjetivo) lembro das primeiras campanhas para uso do protetor solar. Era algo estranho: passar um creme para não se queimar do sol. Não se falava em radiação, nem camada de ozônio. Os perigos dessa época eram menos perigosos. Tudo isso guardado num baú de memórias – que muitas vezes falha – e faz parte de um tempo coletivo, retrata uma faceta do cotidiano da cidade nas décadas de 80 e 90 e, assim, revela traços do lugar e das gentes. Porque acredito na força das narrativas continuo buscando e registrando, compartilhando e propondo novos relatos. Porque em meio às turbulências e dúvidas, frente ao desânimo e más notícias, acredito que somos feitos de histórias.


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Aprendendo

a viver P

Eder Riffel

ode-se dizer que essa história tem origem, só existe, por conta do segmento têxtil que a cidade de Brusque, ao longo dos anos, foi identificada. Mas vai bem além disso. Para chegar lá, antes é preciso falar da memória do meu pai Ésio Riffel (in memorian), que foi funcionário das Indústrias Têxteis Renaux, e naquela oportunidade, integrava o quadro da diretoria do Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem de Brusque. Essa condição fazia com que nossa família (Pai, Mãe Nelsi (também in memorian), eu e os meus irmãos Évans e Elton) tivésse o privilégio de desfrutar, nos verões, do que conhecíamos como “Colônia de Férias”, localizada ali na Meia-Praia, em Itapema, bem perto do Rio Perequê. Isso deve ter sido entre os anos de 1980 e 1990, algo por aí. A “Colônia de Férias”, consistia em um prédio de utilização coletiva, com inúmeros quartos com banheiro, cama de casal e beliche. As áreas de cozinha eram coletivas, bem como os locais para as refeições. Ali desfrutamos vários dias de alguns verões, bons momentos que foram fundamentais para a nossa infância. Apesar da simplicidade, a lembrança não era a limitação de espaço ou o eventual demérito de serem usados espaços coletivos, compartilhando com pessoas estranhas. Bem pelo contrário, lembranças boas, de felicidade, leveza e a oportunidade de fazer boas amizades e curtir a praia. Era o que grande parte dos habitantes do vale gostavam de fazer. Naquela época a praia, o rio, os vizinhos, ruas, bares que tinham picolé, terrenos baldios, pedras, mangues da redondeza, eram as áreas percorridas. Por ali aproveitou-se o que de melhor a infância tinha a oferecer, uma boa liberdade, uso da imaginação, conhecimento da natureza, amizades e todo o aprendizado da responsabilidade. E também situações inusitadas. O Rio Perequê era uma opção de recreação muito utilizada. Pedras para pular, áreas para atravessar, locais rasos e fundos, maré cheia, maré baixa. Para nós, parque aquático, para os pais, o temor. Jamais se podia esquecer: “se for para água depois de comer, morre de congestão”, “a correnteza leva pro fundo e se afoga, não volta mais”, “não mergulha de cabeça se

não bate na pedra e morre”, ou então “bate a cabeça na areia quebra o pescoço e fica paralítico”. O anjo era forte e sobrevivemos. Uma das brincadeiras era a de “dar pé”. Em alguns pontos do rio submergíamos com os braços levantados para ver e mostrar aos amigos o quanto fundo era naquele local, até que.... - Galera, meu Deus, pisei num corpo! – Disse um dos que ali estavam. - Rá rá rá rá, essa foi boa... – Falou outro. - Sério, sério, olhe ali, olhe ali! – Com os olhos esbugalhados de tensão, disse o primeiro. Estava tão convencido e os demais tão incrédulos que resolveram tirar a prova. Um mergulhou e disse ter sentido algo como um saco de areia e chegou a dar pulinhos em cima. Outro pisou em algo que disse parecer ser um animal. Eu também tomei coragem e mergulhei para ver se sentia algo com os pés. Quando pisei, coração veio na boca, de fato, era um corpo humano, e eu sabia exatamente onde tinha pisado, na parte detrás de uma das coxas. O cenário passou a ser uma turma de moleques tentando convencer algum adulto que tinha um corpo ali no fundo do Rio Perequê. Ninguém deu muita atenção, até que achamos um jovem de máscara de mergulho que estava por ali, o chamamos e pedimos para ele verificar. E então, tudo se confirmou. Não demorou os Bombeiros chegaram, a aglomeração se formou. Foi resgatado o corpo de um senhor adulto, que não nos era conhecido, na faixa dos 40 anos. Os bons acontecimentos da vida ficam na memória de forma leve, alegre, prazerosa. Os ruins, muitas vezes chegam sem avisar, brotam nos melhores momentos, marcam bastante e fazem amadurecer a um custo alto. Ambos devem servir para melhor aprender o significado do viver e conduzir a vida com mais qualidade, dando importância para aquilo que realmente importa.


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31 o ano é novo, e as atitudes? Bruna Schwartz

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á estamos encerrando o ano de 2020, um ano que, desde seu início, já trouxe muitos desafios e transformações. O ano do sol veio para clarear o que estava escuro, veio colocar energia onde estava faltando. Não à toa estamos vivendo um momento de adversidade coletiva, que incita nosso olhar para a maneira que estamos interagindo e compartilhando como seres humanos, além de ter nos dado um momento de introspecção para olharmos para dentro de nós. Como todo final de ano, ficamos mais observadores do ciclo que passou, dos objetivos que conseguimos realizar, dos planos que precisaram ficar na gaveta, das pedras que surgiram no caminho, das superações… Esta revisão é um ponto importante para potencializarmos as energias do ano que está chegando. Firmar nossas virtudes, nossos valores, os propósitos de vida, meditar soluções sobre o que não está bem delineado. O próximo ano surge no seu aspecto luz com uma força de geração, de criar o mundo que queremos ver através da experiência, de desapegar o que não ressoa mais com compaixão, de fazermos escolhas alicerçadas na vibração do amor e da fraternidade, de potencializamos energias as quais estamos buscando e vibrando. Para estarmos em ressonância com o aspecto luminoso do ano de 2021, é necessário trabalhar o caminho do meio, de equilíbrio nas emoções, de compaixão, sem julgar ou culpar aos outros, estar em momentos de observação pessoal constante e não perder o foco. Assim, no momento de estarmos junto ao coletivo nova-

mente, atrairemos pessoas e situações com vibrações semelhantes à nossa. No aspecto sombra do próximo ano, devemos observar alguns comportamentos. A ansiedade ou a letargia, dois aspectos opostos, mas que fazem parte da mesma vibração dual. Na ansiedade, busquemos a conexão com a natureza e com seu ritmo. Já, para lidar com a letargia, pegamos o auxílio do primeiro princípio hermético, o mentalismo, que representa o primeiro passo para tudo. Vibrar mentalmente o que se busca, raciocinar com os valores que estão em ti, criar vibrações, depois, com as emoções, transformar em energia, para posteriormente tornar a realidade física e material. Teremos também as energias da desinformação, do ruído, do excesso de informações desnecessárias e da superficialidade como obstáculos a serem enfrentados. É necessário estarmos atentos a veracidade e a profundidade das referências as quais estamos alimentando todos os nossos sentidos. O ano será de continuação desta reforma, das reinvenções que 2020 nos forçou a pensar. Estar consciente de nós mesmos, enxergar nosso aspecto luz e sombra, lidar com nossas emoções, buscar ajuda com o próximo, estar disponível para cooperar com a coletividade, compartilhar de forma amorosa, olhar para o modo que estamos vivendo conosco, com a sociedade e com o planeta onde habitamos. A energia de 2021 flerta com este caminho, mas depende única e exclusivamente de nós, do que iremos transformar em ações.



foto por FELINHo valle


Esta edição da revista Brusque Ilustrada só foi possível com a contribuição de pessoas incríveis que disponibilizaram seu tempo, suas histórias e sua arte para que sua publicação fosse possível. Muito obrigado a todos! Nossa cidade é repleta de histórias que precisam ser registradas e causos que ainda hão de vir, e você também é bem-vindo para compartilhar a sua versão de Brusque! Dá um alô no e-mail: brusqueilustrada@metroquatrosete.com.br

MÁRCIA CARDEAL

zurico frota

CIRO GROH

SILVIA TESKE

PAULO MORELLI

maria zucco

Artista plástica, professora e ilustradora.

Técnico de basquete e presidente do Basquete Brusque.

Observador do tempo e colaborador do jornal O Município.

Artista plástica, escritora e professora.

Designer gráfico e responsável pelo projeto Brusque Memória.

Jornalista e publicitária.

VALMIR LUDVIG Mestre em educação, professor, músico e poeta.

distribuição

CALINHO LUMINOSO Músico e compositor.

RICARDO WESCHENFELDER Produtor audiovisual e professor.

LIEZA NEVES

EDER RIFFEL

BRUNA SCHWARTZ

FELINHo valle

Atriz, jornalista, contadora de histórias e produtora cultural.

Advogado e consultor jurídico empresarial.

Terapeuta corporal e holística, aromaterapeuta e reikiana.

Arquiteto e fotógrafo por hobby.

DESENVOLVIMENTO

COMERCIAL Gabriel Noel EDIÇÃO E TEXTOS Maria Zucco PROJETO GRÁFICO E ILUSTRAÇÕES Luiz Zucco MATERIAL GRÁFICO DE APOIO Eduarda Bruns REVISÃO Edina Maria Calegaro


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Adeus, 2020! Para encerrar o ano que pareceu uma eternidade, chega a segunda edição da revista Brusque Ilustrada! Reunimos casos, contos e perspectivas para ilustrar um pouco da memória brusquense sobre a estação que se avizinha. Brusque Ilustrada: Verão é uma excelente companheira para um final de tarde na rede, um momento de descanso para a chegada do novo ano. Leve a sua e aproveite a leitura!


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