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APRENDENDO A VIVER
by Metrô 47
Pode-se dizer que essa história tem origem, só existe, por conta do segmento têxtil que a cidade de Brusque, ao longo dos anos, foi identificada. Mas vai bem além disso. Para chegar lá, antes é preciso falar da memória do meu pai Ésio Riffel (in memorian), que foi funcionário das Indústrias Têxteis Renaux, e naquela oportunidade, integrava o quadro da diretoria do Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem de Brusque. Essa condição fazia com que nossa família (Pai, Mãe Nelsi (também in memorian), eu e os meus irmãos Évans e Elton) tivésse o privilégio de desfrutar, nos verões, do que conhecíamos como “Colônia de Férias”, localizada ali na Meia-Praia, em Itapema, bem perto do Rio Perequê. Isso deve ter sido entre os anos de 1980 e 1990, algo por aí. A “Colônia de Férias”, consistia em um prédio de utilização coletiva, com inúmeros quartos com banheiro, cama de casal e beliche. As áreas de cozinha eram coletivas, bem como os locais para as refeições.
Ali desfrutamos vários dias de alguns verões, bons momentos que foram fundamentais para a nossa infância. Apesar da simplicidade, a lembrança não era a limitação de espaço ou o eventual demérito de serem usados espaços coletivos, compartilhando com pessoas estranhas. Bem pelo contrário, lembranças boas, de felicidade, leveza e a oportunidade de fazer boas amizades e curtir a praia. Era o que grande parte dos habitantes do vale gostavam de fazer. Naquela época a praia, o rio, os vizinhos, ruas, bares que tinham picolé, terrenos baldios, pedras, mangues da redondeza, eram as áreas percorridas. Por ali aproveitou-se o que de melhor a infância tinha a oferecer, uma boa liberdade, uso da imaginação, conhecimento da natureza, amizades e todo o aprendizado da responsabilidade. E também situações inusitadas. O Rio Perequê era uma opção de recreação muito utilizada. Pedras para pular, áreas para atravessar, locais rasos e fundos, maré cheia, maré baixa. Para nós, parque aquático, para os pais, o temor. Jamais se podia esquecer: “se for para água depois de comer, morre de congestão”, “a correnteza leva pro fundo e se afoga, não volta mais”, “não mergulha de cabeça se não bate na pedra e morre”, ou então “bate a cabeça na areia quebra o pescoço e fica paralítico”. O anjo era forte e sobrevivemos. Uma das brincadeiras era a de “dar pé”. Em alguns pontos do rio submergíamos com os braços levantados para ver e mostrar aos amigos o quanto fundo era naquele local, até que....
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- Galera, meu Deus, pisei num corpo! – Disse um dos que ali estavam.
- Rá rá rá rá, essa foi boa... – Falou outro.
- Sério, sério, olhe ali, olhe ali! – Com os olhos esbugalhados de tensão, disse o primeiro.
Estava tão convencido e os demais tão incrédulos que resolveram tirar a prova. Um mergulhou e disse ter sentido algo como um saco de areia e chegou a dar pulinhos em cima. Outro pisou em algo que disse parecer ser um animal. Eu também tomei coragem e mergulhei para ver se sentia algo com os pés. Quando pisei, coração veio na boca, de fato, era um corpo humano, e eu sabia exatamente onde tinha pisado, na parte detrás de uma das coxas. O cenário passou a ser uma turma de moleques tentando convencer algum adulto que tinha um corpo ali no fundo do Rio Perequê. Ninguém deu muita atenção, até que achamos um jovem de máscara de mergulho que estava por ali, o chamamos e pedimos para ele verificar. E então, tudo se confirmou. Não demorou os Bombeiros chegaram, a aglomeração se formou. Foi resgatado o corpo de um senhor adulto, que não nos era conhecido, na faixa dos 40 anos. Os bons acontecimentos da vida ficam na memória de forma leve, alegre, prazerosa. Os ruins, muitas vezes chegam sem avisar, brotam nos melhores momentos, marcam bastante e fazem amadurecer a um custo alto. Ambos devem servir para melhor aprender o significado do viver e conduzir a vida com mais qualidade, dando importância para aquilo que realmente importa.
Eder Riffel