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Microbiota Intestinal: na Sa\u00FAde e na Doen\u00E7a
Existem muitos grupos de pesquisadores em todo o mundo que estão trabalhando para decifrar cada vez mais o genoma coletivo da microbiota humana. Técnicas modernas para o estudo da microbiota nos tornaram conscientes de um número importante de bactérias não cultiváveis e da relação entre os microrganismos que vivem dentro de nós e nossa homeostase (condição de relativa estabilidade da qual o organismo necessita para realizar suas funções).
A microbiota, antes conhecida como flora intestinal, é essencial para o crescimento corporal correto, o desenvolvimento de imunidade e nutrição.
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Certas epidemias que afetam a humanidade, como asma e obesidade, podem ser explicadas, pelo menos parcialmente, por alterações na microbiota. A disbiose (designação dada ao desequilíbrio da microbiota) tem sido associada a uma série de distúrbios gastrointestinais que incluem doença hepática gordurosa não alcoólica, doença celíaca e síndrome do intestino irritável.
De acordo com o médico gastroenterologista mexicano M.E. Icaza-Chávez, "Nosso conhecimento da interessante relação entre os seres humanos e os microorganismos que abrigamos aumentou muito nos últimos anos. Já não chamamos essas entidades vivas de "flora intestinal", nem as consideramos como simplesmente parasitas. De fato, nós humanos somos superorganismos governados em parte pelos microrganismos que vivem dentro de nós".
Em um de seus diversos artigos publicados (veja nos Links indicados nesta matéria) o especialista observa a importância de se conhecer as profundas implicações da dieta e do meio ambiente sobre a microbiota normal e anormal, e delinear um panorama da relação entre a microbiota e as doenças gastrointestinais.
Numa microbiota normal há cerca de 800 a 1.000 espécies de microorganismos por indivíduo.
Do ponto de vista evolucionário, esses microorganismos que compõem a microbiota em mamíferos, por exemplo, são determinados pelos tipos de fontes nutricionais. As características da dieta, juntamente com fatores genéticos, influenciam a predominância de alguns microrganismos em detrimento de outros.
"Após apenas um dia de uma dieta ocidental (rica em gordura e açúcar e baixa em polissacarídeos vegetais), já se comprova mudanças na composição microbiana e nas vias metabólicas. Em duas semanas ocorre maior adiposidade (popularmente conhecida como gordura localizada)", explica M.E. Icaza-Chávez .
A abundância ou escassez de alimentos determinará a presença ou não de espécies bacterianas que se reproduzem.
No útero, o ser humano não tem uma microbiota. Após o nascimento, o trato gastrointestinal coloniza imediatamente.
"Até mesmo o tipo de parto (natural ou cesariana) e o tipo de alimento (leite materno ou fórmula) mostra diferenças na microbiota intestinal", ressalta o gastroenterologista.
Nos primeiros 2 anos de vida, a microbiota é dominada por bifidobactérias. Posteriormente, a composição microbiana diversifica e atinge seu máximo complexidade no adulto.
IMUNIDADE
A microbiota intestinal tem um efeito importante na resposta imunológica humana. Novas descobertas sobre a microbiota intestinal e sua capacidade imunomoduladora coincidem com os dados epidemiológicos que conectam obesidade e asma, ou obesidade e diabetes tipo I.
A mucosa intestinal desempenha funções de imunidade adaptativa porque seu sistema imunológico tem a capacidade de responder a um número infinito de antígenos.
"Mas há também a imunidade inata que é o reconhecimento de antígenos específicos e é herdada filogeneticamente das plantas para os vertebrados. Esses antígenos são chamados de padrões moleculares associados ao patógeno (PAMPs) e incluem lipídios, lipopolissacarídeos (LPS) e lipoproteínas", explica o Dr M.E. Icaza-Chávez.
METABOLISMO
A obesidade é na maioria das vezes resultado do aumento do consumo de alimentos ricos em energia, açúcar e gorduras saturadas. No entanto, parece que o simples aumento na ingestão de calorias não explica completamente a atual epidemia de obesidade.
Uma microbiota humana do tipo “obeso” pode ter as Bifidobacterias como protetoras contra o desenvolvimento da obesidade e das suas implicações.
O que isto significa? Que toda alteração física e mental que promovemos influencia diretamente nos movimentos do intestino, os chamados movimentos peristálticos, que podem refletir ou diarréia, ou prisão de ventre.
GASES
Sabe-se que o metano (CH4) é um dos gases presentes no intestino humano e é produzido pela fermentação bacteriana anaeróbica. Ele é capaz de afetar a velocidade do trânsito intestinal, reduzir a secreção de serotonina e tem sido associado a Síndrome do Intestino Irritável (IBS), diverticulose e câncer de cólon.
A excreção desse gás pode estar significativamente correlacionada à constipação crônica e é maior em pacientes com constipação em comparação com indivíduos saudáveis. E ainda maior do que em pacientes com diarréia.
CONEXÃO
Estudos que mostram a existência de um eixo intestino-cérebromicrobiota são surpreendentes.
Uma pesquisa realizada pela MCMaster University, de Ontário, Canadá, é um desses que comprovam a comunicação entre eles, reconhecendo, inclusive, os intestinos como um segundo cérebro nos seres humanos.
Sim, isto mesmo. Com 500 milhões de neurônios e mais de 30 neurotransmissores - sendo 90% da serotonina e 50% da dopamina presentes em nosso corpo, nossos intestinos são capazes de executar funções de forma independente ao nosso Sistema Nervoso Central.
Segundo os pesquisadores, embora muitas pessoas estejam cientes da comunicação que ocorre entre o trato gastrintestinal (GI) e o sistema nervoso central, poucos conhecem a capacidade do sistema nervoso central de influenciar a microbiota ou a influência da microbiota no cérebro e no comportamento.
Como conclusão, embora esta matéria traga à luz apenas alguns aspectos neste infinito e ainda desconhecido universo que é o Microbioma intestinal humano, uma análise moderna do genoma bacteriano abre cada vez mais campos de investigação que podem explicar a estreita relação entre ele e a nossa saúde, e que poderá ainda responder às questões sobre as doenças autoimunes, alérgicas e metabólicas, oferecendo ao mundo da ciência a possibilidade de tentar amenizá-las cada vez mais ou extirpá-las definitivamente.
Link Sugerido:
http://dx.doi.org/10.1016/j.rgmx.2013.04.004
V I V A B E M . C E N T E R