IGUAL #00
Pedro Paulos em
DIAMONDS DUB
Os diamantes são eternos
Já tocou guitarra numa banda de punk e já militou no movimento hardcore lisboeta. Entretanto rendeu-se à música electrónica e à sua pulsão dançante. Agora apresenta-se com o seu novo projecto, Diamonds Dub, e diz-se obcecado pela música. À conversa com Pedro Paulos, o cruzado musical.
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Pedro Paulos, 22 anos, natural de e residente em Lisboa é o nome e cara por trás do projecto electrónico Diamonds Dub. O género musical que caracteriza a nova encarnação é, segundo palavras do próprio, “miximal do bom”. Marcada a entrevista telefónica – a A1 que nos separa foi um obstáculo intransponível para ambas as partes – esperamos. Vinte minutos depois da hora marcada Pedro Paulos liga de volta e desculpa-se com o trânsito caótico da capital. “Eu sei que parece a desculpa menos esforçada de sempre, mas é a mais pura das verdades”. Acreditamos que sim. Assim como assim, não se perdeu nada que o tempo lá fora molha só de ver. Partimos para as perguntas e respostas, tentando abranger o maior número possível de facetas do entrevistado. O tom da conversa é informal o que se explica com a convergência etária e com a boa disposição com que somos brindados do outro lado da linha. Antes de ser Diamonds Dub, Pedro Paulos
foi metade dos Interrupto (a outra era Paulo, baterista dos Moe’s Implosion), conjunto musical igualmente electrónico, mas de outras latitudes. Antes ainda tocou guitarra em várias bandas de punk. Agora, passa música para miúdos para os ver felizes. Pelo meio sonha com um circuito de DJing mais coeso, mais eclético e menos vaidoso. IGUAL – Vou começar pelo fim. O teu novo projecto Diamonds Dub (DD) é bastante recente. Queres explicar do que se trata? Pedro Paulos (PP) – DD é basicamente uma extensão da minha obsessão musical. Como tenho gostos bastantes extensos musicalmente falando decidi criar este projecto a fim de poder exprimi-los. E posso fazer isso tanto pela produção como pela performance em forma de disc jockey. Não me quero restringir e quero passar e produzir tudo o que mais me emociona musicalmente. Tanto posso passar um
disco de minimal da Tsuba como um êxito mais cheesy como a "Pump up the volume" dos M|A|R|R|S, desde que isso faça sentido na linha emocional e musical do meu dj set. Em termos de produção também é um pouco por aí: a necessidade obsessiva de fazer coisas mais distantes e que me surpreendam a mim próprio. Tento sempre por as minhas expectativas em relação a mim mesmo elevadas para me tentar surpreender até a mim mesmo além das outras pessoas. IGUAL – Excluindo a performance a solo, em que é que DD e Interrupto mais divergem? PP – Divergem sobretudo no factor imediato. Interrupto é outro lado da moeda. Não digo o lado negro, porque sempre tentámos estar bem longe das coisas que nos aborreciam, mas é um formato mais descomprometido e mais maroto, no sentido que passamos músicas mais excêntricas, tem um feeling expressivo-imediato. Interrupto tem uma atitude um bocado análoga ao hip hop na medida em que o groove está mais na força das batidas e não nos simbolismos. IGUAL – Já agora, Interrupto morreu de vez? PP – Talvez, é uma coisa que não é discutida. É meio bizarro. Simplesmente entrámos numa área que neste momento ainda não tem rótulo em relação ao que é. Será que morreu? Talvez, mas podemos estar só a dar um tempo. Como num namoro. (risos) IGUAL – Tu e o Paulo ficaram amigos? O que se passou? PP – Claro que ficámos amigos, acima de tudo sempre amigos. Nunca, neste ano e pouco que estivémos juntos, tivémos chatices nesse campo. Claro que houve algumas divergências no que toca
ao projecto, porque aquele podia fazer mais ou porque este devia dar mais de si, mas foi sempre uma coisa que separámos da nossa amizade, que, já agora, é coisa que se nota bastante quando tocamos. Eu acho que quando tocámos sempre se notou o quanto gostamos do outro. Mesmo quando as coisas corriam menos bem tínhamos sempre um bom sentido de humor e soubémos ultrapassar tudo. IGUAL – Que ambições tem DD? Parece-e que estás numa espécie de cruzada musical, concordas? PP – Infelizmente sim. Às vezes sinto que para os outros parece que estou numa cruzada, mas isso é porque estou a expressar as coisas que para mim são normais. Não acho normal que qualquer pessoa com ligação à internet seja automaticamente um DJ. Eu acho que há coisas que estão inerentes à profissão/função que não podes desassociar como a obsessão pela música, a sede de vanguarda e a vontade de divertir as pessoas. Eu acho que os DJs são os primeiros que têm que estar abertos a toda a música que está ao redor e não se limitar a umas editoras ou a um género. Infelizmente em Portugal existem umas poucas fórmulas que são aplicadas por demasiadas pessoas e existe também uma falta de desejo de criar mais. Se eu acredito que as coisas deviam mudar então vou tentar mudar o que conseguir. É pena que muitos DJs sejam apenas apreciadores de música como qualquer outro cliente da noite e que sigam o que os outros DJs passam. Os DJs têm um poder incrível de mudança que escapa à maioria das pessoas.
criar uma comunidade de DJs mais consistente e com música mais diversificada. Criar oportunidades dentro do nosso país. Todos nós nos conhecemos por isso o poder de mudar a situação actual está lá. Transformar a cena musical onde já existe uma comunidade de festas, projectos e amigos. Pode parecer utópico, mas é uma questão de compromisso. Não estou a dizer que deva existir um sentimento de militância, estou só a dizer que podemos estar mais perto uns dos outros para podermos fazer ainda mais coisas e coisas mais bonitas. A newsletter é uma experiência de partilha, serve para mostrar aos amigos e amigos de amigos o que ando a fazer, o que ando a ouvir. Gostava que fosse responsável por, algures no futuro, organizar festas e ideias novas, mas isso já não depende de mim. IGUAL – O mundo do DJing não te parece demasiado aberto hoje em dia? PP – O mundo do DJing funciona com base em esforços e/ou amizades. Para entrar, pelo menos da minha experiência, ou tentas surpreender ou conheces alguém. Eu acho que o esforço que tu dás às coisas revê-se nos resultados e se tu te esforçares para ser bom ou corresponder às experiências então consegues entrar facilmente deste mundo. Não é fácil fazer coisas que surpreendam ou que sejam inovadoras, mas quando consegues fazer uma coisa boa vais ter sempre pessoas a quererem ver-te, ou a quererem que toques e ouvir-te.
IGUAL – Tens noção de quantos DJs novos surgem por minuto? IGUAL – Como DJ e cliente conheces bem as noites PP – Demasiados! (risos) Demasiados clones do Porto e Lisboa. Que diferenças vês e e imitações. qual preferes? PP – Diferenças: há uma cena de clubes no Porto que IGUAL – Como insider quais são os DJs, a solo não há em Lisboa. Em Lisboa as pessoas vão sobre- ou não, que mais aprecias? tudo para o Bairro Alto e quando o Bairro Alto está PP – Portugueses ZNTN e Photonz. Lá fora nomes para fechar costumam deslocar-se ao Lux se lhes como Pilooski, Tomski&Fredboy e também Daso. apetecer. No Porto existem muitos sítios que têm tendência a encher como o Plano B, Maus Hábitos IGUAL – Fala-nos do teu passado musical ou o Gare. E espero que isso não mude, porque isso no hardcore. traz uma proximidade das pessoas à música que é PP – Fiz parte de algumas bandas de hardcore. Foi muito importante. Por isso o Porto, comparado com uma fase ligada à minha adolescência que teve Lisboa, é um sonho. Sei que isto pode alguma importância para a minha vida sobretudo surpreender as pessoas, mas é a minha opinião. para ganhar capacidades de me mexer por mim mesmo. De resto é tal como a maioria das IGUAL – Alguém disse que os DJs são as comunidades musicais mas como a musica é mais estrelas rock do século XXI. Que tens a dizer? agressiva também as pessoas muitas PP – É impossível para uma banda competir com um vezes o são. Não tenho saudades. DJ. Todos sabemos que a qualidade sonora de um disco é totalmente superior à de uma banda a tocar IGUAL – Manténs alguns laços com esse mundo? ao vivo, e isso quando misturada com um bom PP – Poucos, apenas com poucas pessoas sistema de som, bom equipamento e óptimas luzes é que conheci. Não decidi cortar relações com impossível de ganhar. Mas eu acho que não podemos ninguém, mas as pessoas acabam por se comparar um DJ a uma estrela de rock pois são afastar. Cada um foi para o seu lado. coisas diferentes, mas muitos chegam a um estatuto semelhante, sim. Apesar disso na minha situação não IGUAL – O que fazes da vida? quero que as pessoas estejam a dar-me a mim a PP – Muitas coisas, mas profissionalmente importância máxima mas sim à música, prefiro que sou assistente de edição no “Programa da Lucy” estejam tão divertidos que nem se lembrem que eu para a SIC. existo, mesmo comigo a conduzir a noite. IGUAL – Isso parece divertido, ainda não te fartaste? IGUAL – Desenvolves paralelamente uma PP – (risos) É um trabalho como os outros, gosto de newsletter musical por assinatura. Explica editar por isso não me vou fartar assim tão facilmente. Quando gostamos do que fazemos é o conceito. PP – O conceito é fazer algo sobre a música que me muito mais fácil de ultrapassar o facto de não interessa para os meus amigos que se interessam e gostarmos tanto de um programa ou de depois eles mostrarem a quem acham que tem o certos pormenores do mesmo. mesmo interesse. Assim, posso mostrar às pessoas coisas que elas não conhecem e se gostarem IGUAL – É batota dizer que não sabes: livro, contagiá-las a gostar de certos grupos, temas ou filme, série, site e álbum da tua vida. géneros. É uma coisa que faço sem compromisso e PP – Não sou uma pessoa de pensar nas coisas como tento colocar alguns vídeos do YouTube, links para as "da minha vida", tenho para todas essas categorias MySpaces, mixtapes para sacar e informação sobre algo que me marcou durante uma fase da minha vida coisas que me cativam. Os objectivos passam por seja por que motivo for. Em relação à música sou
janeiro 2009
muito mais de músicas do que álbuns, se calhar é uma coisa inerente ao DJing (risos). Uma das músicas que gostei mais nos últimos tempos foi um edit do Pilooski da “Gemini” do Del Shannon. É uma música que eu adoro mesmo. Séries… Gosto muito, por exemplo, do “Curb Your Enthusiasm”. Falando em sites já não vivo sem o GoogleReader porque me permite ler uma quantidade exagerada de blogs por semana. Filme. Gosto muito, por exemplo, de um do Pedro Almodóvar, "Mulheres À Beira de um Ataque de Nervos". Quanto a ler, costumo mais ler livros técnicos, mas gostei muito do “Alta Fidelidade” do Nick Hornby ou do “Energy Flash” do Simon Reynolds. Tenho mais o hábito de ler livros sobre o que gosto, neste caso música. IGUAL – Enquanto não enches estádios: qual foi a tua melhor experiência ao vivo até hoje? PP – Quando tocava numa banda punk chamada The Youths fizémos uma tour em Espanha que foi bastante divertida. Nessa tour tocámos em Logroño, uma cidade no norte de Espanha e fomos num bar de motoqueiros. Foi muito estranho e divertido ao mesmo tempo, tínhamos muitos tipos de pessoas a verem-nos e estava tocar Judas Priest no sistema de som do bar. Estavam punks, motoqueiros, betinhos e velhos a ver-nos mas toda a gente estava a dançar e a gostar. Depois, já como DJ, gostei muito de tocar nos Maus Hábitos. Também foi óptimo tocar no Festival Discorrilha. IGUAL – Tens certamente opinião sobre esta polémica de horários no Bairro Alto. O problema não é de agora, mas parece o fim de uma era. PP – O Bairro Alto é um sítio que não me cativa muito. Apesar disso acho que é mau para o negócio e as noites do Bairro Alto devem ser certamente o comércio que mais vitalidade tem naquela zona de Lisboa, para não dizer que é o único. Apesar dos seus defeitos é um ponto importante na noite lisboeta e que não deve ser eliminado. Parece que eles estão a ir pela solução mais fácil. Eu também acho mal o barulho e as paredes todas sujas mas acho que eles assim não estão a resolver nada, só estão a prejudicar. O que mais me aflige no Bairro Alto é o seu vazio cultural. A zona perdeu todo o “edge” que tinha, deixou de ser um local relevante em termos artísticos e intelectuais. E agora as pessoas que lá vão têm mentalidade de shopping center, pensam “vamos consumir e depois voltamos para casa”. A música já não é importante para elas. Tal como uma vez ouvi alguém dizer "o Bairro tem piada é bêbado". Mas o bairro não vai acabar. IGUAL – O que é que não perguntei que gostarias que tivesse perguntado? PP – (breve silêncio) Acho que nada, não sei. Sou péssimo nestas coisas.
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CRÍTICAS
Esta profissão não é para cínicos
DR
Ryszard Kapuściński, jornalista e escritor polaco, é o autor do livro “Os Cínicos Não Servem Para Este Ofício”, editado pela Relógio d’Água em Portugal depois da morte do autor em 2007. O subtítulo do livro, “Conversas Sobre o Bom Jornalismo”, anuncia bem o propósito da obra: um manual de conduta ético e dicas profissionais para aspirantes a jornalistas. Se à partida o alcance de “Os Cínicos…” pode parecer algo limitado por se encaixar de certa maneira na categoria “livro técnico”, facilmente percebemos que o livro é do interesse da generalidade dos cidadãos, já que todos somos consumidores de notícias, logo de jornalismo (do bom e do mau). E Kapuściński, como jornalistaautoridade, é a pessoa ideal para nos falar da activi dade de produção noticiosa. É indesmentível um certo sentimento de ocaso já que Kapuściński é um jornalista veterano a conversar sobre, entre outras coisas, as rápidas evoluções tecnológicas da profissão, sem esquecer que o livro foi editado a título póstumo. Há um enlevo ao longo de todo o livro de um jornalismo encruzilhado entre a herança do passado e os desafios do presente/futuro, sentimento que de certa maneira se mantém ainda hoje, reforçando a actualidade da leitura. A estrutura do livro é tripartida, estando o mesmo dividido em duas conferências e uma entrevistas, tudo em tom coloquial. Antes de começar a ler tinha as minhas dúvidas em relação à premissa principal do livro, ou seja que o jornalista não pode ser cínico. Como refutar a importância do cinismo? O método, as dúvidas, a prudência, o questionamento pessoal e inter-pessoal. Afinal, é apenas o caso de Kapuściński lhe dar outro nome, cepticismo em vez de cinismo, fugindo assim às conotações pejorativas deste último. Concordo com o autor na construção do jornalista como o equilíbrio entre a sua prudência e a vocação eminentemente humana e humanizante da profissão, de contacto, de proximidade e de afectos. Kapuściński apenas usa “cepticismo” como um género de soft-cinismo, tirando a imprudência da equação. Kapuściński reforça o carácter humano do jornalista quando se dirige manancial tecnológico porque defende que a base do bom jornalismo não se prende com o potencial técnico, mas humano: “qualquer descoberta ou melhoramento técnico pode certamente ajudar-nos, mas não pode substituir o nosso trabalho, a nossa dedicação ao mesmo, o nosso estudo, a nossa investigação e pesquisa”. O autor procura também apelar ao brio profissional e evitar a todo o custo que as tecnologias sejam causadoras de facilitismos ou de alguma imprudência porque, ainda que sejam ferramentas úteis, não substituem o “espírito de sacrifício e estudo contínuo” – ou seja, um bom jornalista será sempre, antes de mais nada, uma boa pessoa. O texto mais interessante é provavelmente o segundo, “Narrar um continente: a história no seu acontecer”, em que Kapuściński é entrevistado a propósito da sua experiência africana (ameaçada por alegados erros factuais). O autor percorre brevemente a sua paixão pelo continente iniciada em 1958 com a primeira viagem a África, discorrendo sobre os processos independentistas e seus falhanços, o desinteresse dos países ocidentais, a beleza das paisagens.
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De vez em quando há coisas novas e refrescantes no mundo dos videojogos. Independentemente de discutirmos se são arte, para lá das guerras entre plataformas, depois do enésimo argumento para a validação da banda sonora de um jogo. O Peacemaker é uma dessas coisas. Desenvolvido pela Impact Games e baseado em eventos reais, Peacemaker é um jogo sim, mas é também uma lição de história e um apelo à tolerância. O contexto é o conflito israelo-árabe. No início do jogo escolhemos um dos lados e o nosso objectivo é trazer a paz à região até ao final do mandato como líder de uma das facções. Se houver guerra o jogo acaba. Peacemaker não só se baseia num conflito verdadeiro como faz uso de vídeos, imagens e notícias reais para nos desafiar a encontrar uma solução pacífica. E o desafio é tanto maior à medida que aumentamos o nível de dificuldade (ao todo são três). A ideia é que o jogador pode fazer a diferença, funcionando Peacemaker como laboratório na descoberta de uma solução comum. Não é mais um jogo de estratégia porque o contexto histórico é bem real e completamente actual. Tecnicamente, Peacemaker está bem conseguido, parecendo um normal jogo de estratégia, género que não vive tanto assim da qualidade gráfica. Se juntarmos a longevidade do género à permanente actualidade do tema temos uma receita de sucesso. Peacemaker já ganhou vários prémios, incluindo o anual Games For Change 2007 na categoria “Best Transformation Game”. Peacemaker foi distribuído gratuitamente com o jornal israelita Haaretz e com jornal palestiniano Al-Quds, para além de em várias escolas dos dois lados da fronteira.
Divertido, original, desafiante, bem apresentado, sério, provocador. Mostra uma Resumindo: três bons textos colados entre si com coerência duvidosa, mas num esforço recompensador faceta pouco conhecida dos videojogos e talvez e que merece ser lido, ainda que aconselhe preferencialmente as obras propriamente ditas de Kapuściński. por isso mesmo não teve grande hype em DR Portugal (onde é sempre preferível mencionar uma franchise famosa). Peacemaker custa 20 dólares, mas a Impact Games disponibiliza gratuitamente uma demo (220MB, Windows e Macintosh) no site oficial. Peacemaker é jogado em inglês, árabe ou hebreu. A Impact Games é também responsável pelo Play The News, um conceito semelhante ao Peacemaker, mas aplicado à indústria dos meios de comunicação e jogado online por uma comunidade de jogadores. Uma espécie de brincar à opinião pública que está desde Novembro sem produção de novos conteúdos por decisão da Impact Games.
Peacemaker
janeiro 2009
CULTO Loucos finais por Francisco Dias e Miguel Carvalho
dos anos 90
“A tua geração não tem nada de interessante para comentar. Que pena, pois geração como aquela é pena não voltar haver.” [Sic] Paula in Fórum Mistério Juvenil em defesa do texto “Geração Heidi” que enaltece as memórias que muitos trintões guardam da que foi, segundo eles, a única geração contemporânea com coisas boas para recordar. Mal sabe esta gente que da internet apenas dominam o Hi5 e a caixa do Hotmail, acedidos, claro, através do Internet Explorer 6.0; e que gerações passadas e futuras recordam com igual saudosismo os momentos e pormenores que a tornaram única. Também aqueles que se encontram hoje em dia na faixa etária dos 20 têm as suas preciosas recordações e referências “únicas”. São disso exemplo as coisas a ser enumeradas. No campo dos telemóveis o 6110 da Nokia era rei e senhor. E depois o 3210 e o 3310. E muitos mais se seguiram. O certo é que à entrada do século XXI a Nokia dominava por completo o mercado dos celulares por estas bandas (e lá fora também). Os mais afortunados davam-se ao luxo de se passear com o minúsculo 8210 que, apesar de atraente para os standards da época, apresentava umas teclas tão pequenas que dificultava actividades juvenis como a escrita de SMSs e a partida de Snake. Por isso mesmo, uma marca de guloseimas criou uma caixa de gomas replicando este prodígio do design nórdico. Quantas brincadeiras de recreio isso nos valeu. Capas personalizadas e personalizantes compradas nas lojas dos 300 eram prática comum, apresentassem elas os Limp Bizkit, o Bob Marley ou a folha de Cannabis. Os colegas mais bizarros usavam um Ericsson T28sc e eram bastante agressivos quanto à suposta superioridade do seu aparelho (numa espécie de vôvô da actual batalha Apple Vs PC). Anos depois surgiu o 7110 com o seu scroll inovador (numa altura em que 90% dos ratos de computador ainda eram de bola) e funcionalidades WAP. Vale a pena recordar que neste boom do uso de telemóveis, tão alternativo e jovem se mostrava o possuidor de telefone portátil (abraçando a massificação dessa inovação tecnológica), como o adepto da liberdade sem telemóvel (que jurava a pés juntos nunca comprar um telefone celular na vida). O primeiro mostrava estar em sintonia com as novas necessidade modernas, o segundo mostrava a sua irreverência. Irreverência que se revelaria prejudicial não para ele, mas para os amigos que eram obrigados a fazer trabalhos de escola com o rebelde antitecnologias e que não tinham forma de o contactar. Este tipo de indivíduo, no entanto, está tão ocupado no seu movimento contra cultura e contra sistema que não repara nas vítimas que a sua teimosia ceifa. Depois havia ainda os telemóveis exclusivos para os mais pequenos, geralmente muito redondos, compactos e simples, de visual garrido, com um número muito limitado de opções e um tarifário que nem os pais percebiam. Este nicho de mercado
é tão insondável que até hoje a TMN ainda não acertou na receita.Numa época sem redes sociais e sem MSN a maneira de comunicar sem custos com o primo que está a tirar o doutoramento na China, ou com a prima que está no Carnaval do Rio era o mIRC. Este podia mesmo ser o slogan de um qualquer provedor de internet de então (vulgo “Telepac” e “Esotérica”) para promover o uso da rede global. No entanto, a maioria dos jovens desprezava a possibilidade de conhecer e comunicar com outras culturas, enfiando-se no canal #portugal a tentar engatar umas gajas. Conversa para cá, foto para lá (quando a ligação assim o permitia), a conta telefónica a subir, começam a aparecer os primeiros casos patológicos de vício da internet e os jornais já têm um assunto “geek” sobre o qual podem escrever nas crónicas de domingo ao mesmo tempo que alertam para os perigos de um mundo que conhecem mal. Ainda no mIRC: havia canais para todos os gostos, desde clubes de fãs da banda Guano Apes (não eram tão bons como o nome sugere) até a grupinhos dos fixes do 12ºA. Os mais ousados dirigem-se ao #lésbicas para um contacto virtual e
DR directo com o outro lado da vida, sentindo-se ludibriados ao fim de algum tempo por apenas encontrarem curiosos como eles próprios. Será que no #sexo terão mais sorte? Usuários coleccionam OPs quais caçadores de prémios por ser prestigiante, para poderem mudar o tópico do canal e para expulsarem a malta mais aborrecida. Depois de uma semana no canal #antas marca-se um encontro na Praça Velazquez. “Como vou de vermelho, vais-me reconhecer logo!”. Os jovens passam as noites nisto, a gozarem uns com os outros no canal da escola. Está na altura de marcar uma jantarada. Pizza Hut da Foz ou da Boavista? Quem imprime os cartões com os nicks de cada um? A difícil escolha do script que melhor condiz com a nossa personalidade, a primeira drive de CDs aberta à distância – tudo isto era o mIRC.
pode continuar a ler este artigo em www.ruadebaixo.com/2009/01/01/ loucos-finais-dos-anos-90.html
IGUAL #00
BIG
LIST 2K8
IGUAL
Esta é a lista da do que de melhor se fez em 2008 em várias categorias. MÚSICA 01. Tobacco_
LIVROS/BD /TÉCNICOS
DR
Fucked Up Friends
01. Os Portugueses no Faroeste – Terra a perder de vista_ Donald Warrin e Geoffrey Gomes
02. Sic Alps_U.S.Ez 03. Silver Jews_ Lookout Mountain, Lookout Sea 04. High Places_High Places 05. Randy Newman_Harps and Angels 06. Magnetic Fields_Distortion 07. Bon Iver_For Emma, Forever Ago 08. Sebastien Tellier_Sexuality 09. Al Green_Lay It Down 10. Genghis Tron_Board Up the House Compilação: R.Stevie Moore_ Meet the R. Stevie Moore!Relançamento: Dennis Wilson_Pacific Ocean Blue
02. Padre António Vieira e a Cultura Portuguesa_Miguel Real 03. My Brain is Hanging Upside Down_David Heatley 04. Terryworld_Dian Hanson 05. Em Portugal Não Se Come Mal_Miguel Esteves Cardoso
DR
FILMES
01. Hunger_ Steve McQueen
02. Gomorra 03. Aquele Querido Mês de Agosto 04. Wall-E 05. Speed Racer
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VIDEO GAMES
01. GTA IV_ PC+PS3+X360
02. Super Smash Bros Brawl_Wii 03. Star Wars Force Unleashed_PS2+PS3+ Wii+ X360 04. Boom Blox_Wii+N-Gage 2.0 05. LEGO Batman_PC+PS2+PS3+PSP +Wii+DS+X360
IMDb
janeiro 2009
TV
01. O Programa do Aleixo_SIC Radical
RAZÕES PARA VIVER EM 2009
02. Mad Men_FOX Next 03. Californication_ 2: 04. Jogos Olímpicos_RTP1+2:+RTPN 05. Project Runway_SIC Mulher
01. O novo álbum dos Animal Collective (não o oitavo, mas o nono) 02. Torcer por um filme live action do Donkey Kong 03. O filme do Astroboy 04. Dizer mal do filme do Dragon Ball 05. Torcer por uma sequela do Hard Ball 06. Finalmente o Duke Nukem Forever vai ver a luz do dia (talvez) 07. Esperar que o Telerural seja cancelado 08. Pode ser que a SIC R interrompa os reruns do Dragon Ball 09. A Cinemateca no Porto 10. A IBM diz que a internet vai falar no futuro,pode ser que comece este ano
DR
DR
PESSOAS
01. Barack Obama
02. Multinho 03. Shigeru Miyamoto 04. Ashley Highfield 05. Carles do HRO
DR
ALIMENTOS 01. Francesinha_ Café Favo
02. Bacalhau com natas e espinafres em casa da Rita Luís 03. Skittles 04. Palha italiana do café Célia-Bambi 05. Batatas fritas “A Saloinha”
IGUAL #00
ATÉ À PRÓXIMA VEZ
Carles/HipsterRunOff
Cory Archangel
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