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POPCULT+WEB2.0
novembro 2009
#04
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
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FOTOGRAFIA DE CAPA POR Jenn Turner (Milwaukee, WI, USA)
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Editorial Obrigado, Flickr Olá, a revista de que pouco se fala regressa depois de ter ido a banhos. Agora, com mais roupa no corpo e menos horas de sol, continua a ser uma boa altura para alterar algumas coisas, de maneira que mudámos de identidade visual e apresentamos em Novembro uma cara nova. Editorialmente falando, regressa a crónica graças à repescada colaboração da Ana, regressa o Daniel a escrever sobre cinema asiático – desta vez fomos a Hong Kong sem sair do sofá –, regressam as recomendações musicais do Pedro Rios (para seguir religiosamente ou ignorar de forma pedante) e regressa a secção Culto, este mês dedicada aos brindes do McDonald’s. Há ainda uma entrevista a Miguel Gomes, realizador de “Aquele Querido Mês de Agosto”. Imperdíveis estão as fotografias desta edição, o que justifica o título deste Editorial. O Flickr é uma ferramenta de trabalho indispensável na feitura desta revista e em Novembro trazemos às nossas páginas três utilizadores daquele site de partilha. Jenn Turner assina a capa, o Miguel Teixeira ocupa-se do Centrão e a Christina Roberts ilustra secções habitualmente mais cinzentas (Ficha Técnica e Índice, a que se juntam Até À Próxima e a contra-capa). A conferir nas páginas seguintes. Ou enrolar para cartuchos de castanhas.
Ana Maria Henriques
Miguel Carvalho
04 04
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Ficha Técnica
Director Vitalício & Editor: Miguel Carvalho Top-Ajudante: Ana Maria Henriques Colaboradores: Ana Maria Henriques, Daniel Sylvester, Pedro Rios, Francisco Dias, Miguel Teixeira, Christina Roberts Capa: Jenn Turner Conteúdo: todos os textos, fotografias e ilustrações são da autoria de Miguel Carvalho excepto se creditados Paginação & Design: Miguel Carvalho Contacto: migueldeazevedocarvalho@gmail.com Propriedade/Edição: Eufaçooquequero PRESS
Site: http://issuu.com/miguelc
Disclaimer: Esta revista é um trabalho académico. As imagens e fotografias que não são da autoria do Director Vitalício, Miguel Carvalho, além de estarem devidamente creditadas, estão aqui presentes sem qualquer fim lucrativo e são contempladas pelo uso justo, ou seja, de total boa fé no contexto académico/ não-lucrativo inerente à IGUAL.
Christina Roberts
Tiragem: só para os amigos/online Periodicidade: errática (distribuição gratuita) Assinaturas: migueldeazevedocarvalho@gmail.com
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Índice
Christina Roberts
editorial , 4 crónica , 10 pedro rios recomenda , 12 culto: mcbrindes , 14 centrão: miguel teixeira , 17 entrevista: miguel gomes , 22 cinema de hong kong , 26 até à próxima vez , 30
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Colaboradores Ana Maria Henriques
Nasceu numa vila piscatória onde não se passa nada e habita agora no Porto. O pai foi olheiro do Benfica. Não come carne e bebe leite de soja todos os dias. Gosta de vestidos e tem uma predilecção por sapatilhas vermelhas. Não gosta de pessoas que se exercitam. Já foi operada a laser.
Francisco Dias
Nascido no Porto, passou a infância entre o Casão Militar e a montra da Brinca Brincalhão no C.C. Brasília. Nunca se refez do fecho da Roma Megastore na Baixa. Recorda com carinho o entusiasmo com que participou pela primeira vez numa rede social. O seu lema de vida é “tem pai que é cego”.
Pedro Rios
Vive na Vergada, onde se pavoneia ao volante do seu citadino azul. Quando veste de cabedal as pessoas tendem a dar-lhe razão. No Twitter, já são mais as pessoas que o seguem do que as seguidas. Já foi chefe de quase toda a redacção desta revista e até tocou em bandas. Gosta de listas.
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Nasceu em Hamburgo e cedo causou polémica ao dizer que era tão conhecido como os Beatles. Tem dois gatos e é frequentemente gozado no círculo de amigos pelas posições humanistas e razoáveis que teima em defender. Se fosse ele a mandar o Presidente do Mundo era Sonic, o ouriço radical.
Daniel Sylvester
Tem 18 anos e é australiana. Adora a sua vida, mas como esta é curta a Christina aproveita para tirar fotos. Das muitas disponíveis, escolhemos quatro que ilustram várias secções: o Índice, a Ficha Técnica, o Até À Próxima e a contra-capa. Gosta de skate e de cenas baratas.
Christina Roberts
(flickr.com/people/rhinocerosbeetlebattle)
É este lisboeta de 27 anos que edição com oito fotos (nove, capa) do seu portefólio. Além na praia, o Miguel gosta de Ducktails ou Neil Young.
Miguel Teixeira
(flickr.com/people/miguelteixeira)
faz o Centrão desta se contarmos a da de fazer fotografia ouvir Jon Hassell,
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Crónica Do Acordo e Da Escrita por Ana Maria Henriques Ele é pontos. Vírgulas, dois pontos: três pontos, o ponto mais a vírgula, o travessão os pontos de interrogação e os de exclamação! Ele é regras, alturas específicas, entoações, sentidos e significados, ironia e sinceridade, dúvida ou espanto, paragem longa, média, curta, só para respirar. Parágrafos e entradas de falas, aspas para discursos roubados, parêntesis para explicações jocosas, barras para significados ambíguos. Acentos agudos e graves para palavras parecidas ficarem diferentes, tis e tiles, circunflexos para palavras tão simples, bem mais simples que a palavra circunflexo. Apóstrofos para a preguiça que une duas letras. MAIÚSCULAS e minúsculas. Cedilhas para nós. Factos que regem a língua. Factos que vão passar a ser fatos, completos, com direito a colete, laço e barra. E depois há o Saramago, que não usa os pontos como nós usamos, que usa as vírgulas como sinal de pontuação por excelência, sinal que introduz tudo e não deixa nada de fora, sinal ritmado, a vírgula que diz, Olha o Sr. José, aquele que vive na ilha espanhola, que gosta tanto de nós, sempre a dar-nos o devido valor, o Saramago que ignora as regras que cortam o ritmo e o dinamismo da escrita e da leitura, que cria uma melodia constante, que embala a estória. e depois há o valter hugo mãe, que não suporta as maiúsculas, nem nos nomes dos senhores nem nos nomes das senhoras, nem das terras, dos países, dos rios, dos dias da semana, dos meses. para o valter hugo mãe são todos iguais, as pessoas e as coisas, o espaço, o tempo, os sentimentos, os pontos e as vírgulas, as letras sempre todas do mesmo tamanho, sem nenhuma a destacar-se. E porque a escolha e a enumeração se pode tornar longa, há o Lobo Antunes, que gosta de frases profundas e cheias de raiva que não cabem todas na mesma linha, diálogos partidos pelo espaço onde actuam, manchas gráficas difusas, irregulares, a formar figuras feitas de letras impressas pretinhas. Ufa!, com direito a pontos vários... !? Não me podem obrigar a abdicar de todas estas especificidades, o tempero não pode ser, de repente, abolido da língua. Faz parte dela, está sempre presente: nunca é pedido, ainda assim apreciado como se fosse o único. Não, não quero alternativas, menus exóticos com sabores que desconheço. Quero ter direito a tudo o que à partida parece inútil. Mas que na realidade não o é. Sou dos cês e dos pês e dos agás (agá levará agá?) mudos, dos xis que podem ser zês.
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Se for necessário deixar claro, sou contra.
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A PRÓXIMA PODE SER A TUA fotos, ilustrações e etc: migueldeazevedocarvalho@gmail.com
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O PEDRO RIOS RECOMENDA :
(Recomendações musicais de quem ganha a vida a ouvir a música dos outros) Emeralds por Emeralds // Gneiss Things / 2009 Alguma da música mais entusiasmante que tem saído do underground (ainda existe essa coisa?) faz-se de sintetizadores. Já não de guitarras acústicas com afinações estranhas, como acontecia na free folk, já não de ruído bruto, como no noise, mas de sintetizadores, esse instrumento que a new age e a pop oitentista tornaram num pecado. Agora, com a bênção do tempo, a new age torna-se fonte legítima de inspiração, encontra elos (que, afinal de contas, estiveram sempre lá) com a kosmische de um Klaus Schulze e o minimalismo de Terry Riley. Stellar Om Source, Oneohtrix Point Never e Emeralds são alguns dos nomes mais interessantes desta tendência que, por ora, se mantém fresca. “Emeralds”, um dos vários registos que lançaram recentemente, recorda Schulze em “Geode”, uma das peças de música mais brilhantes do ano pela forma como dispõe ritmos de sintetizador em cascata, entre o ambient e a dança (mental, claro está). Música para imaginar prismas em mutações geométricas – vale imenso. “Overboard (Off The Deep End)” viaja pelo espaço como os Tangerine Dream faziam e “Diotima” é um mar de “digitalia” e guitarras gentis a flutuar. “Passing away” é a peça maior do disco, com os seus 17 minutos a condensar as coordenadas anteriores em vários momentos. Há um disco dos Emeralds que se chama, com ironia, “Bullshit Boring Drone Band". Chiça coisa mais falsa: isto é drone dinâmico, do melhor nos últimos anos.
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Os Emeralds: Mark McGuire, John Elliott & Steve Hauschildt (Foto: Shannon Neale)
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Beyond the Valley of Ultrahits por Richard Youngs // Sonic Oyster / 2009 Richard Youngs é dos músicos mais brilhantes e idiossincráticos da música experimental contemporânea. Já lá vão 19 anos sobre “Advent”, esse portento minimalista que o lançou a solo. Desde então, tem-se multiplicado em dezenas de registos a solo, com Andrew Paine, Simon Wickham-Smith, Alex Neilson e Jandek. “Beyond the Valley of Ultrahits”, um dos vários discos que lançou a solo este ano, vai directamente para o grupo dos melhores discos de Youngs, ao lado de “The Naïve Shaman” e “Garden Of Stones”. Nele, o inglês aproxima-se da música pop. A sua voz (centro das suas obras mais interessantes) mantém-se naquele registo único entre a austeridade e a doçura, mas a música deixa-se levar pela repetição de estruturas própria da pop. Claro que há elementos suficientes para sabotar qualquer ideia de que Youngs sucumbiu a facilitismos. “Collapsing Stars”, canção lindíssima, coloca a voz em duplicado, com ligeira assincronia, e há um solo de guitarra que caberia numa balada rock FM em cima de uma melodia esquizóide. Reconhecemos o gosto pelas estruturas modais que enformam uma obra genial como “The Naïve Shaman”, mas já não estamos perantes longas peças (nenhuma canção tem mais de quatro minutos). “Oh Reality” é um convite ao singalong (a sério) sobre ritmos em colisão, um exercício de simplicidade e eficácia. “Beyond the Valley of Ultrahits” é, ao mesmo tempo, uma bela porta de entrada no universo Richard Youngs e um passo firme e corajoso de um músico que, igualmente este ano, também se aventurou pelo tecno e pela house (em “Like a Neuron”). Um artista imprevisível, livre, único. Flamingo Breeze por Matrix Metals // Not Not Fun / 2009 “Flamingo Breeze” é um grande título, não é? Lembra-nos praia e envolve flamingos, animais porreiríssimos, cheios de pinta e cor-derosa. É curioso ver como os blogues de mp3 se dividem a atribuir este disco a James Ferraro, metade dos Skaters e prolífico músico a solo (edita regularmente sob diversos e obscuros pseudónimos). Somos dos que dizemos que não é Ferraro, apesar do universo de referências ser comparável: detritos culturais (música de vídeojogos, de elevador, de filmes manhosos) e longas peças instrumentais com aura lo-fi que transforma os ritmos em texturas e dilui as melodias (o hiss da cassete e a gravação fodida são mais um instrumento). É em “Tanning Salon” que esta cassete melhor se revela: com apenas quatro minutos, revela-se uma canção que Ariel Pink não desdenharia, se se lembrasse de explorar a psicadelia de guitarras.
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Culto
McBrindes:
o boneco mais coleccionado no mundo De 1932, ano em que abriu o primeiro “fast food drive-in” nos EUA, até 2007, ano em que a McDonald’s Portugal se tornou na primeira franchise europeia a fornecer wi-fi gratuito em cada um dos 120 (à época) estabelecimentos no nosso país, vai uma longa distância. Pelo meio, a cadeia dos irmãos McDonald revolucionou hábitos, criou polémicas, deu origem a um índice económico, a um conceito laboral pejorativo e a um termo da Sociologia, promoveu incontáveis referências pop culturais e espalhou-se por 119 países onde alimenta milhões 14 de pessoas diariamente.
por Miguel Carvalho e Francisco Dias Sem querer discutir os méritos e defeitos da McDonald’s, importam-nos as memórias. E não estamos a falar do patrocínio oficial ao Euro 2004. Estamos a falar dos brindes do Happy Meal. O Happy Meal apareceu em 1978 como a refeição dos mais novos. A prová-lo está o tamanho das doses e a introdução de um brinde. Atraindo as crianças, a McDonald’s tentava vender-se como restaurante familiar e em 1980 exportou o Happy Meal para fora dos EUA. Quando, em 1991, o primeiro restaurante da
marca abriu em Portugal o Happy Meal era um conceito implementado e um produto de sucesso: “preferido pelos filhos, aprovado pelos pais”. Apesar de por cá não termos a nossa própria tradução para Happy Meal, ao contrário do Brasil onde se deve pedir um McLanche Feliz, também as crianças portuguesas têm crescido a brincar com os brindes do seu menu. No entanto, é justo dizer que a maioria de nós vê os premiums como uma diversão descartável e não como o item de colecção que realmente é. Os brindes do Happy Meal - os brinquedos
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mais coleccionados do mundo têm sabido reflectir, através de inúmeras licenças milionárias, os gostos das crianças de todos os países, nomeadamente através da ligação, extinta em 2006, com a Disney. No início, quando os premiums eram relativamente simples, as personagens da McDonald’s eram o principal motivo nas caixas do Happy Meal. Importa referir este esquecido grupo de figuras ao serviço do marketing da marca, do qual apenas Ronald McDonald, enquanto mascote da cadeia, é ainda recordado pelos portugueses. Além do palhaço assustador (que é fácil de imaginar a fumar no backstage da gravação de um anúncio televisivo enquanto é ordinário com as crianças presentes no plateau), havia ainda Grimace, Hamburglar e Birdie. Como eram pre-
sença francamente secundária na promoção da marca em Portugal, não era raro ouvir alguém falar do “Roxo”, do “Ladrão” e da “Pássara”, respectivamente. Grimace é a personagem McDonald’s melhor conseguida graças ao seu look descontraído e atitude curtida (que lhe valeu, um dia há muitos anos atrás, uma cuspidela no McDonald’s das Antas). Hamburglar faz lembrar um Alfred E. Neuman depois de dois AVCs e Birdie parece uma personagem rejeitada do elenco da Rua Sésamo. Hoje, estão destinados a apodrecer na memória colectiva e confinados a esquinas escuras em cada restaurante onde ainda exista um boneco gigante. Mesmo o palhaço Ronald parece resignado com a sua falta de protagonismo que o atira para a ala infantil de alguns hospitais em visitas a crianças doentes.
Para além dos brinquedos, a própria caixa do Happy Meal com que crescemos acrescentava valor à refeição. As embalagens da refeição infantil mais vendida do mundo eram também elas coleccionáveis e importantes complementos à promoção em vigor, sobretudo se fosse possível construir um diorama com as mesmas. No entanto, a gordura e os restos de alface com mostarda dificultavam a tarefa de guardar os cartões do Happy Meal e o seu destino era geralmente o lixo. Outra particularidade do Happy Meal da nossa infância era a noção que o brinde era aleatório e não calendarizado uma vez que as idas ao McDonald’s eram controladas pelos pais, os mesmos responsáveis pela dificuldade em completar as colecções inteiras por força das preocupações gastronómicas dos progeni-
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tores. Daí que os clientes mais ousados pedissem ao adolescente atrás do balcão para trocar brindes de modo a completar a sua colecção. Outra particularidade é a altura em que comer Happy Meals deixa de ser visto com normalidade pelos nossos colegas que estão muito comprometidos com a sua pré-adolescência. É preciso esperar pelo fim do período de nojo para que os brinquedos do McDonald’s sejam novamente aceites e não precisem de ser guardados às escondidas, mas antes mostrados com orgulho junto a boxes DVD ou em cima da PS2 lá de casa. Os brindes do Happy Meal são tradicionalmente veículos promocionais de filmes infantis (durante 10 anos a Disney foi rainha – ficou na memória a onde, durante um almoço megalómana promoção do madrugador de sábado em filme “101 Dálmatas”) ou de meados da década de 90, um outras linhas de brinquedos empregado simpático ofereceu (como a da Barbie ou os Hot ao Miguel vários brindes do Wheels), mas hoje em dia os Euro 96, incluindo um relógio brindes são menos memoráveis de pulso semi-translúcido. e até as franchises não-há-queenganar têm resultados insatis- Por sua vez, o Francisco fatórios. Foi o que aconteceu chegou, em criança, a obrigar o em 2008 com a promoção para pai a percorrer vários McDono filme “Star Wars – The Clone ald’s do Grande Porto em Wars”. No que a brindes Star busca do Sonic. As idas ao Wars diz respeito, os brinque- restaurante com a irmã mais dos de corda do rival Burger nova são também uma King são, em comparação e na memória acarinhada pelo nossa opinião, muito melhores. duplicar de brinquedos que significavam. E, se a memória não A nível pessoal, o Miguel só se nos atraiçoa, os primeiros lembra de ter os brindes idiotas: premiums em Portugal foram: o Tails, a árvore da Pocahontas, um megafone, uma claquete, a Birdie num carro amarelo, o uma pistola com mãos-bategolfinho do Astérix (leram bem) palmas e uma espécie de ou a caixa rosa com a Donalda. fenacistoscópio. A melhor recordação é do Mc16 Donald’s do Cidade do Porto Se o leitor ficou nostálgico e
pretende reaver algum brinquedo perdido (e as memórias a ele anexadas) basta reservar um fim-de-semana para visitar a feira da ladra, o lugar onde os brindes do McDonald’s vão para morrer. Também pode ir ao eBay e descobrir se aquele dinossauro roxo que veio como recordação das férias de 1994 em Palma de Maiorca não é uma raridade cobiçada por McColeccionadores. E eles existem mesmo. Em 2005, uma criança inglesa de 7 anos convenceu o seu pai a comprar uma colecção de McBrinquedos por 350 dólares. Quatro anos e muitos Happy Meals depois, mais precisamente em Março deste ano, o pequeno Luke vendeu a sua colecção de sete mil itens (brinquedos, caixas, etc) por mais de 11 mil dólares. O pai suspirou de alívio.
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Centr達o
MIGUEL TEIXEIRA
flickr.com/photos/miguelteixeira
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BEIRA , por Ana Maria Henriques e Miguel Carvalho
FAROESTE PORTUGUÊS
"Aquele Querido Mês de Agosto" possibilitou a inversão de papéis entre Miguel Gomes e o cinema. De crítico da sétima arte a objecto de crítica pela realização de um documentário ficcionado, Gomes representou e apresentou o Portugal do interior no mês em que emigrantes e bailes de aldeia fazem a festa. Já editado em DVD, a segunda longa do realizador, aqui entrevistado por e-mail, é música de baile e fotografias descoloradas
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IGUAL – Qual o significado da cena inicial? A raposa é a equipa de filmagens e, em última análise, o espectador, e as galinhas a população beirã? É um piscar de olhos a “A Caça” de Manoel de Oliveira? Miguel Gomes (MG) – Não acho que as metáforas e o simbolismo sejam muito produtivos no cinema. Os filmes não são charadas, nem o espectador um detective. Em geral, acho que muitas vezes não se vê o que se tem à frente porque se tenta ver mais além. Filmei essa cena, antes de tudo, porque na região há raposas e capoeiras e a interacção entre estes dois elementos vem de tempos remotos, faz parte de um imaginário rural. É claro que, deixando a porta do galinheiro aberta, instaura-se um princípio de desejo de ficção: a raposa vai entrar e devorar as galinhas? É uma cena híbrida entre o registo dito documental e o desejo de ficção que o cinema desperta em nós. Mas não havia simbolismo. Não me lembrei dessa cena de A Caça, se a roubei foi inconscientemente. IGUAL – Considerando que em Cannes o filme foi considerado um objecto estranho: como correu a projecção em Arganil às gentes da terra/protagonistas? MG – Não sei se em Cannes o acharam assim tão estranho. Quanto à recepção na Beira Serra houve de tudo, quem gostasse e quem não gostasse. Mas o mais curioso é o modo
DESTAQUES
como as pessoas que participaram ou estiveram próximas da rodagem do filme o confrontavam com essas memórias. Há sempre alguém que pergunta porque é que não mostrámos a casa do genro ou cortámos um primo de alguém na montagem final.
IGUAL – Revendo o filme na sua edição DVD deu-me impressão que seria um acrescento útil o comentário áudio do realizador. Por que não existe um? Ninguém se lembrou, não quiseram descodificar o filme, não houve meios?
IGUAL – Com dois géneros em palco (o documentário e a ficção) seria se esperar que se anulassem por oposição, que houvesse um interruptor on-off, mas há antes um enlevo narrativo de blocos que, mais do que se encaixarem, se prolongam. Concorda?
MG – Sim porque a ficção faz já parte daquilo a que chamamos de realidade. Vamos construindo as nossas personas e fabricando os nossos próprios mitos que passam a ser tão reais quanto o resto. E a Beira em Agosto, cheia de canções e fogos de artifício, é já de si MG – Eu sei demasiado sobre um território habitado por uma o filme para poder falar dele grande pulsão de ficção sem impor a minha versão e e espectáculo. diminuir-lhe um pouco o mistério. Uma das coisas que mais IGUAL – Não houve qualquer gostámos quando o filme foi reaproximação com a Sónia visto era a forma como as pes- Bandeira? Mantém contacto, soas se interrogavam sobre o por exemplo, com o Fábio que era encenado ou casual, Oliveira e com outros dos o que tinha sido provocado ou actores improvisados ? não, e todo esse lado de indeterminação parece-me uma MG – Mantenho-me em conqualidade e não um defeito. tacto com todos menos com a E os filmes são experiências Sónia. Ela deixou de querer para serem vividas, não são fazer o filme na véspera de o cadáveres para serem disseca- termos de fazer e isso foi muito dos. No outro filme que lançá- complicado de gerir. Para ela e mos em dvd, “A Cara que para nós. Gosto muito dela no Mereces”, organizamos um co- filme mas os laços que se manmentário audio com quatro têm depois com as pessoas críticos a dizerem coisas difer- com quem trabalhamos já têm entes uns dos outros e, às a ver com relações pessoais, vezes, a atropelarem-se porque e x t r a - c i n e m a t o g r á f i c a s . falavam ao mesmo tempo enquanto eu lhes preparava IGUAL – O papel da música cocktails. Tentámos não reduzir no filme é fulcral. O registo o filme a um único ponto de popular, por exemplo, é aprevista, por mais interessante sentado mais como elemento diegético do que como que este fosse. banda-sonora, daí aquela
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Miguel Gomes, o realizador de “Aquele Querido Mês de Agosto”, nas cenas finais do filme.
A banda “Estrelas do Alva” numa actuação panorâmica com vista para as Beiras.
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cena final. Ou seja, vai-se às Beiras em Agosto e ouvir Dino Meira é tão natural como ver silvas num monte ou ouvir o vento numa central eólica. Concorda? MG – Ouvir música de baile sim, Dino Meira não. As bandas tocam sobretudo os êxitos do momento e o Dino Meira ficou para trás, perdido no tempo. Mas eu acho que a canção “Meu Querido Mês de Agosto” é central no imaginário local, mesmo que ela já não fosse tocada quanda a filmei. Exceptuando o “Baile de Verão” do José Malhoa, todas as outras canções tocadas pelos Estrelas do Alva são canções que já ninguém tocaria na realidade. Mas é verdade que uma das memórias que guardo da experiência deste filme é de escutar à noite, na varanda da casa que a equipa partilhava na serra, o som dos vários concertos nas aldeias a misturaram-se uns
com os outros, mas também isso ainda mais português? com o barulho das cigarras MG – É verdade que tivemos e com o piar das corujas. que nos desenrascar. Se foi à IGUAL – Em Cannes disse portuguesa não sei. que a Beira é o faroeste português. Por que diz isso? IGUAL – O conceito de introduzir os actores ainda antes É pelos excessos? de introduzir as personagens MG – Porque há um lado sel- é original. Já viu outros vagem, há novos colonos que filmes que sigam esta chegam e se instalam, e a lei estrutura? local é ainda bastante ditada pela própria comunidade. Mas MG – Não sei, não me recordo. eu não sou sociólogo e essa Mas conheço vários filmes, afirmação é certamente produto sobretudo sem actores profisdo meu próprio desejo sionais, onde a personagem e aquele que a interpreta de ficção. disputam o interesse do IGUAL – Disse que nunca fez espectador. nada de tão instintivo e com tão pouca preparação. Se IGUAL – Está a trabalhar em atendemos ao corte orça- novos projectos? Um novo mental, à transfiguração de filme, talvez? género, ao director de produção que dá uma perninha MG – Um novo filme que iremos como actor, os próprios rodar para o ano e do qual não actores amadores. Este é um irei falar porque aprendi que filme do desenrasca e por tudo pode ir mudando.
Os filmes são experiências para serem vividas, não são cadáveres para serem dissecados.
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Desde o apogeu da Shaw Brothers nos anos 70 até à era actual de efeitos especiais e cantores de Pop cantonês, a indústria cinematográfica de Hong Kong tem sido uma das mais caóticas e imprevisíveis à face da terra. Para quem quer começar a entrar no género, também a sua produtividade estonteante, não adversa a remakes, remontagens e rip-offs de toda a espécie, pode ser um obstáculo. Ficam aqui sete sugestões de como melhor mergulhar no universo do cinema made in Hong Kong.
10 FILMES ESSENCIAIS DO CINEMA DE HONG KONG
por Daniel Sylvester
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DESTAQUES
1- Five Deadly Venoms (1978) ais e dançarino de cha-cha-cha premiado, Bruce Lee foi a Não é bem verdade que são primeira grande vedeta internaiguais todos os filmes da Shaw cional de Hong Kong. Dotado Brothers, o primeiro grande es- de um poderoso carisma, Lee túdio de Hong Kong e o utilizou a sua fama para popuprimeiro a exportar os seus larizar vários conceitos da filmes além-fronteiras com filosofia oriental, apostando algum sucesso, mas também tanto no zen como na sua não é uma falsidade completa. destreza física – mesmo que A Shaw Brothers, durante a sua muitos dos seus "ensinamenfase mais fértil dos anos 70, tos" roçassem o plágio. Confazia toda a espécie de filmes, tratado para aparecer na série incluindo comédias, romances americana "The Green Hornet", e filmes de terror. Mas a sua Lee dedicou algum tempo da reputação deve-se indubitavel- sua vida a desempenhar papéis mente a uma série aparente- de ajudantes e capangas nos mente inesgotável de contos de EUA, mas foi após o regresso a artes marciais, sempre nos Hong Kong que o actor atingiu mesmos cenários arcaicos e o verdadeiro estrelato via um quase sempre centrados no filme da Golden Harvest titulado mesmo enredo principal: um "The Big Boss". Mas o melhor jovem discípulo busca a vin- filme de Lee – e o último antes gança pelo assassinato do seu da sua trágica e prematura mestre. É um formato rígido e morte – é uma co-produção quem não acha piada a um americana, com todo o estilo provavelmente não irá mudar e cool inerente à Hollywood de ideia após ter visionado 20. dos anos 70. Vilão à James Por outro lado, quem aprecia a Bond? Presente. Personagem estranha atmosfera de conto de blaxploitation com afro inacredfadas, as brutais façanhas de itável? Pois sim. Banda sonora artes marciais, os estilos ainda de Lalo Schiffrin? Por quem assim vagamente distintos do sois! "Enter The Dragon" lírico King Hu e do sanguinário mistura espionagem, mística, Chang Cheh, e o anúncio crítica social e pontapés contra reconfortante que o filme será a cabeça de forma assaz apresentado em "ShawScope", e satisfatória. tem à sua frente uma fonte quase inesgotável de delícias. 3- Police Story (1985) "Five Deadly Venoms" é apenas um dos muitos bons argumen- A ascensão de Jackie Chan a tos para a tese de Quentin estrela nacional (e, mais tarde, Tarantino, segundo a qual o internacional) marcou um ponto seu realizador Cheh é "o de viragem na indústria cineJack Kirby de Hong Kong". matográfica de Hong Kong: subitamente, o herói solene 2- Enter The Dragon (1973) encarnado por Bruce Lee estava out, e o Zé Povinho sorriActor desde a mais tenra infân- dente protagonizado por Chan cia, especialista de artes marci- estava in. Jackie era adorado
porque não possuía pretensões a um cool elitista: as suas palhaçadas e desventuras traziam à mente não Alain Delon ou Clint Eastwood, mas o humor clássico de um Charlie Chaplin ou Harry Lloyd, influências assumidas pelo próprio na sua cinematografia. E para além disso, claro, havia os stunts absurdamente perigosos, possíveis apenas num país em que as regras de segurança no trabalho eram vistas de forma bastante laxa e as tríades controlavam uma boa porção da indústria. Em "Police Story", Chan dá coça que baste, provoca acidentes de viação que trariam um sorriso à cara de John Landis e, de vez em quando, sorri como que para dizer "fui eu que fiz isto?". Adicionem um final abrupto no bom estilo Hong Kong e têm uma obra-prima do género. 4- Mr.Vampire (1985) Os vampiros em terras chinesas não são como os de cá. Pulam, não te vêem se susténs a respiração e podem ser controlados colocando um pau com um pergaminho na sua cabeça. Criaturas, no fundo, mais reminiscentes de zombies do que de vampiros à ocidental dominam esta comédia de terror que, sem contar com vedetas de peso nem com um realizador famoso, conseguiu lançar uma pequena febre para filmes semelhantes a meio dos anos 80. "Mr.Vampire" é entretenimento puro, desde as incontáveis acrobacias dos desesperados caçadores de vampiros à aparição de um fantasma com cabeça desmon-
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tável e uma cena de comédia de costumes, na qual os protagonistas se vêem à rasca por terem que cumprir os rituais do teatime no estilo britânico. Destaque ainda para a banda sonora, repleta de sintetizadores primitivos e coros de crianças – "frightening, frightening, frightening siiiight"! 5- Hard Boiled (1992) John Woo pode gabar-se de uma honra singular: é o único realizador nativo de Hong Kong cuja fama internacional se pode medir com a de estrelas como Jackie Chan ou Jet Li. E, se a sua obra em Hollywood deixa algo a desejar, nem por isso os seus feitos anteriores parecem menos impressionantes: com a série "A Better Tomorrow", Woo introduziu Chow Yun Fat (o Cary Grant chinês, no que toca ao seu charme e à sua versatilidade) e lançou mais uma grande tendência: os filmes de tríade. Depois de várias décadas dum cinema fundamentalmente inocente, recheado de aprendizes desastrados como Jackie Chan em lutas pouco ambíguas entre o bem e o mal, Woo trouxe a estética noir para Hong Kong, investigando o submundo criminoso da metrópole e lançando as bases para toda uma gama de realizadores, de Ringo Lam até Johnnie To. E como se isso não fosse suficiente, Woo estabeleceu também, em filmes como "Hard Boiled", um novo nível de intensidade para o cinema de acção, com stunts suicidas e armas de cartuchos infinitos. "Hard Boiled", talvez o filme mais 28 conhecido da fase Hong Kong
de Woo, é uma boa introdução à estética do realizador.
80 um dos grandes inovadores em Hong Kong, criou com "Once Upon A Time In China" 6- City On Fire (1987) uma ode de amor à cultura do seu país, carregada com Se John Woo introduziu o noir a a melancolia de um povo espalHong Kong, Ringo Lam subiu hado por uma diáspora infindcom força o nível de ameaça e ável. Recuperando a famosa niilismo. Mais conhecido pela personagem histórica e ícone sua triologia "on fire" (City, nacional Wong Fei Hung (cujas Prison, School), Lam delicia-se façanhas já tinham servido em mostrar o lado sórdido da de inspiração para dúzias sua cidade, apostando em de filmes na primeira metade do enredos que dão maior valor à século XX), para encarnar o caracterização e à complexi- herói Hark encontrou Jet Li, um dade narrativa do que aos jovem actor cuja dignidade espectáculos de fogos-de- e aptidão com as artes marciais artifício aos quais estamos lembravam Bruce Lee. Ao longo acostumados quando pen- de três filmes (haveria ainda samos no cinema de Hong mais três com outras consteKong. Em "City On Fire", Chow lações), a equipa Hark/Li detalYun Fat (num dos seus papéis hou as aventuras de Fei Hong mais puramente dramáticos) na sua luta contra o imperialfaz o papel de um polícia a ismo ocidental – sendo que trabalhar infiltrado numa organi- britânicos, alemães, amerização criminosa. A violência canos e russos eram igualverdadeiramente chocante e mente retratados como vilões a ambiguidade moral do filme da peça, apesar de a ideologia resultam numa obra extraordi- de Hark não ser completamente nariamente satisfatória, per- isolacionista: uma seita ultrafeitamente comparável aos nacionalista é alvo da fúria de Li maiores triunfos de Jean-Pierre na primeira sequela do filme. O Melville e Martin Scorsese. Um título de conto infantil não era jovem Quentin Tarantino, um acaso nem só uma referênmaravilhado com o filme, iria cia a Leone, mas uma acabar por integrar muitos dos descrição acertada para o filme, seus momentos no seu filme mesmo nas suas cenas de de estreia, "Resevoir Dogs". acção, marcadas pelo voo com cordas cedo conhecido 7- Once Upon A Time In China como wire fu. (1991) 8- Naked Killer (1992) E quando já parecia que o cinema de Hong Kong se tinha Mais ou menos ao mesmo desviado por completo dos con- tempo que Tsui Hark revitaltos que por tantos anos lhe izava o género das artes marcicrescia também a serviram de fonte principal, eis ais, que chega o filme que trouxe popularidade dos assim chamanova vida ao estilo wuxia. Tsui dos filmes de "categoria III", Hark, já desde o início dos anos uma classificação governamen-
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tal para filmes adultos que incluía tanto o canibalismo de "The Untold Story" e a tortura de "Men Behind The Sun" como a comédia sexual "Sex & Zen" e o drama homossexual de Wong Kar Wai "Happy Together". "Naked Killer", um dos maiores filmes de culto do estilo, centra-se no romance entre uma jovem assassina (Chingmy Yau) e um polícia com um passado trágico, protagonizado por Simon Yam ("o Robert DeNiro de Hong Kong", segundo Lee Server.) Yau aprende a controlar as pessoas através da sedução, e tudo caminha para um showdown com um par de assassinas lésbicas. No caminho, há cenários de kitsch incrível, humor que faz o "American Pie" parecer Oscar Wilde, angústia existencial no bom tom noir e um homem que come um pénis julgando ser uma salsicha. Um clássico do seu género, absolutamente único na verve com a qual consegue vender o seu conceito absurdo.
aposta cada vez maior em estrelas do Pop cantonês como protagonistas. No entanto, persiste um certo niche de cinema noir de qualidade, inspirado no trabalho pioneiro de Woo e Lam bem como em mestres interna10- Election (2005) cionais como Melville e Michael O estatuto actual do cinema Mann. Talvez o maior portafeito em Hong Kong não é o estandarte deste movimento é mais saudável, por várias Johnnie To, realizador que tem, razões: a anexação pela China ao longo dos anos, reunido uma iniciou um novo período de obra impressionante de thrillers censura que, embora muito policiais e filmes de acção. A mais liberal do que se estava à sua obra-mestra, "Election", espera, não deixa de surtir os mostra as intrigas de uma seus efeitos; a aposta forte no tríade para servir de metáfora CGI e a influência estética da para um comentário mais geral triologia "Matrix" (já por si um sobre toda a sociedade de derivado medíocre do cinema à Hong Kong. Um filme que conHong Kong em mistura com vence pelo enredo labiríntico anime) tem resultado numa e pelas questões ideológicas corrente inabalável de filmes que levanta tanto como pela ocos na sua grandiosidade; e a violência feroz, "Election" brilha partida de quase todos os ainda devido a actores como maiores ícones da indústria Tony Leung (no papel do (Jackie Chan, John Woo, Jet Li, psicótico Big D) e Wong TinMichelle Yeoh e Chow Yun Fat Lam, que traz toda a dignidade são apenas os nomes mais de um Jean Gabin ao papel conhecidos), tem levado a uma do veterano Uncle Weng. gadgets, femmes fatales e assuntos semelhantes; pode não ter a riqueza das suas obras mais recentes, mas convence pelo flair.
9- From Beijing With Love (1994) Stephen Chow tem conseguido ganhar um niche internacional através do seu estranho estilo de comédia, manifestado em filmes como "Shaolin Soccer" e "Kung Fu Hustle". Mas antes dos triunfos internacionais houve "From Beijing With Love", uma paródia aos filmes James Bond que agrada pela sua atitude despretensiosa e – para os padrões de Hong Kong – subtil. Chow faz a parte de um agente secreto a comando do governo chinês, lidando com
"In The Mood For Love" é o filme mais criticamente aclamado de Wong Kar Wai, mas não entra na lista
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Christina Roberts
ATÉ À PRÓXIMA VEZ
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Z
Christina Roberts
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