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IGUAL
agosto 2009
#03
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
POPCULT+WEB2.0
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SUMMER ISSUE __________ Director Vitalício & Editor: Miguel Carvalho Colaboradores Ana Maria Henriques, Daniel Sylvester, Javier Fabregas, Luís Lago, Nuno Martins e Pedro Rios Conteúdo: todos os textos, fotografias e ilustrações são da autoria de Miguel Carvalho excepto se creditados Paginação & Design: Miguel Carvalho Contacto: migueldeazevedocarvalho@gmail.com Propriedade/Edição: Eufaçooquequero PRESS Tiragem: só para os amigos/online Periodicidade: errática (distribuição gratuita) Assinaturas: migueldeazevedocarvalho@gmail.com Site: http://issuu.com/miguelc
Disclaimer: Esta revista é um trabalho académico. As imagens e fotografias que não são da autoria do Director Vitalício, Miguel Carvalho, além de estarem devidamente creditadas, estão aqui presentes sem qualquer fim lucrativo e são contempladas pelo uso justo, ou seja, de total boa fé no contexto académico/ não-lucrativo inerente à IGUAL.
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IGUAL
#03
EDITORIAL __________ Nas estradas a guiar
É difícil escrever um Editorial para uma edição especial de Verão porque há toda uma série de lugares-comuns que são incontornáveis. A começar pelo calor, mas também os emigrantes, os turistas, o calor, os amores passageiros, os petiscos, o calor, as notícias sem tema ou os inquéritos a famosos. Seja como for, este número da IGUAL está, atrevo-me a dizê-lo, muito bom. Pode ser lido com muito calor, sem ligar ao índice de radiação solar, pode ser levado para França ou Canadá, é bom de mostrar a quem vem de fora ou de partilhar com quem gostamos, fica bem acompanhado por caracóis e cerveja gelada, preenche o espaço deixado pela televisão generalista e até tem um inquérito de Verão a um famoso. Esta edição – não me canso de dizê-lo: especial Verão – tem motivos de orgulho acrescentados. A começar pela capa, um trabalho original de Javier Fabregas, um tipo com talento que descobri no Flickr. O Centrão de Agosto é dele. A IGUAL está de parabéns também pelo número recorde de colaboradores numa edição: seis. Este mês, o Daniel fala-nos da sua fixação por listas, a Ana foi ver um festival que é também um workshop, o Nuno esteve à conversa com o Fua no Gchat, o Luís faz-nos uma retrospectiva dos 70 anos da Marvel e o crítico Pedro Rios cria, espero eu, um novo “Restelogate” com as suas recomendações musicais para o mês mais longo do ano. Por completismo temático, alguns amigos contam-nos episódios de férias anteriores e divertem-nos com as suas recordações. Boa viagem,
Miguel Carvalho 04
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C O L A B O R ___________
Ana Maria Henriques
Nasceu numa vila piscatória onde não se passa nada e habita agora no Porto. O pai foi olheiro do Benfica. Não come carne e bebe leite de soja todos os dias. Gosta de vestidos e tem uma predilecção por sapatilhas vermelhas. Não gosta de pessoas que se exercitam. Já foi operada a laser.
T
Luís Lago
Nasceu numa vila remota do Minho onde passou a infância. Angustiado pelos amigos dispensáveis veio estudar para o Porto. As suas expressões preferidas são "toma!", "e tu, e tu?", "a tua prima!" e "és?". Gosta de admitir que não percebe nada de música. É famosa a sua imunidade ao frio.
Pedro Rios
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Vive na Vergada, onde se pavoneia ao volante do seu citadino azul. Quando veste de cabedal as pessoas tendem a dar-lhe razão. No Twitter, já são mais as pessoas que o seguem do que as seguidas. Já foi chefe de quase toda a redacção desta revista e até tocou em bandas. Gosta de listas.
Ne
Th
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R___________ ADORES
Nasceu em Hamburgo e cedo causou polémica ao dizer que era tão conhecido como os Beatles. Tem dois gatos e é frequentemente gozado no círculo de amigos pelas posições humanistas e razoáveis que teima em defender. Se fosse ele a mandar o Presidente do Mundo era Sonic, o ouriço radical.
Daniel Sylvester
Tem 27 anos e mora em Bogotá, capital colombiana. Descreve o seu trabalho como “os desenhos do cosmos”. Gosta de Residents, Boredoms, Negativland, do Crash de David Cronenberg e de ler William S. Burroughs. Editou o seu MySpace com o Thomas Editor. Fez a capa desta revista a convite.
Javier Fabregas
Nuno Martins
Vive em Valadares, terra famosa pelas boas praias e urinóis. É campeão de projectos musicais frustrados, nem todos a solo. Adora de paixão a Sega Dreamcast e recém-converteu-se à Wii. Estudou arqueologia, mas agora está na área do audiovisual. Quando for velho quer viver no Alentejo.
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IGUAL
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Na primeira pessoa
Sabes que começou no A
Tan Nuyen
por Daniel Sylvester
Sempre fui de listas. As paixões mudavam e, se na primária listava vilões das Tartarugas Ninja e no secundário artistas da Stax, na faculdade fazia listas das melhores faixas Hip-Hop com menções ao “Gremlins”. O que se manteve constante ao longo de todo esse tempo foi uma vontade incessante e incontrolável de catalogar. E, se durante toda esta década fui consumindo música em volumes, à época, assustadores, grande parte do impulso seria o de não perder a oportunidade de avaliar um Disco Do Ano ou alcançar mais uma entrada na minha eventual tabela dos Melhores Da Década. E agora que chegamos ao último ano dos 00, tento restringir as minhas compras apenas a discos que tenho grande confiança de vir a gostar porque a grande parte do meu está ocupado em revisitar todos os álbuns que comprei desta década. Em Março, consegui finalmente chegar aos Bs. Segue uma pequena lista de observações sobre o que se passa nos As da minha colecção de discos: O disco auto-titulado da Aaliyah continua a ser uma obra difícil – um álbum de qualidade impecável num sub-estilo que não me interessa muito. Robert Lashley tinha razão quando notou que a voz de Aaliyah encontra-se “mais perto de Edith Piaff do que de Ashanti”; as batidas são uniformemente interessantes e vanguardistas (falamos da era mais criativa de Timbaland, se bem que nem todas as faixas são dele); e o álbum no seu todo tem uma atmosfera pedrada, envolvente, misteriosa. Mas para tudo isso é preciso prestar muita atenção – quando não o faço, continua a soar a música de cabelereiro.
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Ouvir dois discos dos Animal Collective um após o outro é uma receita excelente para começar a odiar o grupo. Mesmo
em isolamento nunca achei grande piada ao “Merriweather Post Pavillion”, mas o “Strawberry Jam” (que na altura adorei) também perde o seu charme se o combinarmos com a obra mais recente. Começa tudo a soar sumptuoso demais, como comer um bolo de chocolate inteiro. Mas a canção sobre o cão ainda rula. Devo ser a única pessoa à face da terra que comprou não o primeiro disco do Andrew WK mas sim o segundo. E continua a soar altamente! Há poucas personalidades na música Pop que comandam tanta afeição como o nosso Andrew, sempre disposto a rockar em obras-primas de modelo Meat Loaf com uma sinceridade enternecedora. Há artistas que são bons, mas que são rigorosamente a mesma coisa álbum após álbum, e nem faz grande sentido falar em estagnação; existem para o que existem. Não há grandes flutuações de qualidade nos meus discos dos Atmosphere (e já agora: o Ant continua a ser subestimado), mas sentir-me-ia estranho a incluir mais que uma obra deles na minha lista de melhores da década. Hypes que soam melhor agora que já passaram: Arcade Fire e Au Revoir Simone. Divorciados do seu contexto de “MELHOR BANDA (para pessoal que não ouve nada que não tenha Instrumentos A Sério) DE SEMPRE LOL”, os Arcade Fire não deixam de ser a alternativa tolerável aos Coldplay, com o mesmo nível de bonitice melancólica mas não querem ser os U2, querem apenas ser uma banda pós-apocalíptica na neve canadiana e isso não é nada mau. As Au Revoir Simone soam simplesmente bonito e ligeiramente triste, e cantam sobre crushes de forma ultra-nerdy e feminina. E isso também não é nada mau. No fim, os discos de que gostei mais até agora têm poucas capacidades de serem apresentados como documentos definitivos de um estilo ou obrasmestras de um artista icónico da década. São compilações hoje já quase esquecidas como “Anti Folk” (o mini-movimento que se criou à volta dos Moldy Peaches em 2001) ou “Africa Raps” (na verdade limitada a Senegal e aos países vizinhos) e são álbuns que decisivamente não introduzem nada de novo, mas que pegam numa estética existente e lhe criam tributos sentidos – “Exodus” de Alex Moulton, o melhor disco que os Vangelis nunca fizeram ou “The Wolf” de Andrew WK, a última obra-prima do Hair Metal.
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ÍBROOHAHA __________
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DR
OS 70 ANOS DA MARVEL
Saudações True-Believers
Este ano celebra-se o 70º aniversário da publicação do primeiro número da revista de banda desenhada Marvel Comics. Esta publicação marca o início daquilo a que viria a ser o Marvel Comics Group que nos anos 1960 revolucionou as histórias em quadradinhos ao criar super-heróis de certa forma mais humanos que os da principal rival DC. Para celebrar a data, a IGUAL pediu-me para escolher alguns elementos mais caricatos da chamada Casa das Ideias. Nos casos em que consegui encontrar, forneço também alguns links onde podem consultar alguns dos elementos que refiro. Face Front e desfrutem: 10
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Os clubes de fãs Ao longo dos anos, a Marvel tentou estabelecer um contacto próximo com os fãs. O primeiro passo foi dado em meados dos anos 60, com a introdução dos Bullpen Bulletins, páginas das revistas de banda desenhada preenchidas com notícias sobre as actividades de toda o staff da editora. Neste espaço abundam também as aliterações e o estilo pomposo de Stan Lee. Em 1964 surgiu o primeiro clube de fãs, a Merry Marvel Marching Society, presidido por Ben "The Thing" Grimm. A entrada no clube custava um dólar e dava direito a um disco denominado The Voices of Marvel [1], pins e outros géneros de merchandise. Em todos os itens era utilizado um humor auto-depreciativo, como se pode ver pelo juramento dos membros: "I pledge allegiance to the mags of the Marvel Group and to the madmen who put them on the standss. One bullpen, understaffed, indecipherable, with liberty and boo-boos for all”. Em 1969, Martin Goodman achou que a MMMS era demasiado custosa para a editora e por isso permitiu que um empresário independente gerisse um club de fãs da Marvel, o Marvel Mania International, onde a MMMS foi incorporada. Infelizmente, o suposto empresário provou ser um charlatão, que vendeu merchandise inexistente a vários pequenos marvelitas. O desgraçado fugiu sem deixar rasto. Mais tarde surgiu a Friends of Ol' Marvel, ou FOOM. Este clube publicava uma revista com o mesmo nome, que foi depois seguida pela revista Marvel Age, publicada desde os 80s até meados dos 90s. Not Brand Echh e What the-?! A Marvel sempre soube rir de si mesma, como comprovam estas duas séries de banda desenhada que se dedicavam a parodiar heróis da companhia. O título da “What the-?!” é uma paródia da famosa série da Marvel “What if...?” que contava versões alternativas de histórias famosas da Marvel. Ambas as revistas são conhecidas pelas suas mascotes: Forbush Man e SpiderHam. As histórias seguiam um estilo semelhante ao utilizado por Harvey Kurtzman nos primeiros números da Mad, apesar de empregarem um humor muito menos refinado. O mesmo estilo foi empregue noutra revista de humor da Marvel, a Spoof, que parodiava séries
famosas na altura.[2] Pizzazz Uma espécie de Super Jovem da Marvel lançada em 1977, a Pizzazz continha artigos relacionados com os filmes do momento (em especial, o Star Wars) entrevistas e perfis das estrelas predilectas dos teenagers (como os Kiss), assim como piadolas, puzzles e outros passatempos. Apesar de o seu carácter à primeira vista piroso, a verdade é que a revista até tem um design minimamente sofisticado para o tipo de publicação, para além de contar com contribuições de bons cartoonistas da altura, como Rick Meyerowitz.[3] Macy's Thanksgiving Parade Um dos mais conhecidos exemplos do foleirice da Marvel é a parada do Dia de Acção de Graças patrocinada pelo gigante armazém Macy's. O video está na net.[4] ‘Nuff said! No-Prize Há algumas décadas atrás, muitas editoras de banda desenhava ofereciam dinheiro ou BDs grátis aos leitores que apontassem erros ortográficos ou de continuidade. A Marvel achava, no entanto, que os seus leitores não deveriam ser tão exigentes e instituiu o No-Prize. Assim, qualquer leitor que apontasse um erro recebia em casa uma carta da Marvel com a seguinte mensagem: “Congratulations, this envelope contains a genuine Marvel Comics No-Prize which you have just won!”. Estes não-prémios são agora também atribuídos a quem melhor conseguir explicar porque determinados erros de continuidade não são de facto erros e a pessoas que prestam serviços de mérito à Marvel. A titulo de exemplo desta última categoria, um No-Prize foi atribuído em 2006 a um grupo de fãs que doou comics a soldados americanos no Iraque. Os “melhores” erros da editora foram compilados numa comic dos anos 80, com o nome de “Mighty Marvel's Most Massive Mistakes”. Filmes série B Hoje em dia, qualquer filme da Marvel merece um orçamento completamente astronómico e é, por
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regra, um sucesso garantido. Mas nem sempre foi assim. Apesar de a rival DC ter lançado sempre os seus principais heróis para o grande ecrã com produções de custos elevados (mesmo no caso do filme camp do Batman dos 1960) a Marvel apostou inicialmente em produções de baixo custo. A primeira adaptação deu-se em 1944 ainda na altura da Timely, com os serials do Captain America, que seguiam um modelo idêntico aos do Batman e do Flash Gordon da mesma altura. A próxima adaptação oficial de um personagem da Marvel chegou apenas em 1986, com o flop Howard the Duck. Já no final dos 80's e início dos 90's, no auge dos filmes do Batman, a Marvel lançou três filmes rasca baseados em algumas das suas mais populares personagens. Primeiro veio Punisher, que foi interpretado sem caveira ao peito pelo famoso herói de acção (e marido de Grace Jones) Dolph Lundgren, que também encarnou o mítico herói He-Man. Depois veio a adaptação direct-to-video de Captain America, onde o herói possuía um escudo de plástico transparente (não havia orçamento para importar vibrânio de Wakanda) que servia de vidro para a sua Americamoto. Por último temos Fantastic Four, que nunca chegou a ser lançado, nem sequer em vídeo, tendo sido feito apenas para a Marvel não perder os direitos de produzir um filme com as personagens. Os actores, no entanto, nunca foram informados desse facto. O filme foi co-produzido pelo Rei do Série B americano, Roger Corman. Mais uma vez, não me delongo na descrição da qualidade dos filmes, pois algumas imagens podem ser apreciadas pessoalmente pelos leitores no YouTube. Excelsior,
por Luís Lago [1] dograt.com/2007/09/23/the-mmmsrecords-remastered [2] cosseyedcyclops.blogspot.com [3] cosseyedcyclops.blogspot.com/search/lab el/Pizzazz [4] x-entertainment.com/thanksgiving/macyparade/1987/macystgparade87-marvelcomicsfloat.wmv
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DR
ESTOU A FALAR COM O JOAQUIM DURÃES ? por Nuno Martins
Toda a gente o conhece por Fua, mas a cara mais visível da promotora, editora e distribuidora Lovers&Lollypops é mais do que a vista alcança. Pelo Gchat, numa conversa gravada no dia 22 de Abril, fala-nos da mãe, da SPA, de futebol, do Pirate Bay, da diferença entre stoner e desert e muito mais. 12
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DR
Nuno: tudo bom? estou a falar com joaquim durães? Fua: tudo em cima. sim sim Nuno: prazer. olha, um amigo meu tem uma revista online para a qual colaboro ocasionalmente. como tal, gostaria de te fazer umas perguntas, assim numa mood chill out Fua: claro que sim Nuno: obrigado, mas a ser pela internet faria mais sentido em tempo real, está ok para ti? Fua: sim Nuno: ok pode ser já? Fua: pode sim Nuno: primeiro de tudo, gostaria de saber a tua idade, nome e profissão se possível Fua: Joaquim Durães // 26 anos (feitos ontem) // e trabalho na Lovers & Lollypops e também para o Plano B Nuno: os meus parabéns atrasados!! Fua: muito obrigado Nuno: gostaria de saber quando surgiu esse interesse por organizar concertos? Fua: no secundário criei uma fanzine (Imolação da Mente) dedicada a sonoridades mais extremas e como extensão da publicação comecei a organizar alguns concertos. surgiu daí penso. Nuno: em que escola andaste? Fua: Escola Secundária Alcaides Faria em Barcelos Nuno: há malta do stoner em barcelos, é verdade? Fua: não seria tão limitado nessa visão, há pessoal interessado no rock n' roll em geral, seja garage, psicadélico, stoner, desert etc etc Nuno: qual é a diferença entre stoner e desert? só por curiosidade e ignorância da minha parte Fua: é tudo muito cruzado mas o stoner até pode ser interpretado como um parente mais ou menos próximo do grunge pelas suas influências e o desert rock encontra eco em gajos do passado como Hank B. Marvin ou mesmo a cena Kraut. obviamente tudo isto é algo que se mistura facilmente Nuno: obrigado Sent at 5:59 PM on Wednesday Nuno: como fã de doors gostaria de te perguntar o que achas da musica the end e da sua conotação freudiana com o complexo de édipo. nao vale pesquisar na wiki Fua: não conheço a música por aí além e desde o secundário que recusei os doors um pouco pela sonoridade que ouvia na altura e desde então nunca mais peguei neles. qando os descobrir (se alguma vez isso acontecer) respondo-te.
Nuno: ok. qual é a loja de discos a que vais com mais regularidade? ou a preferida Fua: uma não mas se calhar a junção de 3: Louie Louie, Matéria Prima e Lost Underground Nuno: onde é a matéria prima, é no porto? não conheço Fua: sim, na rua miguel bombarda Nuno: hmm ok, tenho de lá ir. algo que me esqueci de perguntar anteriormente: qual foi o concerto mais difícil de organizar, aquele em que quer a banda quer o pessoal da casa foi mais pain in the ass? Fua: essa é a pergunta mais complicada, já foram tantos Nuno: a malta lá de fora é mais prima donna que os portugueses? Fua: nem por sombras. os Black Lips foram complicados mas mais pelo final caótico (expulsos do porto rio), mas de resto o pessoal não tem grandes merdas Nuno: acerca do incidente com os black lips, que foi noticia na altura e bastante falado, o que se passou realmente? alguém andou ao pêro? Fua: não, muita intensidade rockeira ás vezes dá nisto. isso e o alto consumo de álcool. nada de muito grave Nuno: quem pediu desculpas a quem? Fua: ninguém pediu desculpas, apesar de haver uns quantos pedidos pendentes Sent at 6:22 PM on Wednesday Nuno: 2009 é o ano do gorila, tens algo a comentar? Fua: tenho saudades das chiclas gorila Nuno: também eu apesar de serem muito rijas. e grandes Fua: era por isso gostava delas, não eram tão imediatas e exigiam mais concentração e estímulo algo que falta imenso actualmente Nuno: sim, de facto cada vez menos há tempo e espaço para pensar enquanto individualidade. tens posição politica, costumas votar? Fua: posição politica tens sempre mesmo que digas que não. a abstenção é uma posição política a meu ver Nuno: sem entrar em detalhes legais qual é a tua opinião acerca do caso pirate bay. já agora gostaria de perguntar se estás familiarizado com os seus membros e, se sim, qual o teu favorito Fua: não estou familiarizado, a nível de downloads sou um menino Nuno: tens dinheiro para comprar todos os CDs que gostas, ou arranjam-te gravados? Fua: obviamente que não tenho din-
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heiro mas sempre que quero um álbum, o meu comparsa Nuno Dias aka Foice Humana orienta me o belo do link. prefiro deixar essa parte para pessoas bem creditadas Nuno: uma curiosidade que tenho: quando trazem as bandas cá têm facilidade em arranjar merchandise e CDs à borla? eles oferecem? Fua: umas sim, outras não, há uma série de condicionantes. se o concerto correu bem, se curtiram estar cá, se têm bons contratos com a editora Nuno: os earth arranjaram? Fua: não, fui o último promotor a chegar, mas ofereceram à amplificasom e ao becas do passos manuel Nuno: porreiro. agora só mais umas quantas perguntas nonsense e depois uma séria para terminar. Fua: estou a conseguir trabalhar e beber finos ao mesmo tempo. por isso tasse bem. não estou é a ter tempo para enrolar um cigarro Sent at 6:39 PM on Wednesday Nuno: religião. és católico, vais à missa? acreditas mais em Deus, Satanás ou Buda é que é? Fua: acredito na minha mãe. quer dizer, mesmo ela está sempre a enganar-me Nuno: gostas de futebol, vais à bola? Fua: gosto de futebol sim, mas não vou à bola Nuno: viste a agressão do pepe ontem? Fua: gostava de ter visto, uma agressão a dois adversários é algo de registo Nuno: vale a pena ver, deu 3 biqueiros a um gajo já caído no chão. para terminar: SPA vs mundo, quem vai ganhar? Fua: a SPA é tipo barata, nem uma explosão nuclear Nuno: belo final. obrigado pelo tempo Sent at 6:44 PM on Wednesday
loversandlollypops.com myspace.com/loversandlollypops istonaoeumafestaindie.blogspot.com
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O PEDRO RIOS RECOMENDA :
(Recomendações musicais de quem ganha a vida a ouvir a música dos outros)
Ducktails por Ducktails // Not Not Fun / 2009
Uma das imagens no primeiro longa duração dos Ducktails mostra uma palmeira de plástico. Conscientemente ou não, esta é uma perfeita metáfora do que Matt Mondanile, o senhor responsável pelo projecto, nos propõe: canções que emanam sol, praia e outras coisas quentes, sob o prisma de uma "produção" caseira, quase inexistente. Ducktails é, antes de mais, um disco escapista, de alguém que inventa sol, praia e outras coisas quentes a partir da sua casa, algures nuns subúrbios de Ridgewood, Nova Jérsia.
Guns Don't Kill People ...Lazers Do por Major Lazer // Downtown / 2009
Diplo e Switch, dois dos mais interessantes da música de dança filha do hip-hop, lançam-se num disco em que dancehall, reggae e pop descarado se misturam. Tem Santigold a debitar “I’ll make you vibrate like a Nokya” (e há mesmo o som de um telemóvel a vibrar) na frenética “Hold The Line”, o bebé auto-tune, sucesso do YouTube, em disputa com um toaster com sotaque jamaicano, reggae clássico de primeira água (“Can’t Stop Now”), dancehallabana-o-rabo em cima da linha de baixo de “Six Pack” dos Black Flag, lembranças das primeiras noites ébrias no bar da praia (“Keep it goin louder”). Fragmentado e confuso, como estes tempos, cumpre a função de disco de Verão. Se durar os meses de canícula já valeu a pena.
Seadrum/House of Sun por Boredoms // Warner Japao/Vice / 2004
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Imaginem uma onda interminável, em constante renovação, sem nunca fechar. Agora colem-lhe o som de uma bateria entre a anarquia free e a propulsão do krautrock, um pianista a percorrer o teclado inteiro de um piano, a voz de Yoshimi P-We à solta. Assim são os 23 minutos de “Seadrum”. O reverso da excitação: faz-se de tamburas aos círculos, com drones de guitarra eléctrica a engolir, de mansinha, a hipnose. O descanso ao sol no fim da tarde. Não exageramos nas metáforas balneares: partes do disco foram gravadas junto ao mar, outras debaixo de água.
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CENTRAO __________ JAVIER FABREGAS
flickr.com/photos/hi_sci_fi myspace.com/3vecesmaldito
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テ好ESTAQUES __________
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ARTESANATO MUSICAL HIGH-TECH Não criam bibelôs para enfeitar a sala lá de casa, mas o resultado “caótico” do processo criativo pode assemelhar-se a uma feira de ciência. Importada de Nova Iorque, a ideia das festas Handmade Music chegou ao Porto para ficar. É a lei de Lavoisier adaptada: na música, “nada se perde, tudo se transforma”. por Ana Maria Henriques
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Uma flauta transversal “ligada às máquinas” – que neste caso é um computador – através de fios coloridos e manejada por uma canadiana vestida de verde floral seria uma visão invulgar em qualquer sala de espectáculos da cidade do Porto, mas não na Casa da Música (CdM). A Digitópia - Plataforma para o Desenvolvimento de Comunidades de Criação Musical em Computador acolheu criadores de música que não se regem pelas tradicionais partituras, como Cléo PalacioQuintin, no Porto para participar na SMC 2009 – Sound and Music Computing Conference. A compositora – que viajou de Montreal – viveu na Holanda onde estudou e concebeu a ideia de “aumentar a potencialidade da flauta transversal convencional”, instrumento que tocava mas cujo resultado não a satisfazia “enquanto compositora e intérprete”. Influenciada pela música “electrónica acústica”, que “sempre ouviu”, Cléo decidiu alargar o conceito de um instrumento acústico de sopro através da criação de um interface que estabelece a ligação com o computador, graças à tecnologia midi. Se hoje a hyper-flute se destaca por materializar um conceito original, “há cerca de dez anos”, quando foi idealizada, a surpresa por um objecto tão inusitado “era enorme”. Na festa Handmade Music que ocupou o espaço da Digitópia (junto às bilheteiras da CdM), os aparelhos electrónicos que os criadores e performers manuseiam emitem sons que fogem às notas musicais. O computador de Graham, engenheiro norte-americano a viver em Barcelona, transforma-se num dos elementos da sua laptop orchestra enquanto os mais curiosos decidem experimentar o software e hardware que tomou de assalto a Digitópia. Brinquedos adaptados e toyboards que nos remetem para o imaginário musical infantil podem aqui ser transformados em instrumentos que, segundo Rui Penha, curador do espaço, produzem um “resultado sonoro um bocado caótico”. Apesar do “caos”, a apresentação individual de todos os participantes, com uma pequena introdução para cada aparelho ou instrumento, foi o ponto de partida para que público e criadores assumissem o mesmo
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espaço e interagissem sonoramente.
O AUTOR Peter Kirn, o autor das festas Handmade Music, descreve-as como uma fusão entre “performance, festa e feira de ciência” onde as pessoas se juntam para “descontrair e descobrir novos sons”. As noites transformam-se em “reuniões de criadores de novos instrumentos e de tecnologia musical”. A festa Handmade Music que aconteceu na Casa da Música foi, segundo Rui Penha, a “primeira fora de Nova Iorque”, em resposta ao desafio lançado por Peter Kirn para a internacionalização da iniciativa. Rui Penha adiantou que, “a partir de Novembro”, a Casa da Música vai acolher este tipo de festas “de dois em dois meses” e que, em Maio, “o convidado especial será o próprio autor do blogue CreateDigitalMusic.com, Peter Kirn” [na foto].
DR createdigitalmusic.com handmademusic.noisepages.com netnewmusic.ning.com/profile/Cleo PalacioQuintin idmil.org/projects/the_t-stick
Mas a noite na Casa da Música acabou por ser, sem dúvida, dos canadianos. Joseph Malloch, que também integrou a SMC 2009, foi, a par de Cléo e da hyper-flute, o criador mais original da festa Handmade Music. Cientista, Joseph dedica-se à investigação no laboratório de Input Devices and Music Interaction da McGill University, onde idealizou a criação apresentada na Digitópia. O que à partida parecia um simples e desinteressante stick, manuseado como se de um sabre se tratasse, revelou-se ser um interface com uma sensibilidade extrema ao toque humano. Esta espécie de tubo que “envolve um microfone gigante” capta todos os contactos, apertos, abanos e demais movimentos que se possam imaginar, “repercutindo-os em sons” que reflectem a intensidade e a localização do toque. Já foi utilizado em performances teatrais e de dança, conta Joseph, enquanto explica não ser a pessoa mais indicada para demonstrar todas as potencialidades do t-stick. “É defeito de cientista”, brinca: “Estou sempre a reparar em imperfeições e a pensar em formas de as corrigir”. O hardware está, nas palavras do canadiano, “ainda em desenvolvimento”, aberto a todos os interessados em experimentar. Enquanto Joseph procura mostrar aos mais curiosos da festa como produzir “sons sintéticos” no t-stick, aproveita para carregar no play do seu computador e deixar todos de boca aberta com vídeos de situações em que o instrumento foi utilizado, “algumas delas composições originais, se bem que muito do trabalho passa pela improvisação”, remata. No final da noite, em jeito de balanço, Rui Penha confessou-se “surpreendido e satisfeito” por ter conseguido reunir cerca de noventa pessoas na festa Handmade Music, principalmente pelo facto de esta ter atraído para a Digitópia “gente que, se calhar, de outra forma, iria olhar para o projecto como algo mais direccionado para amadores”. “Acho que tivemos aqui propostas que estão na crista da onda do que se faz no mundo nesta área”, conclui o também compositor.
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MEMóRIAS DO VERãO
Colaboradores da IGUAL contam episódios marcantes de Verões passados.
Venham todos ao Circo Carbinaly Por Luís Lago Quando era pequeno, parte das férias de Verão era sempre passada em Aboim das Choças, uma pequena aldeia na terra de “Deixa que te Leve”. A minha família tem lá uma casa decrépita, onde todos os anos as minhas tias e os seus amigos passam uma temporada. Como esta casa não tem televisão nem computador, a única coisa que me restava fazer era ler pela centésima vez o mesmo Almanaque do Professor Pardal, fazer batota ao peixinho, ir ao Café São Pedro ou passar os dias todos no rio Vez. Certo Verão, algures nos finais do milénio passado ou no início deste, algo trouxe mais vida à aldeia: o Circo Carbinaly. O nome parece, obviamente, uma imitação de Cardinali, o grande clã circense português, encabeçado pelo mítico Victor Hugo. Eu prefiro vê-lo, ou antes, relembrá-lo, como uma espécie de Wacky Packages, ou seja, uma paródia grotesca do Cardinali. Se bem me lembro, este circo era composto por pouco mais de quatro artistas multifacetados. A rapariga dos bilhetes era também acrobata, o MC era domador e palhaço e por aí fora.A memória falha-me quanto aos números apresentados. Lembro-me no entanto, de ser prometido uma espectacular acrobacia em que o MC/domador/palhaço/daredevil iria caminhar sobre vidro. Esse número seria o grand finale da estadia do circo na aldeia, tendo lugar apenas na véspera do espectáculo partir para outras terras. Essa partida, no entanto, era sempre adiada, numa tentativa de convencer os “serranos” a comprar novo bilhete para assistir ao espectacular número. Provavelmente resultava, porque o Circo, que tinha anunciado ficar apenas três dias nas Choças, acabou por ficar lá uma semana. Mas o que mais me marcou foi o número de palhaços. Sendo este um circo pobre, não havia dinheiro para contratar o palhaço rico, tendo os espectadores que se contentar com Jony, o palhaço pobre e zangado com a vida. O drama deste palhaço revelava-se na quantidade de palavrões empregues e nas críticas acertadas ao Governo de António Guterres, vigente na altura. Infelizmente não me recordo de nenhuma tirada em específico, para vos poder deleitar. Foi a primeira vez que saí deprimido do “Melhor Espectáculo do Mundo”. Ver aqueles animais mal tratados e todo o material a cair aos pedaços retirou-me a inocência ao mostrar a vida tal e qual como ela é nos bastidores do circo. Apesar de tanta miséria, o Carbinaly ainda anda por aí. Antes de escrever este artigo, pesquisei o seu nome e encontrei vários blogues e fóruns a manchar o seu nome. Eu, no entanto, gostaria de rever este espectáculo. Fiquei sempre curioso de como seria o grand finale e gostaria de saber o que Jony pensa deste novo governo socialista. Se alguém souber a agenda deste circo, por favor, informe-me.
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agosto 2009 Mar dos Açores Por Daniel Sylvester Era um polvo. Majestoso no seu elemento, flutuava pelas rochas cobertas de musgo. Eu encontrava-me deitado sobre uma toalha. O porto da Caloura, pois era aí que eu me encontrava, consistia numa simples barra de rochedo virada para o mar; no fim, existiam umas pequenas escadas que levava a outro patamar, no qual havia uma piscina para os catraios e mais algumas escadas que levavam directamente ao mar. O verdadeiro porto, de onde saíam os barcos dos pescadores que muitas vezes não regressavam a casa, ficava mesmo ao lado. O porto da Caloura era o meu ponto de contacto mais fácil com o mar, a uns meros cinco minutos de casa. A própria Caloura era um lugar a puxar para o deserto, composto principalmente por quintas e casa de Verão para ricaços. Ficava tudo longe da verdadeira aldeia onde fazíamos compras e onde eu tinha as minhas aulas da primária, um lugar pitorescamente conhecido como Água de Pau. Mas não era só por questões práticas que eu preferia o meu porto às numerosas praias que abundavam pela ilha de S. Miguel. Nas praias era difícil encontrar lugar, com cada pedaço de areia ocupado por alguém a trabalhar o seu bronzeado. E a experiência de nadar a partir de uma praia é radicalmente diferente de nadar a partir de um porto. No meu sítio do costume, era preciso apenas descer alguns degraus para entrar no mar, no mar verdadeiro e inteiro – não existia o custoso caminho de ir nadando por aquele território em que os pés ainda tocam a areia. O salto directo da terra para o mar permitia também evitar os factores mais perigosos da natação de praia – aquele esforço de nadar contra a corrente quando já se está quase em terra firme, e as ondas gigantescas. O porto era mais seguro e, na minha cabeça de criança, mais autêntico – toda a gente sabia que quem ia à praia passava o seu tempo quase todo a tostar numa toalha, e que muita gente nem entrava na água. Algures mais tarde, não sei bem quando, descobri também que não gosto de areia. Mas estava a falar do polvo. Deitado ou sentado na dura rocha do porto, era possível observar de perto uma fauna marítima surpreendentemente diversa. Havia estrelas-do-mar, caranguejos, peixes de toda a espécie. E mesmo a própria rocha fornecia lugares para explorar o reino animal: havia pequenas poças de água salgada dentro das quais se encontravam minúsculos crustáceos e conchas marinhas. De notar que não era só eu que tinha uma relação estreita com as criaturas aquáticas. Um dos nossos poucos vizinhos era John, um britânico de meia-idade que trabalhava como instrutor de mergulho num hotel próximo. Ruivo, barbudo e munido do seu cachimbo, John era quase uma paródia de um inglês e, se apenas a sua barba tivesse sido negra e não ruiva, podê-lo-ia ter confundido com o Capitão Haddock. Como a maioria dos expatriados residentes nos Açores, John limitava os seus conhecimentos de português ao mais essencial possível e , certa vez, contou-nos em inglês que tinha adoptado uma moreia. Quem já viu estes seres deitados em gelo num supermercado sabe que não têm um aspecto propriamente querido e, de facto, entre os rapazes da aldeia a moreia era quase tão temida como o lendário cagarro (a ave indígena dos Açores, e a que supostamente um marujo tomou por açor, dando assim nome ao ilhéu; possui um grito que devia ser aproveitado pelos gabinetes de efeitos sonoros de Hollywood, e um amigo confidenciou-me numa certa noite que as aves “chupam o sangue dos humanos”) e a infame comadrinha (um pequeno mamífero, vagamente semelhante a uma doninha, que numa ocorrência trágica chacinou alguns gatinhos bebés que tínhamos no quintal). Não foi, portanto, grande surpresa quando ouvimos, algumas semanas depois, que o peixe tinha traído o seu amigo e mordido o John no braço. O mar era o meu elemento. O mar era uma diversão eterna e enorme. E ao mesmo tempo tinha o seu não sei quê de assustador – conhecia os dias em que toda a plataforma de baixo estava submergida pela água, as mudanças súbitas de humor das marés, os ocasionais casos de morte por afogamento. Mais do que isso, era um adepto forte da mitologia grega, e talvez terá sido a vida numa ilha que me atraiu tão fortemente para a saga de Ulisses. Por vezes, para me assustar a mim mesmo, imaginava os enormes e hediondos monstros marinhos que deviam residir algures no fundo do oceano, e a ilusão da sua existência dava uma pitada de perigo ao divertimento na água. E era assim que passava o Verão.
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ATÉ À P
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À PRÓXIMA VEZ
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Rita Luís
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tens a vida para viver e tantos sonhos para sonhar