IGUAL #07 - Junho 2010

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POPCULT+WEB2.0

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA JUNHO 2010

#07


FOTOGRAFIAS DE CAPA E CONTR-CAPA POR

Lukasz Wierzbowski

Wroclaw, Pol贸nia



EDITORIAL

Olá, como vão vocês? Que calorzão está lá fora. Este bom tempo torna agridoce a tarefa de andar de autocarro. Por um lado, o suor alheio e as janelas fechadas. Por outro, as miúdas mais despidas que vestidas. E já repararam como o calor faz as coisas crescer? Está nos livros. Para além do abençoado clima, também podem conversar com o vizinho sobre tudo de bom que este mês vos trazemos. E são muitas coisas.

Para começar, temos editoria nova. O Luís Lago quis e sonhou, nasceu o Leviatron. Espaço onde a política e a tecnologia andam de mãos dadas (e às vezes enroladas no sofá dos pais com a indústria militar). Nota-se que lemos a ‘Wired’? O Leviatron inaugura a falar sobre o Cybersin, projecto tecno-socialista de Salvador Allende que começa agora a ter sucessores espirituais numa Casa Branca empenhada, mais do que nunca, em estar próxima e acessível dos cidadãos. O resto são regressos. Regressa a editoria Culto (a alta velocidade e no carro oficial do italo disco), a crónica do Tiago Teixeira, o Especialista (bronzeado e de guitarra em punho), o Pedro Rios Recomenda (agora que é famoso), As Minhas Coisas Preferidas (melhor do que nunca?) e até regressa a Amanda Ribeiro, que não víamos desde o #00, em entrevista à jovem realizadora Cristiana Miranda. No Centrão está o Carl W. Heindl, fotógrafo canadiano talentosíssimo que julguei ser inacessível e que, para minha surpresa, é na verdade um tipo bem porreiro que gosta de partilhar o seu dom. Além do portefólio, são dele as fotografias na Ficha Técnica e no Até À Próxima. A capa e contra-capa são assinadas pelo polaco Lukasz Wierzbowski. É folhear com vigor e gosto redobrado. Até breve,

Miguel Carvalho

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Carl W. Heindl

FICHA TÉCNICA Director Vitalício & Editor: Miguel Carvalho Top-Ajudante: Ana Maria Henriques Colaboradores: Amanda Ribeiro, Daniel Sylvester, Francisco Dias, Luís Lago, Pedro Rios, Tiago Teixeira, Carl W. Heindl Capa e Contra-Capa: Lukasz Wierzbowski Conteúdo: todos os textos, fotografias e ilustrações são da autoria de Miguel Carvalho excepto se creditados

Paginação & Design: Miguel Carvalho & Sofia de Eça Contacto: migueldeazevedocarvalho@gmail.com Propriedade/Edição: Eufaçooquequero PRESS Tiragem: só para os amigos/online Periodicidade: errática (distribuição gratuita)

Site: http://issuu.com/miguelc

Disclaimer:

Esta revista é um trabalho académico. As imagens e fotografias que não são da autoria do Director Vitalício, além de estarem devidamente creditadas, estão aqui presentes sem qualquer fim lucrativo e são contempladas pelo uso justo, ou seja, de total boa fé no contexto académico/não-lucrativo inerente à IGUAL.


Chris Page

ÍNDICE

entrevista:

Cristiana Miranda_40 o especialista:

Alan Taylor_12

coisas preferidas_16

as minhas

Culto: O carro de centrão: Carl W.

Moroder_50

Heindl_24

Pedro Rios

Recomenda_14

Leviatron: Crónica: Tiago

Cybersin_20

Teixeira_10


Jason Adam Baker

A NEWSLETTER DO MIGUEL . TUMBLR . COM

ANEWSLETTERDOMIGUEL.TUMBLR.COM


COLABORADORES

Amanda Ribeiro Vive em Miramar com a sua gata Sushi. Costumava ser obcecada com cart onde pudesse enfiar a cabeça e tirar uma foto. Uma vez viajou para Barce e perdeu um exame na faculdade. É tia vezes seis. Gostava que todos os d fossem dia de ouvir música sem headphones no trabalho.

Vive ves as

Daniel Sylvester Nasceu em Hamburgo e cedo causou polémica ao dizer que era tão conhecido como os Beatles. Tem dois gatos e é frequentemente gozado no círculo de amigos pelas posições humanistas e razoáveis que teima em defender. Se fosse ele a mandar o Presidente do Mundo era Sonic, o ouriço radical.

Francisco Dias Nascido no Porto, passou a infância entre o Casão Militar e a montra da Brinca Brincalhão no C.C. Brasília. Nubca se refez do fecho da Roma Megastore na Baixa. Recorda com carinho o entusiasmo com que participou pela primeira vez numa rede social. O seu lema de vida é “tem pai que é cego”


tões elona dias

Pedro Rios e na Vergada, onde se pavoneia ao volante do seu citadino azul. Quando ste de cabedal as pessoas tendem a dar-lhe razão. No Twitter, já são mais s pessoas que o seguem do que as seguidas. Já foi chefe de quase toda a redacção desta revista e até tocou em bandas. Gosta de listas.

Luís Lago Nasceu numa vila remota do Minho onde passou a infância. Angustiado pelos amigos dispensáveis, veio estudar para o Porto. As suas expressões preferidas são “toma!”, “e tu, e tu?”, “a tua prima!” e “és?”. Gosta de admitir que não percebe nada de música. É famosa a sua imunidade ao frio.

Tiago Teixeira Tem mais alcunhas do que apelidos e um cabelo lendário acima do Mondego. Sabe tudo e conhece toda a gente (mesmo). Morre de saudades dos seus anos de liceu. Vive obcecado com Pais Natal, gangsters e uma frase de Descartes. Não teme o ridículo: em casa, na rua, no trabalho. É filho único.


CRÓNICA

Economias de Palha por Tiago Teixeira

E quem bate palmas é Hayekiano fiscalista com influências Friedmanistas. Em princípios de 2009, o Wall-Street Journal, o Financial Times, meio mundo académico e quase todos os gestores de grandes empresas à beira da falência gritaram “somos todos Keynesianos”. Um ano depois, os americanos criaram um mecanismo inovador para empurrar Keynes directamente de Wall-Street para as ruas da amargura. No ano passado, quando a crise chegou à economia real, os capitalistas neo-liberais, que antes fugiriam do dinheiro estatal, bebiam desse poço sem fundo o mais que podiam. Americanos e europeus estavam unidos na solução global para a crise: uma gigantesca injecção de capital para dinamizar as economias nacionais via criação de emprego e consequente aumento de consumo – uma solução preconizada por Keynes e já comprovada no fim da 2.ª Guerra Mundial. Passados os fervorosamente capitalistas anos 80 e 90, Keynes – o pai da Macroeconomia moderna – era visto como salvador da pior crise financeira de sempre. Os governos limparam o pó aos livros de Macroeconomia e accionaram os mecanismos certos (é discutível a aplicação particular) impedindo o contágio na economia real e provocando uma espantosa recuperação nas praças financeiras mundiais. O fim de 2009 assinalava o fim da crise e 2010 deveria ser o ano da recuperação financeira, o ano de início das políticas públicas que Keynes defendera para estimular a economia. Keynes estava feliz. Por momentos parecia que a ordem global iria mudar e que a regulação iria imperar sobre a loucura monetária que se fez sentir no fim dos anos 90. As coisas tinham de mudar ou corríamos o risco de cair exactamente no mesmo erro - sim, outra vez. Mas numa altura em que se estreia nas salas de cinema o regresso de Gordon Gecko, os americanos sentiram a curiosa ganância financeira que se julgava do passado. Se as bolsas estavam too-hot-to-touch com as recentes super-valorizações do fim de 2009, os lucros empresarias em baixo devido à crise de consumo e os bónus salariais sob pesado escrutínio, qual era a solução para a sede do verde? Apostar na dívida pública, ganhar com a bolha especulativa, beber da fonte estatal e, com sorte, criar na opinião pública o desinteresse no intervencionismo estatal na economia! Solução mais óbvia existia: em tempo de vacas gordas estatais, os investidores perceberam que os governos iriam ter que oferecer muito mais juros se realmente quisessem vender obrigações da sua dívida pública. Para concretizar o plano só precisavam de encontrar duas coisas: um “bode-especulatório” e um mecanismo que despoletasse o pânico global sobre os orçamentos públicos. Infelizmente, a Europa tinha uma desvantagem macroeconómica para com os EUA – o Euro, que na altura estava em força contra o Dólar, e o seu consequente federalismo monetário, impede uma abordagem fiscal personalizada à crise por país. Posto isto, os investidores americanos esqueceram a sua dívida orçamental e procuraram países na zona Euro com problemas orçamentais onde pudessem investir o seu dinheiro em CDSs da dívida pública (uma espécie de seguros da dívida). Curiosamente encontraram os STUPID (sigla em inglês para Espanha, Turquia, Reino Unido, Portugal, Itália e Dubai) e depois os PIGS (idem para Portugal, Itália, Grécia e Espanha). Faltava para accionar os alarmes um mecanismo oficial que pudesse gerar preocupação mediática em torno da dívida. Só foi preciso ir até às manchetes de 2008 sobre a duvidosa avaliação de activos bancários feita pelas agências de rating. Estes organismos semi-oficiosos, que colam uma nota ao risco de um activo financeiro e que já cobriam há anos a dívida pública dos países europeus, viram nesta potencial bolha especulativa uma hipótese de lucrarem via serviços de avaliação individual e de imporem a sua força numa altura em que a sua credibilidade estava doente - tudo com o argumento de não quererem repetir o erro de uma má avaliação de activos. Assim, a Fitch, a Moody’s e a S&P começaram a alimentar o mercado com informação destinada a gerar o pânico para provocarem a subida dos CDSs e dos juros da dívida pública – antes da eventual descida de rating.

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Daniel Lobo

Em quatro anos vimos o mundo deixar passar a oportunidade de uma Nova Ordem Económica Mundial

Na equação [ (Dívida Pública descontrolada) + (Mercado de CDS em forte alta) + (Dívida Pública com pouca procura aos juros normais) ] x PIGS a única solução possível era uma hipérbole financeira baseada no receio de falência de países, inúmeras poupanças e de uma grande parte da força motora da zona Euro. Esta bola de neve gerou tamanha instabilidade bolsista no mercado das acções que fez com que os mais ingénuos duvidassem do intervencionismo keynesiano e aumentar o preço do dinheiro quando este deveria ter um acompanhamento de controlo da inflação. Agora temos uma guerra entre a frente unida dos investidores dos EUA – que atacam o federalismo europeu via despesas exageradas da intervenção keynesiana com base na inflação incontrolável de Friedman – contra os debilitados estados europeus, que utilizam a demagogia política e os planos de austeridade demasiado agressivos para as suas estruturas sociais enquanto deveriam estar a lutar pelo distanciamento de uma ordem económica cada vez mais diferenciada da americana. Em quatro anos vimos o mundo deixar passar a oportunidade de uma Nova Ordem Económica mundial. Volta o gira-gira do dinheiro sobre uma nova máscara de sustentabilidade mundial. Quem se ri por último, pelos vistos, é a claque do Mercado Livre S.A..


O ESPECIALISTA: Alan Taylor por Daniel Sylvester

se ouvires uma faixa e curtires podes procurar mais do mesmo artista Todos os meses, a IGUAL consulta um perito acerca de um dos cantos menos conhecidos do universo pop-cultural, a fim de obter esclarecimentos e elucidações. Este mês, Alan Taylor, co-director da revista “Pipeline”, fala sobre o Surf Rock instrumental. No início dos anos 60, começou a surgir entre os jovens americanos, sobretudo na Costa Oeste, uma vontade de criar uma banda sonora para o que se estava a tornar num dos passatempos mais populares - o surf. Com um estatuto quase único na história da música popular (não se encontra facilmente outro sub-género tão estritamente ligado a um desporto), o surf continua a ter um seguimento de culto entre fãs e coleccionadores, principalmente aqueles que se especializam na música instrumental dos anos 60.

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Alan Taylor edita, juntamente com Dave Burke, a fanzine britânica “Pipeline”, que vai buscar o nome a um clássico dos Chantays. E clarifica desde já uma questão: êxitos como “Surfin’ U.S.A.” dos Beach Boys ou “Surf City”de Jan & Dean, apesar de cronológica e tematicamente ligados ao Surf Rock, não se inserem no estilo de música instrumental ao qual a revista se dedica. “São estilos diferentes, a música surf é instrumental”, garante o entusiasta. E que mais? “A música surf não é mais fácil de definir do que qualquer outro estilo de música popular. Os exemplos mais óbvios ocorrem quando o título de uma faixa é relacionado com surf e o som do disco é típico do estilo, isto é, tem guitarras com efeito reverb a dar o tom para um pequeno grupo que inclui baixo e bateria, por vezes saxofone e piano. Mas todas as gravações que exibem essa sonoridade são consideradas música surf, mesmo que o título não esteja relacionado com o assunto. E há raras ocasiões em que uma canção com um título ligado ao surf, mas que não tem o som que eu descrevi, é classificada como música surf porque evoca o espírito da coisa”, explica o Especialista.

Taylor já era “fã de instrumentais de guitarra” quando, em 1963, um amigo o introduziu a dois LPs que o levariam à sua paixão pela música surf: a edição britânica de “Play” dos Surfaris e “Pipeline” dos Chantays - “continuam a estar entre os meus álbuns favoritos de sempre, em qualquer estilo de música”. Mas hoje em dia não é preciso ser coleccionador de vinil para apanhar umas ondas. Quando lhe pedimos que nos desse uma boa introdução ao estilo, Taylor remeteu a resposta para duas compilações organizadas pelo próprio através da Ace Records: “The Birth Of Surf”, volumes um e dois. “Todos os maiores artistas de Surf dos anos 60 estão representados nesses dois CDs, portanto se ouvires uma faixa e curtires podes procurar mais do mesmo artista”, recomenda, e a verdade é que, de Dick Dale até aos Surfaris, todos os grandes nomes da música Surf têm hoje em dia edições em CD.



Pedro Rios RECOMENDA

Tiago Guillul “V” (Flor Caveira, 2010) Há meio mundo que não percebe Tiago Guillul e out precisa: isto são só canções rock cantadas em portug como há muito não havia no cancioneiro português. alegremente inofensivo, “Nabucodonosor” põe Rui R e Avinhão” e “Nem Um Só Cabelo Será Perdido” (aq pura das cantigas cristãs, mas a estrela da companhi tropicais com uma espécie de rap e um slogan que d sabe a 93”).

Magic Lantern “Platoon” (Not Not Fun, 2010) Cameron Stallone (melhor nome de sempre?) anda muito activo: para além dos discos enquanto Sun Araw, participou nos últimos álbuns dos Pocahaunted e dos Magic Lantern. Tal como nos Pocahaunted, Stallone deixa a sua marca de água nas jams dos Lantern. Está aqui a psicadelia wah wah, a mesma capacidade para meter a funkalhada ao serviço da trip. “On the dime” é particularmente brilhante, com o baixo a fornecer o groove e a rede para que as guitarras voem para onde lhes apetece. Mais sossegada, “Moon Lagoon Platoon” recria aquelas malhas que os rockers dos anos 60 faziam depois de lerem Siddhartha ou irem à Índia. Noutros temas, tanto wah wah e órgão cansam, o que não impede “Platoon” de ser um belo disco.

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Ducktails “Mirror Image” (SHDWPLY, 2010) É só um sete polegadas, mas, como Matt Mondanile, o moço Ducktails, é um amigo da IGUAL (leram a entrevista no número de Março?), e, resumidamente, o maior, vale a pena atentarmos nestas duas canções. Em “Apple Walk”, o lado A, uma guitarra eléctrica a emitir raios de sol quando escrevo coisas destas percebo a frase atribuída a Frank Zappa: escrever sobre música é como dançar sobre arquitectura -, a voz do Matt, indecifrável e uma batida que parece saída de um Casio deixam-se engolir pela névoa – música para aqueles momentos em que não estás nem a dormir, nem acordado. “Mirror Image”, o lado B, é das melhores coisas que o Matt já fez: duas melodias de teclados a treparem pela batida acima, a lembrar kosmische musik feita por miúdos de 10 anos no teclado do sótão. Música simples, sem truques, radiante, que abre o apetite para próximos discos

tro meio que não quer perceber. Nem guês, mas com uma lata e um sentido lúdico . “Agora” tem power chords e um órgão Reininho a dançar algures em África, “Roma quele samplezinho é ouro) têm aquela beleza ia é “A Febre em 1993” – festa de loops define o espírito do tempo (“isto é 2010 e


As Minhas Coisas Preferidas ESTAÇÕES DE COMBOIO por Tiago Teixeira

Portugal foi vítima de anos de massacre cultural: a padronização como oposto da inovação dispendiosa era uma coqueluche de Salazar e se há área em que esta é notória é na arquitectura. A reutilização de fórmulas e plantas nas escolas primárias e secundárias de Norte a Sul é uma vista tão comum quanto a reutilização das tipificadas Casas do Povo do litoral ao interior. Este look tão distinto tem a capacidade de se tornar deslumbrante quando inserido nos vales e montes, como nos demonstra o livro “Duas Linhas”. E é exactamente dentro deste espírito que as estações de comboio na nossa rede de caminhos-de-ferro se realçam: por serem verdadeiros tesouros perdidos que nos fazem viajar para épocas douradas. Pareço mais um back-packer do Verão de 2007 com a sua câmara fotográfica perdido entre pousadas? Isto foi o que eu vi. 10. Aveiro Aveiro pode não ser uma cidade perdida e a sua estação está longe de ser desconhecida, mas é por isso que figura em décimo lugar, como presença bónus. A estação de Aveiro, apesar de ser um fraco exemplo de fusão entre o moderno e o antigo, é a referência no que toca à preservação das antigas estações de comboios. Paragem obrigatória para quem vai para o Norte e completamente justificada pelo detalhe dos seus inúmeros azulejos, especialmente os interioress.

8. Fronteira Lá no interior do Alto Alentejo, existe uma pequena terra em que, numa imensidão de campos de cultivo de batata, se ouvem histórias contadas pelos amigos do Café Central sobre os tempos em que a estação de comboio era um sem-fim de vagões a transportar os minérios de tão longe quanto Aljustrel para lá da fronteira espanhola. Hoje, a estação é um deserto de calmaria que os locais continuam a tratar como se esperassem pela chegada da carreira, mais dia, menos dia.

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DR

Vila Franca de Xira

9. Rossio Localizada no coração de Lisboa, a estação do Rossio é muitas vezes confundida com um palácio ministerial pelos turistas por não ser uma das grandes estações de longo-curso da CP. Alguns portugueses nem lhe ligam. Seja de noite, pela iluminação estilizada, ou de dia, pela curvilínea limpidez das suas paredes, o Rossio é talvez o melhor local para acabar uma viagem na sombra do seu mármore refrescante.

7. Duas Igrejas Bem para lá dos montes do Norte, a estação terminal da Linha do Sabor mostra o que mais de três décadas de abandono podem fazer a uma das mais peculiares estruturas arquitectónicas da nossa ferrovia. Completa com a placa giratória e os suportes da antiga torre de abastecimento, Duas Igrejas serviu como ponto de abastecimento do concelho de Miranda do Douro numa altura em que na localidade viviam muito mais do que 800 pessoas. Ficam as memórias de outros tempos nas inscrições a carvão na cal deste pequeno palacete perdido no meio da beleza local.


Tua DR

4. Vila

Esta é praia. uma m impec

6. Mirandela É fácil imaginar os tempos em que os comboios de varandas eram os reis desta localidade. Mirandela, uma localidade demasiado relevante para não ter comboio, foi em tempos a estação inicial da afamada (e igualmente infame) Linha do Tua. Talvez por isso, e pela beleza da estação em jeito de hotel colonialista, foi-se perdendo numa teia de burocracias e interesses económicos. Hoje, apesar dos vidros estarem partidos, das palmeiras já não serem tantas e das ervas crescerem no meio da via, é sempre impressionante dar uma espreitada ao mais belo edifício sem azulejos de Mirandela.

2. Cas DR

Duas Igrejas

Nos pr portas Vide, c repres termin solitár desap longe, lugar n


5. Mondim de Basto Na confusão de vales e montes do Norte, mesmo ao lado do Parque Natural da Serra do Alvão, a antiga estação de Mondim de Basto tem uma sala de espera que nos faz querer perder o comboio. Por entre paredes banhadas por uma colecção dos mais lindos azulejos representativos dos costumes da região quase somos hipnotizados pela brisa vinda de uma linda paisagem de infindáveis montes pintados pela marca da agricultura. Apesar dos carris já terem sido retirados, dá mesmo vontade de descobrir que lindos locais estes comboios conheceram.

a Franca de Xira

é uma daquelas estações que quase nos transporta para uma época em que o biquini não era o rei da Este palácio, creme como a pele, lembra-nos as mansões seculares de Cascais ou Miramar e é quase mostra de tudo aquilo que a CP e Refer nos podem oferecer: desde jardins deslumbrantes até um cável postal de boas-vindas arquitectónico para qualquer visitante.

3. Tua A mítica estação da mais amaldiçoada linha de todo o Portugal é, talvez, tão icónica quanto bela. Misturando a clássica tipografia paisagística do Douro Interior com elementos da aridez e simplicidade arquitectónica dos celeiros e armazéns do Alentejo, a estação do Tua foi perdendo poder ao longo dos anos e das polémicas, mas mantendo sempre o seu café com fotografias das paisagens que cada vez menos gente podia ver. De ponto de abastecimento até estação terminal e, finalmente, simples relíquia da beleza natural e humana de Portugal, a estação do Tua parece condenada a ser inundada e esquecida.

stelo de Vide

rincípios do Estado Novo a ferrovia reinava em Portugal e as estações de comboio eram verdadeiras s de boas-vindas para as localidades. No coração do Alentejo fica a lindíssima vila de Castelo de cujos monumentos e marcos locais, desde o pelouro até ao castelo, estão todos magnificamente sentados nos azulejos de uma estação que já nem fecha de tão esquecida que está. Hoje, a estação nal de uma das mais lindas linhas de Portugal ainda em actividade é o culminar de uma experiência ria, de pontual conversa com o pica que conta como os chefes de estação foram lentamente parecendo por aquelas bandas. Passar pelo Castelo de Almourol numa mono-carruagem até chegar, de , a vista do Castelo de Vide é quase tão fantástico como imaginar a estação por alturas do seu segundo no Concurso de Estações Floridas do Estado Novo.

1. Abreiro Seria possível não falar da mais fotografada estação da Linha do Tua? Este pequeno apeadeiro, que servia de ponte com as comunidades agrícolas locais, foi gradualmente sendo reconhecido pela sua beleza. Miradouro obrigatório na Linha do Tua, a estação de Abreiro é a representação derradeira do que os caminhos-de-ferro nos podem oferecer em Portugal. Literalmente rodeada por verdes vales, um imponente lago, duas pontes de puro aço e sinuosos caminhos de terra batida, esta estação é um pequeno paraíso e será das primeiras a ser tomada pela água caso se decida acabar verdadeiramente com a Linha do Tua, motivo de várias lendas e estórias de fim trágico.


Joshua Davis

Leviatron

CYBERSIN O governo 2.0 que poderia ter sido por LuĂ­s Lago

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sua génese começam agora a ser aplicadas na política. No que toca à tecnologia envolvida, o Cybersyn não seria nada de inovador para a altura. José Legatheaux, do Departamento de Informática da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, disse-me que o sistema assentava simplesmente numa rede de telexes. “A rede era simplesmente uma enorme estrela com o centro no Palácio do Governo, numa sala onde centenas de telexes recebiam a informação transmitida das fábricas e outros organismos locais”, explica, “nessa época já existiam sistemas bancários e de gestão de reservas de lugares de avião que eram mais avançados tecnicamente e mais automatizados”. No entanto, os conceitos do Cybersyn eram, para altura, revolucionários de muitas outras formas.

No início dos anos 70, o inglês Simon Beer criou um sistema de medição de opinião pública usando apenas partes de rádio e placas de cartão. Com esta invenção, tudo o que as pessoas precisariam de fazer para que a sua opinião contasse era carregar num botão e dizer se concordavam ou não com determinada opinião. Pela mesma altura, Stafford Beer, o seu pai, trabalhava ao serviço da Stafford pensava nos sistemas administração Allende, no Chile, criados pelo homem como sendo a criar um sistema semelhante, semelhantes aos da biologia, mas em grande escala. Tratavadaí imaginar a sociedade como se do Cybersyn, uma espécie de um sistema nervoso. Ideias “sistema nervoso” da sociedade semelhantes são agora estudadas chilena. Todos os cidadãos e por aquilo a que se chama de todas as infra-estruturas do computação evolucionária: país estariam ligados em rede, a adaptação de mecanismos permitindo uma comunicação e princípios encontrados na igual entre todos os pontos da biologia à resolução de problemas sociedade. Tratando-se de um de elevada complexidade que regime marxista que queria, de escapam aos métodos ditos certa forma, distanciar-se do convencionais. Ernesto Costa, extremismo soviético, Allende do Centro de Informática e pretendia usar o Cybersyn Sistemas da Universidade de para gerir os vários sectores da Coimbra (CISUC), explica-me economia nacionalizados, através que os cientistas desta aérea de um sistema centralizado estudam principalmente “o que recolhia a informação de comportamento dos animais cada fábrica e geria a utilização sociais, como formigas ou aves; das matérias primas. Estes as espécies, e o modo como dados, que demorariam meses evoluem de acordo com a a recolher mesmo em países selecção natural darwiniana; e mais desenvolvidos, seriam os sistemas biológicos, como o agrupados de forma instantânea sistema imunitário humano”. através desta rede. Infelizmente o Nesta área, Portugal está bastante sonho desta “Internet Socialista” avançado: o CISUC já arrecadou desapareceu após o golpe militar cinco prémios internacionais pelos que colocou Pinochet no poder. melhores trabalhos científicos No entanto, muitas das ideias na da computação evolucionária.

Adam Greenfield, director do design de interface da Nokia e autor do livro “Everyware”, propõe agora um sistema semelhante ao do de Beer para resolver problemas estruturais dos municípios. Num artigo no seu blog - speedbird.wordpress. com -, Greenfield não compara essa hipotética rede a um sistema nervoso, mas a um “software em desenvolvimento activo”, ou seja, permanentemente em beta testing. Nos vários cantos da cidade existiriam interfaces que permitiriam aos cidadãos informar directamente as autoridades municipais de problemas como avarias de semáforos ou atrasos nos transportes públicos, de forma a que estes problemas pudessem ser corrigidos o mais depressa possível. Mas a comunicação seria bilateral: não só os problemas seriam comunicados pelos cidadãos, como também estes receberiam a informação de que algo estava errado. Para alguém que, como eu, vive numa cidade onde os botões dos semáforos não funcionam, tudo isto parece completamente utópico, mas vale a pena sonhar. Claro que, no caso de vir a acontecer, já se prevê outro perigo, o mesmo que se encontra por todos os cantos da web social: trolls. O próprio Greenfield concede: “o interface terá que ser ponderado e cuidadosamente desenhado tendo em conta os adolescentes aborrecidos, bebâdos e miúdos de quarto anos”.


Tim O’Reilly, da O’Reilly Media, vai um pouco mais longe e tenta evangelizar a ideia do governo Thomas Paine descrevia o governo não como um sistema operativo como um “centro comum” onde ou nervoso, mas como uma todos os raios da circunferência plataforma, uma espécie de social se uniam. Esse centro era AppStore em que o governo composto pelos representantes do fornece informação em bruto povo, pois a democracia directa que será utilizada na criação de ateniense, onde cada cidadão aplicações por privados. Isto se representava a si próprio, era vai de encontro à agenda de impraticável em vastas extensões Open Government de Obama, de território. Um sistema como o que prometeu trazer mais Cybersyn ou qualquer outra ideia transparência e participação de Gov 2.0 levada a um extremo ao processo político. Um dos poderá devolver tanto poder aos primeiros passos, dado o ano cidadãos que já não fará sentido passado, foi o lançamento do existirem representantes. Com a site Data.gov que agrega a ajuda da tecnologia, votar num informação de várias agências referendo poderá ser, para o bem governamentais. Com base ou para o mal, tão fácil como fazer nesses dados já têm sido criadas thumbs up ou thumbs down nos aplicações para iPhones e para comentários do YouTube. Os mais o Facebook que permitem a pequenos problemas estruturais consulta em tempo real de, por poderão ser detectados e exemplo, a taxa de criminalidade resolvidos de uma forma célere e ou alvarás de construção de simples. determinada rua. A política poderá deixar de A Administração Obama tem existir tal como a conhecemos. dado outros pequenos passos na Deixaríamos de ver o governo participação activa dos cidadãos como um complexo sistema no processo legislativo como, por burocrático para passar a vê-lo exemplo, permitir que propostas como algo mais simples, próximo de lei sejam comentadas antes e relevante para cada um de nós. de serem submetidas a votos Contudo, não seria tão cor-deno Congresso. O’Reilly tem rosa quanto parece. Para além tentado aproximar membros dos trolls, existe o problema de, da administração, como o Chief quanto mais gente participe, Information Officer Vivek Kundra mais provável será uma ideia e o Chief Technologu Officer errada ser transformada em lei Aneesh Chopra, a hackers e por uma maioria mal informada. programadores de forma a, todos Por outro lado, existem várias juntos, encontrarem mais ideias ideias excelentes que não são para utilizar a tecnologia como ainda aproveitadas pelos nossos forma de aproximar os cidadãos representantes políticos que do Estado. poderiam ser aproveitadas ao serem propostas por cidadãos privados. Ninguém sabe qual o impacto que o Cybersyn teria tido na política, mas é possível imaginar que teria sido uma cobaia perfeita para as plataformas de Gov 2.0 que só agora, quase 40 anos depois, começam a dar os primeiros passos.


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Carl W... Heindl

flickr.com/people/carl-w-heindl

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Entrevista

CRI 40


ISTIANA MIRANDA

Chris Page


A cigana que quis ser cineasta Ainda não tem 30 anos e já filmou um mini-documentário com Dita Von Teese, fez um vídeoclip para a Dido na Nazaré, trabalhou com a Johnny Walker, filmou o campeão do mundo de Fórmula 1 e fez chover azeitonas por todo o país. Cristiana Miranda é realizadora no mundo inteiro, mas já foi apenas uma estudante lisboeta de 18 anos que sentiu que o país não chegava para todos os sonhos que tinha. Estudou na Universidade de Westminster, onde fez um B.A. em Media Studies, e correu atrás das oportunidades que Londres oferecia. Para trás ficou o espírito comodista que a fez emigrar. Cristiana Miranda, 27 anos, em conversa telefónica com Amanda Ribeiro. IGUAL - Quando fez o curso estava à espera de seguir cinema? CRISTIANA MIRANDA - Uma das razões pelas quais eu me senti atraída em ir para Londres é que os cursos não são tão definidos. Há uma abertura maior para a pessoa experimentar diferentes módulos. Então a pessoa pode fazer a base da Comunicação Social e depois integrar aspectos completamente diferentes, mas que podem estar relacionados: a literatura, a fotografia e, lá está, também o cinema. Quando fui fazer o curso não sabia ao certo o que queria fazer. Gostava mais de audiovisuais, tinha um grande interesse talvez em trabalhar em televisão e já tinha uma paixão por clips de música. No início estava até mais virada para jornalismo, mas rapidamente percebi que não era por ali e quando fiz a minha primeira aula prática, mais virada e orientada para realização, ficou rapidamente esta vontade de realizar. E

orientei os meus estudos nesse sentido, calmamente fui nessa direcção. Portanto, eu não fiz um curso de cinema nem nada especificamente virado nesse sentido. Mas não deixa de ser curioso como é que a Cristiana, aos 18 anos, tinha a convicção de dizer não aos cursos em Portugal. Estanques. “Eu quero algo mais”. Como é que teve essa informação? Penso que parte da minha educação em casa. Sempre tive uns pais que me deram bastante liberdade, sempre me incentivaram a procurar o meu caminho. Nos Verões sempre viajámos muito pela Europa de carro. Tive uma abertura muito grande a experiências e nunca tive medo de conhecer pessoas e culturas diferentes e, para isso, ajudou muito esta vontade meio cigana dos meus pais de viajar. Mas também acho

que partiu um bocado por um género de estagnação e de falta de entusiasmo que eu sentia à minha volta até aos 18 anos. A maior parte dos meus amigos acho que seguiram um bocado o percurso profissional que não era imposto, nem ditado, mas era um bocado a coisa mais fácil. Se o pai é bancário, também vou ser bancário. Se o pai é engenheiro, vou ser engenheiro. E depois eu tinha um medo gigante dos cursos em Portugal, que eu sempre achei muito teóricos e muito pouco práticos. Aos 18 anos era muito nova e se decidisse de forma errada, com sorte, poderia voltar a tentar e ir por outro caminho. E achei que ir para Londres ia-me trazer uma falta de conforto que me iria obrigar a lutar pelo que eu queria. Eu gosto desse tipo de desafios, não gosto de achar que as coisas caem do céu. Como as azeitonas… (risos) Exactamente.


E como é que foi o salto da universidade para o mundo real? Foi quase uma história de acasos, pelo que li. Foi uma combinação de estar numa cidade que tem muitas oportunidades, mas também de ir atrás delas. Na universidade acabava por ter bastante tempo livre porque no sistema inglês não temos exames, escrevemos teses. Desde que a pessoa vá acompanhando as aulas, facilmente arranja disponibilidade para fazer outras coisas. A partir do momento em que descobri que queria realizar, a maior parte do meu tempo em Londres não estava focado na universidade, mas a fazer cursos de teatro, cursos de tudo, andava sempre entusiasmada de um lado para o outro a tentar aproveitar o que a cidade tem para oferecer. Quando acabei o curso fiz uma lista dos dez maiores filmes com os dez melhores realizadores, na minha consideração, que estavam a ser filmados em Londres e no número um pus um filme do Stephen Frears. A vantagem de Londres é que há sempre estas hipóteses, há muito cinema a ser filmado, há grandes realizadores. Mas também partiu sempre de mim ir atrás disto. Fui bater à porta, disse que gostava muito de fazer um estágio com a produção do Stephen Frears. “Estou disponível, usem e abusem da minha boa disposição!”. E eles, muito graciosamente, aceitaram a minha proposta. Fui estagiar uma semana no escritório de produção, mas eles perceberam o meu entusiasmo e apoiaram-me bastante. Faziam questão que eu estivesse sempre no set, ao lado do Stephen. Aprendi bastante a observá-lo e a observá-lo com os actores. Passado uma semana arranjaram uma espécie de desculpa e um trabalho em que me pagavam 50 libras por dia por duas horas na contabilidade e depois deixavam-me ficar no set a observar o que se passava.

O produtor do filme explicoume que para se entrar no meio era preciso um agente ou aquilo que em Londres chamam “diary services”, que é uma espécie de agente, mas a uma escala mais ampla, representam mais equipas técnicas. E recomendou-me uma rapariga que eu contactei e que ficou muito interessada em mim. E ela arranjou-me trabalho imediatamente. Um foi com uma fotógrafa inglesa chamada Elaine Constantine, que é bastante famosa, e o outro com uma produtora japonesa de Hollywood, ambos freelance. Até que recebi um telefonema desta empresa, chamada Knucklehead, que agora me representa como realizadora em Londres, que na altura estava a abrir. Disseram que tinham ouvido falar muito bem de mim e que gostavam que eu fosse trabalhar com eles como recepcionista e assistente, um pouco de tudo. Eles queriam algo familiar, que houvesse um esforço colectivo. Eu estava um pouco assustada com a publicidade, porque não sabia muito e porque estava tão fixada no cinema que hesitei em aceitar. Depois achei que qualquer experiência é válida e disse que sim. E foi aí também que começou o seu documentário da Dita Von Teese. Sim. Acho que na Knucklehead perceberam que eu tinha muito interesse na realização e que constantemente mostrava muito entusiasmo na parte criativa, apoiava muito os realizadores. Era uma coisa a que eu me dedicava muito e eles viram aquele entusiasmo e acharam interessante incentivar isso. O Discovery Channel perguntou

à Knucklehead se eles queriam propor ideias para pequenos filmes e eles disseram “Cristiana, se quiseres escreve uma ideia que se eles aceitarem, nós produzimos”. Isto foi mais ou menos seis, oito meses depois de começar a trabalhar com eles. Escrevi a tal ideia de filmar a Dita Von Teese, que na altura não era muito conhecida - já tinha alguns seguidores, mas era underground: quando propus isto ela ainda nem estava casada com o Marilyn Manson, foi no ponto de viragem. O Discovery adorou a ideia, contactei a Dita que veio-me conhecer a Londres. Demo-nos lindamente e foi fantástico trabalhar com ela porque é uma pessoa muito cativante e fortíssima para ser filmada. Ela gostou tanto do filme que usou-o quase como uma carta de apresentação. Tudo que era programas de televisão, exposições, tributos, ela levava o filme para mostrar porque tinha orgulho no que tinha sido produzido. Fui nomeada para um prémio em Londres e comecei a ganhar bastante atenção. O Discovery propôs-me fazer outro filme e eu fui para Berlim filmar um pintor alemão que se chama Rainer Fetting. Com estes dois filmes continuava a trabalhar na Knucklehead enquanto toda a gente me dizia “mas tu agora és realizadora, por que é que estás a trabalhar como recepcionista?”. E eu sempre insisti que não queria elevar muito o status de realizadora porque não sentia que fosse merecido, achava que as coisas se vão conquistando com o devido tempo e para mim ser recepcionista era algo que não me afectava o ego. Só que entretanto o mundo da publicidade veio-me bater à porta e tive de dar o salto.


Quando tinha 18 anos e fui para Londres a dizer que queria ser realizadora a atitude das pessoas não era de apoio e isso é um pouco triste


Começou na publicidade com a McLaren, certo? Começou com a Johnny Walker e a McLaren que viram os pequenos documentários que eu fiz e ficaram interessados na abordagem e na facilidade que tinha em aproximar-me das pessoas e propuseram-me filmar pilotos de Fórmula 1. Eu aceitei. O meu primeiro trabalho foi com o Alonso, que foi um desafio interessante porque ele é uma pessoa muito fechada e extremamente difícil. Esta primeira experiência não só foi um projecto bastante grande como tinha muito pouco tempo, porque nunca temos muito acesso a estes pilotos, obviamente o tempo deles vale ouro, e havia muito para fazer, por isso a passagem para a publicidade foi quase uma chapada para acordar para a rapidez com que esta indústria funciona. No fim acabou por correr bem porque percebi que o isolamento dele, quase arrogância, partia de uma base de timidez e de um problema que eu penso que ele acha gravíssimo: o inglês dele não é muito bom. Como eu consegui ter uma abertura grande por parte dele acho que impressionei a Johnny Walker e a McLaren e tenho trabalhado com eles. Ainda agora, estou quase a ir para a China filmar para eles. Tem sido uma experiência óptima e uma colaboração a que eu não consigo dizer “não”. Pelo que me diz, parece que o seu acto de filmar é quase um acto psicológico, uma acção psicológica, de psicanálise. O mesmo acontece com o clip da Dido. Foi uma proposta em que tentou assumidamente chegar às pessoas. Acha que a câmara pode dificultar a comunicação e é por isso que tenta estudar as pessoas antes de as filmar? Muito. Acho que o meu cunho é esse. O meu primeiro passo é

perceber as pessoas. Lembro- uma tristeza subjacente, mas não me que no filme da Dita eu é dramático nem exagerado. Achei investiguei-a de tal maneira que um tema muito português. A antes de fazer uma pergunta eu Nazaré fez muito sentido porque é sabia exactamente o que ela ia uma população com muita cultura responder. Eu tento filmar de e tradição de pescador e quando forma a que as respostas não se vai ao cemitério da Nazaré e sejam óbvias. Faço o trabalho de se olha para as campas, de gente preparação e depois afasto-me com 20 ou 30 anos, percebe-se para não obrigar quem está a ver que a morte é uma coisa muito a dar uma resposta. Eu gosto de presente na vida das pessoas. Vêdar espaço de interpretação. se a campa do pai ao lado da do filho ou do tio ou primo. Dentro Considera-se quase como uma das famílias já se perdeu muitas provocadora nesse sentido? pessoas para o mar. E continuam a ir para o mar, continuam a ir Muito, muito. Espero que sim, pescar. pelo menos é isso que eu tento ao máximo: provocar, uma reacção Mais uma vez tentou encontrar ou um interesse. O filme da Dita uma pessoa, o pescador mais tinha que ser um teaser, estava jovem, como cartão de visita da ali uma mulher lindíssima com Nazaré e da música. muitas coisas interessantes para dizer, mas não queria obrigar a Como o tema subjacente era que as pessoas formassem uma a morte eu não queria ser opinião, queria que as pessoas dramática, era a coisa da qual olhassem, se deslumbrassem e eu mais tinha medo, porque não pensassem “eu quero saber quem estava interessada em puxar a é que esta mulher é”. Não quero lágrima. É muito fácil com uma dar as respostas. E penso que isso música que fala da morte retrataracontece em tudo, tal como no se o tema de maneira quase filme para a Dido... instantânea: faz-se dois ou três shots fortíssimos e as pessoas Desculpe interrompê-la, mas por ficam com um impacto gigante e que é que escolheu a Nazaré e os pensam “ai que horror, é a morte” pescadores? e eu quis fugir disso. Acho muito mais bonito chegar-se à emoção Escolhi a Nazaré porque ao ouvir sem ter que ser óbvio, sem ter a faixa, que se chama “The Day que ser espetado na cara. A maior Before The Day”, que é uma parte da população é idosa e são música muito pessoal, penso pessoas muito alegres, muito bem que ela a escreveu quando o dispostas, mas quando param pai morreu, é quase uma ode à têm naturalmente uma expressão morte, mas não à morte trágica, muito marcada e triste. Acho mais ao lado belo da vida. Não que isso já vem de muitos anos deixa de ser doloroso, mas de tragédias que acontecem. há sempre uma continuação. Eu não queria que o filme fosse Quando comecei a tentar dissecar pesado ou triste porque há beleza qual era o tema que eu sentia nesta sobrevivência e estilo de naquela música pensei “isto é vida e achei que precisava de a vida dos pescadores!”. São um pescador novo para haver pessoas que lidam muito com um sentido de continuidade a morte, está quase gravada na e uma ideia de esperança que memória. Familiares e amigos levasse e carregasse a história. que morreram, por vezes à sua Daí ter andado à procura e ter frente, e continuam a ter uma encontrado o Fábio, o tal pescador força incrível e não são tristes em mais novo. Acabou por resultar de relação a essa experiência. Há uma forma muito interessante


porque o Fábio não parece um pescador e toda a gente acha que ele é um actor ou modelo que eu contratei, o que não é de todo verdade. Mais uma vez a questão de estudar o campo e conhecer a fundo a Nazaré e as suas pessoas. Faz sempre esse trabalho de campo em tudo? Tento. É das partes que eu mais adoro, é esta parte de investigação e pesquisa, de perceber. Eu lembro-me que quando fiz o meu primeiro filme publicitário, um dos realizadores da Knucklehead ligou-me a desejar boa sorte e eu perguntei-lhe se tinha algum conselho para me dar. E lembrome perfeitamente que a resposta foi “o mais importante é quando te fizerem uma pergunta teres resposta, sempre, para tudo”. E eu fiquei tão obcecada com esse comentário que quando entrei nesta fase mais séria da realização fiquei obcecada com a obrigação de ter sempre resposta, de ter sempre uma ideia muito clara de saber o que queria e de nunca me deixar surpreender. Quando se começa a realizar muito nova e se é rapariga, o que não é muito normal neste meio, há um nervosismo a que eu não gosto de dar muita importância, mas que está lá e não posso negar, que é o nervosismo das pessoas me verem como a miúda de 20 e tal anos, “o que é que ela sabe?”. Eu tinha sempre muito cuidado para mostrar que tinha uma ideia muito definida do que queria e porque o queria. Já não tem esse receio? (Risos) Tenho, mas acho que mudei. Quando comecei a realizar tinha esse tipo de nervosismo e sentia essa obrigação e felizmente tive a oportunidade de trabalhar com pessoas muito boas, nomeadamente neste último projecto da Olivera da Serra em

que trabalhei com um director várias máquinas a disparar muitas de fotografia e com um editor azeitonas (risos). Gastámos quatro fenomenais, ambos. Trabalhar toneladas e meia de azeitonas. com o Barry Ackroyd [N.D.R.: Fizemos chover azeitonas por director de fotografia em “Estado Portugal inteiro. Foi um método de Guerra”, vencedor maior dos que resultou muito bem. Usámos Óscares 2009] trouxe-me quase outra técnica que foi montar um uma luz na minha experiência género de plataforma em cima da de realizadora. O Barry tem um câmara em que íamos vertendo CV fantástico e tem muitos anos lentamente e fazia uma cortina de experiências fenomenais com de azeitonas que caíam. Ou eu muitos realizadores de grande e toda a equipa técnica com nome. Quando trabalhei com ele baldes de azeitonas, ou estar eu a simplicidade e a forma prática e com a mão à frente da câmara descontraída dele filmar quase me a deixar cair azeitonas. Também fez sentir liberta. Senti que não era importante ter esse sentido era má profissional por seguir os de distância e planos, cobrir meus instintos e um pensamento todo o campo visual. Claro que livre a tempo inteiro. Devolveuusámos alguma pós-produção me a liberdade na realização que para adicionar azeitonas, mas eu estava a perder por sentir um tudo o que é adicionado foi dever de obrigação constante. filmado. A chuva de azeitonas é E com o editor foi o mesmo chuva de azeitonas tanto que no processo, o mesmo mecanismo. making off, que penso que está no Ele editou com os 10 melhores YouTube, só se vê nós a despejar realizadores em publicidade e azeitonas por todo o lado. cinema e a descontracção e o espírito quase infantil com que Pensa voltar ao cinema ou quer trabalha é aliciante e fez-me sentir continuar investir na publicidade? que não há problemas de eu ter Não gostava de fazer uma longa esse tipo de comportamentos e metragem? que não deixo de ser profissional e de saber o que quero. Não gostava, eu tenho que fazer uma longa metragem ou Em relação ao filme para o azeite vou falhar redondamente esta Oliveira da Serra, duas perguntas: minha ambição de realizar. Este foi filmado em Portugal? E as ano estou disposta a tirar algum azeitonas a cair, como foi isso? tempo para começar a investir nesse sentido. A publicidade Foi tudo filmado em Portugal, acabou por surgir como uma sim. Eu tenho um elemento no escola para a realização e foi meu trabalho que valorizo muito quase um equívoco perfeito que é a realidade. Eu gosto que porque me pagam para aprender as coisas sejam o mais reais a fazer o que mais adoro, o que possível e insisti desde a primeira é um privilégio gigante. Mas proposta que tinha de fazer a espero não me esquecer do chuva de azeitonas de verdade. Se objectivo pelo qual entrei para aquilo fosse tudo feito em pós- isto que é fazer longas metragens. produção eu acho impossível que Eu acho que não está na minha não se notasse, não dava para personalidade cair nesse erro enganar as pessoas. Andámos a posso estar enganada, espero estudar métodos e a ver o que que não. Não sou muito boa a seria possível fazer e acabámos criar raízes porque gosto de ter por testar algumas formas de desprendimento suficiente para fazer a chuva. Usámos máquinas saltar para projectos de confetti - uma coisa muito desta magnitude sem olhar jogos de futebol - mas a disparar para trás e sentir que me vou azeitonas e a uma escala de arrepender disso.


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Lembro-me que no filme da Dita eu investiguei-a de tal maneira que antes de fazer uma pergunta eu sabia exactamente o que ela ia responder


Em Portugal tem que se ultrapassar esse comodismo que faz com que as pessoas esperem que lhes caia tudo do céu, de culpar os outros pelos nossos problemas ou pela nossa falta de entusiasmo Como cineasta portuguesa que está no exterior, e que provavelmente consome imenso cinema, como vê o estado do cinema em Portugal? Eu tenho muito cuidado em falar deste assunto porque, como já percebeu, eu gosto de pesquisar antes de tomar partidos e posições. A ideia que eu tenho da indústria em Portugal, seja do cinema ou publicidade, é que, acima de tudo, há uma falta de cooperação entre as pessoas. Quando se olha para Inglaterra ou França há uma série de medidas que se tomam para incentivar a produção desses países e se as pessoas lutassem no sentido de tentar mudar certos tipos de leis para obrigar à produção nacional e forçar o desenvolvimento profissional dessa mesma indústria, acho que isso daria frutos muito bons. Teve conhecimento do manifesto que alguns realizadores e produtores escreveram e em que falam de uma “catástrofe iminente” no cinema em Portugal? Tenho e li essa petição, mas a ideia que tenho pelo que li é que aquilo são termos muito generalistas e líricos e coisas pouco concretas. Definir arte e bom gosto ou definir quem são os grandes realizadores portugueses é injusto. Tudo isto começa porque os apoios vão sempre para os mesmos e não há grandes apoios para mais

ninguém e não havendo apoios não há protagonismo para mais ninguém. É muito complicado tentar apoiar com toda a força só estas pessoas, que estão no seu direito de continuar a trabalhar e de ter as vantagens que têm. O mais importante é que as pessoas percebam que têm de partir o bolo para outros lados e que há que investir num cinema mais novo. A maior parte das tentativas em Portugal de criar cinema comercial falham redondamente porque se acha que o cinema comercial é copiar Hollywood, mas à portuguesa e sem os meios e acaba por ser um erro redondo. Quando se vê cinema de países como o Brasil ou México eles destacam-se no cinema mundial por criarem estórias e um estilo muito específicos. E os estudantes que saem das universidades. Estão bem preparados, têm apoios para fazer uma curta ou longa metragem? Em Portugal tem que se ultrapassar esse comodismo que faz com que as pessoas esperem que lhes caia tudo do céu, de culpar os outros pelos nossos problemas ou pela nossa falta de entusiasmo. Eu não estou muito por dentro do que é feito nos cursos, mas esta semana estive com um produtor de cinema que me dizia que se sentia muito frustrado por ter que ir atrás de

estudantes a perguntar se eles querem estagiar com ele. Não são os estudantes que correm atrás dele para saber se podem entrar num filme. Sinto que há esta falta de entusiasmo que tem de ser quebrada. Há uma mistura de falta de entusiasmo com falta de incentivo. Num cenário hipotético acha que alguma vez conseguiria ter tido a carreira que tem com 27 anos se não tivesse saído de Portugal? Sinceramente penso que não. Primeiro porque teria entrado neste espírito comodista que penso ser próprio talvez da minha geração ou do ambiente em que cresci. Há esse espírito comodista e a falta de capacidade de sonhar. Quanto tinha 18 anos e fui para Londres a dizer que queria ser realizadora a atitude das pessoas não era de apoio, era de negar à partida o desconhecido e isso é um pouco triste. Por isso é que este anúncio da Oliveira da Serra me apelou tanto porque fala de sonhar e de acreditar na ambição e de acreditar que as coisas podem ser feitas. Foi essa atitude que me fez vingar em Londres. A questão é ir atrás, tentar encontrar as coisas. Todas as pessoas verdadeiramente talentosas que eu admiro e que tive o prazer de conhecer até hoje são, acima de tudo, muito trabalhadoras, pessoas que no dia-a-dia se entusiasmam e trabalham muito para chegar onde estão. Isso é a receita para se vencer.

N


PRÓXIMO NÚMERO


Culto

O CARRO DE MORODER

por Francisco Dias

Expandir os horizontes é, na maioria dos casos, uma virtude. Quando um actor ou um cantor usa a sua imagem para vender algo mais do que, respectivamente, os seus filmes ou músicas, só virtuosismo poderá nascer. Quem não gosta que aquele tipo que só faz papéis simpáticos no cinema apadrinhe um produto que usamos diariamente? Alguns exemplos mais populares incluem roupinhas criadas com chancela Kate Moss ou o iPod dos (yuckkkk) U2. Gosto de pensar que pouco falta para termos uma máquina de café com a silhueta do George Clooney gravada. Googlando “celebrity branding” o leitor pode ser introduzido a este maravilhoso mundo de loucura comercial que conta já com produtos tão incríveis como a massa de Hulk Hogan, “Pastamania”, ou os bifes de Donald Trump, os “Trump Steaks” (ser rico não traz grande imaginação para nomes).

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DR


Nos anos 80 foi a vez do italianoquase-alemão mais fixe de sempre expandir o seu brand de modo a ver o seu nome num item não discográfico. A ambição de Giorgio Moroder no ramo empresarial provou ser semelhante à de músico, uma vez que o produtor que não tinha vergonha de admitir que gostava de ABBA (lembremse que não havia o franchise “Mamma Mia”), não contente com os tradicionais cereais ou desenhos animados, se catapultou para o ramo automóvel. E se Pedro Abrunhosa tem o VW Polo Bandemónio e Roberta Medina o Toyota Yaris Rock in Rio, Moroder, artista de topo e produtor consagrado, resolveu colar o seu nome a um super carro desportivo. Foi em 1988 que Giorgio, homem de gosto refinado (apesar daquela cena dos ABBA), levou o seu Countach (<3) ao mecânico. Aparentemente, o tipo que arranjou o bólide de Moroder, Claudio Zampolli, era também grande fã daquele modelo da Lamborghini e tinha até o número de telefone do seu designer original. Os dois foram comer uma pizza e tomar um cappuccino enquanto discutiam muito alto e com largos gestos, tendo Giorgio demostrado ao compatriota que o seu gosto por carros e pela Lamborghini ultrapassava o mero

comprador superficial (também conhecido como “p’ró estilo”). Pouco depois nascia a Cizetta (das iniciais C.Z., Claudio Zampolli) e a ideia de criar um carro - o CizettaMoroder V16T - dirigido à malta apaixonada por carros e com algum dinheiro para gastar. A carroçaria exterior foi inspirada no Countach por mão do próprio Marcello Gandini, o já referido designer de automóveis que inventou a mítica silhueta do carro-chave da Lamborghini nos anos 80. Gandini tinha já apresentado este novo desenho de carroçaria à Lamborghini Chrysler com vista à produção do sucessor do Diablo. Dentro do exoesqueleto encontrava-se um pioneiro motor de 16 cilindros (com 560 cavalos a oito mil RPM). A máquina era capaz de debitar uns impressionantes 328 Km/h de velocidade máxima e bastavam-lhe meros quatro segundos para elevar o ponteiro dos 0 aos 100 Km/h (mais ou menos o mesmo intervalo de tempo que Moroder precisa para criar um tema de dança intemporal). Apesar de produzida em Itália, mais exactamente em Modena, Meca dos supercarros, a máquina era, segundo os seus criadores, idealizada para o público californiano. Ironicamente, nenhum destes super-carros foi adquirido nos EUA, ainda que


o bólide tenha sido apresentado por lá em grande clima de pompa, numa noite digna de Óscares (procurem no YouTube). Apesar do embrião ser dos 80s, o Carro de Moroder é já filho dos anos 90. Posto à venda em 1991, apenas se venderam 10 carros o que obrigou a produção a cessar ao fim de quatro anos. O alto preço (cerca de 250 mil euros actuais), associado à recessão económica que se fez sentir no inicio dos 90s são apontados como as principais causas O facto de se tratar de uma marca recente, com zero historial e provas dadas também terá pesado, uma vez que os consumidores preferiram investir em nomes conhecidos como Ferrari e Lamborghini. Assim, o Cizetta V16T (Moroder saiu do projecto em 1990 e o protótipo foi o único carro produzido com a denominação Cizetta-Moroder) acabou por ser comprado por alguns ricos excêntricos como o Sultão de Brunei que achou melhor levar dois, caso precisasse de peças.

A boa notícia para quem não teve oportunidade de comprar o Carro de Moroder na altura é que se encontra de novo em produção sob encomenda da Cizetta Automobili USA, empresa que Claudio Zampolli criou na Califórnia depois da falência da original no país da bota. Descansem, a Cizetta não vive só do infame desportivo. Mesmo que a vossa disposição de passar um cheque com seis dígitos seja nula, fica aqui a recomendação para darem um salto ao site oficial da Cizetta USA, datado de 2001, que é simplesmente sublime.


DR

Não se inquietem as almas que acharam que este texto não as esclarecia 100% sobre esse tal de Cizetta-Moroder V16T. Em breve sairá um livro sobre o curto ciclo de vida desta máquina, desde a concepção do projecto até ao seu declínio. Estão prometidas muitas fotos do protótipo e de todos os carros saídos da linha de montagem de Zampolli. Há ainda a garantia do livro bancar o jornal tablóide e fazer algumas revelações chocantes: explicar a saída de Moroder e dar nome ao financiador original do carro (de quem só se sabe ser um actor famoso de Hollywood - por favor, Deus, que seja o Matt LeBlanc!), por exemplo. Se estiverem dispostos a investir na edição hardcover levam ainda para casa um DVD com um documentário que conta a história do Carro de Moroder e que inclui alguns extras engraçados. Mas preparem-se para desembolar 250 dólares. É isso ou começar a poupar para o carro.

DR



PRÓXIMA

ATÉ À Carl W. Heindl


Lukasz Wierzbowski


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