IGUAL #01 - parte dois

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fevereiro 2009 avilhosamente para mostrar aos do jogo a gosto. O outro, mais amigos o net-seeker dentro de nós. radical, é um teste de paciência e uma competição quem-é-queO YouTube está pejado de memes. morre-mais-rápido já que os níveis Há quem se dedique apenas a são de uma enorme complexidade. monitorizar o surgimento de Pessoalmente, não tenho favorito. tendências no portal. Mas pouco É tão agradável ver novas nos interessam os vídeos sem roupagens para um jogo com quase camisa, ou em feedback, ou cinco duas décadas, como assistir a impossíveis só factos que desconhecíamos sobre manobras os autores, ou dobragens, ou permitidas às mentes (e dedos) propaganda anti-Cientologia, ou mais concentradas. Experimentem seguintes tags: “how to draw”. É preciso escavar as um pouco para descobrir contas, SMW+custom+lunar+magic+ users e vídeos que exemplificam a chamillionare64. mais-valia fabulosa que é o YouTube: janela para a intimidade b) O vídeo random e talento alheios. Não estamos a Não há dia que passe em que não falar necessariamente de nichos lamente ter feito testes de proto-secretos, apenas de vídeos orientação vocacional num mundo que nunca seriam “featured” pelo sem YouTube. Este género é um portal. Mas que, pela sua dos motivos. Não sei se existe uma qualidade, merecem ser vistos. denominação comummente aceite, mas eu chamo-lhe o vídeo random. O vídeo random tem duração a) SMW hacking Vamos esclarecer uma coisa: o variável e não apresenta assunto Super Mario World (SMW) para a identificável, tão pouco qualquer SNES é, provavelmente, o meu propósito que não seja o de fazer videojogo preferido – de sempre. O rir. É mais um exemplo acabado do da internet, facto de ser realmente bem canibalismo desenhado e programado, factores alimentando-se de produções da a que se associam uma web, justapondo-as numa sucessão banda-sonora tão ajustada como frenética de quem sofre de ADD. icónica, ajuda-o a passar o teste do Um dos seus grandes méritos é a tempo. Mas fazer o hacking de viagem nostálgica porque geralcartuchos não é coisa nova, mesmo mente os autores recuperam no universo de Mario Mario. Em imagens que são verdadeiros 2002, Cory Arcangel ficou marcos na odisseia online. conhecido pelo seu trabalho na área Consegue ter muita piada, mas é de Media Art, “Super Mário preciso estar na disposição certa. Clouds”. Hoje em dia são vários os As tags: ZPYZ+zpiz+zpic+Ivan. gamers/hackers/game-designers que dão nova vida ao SMW, um c) Upsidedownvideo pouco à imagem do que acontece Sempre quiseram ver determinado com outros jogos muito populares vídeo de pernas para o ar? Se ainda (o Classic Doom 3 é um exemplo não estiver online, podem sempre tão paradigmático como belo). Da experimentar pedir ao user Upsideenorme oferta disponível é possível downvideo. Pode ser que ele aceda. identificar dois estilos: o primeiro, A alternativa é serem vocês a fazêmais clássico, limita-se a construir lo, assim como assim não é um muito exigente níveis na óptica do prolongamento processo

tecnicamente. A ideia parece não trazer nada de novo ou divertido, mas é incrível ver como um simples truque de magia, jogada de snooker ou golo num jogo de futebol ganham uma vida nova quando estão ao contrário. Os meus vídeos preferidos são os que envolvem algum tipo de geometria como acontece nos desportivos. É difícil saber se existe um culto no YT dedicado ao upsidedown-ismo, mas o certo é que a conta foi fechada. Da última vez que conferi havia 25 vídeos e 15 subscritores. Não se riam da beleza do inútil, apreciem-na. d) YouTube poops Os YouTube Poops são um fenómeno online, um tipo de vídeo e uma maneira de estar na vida. São também, e de longe, o nicho mais “mainstream” desta lista por isso ficaram para o fim. Os poops consistem em produções de vídeo-glitch, fazendo pouco ou nenhum sentido (oh absurdismo!) e montados à base de jogos de vídeo ou de antigos desenhos animados, filmes ou anúncios. As imagens são depois repetidas, aceleradas, desaceleradas, dobradas, retorcidas, violadas, saturadas cromaticamente – enfim, a imaginação é mesmo o limite com o bizarro total por objectivo. Resta dizer que é preciso escavar bem para encontrar bons poops, não sendo menos verdade que alguns se tornam clássicos (ao mesmo tempo que providenciam frases citáveis). Mas para perceber o conceito nada melhor do que ver poops. Aqui estão as tags para um muito bom, depois é só ir explorando: i+will+change+this+tag+in+a+ minute+Deepercutt.


Fotos de

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www.flickr.com/people/pedropaulos

Pedro Ricardo

CENTRテグ

IGUAL #01


fevereiro 2009

CENTRテグ


DESTAQUES

IGUAL #01

O s ve r d e s a n o s d e

PINGO TINTO

Pingo Tinto é o inusitado inventor do género musical Punk Tradicional Português (PTP), um sub-género do folclore nacional. Quisémos saber mais. A entrevista que se segue foi feita por e-mail e todas as respostas são publicadas como foram recebidas. IGUAL – Antes de mais: porquê o nome Pingo Tinto? Pingo Tinto (PT) – Eu sou fã do Syd Barrett fundador dos Pink Floyd, mas eu percebo pouco de inglês e a determinada altura soube que Pink Floyd quer dizer Rosa Fluido. Achei muita louco o nome Rosa Fluido dos Pink Floyd e que no inicio dos anos 60 devia de haver poucas cores em relação ó que existe hoje em dia. Acho que a cor-de-rosa pura devia de se ver pouco naquela altura e ainda por cima escorrida ou fluida, acho que os jovens naquela altura só com o 18 nome Pink Floyd já ouviam sons

por isso, lol. Então eu decidi ter o nome de Pingo Tinto que na minha visão é um Pingo de vinho Tinto que cai numa toalha de mesa fazendo uma imagem estranha cheia de arte natural. É mais ou menos assim.

IGUAL – Tu tens uma conta no PalcoPrincipal, mas não tens MySpace. Porquê? PT – Porque não consegui meter músicas minhas no myspace mas tenho conta lá. IGUAL – As fotos que tens no Palco Principal são mesmo tuas? PT – Sim. IGUAL – Disco da tua vida? PT – Não sei se te estás a referir a discos de outros ???? Se estás o disco da minha vida é Porno for Pyros. Se te estás a referir a disco meu ???? Tenho.

IGUAL – Quais são as influências IGUAL – Podes dizer-nos o teu na música que fazes? nome verdadeiro e de onde és? PT – Toda a música em geral e PT – O meu nome verdadeiro é aquilo que foi transmitido através de sons de Portugal que ouvi desde João Filipe. pequenino nas festas da terra dos meus pais. Mais música de Angola, IGUAL – Que idade tens? PT – Idade digo sempre que tenho Brasil e etc.... Fado e tanta coisa. 27. IGUAL – Gosto bastante da


fevereiro 2009 "Provérbios" e da "Jéssica e Bruna". As tuas letras têm algum factor biográfico? PT – Todas as minhas músicas são sobre aquilo que vivi e sobre aquilo que acho que vai acontecer a mim e à sociedade. Através da música consigo fazer uma coisa bem interessante. Se a letra e a música encaixam bem quer dizer que é verdade. Se a letra e a música encaixam mal quer dizer que é mentira. Então tenho umas músicas minhas que assustam mas também acho que posso mudar essas músicas. Tudo depende da ganância e da sorte dos bosses. Mas não estou a ver sorte nenhuma.

IGUAL – Nos fóruns de música por onde passas as pessoas costumam troçar de ti por te apresentares como o inventor do Punk Tradicional Português. Por que achas que isso acontece? PT – Essa pergunta é a eles que deves de fazer. Eu sei porquê mas fica para mim.

IGUAL – Há mais bandas que consideres PTP ou és só tu? PT – Há várias bandas que ao longo do tempo fizeram músicas com maneiras de tocar de rock ou punk e etc com guitarras eléctricas... e fizeram-nas misturadas com sons e maneiras de tocar da nossa Música Tradicional Portuguesa. Isso não tem de ter nome ????? Já que não existe nome eu decidi dar este nome Punk Tradicional Português. Não está no wikipedia mas está em algumas das minhas músicas.

IGUAL – É mais fácil pedir a tua opinião do que perguntar a todos os outros. Por que é que achas que a tua música é mal recebida? PT – Já disse que tens de perguntar a eles e não a mim. Eu sei porquê, mas fica em mim. IGUAL – Qual é o futuro do Pingo Tinto: edições caseiras, apresentações ao vivo? PT – Mais do que isso... A minha missão é espalhar esta musica "Aqui Estou Eu Outra Vez” e outras...

IGUAL – Já reparei que tens um gosto abrangente que não se limita a música. Fala-nos um pouco sobre isso. PT – Tenho jeito para a pintura, gosto de pintar mas não tenho tido tempo para isso, o meu trabalho é outro e já me leva o tempo quase todo. Muitas das coisas que faço na música e pintura é sempre em tempo de férias e depois ao longo do ano faço às 3 pancadas. Se eu tivesse a sorte que eu vejo muita gente ter aqui na net e em outros sítios..... Se eu tivesse essa sorte não era o Pingo Tinto mas sim mais um que acreditava que é bom e que lutou para estar onde está . IGUAL – Podemos saber o que fazes profissionalmente? PT – Técnico de Óptica. http://palcoprincipal.clix.pt/pingotinto http://pingotinto.weebly.com/ http://uk.youtube.com/pingotinto

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IGUAL #01

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Cinema Samurai

O CAMINHO DA PENA E DA ESPADA

por Daniel Sylvester

O samurai é sem dúvida uma das exportações mais bem-sucedidas da cultura japonesa; já faz parte do DNA popcultural mundial o conceito do nobre e solitário guerreiro, viajando de lugar para lugar com apenas uma espada como companheiro. Mas se para o público em geral o termo evoca a imagem duma cultura anciã e mística, a verdade é que no Japão a era dourada dos filmes de samurais serviu acima de tudo para questionar e deconstruir os mitos do seu passado. Nos anos sessenta, enquanto realizadores como Sergio Leone e Sam Peckinpah subvertiam a imagem tradicional do cowboy heróico servindose de realismo, niilismo e sátira social, nomes como Akira Kurosawa, Kihachi Okamoto e Makasi Kobayashi faziam o mesmo para o seu equivalente oriental.

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Lição de história Comecemos pelo contexto. A noção do samurai tem uma longa história na cultura nipónica, mas a era mais focada nos filmes chanbara (ou, para dizê-lo em tom de Aleixo, “filmes de espada” – um estilo que inclui mas não se limita aos filmes de samurais) é a do shogunato Tokugawa, vivida sensivelmente entre os séculos

XVII e XIX. Trata-se da maior fase de paz na história do Japão; trata-se também duma era em que a sua sociedade vivia num modelo estritamente feudal, sob um regime fortemente opressivo e com frequentes surtos de fome e pobreza. A organização social era para todos os propósitos medieval: a maioria da população vivia num estatuto de servidão, sob o jugo duma classe de donos feudais. Num tempo sem quaisquer confrontos militares, os samurais – a classe guerreira – manifestavam-se já como um anacronismo, simples parasitas do sistema sem função social discernível. Se outrora os vassalos armados asseguravam a segurança do senhor feudal constantemente ameaçado por rivais bélicos, nesta fase de paz tornavam-se cada vez mais redundantes e dispensáveis. Sendo que os impostos e tributos exigidos pelo governo apertavam frequentemente os bolsos dos clãs, pouco espanta que houvesse um surto de despedimentos e abandonos. Se no cinema a figura do ronin (o samurai sem mestre) pode quase sempre atribuir a sua queda de estatuto à morte trágica dum mestre ou a uma intriga política maquiavélica, na realidade

histórica as razões eram muitas vezes bem mais prosaicas. Mesmo assim, é fácil de entender porquê o ronin – o outsider por excelência, divorciado da sua função mas vedado pelo seu estatuto social de se integrar nas classes inferiores – é tão irresistível como arquétipo de anti-herói. A manutenção desta sociedade tão divorciada das mudanças sociais que envolveram o mundo durante os séculos em que persistiu deve-se também a uma estrita política de isolacionismo. O comércio com outros países limitava-se a algumas fragatas em Nagasake; de resto, a entrada no país era vedada aos estrangeiros. O regime pregava sistematicamente a xenofobia, não só contra o Ocidente mas também contra os vizinhos orientais. O cristianismo, que tinha já atingido uma certa popularidade na população, foi proibido. Tudo isto acabou quando, em 1853, cinco navios americanos apareceram no porto de Edo (actual Tóquio), num gesto que obrigou as autoridades japonesas a abrirem as portas a um maior comércio internacional ou entrar num conflito bélico com os americanos. Uma vez que a posição do shogun já se encontrava de qualquer forma


bastante fragilizada, optou-se pela segunda via – iniciando assim um processo de modernização que iria culminar com a extinção do seu regime. E com o shogun, desapareceram os direitos feudais – o que significou também o fim dos samurais. Akira Kurosawa Como seria de esperar, a imagem do samurai sobreviveu na literatura e no teatro. E mal o Japão tinha começado a experimentar com o cinema, surgiram os primeiros filmes com samurais. Mas o filme de samurais moderno tem uma origem mais recente, a qual é quase sempre reduzida a um homem – Akira Kurosawa. Uma personalidade bastante contraditória, um humanista apaixonado por Shakespeare e John Ford que é frequentemente citado como o mais “ocidental” dos grandes realizadores nipónicos, mas cuja obra mostra um conhecimento e uma paixão profunda pela história do seu país, Kurosawa pode ser contado como um dos realizadores mais consensuais do século XX, com uma legião de fãs que inclui nomes como Francis Ford Coppola, Woody Allen e George Lucas. A sua obra inclui um grande número de filmes contemporâneos (normalmente mergulhados em cenários noir), bem como uma selecção ecléctica dentro do estilo do jidaigeki, o termo japonês para filmes históricos. No entanto, as suas obras mais emblemáticas pertencem ao mundo do chambara, e mais concretamente ao filme de samurais. Em 1954, Kurosawa (já conhecido internacionalmente pelo sucesso “Rashomon”) decidiu filmar a história de sete ronins que ajudam uma aldeia de camponeses a defenderem-se contra um bando de bandidos. “Os Sete Samurai” foi um sucesso estrondoso e lançou uma vaga de filmes semelhantes no cinema japonês, ao mesmo tempo que introduziu audiências ocidentais aos elementos do Japão feudal. Um épico de três horas que encontra o seu auge numa batalha pelo meio de chuva e lama, “Os Sete Samurais” mistifica sem dúvida as suas personagens, dando-lhes carácter heróico; mas introduz também um forte realismo, mostrando as condições de vida precárias dos camponeses e acabando com um discurso sobre a futilidade da vida samurai. A atitude de Kurosawa perante o mito samurai tornar-se-ia cada vez mais cínica. Se “A Fortaleza Escondida” (1958) é um conto de fadas inocente o suficiente para

inspirar o “Star Wars”, a obra de Kurosawa nos anos 60 mostraria uma visão mais sardónica do samurai. O seu companheiro em quase todos os filmes era Toshiro Mifune, um jovem actor que definia a dignidade silenciosa e a raiva febril que as audiências queriam ver num samurai. Entre 1954 e 1956, Mifune protagonizou a triologia “Samurai” de Hiroshi Inagaki, desempenhando o papel de Musashi Miyamoto, a maior lenda samurai da história japonesa (em parte porque tinha conquistado o seu lugar de origens humildes, um raro caso de ascensão social na era Tokugawa.) Quando portanto este símbolo da honra samurai adoptou o papel dum ronin completamente amoral em “Yojimbo” (1961), um filme realizado pelo mestre Kurosawa, o choque foi tremendo. Em “Yojimbo” não há heróis – apenas dois grupos de criminosos e um protagonista maquiavélico que se delicia em vê-los destruírem-se mutuamente. A atitude cínica e despretensiosa de Mifune em “Yojimbo” e na sua sequela, “Sanjuro” (1962) daria o mote para o questionar incessante do bushido (o código de honra samurai) que seria uma das marcas para o cinema chambara das próximas décadas. A cena final de “Sanjuro”, um duelo que acaba com o vilão a perecer com um géiser de sangue a jorrar-lhe do peito, anteciparia outra característica do género – uma violência cada vez mais explícita e sensacionalista, que cedo deixaria os filmes de Kurosawa parecerem perfeitamente pacíficos.

fevereiro 2009 A era do chambara Os anos sessenta foram a era dourada dos filmes de samurais. Com a possível excepção do kaiju (filmes de monstros, uma vaga iniciada obviamente pelo venerável Godzilla), nenhum estilo era tão popular entre o público japonês como os duelos de espadas dos tempos passados. O chambara não se limitava aos samurais – uma sociedade já familiarizada com os conceitos de democracia e igualdade exigia também filmes de cunho mais working class. O maior sucesso de sempre do chambara por exemplo, é Zatoichi, um espadachim cego que caminha de aldeia em aldeia oferecendo os seus dotes como massagista. A personagem desempenhada por Shintarô Katsu em não menos de vinte e seis filmes, bem como uma série de televisão com mais de cem episódios insere-se no sub-género do matatabi, filmes sobre pobres caminhantes que encontram perigos aonde quer que cheguem. Também populares nesta fase eram os filmes ninyko yakuza – os antepassados dos implacáveis criminosos modernos, foras-da-lei que pretendiam viver fora do sistema feudal e que criavam o seu próprio código de honra, não menos restrito ou complexo que o dos samurais. Mas, mesmo com esta concorrência, e com a partida de Kurosawa (que cada vez mais se distanciava do género a favor de adaptações literárias), os anos sessenta foram incrivelmente férteis para o filme de samurais. O que se notava progressiva-

o final psicótico de SWORD OF DOOM


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mente era uma visão cada vez mais pessimista da era: abundavam filmes em que apenas o protagonista mantinha a honra num sistema corrupto que empunhava o bushido somente como retórica; surgiam até alguns que questionavam a própria validez do código de honra. Entre as vozes mais articuladas encontra-se a de Makasi Kobayashi: com “Seppuku” (1962), este explora a barbaridade do ritual suicida, enquanto que “Samurai Rebellion” (1967, com uma performance magnífica de Toshiro Mifune) é a história de como as intrigas da corte destroem a felicidade duma pequena família de samurais com baixa posição na hierarquia. “Sword Of Doom” (1965) de Kihachi Okamoto goza duma reputação esplêndida entre os entusiastas do estilo apesar de possuir uma estrutura confusa (trata-se da adaptação duma obra épica de Kaizan Nakazato, planeada como primeira parte duma série de filmes que nunca se materializou); o samurai principal, desempenhado por Tatsuya Nakadai, é um simples psicopata que mata por vaidade. Também da autoria de Okamoto é “Kill!” (1969), uma comédia com banda sonora à spaghetti western que o crítico Howard Hampton muito perspicazmente coloca como parente próximo de “Monty Python & The Holy Grail”. Mais uma vez, o papel principal pertence a Nakadai, desta feita na pele dum samurai desiludido que abandonou a sua função. “Kill or be killed – either one would just leave a bitter aftertaste” afirma este, numa elegante refutação do código bushido. Se a negação dum sistema histórico já moribundo há mais de um século não parece grande coisa, é importante mantermos em mente o contexto histórico: nos anos sessenta, o Japão presenciava ainda um forte movimento de extrema-direita empenhando num regresso à “glória imperial”, uma corrente da qual o romancista Yukio Mishima era apenas o representante mais mediático.

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Apesar do seu espírito rebelde, estes filmes contêm um certo grau de sobriedade, com grande atenção prestada à belíssima cinematografia in glorious black & white e um cuidado especial em representar situações historicamente viáveis. Mas rapidamente, o chambara iria avançar para terrenos mais febris, mais próximos do gore e do cinema exploitation dos anos setenta, com filmes a cores para melhor ver o sangue a espalhar-se. Uma das séries que pareceu apontar o caminho eram as aventuras de Kiyoshiro Nemuri, o infame samurai tuga. Filho dum

padre português excomungado e secretamente satanista, que violou a sua mãe, Nemuri é uma personagem amaldiçoada, condenada pelo estigma do miscigenado e dotado dum ódio profundo e duma técnica de luta que lhe permite hipnotizar o adversário antes de desferir o golpe fatal. Ao longo de doze filmes, Nemuri – interpretado primeiro por Koji Tsuruta e depois por Ichikawa Raizo (“o James Dean japonês” segundo Lee Server) – estabeleceu a ideia dum samurai completamente devorado pela luta, cujo dia-a-dia consiste quase exclusivamente em episódios de violência extrema. Ao mesmo tempo, da Europa vinham os spaghetti westerns, uma corrente que parecia levar o niilismo e a fetishização da violência a novos níveis. “Fistful Of Dollars” de Sergio Leone, o filme que lançou a explosão do spaghetti western, tinha sido um remake não oficial de “Yojimbo” – pouco espanta que a influência corresse também na direcção oposta. “Goyokiba” (1969), de Hideo Gosha, com mais lama que “Django” e mais neve que “Il Grande Silenzio”, responde à pergunta “o que teria acontecido se Sergio Corbucci tivesse realizado um filme chambara?” Um exemplo magistral do filme de samurais com influéncia spaghetti, “Goyokiba” é duro e cruel, mas ao mesmo tempo quase insuportavelmente lírico. Mais uma vez, o mito do samurai é deconstruído: um clã mata os habitantes duma aldeia inteira porque estes sabem que os samurais roubaram dinheiro dum navio naufragado, dinheiro este essencial para pagar os impostos a um governo sedento de tributos. Tal como em Corbucci, o subtexto marxista é fácil de apreender. Baldes de sangue No início dos anos setenta, o Japão encontrava-se numa situação conturbada: os protestos estudantis da década anterior tinham deixado marcas de caos no cenário político, abundavam os escândalos de corrupção e o país estava prestes a mergulhar numa crise económica. O zeitgeist exigia algo diferente do filme chambara

“Fistful Of Dollars”, o filme que lançou a explosão do spaghetti western, foi um remake não oficial de “Yojimbo”

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UM MUNDO DE SAMURAIS

Como qualquer exportação pop-cultural que se pre de muitos escritores, realizadores e artistas fora da honra dão ao bushido.

1- Usagi Yojimbo: o coelho de Stan Sakai e herói d no panorama americano protagoniza histórias que n mas também referem constantemente os seus maio

2- The One Armed Swordsman: do estábulo dos Sh resposta de Hong Kong aos filmes de samurais que

3- Alain Delon em “Le Samourai”: o clássico noir modernos, mas Delon capta perfeitamente a austeri

4- Samurai Jack: uma das melhores séries de semp samurai perdido num futuro longínquo atingem o b

5- Sam The Kid em “A Partir De Agora”: o melhor

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eze, o samurai tem conseguido infiltrar a fantasia sua terra natal. Aqui seguem cinco dos que mais

de uma das maiores bandas desenhadas de culto não só captam o bom espírito do cinema chambara ores ícones.

haw Brothers, o famoso espadachim maneta é a e tanto influenciaram o seu público.

de Jean Pierre Melville passa-se nos tempos idade dum ronin.

pre da Cartoon Network, as aventuras deste balanço essencial entre humor e chambara.

r samurai tuga desde Nemuri?

fevereiro 2009 o estilo chambara sobrevive nem tanto como género autêntico e mais como ponto de referência para tributos e paródias convencional, mais raiva, mais sexo, mais sangue. Numa indústria cada vez mais ameaçada pela concorrência da televisão, a regra era recorrer ao sensacionalismo. E ninguém era sensacionalista com tanto brio como Kazuo Koike. Certamente um dos nomes mais importantes na história da manga, Koike tinha passado a década anterior a criar aventuras soturnas, um pouco perversas e descomplexadamente violentas para um público de leitores ávidos. Sentindo o potencial comercial do artista, a indústria cinematográfica japonesa lançou-se numa vaga de adaptações das suas obras. Primeiro veio “Sword Of Vengeance” (1972), em que Tomisaburo Wakayama (irmão de Shintarô “Zatoichi” Katsu) encarnou a mais famosa criação de Koike, Ogami Itto. Protagonista da série “Lone Wolf & Cub”, Itto é um ronin desgraçado que oferece os seus serviços como assassino profissional, acompanhado sempre pelo seu pequeno filho Daigoro. Com uma carrinha de bebé equipada com armas de fogo e mais angústia existencial do que mil Humphrey Bogarts, a série “Lone Wolf & Cub” foi um sucesso estrondoso. Rapidamente seguiram-se mais adaptações de Koike: “Lady Snowblood”, protagonizada pela carismática Meiko Kaji, usava o seu enredo duma espadachim sedenta de vingança para passar subtextos de solidariedade para com o movimento esquerdista japonês, enquanto que Katsu aproveitou talvez a criação mais bizarra de Koike nos três filmes de “Hanzo The Razor”. Hanzo, uma espécie de Dirty Harry do Japão feudal, é um agente da lei frustrado pela corrupção das autoridades e empenhando em trazer a justiça sem olhar a meios. Mais bizarro ainda que a banda sonora blaxploitation dos filmes é a dimensão sexual da personagem – Hanzo “interroga” invariavelmente as núbeis

suspeitas oferecendo-lhes prazer com o seu “enorme membro” (a proeza deste é referida até mais não nos filmes), altura após a qual estas magicamente se viram para o lado do bem e lhe ajudam a capturar os vilões. O primeiro filme Hanzo, “Sword Of Justice” (1972), possui um misto alucinante de acção, crítica social, humor negro, perversão sexual, funk e momentos puramente WTF. Infelizmente as sequelas – mais claramente exploitation – não conseguiram manter o charme bizarro dum filme que passa de pseudoviolações com intuito cómico para crónicas trágicas da pobreza nas cidades como se nada fosse. Com o avançar dos anos setenta, o chambara foi perdendo adeptos. Monstros gigantes, banhos de sangue yakuza em cenários modernos e pornografia softcore apelavam mais ao espírito dos tempos do que samurais solenes. Quando o interesse pelo período Tokugawa se reacendeu nos anos oitenta, os protagonistas não eram espadachins mas sim os ninja, personagens sorrateiras especializadas no tipo de jogo sujo que estava interdito aos samurais. Hoje em dia, a figura do samurai – tal como a do cowboy nos Estados Unidos – é uma parte do ADN popcultural colectivo tão omnipresente quanto saturada. Como tal, o estilo chambara sobrevive nem tanto como género autêntico e mais como ponto de referência para tributos e paródias – apontem-se sucessos recentes como “Samurai Fiction” (1998) de Hiroyuki Nakano e o esforço de Takeshi Kitano em trazer de volta a personagem de “Zatoichi” (2003.) Outra tendência, representada pelos filmes Azumi, consiste em transferir o jogo de espadas para um cenário assumidamente fantasy. Mas se os velhos samurais não voltam, há um espólio considerável de obras a investigar – porque nunca perde a piada ver dois homens em morning suits a trocar golpes.

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G.A.N.A.

JOÃO POMBEIRO

Entrevista com um não-alinhado João Pombeiro, leiriense de 29 anos, é um dos co-fundadores dos GANA, acrónimo para Guionistas e Argumentistas Não-Alinhados, ou seja, os criadores de Bruno Aleixo. Artista plástico de vocação, nos GANA anima, realiza e até escreve. Fora dos GANA não faz nada. A entrevista telefónica por Luís Lago é aqui transcrita na sua totalidade.

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IGUAL – Como é que se juntaram os GANA? João Pombeiro (JP) – Basicamente nós conhecemo-nos há cerca de um ano, ou seja, eu já conhecia o Pedro Santo e ele conhecia o João Moreira e os três juntámo-nos há coisa de um ano. E basicamente foi para fazer projectos, já tínhamos ideias, já fazíamos coisas separados, já fazíamos coisas em grupo. Por exemplo, eu e o Pedro Santo trabalhávamos nos webisódios do Nuno Markl – eu realizava, ele escrevia – o Pedro

Santo e o João Moreira trabalharam juntos no Boa Noite Alvim e foi assim que nos juntámos. Eu já conhecia o Pedro Santo há muito tempo e conheci o João Moreira através do Pedro Santo. IGUAL – E como é que começou a trabalhar nos webisódios do Nuno Markl? JP – Nós conhecemos o Nuno Markl através da net, com comentários no blogue dele e etc. Na altura também tínhamos blogues e fazíamos assim umas coisas e ele

gostou do nosso trabalho e acabou por nos convidar para participar neste projecto. IGUAL – E a ideia do Bruno Aleixo como surgiu? JP – Inicialmente foi feito a pensar para um vídeo que era com o Fernando Alvim, uma coisa assim do género e depois acabou por não ir para a frente (acho que era para os Incorrigíveis). Basicamente o Bruno Aleixo era amigo do Alvim, tinha morrido e tinha-lhe deixado uns conselhos numa cassete. Pegá-


mos nessa ideia dos conselhos e fizémos os conselhos separados para a internet uma vez que o projecto não avançou. Alguém sugeriu um ewok, que seria o amigo ewok do Alvim, os conselhos também já estavam pensados uma vez que alguns dos conselhos são baseados em coisas que aconteceram na realidade. Também havia uns testes de animação daquele género que o Bruno Aleixo tem. Juntaram-se esses factores todos e acabou por surgir o Bruno Aleixo. IGUAL – Pode dizer que cenas eram baseadas em eventos verídicos? JP – Todos os conselhos têm um fundo de verdade qualquer, coisas que nos aconteceram que obviamente depois estão ligeiramente adaptadas. Por exemplo, aquela coisa do Corneto com a bolacha mole foi o João Moreira que uma vez comprou um Corneto que tinha a bolacha mole e deve ter ficado a pensar por que é que seria. Coisas desse género. Ou aquele de não dormir todo nu acho que foi o Pedro Santo que morava em Lisboa numa casa, era Verão, estava a dormir de boxers e houve um teste de incêndio e ele teve que sair assim quase nu. IGUAL – Daí para um programa de televisão como foi? JP – Fizémos os três primeiros conselhos e aquilo andou pela net uns tempos, foi divulgado numa série de sítios. Depois disso ainda fizémos o Incorrigível com o Nuno Markl, a convite dele, e depois isso também andou mais uns tempos pela net. A dada altura, quando isso já estava bastante espalhado, fomos contactados pela Sic. Na altura a ideia seria ter os conselhos no canal, mas acabámos por definir juntos um conceito de programa e negociámos a coisa de forma

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a ser o Programa do Aleixo. IGUAL – Quais são as vossas principais influências? JP – Variam muito entre os três, apesar de haver uma série delas em comum. O Moreira gosta de Nós os Ricos, coisas que não tinham piada há dez anos, mas que agora ganharam com o tempo. Eu e o Pedro Santos já é mais coisas do género Office, Arrested Development, Simpsons, Duckman. Obviamente que também há qualquer coisa de Marretas ou de Rua Sésamo neste Aleixo, pelo menos no programa, a coisa do boneco interagir com uma personagem de carne e osso.

mas acabou por ajudar a dar forma ao Programa do Aleixo. IGUAL – Segundo sei também há ideias para uma revista. JP – Não é para uma revista, é um suplemento de imprensa. É uma coisa que está no nosso site, uma referência que temos lá que é o Raio Laser. Mas não está desenvolvida, temos um número zero, mas temos que ver exactamente como é que será feito e quando é que vai sair ou como é que poderá sair. Obviamente que enquanto não acabarmos o Aleixo não desenvolvemos isso, mas é um dos projecto que está pensado. Há mais, há uma série deles.

IGUAL – E quais são os planos dos IGUAL – Para terminar: por que GANA para o futuro? razão usam todos um telemóvel JP – Temos sempre uma série de com 93? É algum desconto, projectos, adaptados até a vários com mensagens grátis e assim? suportes diferentes. Temos JP – (Risos) Não, já éramos todos projectos para imprensa, projectos 93. Aliás essa foi a razão principal que podem funcionar em rádio. pela qual nos juntámos. Aliás, uma das coisas ainda antes Trabalhamos juntos porque somos do Aleixo foram três emissões todos 93 e sai mais barato. experimentais do Rosa Mota na Antena3 que eram introduzidas no programa Nuno&Nando que de alguma forma também influenciou http://joaopombeiro.com o Programa do Aleixo, há uma & http://nao-alinhados.com relação semelhante na estrutura, apesar de ser algo mais primitivo,


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CRÍTICAS

Sempre a curtir

Soulwax, 2manyDjs, Radio Soulwax e “Part of The Weekend Never Dies”. Qual será a relação destes nomes entre si? Para começar, cada um surgiu como que por bola de neve, sucessivamente um depois do outro. Todos estes projectos nascem com o nome dos dois irmãos belgas envolvidos, os irmãos Delaware. Começam, de resto, no princípio do documentário por nos elucidar em relação a todos os quatro nomes, ajudando a separá-los uns dos outros. Soulwax é a banda que Stephen e David criaram com dois amigos. Depois, quando estavam em tour, iam a discotecas e ficavam aborrecidos por isso decidiram criar os 2manyDjs (que também é um nome da banda) para poderem tocar nos clubs. Mais tarde, acharam que conseguiam fazer tudo na mesma noite, tocar como banda, passar som e ainda convidar uns amigos, que é o conceito do Radio Soulwax. Para finalizar o “Part of The Weekend Never Dies” é um documentário que nos fala sobre tudo isto e que serve como motivo deste texto. “Part of The…” transporta-nos numa narrativa fresca e crua, evoluindo dentro de si mesmo e em torno dos projectos e das temáticas de forma confortável. Tão depressa estamos no Japão como no Brasil, ou em outro sítio qualquer, por um dos 120 concertos em que foi filmado este DVD. Não nos consegue aborrecer nem deixar de prender. Cada vez que pensamos que o documentário vai ficar menos interessante surge um pico de êxtase. É super informativo, mas com uma dose de caos simultaneamente, o que faz com que seja apelativo para todo o tipo de fãs da banda. Não é o típico documentário de banda que se limite a narrar uma tournée ou a glorificar a banda. A ideia é mais mostrar os seus elementos como pessoas acessíveis que gostam do que fazem e que querem, de boa vontade, partilhar isso connosco. E os seus amigos, que comentam no DVD (DJs e membros de bandas como Tiga, Erol Alkan, Nancy Wang ou James Murphy) servem de ajuda ao fio condutor documental e comentam o lado humano dos membros. No fundo é isso que este documentário privilegia, um lado humano que não nos tenta vender aquelas pessoas como estrelas rock, mas sim indivíduos interessados pelo que fazem, extremamente dedicados e com bom sentido de humor. Nos extras temos acesso a um vídeo de dez minutos divido em quatro partes, todas elas acontecem em simultâneo. Dão-nos mais do mesmo, humor fresco e dinamismo no que toca a produção. Para alem disso surge também disponível um comentário de Tiga, o DJ que Portugal adora adorar, e também, um vídeo de um concerto da banda Soulwax que é uma montagem de cada um dos 120 que foram filmados, sendo sempre legendado o local onde o vídeo foi gravado. Resumindo: é um bom documentário de banda que nos incentiva a fazer parte do circuito de festas mundial.

por Pedro Ricardo 26

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O sexo dos an

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fevereiro 2009 Randy Newman é um mestre da economia. São muitas as canções na sua obra que não passam dos três, por vezes até dos dois minutos. Os seus álbuns são curtos, e com o passar dos anos têm aparecido a um ritmo progressivamente mais lento. Newman diz o que é preciso e cala o bico. É bem provável que a razão dessa fraca produtividade seja por causa dum excesso de insegurança do artista; afinal de contas, Newman encarna o mesmo arquétipo do judeu neurótico que vemos em Woody Allen e Larry David. Não é de todo improvável que um dia surja uma caixa cheia de demos excelentes que Newman julgou não serem dignas de publicação. Ou então se calhar é o seu trabalho no campo das bandas sonoras (uma área em que é bastante mais produtivo) que lhe rouba a energia para editar mais álbuns. Seja como for, a verdade é que a seguida deste percurso permitiu a Newman criar uma das melhores e mais consistentes obras gerais de qualquer artista da sua geração. “Harps & Angels”, o seu novo disco, faz jus à sua tradição de qualidade. Tirando a excursão hillbilly de “A Few Words In Defense Of Our Country”, “Harps & Angels” é agora o disco em que o cantor mergulha mais assumidamente no mundo da Pop “tradicional”. Em muitos momentos, ficamos com a impressão que estamos a ouvir elementos descartados dum possível musical; várias canções até têm “personagens” referidas no livrinho, como é usual num musical ou numa ópera. Pouco surpreende que o homem que escreveu canções como “Political Science” e “Rednecks” sinta vontade de se defrontar com os eventos dos últimos anos. As posições de Newman em “Harps & Angels” são subtis: ao mesmo tempo que larga veneno sobre a administração Bush, Newman consegue espicaçar tanto o elitismo europeu como a vaidade das estrelas de esquerda. “A Few Words In Defense Of Our Country” é quase uma mini-suite, começando com uma listagem das maiores atrocidades europeias – da decadência do império romano e da inquisição católica até Hitler, Estaline e a exploração belga do Congo – passando daí para um desabafo de raiva contra o tribunal de justiça supremo dos E.U.A., e acabando no tom caustico que Newman tão bem domina: o império americano, diz ele, está a acabar, e lança um último pedido de ajuda – “we don’t want your love/and respect at this point is out of the question/but in this time of trouble, we sure could use a friend”. “A Piece Of The Pie” é de certa forma ainda mais rancoroso, com farpas lançadas a Bono, John Mellencamp e Jackson Browne (ou não fosse Newman o artista que gozou com os Electric Light Orchestra em plenos anos setenta) no meio dum diatribe furioso sobre a situação económica dos E.U.A. – “Jesus Christ it stinks here high and low!” Poucos álbuns conseguiram captar a atmosfera da era Bush tão bem e de forma tão desprovida de pompa. A nível pessoal, há dois weepers daqueles que Randy Newman consegue escrever ao quilo (“Losing You” e “Feels Like Home”); mas mais interessantes talvez serão faixas como “Only A Girl” e “Potholes”. Na primeira, é traçado um perfil duma jovem apaixonante; “why would someone/ beautiful as she/love someone old like me?” remata Newman, em êxtase, mas a felicidade não dura – “maybe it’s the money. Jeez, I never thought of that”. Em “Potholes”, o cantor elogia as falhas de memória como base para todas as relações importantes da sua vida. “Harps & Angels” não é uma obra prima, mas traz algumas canções verdadeiramente notáveis para a obra de Randy Newman.

por Daniel Sylvester

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