IGUAL #01 - parte um

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IONADOR * EDIÇAO DE COLECCIONADOR * EDIÇÃO

IGUAL POPCULT+WEB2.0 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA fevereiro 2009

PINGO TINTO // CINEMA SAMURAI // GANA Web3.0 + Net Tools + YouTube Niches

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IGUAL #01


fevereiro 2009

FICHA TÉCNICA Director Vitalício & Editor: Miguel Carvalho Colaboradores: Pedro Ricardo, Ricardo Alves, Daniel Sylvester, Luís Lago Conteúdo: todos os textos, fotografias e ilustrações são da autoria de Miguel Carvalho excepto se creditados Paginação & Design: Miguel Carvalho Contacto: migueldeazevedocarvalho@gmail.com Propriedade/Edição: Eufaçooquequero PRESS Tiragem: só para os amigos/online Periodicidade: errática (distribuição gratuita) Assinaturas: migueldeazevedocarvalho@gmail.com Site: http://issuu.com/miguelc

Disclaimer: Esta revista é um trabalho académico. As imagens e fotografias que não são da autoria do Director Vitalício, Miguel Carvalho, além de estarem devidamente creditadas, estão aqui presentes sem qualquer fim lucrativo e são contempladas pelo uso justo, ou seja, de total boa fé no contexto académico/ não-lucrativo inerente à IGUAL.


IGUAL #01

Editorial Ignição: podem largar os fogos Alô, este é o primeiro número da IGUAL – sejam bem-vindos. Depois de um bem sucedido e recebido número experimental estamos de volta em Fevereiro para a primeira edição na era Barry Obammy (daí a capa). O meu sentido obrigado a todos quantos mostraram entusiasmo pelo projecto expresso na edição #00, bem como a todos aqueles que colaboraram na feitura da mesma. Lembrem-se, a IGUAL está sempre aberta às vossas colaborações, basta entrar em contacto. A mesma coisa em relação ao feedback. Espaço ainda para uma pequena errata: no último mês vem anunciado na capa “YouTube Niches”, mas por falta de espaço o artigo acabou por não ser incluído. Este mês o cardápio é igualmente forte: duas entrevistas exclusivas, a primeira com o músico português Pingo Tinto, a segunda com João Pombeiro, membro dos GANA e artista plástico e o Daniel Sylvester a escrever sobre o cinema de samurais. Talvez no próximo número se escreva um artigo Piratas VS Ninjas VS Vikings VS Samurais. Por mero completismo. Nesta edição há ainda a colaboração 2.0 do Ricardo Alves, dicas (que coisa mais revista mulherzinha) sobre algumas ferramentas online a explorar e uma lista pouco exaustiva de niches (este mês sai mesmo) e canais portugueses no YouTube. O Centrão de Fevereiro é composto por fotografias do Pedro Ricardo. Este mês não publicamos cartoon, crónica e artigo na secção Culto. Assim é a edição número um – está feita. E está bem bonita. Podem largar os fogos.

Pedro Ricardo

Miguel Carvalho

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ÍNDICE: FOTO DA CAPA

Hawaii Pacific University

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ENTREVISTA: Pingo Tinto

REPORTAGEM: Cinema de Samurais

ENTREVISTA: João Pombeiro dos GANA

O inventor do género Punk Tradicional Português na primeira pessoa.

Cinema de espadas no país do Sol nascente. Snikt!

Entrevista com o nãoalinhado João Pombeiro, um dos autores do Aleixo.

E AINDA: | Na primeira pessoa 08 | | Comentário 09 | Broohaha 10 | | Críticas 26 | Centrão 16 |


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Pedro Ricardo Nasceu em Lisboa, onde reside até aos dias de hoje, e passou os primeiros anos da vida a tirar fotografias ao seu bairro na esperança que anos depois pudesse usar essas fotos no seu perfil do MySpace como uma cápsula temporal sem idade. Depois, quis conhecer os punks da sua cidade, mas anos depois percebeu que provavelmente não era a sua onda e começou a interessar-se por música electrónica até se tornar DJ. Passeou por Viseu onde se enamorou por uma moça de faces rosadas e personalidade cativante. Quase sem dar por isso foi convidado para colaborar na revista Rua de Baixo. Está a escrever guiões para uma série em formato “mockumentary” e para uma curta-metragem em nome próprio. Também toca guitarra.

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COLABORADORES

Ricardo Alves Nascido no Alto Minho, acontece com frequência ver o seu determinismo ideológico ser associado à proveniência geográfica (terra de bom comer e beber). No Porto divide o seu tempo entre os estudos e a inactividade total, traço de perfil que origina as mais diversas chalaças. No primeiro curso em que se matriculou aprendeu a gostar de misturar cartas com álcool, mas os professores insistiam em chumbá-lo, portanto agora quer jornalista. Anda à procura da sua continuidade conceptual – até agora tem procurado nos sítios errados. Tem uma paixão irracional pelo Godzilla e também gosta de cinema, sendo visto a deslizar pelos ecrãs dos plasmas das faculdades da cidade. Já foi reconhecido na rua graças a isso.


fevereiro 2009 Daniel Sylvester

COLABORADORES

Nasceu em Hamburgo e cedo causou polémica ao dizer que era tão conhecido como os Beatles. Como nunca lhe perdoaram a afronta voou até aos Açores onde estudou até concluir o liceu. Mesmo a tempo de conhecer o Ronaldo, colega que uma vez desenhou uma professora a parir um bezerro. Quis contar-nos essa estória e então veio para o Porto onde aprendeu a odiar o seu curso. Mas como fez bons amigos deixou-se ficar. Tem dois gatos (um casal de irmãos) e é frequentemente gozado no círculo de amigos pelas posições humanistas e razoáveis que teima em defender. Não se separa da sua Nintendo DS e a sua tartaruga ninja preferida é o Rafael. Se fosse ele a mandar o Presidente do Mundo era Sonic, o ouriço radical.

Luís Lago Nasceu numa vila remota do Minho vinhateiro onde passou a sua infância e fez os seus estudos. Angustiado pelos amigos invariavelmente dispensáveis veio estudar para o Porto onde continuou o seu historial de fazer amigos e inimigos em igual dose. Fez parte de uma banda punk lo-fi chamada Doença Terminal graças ao Windows 95. Tem vindo a cultivar um amor incondicional por temas como política, humor, teatro revisteiro e EUA. Não percebe as pessoas que se levam a sério. As suas expressões preferidas são "toma!", "e tu, e tu?", "a tua prima!" e "és?". Gosta de admitir que não percebe nada de música. Todos os aspectos trágico-comicos lhe parecem típicos da sua terra natal. É famosa a sua imunidade ao frio.


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Na primeira pessoa por Daniel Sylvester

O programa do Aleixo

Admito: quando ouviu falar pela primeira vez de Bruno Aleixo, torci o nariz. Um ewok a falar português, que engraçado. Enfim, mais um meme para pobres, mais uma referência pop-cultural do mais básico que existe. Mal sabia eu o quão errado estava. “O Show Do Aleixo” é facilmente a melhor produção nacional nos ecrãs televisivos de hoje, uma adaptação da escola de humor Adult Swim (tão fácil criar o paralelismo entre a dupla Bruno/Busto e a equipa Space Ghost/Zorak que inaugurou essa estética na Cartoon Network) para um contexto bem português. Após anos de mostrar desdém pelas pessoas que citam rábulas do Gato Fedorento, damos por nós a entoar em refrão o “ai cá burro!” como os vis hipócritas que somos – é assim tão viciante o humor de Bruno Aleixo. A equipa do Aleixo domina como mais ninguém a capacidade de escrever na voz do sujeito mais irritante na aldeia, com o seu vernáculo (os filmes são “de rir” ou “de porrada”) e os seus passatempos (os clássicos jogos de possibilidades envolvendo cocó e “ninjers”.) Mas ao mesmo tempo, o programa é profundamente cosmopolita, largando referências a pérolas tão obscuras da cultura pop internacional como Sonny Chiba e o Lone Ranger. Mas atenção: os Não Alinhados são mais do que só o ewok-tornado-cão que todos conhecemos. Acedendo ao canal de vídeos da Cena no Vímeo, encontramos por exemplo o magnífico “Humor de Salão”. Aqui, o fetish oitocentista já bastante patente na apresentação gráfica do “Show do Aleixo” reina por completo: trata-se duma série de pequenos vídeos em que um maroto empregado d’”A Brasileira” delicia o seu cliente com piadas, às quais este responde quase invariavelmente “você é um ponto!! Um ponto!!”; o conceito simplista permite que o “Humor de Salão” seja talvez a melhor demonstração do talento dos Não Alinhados na área de guião e voz. Há pontos fracos, é certo, notoriamente nas “Legendas”, um conceito um tanto batido que explora de forma demasiado óbvia a combinação de humor típico e lixo pop-cultural que define a estética dos Não Alinhados. Mas mesmo nos exemplos mais primitivos – as rábulas feitas para Fernando Alvim, por exemplo – está presente um amor profundo pela história, tão cinzenta e desajeitada, da cultura Pop portuguesa. Três vivas para os Não Alinhados, verdadeiros patriotas! O “Show Do Aleixo” é transmitido todos os Domingos às 20:30 na Sic Radical. Os outros vídeos dos Não-Alinhados podem ser consultados em http://www.vimeo.com/cena

DR

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DR

Comentário

Fado do Emigrante

“Não emigres!” é o lema frouxo da nova grelha da SIC Radical. É claro que a SIC já nos habitou há muito tempo ao mau gosto e ao egocentrismo na sua publicidade (oh, boas memórias das gargalhadas que demos no Fantasporto cada vez que a sua propaganda azeiteira iluminou o ecrã); o que dói é que a SIC Radical – apesar de todas as suas falhas, um dos canais que mais tem valido a pena ver a nível nacional – escolheu um mote tão pomposo num momento em que a sua programação é tão patética. Convenhamos: a SIC Radical sempre foi o lar de muitas séries más, dos utensílios de masturbação mais deprimentes (ah, “Girls Gone Wild”, as erecções que tu não nos deste!) e da nostalgia barata (ei pessoal, lembram-se do “Knight Rider”????) Mas ao longo da sua existência, deu-nos também alguma da programação mais tolerável da televisão portuguesa: “Twin Peaks”, “Freaks & Geeks”, “Buffy”, “Dr.Who”, a ficção científica clássica da “Twilight Zone” e dos “Outer Limits” e até mesmo os Gato Fedorento na sua fase mais semi-decente a isso atestam. Exceptuando o venerável Bruno Aleixo não esperamos grande programação original da SIC Radical, mas esta tem nos habituado, ao menos, a uma certa percentagem de bom gosto nas séries redinfundidas. De momento, no entanto, a estação encontra-se num ponto baixo tremendo e as novidades que são vendidas com o estridente lema do “não emigres!” (acompanhado pelos sons dos Arcade Fire – SIC Radical, a 2004 está ao telefone e diz que quer a sua música de volta) pouco irão ajudar para que esta situação mude. Mas a SIC Radical não é burra por completo; na verdade, sabe que por muito maus que sejam os seus novos programas, têm um trunfo: não são o “Comedy Inc”. E quando uma estação conseguiu transmitir aquilo que não só é um dos piores programas de todos os tempos mas uma das maiores atrocidades cometidas pela humanidade nos últimos séculos, tudo o resto vai sempre aparecer bom em comparação.

por Daniel Sylvester


BROOHAHA

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Net Tools dipity.com ou timerime.com Tem imensa utilidade para quem está na idade de fazer projectos de Área Escola. As cartolinas podem ser consensualmente uma coisa do passado, mas impressionem professores e colegas usando estes sites para construir timelines, ou linhas cronológicas em português. Agora sim, a evolução do homem primitivo e as dinastias dos faraós no antigo Egipto parecem claras e compreensíveis. Agora sim, a história das doenças mais assassinas está completa. Agora sim, podemos finalmente compreender a ordem de todos os jogos Final Fantasy nos EUA e Japão. Obrigado internet! royaltyfreeinstrumentals.com Se o objectivo é ser um YouTube Partner uma das condições é possuir os direitos das músicas que usamos nos nossos vídeos. Há três soluções: ou temos amigos em bandas de estilos variados, ou pedimos aos artistas cujas músicas 10 pretendemos usar ou então lavamos as 10

mãos por completo e vamos buscar a componente sonora a este site, onde todos os ficheiros são livres de direitos autorais. Depois é só cumprir os outros requisitos impostos e gozar os privilégios dos users feitos Partners. Resta dizer que os ficheiros estão ordenados por estilo, por data e por ranking. Se usarem alguma das músicas não se esqueçam de o dizer na informação do vídeo – a netiqueta é sempre bem-vinda. poladroid.net Que milagre de marketing é este em que um produto e uma marca produtora se fundem numa única identidade. Poucas coisas são mais autênticas do que fotos polaroid. Agora que as clássicas imagens estão enterradas a internet salva os mais nostálgicos. O Poladroid é uma aplicação para download gratuito que permite emular as famosas fotos instantâneas. O Poladroid é já um sucesso global, contando até com grupo no Flickr. A aplicação é muito fácil de usar e emula o mais que pode o feeling das originais polaroids. Para utilizadores de Windows e Macintosh e só ocupa uns poucos MB.

Lomoistas,

roam-se

de

inveja.

handmaps.org Chegar aos sítios pode ser uma complicação. Mais vale mesmo ir preparado. Se acham que os guias Le Cool são a última novidade desenganem-se. Na época do material user-generated até os mapas são criados e partilhados por anónimos entre anónimos. A Hand Drawn Map Association pretende ser um arquivo em construção de mapas desenhados à mão e submetidos, independentemente do local, pelos cibernautas. As contribuições já ultrapassaram a centena. Poético e útil, logo belo. animoto.com Existem imensos sites de partilha de vídeo e os softwares de edição são variados. E depois existem as ferramentas online. O Animoto é uma delas: útil, gratuita até um certo ponto, versátil, fácil de usar. O slogan é “o fim dos slideshows” e o que o Animoto permite é um híbrido entre o slideshow e o vídeo. A música está lá, depois seguem-se as fotografias. Não encadeadas sequencialmente como num slideshow, mas num


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hiperformato em que as imagens aparecem a dançar no ecrã, quase como um pequeno promo ou a introdução de um telejornal. O Animoto analisa as fotos e adequa o som às transições, três vivas ao seu algoritmo! Depois é guardar, fazer upload no YouTube e ser gozado por se ter feito um slideshow. Fica mais bonito, mas as fotos daquelas férias no Egipto em Agosto vão continuar a ser aborrecidíssimas. youtomb.mit.edu Ocasionalmente o YouTube é forçado a retirar alguns vídeos por quebrarem direitos de autor. Normalmente a perda é suportável, mas ainda assim criticável. O YouTomb é um projecto de estudantes do MIT que formam o grupo MIT Free Culture. O site pretende ser uma base de dados actualizada sobre os vídeos retirados do YouTube e as razões sucintas para o sucedido. Actualizada, mas não abrangente: só cobre os vídeos mais vistos. A razão é tão logística como lógica, já que seria impraticável abranger todos os vídeos. Os vídeos retirados são listados, mas não é possível visualizá-los (o que é realmente uma pena). DR

Web semântica: português premiado

Formado no ISEP e membro do GECAD (Grupo de Investigação em Engenharia do Conhecimento e Apoio à Decisão) naquela instituição desde 1995, Nuno Silva foi premiado com o Best Paper Award do Eurographics 2008. “O artigo tem como objectivo a redução do trabalho inerente de um utilizador da internet na visualização de informação, e nomeadamente de informação tabular”, explica o seu autor. Para Nuno Silva os computadores são inúteis se não processarem informação pelo utilizador, ou seja, se não souberem interpretar quem os usa. É aí que incide o trabalho de Nuno Silva, no estudo de apresentar “tabelas em termos gráficos, enfatizando determinadas dimensões de cada tabela para que seja possível interrelacionar esses dados”, capturando o significado de cada página. Quando alguém criar uma descrição da informação da página estaremos a criar “meta-informação, que é a semântica da informação – é isso a web semântica”.

O termo Web3.0 causa alguma polémica, de resto, como aconteceu e acontece com o predecessor Web2.0, mas Nuno Silva diz estar à vontade com a terminologia: “isto é Web3.0, ou seja, retirar conhecimento de factos sintácticos, são algarismos e palavras, quando se extrai informação com semântica para o interior da aplicação aquilo passa a dizer alguma coisa ao computador, de tal forma que a informação começa a fazer sentido”.

DR

por Ricardo Alves Entre as várias teorias sobre o caminho que a web semântica irá seguir há duas mais discutidas. Uma apoia-se na Web 2.0 e nas bases de dados criadas pelas redes sociais, e outra na criação de uma espécie de inteligência artificial, em que os computadores extraem automaticamente conhecimento de um dado sintáctico. Para Nuno Silva as duas hipóteses parecem “perfeitamente conciliáveis e complementares. Acho mesmo fundamental que as duas se interliguem”. Subsiste a dúvida se a construção da Web3.0 estará nas mãos do utilizador comum ou se será necessário passar o controlo desta para entidades e corporações. Nuno Silva acredita que qualquer pessoa pode e deve continuar a poder dizer o que lhe apetece. “A internet somos nós. Há conceitos a ser desenvolvidos, nomeadamente micro formatos ou o “friend of a friend”, que é algo utilizado nas redes sociais mas que pode ser formalizado de maneira a que o computador o compreenda. Calculando o grau de proximidade entre duas pessoas é possível extrapolar a veracidade ou não do que uma diz sobre a outra. Mas não acho possível as pessoas poderem ser retiradas desta construção”. É verdade, a internet somos nós.


Paródia à publicidade das Galerias JUP



IGUAL #01

Tubers portugueses É difícil sentir empatia pelo YouTube "português". Canais ou users não faz diferença, a relação é quase sempre de distância. Pessoalmente, os únicos amigos portugueses que lá tenho são pessoas realmente minhas amigas – os não portugueses são só uma espécie de subscrição de segundo grau ou simpatia cibernética. Será assim tão difícil conhecer portugueses com gostos em comum (ainda que por memes)? É, sim. Para começar há a dificuldade da língua: pode ser complicado adivinhar a nacionalidade de um user pelo nick ou pela língua que usa para escrever. Barreiras linguísticas à parte, sinto que o “meu” YouTube é outro, diferente do “nacional”. O YouTube português parece limitado a sentimentos clubistas, falta de sentido de humor, repetição de excertos televisivos e alguma (pouca) nostalgia. Depois há ainda as discussões mais ou menos acéfalas entre portugueses e brasileiros, seja pelo domínio da língua ou pelo simples insulto cultural vazio e oco. Há, felizmente, algumas excepções, raras mas felizes. Vamos a elas neste minitour por alguns canais que vale a pena conhecer.

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visão e o programa de notícias. Há pérolas que brilham mais intensamente como "Asno Selvagem" ou “Missão Altamente”, esta última dividida em duas partes merece uma visualização livre de preconceitos. b)Krana123 O seu nome é João e é o reviewer português de Transformers melhor sucedido. O grupo de fãs no Facebook comprova-o. O uso inventivo do inglês, as expressões faciais e a escolha das figuras são os aspectos que o justificam. Um monumento audiovisual a esse bonito purgatório que é o “mockingcelebrating”.

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mas o que é digno de ver é a forma descomplexada como Francisco contorna problemas logísticos e produz vídeos bem-humorados. A mitologia vai longe ao ponto de podermos falar num Francisoverse – notável.

Como é possível perceber pelo número de exemplos, está é apenas uma amostra. Ainda assim a ideia é tirar da relativa obscuridade talentos que o grande público devia conhecer. Nem só de Anas Frees se faz o nosso YouTube. Não há, que eu conheça, um utilizador português que faça produção digna desse nome para o YouTube; ou é o amadorismo, ou a falta de talento, c)Ramada7 o certo é que a vocação principal Esta podia ser apenas uma daquelas parece continuar a ser a de contas que provam a futilidade do repositório de filmes gravados com amadorismo no YouTube mas por telemóvel ou promoção de bandas. alguma razão os vídeos do Hugo e seus amigos são óptimos. Eles fazem jornalismo ("Entrevista ao super dragão"), eles inspiram-se na Enid Blyton ("Uma aventura") e YouTube Niches são eternamente jovens ("O Há muito que cheguei à conclusão tombo do Carlão"). que adoro nichos no YouTube. O que não é de estranhar já que os d)FranciscoCristo nichos per se são um factor persona)EufaçooquequeroFilms Um verdadeiro faz-tudo. O original alizante e o YouTube é bestial – as São pouco mais de 20 vídeos que uso da voz feminina brasileira do duas coisas juntas resultam muito oscilam entre a curta-metragem, o Microsoft Sam conquistou-me, bem, além de funcionarem mar14 vídeo amador, o anúncio da tele12


fevereiro 2009 avilhosamente para mostrar aos do jogo a gosto. O outro, mais amigos o net-seeker dentro de nós. radical, é um teste de paciência e uma competição quem-é-queO YouTube está pejado de memes. morre-mais-rápido já que os níveis Há quem se dedique apenas a são de uma enorme complexidade. monitorizar o surgimento de Pessoalmente, não tenho favorito. tendências no portal. Mas pouco É tão agradável ver novas nos interessam os vídeos sem roupagens para um jogo com quase camisa, ou em feedback, ou cinco duas décadas, como assistir a impossíveis só factos que desconhecíamos sobre manobras os autores, ou dobragens, ou permitidas às mentes (e dedos) propaganda anti-Cientologia, ou mais concentradas. Experimentem seguintes tags: “how to draw”. É preciso escavar as um pouco para descobrir contas, SMW+custom+lunar+magic+ users e vídeos que exemplificam a chamillionare64. mais-valia fabulosa que é o YouTube: janela para a intimidade b) O vídeo random e talento alheios. Não estamos a Não há dia que passe em que não falar necessariamente de nichos lamente ter feito testes de proto-secretos, apenas de vídeos orientação vocacional num mundo que nunca seriam “featured” pelo sem YouTube. Este género é um portal. Mas que, pela sua dos motivos. Não sei se existe uma qualidade, merecem ser vistos. denominação comummente aceite, mas eu chamo-lhe o vídeo random. O vídeo random tem duração a) SMW hacking Vamos esclarecer uma coisa: o variável e não apresenta assunto Super Mario World (SMW) para a identificável, tão pouco qualquer SNES é, provavelmente, o meu propósito que não seja o de fazer videojogo preferido – de sempre. O rir. É mais um exemplo acabado do da internet, facto de ser realmente bem canibalismo desenhado e programado, factores alimentando-se de produções da a que se associam uma web, justapondo-as numa sucessão banda-sonora tão ajustada como frenética de quem sofre de ADD. icónica, ajuda-o a passar o teste do Um dos seus grandes méritos é a tempo. Mas fazer o hacking de viagem nostálgica porque geralcartuchos não é coisa nova, mesmo mente os autores recuperam no universo de Mario Mario. Em imagens que são verdadeiros 2002, Cory Arcangel ficou marcos na odisseia online. conhecido pelo seu trabalho na área Consegue ter muita piada, mas é de Media Art, “Super Mário preciso estar na disposição certa. Clouds”. Hoje em dia são vários os As tags: ZPYZ+zpiz+zpic+Ivan. gamers/hackers/game-designers que dão nova vida ao SMW, um c) Upsidedownvideo pouco à imagem do que acontece Sempre quiseram ver determinado com outros jogos muito populares vídeo de pernas para o ar? Se ainda (o Classic Doom 3 é um exemplo não estiver online, podem sempre tão paradigmático como belo). Da experimentar pedir ao user Upsideenorme oferta disponível é possível downvideo. Pode ser que ele aceda. identificar dois estilos: o primeiro, A alternativa é serem vocês a fazêmais clássico, limita-se a construir lo, assim como assim não é um muito exigente níveis na óptica do prolongamento processo

tecnicamente. A ideia parece não trazer nada de novo ou divertido, mas é incrível ver como um simples truque de magia, jogada de snooker ou golo num jogo de futebol ganham uma vida nova quando estão ao contrário. Os meus vídeos preferidos são os que envolvem algum tipo de geometria como acontece nos desportivos. É difícil saber se existe um culto no YT dedicado ao upsidedown-ismo, mas o certo é que a conta foi fechada. Da última vez que conferi havia 25 vídeos e 15 subscritores. Não se riam da beleza do inútil, apreciem-na. d) YouTube poops Os YouTube Poops são um fenómeno online, um tipo de vídeo e uma maneira de estar na vida. São também, e de longe, o nicho mais “mainstream” desta lista por isso ficaram para o fim. Os poops consistem em produções de vídeo-glitch, fazendo pouco ou nenhum sentido (oh absurdismo!) e montados à base de jogos de vídeo ou de antigos desenhos animados, filmes ou anúncios. As imagens são depois repetidas, aceleradas, desaceleradas, dobradas, retorcidas, violadas, saturadas cromaticamente – enfim, a imaginação é mesmo o limite com o bizarro total por objectivo. Resta dizer que é preciso escavar bem para encontrar bons poops, não sendo menos verdade que alguns se tornam clássicos (ao mesmo tempo que providenciam frases citáveis). Mas para perceber o conceito nada melhor do que ver poops. Aqui estão as tags para um muito bom, depois é só ir explorando: i+will+change+this+tag+in+a+ minute+Deepercutt.


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