as 13 respostas sobre demĂŞncia
dr. joĂŁo massano neurologista
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1 - Dr. João Massano consegue explicar-nos, de uma forma muito simples, o que é a demência? A demência é uma situação caracterizada pelo declínio das funções cognitivas da pessoa, que implica uma deterioração da capacidade de realização das actividades habituais. Em geral a evolução é progressiva, sendo afectadas primeiro as mais complexas e, depois, as mais simples.
2 - O stress pode causar demência? Não há estudos científicos que demonstrem uma relação directa de causalidade. No entanto há factores que estão associados a uma vida stressante, como má qualidade da alimentação e do sono, consumo de tabaco e outros - estes sim têm sido associados a um risco aumentado de demência
3 - Sabemos que a demência pode ser resultado de doenças como Parkinson, Creutzfeldt-Jacob, Huntington ou Alzheimer. É hoje possível saber com clareza quais as causas da demência? Existem inúmeras causas de demência, sendo as mais frequentes as neurodegenerativas, nomeadamente a Doença de Alzheimer. A demência associada à doença vascular é também uma causa muito frequente, sendo esta prevenível de uma forma muito particular, se houver um bom controlo de factores de risco vascular.
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4 - É possível reverter uma demência? Nalgumas circunstâncias sim, apesar de pouco frequentes mas de diagnóstico muito importante precisamente pela possibilidade da sua reversibilidade ou, pelo menos, melhoria muito significativa seguida de estabilização
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clínica. Incluem-se neste grupo alguns tumores intracranianos, algumas doenças auto-imunes, alterações da tiróide e défices de algumas vitaminas.
5 - A identificação e tratamento precoces são importantes na forma de evolução da demência? A intervenção precoce é importante no sentido de rastrear e tratar causas reversíveis e, nas situações crónicas, informar devidamente a pessoa e a família. Desta forma é possível aos interessados perceber a situação e lidar com ela da melhor forma, muito particularmente o cuidador e família.
Os medicamentos disponíveis actualmente melhoram os sintomas da doença, mas não demonstraram a capacidade de impedir a progressão da mesma.
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entrevista dr. joão massano
alimentar prevenir
6 - Dr. Massano os exercícios/jogos mentais podem diminuir o risco de algumas formas de demência? Consegue dar-nos exemplos? Tanto quanto se sabe esses exercícios, só por si, não terão capacidade de diminuir o risco de demência, mas é provável que a vida intelectualmente activa de uma forma mais global tenha efeito benéfico neste sentido. Em todo o caso sabemos que pessoas com altos níveis de escolaridade têm menor risco de vir a desenvolver demência do que os menos literados, porque criam uma maior "reserva cognitiva" que permite compensar
uma eventual perda neuronal provocada por este tipo de doença. A escolarização é uma forma útil e inteligente de prevenir a demência.
7 - Como está a investigação sobre a demência ao nível de fármacos? Estão em investigação, em diversas fases, vários fármacos destinados a tratar eficazmente a demência, sobretudo a Doença de Alzheimer. Estes medicamentos têm sido criados de forma a tornarem-se cada vez mais específicos na sua forma de actuação em relação aos próprios processos que caracterizam a doença.
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Por isso, apesar de a comunidade científica ter a noção de que muitos não chegarão sequer a entrar no mercado, existe a esperança de que os fármacos do futuro sejam mais eficazes no tratamento da demência.
8 - Com o aumento da esperança média de vida a demência tem tendência a aumentar? Sim. As demências mais importantes, nomeadamente a Doença de Alzheimer e a Demência Vascular, aumentam de prevalência com o aumento da idade média da população. Por isto se diz que estamos perante uma epidemia eminente, uma vez que a população mundial está a envelhecer a um ritmo preocupantes. Os números revelam que nos próximos 40 anos teremos no mundo 2 a 3 vezes mais pessoas afectadas com Doença de Alzheimer, a não ser que se encontrem formas mais
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eficazes de prevenir a doença. No entanto há demências não relacionadas com a idade e que tendem a surgir em idade mais jovem: refiro-me sobretudo à Demência Fronto-Temporal, que surge geralmente entre os 50 e os 60 anos, e que se caracteriza por um quadro clínico particularmente perturbador - em relação a esta situação há infelizmente um desconhecimento generalizado da população e uma incompreensão que lhe é proporcional.
9 - verdade ou mito... a prática de actividade física regular diminui o risco de demência? Sim. Provavelmente não só o exercício físico mas sobretudo um estilo de vida saudável de uma forma mais global, incluindo também dieta saudável, sem consumo tabágico e com consumo moderado de álcool. Também o controlo de factores de risco vascular
(hipertensão arterial, diabetes, colestero l elevado) contribui para diminuir o risco de demência. Tudo isto é válido para a demência vascular mas também para a Doença de Alzheimer.
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10 - verdade ou mito... a pessoa com demência deve ser contradita nas suas afirmações ou pelo contrário deveremos concordar com as afirmações (apesar de estarem longe da realidade)? Nem sempre é fácil perceber qual a melhor forma de lidar com as afirmações incorrectas de alguém com demência e a actuação deve depender da fase da doença em que a pessoa está, ou seja das suas reais capacidades. Numa fase mais inicial é adequado tentar corrigir a pessoa, no sentido de a orientar para a realidade, tentando maximizar as suas capacidades e
autonomia. Em todo o caso, isto deve ser feito sem censura ou agressividade, pois isso levará a penas a que a pessoa fique deprimida ou revoltada, sem resultados positivos. Nas fases mais avançadas a correcção não é eficaz em geral, pelo que a iniciativa de quem o faz deve ser pautada pelo bom senso, devendo ser iniciativas pontuais e apenas em circunstâncias em que haja utilidade para tal.
11 - verdade ou mito... o doente com demência não sofre com a doença pois não tem consciência da realidade? A consciência da situação varia muito com o tipo de doença específica e a gravidade da mesma, pelo que não há uma resposta genérica a esta questão. Alguns doentes mantêm consciência de que algo não está bem até
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muito tarde no curso da doença, enquanto outros perdem muito rapidamente a noção da situação. A sensação que os médicos têm é que o sofrimento é menor nos doentes que não têm crítica para a situação.
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12 - verdade ou mito... os alimentos antioxidantes de que são exemplo os frutos vermelhos diminuem o risco de demência? Os dados são escassos em humanos, mas tudo indica que sim. Os frutos vermelhos e outros componentes alimentares têm substâncias designadas de polifenóis, que têm uma potente actuação antioxidante. Esta acção é importante em situações como a Doença de Alzheimer, onde os processos oxidativos são importantes na morte celular.
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Há estudos muito interessantes nesta área mas será necessário fazer um estudo de grandes dimensões para esclarecer melhor este assunto, uma vez que poderia ser uma estratégia preventiva muito interessante com repercussões na saúde pública.
13 - verdade ou mito ... o consumo de chá, mais concretamente o chá verde, diminui o risco de demência? A situação é semelhante à dos frutos vermelhos. Há bons indicadores, mas faltam dados
mais consistentes em estudos clínicos bem desenhados e de grandes dimensões. Em todo o caso é muito provável que sim, mas o consumo de chá verde teria de ser muito elevado em termos de volume diário para se obter um efeito clínico significativo,
pelo que talvez fosse útil tentar sintetizar as substâncias úteis e comercializá-las em produtos com elevada concentração, após demonstração da sua eficácia e segurança em estudos clínicos. Um outro composto que tem de-mostrado eficácia na diminuição do risco de demência é o café - ao que parece consumidores regulares de café têm menor risco que os não consumidores.
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