ISSN 1808-7191
A REVISTA DO MÉDICO VETERINÁRIO
Indexação Qualis
ANO 19 - Nº 110 - MAR/ABR 2016
RADIOGRAFIA Nosso Clínico - n.110- Ano 19 - Março / Abril 2016
intraoral de toda a boca (relato de casos clínicos)
• A prática da avaliação audiológica em cães com Otopatias através da Audiometria de Impedâncio e Teste do Reflexo Acústico ENCARTE: •Hiperparatireoidismo secundário à doença renal crônica em felino: relato de caso • Síndrome Metabólica em cadela da raça Schnauzer (relato de caso e revisão de literatura) • Análise comparativa de estruturas do aparelho reprodutivo de machos e fêmeas de Cobaias www.nossoclinico.com.br
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MEDICINA VETERINÁRIA PARA ANIMAIS DE COMPANHIA
SUMÁRIO
Foto Capa + Foto Destaque 1: Odontovet
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A prática da avaliação audiológica em cães com Otopatias através da audiometria de impedâncio e teste do reflexo acústico
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Radiografia intraoral de toda a boca: relato de casos clínicos
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Hiperparatireoidismo secundário à doença renal crônica em felino: relato de caso
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Síndrome Metabólica em cadela da raça Schnauzer (relato de caso e revisão de literatura)
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Análise comparativa de estruturas do aparelho reprodutivo de machos e fêmeas de Cobaias
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Foto Destaque 2: Desire Lopez
“NÓS APOIAMOS A CAUSA DOS ANIMAIS” Para mais informações visite:
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Colunas 44
Encarte: Clínica de Marketing
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Nosso Clínico. - - vol. 1, n.1 (1998) - . -- São Paulo : Editora Troféu, 1998 il. : 21 cm Bimestral. Resumos em inglês, espanhol e português. ISSN 1808-7191. 1998 - 2008, 1-11 2016, 19 (n.110 - mar/abr 2016) 1. Veterinária. 2. Clínica de pequenos animais. 3. Animais silvestres. 4. Animais selvagens.
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A prática da avaliação audiológica em cães com
através da Audiometria de Impedâncio e Teste do Reflexo Acústico “The practice of evaluation in dogs with audiological ear diseases through impedâncio audiometry and reflection of acoustic test”
FONTE: DESIRE LOPEZ
“La práctica de la evaluación audiológica en perros con enfermedades del oído por medio de la audiometría de impedâncio y prueba del reflexo acústico”
Desire da Cunha Latorre Lopez* (dradesirevet@yahoo.com) Fonoaudiologa e M.V. - Autônoma Tania Parra Fernandes (tania.fernandes@metodista.br) Profa. MSc., Docente da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Metodista, SP * Autora para correspondência
RESUMO: As avaliações audiológicas são utilizadas pelos otorrinolaringologistas para o diagnóstico das otites em medicina humana auxiliando na detecção e identificação do tipo e grau das hipoacusias. Na medicina veterinária existem poucos estudos, devido ao custo dos equipamentos e a prática pouco conhecida. Este trabalho tem por objetivo demonstrar como realizar uma audiometria de impedâncio bem como a análise e interpretação de resultados. Foram avaliados dois grupos de animais contendo 10 em cada grupo, com queixas e sem queixas de otopatias atendidos no setor de dermatologia da Universidade Metodista de São Paulo. Unitermos: otopatias, hipoacusia, canino ABSTRACT: Audiological evaluations are used by otolaryngologists for the diagnosis of ear infections in human medicine aiding in the detection and identification of the type and degree of hypoacusis. In veterinary medicine there are few studies, due to the cost of equipment and practice little known. This paper aims to demonstrate how to perform with impedâncio audiometry and the analysis and interpretation of results. Two groups of animals containing 10 in each group, with no complaints and Ear Diseases complaints in dermatology sector of the Methodist University of São Paulo. Keywords: ear diseases, hardness of hearing, canino RESUMEN: Evaluaciones audiológicas son utilizados por los otorrinolaringólogos para el diagnóstico de infecciones del oído en la medicina humana ayudar en la detección y la identificación del tipo y el grado de hipoacusia. En medicina veterinaria existen pocos estudios, debido al costo de los equipos y la práctica poco conocida. En este trabajo se pretende demostrar cómo realizar una audiometría impedâncio y el análisis e interpretación de los resultados. Dos grupos de animales que contienen 10 en cada grupo, sin quejas y oído Enfermedades quejas en el sector de dermatología de la Universidad Metodista de São Paulo. Palabras clave: enfermedades del oído, la dureza de la audición, canino
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exame em tempo real através de um instrumento conectado a uma câmera de vídeo, facilitando a explicação sobre as alterações encontradas pelo médico veterinário ao proprietário, ilustrando a doença e mostrando a severidade da mesma. Outra vantagem é a capacidade de documentação que permitem monitorar o tratamento para futuras comparações e análises. Além da inspeção direta ou indireta (Otoscopia) também é necessário a análise do cerúmen, cultura e antibiograma das secreções do conduto auditivo orientando o médico veterinário quanto a presença de fungos (Malassezias) ou bactérias (Pseudomonas auriogenes). Alguns casos se faz necessário a solicitação de raio X de crânio para avaliação das bulas timpânicas, pois caso estas estejam calcificadas a indicação é ablação de conduto auditivo. A timpanometria é um teste objetivo, com duração de 30 segundos e indolor, seu objetivo é avaliar toda a estrutura condutiva do sistema auditivo, ou seja, a avaliação da membrana timpânica e sua complacência que fornecem informações sobre perfurações timpânicas, cadeia ossicular (martelo, bigorna e estribo), reflexo acústico (músculo estapédio). Materiais e Métodos Esta pesquisa foi analisada e aprovada pela comissão de ética de uso de animais em pesquisa da Universidade Metodista, CEUA sob o Protocolo n°N141/2014. Foram avaliados dois grupos de cães, sendo o grupo A composto de 10 cães hígidos (grupo-controle) e grupo B com 10 cães com queixas otológicas (grupo otopatas), estes animais foram atendidos no setor de clínica do hospital veterinário e encaminhados para o setor de dermatologia da Universidade Metodista de São Paulo. Todos os pacientes foram submetidos a uma avaliação dermatológica (Figura 1), análise do cerúmen (Figura 2) e vídeootoscopia (Figura 3). O impedanciometro utilizado nas avaliações foi da marca Interacustics AT235 (Figura 4), da empresa Audibel. O aparelho é automático sendo necessário apenas a colocação da sonda no conduto auditivo do paciente (Figura 5), onde é gerado uma pressão de +200daPa e -200daPa para a avaliação da complacência da membrana timpânica, no painel do aparelho é gerado um gráfico de curvas timpanométricas (Figura 6), logo na sequência,
FONTE: DESIRE LOPEZ
Introdução O laço entre os animais e os seres humanos continua crescendo e muitos animais são considerados como membros de quatro patas da família, fazendo com que os proprietários esperem de um médico veterinário, as mesmas competências profissionais e qualidade no atendimento, que esperariam para com a saúde humana. A profissão de médico veterinário vem sofrendo muitas modificações quanto ao fornecimento de produtos e serviços devido às intensas transformações tecnológicas que proporcionam aos proprietários de animais de estimação, fácil acesso às informações, se tornando mais instruídos e exigentes. Os animais estão sujeitos a muitas doenças por predisposição específica de raça ou de condições ambientais, e isso reflete diretamente nas doenças de ouvido que chegam a quase 40% das queixas na clínica veterinária. A conformação anatômica dos ouvidos cães e gatos favorecem o aparecimento das otites e por possuírem dois ouvidos, o potencial de doenças otológicas dobra. As infecções de ouvido são geralmente afecções que devem ser tratadas por toda a vida, devemos atuar junto com uma equipe multidisciplinar, como endocrinologistas, dermatologistas para diagnosticar a causa base e resolução do problema. Muitas vezes o mau cheiro proveniente dos ouvidos, assim como o animal com um prurido intenso, ou mesmo com comportamento agressivo quando suas orelhas são tocadas, percebe-se a dor. As causas das perdas auditivas em pequenos animais se devem por otites externas recidivantes, estenose de conduto auditivo e otites médias secretoras. Para que uma clínica preste o atendimento otológico, tornase necessário que o veterinário, invista em equipamentos específicos que promoverão o diagnóstico correto e aumentarão a percepção do cliente sobre a competência médica, que em geral, é influenciada pela presença do equipamento visto e pela utilização na sala de exame. Os otoscópios devem estra sempre presentes na sala de exame. As novas tecnologias, além de possibilitarem um diagnóstico eficaz, agregam valor no atendimento clínico, o vídeo-otoscópio, por exemplo, é um importante instrumento, por expor o mundo escondido das patologias do ouvido e por trazer visualizações do
Figura 1: Avaliação dermatológica
Figura 2: Análise do cerumen
Figura 3: Video otoscopia Nosso Clínico • 7
Radiografia intraoral de toda a boca “Full mouth X-ray” “Radiografia intraoral de toda la boca” M.V. Herbert Lima Correa* Equipe Odontovet Mestre em cirurgia pela FMVZ-USP Especialização em odontologia veterinária pela FMVZ-USP herbert@odontovet.com M.V. Daniel G. Ferro Equipe Odontovet Doutor em cirurgia pela FMVZ-USP Especialização em odontologia veterinária pela ANCLIVEPA-SP ferro@odontovet.com M.V. e C.D. Michèle A.F.A. Venturini Equipe Odontovet Mestre em cirurgia pela FMVZ-USP michele@odontovet.com M.V. Jonathan Ferreira Equipe Odontovet Mestre em cirurgia pela FMVZ-USP jonathan@odontovet.com * Autor para correspondência
RESUMO: Doenças da cavidade oral são frequentes e quando deixadas sem tratamento estão associadas a desconforto e dor podendo contribuir para outras doenças, locais e sistêmicas. Uma vez que a maior parte do dente está abaixo da linha da gengiva e nem todas afecções envolvendo a raiz e os tecidos de suporte do dente fiquem evidentes à inspeção visual ou até mesmo ao exame clínico da cavidade oral, se a radiografia intraoral de toda a boca não for usada na rotina de todos pacientes odontológicos muitas afecções podem não ser diagnosticadas e seus portadores em muitos casos permanecerão com desconforto e dor, mesmo tendo passado por um tratamento odontológico. O presente artigo tem por objetivo relatar casos clínicos que refletem situações do cotidiano da prática da odontologia veterinária onde a realização da radiografia intraoral de toda a boca foi determinante na identificação e avaliação de afecções com importância clínica para os pacientes, e alertar os que militam nesta área que quando escolhem não realizar a radiografia intraoral de toda a boca assumem o risco de deixar para trás afecções que causam dor e desconforto para os pacientes. Unitermos: raio-x odontológico; radiografia intraoral; radiografia intraoral de toda a boca; cães; gatos ABSTRACT: Dental diseases are very common and when left untreated are associated with discomfort and pain contributing to local and systemic diseases. The bulk of the tooth, i.e. root and most of the periodontium, can only be visualized by means of radiographs. Consequently, some pathologies will remain undiscovered if clinical examination does not involve full-mouth radiographs and the patients will stay with painful conditions, despite having undergone dental treatment. The main goal of this paper is to report cases of the daily practice of veterinary dentistry where the full-mouth x-ray was crucial in identifying and evaluating disorders clinically important for patients, and to warn veterinarians that when they choose not to perform full-mouth radiographs, they leave behind painful pathology. Keywords: dental radiology; intraoral x-ray; full-mouth x-ray; dental diseases; dogs; cats RESUMEN: Las enfermedades dentales y cuando no se tratan están asociadas con malestar y dolor que contribuy en a enfermedades locales y sistémicas. La raíz y la mayor parte del periodonto, sólo pueden ser evaluados por medio de radiografías dentales. En consecuencia, unimportanteporcentaje de patología dental y periodontal permanecerá sin ser diagnosticado si el examen clínico no se complementa con un estudio radiográfico intraoral completo y el paciente quedará en condiciones dolorosas, a pesar de haber sido sometidos a un tratamiento dental. El objetivo principal de este trabajo es reportar los casos de la práctica diaria de la odontología veterinaria, donde la radiografía intraoral completafue crucial en la identificación de afecciones clínicamente importantes para los pacientes, y paraadvertir a los veterinariosquecuando no se eligerealizar la radiografía intraoral completa, es probable quedejenatrásunaafección dolorosa. Palabras clave: radiografía dental; radiografía intraoral; radiografía intraoral completa; perros; gatos
INTRODUÇÃO Doenças da cavidade oral quando deixadas sem tratamento estão associadas a dor e podem contribuir para outras doenças locais e sistêmicas1. A maior parte do dente, isto é, a raiz só pode ser visualizada através da radiografia. Consequentemente, muitas afeções dentárias não são diagnosticadas se o exame da cavidade oral não incluir a radiografia2. Em um estudo, 233 cães de raças pequenas foram submetidos a radiografia intraoral de toda a boca (full-mouth x-ray). Ao total, 8.308 dentes permanentes foram avaliados. 29,6% dos dentes apresentavam alterações radiográficas. Os dentes mais comumente afetados foram os primeiros molares na mandíbula e os quartos pré-molares na maxila3. Um estudo realizado em 226 cães e outro em 115 gatos mostraram que o uso da radiografia intraoral de toda a boca na rotina do atendimento odontológico é justificável. 27,8% dos cães e 41,7% dos gatos apresentaram alterações radiográficas de importância clínica em dentes aparentemente saudáveis ao exame clínico. Nos dentes com alterações ao exa14 • Nosso Clínico
me clínico a radiografia intraoral de toda a boca revelou informações adicionais em 50% dos cães e 53,9% dos gatos e informações essenciais em 22,6% dos cães e 32,2% dos gatos4,5. Com o propósito de orientar a prática da odontologia veterinária a associação americana dos hospitais veterinários (AAHA) publicou em 2013 diretrizes (“dental careguidelines”) para odontologia preventiva, comunicação com os clientes, avaliação, limpeza dentária e tratamentos, além de materiais e equipamentos necessários para realizar um procedimento odontológico de forma adequada1. De acordo com a AAHA, os cuidados odontológicos são um componente essencial de um plano de saúde preventiva. Estes cuidados odontológicos precisam ser de qualidade a fim de promoverem saúde e qualidade de vida. Além disto, a equipe odontológica deve estar devidamente treinada e passar por constante atualização. Dentre os equipamentos necessários descritos encontra-se o de raio-x odontológico e a recomendação é que a radiografia intraoral de toda a boca deve ser realizada em todos pacientes, até mesmo
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para os procedimentos básicos de limpeza dentária1,6. A prática da odontologia sem o uso de radiografia seria considerada negligência na odontologia humana. O mesmo vale para a odontologia veterinária2. Quando um profissional decide não radiografar os dentes ele assume o risco de deixar para trás afecções que causam dor6. O uso da radiografia como um serviço de rotina nas clínicas aumenta não só a qualidade do cuidado com o paciente mas aumenta também a aceitação das recomendações de cuidados odontológicos por parte dos clientes, aumentando o número de pacientes atendidos pela clínica6. Este artigo apresenta várias situações clínicas onde o uso da radiografia intraoral trouxe informações adicionais importantes e tem por objetivo chamar a atenção da classe veterinária sobre a importância da realização da radiografia intraoral de toda a boca em todos os pacientes, não apenas como ferramenta diagnóstica, mas também como uma poderosa ferramenta de marketing.
Figura 3: Imagem de radiografia intraoral do paciente do caso 1 adquirida através de sensor digital #2 confirma a extração completa do quarto pré-molar, primeiro molar e raiz distal do segundo molar.
CASOS CLÍNICOS
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CASO 1 Paciente canino, Yorkshire, 3,5 anos, macho, encaminhado para tratamento odontológico de rotina sem grandes alterações aparentes além de presença de cálculo e inflamação gengival.
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Figura 4: imagem da vista vestibular do lado direito do paciente do caso 1 revela acúmulo de cálculo (em menor quantidade que o lado esquerdo) e inflamação da gengiva. Ausência clínica dos primeiros pré-molares superior e inferior. Maloclusão entre os caninos com canino superior deslocado para mesial.
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Figura 1: imagem de paciente canino (caso 1). Na vista vestibular do lado direito pode-se visualizar ausência clínica do primeiro pré-molar superior e segundo molar inferior. Presença de acúmulo de cálculo e inflamação da gengiva. Retração gengival na face vestibular do canino superior e na região entre o terceiro incisivo e o canino inferior. Canino inferior em maloclusão está estreito na base.
Figura 2: Imagem de radiografia intraoral do paciente da figura 1 adquirida através de sensor digital #2 revela reabsorção óssea vertical na face distal do quarto pré-molar inferior esquerdo (bolsa infraossea), reabsorção óssea no primeiro molar inferior esquerdo do tipo vertical na face mesial e distal da raiz mesial, na região de furca e do tipo perioendo na raiz distal. Presença da raiz distal do segundo molar (ausente clinicamente) com lise óssea ao seu redor.
Figura 5: Imagem de radiografia intraoral do paciente do caso 1 adquirida através de sensor digital #2 revela reabsorção óssea horizontal com exposição de furca grau III e lesão do tipo perioendo ao redor da raiz mesial do segundo molar inferior direito. Presença de radiolucência periapical às raízes do primeiro molar inferior direito devido a sobreposição com o canal madibular. Lâmina dura apresenta-se preservada. .............................................................................................................................
A doença periodontal é a doença de maior prevalência em cães e gatos, sendo da ordem de 85% em pacientes adultos sendo caracterizada pela inflamação e destruição dos tecidos de suporte do dente7,8. O osso alveolar é a principal estrutura de sustentação Nosso Clínico • 15
Secundário à Doença Renal Crônica em felino: relato de caso “Secondary Hyperparathyroidism to Chronic Kidney Disease in feline - case report” “El Hiperparatiroidismo Secundario a enfermedad Renal Crónica en felino - reporte de caso” Celina Seiko Takenaka* (celinatakenaka@gmail.com) Graduanda do Curso de Medicina Veterinária, Faculdade da Saúde da Univ. Metodista de São Paulo UMESP M.V. Silvia Regina Kleeb Orientadora, Docente das disciplinas de Morfologia dos Animais Domésticos, Patologia Geral e Patologia Animal e Patologista Responsável pelo Serviço de Patologia do HOVETMetodista M.V. Ms. Anderson Coutinho da Silva Co-orientador, Docente das disciplinas de Morfologia dos Animais Domésticos, Clínica Cirúrgica Geral e Clínica Cirúrgica Especialidades e Cirurgião Responsável pelo Serviço de Cirurgia no HOVET-Metodista M.V. Gisela Calil Capelli M.V., responsável pelo caso, Pós-Graduanda em Cirurgia de Pequenos Animais, PósGraduada em Clínica Médica de Pequenos Animais e PósGraduada em Clínica Médica de Felinos M.V. Dr. Daniel Yoshimi Hato Diretor Geral da unidade hospitalar veterinária *
Autora para correspondência
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RESUMO: A doença renal crônica é uma afecção muito frequente nos felinos e têm como consequência vários distúrbios endócrinos secundários, sendo o Hiperparatireoidismo uma das mais importantes. O Hiperparatireoidismo ocorre devido ao desequilíbrio ocasionado entre o fósforo e o cálcio, os quais estimulam as glândulas paratireoides a produzir o paratormônio em altas quantidades. Este trabalho tem como objetivo apresentar uma breve introdução sobre o assunto, através da consulta a referências pertinentes e atualizadas sobre o assunto. Propõe-se também relatar um caso de um felino doente, paciente renal crônico que desenvolveu Hiperparatireoidismo Secundário às lesões renais. A análise dos achados clínicos, dos exames laboratoriais, dos exames de imagem e achados necroscópicos, revelaram Insuficiência Renal Crônica, fratura em fêmur e osteopenia, associado ao aumento de glândula paratireoide. Achados estes em conjunto foram consistentes para o diagnóstico final de Hiperparatiroidismo Secundário. O presente caso demonstra a conduta diagnóstica clínica e laboratorial de um animal com evolução a óbito, porém a sequência diagnóstica, terapêutica deve fornecer subsídios para os veterinários para uma correta abordagem no futuro. Unitermos: Doença Renal Crônica, felino, hiperparatireoidismo, necropsia ABSTRACT: The chronic kidney disease is a very common sickness in cats and it has as a consequence several secondary endocrine disorders, being Hyperparathyroidism one of the most important. The Hyperparathyroidism occurs due to the imbalance caused between the phosphorus and calcium, which stimulate the parathyroid glands to produce parathyroid hormone in high amounts. This study aims to present a short introduction about the subject, by consulting the relevant and updated reference on the subject. It also proposes to report a case of a sick cat, renal disease patient that developed Secondary Hyperparathyroidism to renal lesions. The analysis of clinical findings, laboratory tests, imaging tests and necropsy findings revealed Chronic Renal Failure, fracture femur and osteopenia, associated with increased parathyroid gland. These findings together were consistent for fine diagnosis of Secondary Hyperparathyroidism. This case demonstrates the conduct clinical diagnostic and laboratory of an animal with a fatal outcome, but the diagnostic sequence, therapy should provide grants to veterinarians for a correct approach in the future. Keywords: Chronic Kidney Disease, feline, hyperparathyroidism, necropsy RESUMEN: La enfermedad renal crónica es una dolencia muy frecuente en los felinos y tiene como consecuencia diversos disturbios endocrinos secundarios, siendo el Hiperparatiroidismo una de las más importantes. El Hiperparatiroidismo ocurre debido al desequilibrio causado entre el fósforo y el calcio, los quales estimulan las glándulas paratiroides a producir el parathormona en grandes cantidades. Este estudio tiene como objeto presentear una introducción sobre el asunto a través de la consulta a la referencia pertinente y actualizada sobre el asunto. Propone también relatar un caso de un felino enfermo, paciente renal crónico que desenvolvió con Hiperparatiroidismo Secundario a las lesiones renales. El análisis de los hallazgos clínicos, de los exámenes de imagen laboratoriales, de los exámenes de imagen y hallazgos necrópsicos, revelaron Enfermedad Renal Crónica, fractura femoral y osteopenia, asociado al aumento de glándula paratiroide. Encontrados estes en conjunto fueron consistentes para el diagnóstico fina de Hiperparatiroidismo Secundario. El presente caso demonstra la conducta diagnostica clínica y laboratorial de un animal con evolución a óbito, sin embargo la secuencia diagnóstica, terapéutica debe proveer subsidios para los veterinarios para una correcta abordaje en el futuro. Palabras-clave: Enfermedad Renal Crónica, felino, hiperparatiroidismo, necropsia
Introdução A Doença Renal Crônica (DRC) é uma afecção muito frequente nos felinos, principalmente nos idosos; é caracterizada pela perda irreversível e contínua da funcionalidade dos rins que, consequentemente, causa a diminuição da capacidade de filtração de alguns componentes do sangue. Esta doença tem como consequência vários distúrbios endócrinos secundários, dentre estes o Hiperparatireoidismo aparece como uma importante afecção. O Hiperparatireoidismo Secundário Renal (HSR) é um distúrbio metabólico caracterizado pela hiperplasia das glândulas paratireoides e elevados níveis séricos do paratormônio (PTH) devido à diminuição da produção de calcitrol e retenção de fósforo ocasionado na DRC. Segundo Chew, Dibartola e Schenck (2011)4, a segunda causa de morte mais comum em gatos são devido às doenças crônicas, em especial as renais, e que são agravadas pelo desenvolvimento do HSR, aumentando sua mortalidade23; portanto é muito importante o conhecimento da relação dessas doenças para evitar condutas inadequadas na clínica veterinária. Este trabalho tem como objetivo relatar o caso de HSR em felino renal crônico, utilizando as ferramentas diagnósticas, tais como, exames laboratoriais, exame de imagem, e avaliação anatomopatológica a partir de necropsia, associados a uma revisão atual e pertinente da literatura sobre o assunto. Objetiva-se alertar os veterinários que mesmo que o HSR seja raro, pode ocorrer devido a um alto índice de DRC nos felinos. Visa também para a contribuição ao aprendizado e atualização dos clínicos veterinários. Revisão de Literatura A Doença Renal Crônica (DRC) é definida por lesões estruturais irreversíveis e progressivas dos rins que persiste por um tempo prolongado, meses até anos18, a qual pode ser classificada em estágio I, II, III ou IV, sendo que no estágio II o animal apresenta alterações nos exames radiográficos e ultrassonográficos e nível de creatinina em um intervalo de 1,6-2,8 mg/dl no exame de sangue e no estágio III ou IV o animal apresenta nível de creatinina maior que 2,8 mg/dl e azotemia renal13. Devido a sua disfunção, ocorre a diminuição na produção renal de calcitrol e a redução da excreção renal do fósforo, ocasionando uma hiperfosfatemia4 que deprime ionicamente a concentração de cálcio no sangue, gerando uma hipocalcemia14. A diminuição da atividade da vitamina D determina a hipocalcemia, pois os rins lesados são incapazes de produzir quantidades suficientes de vitamina D na forma ativa resultando na falha de absorção intestinal do cálcio12,16,17. Na tentativa de desfazer o desequilíbrio do metabolismo de cálcio e fósforo, a hipocalcemia estimula as glândulas paratireoides a produzir o PTH em quantidades maiores para estimular o aumento na atividade de reabsorção osteoclástica4,15,19,21 liberando o cálcio para a circulação e diminuir a fração de reabsorção de fosfato no rim pela diminuição da reabsorção tubular4,21, desenvolvendo, assim, o Hiperparatireoidismo Secundário Renal (HSR). Segundo estudo de Giovaninni (2013)10, o HSR pode ser observado nos estágios II, III e IV da DRC. Seu estudo também mostrou uma correlação positiva entre as concentrações séricas de fosfato inorgânico e PTH intacto (PTHi), sugerindo possibilidade de avaliação indireta de HSR pela determinação do fosfato inorgânico sérico. De acordo com Polzin, Osborne e Jacob (2004)18, a princi-
pal manifestação clínica do HSR ocorre sob a forma de desmineralização óssea promovendo alterações na mandíbula, maxila e região subperiosteal dos ossos longos8,11, desenvolvendo vários graus de fibrose e osteodistrofia generalizada14, mas as fraturas patológicas são aparentemente raras em cães e gatos18 . No HSR, é comum ocorrer hiperplasia das glândulas paratireoides, as quais são mais sensíveis a pequenas reduções nos níveis de cálcio e secretam PTH mais eficientemente25. Segundo o estudo de Cardoso et al., (2008)2, os felinos podem desenvolver HSR sem apresentar hiperfosfatemia, mas com aumento do PTH e diminuição do cálcio ionizado. O PTH circulante em excesso afeta outros sistemas também, promovendo anemia devido à diminuição de eritropoiese causada pela substituição de parte da medula óssea por fibrose15, alteração na função leucocitária, lesão de hepatócitos e redução na contratilidade do músculo cardíaco5,19. Em caso crônico da hipercalcemia, pode ocorrer calcificação metastática de tecidos moles, incluindo deposição de cálcio no parênquima renal ocasionando perda dos néfrons agravando ainda mais o quadro renal11,16. Esta é vista ainda na musculatura intercostal subpleural, na mucosa gástrica, no parêquima pulmonar8 e em múltiplos membros6. Para o diagnóstico definitivo do HSR, deve ser mensurado especificamente o PTH intacto (PTHi) sérico junto à avaliação da calcemia15,19 por diversas vezes, pois não se pode excluir a possibilidade da doença caso esteja dentro da normalidade4. Exames radiográficos também ajudam no diagnóstico, mostrando baixa densidade óssea22 e mineralização de tecidos moles26. O diagnóstico também pode ser feito por meio de um estudo histopatológico da glândula paratireoide através da biópsia17. Segundo Capen, (2007)1, as principais alterações histopatológicas são a hiperplasia das células principais da paratireóide e a osteodistrofia fibrosa caracterizada por áreas de reabsorção óssea com proliferação de tecido fibroso e muito pouca mineralização27. O tratamento deve ser ajustado para cada paciente, através da identificação do estágio da evolução da DRC pelos exames complementares associados às manifestações clínicas do animal3,9. Em pacientes com redução da função renal, deve-se amenizar a hiperfosfatemia diminuindo a absorção do fósforo na alimentação, administração da vitamina D24 e administração da eritropoietina em animais anêmicos19. O prognóstico desses pacientes é de reservado a mau26. Animais com HSR descritos por Rusenov (2010)22 foram submetidos à eutanásia devido a dificuldade de tratamento. Quando o animal evolui para o óbito, na necropsia serão observadas alterações renais como rins atróficos, firmes e com superfície irregular, associada a evidências histológicas de lesão renal crônica8 e aumento das glândulas paratireoides, sendo estas embutidas na glândula tiroide dos animais que passam despercebidas em dissecações de rotina7. Relato de Caso Foi atendido em uma unidade hospitalar veterinária um felino, macho, SRD de 8 anos de idade. O proprietário relatava que o animal doente renal caiu e fraturou o fêmur. O exame radiográfico do membro acometido revelou fratura em região proximal do fêmur associada à osteopenia com suspeita de hipocalcemia e Hiperparatireoidismo Secundário Renal (Figura 1). Procedeu-se no membro fraturado a adequada imobilização. Instalou-se tratamento conservativo com administração de Nosso Clínico • 37
Análise comparativa de estruturas do aparelho reprodutivo de machos e fêmeas de
“Comparative analysis of male and female guinea pig’s reproductive system structures” FONTE: ERICA COUTO
“Análisis comparativo de estructuras de aparato reproductor de cobayos machos y hembras”
RESUMO: Porquinho-da-índia (Cavia porcellus), ou cobaia, é um roedor de comportamento dócil, que vem sendo mantido como animal de estimação. As fêmeas alcançam maturidade sexual com seis semanas de vida e são poliéstricas não sazonais, enquanto os machos estabelecem a espermatogênese com 6 semanas de vida, mas sua maturidade sexual é alcançada entre o 3º e 4º mês de vida. O aparelho reprodutivo das fêmeas é composto por cérvix, corpo uterino, cornos uterinos, oviduto e ovários. O aparelho reprodutivo dos machos é composto por testículos, epidídimo, canal deferente, glândulas sexuais acessórias (próstata, glândula coaguladora, glândula bulbouretral e vesícula seminal), glândulas perineais e caudais e pênis. A ultrassonografia é um exame de imagem de fácil acesso, que pode ser utilizada em cobaias. É útil no diagnóstico de doenças no aparelho genitourinário, como cálculos em vesícula urinária e cistos ovarianos. Foram selecionados 14 cobaias do sexo feminino e masculino, de diversas idades, pertencentes a tutores, obtidos em clínica particular, passaram por exame ultrassonográfico para avaliação do sistema genitourinário, com ênfase nos órgãos do aparelho reprodutivo. Órgãos como cornos uterinos e vesícula seminal apresentaram semelhanças na anatomia topográfica e aspecto ao exame ultrassonográfico. Entretanto, a bifurcação dos cornos uterinos a partir do corpo uterino ocorre dorsocranial à vesícula urinária, enquanto a bifurcação das vesículas seminais ocorre a partir da próstata, dorsocaudal à vesícula urinária. Unitermos: Porquinho-da-índia, Cavia porcellus, anatomia, sistema reprodutivo, vesícula seminal, ultrassom ABSTRACT: Guinea pig (Cavia porcellus) is a docile rodent, which has been kept as pet. Females reach sexual maturity at the age of six weeks and are nonseasonal poliestric, while males establish spermatogenesis at the age of 6 weeks, but sexual maturity is reached between 3rd and 4th months. Females’ reproductive tract consists of cervix, uterine body, uterine horns, oviducts and ovaries. Males’ reproductive system consists of testes, epididymis, vas deferens, accessory sex glands (prostate, coagulating gland, bulbourethral gland and seminal vesicle), perineal and caudal glands and penis. Ultrasound is an easy access imaging study, which can be used in guinea pigs. It is useful in the diagnosis of disease in genitourinary tract, such as urinary calculi in bladder and ovarian cysts. 14 males and females guinea pigs were selected, from different ages, belonging to tutors, obtained in private clinic, underwent ultrasonography to evaluate the genitourinary system, with emphasis on the reproductive tract. Organs such as uterine horns and seminal vesicle showed similarities in the topographic anatomy and look at the ultrasound. However, the uterine horns’ bifurcation from uterine body is above and forward the urinary bladder, while the seminal vesicles’ bifurcation occurs from prostate, above and back from the urinary bladder. Keywords: Guinea pig, Cavia porcellus, anatomy, reproductive system, seminal vesicle, ultrasound RESUMEN: Cobayo (Cavia porcellus) es un roedor dócil, que se ha mantenido como mascota. Las hembras alcanzan la madurez sexual a las seis semanas de vida y poliéstricas no son de temporada, mientras que lós machos establecen espermatogénesis con 6 semanas de edad, pero la madurez sexual se alcanza entre El tercero y el cuarto mes de vida. El tracto reproductivo de las mujeres consiste en el cuello uterino, cuerpo uterino, uterinos cuernos, oviductos y los ovarios. El sistema reproductivo de los hombres consiste en testículos, epidídimo, conductos deferentes, glándulas accesorias sexuales (próstata, glándula coagulante, glándulas bulbouretrales y vesícula seminal), glándulas perineales y el flujo y el pene. El ultrasonido es un estudio de imagen de fácil acceso, que se puede utilizar en cobayas. Es útil en el diagnóstico de la enfermedad en el tracto genitourinario, tales como los cálculos urinarios en la vejiga y quistes ováricos. 14 cuyes de hombres y mujeres, de diferentes edades, pertenecientes a propietarios privados, obtenidos en la práctica privada, se sometieron a una ecografía para evaluar el sistema genitourinario, con énfasis en los órganos del aparato reproductor. Órganos como cuernos uterinos y vesícula seminal mostraron similitudes en la anatomía topográfica y mirar a la prueba de ultrasonido. Sin embargo, la unión de los cuernos uterinos de cuerpo uterino dorsocranial la vejiga urinaria se produce como la bifurcación de las vesículas seminales es de próstata, dorso-caudal a la vejiga urinaria. Palabras clave: Cobayo, Cavia porcellus, anatomía, sistema reproductor, vesícula seminal, ultrasonido
Erica Pereira Couto* (ericavet@uol.com.br) M.V., Mestranda em Medicina e Bem-Estar Animal, PósGraduada em Clinica de Animais Silvestres, Consultório de Animais Silvestres TUKAN Larissa Rezende Paulino (larissarpaulino@gmail.com) Graduanda em Medicina Veterinária - Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) Marco Antônio Martins Scott (usvet@terra.com.br) Médico Veterinário Autônomo Cynthia Maria Carpigiani Teixeira (cymacate@gmail.com) Profa. da Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), Dra. em Reprodução Animal * Autora para correspondência
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Posicionando o transdutor transversalmente em frente ao osso púbis e movimentado cranialmente, a imagem da vesícula urinária pode ser visualizada; sua parede é hipoecoica com fina linha ecoica nas surpefícies interna e externa e o conteúdo é anecoico, entretanto, cristais de carbonato de cálcio, provenientes de alimentos ricos em cálcio, podem ser visualizados como pontos ecogênicos. Cornos uterinos têm aspecto hipoecoico, tubular e pode ser visualizado em plano transverso entre vesícula urinária e reto11. Caudal à vesícula urinária, a próstata é visualizada como estrutura homogênea, com ecogenicidade baixa a média. Vesícula seminal pode ser visualizada em plano oblíquo como estrutura tubular, hipoecoica, estendendo-se craniolateralmente no abdômen, originando-se logo após a próstata e ao lado da vesícula urinária11. 2. OBJETIVO Caracterização da anatomia em imagens de exame ultrassonográfico, comparando com a literatura, do sistema reprodutor de cobaias (Cavia porcellus) machos e fêmeas, de diferentes idades, castrados e inteiros. 3. REVISÃO DE LITERATURA 3.1. Anatomia do Sistema Reprodutor 3.1.1. Machos O sistema reprodutor dos machos é composto por pênis, glândulas perineais, glândula caudal, testículos e glândulas sexuais acessórias (próstata, glândulas coaguladoras, vesículas seminais e glândulas bulbouretrais)3. A glândula caudal é mais desenvolvida nos machos e está localizada acima do ânus. O saco perineal encontra-se entre o ânus e a uretra, formando um septo. Seu interior contém pelos e duas glândulas perineais. As glândulas prepuciais são pouco desenvolvidas3. Testículos, epidídimo, cordão espermático e gordura encontram-se entre a bolsa escrotal e o canal inguinal, que é aberto (Figura 1)3,5,6,13.
FONTE: ERICA COUTO
1. INTRODUÇÃO O porquinho-da-índia (Cavia porcellus), ou cobaia, é um roedor pertencente à família Caviidae que vem sendo criado como animal de estimação12,13. Originários da região dos Andes na América do sul, vivem em grupos familiares com macho dominante. Em cativeiro, são animais dóceis13 e, em média, vivem de 5 a 7 anos12. Praticam cecotrofia; apresentam gestação longa, comparada aos outros roedores e os filhotes nascem com pelos, olhos abertos9 e dentição elodonte12 completa (incisivos, pré-molares e molares)5. As fêmeas são poliéstricas não sazonais13, alcançam a maturidade sexual com 6 semanas de vida9 e sua ovulação é espontânea. Após a cópula, um tampão copulatório, ou plug, é formado para impedir a perda de sêmen. Este plug é constituído por fluidos da vesícula seminal, que coagula em contato com as secreções da glândula coaguladora e da próstata3. O plug é perdido cerca de duas horas após a cópula13. A sínfise pélvica, por influência do hormônio relaxina, sofre separação durante o final da gestação, podendo chegar até 22 mm5,9. É importante que o primeiro parto ocorra entre 6 e 7 meses, pois, após esse período, ocorre o fechamento da sínfise pélvica, predispondo a casos de distocia5,9,12,13. O tempo de gestação varia de 59 a 72 dias, de acordo com a quantidade de filhotes, quanto maior a ninhada, menor tempo de gestação9 . Machos e fêmeas possuem um par de glândulas mamárias na região inguinal5,8. O canal vaginal é selado por uma membrana epitelial delgada e translúcida, exceto durante curto período da fase estral e durante o parto3,5 . Nos machos, a espermatogênese se estabelece na 6ª semana de vida, mas até a 11ª semana, ainda não atingiram a maturidade sexual7, esta ocorre entre o 3º e 4º mês de idade13. A ultrassonografia é um meio de diagnóstico por imagem de fácil acesso e seguro. Ondas sonoras de alta frequência são emitidas pelo transdutor, fazendo com que a imagem seja formada na tela através da relação com os tecidos, podendo ser de reflexão, refração ou absorção1. As ondas sonoras são produzidas pela vibração dos cristais eletricamente estimulados. Tais ondas passam pelo tecido, podendo ser refletidas pelas estruturas e órgãos, absorvidas ou ocorrer espalhamento. As ondas sonoras refletidas retornam ao transdutor, que as convertem em impulsos elétricos, para serem representadas na forma de pontos de luz no monitor, variando de acordo com a impedância acústica do determinado tecido comparado a outro2. Em cobaias, o exame ultrassonográfico é bastante útil para o diagnóstico de doenças do trato genitourinário, como cistos ovarianos, cálculo urinário12, neoplasias testiculares11 e investigar disúria e hematúria10. Para maior qualidade de imagem, pode-se lançar mão de sedação e anestesia, a fim de reduzir o estresse pela contenção12, porém animais de estimação geralmente permitem manipulação, evitando o uso de sedativos. A contenção é mecânica e o animal é mantido em decúbito dorsal com auxiliares segurando o dorso pela cintura torácica e os membros pélvicos. Os animais não devem realizar jejum antes do exame, pois seu intestino pode entrar em atonia10. Para ultrassom abdominal, é indicado o uso do transdutor linear de alta resolução em frequências médias de 7,5 a 12 MHz e que seja feita tricotomia. É necessário o uso de gel acústico para acoplamento entre transdutor e a pele, podendo ser aquecido a fim de evitar hipotermia10.
Figura 1: Anatomia do genital masculino de cobaias (Cavia porcellus): Testículos (T), tecido adiposo (T.A.) e canal inguinal (C.I.) .......................................................................................................................
Na extremidade distal do pênis existe um osso peniano e dois prolongamentos queratinosos invaginados, localizados em uma bolsa caudoventral a abertura da uretra que, durante a ereção, são evertidos e expostos, podendo-se observar formato de duas epículas de 4 a 5 mm de comprimento (Figura 2)3,13. Nosso Clínico • 51
DICAS DO LABORATÓRIO
DR. LUIZ EDUARDO RISTOW tecsa@tecsa.com.br MV, Mestre em Medicina Veterinária UFMG CRMV-SP 5540 V CRMV-MG 3708
Interpretando o RDW em Medicina Veterinária Introdução A anemia pode ser definida como a diminuição da concentração sanguínea de hemácias, hemoglobina e/ou volume globular (VG) de um animal. Entretanto, apenas constatar a existência da anemia representa uma avaliação superficial da condição fisiopatológica do paciente. A análise de parâmetros como o volume corpuscular médio (VCM), a concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM), a concentração de reticulócitos, características hematoscópicas e o RDW permitem classificar o processo anêmico e auxiliar na determinação da sua causa, prognóstico e alternativas terapêuticas. A literatura relacionada com hematologia veterinária relata amplamente a existência de três tipos de classificações básicas para as anemias. As anemias podem ser classificadas de acordo com as alterações apresentadas por seus índices eritrocitários em macrocíticas, normocíticas, microcíticas, hipocrômicas e normocrômicas. Também podemos classificar as anemias de acordo com os mecanismos patofisiológicos de formação da anemia. Desta forma as anemias podem ser hemolíticas, hemorrágicas ou hipoproliferativas. Por último, classificamos as anemias de acordo com a existência de resposta medular em regenerativas ou arregenerativas. A utilização do RDW juntamente com outros parâmetros hematológicos para analisar o eritrograma de um animal representa uma maneira eficiente de enquadrar a anemia dentro destas classificações.
sugerir a existência de resposta medular são presença de corpúsculos de howelljolly, hipocromia, metarrubricitose e RDW aumentado. O VCM também pode alterar-se para baixo quando uma população eritrocitária é formada predominantemente por células eritroides microcíticas ou com volume celular reduzido. As anemias microcíticas costumam ser causadas pelo desenvolvimento de uma deficiência de ferro que, em cães e gatos adultos, normalmente é causada por hemorragias crônicas. Anisocitose A anisocitose (Figura 1) é uma alteração morfológica celular observada através da microscopia óptica em esfregaço sanguíneo, ou hematoscopia. É caracterizada pela diferença de diâmetro celular e pode ser quantificada em discreta, moderada e intensa ou em cruzes (1+, 2+ e 3+). É esperado que quando hemácias de diferentes tamanhos comecem a compor a população eritroide em concentrações mais expressivas seja possível observar a presença de anisocitose na hematoscopia. Quanto maior a concentração destas células com volume alterado na concentração sanguínea, maior será o grau de anisocitose observado.
O VCM é um índice eritrocitário responsável por informar o volume médio de cada eritrócito. Conforme a anemia vai se instaurando, a medula óssea começa a receber o estímulo da eritropoietina secretada em maior quantidade pelo rim para produzir e liberar mais células eritroides na corrente sanguínea na tentativa de reestabelecer a concentração sanguínea de hemácias dentro do intervalo de referência. Durante este processo ocorre a liberação de células eritroides mais jovens, ou imaturas, na corrente sanguínea, chamadas de reticulócitos. Os reticulócitos apresentam volume celular maior comparado a uma hemácia adulta e, por este motivo, quando começam a atingir uma concentração significativa na corrente sanguínea, ocorre um consequente aumento no VCM. Quando o VCM assume valores acima do intervalo de referência definido para a espécie nós definimos esta anemia como macrocítica. A reticulocitose não é a única causa de macrocitose, porém quando observada em um animal anêmico sugere a existência de um processo regenerativo medular eritroide ativo ou prévio. Entretanto a reticulocitose é considerada o achado confirmatório de existência de resposta medular e pode ser aferida precisamente através da mensuração de sua concentração sérica ou altamente sugerida através da observação de policromasia na hematoscopia. Além da macrocitose, outros parâmetros que podem 58 • Nosso Clínico
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FONTE: WWW.KOOFERS.COM
VCM
Figura 1: Anisocitose moderada em um esfregaço de sangue de cão ......................................................................................................................
RDW O RDW é a sigla para a expressão em inglês “red cell distribution width” que, em tradução direta para o português, significa amplitude de distribuição eritrocitária. É um parâmetro que visa quantificar a heterogeneidade do volume celular eritrocitário presente em uma amostra, ou traduzir em números contínuos o grau de anisocitose eritrocitária presente em uma amostra de sangue animal. Esta ferramenta diagnóstica representa o coeficiente de variação da curva de histograma do volume eritrocitário e é calculada através da razão entre o desvio padrão desta curva pelo VCM (ou média exibida pela curva) da amostra, conforme fica demonstrado pela fórmula e figura a seguir.
RDW-CV =
Desvio Padrão isolada à avaliação dos outros parâmetros hematológicos.
VCM
Referências 1. CAPORAL, F.A.; COMAR, S.R. Evaluation of RDW-CV, RDW-SD, and MATH-1SD for the detection of erythrocyte anisocytosis observed byoptical microscopy. J Bras Patol Med Lab, v.49, n.5, p.324-331, 2013.
Frequência na qual uma hemácia com determinado volume aparece na população
2. HODGES, J.; CHRISTOPHER, M.M. Diagnostic accuracy of using erythrocyte indices and polychromasia to identify regenerative anemia in dogs. Journal of the American Veterinary Medical Association, v.238, p.1452-1458, 2011. 3. LASSEN, E.D.; WEISER, G. Tecnologia Laboratorial em Medicina Veterinária. In: Hematologia e Bioquímica Clínica Veterinária, 1.ed., Roca, São Paulo, 2007, p.7-30.
Volume Corpuscular (fL)
4. JAIN, N.C. Essentials of Veterinary Hematology. Lea & Febiger, Philadelphia, 1993.
Histograma da distribuição dos diferentes volumes eritrocitários presentes na amostra de sangue analisada. O RDW é proporcional à largura da curva destacada na figura Fonte: Adaptado de Thrall (2007).
Desta forma, quando o RDW apresenta valores acima do intervalo de referência podemos imaginar que exista um número aumentado de hemácias de diferentes volumes, ou tamanhos na circulação. Estas hemácias de tamanho alterado podem ser microcíticas, macrocíticas ou um conjunto dos dois tipos de hemácias, dependendo do tipo de processo formador da anemia a que o animal está submetido. Também podemos esperar que, possivelmente este número de hemácias com volume alterado ainda não seja suficiente para deslocar o valor do VCM para cima ou para baixo do intervalo de referência e, por este motivo, o RDW é considerado um parâmetro mais sensível ou precoce para detectar as variações de volume celular existentes em uma amostra de sangue decorrentes de reticulocitose ou deficiência de ferro. Caso o tipo de hemácia predominante seja o macrocítico podemos suspeitar da existência de um processo regenerativo medular frente à anemia e caso seja microcítico podemos suspei-
tar de deficiência de ferro. Entretanto, para que possamos realizar este tipo de interpretação devemos associar a avaliação do RDW com a avaliação de outros parâmetros como o VCM. Presença de anemia associado a RDW dentro do intervalo de referência sugere anemia arregenerativa. Para que a melhor interpretação diagnóstica seja obtida, a avaliação do RDW nunca deve ser feita de maneira MATERIAL
5. MEYER, D.J.; HARVEY, J.W. Veterinary Laboratory Medicine: Interpretation and Diagnosis, 3.ed., Saunders, St. Louis, 2004, p.52-80. 6. RIZZI, T.E.; MEINKOTH, J.H.; CLINKENBEARD, K.D. Normal Hematology of the Dog. In: Schalm’s Veterinary Hematology, 6.ed., Wiley-Blackwell, Iowa, 2010, p.799-809. 7. STOCKHAM, S.L.; SCOTT, M.A. Fundamentals of Veterinary Clinical Pathology, 2.ed., Blackwell Publishing, Iowa, 2008, p.151-153/158172. 8. TVEDTEN, H. Laboratory and Clinical Diagnosis of Anemia. In: Schalm’s Veterinary Hematology, 6.ed., Wiley-Blackwell, Iowa, 2010, p.152-160. 9. WEISS, D.J. Normal Hematology of the Dog. In: Schalm’s Veterinary Hematology, 6.ed., Wiley-Blackwell, Iowa, 2010, p.167-170.
COD / EXAMES
PRAZO
39 / Hemograma Completo Canino Tubo Tampa Roxa
44 / Hemograma Completo Felino
1 dia
146 / Hemograma Completo Equino Tubo Tampa Roxa
245 / Contagem de Reticulócitos - Pet
1 dia
Tubo Tampa Roxa
717 / Contagem Diferencial de Reticulócitos Felino
2 dias
Punção de Medula em EDTA + Esfregaço de Medula + Resultado Recente de Hemograma
132 / MIELOGRAMA
4 dias
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CARDIOLOGIA / RONALDO JUN YAMATO
Abordagem diagnóstica e terapêutica da endocardiose valvar mitral em cães A endocardiose valvar mitral é a mais frequente cardiopatia que acomete os cães de raça de pequeno porte, principalmente os Poodles, os Dachshunds e os Cavalier King Charles Spaniels. Esta valvopatia é de etiologia desconhecida e pode acometer os cães a partir de 4 a 5 anos de idade, sendo que as manifestações clínicas de insuficiência cardíaca podem ter início aproximadamente aos 8 anos de idade. Nosso objetivo nesta coluna é apresentar as novas diretrizes propostas pelo consenso formado por cardiologistas e membros do “American College of Veterinary Internal Medicine”, o qual propõe uma nova classificação para as fases da endocardiose valvar e também sobre as possibilidades terapêuticas desta cardiopatia. A endocardiose atualmente é divida em quatro estágios, a saber: • Estágio A: neste estágio incluem-se os cães com alto risco de desenvolver a endocardiose, mas sem lesão em estruturas cardíacas. Os cães da raça Cavalier King Charles Spaniel, Poodle e Dachshund, devem ser incluídos neste estágio. • Estágio B: nesta fase, são considerados os pacientes com lesão em estruturas cardíacas, mas que nunca desenvolveram manifestações clínicas de insuficiência cardíaca. Este estágio é divido em dois, o estágio B1 que são pacientes sem manifestações clínicas e sem evidências de remodelamento cardíaco ao raio-x ou ecocardiograma, e o estágio B2 que são os animais com evidências de remodelamento cardíaco ao raio-x ou ecocardiograma. • Estágio C: no estágio C são incluídos os animais com manifestações clínicas ou que já apresentaram manifestações clínicas de insuficiência cardíaca, associado a lesões em estruturas cardíacas. Os animais neste estágio podem necessitar ou não de terapia intensiva (internação), conforme a gravidade das manifestações clínicas de insuficiência cardíaca congestiva. • Estágio D: são considerados neste estágio os pacientes em fase final da doença, com manifestações clínicas de insuficiência cardíaca causada pela endocardiose, e que são refratários à terapia convencional. Os animais neste estágio podem necessitar ou não de terapia intensiva (internação), conforme a gravidade das manifestações clíni60 • Nosso Clínico
cas de insuficiência cardíaca congestiva. Na abordagem terapêutica dos cães com a endocardiose valvar, segundo o consenso, os animais no estágio A e B1 nenhuma terapia farmacológica deve ser instituída e nenhuma mudança na dieta deve ser realizada, porém nos pacientes em estágio B2 o início da terapia é discutida, sendo que a maioria dos membros do consenso iniciam a terapia com inibidores da enzima conversora de angiotensina e discreta restrição de sódio na dieta, sendo que a palatabilidade e níveis adequados de proteína e calorias devem ser mantidos nesta dieta. No estágio C, existe a indicação do início do tratamento com seguintes grupos de fármacos: diuréticos em quadros congestivos (ex. furosemida), inibidores da enzima conversora de angiotensina (ex. maleato de enalapril), inodilatadores (ex. pimobendam) e b - bloqueadores, sendo que para este último grupo de fármacos, não existe um consenso geral sobre qual fármaco utilizar. A dieta, no estágio C, deve conter uma restrição moderada de sódio e níveis adequados de proteínas, sendo que as dietas formuladas para nefropatas devem ser evitadas. Na terapia dos animais em estágio D, as recomendações são as mesmas para o estágio C, porém sugere-se a adição da espironolactona e doses mais altas de furosemida e mudança nas vias de administração da mesma. Recomenda-se também a utilização dos b - bloqueadores, mas com muita cautela. Com relação à utilização de um terceiro diurético (hidroclortiazida), o aumento da dose do pimobendan, a utilização ou aumento da dose da digoxina, a utilização do citrato de sildenafil, a continuidade ou não do uso dos b - bloqueadores, a utilização de antitussígenos e de broncodilatadores, é discutida e não existe um consenso de todos os membros. As recomendações dietéticas são idênticas aos pacientes em estágio C da doença.
Prof. Dr. Ronaldo Jun Yamato Sócio-proprietário da NAYA Especialidades
www.nayaespecialidades.com cardiologia@nayaespecialidades.com
CONHECIMENTO COMPARTILHADO MSc. M.V. Luciana Cristina Baldini Peruca (luciana.peruca@royalcanin.com) Coordenadora de Comunicação Científica Royal Canin Brasil
Como atender às diversas particularidades dos Gatos? Não raramente são observados, na rotina clínica, gatos com particularidades que tornam necessárias adequações em suas dietas. As sensibilidades de pele e pelagem, tendências à formação de bolas de pelos (tricobezoares) e a esterilização são causas frequentes de visitas ao Médico-Veterinário. Associar o manejo nutricional ao convencional, nesses casos, é importante para a melhora do quadro clínico geral e auxílio na manutenção da saúde do animal. Antes de abordar cada uma dessas particularidades e seus respectivos apontamentos nutricionais é fundamental a contextualização, elucidando alguns aspectos relacionados à palatabilidade em gatos. 1. PALATABILIDADE A palatabilidade se refere à qualidade do que é palatável ou ao atributo daquilo que é agradável ao paladar. Para os animais, a palatabilidade de um alimento varia de acordo com a espécie, condições gerais de saúde, tipo de alimento e ambiente (Figura 1).
las gustativas e de 60-70 milhões de células olfativas (Royal Canin, 2006). Portanto, as capacidades olfatória e gustativa de cães são superiores quando comparadas as de gatos. Consequentemente, o nível de exigência nutricional, principalmente no que se refere à palatabilidade, é diferente entre essas espécies. Além disso, há diferenças entre a palatabilidade do mesmo alimento para animais saudáveis e enfermos. Gatos com cálculos dentários e doença periodontal, por exemplo, serão mais seletivos na escolha do alimento que hígidos. b. Alimento Existem muitos fatores relacionados aos alimentos que influenciam na palatabilidade. Dentre eles, a composição, textura, formato, temperatura, aroma, tamanho do croquete e sabor são decisivos para uma nutrição adequada. b.1. Composição A composição do alimento tem grande influência sobre a palatabilidade. Alimentos com maior umidade (alimentação úmida apresenta, aproximadamente, 75% de umidade) são mais palatáveis para gatos. Os teores de nutrientes como proteína, gordura, vitaminas, entre outros, alteram a palatabilidade do alimento e são reconhecidos por meio do olfato. O gato dispõe de receptores específicos para certos componentes da carne que são necessários na sua alimentação, como por exemplo, a taurina. b.2. Textura e Formato
Animal
A textura e formato dos croquetes são importantes componentes na escolha do alimento. A resistência do croquete é percebida pelo gato via mecanorreceptores que são sensíveis ao seu formato e textura. Uma vez que gatos são neofílicos, croquetes com formatos diferentes também são fatores que contribuem para aumentar a palatabilidade do alimento.
Alimento
Ambiente Figura 1: Fatores que contribuem para a aceitação do alimento
b.3. Temperatura e Aroma A temperatura da dieta é percebida pelos termorreceptores que também influenciam a detecção do aroma. E ambos são fatores que interferem na palatabilidade, uma vez que as moléculas que volatilizam e, portanto, atraem o gato ao alimento, estão mais concentradas em, aproximadamente, 40ºC.
a. Animal
b.4. Tamanho
Há variações anatomofisiológicas entre as espécies que justificam diferentes percepções da palatabilidade de um mesmo alimento. Cães são animais semi-carnívoros que possuem 1700 papilas gustativas e de 80-220 milhões de células olfativas. Já os gatos são carnívoros estritos com 500 papi-
O croquete deve ser grande o suficiente para estimular a mastigação e, consequentemente, melhorar a digestibilidade e pequeno o suficiente para facilitar a preensão. Croquetes muito grandes para a mandíbula do gato dificultarão à pressão e, assim, tornarão a dieta menos palatável.
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b.5. Sabor O ácido e o amargo são bem percebidos, fato que torna o gato bastante prudente em face de um alimento eventualmente tóxico. O sabor salgado também é detectado em toda a superfície da língua. O gosto doce só é reconhecido quando a sua concentração é elevada. Porém, dentre os fatores de palatabilidade para gatos, o sabor não é o mais importante. A composição do alimento, ou seja, a qualidade e quantidade ideais dos nutrientes necessários à espécie é um dos principais aspectos para o aumento da palatabilidade. b.6. Ambiente O ambiente menos agitado e a presença de outras espécies que não causem ao gato uma sensação de ameaça tornam o momento da alimentação algo prazeroso e natural. Com isso, o ambiente adaptado aos padrões comportamentais do gato influencia na ingestão adequada do alimento fornecido. 2. ALGUMAS PARTICULARIDADES EM GATOS VS. ASPECTOS NUTRICIONAIS a. Sensibilidade de pele e cuidado com a pelagem A pele e a pelagem têm a função principal de atuar como uma barreira, protegendo o corpo de agentes externos (físicos, químicos, bacterianos, fúngicos e virais). A renovação da pele é muito rápida e, com isso, os requerimentos nutricionais qualitativos e quantitativos são significantes. Qualquer dieta sem um balanceamento adequado a essa rápida renovação celular, resulta em problemas dermatológicos. Portanto, o alimento deve contemplar os requerimentos nutricionais da pele reforçando a barreira cutânea por meio de proteína de alta qualidade, além de ácidos graxos de cadeia curta ômegas 3 e 6. A condição da pelagem deve ser evidenciada com proteínas que permitam o crescimento natural do pelo e intensifiquem a coloração da pelagem. b. Tendências à formação de bolas de pelos (tricobezoares) Enquanto muitos autores consideram que a eliminação de bolas de pelos possa ser um mecanismo normal, também deve-se reconhecer que a frequência da eliminação das bolas de pelos é geralmente uma indicação de ingestão excessiva desse material ou de doença gastrintestinal (Cannon, 2013). Durante o dia, um gato pode ingerir espontaneamente 2/3 dos pelos perdidos (liberados) com a auto-higienização, que poderão ser regurgitados sob a forma de bolas de pelos ou evacuados nas fezes. O proprietário deverá se preocupar quando essas bolas de pelos não forem regurgitadas ou defecadas já que, em alguns casos, podem causar problemas digestivos, tais como: vômitos, constipação ou até mesmo obstrução intestinal nos casos mais graves (Barrs, 1999). A eliminação natural dos pelos pode ser facilitada, estimulando a digestão. A redução do peristaltismo promove o acúmulo e a formação de bolas de pelos. Alguns autores sugerem uma
deficiência do complexo mioelétrico migratório no gato. Esse complexo cria contrações peristálticas no estômago que se propagam por todo o trato digestório, auxiliando as partículas não digeridas a transitarem em direção ao cólon. Com isso, a motilidade gastrintestinal reduzida nos gatos predispõe à formação das bolas de pelos (Cannon, 2013). Além disso, a atividade peristáltica varia de individuo para indivíduo, sendo que dois gatos da mesma raça com semelhantes hábitos de higienização podem não apresentar a mesma predisposição à formação de bolas de pelos. Para colaborar na eliminação dos pelos por meio da excreção, o alimento deve ser composto por fibras solúveis (Psyllium) e insolúveis (celulose), que ajudam no trânsito intestinal do felino. Essas fibras, em equilíbrio, agem de maneira a facilitar a eliminação dos pelos ingeridos através das fezes e, com a excreção dos pelos, há diminuição na probabilidade da formação das bolas. c. Esterilização Uma grande parte dos gatos, atualmente, é castrada. Dentre as diversas vantagens da esterilização estão: aumento da expectativa de vida, maior proximidade do animal com o proprietário, diminuição das brigas intra e entre-espécies, redução no hábito de marcar território e de contrair doenças. Porém, após a esterilização, o metabolismo do gato fica mais lento e o gasto energético diminui em, aproximadamente 30% (Belsito, 2009). Além disso, as atividades são reduzidas em 50% e o consumo alimentar aumentado em 20% (Fettman, 1998; Belsito, 2009). Assim, a condição se torna extremamente favorável para o rápido ganho de peso. Após a esterilização é fundamental que haja uma adequação nutricional que atenda às necessidades do gato nessa condição. O alimento deve conter teores adaptados de proteína, gordura e fibra, associados à presença de L-carnitina e Psyllium a fim de gerarem queima de gordura e saciedade, respectivamente. Algumas sensibilidades em gatos podem ser minimizadas com o suporte nutricional. Assim, associação do tratamento médico de rotina com o manejo nutricional adequado deve ser estabelecida caso a caso, de acordo com as particularidades de cada paciente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BARRS, V.R. Intestinal obstruction in five cats. Journal of Feline Medicine and Surgery,1, p.199-207,1999. 2. BELSITO, K.R.; VESTER, B.M.; KEEL, T.; GRAVES, T.K. AND SWANSON, K.S. Impact of ovariohysterectomy and food intake on body composition, physical activity, and adipose gene expression in cats. J. Anim. Sci., 87:594-602, 2009. 3. CANNON, M. Hairballs in cats: A normal nuisance or a sign that something is wrong? Journal of Feline Medicine and Surgery, 15, 9, 2003. 4. FETTMAN, M.J.; STANTON, C.A.; BANKS, L.L.; JOHNSON, D.W.; HAMAR, R.L.; HEGSTAD and JOHNSTON, S. Effects of weight gain and loss on metabolic rate, glucose tolerance and serum lipids in domestics cats. Res. Vet. Sci., 64:11-16, 1998. 5. GRANDJEAN, D. Tudo o que você deve saber sobre o papel dos nutrientes na saúde de cães e gatos. Ed. Aniwa, Royal Canin, 2006.
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FISIOTERAPIA, FISIATRIA E REABILITAÇÃO M.V. Maira Rezende Formenton Fisioanimal /Bioethicus maira@fisioanimal.com www.fisioanimal.com
TRATAMENTO HOMEOPÁTICO A Homeopatia é a prática terapêutica que visa curar pelo semelhante. Ela trabalha com o organismo de forma completa e dinâmica, sendo Hahnemann, um grande sábio médico, seu mestre precursor. O tratamento é feito com medicamentos homeopáticos, os quais podem ter origem mineral, vegetal, animal ou sintética. Estes procuram estimular o sistema imune, fazendo com que o corpo responda da maneira mais adequada aos estímulos nocivos que desequilibram o organismo. Os medicametos são escolhidos através da repertorização, ou seja, um estudo minucioso e específico do caso do paciente de forma individualizada, levando em consideração o animal como um todo, sendo desta forma, o tratamento individualizado. Essa grandiosa arte pode tratar os animais tanto em quadros crônicos quanto grande parte dos quadros agudos e ainda, pode ser usada como profilaxia para epidemias. Nos dias atuais, a homeopatia está presente nas universidades e cursos de graduação médica e veterinária, tanto em disciplinas obrigatórias quanto emoptativas. Na medicina veterinária, pode atuar em conjunto com a atividade da reabilitação, na forma de reequilibrar e trazer a harmonia ao organismo. Disfunções osteo-articulares e neurológicas podem ser tratadas de forma complementar com a homeopatia. Destacam-se os tratamentos para dores crônicas, artroses e artrites, problemas crônicos de coluna, além de atopias e artrites imunomediadas. Um estudo realizado em cães (Cassu et al, 2011) evidenciou que a Arnica Montana 12CH apresenta efeitos analgésicos e anti-inflamatórios similares ao Cetoprofeno quando utilizado no pós-operatório de castração em cadelas, sendo uma opção segura e efetiva. Ademais, o uso de Nitricum acidum e Thuya occidentalis tem sido cada vez mais utilizado para o tratamento de papilomatose canina e possui a vantagem de ser uma opção menos invasiva em relação ao tratamento cirúrgico. Apesar da aplicabilidade ser reconhecida, é importante ter em mente que a homeopatia transcende apenas aspectos médico-biológicos para justificar sua existência, e entra no contexto multidisciplinar, envolvendo, física quântica, filosofia, história, biologia molecular e experimental.
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Cão da raça Shnauzer apresentando lesões papilomatosas na região vestíbulo oral e lábios
Avaliação 15 dias após o tratamento com Nitricum acidum CH30 e mantida a profilaxia de recidiva com Thuya occidentalis CH30
Leitura Complementar: CASSU, R.N.; CALLARES, C.M.; ALEGRE, B.P.; FERREIRA, R.C., STEVANIN H.; BERNARDI, C. A. Analgesic and anti-inflammatory effects of Arnica montana 12CH in comparison with ketoprofen in dogs, 2011.
Dra. Karinne Marques da Silva Medicina Veterinária Homeopática Fisioanimal Mestranda do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal FMVZ-USP
NUTRIÇÃO ANIMAL Ana Flavia Chizzotti - achizzotti@premierpet.com.br M.V. MSc. Supervisora do Depto. de Capacitação Técnico-Científica da PremieR pet www.premierpet.com.br
Cuidados com a alimentação de cadelas lactantes Introdução A lactação corresponde à fase fisiológica de maior demanda nutricional para a cadela. O desenvolvimento da glândula mamária e início da produção das secreções lácteas ocorrem entre um a cinco dias antes do parto. Uma lactação satisfatória depende da condição corporal adequada antes e durante a reprodução, e de uma nutrição ótima durante a gestação e da própria lactação. Colostro Imediatamente após o parto, a primeira secreção mamária é o colostro, de vital importância para proporcionar imunidade passiva aos filhotes recém-nascidos, concedida na forma de imunoglobulinas e outros fatores imunes absorvidos pela mucosa intestinal dos filhotes. Além dessa função imunológica primária das imunoglobulinas maternas, os agentes ativos do colostro também exercem outras funções biológicas vitais, como crescimento e maturação das células do trato gastrointestinal dos filhotes, estímulo à primeira defecação, influência no volume da circulação sanguínea pósnatal, crescimento e diferenciação de células e tecidos do filhote, regulação e manutenção da glândula mamária. Diversas formas de colostro são produzidas durante as primeiras 24 a 72 horas após o nascimento, até se tornar leite. A composição do colostro possui concentrações mais baixas de proteínas, gorduras e sólidos totais e difere do leite em aspectos físicos e composição (Tabela 1).
FONTE: CASE ET AL, 1998
TABELA 1: COMPOSIÇÃO DO COLOSTRO E LEITE DA CADELA Componentes
Colostro
Leite
Proteínas (%)
4,3
7,53
Açúcares (%)
4,4
3,81
Gorduras (%)
2,4
9,47
Sólidos totais (%)
12
22,7
Energia (Kcal EB / 100 g)
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Entre 48 e 72 horas após o parto, as secreções digestivas do trato gastrointestinal começam a ser produzidas e ocorrem mudanças na capacidade absortiva de proteínas de alto peso molecular. Essas modificações na fisiologia gastrointestinal dos filhotes são necessárias para que os neonatos possam aproveitar o novo alimento, o leite materno, que substitui totalmente o colostro ao final de alguns dias, para criar uma barreira à entrada de patógenos no epitélio intestinal. Contudo, esses efeitos não são específicos e levam à destruição de parte das proteínas bioativas e perda de suas funções biológicas, além de impedimento da absorção dessas macromoléculas intactas pela mucosa intestinal. De fato, as imunoglobu66 • Nosso Clínico
linas não sobrevivem às mudanças fisiológicas gastrointestinais, mas os fatores de crescimento e suas proteínas de ligação são também encontradas no leite, evidenciando que existem estratégias de sobrevivência ao ataque ácido e enzimático. Ingestão energética Durante a lactação, considerando ninhadas com ingestão exclusiva de leite até 25 dias, cada filhote ingere de 15% a 17% de seu peso corporal em leite diariamente, representando, para filhotes da raça Beagle, por exemplo, 160g a 175g de leite/dia, resultando em ganho de peso médio de 36,8g/dia. O peso dos filhotes diminui ligeiramente ou não muda no primeiro dia de vida, recuperando-se no segundo dia e, logo depois, começa a aumentar. Um filhote canino deve duplicar seu peso em 10 a 12 dias de vida, com um aumento diário em média de 2g para cada quilograma de peso calculado para um adulto. A dificuldade em mamar e/ou o pouco leite da mãe pode promover uma queda brusca do peso, levando o filhote a óbito. A amamentação também ajuda a controlar a temperatura, pois o leite materno é 3°C a 4°C superior a temperatura corpórea. Após o parto, as necessidades energéticas da cadela aumentam em função do tamanho da ninhada e da produção de leite, e alcançam o máximo no pico de lactação, em média na terceira semana, a um nível duas a quatro vezes mais elevado que as necessidades de manutenção. A produção de leite e as flutuações nos requerimentos nutricionais da cadela lactante são determinados pela demanda, que tem relação direta com o tamanho da ninhada e a fase da lactação. Durante a primeira semana de lactação a produção de leite se aproxima de 2,7% do peso corporal da cadela. Ocorre um aumento exponencial até alcançar um nível máximo de aproximadamente 7,3% do peso da lactante, ao pico de lactação por volta da terceira e quarta semanas. A partir daí a quantidade e qualidade nutricional do leite experimentam uma queda significativa, passando a ser insuficiente para suprir todas as necessidades nutricionais dos filhotes. As necessidades nutricionais são superiores aos de qualquer outra etapa de vida adulta e, em alguns casos, até ultrapassam as necessidades em alguns nutrientes para o crescimento.Entretanto, há limitação física do aparelho digestório. Cadelas de porte pequeno podem chegar a aumentar em 4,5% a 9,0% sua capacidade de ingestão de alimentos, mas as de porte grande e gigante não ultrapassam 3,2%. Essa situação determina, nestas últimas, mobilização de gordura corporal para suprir suas necessidades energéticas nesse período, o que desencadeia balanço energético negativo. Importância da água Considera-se que os cães em manutenção necessitam de 60 mL de água para cada quilograma de peso corporal ou 3 a 4 vezes a
ingestão de matéria seca, com variações em situações mais exigentes. A lactação é a fase mais exigente, pois a produção de leite requer grandes quantidades de água. A necessidade de consumo de água na lactação ultrapassa muito as necessidades de manutenção e o baixo consumo pelas cadelas lactantes resulta em baixa produção de leite, desnutrição e desidratação dos filhotes lactentes. Nutrientes Recomenda-se que o alimento para lactação provenha pelo menos 10% a 20% da energia metabolizável ingerida na forma de carboidratos solúveis, o que corresponde a aproximadamente 23% da MS, para manter o nível de lactose do leite normal, caso contrário, a concentração de lactose do leite pode reduzir para até 2%. Além da caseína, encontram-se entre essas proteínas componentes bioativos, como enzimas, lisozimas, fatores de crescimento, hormônios e proteínas de transporte que facilitam a absorção de outros nutrientes. Os requerimentos de proteína da cadela aumentam mais que os de energia durante a lactação, motivo pelo qual o percentual de Energia Metabolizável (EM) provida por proteínas deve ser maior do que os alimentos de manutenção. Recomendamse aproximadamente 19% a 27% de proteína na Matéria Seca (MS). A concentração de gordura é relativamente baixa no início da lactação, aproximadamente 2,4%, aumentando no terço médio para 4,5% a 10%, dependendo da ingestão do teor lipídico dietético da cadela. No final da lactação os níveis de gordura praticamente retornam para os valores da fase inicial. A gordura aporta os ácidos graxos essenciais, vitaminas lipossolúveis e energia. O nível mínimo de gordura aconselhado em alimentos para lactação é de 10% da MS, para cadelas de ninhada média. Entretanto, um incremento acima dos valores mínimos contribui para uma maior densidade energética e aumenta a eficácia de utilização do alimento. O incremento energético deve ser acompanhado de outros nutrientes para manter o balanceamento do alimento. Grandes inclusões de fibra dietética são desaconselháveis para evitar a diluição da energia da dieta. Na prática, teores iguais ou menores do que 5% da MS satisfazem essa condição. Minerais A lactação leva a um decréscimo considerável das reservas de cálcio do organismo da cadela podendo o cálcio da dieta não ser capaz de compensar esta exigência, sendo necessário recorrer às reservas ósseas, por intermédio do paratormônio (PTH). As recomendações de ingestão diária de cálcio dependem do tamanho da ninhada, variando entre 250mg a 500 mg / kg PV/ dia, que podem ser alcançadas com uma dieta que contenha entre 1,0% a 1,7% de cálcio na MS. A relação Ca:P se mantém constante no leite durante a lactação, por volta de 1,3:1. Dietas contendo 0,7% a 1,3% de fósforo satisfazem a relação ideal entre os dois minerais na dieta, de 1:1 a 2:1. Os requerimentos de ferro são muito elevados nos primeiros dias de vida. Os filhotes neonatos nascem com um estoque hepático de ferro considerável, que são rapidamente mobilizados no período neonatal inicial. Os filhotes possuem uma excelente capacidade de absorção de ferro e o colostro atende muito bem à demanda aumentada do período, oferecendo uma concentração de ferro 10 vezes maior do que a sérica. Após a substituição do colostro pelo leite, tanto a demanda como a concentração desse mineral se mantém baixas durante a lactação, da mesma forma que os
requerimentos maternos diminuem. Portanto, não há necessidade de suplementação extra. Os requerimentos de cobre para as cadelas lactantes aumentam mais que os de energia em relação à manutenção e as necessidades dietéticas não reduzem durante o decorrer da lactação. Esse mineral encontra-se altamente disponível no leite e é eficientemente estocado no fígado dos lactentes. A concentração de zinco é influenciada pelo estágio da lactação, com os maiores valores observados no terço inicial, similarmente a outras espécies mamíferas, fazendo com que as necessidades dietéticas também sejam superiores. O magnésio, não sofre grandes variaçõesnos estágios lactacionais da cadela e em relação a outras espécies. A grande diferença interespecífica é que no leite das cadelas o Mg não se liga a proteínas de transporte, mas sim a complexos de baixo peso molecular. Considerações finais A nutrição adequada é importante para toda fase reprodutiva das cadelas, desde a gestação até a lactação. A lactação é um período extremamente relevante e deve receber especial atenção da dieta, para que possibilite a recuperação corpórea e reprodutiva da fêmea, e desenvolvimento adequado do filhote.
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