Sim! 100 digital

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SIM! RAMÓN VASCONCELOS

#100 RUY OHTAKE

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As nuances de uma arquitetura marcada por curvas, cores e concreto

CAPA DESIGN BRASILEIRO

Diretor Executivo Márcio Sena

GREG

Os caminhos da estética nacional DIVULGAÇÃO

As influências do Movimento que inspira as artes

CRÔNICAS DO OLHAR

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Croqui do arquiteto Ruy Ohtake, especialmente para a SIM! 100. Sua inspiração foi a recente descoberta de água em Marte. Uma analogia sobre vida e futuro para inspirar as novas criações.

86 FELIPE BRASIL

ARMORIAL

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REDAÇÃO / DESIGN / FOTOGRAFIA Edi Souza (edisouza.sim@gmail.com) Erika Valença Emanuele Carvalho Lorena Moura Mariana Clarissa

DIVULGAÇÃO

O professor e cronista de arte Raul Córdula estreia sua coluna na SIM!

PORTFÓLIO MARIA DO LORETO PROJETOS

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LUCAS OLIVEIRA

Escritório de arquitetura completa 30 anos de atuação

ARQUITETURA EM P&B

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MAKING OFF JARDINEIRA JARDINS É TUDO! PROJETO PB PROJETO RN PROJETO PE PROJETO AL MOSTRA MOSTRA FAZER O BEM

Carol Kirschner (carolmiraimidia@globo.com) Breno Lima Emanuel Neves Gabriela Pessôa Pedro Coimbra Renata Braga Lucas Oliveira

DELÍCIAS LAURENT, FABRICE E MÁRCIO VICTOR MUZZI

TOMÁS ARTHUZZI

TOMÁS ARTHUZZI

O olhar poético do fotógrafo Lucas Oliveira para o edíficio Santo Antônio

Coordenação Gráfica e Editorial Patrícia Marinho (patriciamarinho@globo.com) Felipe Mendonça (felipe.bezerra@globo.com)

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Operações Comerciais Eliane Guerra (81) 99282.7979 | 99536.7969 (elianeguerra@revistasim.com.br)

Três nomes da gastronomia revelam a França brasileira Nossos bastidores

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Flor-de-cera

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Burle Marx

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Monte um mini-bar

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Sandra Moura

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Renata Santa Rosa

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Fábrica Arquitetura

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Lúcio Moura

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CASACOR AL

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CASACOR RN

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Novo Jeito em Alagoas

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Arquiteto Colaborador Alexandre Mesquita (mesquitaita@gmail.com)

Joelma Santos (81) 3039.2220 (comercial@revistasim.com.br) SIM! é uma publicação trimestral da MIRAI ASSESSORIA EM COMUNICAÇÃO LTDA Redação | Comercial R. Rio Real, 49 - Ipsep - Recife - PE CEP 51.190-420 redacao@revistasim.com.br Fone / Fax: (81) 3039.2220 Os textos e artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da revista.





MOMENTO SIM!

UM ENCONTRO ENTRE

ARQUITETURA

E MODA

A SIM! 99 foi recebida com festa na loja etiqueta d, em Boa Viagem. A capa “Tá na moda?” circulou no evento junto aos anfitriões Eduardo Machado e Wair de Paula, que abriram as portas da nova casa de decoração do Recife. Por lá, profissionais da área e amigos que tanto contribuem com nosso perfil editorial, em um agradável encontro de fim de tarde de domingo. O evento ainda teve a personalidade e delicadeza das roupas desenhadas pela estilista Sonia Pinto – que ganha ateliê no mesmo endereço. As novidades, que vieram para movimentar o mercado, foram regadas a espumante Chandon, buffet do chef César Santos e pães ao levain de Márcio Sena. Uma data para agradecer e guardar na memória. FOTOS: LUCAS OLIVEIRA

+ Cobertura completa no Facebook: Revista SIM

Magna Coelli, Márcio Sena, Bete Paes, Felipe Bezerra, Wair de Paula, Dió Diniz, Eduardo Machado e Alexandre Mesquita

A estilista Sonia Pinto

Humberto Zírpoli e os filhos: Bernardo, Anita e Bianca

Os artistas Heron e Marcelo conferem a revista com Mesquita e Dió

Mãe e filha: Núbia e Silvana Gondim

André Carício

Náiade Lins e Adriana Noé

Augusto Reinaldo e Guilherme Eustachio

Raquel Laureano e Marília Benevides

Zé Roberto Marques e Ana Paula Cascão

Carlos Pragana e Wair de Paula

Os artistas de Bonito: Heron, Marcelo e Alex


Erika Valença e Fábio Pestana

Ângela Agra e Márcia Dias

Luciano Lacerda e Janaína Guerra

Marcelo e Bia Kozmhinsky

Ilma Ramos, Eliane Guerra e Silvana Gondim

Tony Jordão

Conceição Liz Lopes e Karla Azevedo

Caio Lima e Ísis Baracho

Dió Diniz e Humberto Cavalcanti

Bete Paes e Sílvia Lubambo

Taciana Feitosa

Raíssa Figueiredo e Tony Pedrosa

Eudes Santana e Felipe Mendonça

Henrique Cardin, Saulo Barros, Taciana Carulla, Sandra Vasconcellos, Nani Azevedo e André Carício

Elza Freire a Alexana Vilar

Lenira de Melo e Alex Patrício

Roberta Luíza e Luís Otávio

Márcia Nejaim, Eliane Guerra e Marcelo Souza

Festa de lançamento com casa cheia

Joana e Luciana Sultanum

Os convidados fizeram o brinde regado a Chandon


MOMENTO SIM!

BRUNCH A loja etiqueta d, em Boa Viagem, abriu oficialmente para o público em um encontro especial. Foi numa manhã de sábado que arquitetos e parceiros puderam se encontrar com Eduardo Machado e Wair de Paula para um café delicioso.

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Eduardo Machado e a cadela Melk

Allex Colontonio, Wair de Paula e Guilherme Eustachio

Elizete Benjamin e Marcela Nascimento

FOTOS: LUCAS OLIVEIRA

Facebook: Revista SIM

Andréa Danzi

Alexandre Mesquita, Ana Paula Cascão e Neto Belém

Daniela Lins

Saulo Barros e Doris David de Souza

André Dantas

Ricardo Sales e Fábio Benevides

Ketty Alcântara, Mônika Simon e Roberta Borsoi

Mônica Davies, Ana Cristina Santos e Raquel Montenegro

Fernanda Antunes, Cynthia Costa, Carola Queiroz e André Azevedo

Isabela Coutinho e Carla Cavalcanti

Jader Almeida

Sílvia Motta e Anelise Sobral

Suely Brasileiro e Alexandre Mesquita

Lavínia Coelho e Marília Figueira

Kleber Carvalho e Roberval Cesário

MOBILIÁRIO A Casapronta comemorou o lançamento do Projeto Viés com festa! A ação, que reúne designers consagrados para a criação de uma coleção de mobiliário, atraiu os profissionais do setor em uma tarde regada ao traço modernista dessas novas peças. Segundo a empresária Doris David, foi a chance de trocar informações e se confraternizar.

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FOTOS: EUDES SANTANA

Facebook: Revista SIM

DESIGN A Itálica Casa trouxe o premiado designer Jader Almeida para apresentar o seu primeiro showroom exclusivo de SOLLOS. Ele revelou no projeto toda a sua estética leve, o traço marcado e preciso da sua coleção de móveis e acessórios. A noite de apresentação foi bastante movimentada e reuniu muitos nomes da arquitetura pernambucana.

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FOTOS: LUCAS OLIVEIRA

Facebook: Revista SIM



MOMENTO SIM!

COLORMIX A Sherwin-Williams, com apoio da Revista SIM!, realizou evento no JCPM para divulgar sua cartela de cores de 2016 e os principais temas que a inspiram. O encontro teve a participação do arquiteto dr. João Carlos de Oliveira Cesar, professor da USP, que falou sobre a influência de sentimentos e a busca por renovação nas quatro tendências: Pura Vida, Mais Amor Por Favor, Nova Narrativa e Trajetória, apresentadas em nome do time internacional de especialistas da empresa. FOTOS: LUCAS OLIVEIRA

+ Facebook: Revista SIM

Erika Menezes, Patricia Fecci e Morgana Agustino

João Carlos de Oliveira Cesar

Ana Maria Maciel, Alexandre Mesquita e João Roberto Salomão

Priscilla Melo e Mauricea Mendes

Schirlley Loureiro, Renata Duque e Renata Britto

Ana Rivas e Felipe Bezerra

Patrcia Xavier e Naiana Carvalho

Ana Cristina Ávila, Leôncio Spencer Pereira e Márcia Rocha

Cyndia Vaz Milet

Denise Gaudiot e Fanny Cavalcanti

Luiz Dubeux e João Vasconcelos

Renata Inojosa e Juliana Braga

Anderson Lula Aragão e André Oliveira

Bárbara Cereja, Joanna Santos, Giovanna Queiroz e Karen Pedrosa

Patrícia Quintella

Fernando Alencar, Marcelo Kozmhinsky e Carolina Valois

Michelle Galvão e Romildo Carvalho

Larissa Costa, Cristiane Correia de Araújo e Alexandre Arraes

PAISAGISMO

Marcelo Kozmhinsky, em parceria com a Cosentino, promoveu uma palestra sobre Telhados Verdes no center da empresa no Recife. Voltada para arquitetos e construtores, a discussão girou em torno dos benefícios da prática, da maneira como é feita a implantação e os tipos de estruturas existentes. 12

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FOTOS: VICTOR MUZZI

Facebook: Revista SIM



MOMENTO SIM!

É FESTA! O mês de outubro marcou o aniversário da Refinare. Para comemorar o sexto ano da unidade, os sócios Tânia, Roberta e Mirela Jurema, e Esmeraldo Marinho promoveram uma noite que reuniu profissionais da área da construção. O evento contou com a palestra do arquiteto Arthur Casas, que falou sobre alguns de seus projetos, como o Mistral, em São Paulo, e o N.O.V.A, planejado para as Olimpíadas de 2016.

Tânia Jurema com Arthur Casas

Andrea Lima e Águeda Dias

Romero Duarte, Roberta Borsoi e Alexandre Mesquita

Thiago Torres e Gabriela Matos

Hawatt e Eduardo Jurema

Mirela e Roberta Jurema com Amanda Quental

Wagner Andrade, Hélio Abreu e Caetano Ximenes

Jadson Amorim e Rogério Gomes

Enio Tenório Bomfim e Rosângela Carvalho

Emanuelle Barbosa e Oeiza Jacquesy

Valéria Cox

Henrique Gomes e Inês Amorim

Luciano Almeida, Hilneth Correia e César Revoredo

Gustavo Silva, Renato Teles e Graziela de Caroli

Andréa Cariello com Cassiano e Milene Bezerra

Raniere Barbosa, Karla Veruska e Kelse Brena

Cecília Sales, Flávia Melo e Rose Rangel de Sá

Gustavo Farache, Joyce Stela e Leonardo Dias

FOTOS: GREG

+ Facebook: Revista SIM

CASACOR

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ALAGOAS A Revista SIM! foi conferir o abre em Maceió. Por lá, foram apresentados 34 ambientes, assinados por 60 arquitetos. O evento reuniu nomes importantes do setor e inovou ao inserir criações que privilegiam elegância e sustentabilidade. FOTOS: LUCAS OLIVEIRA

+ Facebook: Revista SIM

RIO GRANDE DO NORTE Muita celebração na festa de abertura da CASACOR® Rio Grande do Norte. Na noite do dia 15 de outubro, os franqueados Cesar Revorêdo e Luciano Almeida receberam mais de 700 convidados, entre profissionais da área e fornecedores, para apresentar com exclusividade os ambientes de sua 3ª edição. FOTOS: ELPÍDIO JÚNIOR

+ Facebook: Revista SIM

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#EUDIGOSIM A construção de um sonho só é possível se acreditarmos na concretização. Criar, projetar, planejar e executar, para então desfrutar. E, para isso, é preciso estar inteiro no que se faz. Tudo a que nos dedicamos só faz sentido se for por completo.

“Esteja presente com 100% de si mesmo. Em cada momento da sua vida diária” (Thich Nhat Hanh)

Talvez seja esse o segredo tão procurado por nós para atingir a felicidade. Vivenciando assim o caminhar, tem-se como bônus a expansão da mente, a amplitude da sensibilidade. Uma vida incrível, repleta de emoções. Dei conta disso nesta edição. Ao conversar com Ruy Ohtake senti uma gratidão tão forte quanto a primeira vez que entrevistei Janete Costa lá no início de tudo, na edição 12. Completando 16 anos de existência, ao mesmo tempo que confirma uma publicação de número 100, percebo o quanto fomos agraciados por nos entregarmos totalmente ao desejo de dizer SIM! à arquitetura e tudo mais que o seu entorno tem de melhor. Mestres como Ruy e Janete são representantes da sabedoria e generosidade que encontramos no caminho. Pessoas, projetos e ideias partilhadas as quais temos recebido e tratado com respeito e dedicação.

“Quando se sonha sozinho é apenas um sonho. Quando se sonha juntos, é o começo da realidade” (Miguel de Cervantes – Dom Quixote) Tudo isso nos move a agradecer a todos que sonham conosco: amigos, mestres, equipe, colaboradores, parceiros, leitores, anunciantes, entrevistados, incentivadores... Todos! Gracias! A SIM! 100 é uma celebração, um desfrutar cheio de entusiasmo pelo momento presente. Patrícia Marinho

LUCAS OLIVEIRA

patriciamarinho@globo.com

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ilusTRação: caRlos vaRejão

Gratidão – mario sergio cortella em latim, gratia significa abençoado, protegido, cuidado. Essa é a tradução latina do grego kharis, de mesmo sentido. Assim, a vida é congraçamento, é partilha de graças. Eu tenho graça, o outro também. Acho que uma das tarefas da esperança é deixar a vida mais engraçada, isto é, mais cheia de graça. [...] A noção de congraçamento (e, portanto, de gratidão) é muito bonita. Nesse sentido, os idiomas espanhol e italiano são mais felizes no uso das palavras de agradecimento, pois usam gracias e grazie, respectivamente. já em português, embora tenhamos o termo “grato/grata”, costumamos dizer “obrigado/obrigada” – palavra que cria reciprocidade de tarefa. A noção de gracias comporta a ideia de gratuidade mesmo, isto é, eu faço porque você é um outro como eu, e, ao fazer para você, bem me faz. Por isso, gracias. Sabe-se que ali há uma capacidade de congraçamento. Desse modo, ser agradecido à vida é entendê-la cheia de graça. O engraçado não é ridículo, mas aquilo que é pleno de graça. Trecho do livro “sobre a esperança – diálogo”, Frei betto e mario sergio cortella, Papirus debates, Editora 7 mares, págs 83 e 84 19


EDITORIAL

S

SCONCELO

ILUSTRAÇÃO: KAU BISPO

RAMÓN VA

BANDEIRA 1

Não há redação melhor para um repórter do que a rua. Imagine ela sendo São Paulo, a cidade que nunca dorme. Foi lá que desembarquei em 07 de julho para construir as matérias da edição 99 e iniciar as primeiras relações da revista seguinte, a 100. O nome de Ruy Ohtake surgia quase como um eco, desde a nossa primeira reunião de pauta, em que o arquiteto teria um conteúdo forte para essa publicação comemorativa. Mas só! Tínhamos apenas a vontade em mãos e alguns rabiscos no bloco de anotações. Na primeira tentativa de contato, o filho da artista plástica Tomie Ohtake cumpria agenda atribulada, com boa parte preenchida pela finalização das obras do Aquário Pantanal (MS). A tarefa de administrar esses compromissos estava a cargo da sua secretária Carla, ainda sem data fechada para um encontro, mas com o interesse de receber um exemplar. Já era um passo! Mas ele, que não utiliza celular — até jogou fora um novinho — e nem acessa e-mail, teria disponibilidade nesses meus dias paulistas? Em 09 de julho, num feriado municipal, quando os compromissos eram mínimos, calculei o horário em que poderia ser mais fácil encontrá-lo. Alguém como ele certamente não estaria desfrutando uma folga durante a semana. Parei tudo de onde estava e segui rumo

ao seu escritório na intuição de chegar por volta das 11h. Pontualmente, estaciono com o táxi em frente ao prédio na Av. Brigadeiro Faria Lima e, por uns minutos, registro o endereço na minha memória até o instante de pagar a corrida. É quando sou surpreendido por um homem de cabelo branco e sorriso leve, que gentilmente pedia para embarcar. Era ele: o meu texto de capa. A primeira ação ao ver Ruy Ohtake foi de abraçá-lo, soltando um afônico: “Vim do Recife pra te entrevistar”. O sotaque carregado certamente comprovava isso. Atordoado, recebi o convite para seguirmos a viagem juntos, onde pude explicar melhor, deixando-o no seu destino. Ele retornava para sua casa e eu começava uma história que levaria para a vida. A conversa foi finalmente agendada para o dia seguinte, às 15h. Emoções à parte, uma verdadeira aula de arquitetura, urbanismo e socialização — temas que sempre permearam as reportagens da SIM!. Eis o casamento perfeito. O ponto alto foi o acerto de um croqui especial para ser a capa deste número. “Mas só entrego quando você voltar com um bolo de rolo”, brincou. E assim foi feito! Celebramos agora o encontro, a conquista e a essência que nos levou até aqui. Vida longa à SIM! Edi Souza edisouza@revistasim.com.br

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MAKING OFF TOMÁS ARTHUZZI

SÓ SEI QUE fOI ASSIM... Misturamos todas as tribos para fazer uma edição histórica! Cada encontro foi marcado não só pelo conteúdo, mas pelo entusiasmo de produzir uma publicação tão valiosa quanto à de número 100. Entre a apuração com grandes nomes da arquitetura, da arte e do design, veio o clique que revela o empenho de informar a todo momento.

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TOMÁS ARTHUZZI

TOMÁS ARTHUZZI

SÃO PAULO | 1. PROMESSA CUMPRIDA: BOLO DE ROLO ENTREGUE NAS MÃOS DE RUY OHTAKE 2. PAPO SOBRE DESIGN NA CASA DE PAULO ALVES 3. UMA LIÇÃO DE SABEDORIA E SIMPLICIDADE COM LAURENT E A EQUIPE FOTOGRÁFICA: O MINEIRO TOMÁS E A SANTISTA BRUNINHA 4. ENCONTRO DELICIOSO COM WALDICK JATOBÁ 5. NIDO CAMPOLONGO ABRIU AS PORTAS DO SEU ATELIÊ

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MAKING OFF

EDI SOUZA

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VICTOR MUZZI

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VICTOR MUZZI

LUCAS OLIVEIRA

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LUCAS OLIVEIRA

1. EQUIPE ANIMADA FINALIZANDO MAIS UM MOMENTO DA EDIÇÃO 2. NOSSA PRIMEIRA REUNIÃO DE PAUTA DA 100 3. UMA ALEGRIA TRABALHAR EM PARCERIA COM GREG 4. ENSAIO COM RAUL CÓRDULA PARA A NOVA COLUNA DA SIM! 5. A EQUIPE SE FARTOU DE PÃO FEITO COM LEVAIN DEPOIS DA FOTO DE VICTOR MUZZI, SEMPRE JUNTOS 6 | 7 | 8. CONVERSAS ARMORIAIS: EMANUELE ENTREVISTA MARCELO SAMICO, CARMEN LÚCIA DE ANDRADE LIMA APRESENTA PROJETOS E CARLOS NEWTON JÚNIOR ABRE SEU ACERVO

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LUCAS OLIVEIRA

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JARDINEIRA

Ana Patrícia de Paula (Tita de Paula) Jornalista, designer floral, paisagista e jardineira Dona Jardineira: (81) 3036.6314 / 99152.1237 Instagram e Facebook: dona jardineira contato@donajardineira.com.br www.donajardineira.com.br

Originária da Ásia e da Austrália, a flor-de-cera pode ser a trepadeira dos seus sonhos, caso você não esteja com pressa. Com crescimento relativamente lento, tem na inflorescência sua maior recompensa, com cachos de suas magníficas mini-flores enceradas, que podem se apresentar nas cores rosa, creme, vermelha, branca, e possuem um perfume levemente adocicado. Perene, têm folhas espessas e carnudas (sim, elas armazenam água) e seu tronco de formato tortuoso (considerado quase um cipó) é perfeito para compor treliças, grades ou caramanchões. Em vasos pendentes, elas ganham volume e trazem beleza para qualquer ambiente.

FLOR-DE-CERA

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Acho engraçado quando alguém comenta: “que flor linda, parece artificial”. O que seria mais perfeito e verdadeiro que a própria natureza? Mas, devo admitir que aconteceu algo parecido comigo quando vi, pela primeira vez, uma formosura conhecida como flor-de-cera ou flor-de-porcelana (vamos falar aqui da variedade Hoya carnosa). Essa florzinha delicada, em formato de estrela, chega mesmo a intrigar com sua textura cerosa, com jeitinho de um confeito açucarado, um verdadeiro convite ao toque. Curiosa, claro, toquei-a. Logo veio o encantamento. Um merecido encantamento.

Algo que conta ao seu favor: gosta de ser cultivada em meia-sombra (permite ambientes internos, desde que receba muita luminosidade). Sol forte não é com ela. Gosta de clima quente, mas deve ser mantida em local fresco durante os dias mais abafados do verão.

Para plantar a flor-de-cera, o ideal é um solo rico em matéria orgânica, como composto de folhas e húmus de minhoca, mas não esqueça a parte de areia, ela garantirá uma boa drenagem e elas só se desenvolvem bem sob essa condição. Ou seja, na hora de plantar em vaso, não esqueça que este deve ter aqueles furinhos embaixo, feitos pra escoar a água das regas. Rústica, dispensa adubações constantes, sendo uma ou duas vezes por ano mais que suficiente. É uma plantinha que gosta de umidade, mas que exige poucas regas. Um solo encharcado pode comprometer totalmente a planta. Ah, é bom evitar transplantar a flor-de-cera, ela não gosta muito dessa prática. De tão maravilhosa, até que ela pode ser um pouquinho exigente, não é mesmo?

DICAS AbE

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hOt OS.C

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• Nos períodos mais quentes do ano, ela necessita de regas regulares, mas nas épocas de clima mais ameno, o ideal é reduzir bastante a frequência, deixando secar a superfície entre uma rega e outra. • As suas folhas dão ótimas dicas da quantidade de água que estão recebendo: se estiverem amarelas com pontos pretos, você está regando em excesso, já folhas endurecidas e com manchas, sua planta está precisando de mais regas. É comum que nos primeiros anos de cultivo ela não venha a florescer.

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JARDINS

UMA HOMENAGEM A

BURLE MARX Praças assinadas pelo paisagista são tombadas no Recife FOTOS: VICTOR MUZZI

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A cidade do Recife recebeu um presente em forma de lei: o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) definiu o tombamento de alguns dos jardins de Burle Marx no Recife. A medida foi tomada em função do grande valor histórico, artístico e paisagístico do local e pela importância do paisagista no cenário modernista no Brasil e no exterior, além da qualidade estética de sua obra.

Marcelo Kozmhinsky é engenheiro agrônomo, paisagista e educador (81) 99146.7721 | 99146.4563 marcelo@mkzpaisagismo.com.br www.mkzpaisagismo.com.br

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A decisão foi do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, que se reuniu em Brasília. O grupo que avalia os processos de tombamento e registro é formado por especialistas de diversas áreas, como cultura, turismo, arquitetura e arqueologia. Ao todo, são 23 conselheiros, os quais representam diferentes entidades, além dos 13 representantes da sociedade civil, com conhecimento nos campos de atuação do Iphan.


O pedido foi realizado pelo Laboratório da Paisagem da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em 2008, com o apoio da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP) e do Committee on Historical Gardens and Cultural Landscapes — organismo britânico que presta consultoria para a Unesco. As estruturas tombadas foram as praças de Casa Forte; Euclides da Cunha (Madalena); República e o jardim do Campo das Princesas; Derby; Ministro Salgado Filho (Ibura) e Farias Neves (Dois Irmãos). Esses lugares são os mais antigos equipamentos públicos do Brasil projetados pelo paisagista, sendo o de Casa Forte o primeiro deles. O tombamento reconhece a proteção especial e favorece um maior controle urbano

no entorno. De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Recife, além das praças contempladas com a proteção federal, serão considerados alguns jardins históricos também de Burle Marx. Eles foram criados na década de 1930 e são um marco no movimento Modernista em todo o País, por priorizar artefatos e vegetação regionais. A cidade contabiliza vários trabalhos assinados por este grande nome, mas muitos foram modificados com o tempo. Essa nova fase significa muito na preservação do traçado original, apesar de serem compostos por elementos vivos que sofrem mudanças pela própria natureza e também pela ação antrópica. 31


Hoje, o cidadão que circula por esses endereços observa o descaso de alguns desses patrimônios, que sofrem danos permanentes por parte da população. Para isso, é essencial uma campanha de educação ambiental e apropriação correta. A Praça de Casa Forte, popular pelo seu acervo florístico com vitórias-régias que flutuam sobre as águas, é indicativo da sua exploração pelo mundo das vegetações brasileiras, pouco conhecidas até então. O local passou recentemente por recuperação e está em boas condições. Já a do Derby, com suas palmeiras gigantescas e várias espécies de árvores, está localizada numa área de ritmo frenético da cidade, por onde trafegam muitas pessoas. Esse e tantos outros locais deveriam possuir um plano de manutenção, com jardineiros treinados para entenderem os cuidados que esses espaços requerem, além do manejo adequado das espécies florísticas que vicejam nesses ambientes. A adoção por entidades privadas pode ser uma boa solução para contribuir para os cuidados necessários. Esse acervo na capital tem uma grande relevância para a sociedade. Seu significado como legado dos serviços prestados por esse expoente de criação para nossa cidade está repleto de simbolismo. Afinal, ele foi e continua sendo a maior referência em paisagismo em todo o Brasil.

CONHEÇA MAIS O PAISAGISTA: Ele nasceu no dia 4 de agosto de 1909, em São Paulo. Aos 18 anos, na Europa, decidiu se tornar pintor, após visitar uma exposição de Van Gogh. Na Alemanha, conheceu a coleção de plantas brasileiras do Jardim Botânico de Dahlem, em Berlim, que o inspirou a trabalhar com o paisagismo de jardins.

Em 1932, após seu primeiro projeto ter sido considerado uma obra de arte para a arquitetura de Lúcio Costa e Gregori Warchavchik, passou a se dedicar ao paisagismo, junto com a pintura e o desenho.

Em 1934 foi contratado para ser diretor de Parques e Jardins em Pernambuco, quando começam a fazer jardins públicos. Em 1949 comprou um sítio de 365 mil metros quadrados, em Barra de Guaratiba/RJ, organizando uma grande coleção de plantas, muitas delas descobertas pelo próprio Burle Marx em suas expedições pelo Brasil, várias delas recebem seu nome. São contabilizados mais de dois mil projetos paisagísticos de sua autoria no Brasil, entre eles, o Parque do Flamengo e o Calçadão de Copacabana, no Rio de Janeiro, e o Itamaraty, em Brasília. Burle Marx morreu no próprio sítio, em 4 de junho de 1994, aos 84 anos. 32





É TUDO!

Alexandre Mesquita | Arquiteto, especialista em design de interiores e professor universitário Mesquita & Belém – Arquitetura e Design: (81) 3039.3031 | www.alexandremesquita.com.br |alexandre@alexandremesquita.com.br

É TEMPO DE BOEMIA

três produções inspiram na hora de projetar um mini-bar FOTOS: GREG

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Com a tendência dos espaços gourmet invadindo a casa, o lugar que mais vem ganhando atenção nos projetos é, sem dúvida, o mini-bar. Esse espaço é ótimo para reunir os amigos num clima descontraído, seja em áreas urbanas, na praia ou na fazenda, em locais pequenos ou muito amplos, com características clássicas ou despojadas. Na verdade, não existe lugar ou estilo específico para montar esse ambiente que é pura festa. Se o cliente é daquelas pessoas que apreciam um drink sem abrir mão do conforto, ele já tem todos os atributos para valorizar uma área como essa que, além de dar personalidade à moradia, incrementa a decoração. Logo nas primeiras inspirações, estudo o perfil dos moradores ou do principal usuário, assimilando gostos e interesses essenciais. Se é um local para relaxar, promover reuniões, apreciar uma boa bebida, ler... enfim, se sentir bem. Não há restrição quanto aos itens que podem ser utilizados na composição. Pode-se tudo, desde

que sejam respeitadas as predileções do cliente. Mas se ele tiver aquele jogo de peças, com taças adquiridas no tempo da avó, e que de alguma forma lhe tragam referências afetivas, que tal colocá-las à mostra, compartilhando com os visitantes? É um fluido! Também vale lembrar que as pré-definições de um canto apenas para líquidos alcoólicos usufruído exclusivamente por adultos não é uma regra ou, necessariamente, um mote para estruturar o local. Muitos dos que desejam incluir essa história na residência pontuam que ele poderá ser utilizado por toda a família, incluindo crianças ou convidados que preferem bebidas não alcoólicas, como um suco, por exemplo. Por isso, para permitir a presença de mais companhias, é interessante apostar em objetos e alimentos que atendam a esse perfil. E foi exatamente nesse clima de encontro de todas as idades que realizamos três produções cheias de identidade para as páginas a seguir. É abrir as portas de casa e deixar a visita chegar!

ESTILO CLÁSSICO Partindo para um entorno mais urbano, um bar sofisticado e monocromático para um morador clássico que aprecia licor e destilados ao som de músicas leves. Mesmo com poucos metros quadrados à disposição, é possível oferecer um canto acolhedor, só com itens selecionados. Nada de colocar o que não se precisa. A regra é simplicidade aliada ao bom gosto, motivo para tons mais neutros, sofisticados e materiais arrojados. O usuário é um colecionador de bebidas, por isso as garrafas de cristal Boêmia dão um toque de personalidade e resgate das suas histórias. Também investimos nas peças assinadas, como o banco de Zanine Caldas e o quadro da fotógrafa Ângela Agra, que dão forma às preferências do principal frequentador. Para ele, basta uma poltrona confortável, uma bandeja com garrafas de design e um objeto de decoração sempre à vista, como o cavalo de carrossel belga. etiqueta d | (81) 3465.8182

CLIMA PRAIANO Quando o projeto é feito no litoral, é importante levar em conta o clima informal e despretensioso. A praia deve ser a referência essencial do trabalho para dar a ideia de extensão da beira-mar, razão para se apostar no colorido e investir em elementos naturais, com o uso de plantas, e propor uma brincadeira entre móveis de palha e madeira. Neste exemplo, o cliente quer toda essa descontração de quem fugiu do centro urbano e buscou a tranquilidade. Na ambientação está o vitral, que deu mais alegria ao espaço, e a cortina, que segue a temática praiana. Os elementos menores também cumprem a função de personalizar, como o puff estofado, que, além de ser um apoio para descanso, pode ser usado como baú. Em termos de praticidade, uma adega de vinhos presa à parede está próxima da mesinha de madeira que sustenta algumas garrafas e taças. A louça é de diferentes tonalidades e os objetos de décor também causam uma verdadeira explosão de felicidade. CASA MODELO | WWW.ACASAMODELO.COM | (81) 3087.3366

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3 TRANQUILIDADE DO CAMPO Para quem acha que em um home bar só cabem opções alcoólicas e petiscos tradicionais, esta produção vem provar o contrário — um espaço de estilo country em uma residência de campo geralmente aproveitada por toda a família e por pessoas que preferem beber algo mais suave. Por isso, nada impede de ter comidinhas como bolos, tortas e sucos servidos como lanche para a criançada e os convidados. Dentro desse contexto, uma mesa de bicicleta garante um toque prático e funcional ao local, com uma pegada mais masculina. A partir daí, incluímos a informalidade das poltronas de palha, que incrementam a rusticidade da proposta. Para servir, suqueiras de cristal de chumbo dispostas em suportes de mármore e ferro, além de jarras e taças em mesinha de centro laqueada. Por fim, o clima da natureza chega com quatro gravuras de pássaros que arrematam o décor. ICASA | WWW.NA-ICASA.COM.BR | (81) 3031.7754

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Um regionalista brasileiro Texto: Edi Souza Fotos: Ramón Vasconcelos | Tomás Arthuzzi | Divulgação

O título desta matéria resume o olhar do arquiteto Ruy Ohtake sobre si mesmo e sua carreira de mais de 50 anos. A frase, dita logo no início da primeira entrevista especial para a SIM!, no seu escritório em São Paulo, adianta que, para este paulistano de descendência oriental e forte DNA ligado às artes, não há barreira de território para a boa criação. Das suas mãos, um grande projeto surge de maneira simples ao tornar estudo e ousadia instrumentos de ponta em torno do desenho feito sempre à mão livre. É ser dono do próprio ofício e se deixar envolver por completo.


CAPA | RUY OHTAKE

OLHAR ADIANTE “O correto não é falar de arquitetura mineira, gaúcha ou nordestina, e sim brasileira. Essa é a linguagem conhecida lá fora, a mesma que eu defendo em traços contemporâneos, dando continuidade ao que Oscar Niemeyer iniciou na década de 1940 com as obras da Pampulha, em Minas Gerais. Nós tivemos uma relação muito próxima e o que ficou foi o gosto pela beleza da forma”, diz Ruy Ohtake ao defender uma atuação ampla e consistente da profissão. Para ele, não basta seguir conceitos prévios ou se espelhar rigidamente nas influências áureas do período modernista (1920 – 1970), a intuição deve guiar o arquiteto de qualquer origem rumo à inovação constante. “Quando você trabalha em conjunto, existe o consenso de determinado assunto. Mas para ser de vanguarda, é preciso romper essa concordância e ir para outro patamar. Como estabelecer um novo caminho ninguém sabe, pois é o mesmo que adentrar numa treva desconhecendo as regras boas e ruins, motivo para se acreditar na intuição”, defende, ao revelar o quanto é importante transformar esse momento de mudança numa ação criativa em busca de personalidade. Talvez por isso seja tão fácil identificar suas obras pelas ruas. Elas estão espalhadas no Brasil e no mundo, absorvendo a cultura do entorno junto ao estudo minucioso do concreto armado e curvado aliado à estética, numa vontade de quebrar o cinza urbano e tornar a cidade mais aberta, democrática e igualitária. É quando a cor se torna a característica mais forte. Como ele explica, é saber lidar com o chamado ‘tom de compromisso’, em que o amarelo é gema, o vermelho é sangue e o verde é de Mata Atlântica, numa livre analogia de que a vida passa por tonalidades vibrantes, sem meio termo. Essa visão foi enxergada por Ariano Suassuna como uma referência positiva. Ruy lembra satisfeito que o paraibano, em um dos seus artigos, criticou a neutralidade das construções de olho no colorido da cultura brasileira, tão ignorada perante o cinza e o branco dominantes nas metrópoles. “Eu li esse texto e fiquei muito contente ao ponto de esperar a vinda dele para São Paulo e mostrar fotografias de algumas das minhas obras. Ele olhou e logo exclamou: ‘É exatamente isso que quis dizer’. Foi um reconhecimento, e assim combinamos de trocar informações sempre que possível”. Trecho do manifesto sobre arquitetura disponível na pág. 75. RESIDENCIAL EM BRASÍLIA É UM EXEMPLO DE FORMA, COR E MOVIMENTO

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Haruo Mikami

O pessoal tem medo de falar belo. A arquitetura precisa ser bonita. Essa é, na verdade, a sua primeira intenção, porque o engenheiro já cuidará da função, e nosso papel é outro. Não devemos produzir para os nosso pares, e sim para as pessoas, que precisam se sentir atraídas por aquilo

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fotos: Leonardo Finotti


A habilidade com a paleta cromática torna nítida a influência da sua própria mãe, a artista plástica Tomie Ohtake (1913 – 2015). Com ela, aprendeu a minúcia artesanal em pintura, gravura e escultura ao ponto de transmitir tal beleza no seu contexto. Questionador e atento ao futuro, o senhor de cabelos brancos, olhar puxado e opinião firme sente falta desse envolvimento mais amplo na formação do novo profissional. “Vejo muita superficialidade. O pessoal tem medo de falar belo. A arquitetura precisa ser bonita. Essa é, na verdade, a sua primeira intenção, porque o engenheiro já cuidará da função, e nosso papel é outro. Não devemos produzir para os nosso pares, e sim para as pessoas, que precisam se sentir atraídas por aquilo”. Neste momento, aponta uma das suas criações mais reconhecidas mundialmente, o Hotel Unique, erguido em 2002 na movimentada Av. Brigadeiro Luiz Antônio/SP. A fachada chama logo atenção pelo desenho de arco invertido, suspenso do solo, formado por concreto, madeira e cobre. Este último material é composto por placas pré-oxidadas variando de tonalidade. Por baixo da linha curvada ainda existe um volume de vidro onde funciona o lobby, com vista para a área externa do jardim de pedras assinado por Gilberto Elkis. É por onde o visitante tem acesso às dependências do hotel ambientado por João Armentano ao sinalizar uma empena de concreto em cada extremidade. Por dentro, o deslumbre se mantém com o auxílio do vidro reto e curvo envelopando a recepção, com madeira também presente no forro. Neste setor, é possível visualizar o bar disposto numa parede única de nove metros, com iluminação independente, equipado por sofás, puffs e poltronas. Ao subir para algum dos 95 leitos, o hóspede se depara com um corredor nada tradicional, sinuoso e de pouca luz, fazendo uma relação correta da linha externa com a interna. Os apartamentos se diferenciam por localização. Os situados nas extremidades realçam a ousadia do piso ao encontrar o teto como a curva percebida na fachada. Na cobertura, a paisagem de São Paulo é mantida por conta da transparência do guarda-corpo, fazendo o complemento perfeito entre a modernidade da região e uma piscina de pastilhas unicamente vermelha. “É um marco na paisagem ao ponto de se reconhecer a estrutura de qualquer lugar que seja”, completa.

NELSON KON


CAPA | RUY OHTAKE

NELSON KON

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PAIXÃO PELA CURVA “Cada um tem seu olhar para a cidade. Então, existem formas distintas de transformá-la de acordo com a bagagem. A história é importante para a formação, mas o que eu levo em conta é o meu amadurecimento sobre essas informações”, resume. Dessa maneira nosso entrevistado para uns minutos de conversa e, silenciosamente, busca as nuances de alguns projetos. Próximo ao seu escritório funciona o Instituto Tomie Ohtake, administrado por seu irmão Ricardo. O lugar vai além do sobrenome da família para ser um ponto de encontro da arte. 49


Acho interessante voltar ao projeto pensado tempos atrás e ver que o visitante continua ocupando este ambiente

NELSON KON

A torre de 22 andares inaugurada em 2001 é um complexo de estilo futurista, com 65 m2, divididos em espaços culturais e escritórios. Do lado de fora a estrutura parece única graças à sua cobertura envidraçada e translúcida, que atrai olhares de qualquer ponto do bairro de Pinheiros. Por dentro, o concreto surge pintado em várias cores, onde a parte principal funciona como uma espécie de hall, que converge para todos os espaços de programação cultural. 50

“O desenho inicial contemplava três pilares. Eu me convenci que isso ficaria péssimo e quebraria a liberdade de circulação, foi aí que chamei o calculista e pedi para colocá-las suspensas a partir do teto, utilizando material de alta resistência. Foi uma mudança drástica durante a obra”, detalha. Dessa maneira, ganhou-se amplitude para as exposições e interação das pessoas com as peças. “Acho interessante voltar ao projeto pensado tempos atrás e ver que o visitante continua ocupando este ambiente”.


ACERVO ROAU

Conhecido por executar espaços de uso público que logo se tornam cartões-postais, sua linha de pensamento é a do fascínio estético, como se percebe em uma das suas assinaturas mais recentes. O Aquário Pantanal, no Mato Grosso do Sul, está na etapa de finalização e pretende ser o maior do mundo em água doce, com status de ponto turístico. São 17 mil m2 de área construída, com 32 aquários que abrigarão milhões de litros de água, protegidos por um concreto específico que evita vazamento. Mas é a forma elíptica, composta por estruturas de metal, vidro e chapas de zin-

DANIEL DUCCI

ESTRUTURA CIRCULAR MARCA O DESENHO DO AQUÁRIO PANTANAL

co, que motiva a explicação do arquiteto. A ideia é enaltecer o passeio de uma maneira inovadora, com fácil mobilidade.

sitiva tem pé-direito duplo enaltecido por estruturas arredondadas que funcionam como escadas de acesso ao mezanino.

O projeto é tão ousado quanto o Centro Cultural de Jacareí/SP, aberto em 2014, e equipado por teatro (740 lugares), área de exposição e salas multiuso. A linguagem arquitetônica é sinuosa e até certo ponto extravagante, graças ao revestimento externo com parede de blocos de concreto e agregado mineral em faixas horizontais em tons de vermelho. Duas entradas rasgam a fachada com desenhos também ondulantes. A área expo-

Em seu portfólio há mais de 300 produções mundo afora, e elas precisam se interligar no pensamento de vanguarda. Sua equipe pode não ser das maiores, mas é integrada. “Confesso que sou centralizador. Hoje trabalham comigo nove profissionais de épocas distintas do escritório”, explica.

COR E LEVEZA NA FACHADA DO CENTRO CULTURAL DE JACAREÍ


Daniel Ducci

UMA DEMOCRACIA CHAMADA HELIÓPOLIS Durante a entrevista, era inevitável perguntar qual dos seus projetos foi o mais desafiador. A resposta veio de imediato: “aquele que está por vir!”. A descontração tomou conta até o momento em que o nome da maior comunidade de São Paulo surge imperativo: Heliópolis. Por lá, vivem mais de 200 mil pessoas. Gente que, segundo o arquiteto, invadiu o terreno nos anos 1970 fugindo da pobreza que assolava as cidades do interior nordestino.


O encontro teve origem quando circulou na imprensa um texto escrito por Ruy Ohtake falando que esses territórios precisavam ser ouvidos — razão para os representantes de Heliópolis o convidarem no início dos anos 2000 para solucionar uma questão básica, a de como tornar a comunidade menos feia e mais atrativa. “Aceitei prontamente e pedi para fazer uma visita, percorrendo as ruas e ouvindo as necessidades dos moradores. Foi assim que notei o quanto existe solidariedade ali dentro, observando não só o local, mas as pessoas. Escutei todos eles e anotei pelo menos nove itens, em que a maioria revelava a identidade cultural daquele grupo”, lembra. Os pedidos eram a criação de uma pequena biblioteca para atender os trabalhadores em horários estendidos, incluindo os sába-

dos — com livros que abordassem as questões das cidades. Isso, sem falar na escola de artes e no cineminha. “Eu disse não querer usar a palavra ajuda, como forma de assistencialismo, e sim a de dupla responsabilidade. Então comecei pela cor, pedindo que escolhessem três ruas para estudarmos a pintura”, comenta o arquiteto, destacando ainda a importância das parcerias nesse processo. Afinal, um dos primeiros contatos foi com a Suvinil, que forneceu cerca de 250 galões para a renovação das casinhas. “Todos os moradores puderam opinar a respeito, pois a fachada é de cada um, e era preciso que eles concordassem. Para executar o serviço, elegeram oito pintores. Como era necessário certo conhecimento para manusear as tintas, capacitamos

os escolhidos num curso de dois meses, dando um aprendizado que levaram para a vida toda”, detalha. E não parou por aí. A etapa seguinte era a criação da biblioteca, com a reforma de duas casas geminadas, aptas para uma operação simples. Foi quando mais um parceiro entrou em ação. “Tinha feito uma reforma para uma revendedora de carros, e perguntei se o diretor poderia patrocinar esse nosso trabalho, e ele confiou em mim. Em dois meses, o espaço ficou pronto, e me deparei com outra questão, os livros. Falei com o crítico Antônio Candido e o diretor da Biblioteca de São Paulo para listagem das principais publicações. Quando conseguimos 220 obras, abrimos com a direção dos moradores agora capacitados para isso”, relata orgulhoso.


CAPA | RUY OHTAKE DANIEL DUCCI

ACERVO SEHAB

A transformação daquele território finalmente chamou a atenção do poder público, em 2005, ganhando inclusive a visita do então ministro da Cultura, Gilberto Gil, e do presidente Lula. “Até os ouvi comentando: ‘por que não fazemos isso no resto do Brasil?’”, fala o arquiteto, que recebeu nova missão para aquele entorno, no projeto popularmente conhecido como “Redondinhos de Heliópolis”. Trata-se de um terreno próximo à comunidade em que os governos Municipal, Estadual e Federal articulavam um conjunto habitacional. Ruy foi determinado a oferecer uma nova experiência de ocupação ao pensar na sutileza do traço redondo em 29 edifícios.

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REPRODUÇÃO

São quatro apartamentos por andar, com dormitório, banheiro, sala e cozinha. O térreo é livre e pensado para ser pátio de lazer, com lixeiras seletivas e playground, evitando o ponto de encontro em corredores, numa espécie de conglomerado de pessoas. Eles também foram construídos distantes uns dos outros dando às famílias uma visão ampla e de cima. “Lembro-me de ter apresentado o projeto à população

e uma senhora indagar: ‘então terei que trocar todos os meus móveis por algo redondo?’. Foi interessante essa discussão, pois era um novo formato, valorizando a convivência democrática”, diz. O acabamento não poderia ser outro, por isso cores por todos os lados. “As cidades brasileiras são coloridas, principalmente aquelas em que o desenvolvimento urbano não as atingiu. Quis resgatar essa mensagem”.


CAPA | RUY OHTAKE

A CONVITE DO

CONCRETO

A galerista pernambucana Nara Roesler encomendou ao escritório de Ohtake uma casa de dois andares que dialogasse bem com sua rotina em São Paulo. O resultado foi um espaço onde uma parede de textura bruta recebe o morador, convidando-o para os demais cômodos. “Pensar no concreto com esse recorte é lidar com o imprevisível, porque a reta já é conhecida, mas a curva não. É lidar com o trabalho artesanal em uma riqueza estética”, adianta. Esse é o elemento principal da residência, conduzindo aos ambientes integrados. São salas equipadas com mobiliário e arte de acervo pessoal, colocados sob medida ao contexto arquitetônico. As cores pontuam o lugar, que recebe iluminação natural nas extremidades, através do jardim e da claraboia na área de jantar. Nessa parte está uma mesa de 13 lugares, desenhada por Ruy, com base de concreto e tampo de madeira, que abriga cadeiras de couro em diferentes tonalidades. Por lá, um pé-direito duplo envolvente de onde cai o móbile de Júlio Le Parc. Ao fundo, o quadro multicolorido do artista contemporâneo Heinz Mack.

TOMÁS ARTHUZZI

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Tomás Arthuzzi

Minha casa é meu refúgio, onde curto o gesto escultórico criado por Ruy Ohtake. Um abraço, como ele descreveu. Entre formas e cores inusitadas, convivo feliz com a família e os amigos Nara Roesler


TOMÁS ARTHUZZI

um tom. “Não ficou animado?”, brinca o arquiteto. A descontração segue no muro ondulado pensado para integrar o verde da rua com a casa. “Foi um recorte desenhado na própria parede, que fez uma ligação diferente e fluida com a cidade”. Trata-se de uma única área de lazer, a qual reúne pequenos artigos de arte popular, fotografias e livros, junto a um sofá, poltro-

nas e até uma pia de cimento, mas nada amontoado. A circulação é livre, coroada pela leveza do vidro, numa espécie de caixa aberta, onde a moradora também ganhou uma pequena raia feita de pastilhas coloridas. A cozinha, por exemplo, é estreita, mas preenchida de vermelho, laranja, azul e verde em diversas caixas. Para Nara Roesler, sua moradia é hoje um abrigo de belas histórias.

TOMÁS ARTHUZZI

A atmosfera orgânica chama para o convívio em todos os cantos, fruto de uma transformação bem sucedida dos materiais utilizados. É como um simples corremão ganhar forma ondulada ou mesmo uma estante ser formada por finas prateleiras de concreto com menos de dois centímetros de largura. Aliás, é no pavimento superior que esse exemplo se torna mais nítido em uma verdadeira explosão de cor. Cada parede possui

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ARQUITETURA NO MÓVEL A curva que envolve e intriga também se mostra imponente no seu design de mobiliário. Este pensado para oferecer uma identidade marcante no contexto da ambientação, com peças que são puro contraste de leveza e função – motivo para o apreciado concreto servir de base até para uma mesa de jantar, enquanto o aço faz o papel de sustento do vidro em aparadores e peças de centro. Este é um lado dinâmico da sua arte, que numa escala menor renova o poder de criação e energia. Assim concorda o arquiteto e filho mais velho Rodrigo Ohtake, ao considerar esse tipo de produção a parte lúdica da rotina. “O design tem uma velocidade diferente da arquitetura, não tem o mesmo impacto, mas é veloz. Sua produção gera resultados mais rápidos, e isso é instigante, principalmente para a minha geração”, conta o jovem de 28 anos, que tem o pai como mestre. Ele, graças à forte referência de casa, sabe que a intenção é tornar os espaços mais interessantes. “Antigamente, isso era apenas um complemento. Hoje, é algo mais desvinculado da arquitetura, traçado como num fundo branco, que resulta em inúmeras possibilidades para mexer, articular, sentar e trazer estética”, completa. “O desenho ligado à arquitetura estende-se às pessoas daquele território. Mas quando você desmembra isso, qualquer um pode comprar a ideia, ver e ficar ali. O pensamento é outro, por isso uma peça individualizada pode ter alcance maior”, conta Ruy. Dessa forma, surgem desenhos como a recém-lançada mesa Sinfonia, produzida em aço inox sustentável, lançada pela Mekal.

FOTOS: DIVULGAÇÃO

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LEGADO DE FAMÍLIA NELSON KON

A convivência com a mãe Tomie Ohtake sempre foi intensa. Aos domingos, o encontro em família estava garantido na casa da artista nipônica, obviamente projetada por ele. “Quando almoçávamos, eu soltava: não vamos fazer uma reunião de condomínio, o assunto aqui é arte e toda movimentação a respeito”, sentenciava Ruy. O espaço de toque brutalista tem 750 m2, com ambientes integrados. Como ele mesmo brinca, só o talher e as obras não são de concreto. O que se percebe é a monocromia do material, que valoriza as inúmeras produções de arte banhadas de cor. Na área externa predomina a beleza natural com um jardim de espécies exuberantes em meio a bancos e algumas esculturas. “Ela falava muito sobre a ética na arte. Primeiro, não se entusiasmar com qualquer coisa e nem com o próprio trabalho. Segundo, não fazer cópias, mesmo que sejam réplicas camufladas. Ela dizia isso para todo mundo, inclusive para os meus filhos”, revive.

A casa também abraça o ateliê da artista, de onde é possível notar uma claraboia composta por tubos de metal e vidro, na intenção de receber luz natural. É quando tela se mistura com escultura e mobiliário de design, numa composição múltipla, até mesmo na cozinha, incorporando itens de madeira e aço. “É preciso vivenciar esse universo, porque a máquina não produz desenho expressivo, quem faz isso é o arquiteto”, ressalta. Na hora de falar sobre os desafios do futuro, Rodrigo assume:

“A cidade evolui, mas é bom fazer dela um lugar melhor. E nós temos essa função. Enquanto existir arquitetura, haverá desafios”, complementa. Para ambos, a essência da profissão é seu caráter inovador. “Nunca digo que farei o possível, porque soa conformista. Acredito que projetar é transformar, sendo transgressor ao dar um passo inesperado. O consenso na democracia é importante, mas nas artes é péssimo”, conclui Ruy Ohtake.

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TOMÁS ARTHUZZI


fotos: Leonardo Finotti

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A arte armorial brasileira é aquela que tem como traço principal a ligação com o espírito mágico dos ‘folhetos’ do Romanceiro Popular do Nordeste (Literatura de Cordel), com a música de viola, rabeca ou pífano que acompanha seus ‘cantares’, e com a xilogravura que ilustra suas capas, assim como com o espírito e a forma das artes e espetáculos populares com esse mesmo Romanceiro relacionados (…) De fato, o trabalho criador da maioria dos artistas armoriais começou muito antes do lançamento oficial do Movimento. Por outro lado, este ainda está em plena atuação Ariano Suassuna (extraído do texto O Movimento Armorial)


A Inspiração

ARMORIAL TEXTO: EMANUELE CARVALHO FOTOS: LUCAS OLIVEIRA | VICTOR MUZZI | DIVULGAÇÃO ILUSTRAÇÕES: BRENO LIMA | GABRIELA PESSÔA


Se fosse contado pelo Palhaço, personagem do clássico Auto da Compadecida, que completa 60 anos em 2015, do escritor Ariano Suassuna, este texto começaria assim:

“Silêncio! O distinto leitor imagina-se na década de 1970, quando um escritor incomodado com a massificação cultural cria um movimento que preza pela valorização das raízes da cultura nacional. Que se abram as cortinas ...”

O texto é um convite à imersão em um universo poético, cheio de significâncias e carregado dos elementos que vêm do sertanejo, do negro, do índio, do povo. “Há muito tempo eu meti na cabeça que o povo brasileiro tinha me encarregado de uma missão de defender o próprio povo e a cultura brasileira”, disse Ariano Suassuna em uma das tantas aulas-espetáculo que ministrou, trazendo para si a responsabilidade que abraçou até o fim de seus dias. Ele nasceu em 1927, em Nossa Senhora das Neves, atual cidade de João Pessoa, na Paraíba. Aos três anos, com a morte de seu pai, a família foi para o município de Taperoá, no Cariri paraibano, onde ele assistiu pela primeira vez a uma peça de mamulengos e a um desafio de viola. Mudou-se para o Recife, cidade que adotou em 1942. Casou com Zélia de Andrade Lima, em 1957, parceira da vida e das artes, com quem teve seis filhos.

Escreveu sua primeira peça, “Uma Mulher Vestida de Sol”, em 1946. No entanto, a que o projetaria em todo o país, “Auto da Compadecida”, foi escrita em 1955. Mais tarde, já como professor da disciplina de Estética, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), idealizou o movimento que andaria na contramão da cultura à época. O manifesto do “Movimento Armorial” tinha o objetivo de, junto com outros escritores e artistas, criar uma arte brasileira erudita fundamentada nas raízes populares. Foi lançado em 18 de outubro de 1970, no Recife, com um concerto, intitulado “Três Séculos de Música Nordestina – do Barroco ao Armorial”.

Completando 45 anos em 2015, o Movimento Armorial segue inspirando artistas e escritores, designers, ilustradores e arquitetos, músicos e bailarinos Brasil afora. Pratica vários setores das artes, como as plásticas, romance, teatro, poesia, pintura, escultura, gravura, tapeçaria, cerâmica, entre tantas outras. “O Armorial está vivo porque as ideias e princípios estéticos ainda norteiam a produção de vários artistas, além dos que são inspirados e não declaram, que trabalham esses moldes de forma inconsciente. O movimento estabeleceu princípios, apontou uma direção, mas cada um traça seu caminho”, afirma Carlos Newton.

O professor e pesquisador Carlos Newton Júnior, especialista na obra de Suassuna, dedicando as últimas décadas à análise, sob o viés acadêmico, do universo armorial do escritor, explica a trajetória do Movimento e a influência de seu idealizador: “Não podemos entender sua obra fora dos princípios armoriais. A história dele começa a ser criada quando ainda era estudante de direito. Em sua primeira peça, já podem ser notadas influências do que ele definiria mais tarde”, esclarece o professor, que se lembra ainda do contexto que existia na época da criação. “Ele era o então diretor do Departamento de Extensão Cultural da Universidade, quando pensou em fazer um projeto congregando artistas. A passagem dele pela Prefeitura do Recife transformou o projeto em plataforma, e, quando trabalhou para o Governo do Estado de Pernambuco, deu forma ao Movimento”, conta Newton.

“O sonho que eu tenho para o Armorial é que ele continue, mesmo que não seja por esse nome. Continue a haver artistas e escritores que se preocupem em fazer de seu trabalho alguma coisa que expresse o nosso país e o nosso povo”, vislumbrava o mestre paraibano.


Fases do Armorial 1a Fase: considerada por Ariano experimental, com certos adesismos, improvisações, artificialismos e equívocos. O aparecimento de Antônio José Madureira, do Quinteto Armorial e da Orquestra Romançal Brasileira, justificou todo o resto do trabalho. Por outro lado, Gilvan Samico prestigiou o Movimento.

2a Fase: romançal, uma das mais fecundas do Movimento. O trabalho da Orquestra Romançal, o lançamento do Balé Armorial (origem do atual Balé Popular do Recife) e a estreia de Antônio Carlos Nóbrega como teatrólogo, com o espetáculo “A Bandeira do Divino”, podem ser caracterizados como alguns marcos desse momento.

União das Artes Literatura de cordel, o toque da viola e da rabeca, esculturas, cerâmicas, gravuras, espetáculos de rua. O Movimento Armorial se baseia no que é produzido por artistas populares que refletem na produção erudita. Para abarcar as mais diversas áreas artísticas, o Armorial se inspirou no folheto de cordel, usando os versos para o diálogo com a literatura, as rimas para a música, a declamação para o teatro e as gravuras para as artes plásticas. “O Armorial não foi um processo em que vários artistas se juntaram para começá-lo, como foi com o Impressionista e Modernista. Ele já acontecia no Brasil, era uma arte que já estava interligada, com muita naturalidade, entre o erudito e o popular. Ariano próprio dizia que o Movimento não foi ele que propôs. Ele observou que já existia no Brasil todo, mas principalmente no Nordeste, um grupo de artistas que, de, alguma forma, guardavam nos seus trabalhos a referência, a inspiração, a partir de uma arte popular. Essa dualidade entre erudito e popular é uma discussão que existe desde o início do Modernismo”, explica o artista plástico Romero de Andrade Lima. Utilizando novamente a figura do Palhaço, que na literatura era a representação do próprio autor, e, segundo ele, a única oportunidade de ser o palhaço dos circos que ele tanto admirou, ele cobraria novamente:

“Mas preste atenção, distinto leitor! De que vale entender o Movimento se ao menos Armorial consegues definir. Hei de te ajudar!”

E essa ajuda, claro, vem do próprio idealizador. “Em nosso idioma, ‘armorial’ é somente substantivo. Passei a empregá-lo também como adjetivo. Primeiro, porque é um belo nome. Depois, porque é ligado aos esmaltes da Heráldica, limpos, nítidos, pintados sobre metal ou, por outro lado, esculpidos em pedra, com animais fabulosos, cercados por folhagens, sóis, luas e estrelas. Foi aí que, meio sério, meio brincando, comecei a dizer que tal poema ou tal estandarte de Cavalhadas era ‘armorial’, isto é, brilhava em esmaltes puros, festivos, nítidos, metálicos e coloridos, como uma bandeira, um brasão ou um toque de clarim. Sendo ‘armorial’ o conjunto de insígnias, brasões, estandartes e bandeiras de um povo, no Brasil, a Heráldica é uma arte muito mais popular do que qualquer outra coisa. Assim, o nome que adotamos significava, muito bem, o que nós desejávamos”, explicava. Ao longo da vida, o escritor vai revendo e ampliando, como a inserção da importância da pintura rupestre, em 1980, depois da integração da arte brasileira com a latino-americana, e depois com a africana. Um posicionamento contra a arte massificada imposta e importada dos EUA e da Europa. “Acho que o sentimento armorial se espalhou para tudo, inclusive nos comerciais de televisão. Muitos artistas celebram um sentimento, uma forma, sem precisar ser nominados. Não há quem não ache que tem que celebrar a cultura indígena, a cultura negra... a cultura nordestina, que é armorial. O movimento inspira, mas não me venha com essa de rotular”, arremata Romero de Andrade Lima.

3a Fase: após as fases Experimental e Romançal, o Movimento Armorial volta às manchetes através do Arraial, iniciada durante a gestão de Ariano Suassuna na Secretaria de Cultura de Pernambuco, durante o terceiro governo de Miguel Arraes.


Literatura Ave Musa incandescente do deserto do Sertão! Forje, no Sol do meu Sangue, o Trono do meu clarão: cante as Pedras encantadas e a Catedral Soterrada, Castelo deste meu Chão! Nobres Damas e Senhores ouçam meu Canto espantoso: a doida Desaventura de Sinésio, O Alumioso, o Cetro e sua centelha na Bandeira aurivermelha do meu Sonho perigoso! POEMA DE AbERtURA DO LIVRO “A PEDRA DO REINO”

Colocando em primeiro plano o universo lúdico do Sertão, como no poema que abre o “Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta”, a literatura Armorial busca tanto uma ordem simbólica quanto a verdadeira tradição das formas e dos gêneros artísticos trazidos pelos colonizadores e arraigados na nossa tradição. Sendo o próprio Ariano Suassuna, pois, a maior representação da literatura Armorial, trazendo em seus romances a filosofia

TELA PINTADA POR ROMERO DE ANDRADE LIMA EM HOMENAGEM À POEtISA DEbORAh bRENNAND

do sertanejo, com todas as suas cores, sabores, viveres e dores. “Há poetas que são armoriais mais por serem ‘emblemáticos’, como é o caso de Deborah Brennand, e outros que se ligam mais diretamente ao espírito e à forma do Romanceiro Popular Nordestino. A poesia de Ângelo Monteiro seria uma espécie de ligação entre a poesia aristocrática e emblemática de Deborah e a de Janice Japiassu e Marcus Accioly, estas últimas mais direta-

mente ligadas à Literatura de Cordel”, esclarecia o escritor. O Movimento conta também com romancistas, contistas e novelistas como Raimundo Carrero, por exemplo, autor de “A História de Bernarda Soledade — A Tigre do Sertão”. De que maneira o Movimento Armorial ecoa na literatura, hoje? Um nome que mantém viva a estética é o de Carlos Newton Júnior, que tem retomado o estilo e os pressupostos do movimento em seus ensaios e poesia.

Quando a serpente de ouro agonizar nas pedras E o cardo do tempo agreste, longe, muito longe, Florir para ninguém seu único coração, Guarda o punhal e deixa no escuro a cruz de estrelas Santificar os brutos carrascos da noite. Escuta o silêncio bicado por uma garça selvagem Ou o vento que arranha nos espinhos do sonho Escuta tudo, até o sino ordenar um sangrento levante E a profecia cigana ler o destino do verão. Então, não lamentes o amanhã. Ajaeza teu cavalo e segue, Entre o cheiro das juremas, nos ramos da terra clara. Nos rios mortos, apanha teu brasão, as três medalhas. O gavião da luz devora um vôo de sombras frágeis. Segue e rasga o lenço vermelho: está acesa a batalha! “POEMA DO SERtãO”, DE DEbORAh bRENNAND

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Música e Dança

DIVULGAÇÃO

Inspirando poetas, músicos, atores, cineastas, bailarinos e artistas plásticos, o Movimento promoveu a criação de grupos como o Quinteto Armorial, o Balé Armorial do Nordeste, a Orquestra Armorial do Cariri, o Quarteto Romançal e o Grupo de Dança Grial. Este, comandado pela bailarina Maria Paula Costa Rêgo, desde 1997. “Ser uma coreógrafa Armorial foi uma escolha natural e se traduz na maneira como observo as tradições populares, resultados dessa cumplicidade, são os avanços do trato entre o universo das tradições e o da criação contemporânea”, avalia Maria Paula.

LUCAS OLIVEIRA

No caso do Grupo Grial, a dança executada se caracteriza por iniciar suas pesquisas nos terreiros culturais e sagrados, como o candomblé, ou nos terreiros culturais e profanos das tradições populares. “Não me canso de defender que Ariano não morreu, ele se encantou. O seu legado se estilhaçou entre nós, não no sentido de se quebrar, mas no sentido de se multiplicar. E cabe a nós artistas e educadores elaborar possibilidades do fazer artístico e alargar as ideias”, defende.

Na música, ele imaginava a inserção de alguns instrumentos, como a rabeca e o pífano, e elementos característicos da música nordestina, com rítmicas bem específicas. Trazer o popular, como o Cavalo Marinho e o Maracatu, transformando-os numa música erudita. “Não existe popular e erudito. Assim como não existe cultura inferior e superior. Villa-Lobos é um exemplo disso, pegava as toadas dos negros e transformava aquilo num concerto. Assim como Antônio Madureira o fez no Quinteto”, explica Romero de Andrade Lima.

DIVULGAÇÃO

O Movimento foi lançado ao som d’A Orquestra Armorial que, em seguida, transformou-se no Quinteto Armorial, grupo menor que se adequava melhor à estética pretendida. Com o fim do grupo, Antônio Madureira criou o Quarteto Romançal, com a proposta de ampliar e aprofundar o que o seu antecessor havia feito. O grupo teve várias formações até seu fim, em 2010. “Foi um prazer tocar com Zoca, que é considerado um dos dez melhores violonistas do Brasil. Na minha música, além da influência Armorial, trago muito da indiana, do rock progressivo, do jazz, traduzindo-a à minha maneira, com o meu jeito de compor”, conta Sérgio Ferraz.

NO ALTO: APRESENTAÇÃO DO GRUPO GRIAL DE DANÇA; ACIMA À ESQUERDA: SÉRGIO FERRAZ TOCA SUA RABECA, PRESENTEADA POR ARIANO SUASSUNA; ABAIXO À ESQUERDA: ANTÔNIO NÓBREGA ENCENA “bRINCANtE – O fILME”

Passeando pelas duas vertentes, Antônio Nóbrega é a grande expressão da música e da dança inspiradas no popular. “Minha ligação com Ariano foi imensamente frutífera, anos de convivência quase que cotidiana; musiquei alguns de seus poemas; inspirei-me em seus “amarelinhos” para construir o meu personagem Tonheta. Foi a partir do encontro com ele que minha maneira de fazer arte, entender cultura e ver o mundo ganharam outras e novas dimensões”, lembra Antônio, que assegura que seu mentor teve, e continuará tendo, um papel absolutamente imprescindível, vital para a arte e cultura brasileiras.

Chico Science, com sua defesa pela proteção do mangue e valorização da cultura local, também se incluía no conceito Armorial, mesmo sem ter participado ativamente. “Meu tio brincava dizendo que só deixava ele se nominar assim se trocasse o nome por Chico Ciência. Mas, mesmo com toda brincadeira, ele bebia da fonte do Armorial e acreditava não precisar trocar de nome ou algo parecido”, comenta entre risos Romero de Andrade Lima.

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Design Em 1974 o escritor paraibano estudou os ferros e sinais de marcação de animais no Sertão do Cariri e escreveu os textos que proprõem o “Alfabeto Sertanejo”, que não significam necessariamente monogramas, mas símbolos, publicado no livro “Ferros do Cariri – uma heráldica sertaneja”.

Dentro da categoria de artistas que não fizeram parte do Movimento, mas têm, na sua arte, influências armoriais, Bel Andrade Lima se encaixa perfeitamente. “Fiquei até um pouco surpresa em estar nesse grupo, mas acho massa. Vejo muita influên-

Aa Bb Cc Dd Ee Ff Gg Hh Ii Jj Kk Ll Mm Nn Oo Pp Qq Rr Ss Tt Uu Vv Ww Xx Yy Zz ALFABETO ARMORIAL, UTILIZADO NA MATÉRIA, CRIADO PELOS DESIGNERS RICARDO GOUVEIA DE MELO E GIOVANA CALDAS

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Anos mais tarde, na década de 1990, a partir do contato com o então Secretário de Cultura, os designers Ricardo Gouveia de Melo e Giovana Caldas desenvolveram o ‘Alfabeto Armorial’. “Quando ele nos procurou, gostaria de criar uma fonte para computador que pudesse utilizar

em seu novo romance. Mas não seria aquela tipografia já criada por ele, e sim um novo desenho. A partir de então fizemos a nossa intervenção técnica e criativa”, explica Ricardo, que tem uma parceria com Dantas Suassuna, filho de Ariano, desenvolvendo outras peças armoriais, como livros, vídeos, exposições e embalagens.

O AÇÃ

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À ESqUERDA: ILUStRAÇÕES DA DESIgNER bEL ANDRADE LIMA, DESENVOLVIDAS (PRIMEIRA) PARA A MARCA INgLESA DE tÊNIS MO:VEL SHOES E (SEgUNDA) O PROjEtO CENOgRáfICO DO CARNAVAL DO RECIfE 2014; À DIREItA: PROjEtOS gRáfICOS CRIADOS PELO DESIgNER RICARDO gOUVEIA DE MELO

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cia do Movimento no meu trabalho, por inspiração da arte do meu tio, Romero de Andrade Lima, e de Gilvan Samico. Naturalmente, as ‘firulinhas’ e a simetria que eles usam estão presentes nas minhas criações, que tomei como assinatura também”, comenta entre risos. “Sou formada em design e as ilustrações vieram muito de brinde. Fui criando uma identidade e as pessoas conseguiram captar com mais clareza as influências regionais no meu trabalho”, diz ela, que assina o projeto de ilustração do Carnaval do Recife desde 2013. Com ar lúdico e em tom de homenagem, nasceu a coleção Anunciação, da Trocando em Miúdos, que carrega os traços de Samico, as formas de Brennand e os escritos de Ariano nas peças. Pavões, peixes, sereias e pássaros visitaram a criação. “Batizamos muitos acessórios com nomes de obras do Movimento Armorial e de pessoas ligadas a esta cena, como Célida Samico”, conta a designer Juliane Miranda, sócia de Amanda Braga. PEÇAS DA COLEÇÃO ANUNCIAÇÃO ELABORADA PELA TROCANDO EM MIÚDOS INSPIRADA NO MOVIMENTO ARMORIAL

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“fábULA DE PRIMAVERA”, tELA INSPIRADA NAS REfERÊNCIAS MEDIEVAIS DO ARtIStA PLáStICO ROMERO DE ANDRADE LIMA

Artes Plásticas Nas Artes Plásticas, os principais precursores da estética armorial foram os pernambucanos Gilvan Samico, através de suas xilogravuras, e Francisco Brennand, nas esculturas. Tomando por base a arte tradicional, os traços das gravuras em madeira e dos ferros marcadores de gado do Nordeste, puderam dar cores e formas ao universo mítico Armorial. Além destes, outros tantos artistas que avivam a cultura nordestina, como Romero de Andrade Lima, Manuel Dantas Suassuna, Marcelo Peregrino e Lucas Suassuna Wanderley são influenciados pela estética em seus trabalhos.

falava. Como eram amigos-irmãos, ele chegou um dia aqui em casa e disse que ia lançar o Movimento baseado nas coisas daqui do Nordeste, e Samico já estava incluso”, finaliza. “No início de sua carreira, quando ainda tinha uma obra muito carregada da estética expressionista, ele procurou Ariano para uma conversa sobre sua insatisfação com o tipo de gravura que estava produzindo, e foi sugerido que ele pesquisasse na literatura de cordel, foi aí que seu traço mudou”, explica Peregrino, lembrando que o pai não replicava a literatura, mas interpretava as histórias, como numa ilustração.

Dantas Suassuna reverencia o legado do pai com a mostra “Em nome do pai”, uma forma de o artista “prestar” contas publicamente de tudo que produziu durante tantos anos. A intenção foi criar vários altares, onde o público pudesse contemplar o que ambos, pai e filho, compartilhavam. “São muitas referências do Sertão, da vista que temos da nossa casa lá, da religiosidade. Coisas minhas, dele também, da nossa família”, conta Dantas.

Romero de Andrade Lima sempre gostou da arte e vivia no entorno do assunto. “Me lembro como me senti íntimo daquilo que meu tio propunha como arte. Quando comecei a desenhar sempre pedi sua avaliação, como um professor. Durante toda a vida eu usufruí dessas aulas de forma especial”, lembra Romero, que começou a pintar no momento em que o Movimento nascia.

Embora leve adiante o termo armorial com a sua arte, Gilvan Samico, que morreu aos 85 anos, contava que, quando o Movimento nasceu, estava na Europa e chegou um pouco atrasado, em 1971, mas não deixou de participar. Sua viúva, Célida Samico, conta como foi a adesão do marido: “Ele já manifestava em sua obra o que Ariano

“Tudo no que eu acreditava em termos de arte permanece até hoje, continuo fazendo pesquisa sobre o desenho medieval, sou sempre influenciado por pintores que, de alguma forma, também foram armoriais ao seu modo. Até Pablo Picasso, o mais moderno de todos, foi buscar inspiração na cultura africana, foi uma revolução. Gustav Klimt estudou os painéis sumérios, MOSAICO CRIADO POR GUILHERME DA FONTE PARA ARIANO SUASSUNA, A PEÇA INtEgRA O ACERVO DA CASA DO ESCRItOR. gUILhERME fEz SUA PRIMEIRA EXPOSIÇÃO, INCENTIVADA PELO SOGRO, EM 1997, NA ACADEMIA PERNAMBUCANA DE LEtRAS, COM ObRAS DESENVOLVIDAS PARA IMPORtANtES ESPAÇOS PÚbLICOS

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Como eram amigosirmãos, ele chegou um dia aqui em casa e disse que ia lançar o Movimento baseado nas coisas daqui do Nordeste, e Samico já estava incluso Célida Samico REPRODUÇÃO

para, em seus rostos greco-romanos, inserir os mosaicos, como os que Guilherme da Fonte faz, que também é uma junção dentro do espaço, do erudito com o popular. E assim muitos... Para nós do Nordeste, não existe outro nome para definir o que fazia, pode ser que na Europa inventem”, comenta Romero. Outro que aproveitou a proximidade com o criador do Armorial foi Guilherme da Fonte. “Nunca pensei um dia em ser artista. Mas, durante uma reforma da minha casa, peguei os pedaços do muro que foi derrubado e fiz um mosaico de um sol, como brincadeira. Quando Ariano viu esse desenho, me incentivou a produzir outros. A partir daí, decidi usar não os tijolos e azulejos, mas o granito, mesmo ele sendo contra, por conta do brilho da peça”.

ACIMA: “A ILhA”, xILOgRAVURA DE 2008, CRIADA POR gILVAN SAMICO; ABAIXO: GRAVURA FEITA POR MARCELO PEREGRINO, NOVA GERAÇÃO DE XILOGRAVURISTAS

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REPRODUÇÃO

REPRODUÇÃO DIVULGAÇÃO

A herança está gravada nos traços de Lucas Suassuna Wanderley. “Tudo o que eu procuro produzir possui forte influência da arte popular do Nordeste, seguindo a concepção do Movimento Armorial, baseada no ‘espírito mágico e fantástico do romanceiro popular’. Isso tem a ver com as ideias e padrões estéticos que fui absorvendo ao longo dos anos, em grande parte por influência direta e indireta do meu avô. Nesse sentido, os lugares que frequentava desde menino e as conversas que ouvia foram fundamentais para me encaminhar na consolidação de um estilo artístico”, explica Lucas. O grande diferencial dos traços do Movimento é a perenidade observada, por exemplo, no grafite de Derlon, que vai se reinventando e ganhando as ruas. “No início da minha carreira, foi no Armorial que busquei mais inspiração. Acho que não é a técnica que fica, mas a estética, com seus desenhos e representações, imprimindo uma nova linguagem”, conta.

NO ALTO: DESENHOS DE LUCAS SUASSUNA WANDERLEY, NETO DE ARIANO, qUE tRAz EM SEU tRAÇO MUItAS INfLUÊNCIAS DO MOVIMENtO AO LADO: PRÉDIO DE DEz ANDARES, EM AMStERDã, NA ALEMANhA. O MAIOR PAINEL DE DERLON

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Arquitetura

“Sonho com uma arquitetura civil e religiosa brasileira, a qual partindo do bom senso meio mouro e chão da arquitetura das casas, desse salto maior para o divino, com florestas de pedras, colunas de arenito retorcida em forma de troncos vegetais, dividindo fachadas e espaços revestidos de azulejos e cerâmicas, com linhas curvas, cariátides de pedra, algo que se lançasse tortuosa e triunfantemente para o alto, através do maciço, do pesado e do irregular, exatamente como faz a alma humana que ‘compensa’ a rotina com a poesia e a exatidão com a loucura”. Trecho do Texto Movimento Armorial

Ariano, desde muito antes do Armorial, em 1961, já descrevia a arquitetura brasileira como sendo “feia, fria e desagradável. Copiada de Le Corbusier, internacionalista, brancosa, cartesiana, de paredes nuas e retas”. E completava: “tem que ser imaginosa, meio demente, colorida, violenta, irregular, ardente e forte em certos casos, e, noutros, tranquila e acolhedora. Deveríamos fazer o contrário de tudo isso que anda por aí com o nome de ‘moderno’ ou ‘funcional’ e que resulta, simplesmente, da falta de imaginação criadora, da mania de imitação do que vem de fora, da falta de coragem para lutar contra as ideias estabelecidas”. “Na época, a arquitetura que vinha se impondo no Brasil era modernista, de Oscar Niemeyer, que tem princípios universais. Ele defendia algo mais tropical, mais frondoso. Do ponto de vista estético, seria mais colorida, que associasse à escultura, à cerâmica”, diz Carlos Newton Júnior. Mesmo sendo um sonho de escritor, alguns dos marcos de projetos que se encaixam no estilo Armorial puderam ser considerados por ele: a Oficina de Brennand – que surgiu das ruínas da antiga Fábrica Cerâmica São João, que funcionou de 1917 a 1945. O espaço foi restaurado em 1971, onde abriga mais de duas mil peças, entre esculturas e pinturas, espalhadas pelos 15 mil m2 de área construída; o livro de “Pinturas e Platibandas”, de Anna Mariani, que revelou ao país a beleza das casas populares; e a Casa da Flor, obra do negro, pobre e pouco letrado Gabriel Joaquim dos Santos, em São Paulo, inspirada em um sonho que teve seu idealizador, em 1912. A área construída não chega a 40 m², com pé-direito baixo, não tem banheiro nem cozinha, fica no alto de um pequeno morro, sete metros acima do nível da rua, cercada por árvores, arbustos e muitas flores, perfeitamente integrada com a natureza ao redor, a típica construção de terra, parte dela feita de pau-a-pique.

LUCAS OLIVEIRA

ACIMA: PARTE DO ACERVO DA OFICINA BRENNAND QUE APRESENTA SEU EXÉRCITO DE AVES INSPIRADO NA MITOLOGIA AO LADO: A CASA DA FLOR COMPOSTA POR ENTULHOS E CACOS ENCONTRADOS PELO CAMINHO AMELIA MARIA ZALUAR

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FOTOS: DIVULGAÇÃO

PROJETO DESENVOLVIDO PARA A PRIMEIRA CASACOR® PE PELAS ARQUITETAS SUELY BRASILEIRO E gUIDA COStA, bASEADAS NA LEItURA DO tExtO MOVIMENtO ARMORIAL, ESCRItO POR ARIANO

Ávida por explorar novos horizontes, a arquiteta Suely Brasileiro, junto com a ex-sócia Guida Costa, buscaram transcrever para as pranchetas o que Ariano escreveu na década de 1970. “Em 1997, fizemos um curso de arquitetura de terra na Colômbia. No avião de volta, me deu um estalo em usar a taipa para representar a arquitetura Armorial. Fizemos o projeto para a CASACOR® PE com piso de mosaico, paredes de tijolos que não queimaram e muitas cores. Pedimos a aprovação de Ariano, que nos escreveu: ‘Agora surgem duas arquitetas que começam a pulsar ao ritmo do sonho. Para isso lançam mão daquele material que, com a pedra, é o mais primitivo, mais forte e mais ligado às raízes primordiais do homem e da arte (...) O trabalho de Suely e Margarida (Guida) representa o quarto marco no caminho que seguimos em busca do sangral arquitetônico brasileiro; aquele grial, ou graal, do qual falava em 1961.’”

“Na cor dessa arquitetura que sonho, ora vejo azul e o verde marinhos da Zona da Mata, ora o vermelho, o ocre, o castanho e o amarelo do Sertão, com a presença de frutos e animais, em quadros, em cerâmicas e esculturas em pedra ou madeira, não ‘apostas’ artificialmente ao resto, mas sim integradas harmoniosamente no conjunto”, disse.

A arquiteta Carmen Lúcia de Andrade Lima não se diz pertencente ao Movimento, mas tem muitas influências dele em seus projetos. Sobrinha do autor paraibano, teve várias oportunidades de discutir e aprender. “Ele era contra a globalização, porque faz com que os mais ricos se sobreponham aos mais pobres. Dominam. Não que a globalização seja ruim, tem muita coisa boa”, explica ela, que tem uma grande preocupação com a estética, com o conceito do belo. E acredita que a arquitetura tem que emocionar. “Essa emoção tem que ser cultural. A gente nunca soube valorizar o que possuímos, temos muito da nossa colonização que vem da Europa. E faltou inserir o que já tínhamos aqui, que era a produção dos índios, hoje com mais destaque nos projetos. Podemos incorporar não só os formatos, mas os materiais, os adornos. Não é uma arquitetura local, porém mais humana”, explica. Carmen desenvolveu um projeto que acredita ser representativo dessas influências, nominado a “casa de pescador”. “Até ganhei um prêmio. Usamos caibros de sabiá, que servem para fazer cercas. A casa parece uma maquetezinha. Não usamos muros, plantamos a própria sabiá na entrada, fazendo uma cerca. Na parte interna usei piso de cerâmica, e o fechamento foi feito com os próprios caibros. Podemos misturar os elementos da cultura popular com as coisas mais ‘sofisticadas’, como o mobiliário. Gosto de interagir com o cliente e entrar na história dele”, explica. “CASA DE PESCADOR”, PROjEtO DA ARqUItEtA CARMEN LÚCIA DE ANDRADE LIMA, INSPIRADA NA ESTÉTICA E INSERINDO OS ELEMENTOS PROPOSTOS PELO MOVIMENTO ARMORIAL

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CRÔNICAS DO OLHAR

Raul Córdula é artista, professor e cronista de arte (81) 3439.9631 | rcordula@hotmail.com

ARTISTAS E PROFISSIONAIS LIBERAIS

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FOTOS: VICTOR MUZZI | DIVULGAÇÃO

Penso sempre que a arte não possui as características de uma profissão, pelo menos uma profissão liberal como medicina, direito, informática ou engenharia. Achamos que a arte é, sobretudo, paixão. Paixão e devoção. Longe de mim, porém, sugerir que profissionais liberais não possam ser apaixonados e devotados ao que fazem. Mas no artista a coisa é diferente, pois não se pode definir o que a arte contém nem quais são os processos artísticos que se possam definir como profissionais. O que seria a profissão “artista plástico”? Seria um vínculo efetivo com o mercado de arte? Seria simplesmente o fato de ele viver da venda de suas obras? Isto é muito pouco para definir o métier do artista, pois sucesso comercial não determina o fenômeno da criação nem as características de uma obra de arte. No entanto, não podemos desmerecer os artistas de sucesso cuja maioria é formada de notáveis artistas, e muito menos desmerecer o mercado de arte, atividade rara e dificílima que mantém o tônus do panorama cultural de qualquer lugar. Mas o mercado de arte, é sabido, não atende a todos, especialmente aqueles que fazem uma obra de mais difícil entendimento quando optam por novas estéticas, pela desmaterialização da arte, pelas instalações, pelas performances e pelo que é geralmente chamado de arte abstrata, ou melhor, de arte não figurativa. Isso tudo afasta o mercado, cuja ciência, o marketing, vive da média, de qualquer ideia de experimentação ou vanguarda e caracteriza o “artista profissional” como o “artista de sucesso”. Ora, sucesso não seria o objetivo do artista autêntico, mas o reconhecimento, mesmo que ele não viva de vender seus objetos ou ideias criativas.

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Mas no artista a coisa é diferente, pois não se pode definir o que a arte contém nem quais são os processos artísticos que se possam definir como profissionais

ANTÔNIO MENDES Porém existem profissionais liberais que também são artistas visuais – alguns prestigiados nacionalmente – sem que uma das atividades neutralize a outra. São conhecidos empresários, médicos, advogados, engenheiros, gestores de bens públicos, professores, chefs ou escritores que tanto são bons na criação das artes visuais como no que fazem como profissionais liberais.

JOÃO VILAÇA

Para iniciar os exemplos, que longe estão de abranger a maioria, gostaria de citar os médicos como André Valença, pintor de paisagem, que inclui em suas telas um elemento poético como tema, uma bicicleta, por exemplo; Rodolfo Athayde, artista contemporâneo e professor universitário da Paraíba, um dos artistas nordestinos mais atuantes e premiados em salões e concursos, inclusive no Festival Internacional da pintura, em Cagnes Sur Mer, Sul da França; Cesar Romero, que além de psiquiatra é um dos pintores mais prestigiados na atualidade da arte baiana; Antônio Mendes, belo pintor de paisagem que exerce a psicologia de forma também brilhante, e o oftalmologista João Vilaça, interessantíssimo pintor nos estertores de sua primeira exposição no restaurante-galeria do IMIP.

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CRÔNICAS DO OLHAR | RAUL CÓRDULA

LEANDRO RICARDO

MARCELO PEREGRINO 80


GUSTAVO BETTINI Como João Vilaça, isto é, quase novato, mas resolvido como artista é o chef Leandro Ricardo, precioso desenhista que também envereda por performances e instalações de grande interesse, em que a materialidade da obra é a mesma da gastronomia. O conhecido advogado Armando Garrido além de pintor é marchand e leiloeiro de arte, dividindo com Marcelo Peregrino, excepcional pintor de figuras e paisagens, a gestão da Galeria Sobrado, em Olinda. Além de pintor de grande prestígio, Marcelo possui uma molduraria e carpintaria especializada em implementos para arte. O empresário Fernando Neves, que possui com Luciana Carvalho, sua mulher, a Galeria Arte Plural, importante centro cultural privado do Recife, é também fotógrafo de alto nível. Luciana, por sua vez, é artesã de pintura em porcelana de qualidade excepcional. Com eles está o fotógrafo e artista Gustavo Bettini, que é sócio do ADI – Atelier de Impressão. Importante citar um homem ligado ao mundo empresarial como gestor, diretor do Santander Cultural, que é Carlos Trevi, o qual estreou como artista em 2015 com surpreendente exposição na Galeria Sobrado.

CARLOS TREVI 81


CRÔNICAS DO OLHAR | RAUL CÓRDULA

Igualmente gestores de equipamentos culturais oficiais são Fernando Duarte, ex-secretário de Cultura de Pernambuco, artista instigante que se coloca na fronteira entre arte e política, e Márcio Almeida, um dos mais importantes artistas da geração que fundou no Recife a arte contemporânea, chefe do Setor de Artes Visuais da Secretaria de Cultura, que trabalha ao lado de Fernando Augusto, da mesma geração e da mesma linha de pensamento. Igualmente conhecidos são Beth da Matta, artista contemporânea de vasta atuação, arquiteta e diretora do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, e José Patrício, um dos mais importantes artistas brasileiros de agora que é também servidor público na Fundação Joaquim Nabuco. O importantíssimo artista paraibano José Rufino, que atua no mercado internacional de arte, além de paleontólogo é professor do Mestrado em Artes Visuais da UFPE/ UFPB. Ao lado de Rufino, isto é, também professores do Departamento de Artes das universidades paraibana e pernambucana, professores do mesmo mestrado, são Ana Lisboa, artista de grande abrangência criativa dedicada a causas humanitárias como a arte incomum, autora de “Arte Como Prece – A religiosidade no trabalho de quatro artistas pernambucanos”; Sebastião Pedrosa, que dedicou a maior parte de sua vida ao ensino de arte, artista de grande e instigante produção, um dos decanos de nossa arte; Maria do Carmo Nino, a qual alia sua profunda produção simbólica com curadorias de grande significado; Bete Gouveia, que recria a pintura de paisagens marinhas; Mário Sette, autor de poéticas instalações e ex-diretor do Instituto de Arte Contemporânea; e a magnífica artista Oriana Duarte, presente nos mais importantes acontecimentos nacionais da arte contemporânea.

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MÁRCIO ALMEIDA

SEBASTIÃO PEDROSA





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DESIGN BRASILEIRO

Um estilo que vai além do regional do Nordeste para ser de um regionalismo brasileiro TEXTO: EDI SOUZA E EMANUELE CARVALHO

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Da década de 1930 pra cá muita coisa mudou. Na “época de ouro do design nacional”, auge do Modernismo, de 1950 a 1960, o mobiliário ganhou desenhos sofisticados que reforçaram as características locais, e hoje acrescenta a qualidade de vida ao valor agregado. Mas será que com essas referências atuais a identidade do mobiliário brasileiro está preservada? E qual seria?

CLAUD

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SECA

Os profissionais da área são unânimes em ponderar que no século passado aconteceu a ruptura do estilo Bauhaus com a introdução de novos formatos na arquitetura e nas artes, de onde se criou uma nova personalidade. Segundo o curador e idealizador do Mercado, Arte, Design (MADE) de São Paulo, Waldick Jatobá, é quando se apresenta um forte trabalho artesanal e uma boa marcenaria, sempre trabalhando com novas texturas e trazendo curvas ao que antes era simplesmente reto.

TRAÇO MODERNISTA VISÍVEL NA POLTRONA SERFA, DO DESIGNER ZANINI DE ZANINE, COM SELO VIÉS

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Cada designer tem sua influência, uns globalizados, outros com referências regionalistas, ou urbanísticas, artesanal. O importante é ser diferente e imprimir uma nova estética Sérgio J. Matos

A LINhA bODOCONgÓ, DE SÉRgIO j. MAtOS, INCLUI O bALANÇO RODEADO POR COLhERES DE PAU

A MADE está na terceira edição, e durante cinco dias traz uma seleção de peças nacionais e internacionais. Dessa maneira, o evento funciona como uma temperatura para questões como a provocada no início desta matéria. “A ideia é de ser mais uma plataforma do que feira, onde os participantes mostram o seu trabalho para vender. Exposições, instalações, palestras, mesas redondas e workshops são criados ao redor do núcleo comercial para sustentar e fazer com que as pessoas conheçam um produto que não é meramente item de compra, mas que tem uma grande carga de produção manual. É isso que dá o sentido de exclusividade e a noção de colecionismo, uma edição fechada de itens que podem ser de mobiliário, iluminação ou objetos com conceito atrelado à arte”, diz ele ao abordar o caminho da peça assinada. Na mostra de 2015, um dos grandes expositores foi o alagoano Rodrigo Ambrósio, que, na área reservada aos coletivos, apresentou peças autorais no seu ambiente ‘Ode às Raízes’ e, no espaço do grupo Design Armorial, abordou o tema ‘Feira Livre’, expondo os bancos Mamulengo, Gonzaga e Fulô. É dessa maneira, atento às raízes, que esse representante da nova geração diz que o traço nacional ainda está se descobrindo, por meio da fusão de culturas. “Costumo dizer que somos corpo e mente, matéria e imatéria, por isso penso na função física e psicológica dos símbolos e artefatos que crio. Gosto do tempo e do espaço, dentro deste contexto tudo é inspiração. Olho muito para minhas raízes nordestinas, penso por que nasci aqui, qual a minha missão”, reforça Ambrósio. Já o designer Sérgio J. Matos defende uma visão globalizada da identidade. “Não podemos generalizar como algo com influências

FELIPE BRASIL

“Hoje é difícil dizermos que há um perfil x ou y, acho que o design brasileiro e o africano têm as mesmas características. Mas essa atmosfera tropical em que vivemos desperta uma espontaneidade muito grande graças à exploração de materiais tão ricos, que garantem a diversidade de processos. Acredito que nosso trabalho, devido a tantas dificuldades, é muito ousado, porque sempre queremos mostrar algo diferente”, diz Waldick, com a experiência de quem abandonou o mercado financeiro para se dedicar a uma verdadeira paixão. “Sempre me interessei pela produção contemporânea quando fiquei amigo de Humberto e Fernando Campana, há uns dez anos, e dei início ao papel de curador, que é de apresentar e orientar esses nomes dentro do segmento”, conta. A partir daí surgia, mais precisamente no ano de 2011, o Salão Design São Paulo.

BANCO GONZAGA, DO DESIGNER RODRIGO AMBRÓSIO, INSPIRADO NAS RAÍZES NORDEStINAS, fOI APRESENtADO PELA MADE 2015 NO COLEtIVO ARMORIAL

culturais ou outra coisa, cada designer tem sua referência, uns globalizados, outros regionalistas, ou urbanísticas, artesanais. O importante é ser diferente e imprimir uma nova estética”, comenta o mato-grossense que adotou a Paraíba como lar há 15 anos, e comemora o fato de o design nacional ser valorizado também no Brasil. Sérgio traz em seu desenho uma forte característica regional, com muitas peças trabalhadas manualmente, como as cordas que o tornaram conhecido, e as colheres de pau usadas na linha Bodocongó. “Não é só o regional do Nordeste, mas um regionalismo nacional, que trago traços de vários lugares, como o último trabalho que fiz inspirado em cinco cidades do Amazonas”, lembra ele, que tem uma peça favorita entre tantas que já fez: a Cadeira Chita, a qual encanta com a forma e o conforto. Mas a peça que é a queridinha do Stúdio, por ter ganhado vários prêmios e ser a mais procurada entre os clientes, é o Banquinho Carambola.

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DESIGN BRASILEIRO

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ENTRE AS PEÇAS MAIS CONHECIDAS DE SÉRGIO j. MAtOS, EStãO O bANqUINhO CARAMbOLA (À ESqUERDA) E A CADEIRA ChItA (À DIREItA), REPLETAS DE COR, FORMA E ESTILO

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Não é só a figura. É o espírito da peça. É o contexto brasileiro Sérgio Rodrigues

FELIPE BR ASIL

O status de “objeto-desejo” está no fato de ele ir além do utilitário, bem como defendiam três grandes designers. “Não é só a figura. É o espírito da peça. É o contexto brasileiro”. Foi assim que Sérgio Rodrigues, arquiteto e designer carioca, definiu seu trabalho e processo criativo. Junto com Joaquim Tenreiro e José Zanine Caldas, foi pioneiro em deixar essa brasilidade reconhecida mundialmente. O seu trabalho mais famoso é a Poltrona Mole (1957), feita em couro e madeira com inovações de encaixe e estofado que inspiram até hoje. Atualmente ela integra o acervo do Museu de Arte Moderna em Nova Iorque, o MoMA. Já a criação do português radicado no Brasil Joaquim Tenreiro tornou-se conhecida em 1942. A Cadeira de Três Pés, de 1947, que inova ao associar geometria a um uso muito particular das cores das madeiras nacionais, agora integra o Museu da Casa Brasileira. Também foram inúmeras as contribuições de José Zanine Caldas, arquiteto autodidata e maquetista baiano. Nos anos 1970, seus móveis passaram a ser esculpidos artesanalmente, com peças construídas com toras brutas de madeira, cujas linhas retorcidas influenciam seu desenho.

FOTOS: DIVULGAÇÃO

A CADEIRA ARATACA, DE RODRIGO AMBRÓSIO, É INSPIRADA NOS ARTEFATOS INDÍGENAS, FEITA DE LATÃO DOURADO E CORDA NÁUTICA

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A POLTRONA MOLE, DE SÉRGIO RODRIGUES, É UM ÍCONE DO DESIgN MODERNO. já A CADEIRA DE tRÊS PÉS, DE jOAqUIM TENREIRO, TRAZ O FORMATO INCONFUNDÍVEL DA MADEIRA


O VOLUME 3D CHAMA ATENÇÃO NA LINhA AzULEjARIA. O MÓVEL É DA LURCA AZULEJOS E MAURÍCIO ARRUDA (MADE 2015)

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A época pós-moderna surge repleta de conceitos e ideias originais. O chamado traço contemporâneo dá margem para criações inusitadas e provocativas, deixando pra trás o perfil ‘classudo’ conhecido anteriormente. “Existe a preocupação dos novos materiais, até mesmo como uma forma de resgate, em que o próprio arquiteto se aventura na busca pela matéria-prima escondida. Tudo que vemos hoje talvez seja reflexo do que os índios começaram a produzir no início do século passado, já que eles fizeram seus próprios móveis”, comenta Waldick.

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UM NOVO PENSAMENTO

“Isso já vem acontecendo há um bom tempo, só que agora ficou mais evidente, pois existe um movimento mundial em busca da simplificação da vida, com produtos mais naturais. Isso, no meu entendimento, é uma mudança comportamental que vem pra ficar. As pessoas estão mais ‘apaixonadas’ pelos produtos naturais e pelo artesanato, que evoluiu esteticamente de maneira surpreendente e ganharam valor com isso. Por serem únicos, fora das grandes escalas de produção, tem um ar exclusivo e personificado, gerando uma identificação”, comenta o designer Roque Frizzo.

A MESA SERRA PELADA, DO DESIGNER ROQUE FRIZZO, RETRATA O HABITAT DO GARIMPO, QUE FEZ PARTE DA RECENTE HISTÓRIA NO BRASIL DOS ANOS 1980

Um dos grandes representantes da nova linguagem é o designer Marcelo Rosenbaum. Em recente criação para a marca Oppa, feita em parceria com o escritório Fetiche®, criou uma coleção de estilo jovem, moderno e acessível por exaltar o desenho em diversas modulações. A linha Tambaqui traz peças de força original, separadas com o estilo Maxi Debrum de costura aparente de alta tecnologia, e feita de neoprene, material inusitado em mobiliário, comum em roupas e artigos de praia e surf.

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MARIO SCHIOPPA

LINHA TAMBAQUI DE MARCELO ROSEBAUM UNE AFINIDADE DE LINGUAGENS E EXPERIÊNCIAS EM DESIGN

A POLTRONA VITIS, DE RODRIGO OHTAKE, SUGERE OUSADIA E FLUIDEZ COM TUBOS DE AÇO E ASSENTO EM EStOfADO (MADE 2015)

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DESIGN

FOTOS: TOMÁS ARTHUZZI

Mas para o artista plástico e designer gráfico Nido Campolongo, é tempo de se reaproveitar, evitando o descarte e imprimindo uma consciência ecológica no produto. “Já houve a época da tradição da madeira, mas a obrigatoriedade se pulverizou. Acho que nossa identidade hoje está se remodelando. Por isso, quando penso em produção brasileira, eu tenho outras imagens com o uso de resíduos e o deslocamento de função de materiais”, ressalta ele, com a experiência de quem, desde a década de 1980, afirma o assunto. Seu exemplo parte do uso do papel e do plástico para originar produções que vão além do decorativo.

OS MATERIAIS REAPROVEITADOS POR NIDO ORIGINAM O MOBILIÁRIO COMO A ESTANTE ANÉIS E A POLtRONA CANtONEIRA, AMbAS DE PAPELãO. OUtRO ExEMPLO É A LUMINáRIA DE PLÁSTICO DISPOSTA NO CHÃO

“Sempre enxerguei beleza nisso, reutilizando as sobras até do meu próprio acervo. Eu fazia alças para sacola e sobravam os anéis que logo se tornaram esculturas. Então, há uma mistura de artista e designer. Foi quando, nos anos 1990, entrei na casa das pessoas através do mobiliário. No início, houve uma grande mídia, mas eu tinha dificuldade de inserir o assunto no mercado, porque essa matéria-prima tem o problema da durabilidade. Mesmo assim, consegui utilizar o papelão, que é algo mais resistente e aceitável em interiores”, relembra. A partir daí, surgiram peças como a poltrona Cantoneira e a estante Anéis. “Essa história do bem acabado em contraponto com o tosco faz a diferença e vira um item de qualidade”, diz ele, que atualmente também reaproveita recortes de suas pinturas para originar novas telas. Para Nido, a junção de formas e estilos é uma tendência que só vem a acrescentar. “Nossa essência em design é a de trazer a cultura do país, que é essencialmente ligada ao artesanato, fazendo disso uma linguagem moderna e durável”, arremata.

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A geração atual explora o papel do design como catalisador de modos de vida, de sonhos, de emoção [...] Monica Cintra

APARADOR DE PRATO, DA DESIGNER MONICA CINTRA, REVELA RUSTICIDADE E BELEZA

O trabalho desenvolvido pelos irmãos Fernando e Humberto Campana começou como uma atividade de confecção de pequenos objetos de fibras naturais em 1980, evoluindo para uma etapa que envolve arte e desenho industrial. Suas obras recorrem à reutilização de materiais como plástico bolha, cordas, bonecos e outros elementos cheios de significados ligados ao Brasil. Prova disso é a coleção mais recente batizada de “Estrela”, produzida pela A Lot Of Brasil e que levou em conta a redução de custos. São peças em aço e elementos recortados a laser, que resultaram de uma solda robótica utilizada em indústrias automotivas. Mesmo feitas em metal, os objetos disponíveis em sete cores aparentam a leveza e o aspecto manual.

“A geração atual explora o papel do design como catalisador de modos de vida, de sonhos, de emoção”, como define a paulista Monica Cintra. “Tenho paixão pelo que faço, e me encontrei nesse trabalho junto à natureza. O contato com Hugo França, que tanto aproveitava resíduos florestais, e consequentemente a madeira, me fez aprender mais sobre cortes e as várias espécies que temos no Brasil, com seus formatos e cores. Depois de um tempo, comecei a desenvolver um acabamento próprio e mais personalizado. Essa linguagem tem seu público”, diz.

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A POLTRONA ESTRELA, DOS IRMÃOS CAMPANA, É A PRIMEIRA SÉRIE DE MÓVEIS DA MARCA PRODUZIDA DE FORMA INDUSTRIAL

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FIFI TONG

DESIGN BRASILEIRO

A PARCERIA ENTRE PAULO ALVES E MANECO QUINDERÉ RESULTOU NA LUMINÁRIA TUIUIÚ, DESENHADA COM MADEIRA ROXINHO E LED

A LUMINÁRIA DE INÊS SCHERTEL É FEITA COM LÃ DE OVELHA E fELtRADA MANUALMENtE (MADE 2015)

Para o designer Paulo Alves, é preciso estar conectado não só com a época, mas com o lugar. “Eu estou aqui, então não faz sentido criar algo que não esteja ligado à nossa raiz. E não se trata de ser bairrista, mas é que o trabalho, quando verdadeiro, refletirá o local dessa pessoa e para onde ela vai, já que hoje está tudo globalizado”, pontua. É essa miscigenação típica do Brasil que pode resultar em obras que se complementam.

A LUMINÁRIA SAULO, DO DESIGNER TADEU PAISAN, TRADUZ A NATUREZA ATRAVÉS DO JEQUITIBÁ ROSA

A influência europeia, que originou um povo eclético, forma a nuance autoral marcada por características também de outros continentes. Assim pensa o designer Tadeu Paisan ao construir um portfólio orgânico e atemporal, de olho na relação próxima com o usuário. “Gosto de usar matérias-primas nacionais, o que, na minha opinião, já caracteriza a nossa brasilidade. Uso traços que compõem uma atmosfera clara, límpida e festiva, ora com a neutralidade de cores ora com os tons fortes, que causam a sensação de sermos um povo alegre e de bem com a vida”, assegura ele, que tem peças à venda na Domodi.

[...] o trabalho, quando verdadeiro, refletirá o local dessa pessoa e para onde ela vai [...] Paulo Alves

VICTOR AFFARO

Aliando o sistema de fabricação em série com o tratamento requintado e insubstituível ao acabamento manual, o arquiteto e designer Jader Almeida cria sua linha de mobiliário e objetos. Seus projetos buscam beleza, com desenho marcante, linhas finas e curvas suaves. “A minha abordagem é como um texto que não termina, a partir do meu mundo, calmo, tranquilo, verdadeiro e perene”, explica o catarinense, que já acumula 16 anos de profissão em seu currículo. Jader alcançou profundidade na carreira ainda muito jovem e tem produtos sendo comercializados na Ásia, Oceania e América, exportando um pouco da cultura brasileira para cidades importantes pelo mundo, com um trabalho, segundo ele, que ocupa o espaço de maneira silenciosa, sem obstruir, conectando pessoas e viajando pelo tempo elegantemente.

LUCAS OLIVEIRA

O AMBIENTE DE JADER ALMEIDA PARA ITÁLICA CASA REÚNE UM MIX DE MATERIAIS

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DESIGN BRASILEIRO O design brasileiro sempre foi bastante marcado pelo profundo conhecimento da madeira e das potencialidades do material. “Vejo que o móvel brasileiro não perdeu o calor e a sensualidade, presentes nos móveis desenhados por Oscar Niemeyer, Lina Bo Bardi, Sérgio Rodrigues, Aída Boal e tantos outros, ao longo dos anos. Novas produções e linguagens foram exploradas, mas a mesma força neste aspecto vem sendo mantida. Madeira, couro e palha natural trançada foram e continuam sendo matérias-primas protagonistas do design de mobiliário no Brasil”, explica o CEO Matheus Ximenes, sócio de Diego Ortiz na Muma.

Como demonstra a história, o Brasil não é feito do índio que estava aqui ou do português que veio em seguida, e sim da mistura de ambos, uma analogia para a criação de uma ‘terceira coisa’. Segundo Paulo Alves, “não é preciso negar o que existia antes ou o que entrou em seguida, mas fazer disso algo original. Por exemplo, lancei recentemente uma linha de luminárias com o Maneco Quinderé, no Design Weekend. Eu queria trabalhar com luz, mas não faria isso sozinho, então agreguei a função com outros profissionais. É o que de certa forma acontece com um estrangeiro que chega aqui e percebe essa mistura inusitada de materiais. Ele fica louco”, exclama.

FOTOS: DIVULGAÇÃO

MUMA: O APARADOR BLOCO, DE NATASHA SCHOBACH, É UM PRODUTO SEM EXCESSOS QUE EXPLORA EM SUA FORMA A SUSPENSãO DE bLOCOS EM tERCEIRO PLANO. já A COLEÇãO CLOUD, DO DESIGNER HUMBERTO DA MATA, É CONSTRUÍDA EM TORNO DO CONCEITO DE TRAMA EM TECIDO

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A OUSADIA DE MATERIAIS RESULTA EM PRODUTOS COMO A CADEIRA IAIá, DO DESIgNER gUStAVO bIttENCOURt (À DIREItA). A PEÇA SUgERE UMA EStRUtURA RÍgIDA E LEVE AO REUNIR MADEIRA, PALhINhA E MEtAL. PERSONALIDADE MARCANtE, ASSIM COMO A MESA tRAMAS (AbAIxO), DA DESIgNER bIANCA bARbAtO. O ItEM POSSUI TAMPO COMPOSTO POR MARCHETARIA GEOMÉTRICA DE METAIS CORTADOS A LASER, REFORÇANDO O EFEITO TRIDIMENSIONAL

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Devemos ter uma linguagem própria da nossa época, com traços autênticos do momento em que vivemos

FRANCIO DE HOLANDA

O modernismo é o anfitrião do Projeto Viés, selo para venda de mobiliário assinado, catalogado e carregado de histórias. Ele apresenta uma série de peças de premiados designers nacionais contemporâneos, como o carioca Zanini de Zanine, o paranaense Ronald Sasson e o pernambucano Flavio Franco. Do outro lado do “viés”, estão representantes da história brasileira, como os cariocas José Zanine Caldas e Aída Boal. “Acho que devemos ter uma linguagem própria da nossa época, com traços autênticos do momento em que vivemos. Pela primeira vez formou-se um grupo tão eclético, várias gerações estão envolvidas, e o melhor, com profissionais dos quatro cantos do país”, avalia Franco. “Minha linha é mais contemporânea e industrial, porém, depois de iniciado este coletivo, voltei a buscar minhas influências modernistas. Para o público, os consumidores e os amantes do design, a mensagem que fica é a confluência de valores e a projeção de linguagem mútua”, comenta Ronald Scliar Sasson.

COLETIVO

FOTOS: CLAUDIO FONSECA

Flavio Franco

DESENHADOS A PARTIR DE CONCEITOS DE ELEGÂNCIA E CONFORTO, A POLTRONA CHRISTINA, DE AÍDA BOAL, E O BANCO BELMONTE, DE ZANINE CALDAS, SÃO RESULTADOS DO AMPLO ESTUDO DO DESIGN DE MOBILIÁRIO COM ESPÍRITO DE RENOVAÇÃO

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DESIGN BRASILEIRO

Nós valorizamos muito o que é de fora, mas o mundo reconhece o nosso estilo, queremos promover essa mudança, mostrando o que há de melhor

“O que une o design de hoje ao criado naquela época é o calor, o uso contínuo da madeira. O aspecto que tento trazer das peças dos anos 1950 é a elegância e delicadeza. Mas também foi um caminho natural e de muita sorte, por ter vivenciado, desde pequeno, os grandes nomes. Tudo isso faz com que eu tenha sensibilidade, um aprofundamento que cresceu com o convívio com o Sérgio Rodrigues, durante o período que estive aprendendo em seu ateliê. Com o Viés, vamos tentar apresentar uma linha de raciocínio, confrontar os trabalhos que têm brasilidade em diferentes momentos, como Zanine Caldas, nos anos 1950, e Ronald Scliar Sasson e Flavio Franco, na década de 1990, sempre reforçando o contraste de diferentes regiões”, explica Zanini de Zanine.

FOTOS: CLAUDIO FONSECA

Doris David

Uma edição limitada de peças será produzida a cada ano por fábricas brasileiras, com criação do selo. Além de exposições dos mobiliários e seus conceitos, todas as criações serão comercializadas em lojas e galerias. No Recife, quem representa o projeto é a loja Casapronta, da empresária Doris David. “A intenção é valorizar o traço brasileiro e aproximar o Nordeste dessa iniciativa. São produtos autoriais, que juntam gerações. Nós valorizamos muito o que é de fora, mas o mundo reconhece o nosso estilo, queremos promover essa mudança, mostrando o que há de melhor”, comenta.

CUSTO X QUALIDADE VIÉS: O BANCO AMY, DO DESIGNER FLAVIO FRANCO, É FORMADO PELAS INTERSEÇÕES DE VÁRIOS PLANOS COM FIXAÇÃO OCULTA ENtRE SI, tRANSMItINDO UM VISUAL COM EqUILÍbRIO E MOVIMENtO. A POLtRONA bOSCOLI, DO DESIgNER RONALD SCLIAR SASSON, É UM REtORNO DO ARtIStA AO MODERNISMO bRASILEIRO E UMA REFERÊNCIA À INFLUÊNCIA NÓRDICA

Os altos custos de produção caminham ainda para a consolidação no mercado nacional. Para o designer Ronald Scliar Sasson, ainda é um produto muito caro de ser adquirido, mas pode tornar-se mais acessível depois que se separar o bom do mau design. “Tem muito lançamento ocorrendo e isso ainda vai dar uma balançada, no final ficará só o que for bom. Se todos tivessem acesso, aumentaria a cultura, e, consequentemente, se apreciaria melhor e exigiria das lojas uma postura diferenciada, como já acontece na Europa”, analisa. O boom econômico pelo qual passou o Brasil em 2010 voltou os olhos do mundo para o país e inflou o segmento. “Após esse período, o desenho nacional ficou mais apurado, com muita coisa boa, outras nem tanto, mas já com personalidade. Vejo as peças assinadas como algo autêntico e original, independente do papel que vá desenvolver em um determinado ambiente, sem cópias ou releituras falseteadas, pois, toda a forma de criação é válida, desde que seja original. O belo é questão de ponto de vista”, acrescenta Flavio Franco. A respeito do delicado momento econômico e político, o designer Roque Frizzo destaca o desenho autoral e a inovação como uma saída. “Os períodos de dificuldade, como o que estamos enfrentando em 2015, colocam à prova toda nossa capacidade de superação. O design fará muita diferença entre os que investem em criação e inovação e os que não o fazem. Grandes ideias não são necessariamente caras, são grandes porque saciam um desejo ou uma necessidade como nenhuma outra já fez. E pra quem pensa que custo está ligado à estética se engana. Design está ligado a valor, seja aplicado em um alfinete ou em um automóvel. O custo quem estabelece é o desejo do consumidor”, ressalta.

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PORTFÓLIO FOTO DOS ARQUITETOS: LUCAS OLIVEIRA TEXTO: ERIKA VALENÇA

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Há 30 anos Maria do Loreto dava início ao seu escritório que leva o seu nome. Com a experiência adquirida com a renomada Janete Costa, iniciou as atividades enfrentando os desafios de manter um escritório individual. Hoje, em sociedade com o filho, Rodrigo Duarte, forma uma dupla que prima pela competência e versatilidade. “Eu, com 40 anos de formada, acompanhei boa parte da evolução da profissão. Sou da época da lapiseira e da prancheta. Rodrigo chegou como uma segunda geração que agrega conhecimento. Para ambos, foi uma escola de entendimento. Passamos a completar um ao outro. Ele, a me orientar e mostrar um mundo de tecnologias e eu a ensiná-lo a acatar a experiência do tempo de trabalho e da arquitetura manual. Essa parceria foi muito importante e só tivemos a ganhar e a somar“, conta Loreto.

MARIA DO LORETO PROJETOS

Desde criança, Rodrigo já mostrava que tinha habilidades que apontavam para seu talento na área. “Passei na segunda entrada do vestibular, mas, nos seis meses livres, comecei a estagiar aqui. Foi uma maneira de já ter contato com a profissão. Lembro que na UTI Móveis tomei conta de um projeto em que trabalhamos a criação de móveis com diversos usos. Na época, esse conceito ainda estava surgindo e nossa ideia rendeu uma premiação”, lembra Rodrigo. A experiência de mercado é pautada no conceito em que o homem é o maior beneficiado. “Tudo é arquitetura. É preparar um espaço para ser vivido e isso independe de suas funções, seja num projeto corporativo, residencial ou industrial. O arquiteto projeta uma fábrica, elabora um espaço produtivo, mas quem é que vai trabalhar dentro desse espaço? O homem. Em interiores, o profissional elabora ambientes para a boa convivência de uma família. No urbanismo, criam-se vias de acesso, massas construtivas, áreas sociais, por exemplo, mas pra quê? Para a boa convivência das pessoas. Então, são volumes que possuem uma única finalidade e em todos existe uma complexidade característica e uma importância ímpar. O que difere são escalas. O urbanismo é a macro, a arquitetura construtiva é a média e de interiores é a micro”, explica Loreto.

Maria do Loreto Projetos www.mariadoloreto.com.br (81) 3462.9010 100

tudo é arquitetura. É preparar um espaço para ser vivido e isso independe de suas funções, seja num projeto corporativo, residencial ou industrial Maria do Loreto

RAIO X Formação Maria do Loreto - formada em Arquitetura e Urbanismo pela UFPE em 1975 Rodrigo Duarte - formado em Arquitetura e Urbanismo pela UFPE em 2006 e pós graduado em Design da Informação em 2009 Anos dedicados à arquitetura Maria do Loreto - 40 anos Rodrigo Duarte - 14 anos Referências Janete Costa, Acácio Gil Borsoi, Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Alvar Aalto, Burle Marx, Frank Lloyd Wright, Mies van der Rohe Premiações • 2000 - UTI Móveis - 1º lugar no concurso da mostra • 2007 - Prêmio Tacaruna Mulher - Destaque em Arquitetura, Design e Paisagismo • 2011 - 2012 - Prêmio Top Class - Projeto de cozinha • 2012 - 2013 - Prêmio Top Class - Projeto Sala de Estar • 2013 - Concurso CasaPronta Adresse Menção Honrosa Maria do Loreto • 2013 - Concurso CasaPronta Adresse Menção Honrosa Rodrigo Duarte • 2013 - Concurso CasaPronta Adresse - Hometheater • Dentre outros


RAQUEL MELO

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Galeria Ranulpho O trabalho foi além de um projeto arquitetônico. Adentrou o universo da restauração revelando uma riqueza histórica. “No início pesquisamos sobre a edificação e descobrimos que o espaço abrigou a primeira agência do Banco do Brasil e dos Correios. Quando a reforma começou, nos deparamos com pilares de ferro e, nas escavações, para passar a tubulação, achamos blocos de pedra de lioz, que se tornou a base de toda a construção”, explica Loreto. A equipe foi em busca para entender o porquê aquelas pedras estarem ali. “Contamos com a colaboração do arqueólogo Marcos Albuquerque. Ele revelou que aquele material funcionava com lastro nos navios e eram substituídos por açúcar. O projeto passou a caminhar de acordo com esses achados”, conta a arquiteta. Novamente em meio às obras, mais uma surpresa, uma parede de tijolo dobrada, larga: era parte da fortificação da cercania da cidade do Recife. “Optamos por expor essas áreas usando vidro para que as pessoas pudessem ter conhecimento histórico, finaliza Loreto.

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Sede da Total A empresa precisava passar por uma reestruturação e começou pela arquitetura. “Fizemos um estudo para compreender a situação e entender o porquê que os postos não estavam respondendo bem ao mercado. Concluímos que era preciso mostrar uma maneira de trabalhar a marca. Estudamos as cores e concluímos que era ideal valorizar o azul. Assim o fizemos e os postos começaram a ter mais visibilidade. A partir daí começamos a conversar sobre o projeto de uma sede definitiva”, conta Rodrigo Duarte. Segundo o arquiteto, foi trabalhado o conceito de unicidade e bem-estar do funcionário. “Para isso, projetamos um espaço com o objetivo de criar algo que comportasse todo mundo em um só lugar. Optamos pelo sistema open office para estimular a interação através de cadeias de trabalho. Fisicamente, a ideia de setorização foi abandonada, o que permitiu o trabalho em colmeias, estas feitas e desfeitas, de acordo com a necessidade da empresa. Para que essa flexibilidade aconteça, foi preciso também estruturar o setor de TI para garantir o funcionamento e a eficácia do projeto”, explica.

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Salinas Maceió Localizado no litoral norte de Alagoas, na praia de Ipioca, o projeto do Hotel Salinas foi idealizado a partir do desejo do cliente, que era de ter um resort horizontal com poucas e luxuosas unidades. Mas, durante a concepção, pesquisas de mercado mostraram que era necessário traçar uma outra realidade, logo foi realinhado um novo conceito e partimos para a ideia de um resort compacto. “O grande desafio foi o de fazer um projeto aproveitando uma estrutura existente e paralisada que havia no terreno, usufruímos daquele esqueleto combinando nossas ideias com o que já estava iniciado. Assim surgiu o hotel,” conta Rodrigo. Hoje, ele é formado por edificações próximas umas das outras, onde estão os quatro blocos de apartamentos. Uma grande edificação abriga o lobby, administração, restaurante, convenções e serviços, além de outro destinado a jogos, fitness e spa. Todos os blocos são voltados para o parque aquático – piscina infantil, adulto, raia e deck molhado – jardim e praia. A realização contou com a parceria da paisagista Marta Souza Leão, da designer Clarissa Sotter e dos engenheiros Márcia Vasconcellos e René Eskinazi. 103


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FOTOS: LUCAS OLIVEIRA

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Apê em Boa Viagem Para atender às preferências de um solteiro que aprendeu a gostar de obras de arte, a equipe projetou um apartamento de 210 m2 onde bem-estar é palavra de ordem. Isso porque a reforma do lugar contemplou seu perfil antenado aos acontecimentos e apaixonado pelos encontros de amigos. “Quando terminamos a estrutura, demos uma consultoria sobre as peças artísticas que caberiam no lugar. Hoje, ele diz que aprendeu a garimpar e comprar. É porque entendemos que um projeto não pode ser só especificado, ele precisa da história do cliente. E isso não se constrói em poucos dias, mas com sua presença dando indícios do seu gosto, como a lembrança de uma viagem, uma peça de que ele gostou, adorou, viu e disse: aquilo tem que estar na minha casa”, diz Loreto. Dessa maneira, o acervo do cliente foi sendo construído e distribuído pelos cômodos da residência, com destaque para a salas. Por lá, nota-se a cozinha americana, aberta e muito usada para o momento de receber visitas, por ser um espaço prático e de utensílios sempre à mão. Aliás, essa intenção de facilitar o dia a dia se comprova com a integração do home office à sala, que revela as mil possibilidades de viver. “Pode ser que tecnicamente o trabalho seja nosso, porque é por lei, mas a arquitetura completa não é nossa, porque não seremos as pessoas que usufruirão daquele projeto. É o proprietário. É a cara do dono”, finaliza a arquiteta. 105


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Vila Olímpica O complexo em Gravatá foi concebido na época da pré-Copa. “Nossa ideia era a de fazer um centro de treinamento para as delegações que fossem ficar no Estado. Depois desse uso, seria entregue à cidade um espaço poliesportivo com capacidade de receber jogos entre municípios”, conta Loreto. Dado o início ao estudo espacial, a equipe entrou em contato com a FIFA com o objetivo de aplicar os padrões exigidos. “Embarcamos de cabeça no projeto para atender a todos os detalhes e requisitos solicitados pela instituição. Mas, em paralelo, também imaginávamos uma nova utilização do espaço para a pós-Copa, sendo entregue à população e que pudesse mudar a realidade local. Por exemplo, área especial destinada à imprensa, nós faríamos deste espaço um albergue para receber times para torneios”, conta Rodrigo. Infelizmente, o projeto não foi viabilizado. “Estudamos com muita dedicação todos os passos da ideia, mas, lamentavelmente, não foi possível executar. Para nós, o ganho foi o prazer de criar um trabalho dessa magnitude e mais a satisfação de ver a mobilização da cidade, principalmente da rede hoteleira, apoiando a iniciativa e torcendo por uma Gravatá melhor”, finaliza Loreto.

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6 Casa em Gravatá Em uma área de aproximadamente 400 m2, o escritório realizou o sonho de um cliente de ter sua casa de campo construída com toras de eucalipto. “Não existe prazer maior para um arquiteto do que escutar que era exatamente aquilo que ele queria e ver nos seus olhos o brilho da satisfação pelo nosso trabalho”, comemora Loreto. O projeto contemplou cinco suítes, salas de jantar e estar, área de serviço, garagem, cozinha, mezanino, cozinha gourmet, varanda, salão de jogos e adega. “Optamos pela predominância da madeira escolhida, onde tivesse uso, seria de eucalipto, desde caibro, ripas e pilares. Estudamos a resistência do material e aplicamos da estrutura ao detalhe”, argumenta Rodrigo. Para a arquiteta, cada trabalho tem a ver com psicologia. “É preciso ter contato e compreender o funcionamento da vida do cliente. As pessoas são diferentes e cada uma é um mundo e, dentro de uma família, há um universo de vários mundos. A arquitetura chega para harmonizar”, explica Loreto, que ainda completa: “No caso dessa casa, usamos referenciais da cultura portuguesa, uma vez que o dono é português e nós tínhamos a oportunidade de aplicar lembranças da vida dele, como azulejo e o piso de tijoleira de barro”, finaliza. 109




ARQUITETURA EM P&B | LUCAS OLIVEIRA O branco é a total ausência de cor, significando apenas a luz pura; enquanto o preto é a inexistência completa dessa luz, resultando na não reflexão de cor. E ao utilizá-los em um ensaio fotográfico, o profissional da imagem quer traduzir um sentimento único, de amor entre o ambiente registrado e suas nuances, que, aos poucos, deixam de lado a timidez e começam a se revelar.

Poesia urbana

Com esse conceito, o fotógrafo Lucas Oliveira saiu em busca do P&B poético, levando na bagagem a paixão pela foto e o olhar de quem procura o diferente — casamento perfeito para um ensaio que começa a se apresentar nesta edição, com o emblemático edifício Santo Antônio, construído na década de 1960 e considerado um dos maiores cases da arquitetura moderna no Recife. O prédio assinado por Acácio Gil Borsoi estampou a capa da nossa primeira edição, e agora volta realçado em linhas, formas e volumes que vão desde a fachada em cobogó de concreto, que facilita a ventilação e reflete a identidade pernambucana, até as sutilezas do seu interior.



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Sua forma é marcada pela mistura de volumes, que resultaram num envolvente desenho geométrico. Seus pavimentos unem materiais distintos, os quais passam por madeira, ferro, gesso e tijolo aparente desprovidos de ornamentação, pois o objetivo era ter a essência da matéria-prima, sem necesidade de reboco ou pinturas. Este é o primeiro indício rumo aos corredores de paredes onduladas, que caracterizam a suavidade no traço ao mesmo tempo em que presenciam a história das pessoas que passam por lá. Eles ganham a leveza da iluminação natural que invade o espaço de circulação bem definida.




O ponto alto é a escada de desenho surrealista, a qual fascina por meio de curvas delicadas e sinuosas como forma de abrigar as tantas idas e vindas. Sua aparência de blocos brutos e suspensos no ar é mais um detalhe modernista, que preferia a separação entre estrutura e sustento, a fim de originar uma contínua obra de arte vazada ao meio, que permite a passagem de luz vinda da claraboia. “Esse foi um projeto muito especial para o meu pai. É uma construção atemporal, com arquitetura inovadora e marcante”, relata Marco Antônio Borsoi ao contemplar um dos trabalhos mais reconhecidos do pai, segundo ele. 118


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PROJETO | SANDRA MOURA | PB


Leveza na orla Vidro e concreto dĂŁo personalidade Ă moradia no litoral paraibano Fotos: cĂĄcio murilo

Anunciante


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A arquiteta Sandra Moura projetou uma casa de praia em Cabedelo/PB, de olho na fluidez da circulação e no encanto da luz natural. Esse foi o ponto de partida para uma estrutura desenhada em três níveis, que valoriza elementos sustentáveis em meio ao visual clean, composto pela pouca informação visual. São quase mil metros quadrados de área construída, que integra os ambientes interno e externo, logo a partir da fachada com vidro, da Fecimal Arte e Madeira, junto ao concreto. Ela explica que a translucidez do lugar reflete o desejo dos moradores em tornar o espaço um ‘mar de transparência’. “Definitivamente este local provoca todos os sentidos humanos: para os ouvidos, o barulho do mar e dos pássaros; para o olfato, as fragrâncias da natureza; para os olhos, o deleite de mirar para o infinito. Além disso, os peitoris em vidro remetem a uma sensação de liberdade e simbiose com a natureza”, destaca. Na parte frontal ao lado oeste, com visão para a rua, foi introduzida uma estrutura em alumínio que provoca uma alusão a uma rede de pesca, elemento que atua como anteparo para o sol poente. É onde também se destaca a esquadria que vai ao encontro de um jardim elaborado com estrutura em madeira e vasos cerâmicos com plantas pelo paisagista Benedito Abbud. No térreo, a casa dispõe de hall de entrada, salas de estar e jantar, cozinha gourmet, varanda, área de serviço, suítes, garagem e lavabo. No primeiro pavimento, estão seis dormitórios e varandas. No segundo andar, espaço gourmet, lounge, banheiros masculino e feminino e piscina com deck. Já no terceiro lance, áreas técnicas, gramado e mirante. “O projeto foi feito para um casal de meia idade. Eles têm filhos casados que tinham o desejo de uma segunda residência com espaço suficiente para atender às necessidades de toda família e dos netos, que vão de um a dez anos”, explica a arquiteta.

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Um lugar amplo, aberto, claro e que dialoga com o seu entorno

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PROJETO | SANDRA MOURA | PB Na cozinha, Sandra apostou na harmonia do azul Tiffany com o cinza, combinação que, segundo ela, partiu do desejo de sair do lugar comum e ousar no projeto. “Descobri essa tonalidade em uma viagem para a Polinésia e encontrei nela uma opção sofisticada e despojada, que casou muito bem com a proposta de ambiente amplo. É que esse tom remete à amplitude que toda casa de praia merece ter”, afirma. Sobre a iluminação, a proposta foi priorizar a luz indireta, deixando poucos pontos de luminosidade direcionada. Já no segundo pavimento, o concreto do teto aparente foi deixado para expor uma estrutura nua, dando a sensação de despojamento. “O concreto é sinônimo de versatilidade e simplicidade, e foi ‘redescoberto’ por criar um projeto impositivo com características fortes e marcantes na paisagem urbana”, destaca Sandra, pontuando que a escolha dos materiais usados partiu da aposta em elementos naturais. “Optei pelo mármore, para crescer o ambiente; a madeira, para aquecê-lo e dialogar com o espírito praiano; e o alumínio, para dar sensação de ondas”. Para ela, o resultado final abraçou todos os desejos dos clientes. “Um lugar amplo, aberto, claro e que dialoga com o seu entorno. Razão para a natureza estar muito bem inserida nesse contexto, que é uma verdadeira paisagem rústica no litoral”, conclui.

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Sandra Moura Arquitetura contato@sandramoura.com.br (83) 3221.7032



PROJETO | RENATA SANTA ROSA | RN


sabor e aconchego Projeto comercial utiliza materiais naturais que favorecem o convĂ­vio das pessoas Fotos: Ubarana Jr



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O restaurante Gustto, de 280 m2, localizado em um shopping de Natal/RN, recebeu atmosfera clean e aconchegante no projeto assinado pela arquiteta Renata Santa Rosa. A área foi construída para criar um espaço mais harmônico e elegante aos seus visitantes. “O objetivo foi levar ao mall um lugar onde o cliente pudesse tomar seu vinho tranquilo e desfrutar de uma boa gastronomia num local convidativo”, adianta a arquiteta. “Existia a necessidade de ter um ponto de espera com mesinhas próximas ao bar, sendo um ambiente para que se pudesse permanecer por mais tempo”, completa. De olho nessa demanda, ela fez uso da madeira de carvalho, do cimento queimado e do couro utilizado nos estofados. A aposta foi na utilização de tons neutros e claros, fazendo uso de diferentes texturas. Além disso, o projeto lança mão de um expressivo jardim vertical, que insere a natureza e humaniza o contexto, fazendo o complemento perfeito com os painéis vazados de aço corten e ripados em madeira. A bancada do bar é um charme à parte, toda pintada à mão pelo artista plástico Flávio Freitas, com tons harmônicos, apresentando a interação de pessoas. A estante decorativa de suprimentos é bastante colorida e chama a atenção de todos os que frequentam o local, ganhando também a simpatia da arquiteta que idealizou o trabalho, e que escolheu este lugar como o seu preferido. Já para a iluminação, tudo foi pensado para dar um clima ainda mais convidativo ao lugar, e por isso o nível de luz lá é baixo, deixando o ambiente um pouco mais escuro do que o do shopping. Para isso, foram utilizados embutidos, sancas e pendentes com estrutura metálica e parte interna amarelada, que trouxeram modernidade e estilo ao salão. O revestimento de concreto aparente, o piso e o forro de gesso perfurado e acartonado forrado de lã de vidro amenizam o som junto às placas acústicas do painel ripado. Após cinco meses de obra, a arquiteta comemora o resultado final. “Superou todas as expectativas. Fiquei muito feliz com o trabalho desenvolvido. Quis levar para esse empreendimento uma cara de restaurante de rua, que conquista o público logo no primeiro contato. E consegui isso, ficou lindo e atendeu o cliente”, finaliza.

Renata Santa Rosa Arquitetura contato@studiosantarosa.com (84) 2010.3505

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PROJETO | Fテ。RICA ARQUITETURA | PE


JOVEM E INTEGRADO A ousadia das cores em um apartamento cheio de estilo no Recife Fotos: THIAGO FREIRE


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Na hora de projetar a moradia de um jovem casal, o escritório Fábrica Arquitetura levou em consideração o perfil antenado dos proprietários, que adoram viajar e guardar pequenas lembranças de cada momento. O ponto de partida foi a parede de cimento queimado, onde foram pendurados os objetos preferidos de ambos, como gravuras e escultura, pontuando a cor junto ao sofá turquesa e deixando a história de vida sempre à mostra. “O clima descolado veio para se unir à personalidade dos clientes. Eles não tinham um grande espaço disponível, por isso integramos a varanda e selecionamos os itens que valorizassem a decoração”, explica a arquiteta Ana Maria Freire, apontando o desnível do teto, que revela o trabalho de continuação dos ambientes. Em um único cômodo estão a sala de estar, jantar e uma pequena área gourmet. A marcação foi feita com o uso do próprio mobiliário e os rasgos no gesso. É onde surge o trabalho luminotécnico, com o uso de luzes diretas, por meio de pendentes, e trilhos externos – bastante utilizados em galerias de arte. “Como os móveis teriam um papel importante nesse contexto, preferimos utilizar aqueles com estilo diferenciado. É assim, por exemplo, na mesinha de centro com tampo de vidro e base de ferro na forma de ‘clips’, adquirida na loja Desenho Design. Ou até mesmo na clássica poltrona Barcelona”, completa a arquiteta. Na parte do home theater, fica

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a estante repleta de nichos desenhada pelo escritório e executada em marcenaria. “Aí está visível um dos desafios do projeto, que foi saber lidar com a paleta de cores, pois se percebem diferentes tons de azul em meio ao branco. É algo que logo chama atenção e alegra o espaço”, completa. O charme fica por conta de detalhes como a mesinha disposta na antiga varanda. O móvel, também pensado pelas arquitetas, é feito de madeira e pastilhas que lembram um ladrilho. “Não queríamos perder a informalidade desse local, por isso cortinas leves em contraste com a elegância do preto visível nas cadeiras”, destaca Ana Maria, lembrando que boa parte dos utilitários foram comprados pelos clientes em São Paulo. O tom escuro segue na cozinha equipada por modulados. Eles se tornam uniformes por conta da cor quebrada unicamente com a bancada em laca amarela. O jogo de elementos de diferentes texturas e estruturas deu ao projeto ainda mais personalidade. “Algumas vezes essas características também aparecem para camuflar obstáculos que surgiram na obra, como o pilar revestido de madeira da sala de jantar, o qual foi ‘criado’ para esconder a instalação necessária para o ar hi-wall split, já que o edifício possui mais de 15 anos e não foi construído para receber esse tipo de aparelho”, completa Camilla Pereira. O resultado, segundo as arquitetas, foi uma atmosfera contemporânea, onde os visitantes do casal chegam e se sentem à vontade.

O clima descolado veio para se unir à personalidade dos clientes. Eles não tinham um grande espaço disponível, por isso integramos a varanda e selecionamos os itens que valorizassem a decoração

Fábrica Arquitetura www.fabricaarquitetura.com.br (81) 98899.8086

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PROJETO | Lร CIO MOURA | AL

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ARTE Peรงas assinadas trazem estilo de galeria para uma casa do litoral FOTOS: LEONARDO GUIZZO


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O escritório de Lúcio Moura usou os projetos de arquitetura, interiores e paisagismo em favor de uma estrutura que respirasse arte. A casa de 750 m2, erguida no condomínio Laguna, em Maceió/AL, foi projetada para um casal com dois filhos que tinha o desejo de fazer da moradia um endereço de exposição contínua, preenchida por obras de artistas e designers renomados, sem perder de vista o estilo despojado de uma residência que está localizada à beira-mar. “Eles moravam em um apartamento menor e sempre tiveram a vontade de mudar para um local amplo que oferecesse espaço para os meninos brincarem e também para incluir o acervo artístico que vinha aumentando a cada dia. A ideia era incluir as peças na decoração e fazer do ambiente uma galeria usável”, destaca Lúcio, que pontuou ainda a duração dos trabalhos no local. “Foram seis meses de projeto e um ano para a conclusão da obra”.

A ideia era incluir as peças na decoração e fazer do ambiente uma galeria usável 137


PROJETO | LÚCIO MOURA | AL Dentro das necessidades do cliente, o arquiteto investiu em soluções que garantem a boa circulação dos moradores, explorando vãos livres e pé-direito duplo – quase como uma constante. É assim, a partir das linhas retas percebidas na estrutura aliada a elementos que garantem o estilo despojado. De acordo com o arquiteto, a ideia é oferecer à família a possibilidade de andar de pés descalços sem muitas preocupações. Ele destaca que os ambientes possuem iluminação vazada, para não contrastar com as tonalidades bege e areia que prevalecem. “As cores mais vibrantes ficam por conta de alguns objetos que fazem parte da decoração, como as almofadas azuis que trouxemos da Guatemala dispostas na sala de estar”, aponta. O ponto alto são as peças de arte que realçam e dão personalidade ao décor. Entre elas, a cadeira Corallo, dos irmãos Campana, que remete aos recifes de coral da costa brasileira, além da poltrona alta do designer espanhol Patricio Urquiola, situada no cômodo principal. Já o lustre Bird, do designer alemão Ingo Maurer, e a mesa de jantar 14 Bis Retangular, da designer Jacqueline Terpins, revelam o gosto por produtos conceituais. Isso sem falar nos anjos querubins, colocados logo na entrada, e na porta de uma igreja do século XVIII, que entoam originalidade. “Muitos dos objetos têm, além de um cunho artístico, uma memória afetiva muito grande, por terem sido herdados de familiares, a exemplo das portas retiradas da casa de um dos avós do proprietário”, completa o arquiteto.

ROGÉRIO MARANHÃO


O paisagismo também cumpre o papel de trazer o verde para dentro da residência, com o auxílio da transparência do vidro, sem interferir na imponência contemporânea da estrutura. Para ele, esse trabalho possui uma dualidade singular. “É um projeto imponente que, mesmo estando aberto para a natureza e com uma fachada bastante livre, conseguiu manter a privacidade dos donos”, ressalta.

DIVULGAÇÃO

Lúcio Moura Arquitetura www.luciomoura.com.br (82) 3235.2442

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FOTOS: lucas olIVEIra

Este foi o segundo ano da mostra no Estado, que recebeu de braços abertos o evento, o qual ressaltou arquitetura e decoração unidas à gastronomia, moda e tecnologia. Sob a gestão de Alessandro Silva, o evento apresentou o tema “O ciclo da vida”, como analogia a diferentes estágios da vida. Assim, 60 profissionais distribuídos em 34 ambientes projetaram espaços para diferentes fases de uma pessoa, seja solteira, casada, com filhos crianças ou adolescentes, a fim de que ela se identificasse. A estrutura foi montada no Parque Shopping Maceió, apresentando cores sóbrias em contraste com tons vibrantes e de personalidade, muitas delas são tendência no mercado. A madeira foi um dos elementos mais presentes nas composições, tanto na forma de mobiliário como na formação de pisos e tetos ou mesmo na forma de escultura. Para grande parte dos profissionais, este é um elemento que se aproxima da natureza e traz o acon-

chego tão necessário aos dias atuais. Nessa atmosfera, os visitantes puderam conferir as possibilidades e circular nos ambientes de convivência, como restaurante, café e outros pontos comerciais. “Esta edição cumpriu o objetivo de seduzir os visitantes, convidando-os a uma experiência única, num ambiente inovador, atraente e confortável, atrelado à sustentabilidade e ao bom gosto”, disse Wagner Andrade, diretor comercial da Record Incorporações, construtora oficial da Casa. Além da circulação tradicional, também foi oferecida uma programação cultural intensa, com apresentação de artistas locais de diferentes estilos.

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NA PÁGINA ANTERIOR: A SALA DE EStAR, PROjEtADA PELA ARqUItEtA CAROLINA MOtA, fOI PLANEjADA PARA UM CASAL MADURO qUE gOStA DE CONfORtO E REqUINtE 1. A MODERNA “COzINhA DO ChEf COM gAzEbO” DOS ARqUItEtOS EStEVãO CONRADO, EVELyNE CRUz E LUIS tAVARES; 2. O “APARtAMENtO DA jOVEM EStILIStA”, CRIADA PELA ARqUItEtA ANA LUÍzA MENEzES; 3. O “LIVINg PARqUE ShOPPINg MACEIÓ”, PROjEtADO POR VALÉRIA COx; 4. A SALA DE EStAR/jANtAR COM VARANDA PROjEtADA PARA UM CASAL bEM SUCEDIDO, CRIADA POR INÊS AMORIM E hENRIqUE gOMES; 5. O RESTAURANTE COM GARAGEM, FEITO POR MARI FREITAS E TERESA CASTRO

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MOSTRA | CASACOR® | RN

RIO GRANDE DO NORTE

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FOTOS: RICARDO JUNQUEIRA

O evento potiguar chega a sua 3a edição apostando no tema “Brasilidade”. Para fortalecer o mote, os franqueados Cesar Revorêdo e Luciano Almeida escolheram homenagear o folclorista Câmara Cascudo. “Pensar em brasilidade é lembrar dele. Foi uma personalidade que defendeu o conceito e exaltou isso em seus trabalhos. Não poderíamos deixar de prestar essa homenagem em um evento que se forma a partir dos aspectos nacionais”, explica Cesar. Para compor a exposição, foram reunidos 48 profissionais que assinaram 30 ambientes. O lugar escolhido para ser sede foi um casarão de 660 m2 no bairro de Lagoa Nova. A aposta de levar a mostra para a amplitude de uma casa, saindo de prédios comerciais, como acontecia nos anos anteriores, partiu do desejo de remeter aos antigos hábitos de moradia com áreas espaçosas para convívio e vastos jardins. “É o resgate de um estilo de vida

em família que foi se perdendo com o tempo. Além disso, propomos o uso de energia solar, o replantio de árvores e o reaproveitamento de água para introduzir e apoiar um sistema sustentável de habitação”, ressalta Luciano Almeida. Para estruturar os projetos, foi apresentado um Master Plan desenvolvido pela arquiteta Viviane Teles, que permitiu que os locais fossem planejados de acordo com a função de uma casa, tudo inserido no tema trabalhado. “Unimos decoração, paisagismo e arquitetura apostando no branco e em cores terrosas para dar conforto térmico,

além de um jardim que utilizasse pouca água por conta da crise hídrica. Tudo foi pensado a fim de preservar o jeito e as necessidades locais”, destaca Cesar.

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NA PÁGINA ANTERIOR: ACONCHEGO E ELEGÂNCIA DÃO DESTAQUE AO AVARANDADO DA ARQUITETA OLGA PORTELA 1. GAZEBO PROJETADO PELAS ARQUITETAS LORENA MEDEIROS, MÔNICA GENTILI E LORENA AZEVEDO; 2. LOFT INSPIRADO NA PERSONALIDADE ENERGÉTICA DO ATOR MIGUEL FALABELLA PENSADO PELO ARQUITETO LEONARDO MAIA; 3. gUIADA PELA CANÇãO “AqUARELA”, DO CANtOR E COMPOSItOR tOqUINhO, A ARqUItEtA fERNANDA bEzERRA IDEALIzOU O qUARtO DO bEbÊ; 4. A ARQUITETA ZANDRA CALDAS UNIU NA GARAGEM A POSSIBILIDADE DE ABRIGAR O CARRO E RECEBER AMIGOS E FAMILIARES; 5. O RESTAURANTE, DESENHADO PELAS ARQUITETAS MYLENA DANTAS E ADRIANA MELLO, APOSTA NA RIQUEZA DOS ELEMENTOS BRASILEIROS

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DELÍCIAS | LAURENT SUAUDEAU

PRECISÃO ESTÉTICA Consciência e sabedoria numa montagem que resulta na frança brasileira TEXTO: EDI SOUZA FOTOS: TOMÁS ARTHUZZI

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O sotaque do chef Laurent Suaudeau revela bem sua origem francesa abraçada pelo Brasil, desde a década de 1980. Foi quando o então cozinheiro do renomado Paul Bocuse tornou o ‘País Tropical’, mais precisamente o Rio de Janeiro, o seu lugar de morada e trabalho. Naquela época, ficou desanimado com alguns pensamentos em torno da gastronomia, que ao seu ver deveria valorizar melhor os ingredientes nacionais. “Era como se dessem as costas ao próprio ouro”, diz. Essa inquietação logo se tornou a base da sua trajetória, a exemplo da suas duas criações para este Delícias. “Penso não só na apresentação, mas principalmente em como abordar o ‘não desperdício’, otimizando bem os produtos. Eu diria que a montagem é a cereja do bolo, uma espécie de consequência, pois o mais importante é a execução adequada”, explica Laurent. Sendo assim, não seria diferente na produção feita aos moldes do Piauí, que reúne cordeiro defumado e abóbora, servidos com maxixe, leite de coco e coulis de pimenta. “Aqui você tem acidez e suavidade juntas”, resume o chef, que utilizou uma cerâmica escura para o contraste perfeito com os elementos. O curioso é que ele prioriza sempre três elementos, os demais são excesso. “É como se diz no português de vocês: a frase tem que ter verbo, sujeito e objeto”, descontrai. Sobre o processo, o chef revela que sempre procura montar um croqui. “É para ter noção de tamanho, cor e simetria, antes de ir direto ao ponto”, conta. Segundo ele, essa é mais uma maneira de utilizar bem os componentes da sua obra. “O cozinheiro tem papel fundamental dentro da sociedade e do meio ambiente, por isso precisa saber aproveitar o que a natureza oferece e evitar o descarte”, assume. Aliás, essa é a mensagem principal do chef aos alunos da sua Escola de Arte Culinária Laurent, em São Paulo, como forma de democratizar o conhecimento. Foi lá que ele recebeu a equipe da SIM!, por ser uma extensão do seu trabalho desde o ano 2000. É onde circulam pessoas que já atuam no mercado, de olho no aprimoramento, em cursos de até cinco dias. “É importante transmitir boas noções ao pessoal, porque existe a cultura da fartura e das fontes inesgotáveis, e não é bem assim”, reforça. Desde que chegou ao Brasil, encantou-se pelo colorido de frutas como caju, cupuaçu e manga, incorporando a esses itens a técnica francesa com a bossa nacional.

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DELÍCIAS | LAURENT SUAUDEAU

“As frutas possuem cores que me atraem muito, embora meu preferido seja o azul, que não serve para comida. Uso muito o tom laranja, e às vezes até me corrijo nisso”, diz ele, ainda apontando para o segundo prato, que inclui camarão, arroz de quinoa, farofinha e caju. “Gostei muito do resultado, que tem a louça como levante. Saber onde servir é importante não só por conta do design, mas porque ela pode aquecer ou esfriar a comida”, alerta. De noção ampla e sempre embasada, Laurent se inspira em diferentes artes. Pintura e arquitetura estão na linha de frente do seu olhar, que de alguma forma entram nas etapas criativas. “Existe muita construção contemporânea para se admirar aqui, mesmo diante de tanta coisa repetida. Eu mesmo não sou cubista e nem gosto daquelas casas quadradas, sem janela. Vim de um país que teve muita guerra, e me lembro bem o que os alemães fizeram na beira das praias para esperar seus aliados. Eram uns caixotes como esses na rua. Isso me arrepia. Não saberia viver dentro de um, precisa sempre ter luz e personalidade”, arremata.

Escola Laurent eacl@laurent.com.br (11) 3887.0170 148


Penso não só na apresentação, mas principalmente em como abordar o ‘não desperdício’, otimizando bem os produtos


DELÍCIAS | FABRICE LE NUD

DELICADEZA

NA FORMA Chocolate ganha status de escultura em produção cheia de contexto arquitetônico TEXTO: EDI SOUZA FOTOS: TOMÁS ARTHUZZI

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É importante ter noção de pintura, arquitetura, fotografia e colocar essas influências em peças diferentes ao lado dos clássicos, dando movimento e nova textura ao ingrediente

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O chef confeiteiro Fabrice Le Nud propõe uma viagem a Paris através das suas criações. Isso porque não dispensa o rigor técnico aliado ao encanto que o doce provoca em adultos e crianças. Ainda mais se preparado com a paixão que esse francês radicado no Brasil transmite à produção da sua Douce France, em São Paulo, de onde surgem mais de 100 produtos diferentes. Ao receber a SIM!, a primeira exclamação do pâtissier foi de poder preparar algo que comercialmente causaria estranheza, mas, em termos conceituais, estaria no campo das infinitas possibilidades. E foi assim ao lidar com o chocolate em diferentes formatos, dando a ele características inusitadas. “Tudo isso vem de uma execução adequada e de um olhar vanguardista sobre um item tão conhecido como este, que pode surpreender dependendo da maneira com que é trabalhado. Inclusive, porque não tem nada a ver com a sobremesa e, sim, algo mais provocativo”, explica ele, com a expertise de quem tem no currículo o cargo de primeiro confeiteiro do chef Paul Bocuse na França, com quem aprendeu a disciplina e o rigor, inclusive estético. “É importante ter noção de pintura, arquitetura, fotografia e colocar essas influências em peças diferentes ao lado dos clássicos, dando movimento e nova textura ao ingrediente”, completa. O chef comprova isso no uso do transfer que enaltece sua obra. “É uma forma de impressão, só que em vez de tinta, usa-se a manteiga de cacau comestível. Um fornecedor me vende essas telas como serigrafia e depois é só modelar de acordo com a imaginação”, reforça. Com o recurso em mãos e a ideia na cabeça, ele criou uma espécie de chocolate ondulado espaçado com três tiras de chantilly rosa, que também deram o toque de suavidade à história. Fabrice está envolvido com a gastronomia desde os 14 anos, quando já tinha certeza das habilidades que poderiam ser aprimoradas no futuro. Foi quando seguiu a intuição e percorreu as principais cozinhas internacionais, até inaugurar a sua em 2001. Da experiência mundo afora, restou o bom entendimento na compra de ingredientes como leite e queijo para sempre oferecer qualidade. Depois disso, a vontade foi a de ousar. O pensamento inquieto até o impede de desenhar o que será feito, muitas vezes surge na hora, quase como numa explosão criativa.

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DELÍCIAS | FABRICE LE NUD

É por isso que no segundo momento ele prepara uma espécie de torre, que poderia muito bem estar situada em qualquer metrópole. Também preenchida com chantilly, a estrutura sugere leveza e imponência no que seria um belo traço arquitetônico. “Olhando assim, até que remete ao Niemeyer”, brinca. As referências urbanas que tem do Brasil e de alguns países é sempre de muita cor e expressão, ainda que no trabalho prefira lidar com tons pastéis e mais equilibrados. “Quando fui à Colômbia, por exempo, senti um choque visual muito grande. Não que seja feio, não é isso. É que na Europa, devido ao clima, o contexto é diferente. Então é sempre muito marcante para mim”, lembra. Dessa noção estética, o chef faz questão de lembrar que ela pode ir sempre além do convencional. “Você pode pensar no doce até como um elemento de decoração, e ele sempre exigirá do cozinheiro muita técnica e amor no que faz. O resultado é sempre o fascínio”, encerra.

Pâtisserie Douce France patisseriedoucefrance@terra.com.br (11) 3262.3542 152


Tudo isso vem de uma execução adequada e de um olhar vanguardista sobre um item tão conhecido como este, que pode surpreender dependendo da maneira com que é trabalhado


DELÍCIAS | Márcio Sena

Dedicação

e sucesso Foi preciso muito estudo para que o padeiro Márcio Sena elaborasse um levain tipicamente nordestino Texto: Erika Valença fotoS: Victor Muzzi

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Foi dentro da padaria do seu pai, no município de Escada, que o empresário e padeiro Márcio Sena, ainda menino, deu seus primeiros passos na arte de fazer pão. “Amava observar aquela movimentação nos bastidores, brincava com os sacos de farinha e me encantava ao ver o manuseio dos ingredientes. Costumava ficar com os padeiros vendo-os trabalhar, identificando o passo a passo, o preparo do pão e da massa de macarrão, que era a refeição da madrugada. Eu me via num estado de hipnose, que me levava ao que, na época, nem imaginava que seria um hobby e depois um ofício”, lembra. Mesmo passando por diversos ramos de trabalho, o apreço pela panificação o acompanhou em todos os momentos. Sua grande descoberta foi quando se deparou com o conceito de fermentação natural, sua estrutura, seu preparo e seu sabor. Por se tratar de uma iguaria de origem francesa, preparada com técnicas específicas daquele país, muitas pessoas do ramo não imaginavam, ou sequer tentavam desenvolver alguma técnica específica aqui no Brasil, pois se acreditava que o nosso clima, por ser tropical, impossibilitava o desenvolvimento das bactérias necessárias. Márcio não pensou dessa maneira, mergulhou de cabeça nos estudos para tentar descobrir uma técnica específica para produzir, no clima quente do Recife, o seu próprio levain. “Foram três anos ininterruptos de estudos e testes. Eu sabia que era preciso paciência e muita disciplina para encontrar o momento ideal para atrair as bactérias corretas, respeitar os seus ciclos, transformá-las, imprimir uma regularidade de manuseio até chegar ao meu fermento, um desafio que eu encarei com todas as garras. Essa busca me encantou mais ainda e me fez prosseguir no segmento da panificação natural”, revela.

Costumava ficar com os padeiros vendo-os trabalhar, identificando o passo a passo, o preparo do pão e da massa de macarrão, que era a refeição da madrugada

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DELÍCIAS | MÁRCIO SENA

Para o Delícias, Márcio optou pela simplicidade de um pão do tipo italiano. “A ideia de uma receita bem tradicional e com poucos ingredientes surgiu justamente para mostrar bem a evolução do levain. Também pensei em algo que pudesse ser feito em fornos domésticos, por isso utilizei uma panela com tampa que suporta altas temperaturas. O uso da tampa é fundamental para que o vapor não se dissipe e, em contato com a massa, especificamente com o fermento, cresça, abra suas frestas e, se não riscado, crie seu próprio desenho. Tenho certeza que a grande alegria para o padeiro é, sem dúvida, contemplar seu produto final”, comemora Márcio. O pão preparado com o levain possui uma textura bem definida. “Todo o segredo do meu fermento está em refrescar bem o produto, no tempo certo, o que requer muita dedicação e disciplina. Desta maneira, consigo um resultado de primeira linha e produzo pães com volumetria, casca de extrema crocância, miolo macio e alvéolos bem definidos, que servem de base para a produção de sopa no pão, bruschettas, tartines diversos, por exemplo, ou de acompanhamento para pastas, promovendo assim um festival de cores e sabores” finaliza.

Márcio de Sena marciodesena@gmail.com Instagram: @marciodesena 156


Tenho certeza que a grande alegria para o padeiro ĂŠ, sem dĂşvida, contemplar seu produto final


FAZER O BEM!

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A ONg Novo jeito leva ações de cidadania para o município de Canapi/AL TEXTO: ERIKA VALENÇA

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A realidade de muitos municípios no interior do Nordeste, principalmente no Sertão, é não apenas de pobreza, mas de carência profunda, seja de bens de primeiras necessidades como de ações que tragam sorrisos a um povo já tão castigado principalmente pela seca e suas consequências, e, atualmente, também pelo crack. E foi pensando em levar alegria para o município de Canapi, em Alagoas, que a ONG Novo Jeito pegou a estrada, levando na bagagem o bem maior que qualquer ser humano pode ofertar: amor! A ação, entitulada de Mais Pão, é fruto de uma parceria com a ONG Visão Mundial (World Vision) e tem como objetivo levar ações de cidadania, além de donativos (como alimentos, água potável, roupas, sapatos, brinquedos, cestas básicas, remédios) — conseguidos em uma pré-ação em que muita gente que não pôde fazer a viagem trabalhou na arrecadação. Para o idealizador do Novo Jeito, Fábio Silva, “essa ação é que a gente considera a mais radical para os nossos voluntários, uma vez que eles saem das suas realidades e ficam imersos em um universo de aprendizado e reflexão em busca de entender o que a vida nos dá, como usufruímos, de compreender melhor o exercício das suas profissões e observar o que a vida nos devolve com tudo isso”, conta Fábio.

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FAZER O BEM! FOTOS: DIVULGAÇÃO

Doar seu tempo para o bem do próximo pode ser a cura para diversos males que temos no mundo Rodrigo Duarte

A viagem aconteceu de 09 a 12 de outubro. A caravana da solidariedade — que ainda conquistou pessoas fora do Recife, como João Pessoa, Maceió e outras cidades do Nordeste — invadiu Canapi e seus povoados circunvizinhos. Ao todo foram 86 integrantes (sendo 3 organizadores e 83 voluntários) de diferentes profissões, com a disposição de oferecer mais de 40 tipos de serviços, entre eles aconselhamento jurídico, orientação médica, embelezamento (cabelo, unha e maquiagem), psicologia, assistência social e outros tantos ofícios que, em união, dedicaram seu tempo. Momentos raros para a região, que teve, por exemplo, oficina de esportes, um cinema a céu aberto na praça principal da cidade, recreação com as crianças e até a leveza das cores em ter algumas casas pintadas. Para um dos coordenadores da ação, o arquiteto Rodrigo Duarte, “o importante é oferecer o bem para as pessoas. Nós não chegamos lá para resolver problemas, mas para aliviar o peso que a vida já os obriga a levar. Do outro lado da moeda, a ação vai além, criando entre o voluntariado uma consciência de vida e amizades verdadeiras”, diz ele, que completa: “Nosso pessoal trabalha doando um bem precioso que todos nós possuímos e que, muitas vezes, não temos noção do seu valor, que é o tempo. Doar seu tempo para o bem do próximo pode ser a cura para diversos males que temos no mundo”, finaliza. Para conhecer mais sobre as ações do Novo Jeito e voluntariado, basta acessar o site: http://www.novojeito. com ou a fanpage: https://www.facebook.com/novojeito. Lá, os interessados encontram todas as informações, além de belas fotos do Mais Pão no município de Canapi.

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