15 minute read
Clones de café resistentes a pragas
Luciane Gonçalves Torres
lucianetorres21@hotmail.com
Advertisement
Jean dos Santos Silva
santos.jean96@yahoo.com.br Engenheiros agrônomos e mestrandos em Fitotecnia - Universidade Federal de Lavras (UFLA)
Omelhoramento genético do cafeeiro visa o lançamento de cultivares com boa produtividade e qualidade, atendendo assim à demanda dos cafeicultores. Essas características são aliadas a diversas outras que contribuem para o objetivo inicial. Uma das técnicas utilizadas no programa é a clonagem de cultivares que apresentem característi cas de interesse.
A prática de clonagem do cafeeiro trouxe a possibilidade de lançamento de cultivares resistentes às pragas e doenças primárias que atingem essa cultura, sen do elas, por exemplo e respectivamente,
Marcelo André
o bicho-mineiro e a ferrugem.
O bicho-mineiro é uma praga que afeta a cultura em qualquer estágio de maturação, penetrando no fruto e levan do à depreciação ou até à perda do mesmo, enquanto a ferrugem é uma doença provocada por um fungo que leva à que da precoce das folhas e também dos ramos.
Genética a favor da cafeicultura
que de pragas e doenças, uma vez que as mudas já apresentam o mecanismo ne cessário para resistir a elas, quando surgirem nas lavouras.
Manejo
A técnica de clonagem se inicia com a seleção das plantas matrizes. Uma das maneiras de realizar essa prática é sele cionando plantas escolhidas em meio a uma lavoura atacada pela praga ou do ença, mas que apresentam menor sinal de ataque, se mostrando capaz de resis tir àquela situação.
Exemplo de seleção foi o realizado pelo Instituto Agronômico de Campi nas (IAC), quando os pesquisadores observaram que algumas plantas de café arábica cruzadas com outra espécie es tavam produzindo plantas resistentes ao bicho-mineiro.
Após a seleção, são recolhidas as fo lhas e levadas ao laboratório, onde serão higienizadas para retirar fungos e bacté rias que possam estar presentes. Em seguida, são cortados pequenos pedaços das folhas e colocados em uma espécie de gelatina que contém nutrientes ne cessários para o crescimento dos calos.
Este material fica aproximadamen te seis meses na ausência de luz e surgem os calos que darão origem às mudas. Durante um certo período, as mudas permanecem em casas de vegetação, com umidade e temperatura controladas para garantir a sobrevivência das mesmas, que serão posteriormente levadas ao campo.
Relação com a produtividade
O uso de clones resistentes a fatores que possam afetar a produtividade da lavoura, como a ferrugem e o bicho - -mineiro, é uma alternativa para prevenir o ataque.
As cultivares desenvolvidas para re sistência, sejam elas para o bicho-mineiro e/ou ferrugem, possuem outras características importantes que contribuem para sua indicação, como boa capacida de produtiva, que é semelhante ou superior aos padrões suscetíveis, como Catuaí e Mundo Novo, o bom vigor das plan tas, que garante sua recuperação pós-estresse por carga e a produção de frutos de boa qualidade.
Sendo assim, o uso de cultivares re sistentes contribuirá para garantir o potencial produtivo proposto pela cultivar.
Em campo
Em estudo realizado por Carvalho et al. em 2013, avaliando o comportamen to agronômico de clones com resistência ao bicho-mineiro e à ferrugem nas cidades de Varginha e Boa Esperan ça, ambas em Minas Gerais, os resultados evidenciaram que é possível obter produtividades superiores às de cultiva res comerciais propagadas por sementes mediante a utilização de clones propa gados por embriogênese somática. Foram avaliados sete clone com resistência ao bicho-mineiro e/ou ferrugem, e todos eles apresentaram alta resistência.
Erros
Ao utilizar mudas clonadas de café, que apresentem resistência a pragas e do enças, pode ocorrer que os produtores negligenciem outras medidas preventivas, levando a lavoura a uma maior susce tibilidade a outros fatores que possam atingi-la.
É preciso esclarecer que a resistên cia pode ser quebrada por novas raças de patógenos Ainda, recebendo menor atenção aos cuidados fitossanitários, a lavoura pode ficar exposta a outras pra gas e doenças.
É de suma importância que os ca feicultores mantenham os mesmos cuidados preventivos, mesmo utilizando mudas clonais com resistência a algum fator. Uma lavoura sadia e bem cuida da é capaz de manter sua produtividade e apresentar os resultados esperados. Para produzir um café de qualidade, to das as medidas e cuidados contribuirão para este fim.
Investimento
Segundo uma análise de custo realizada por Carvalho et al., o custo de produção de uma muda de café a partir de embriogênese somática foi de R$ 0,97 para uma produção anual de 400.000 mudas, utilizando-se o plantio de em briões diretamente em tubetes.
Quando é realizada a etapa de produ ção de plântulas em potes in vitro, o custo de produção passa a ser de R$ 1,34.
Viveiro Monte Alegre
Redução do custo
O uso de cultivares resistentes ao bicho-mineiro e ferrugem contribui para a redução do uso de agrotóxicos e, consequentemente, do custo de pro dução. Ainda, são escassos os estudos comparativos entre o custo-benefício de se utilizar mudas clonais em subs tituição às mudas produzidas por sementes.
Mudas produzidas por embriogê nese somática ainda encontram como dificuldade o estabelecimento em campo e custo elevado, quando com paradas às demais técnicas de produção de mudas de café.
IMPLANTAÇÃO DE CAFEEIROS
FERTILIZANTES DE EFICIÊNCIA AUMENTADA
Autilização de novas tecnologias é cada vez mais crescente na ca deia produtiva do café, de modo que técnicas de manejo, como a aduba ção, colheita e aplicação de produtos fitossanitários estão cada vez mais práticas e fáceis de serem realizadas, isto devi do à frequente contribuição das empresas do setor cafeeiro, com o lançamento de equipamentos cada vez mais aprimo rados.
Neste sentido, os avanços na produ tividade do cafeeiro caminham de encontro ao lançamento destas tecnologias, de forma que os índices produtivos por
Fotos Ana Maria Diniz
Giovani Belutti Voltolini
Engenheiro agrônomo e doutorando em Agronomia/Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA) giovanibelutti77@hotmail.com
Ademilson de Oliveira Alecrim
Engenheiro agrônomo e doutor em Agronomia/Fitotecnia – UFLA ademilsonagronomia@gmail.com
João Pedro Miranda Silvestre
Graduando em Agronomia – UFLA joaopedromirandasilvestre@gmail.com
área plantada são incrementados ano a ano.
Eficiência nutricional
No caso das tecnologias voltadas à adubação dos cafeeiros, têm-se os ferti lizantes convencionais e os de eficiência aumentada. Dentre os fertilizantes mais eficientes, se destacam os estabilizados, os de liberação lenta e os de liberação controlada.
Assim, atrelado a estas tecnologias, há uma maior segurança quanto à disponibi lização dos nutrientes, assim como a liberação ao longo do tempo, ou até mesmo a garantia de eficiência mesmo em con dições inadequadas para a liberação do mesmo no solo, e consequente absorção pelas plantas.
Desta forma, são características dos fertilizantes estabilizados a adição, nos grânulos dos fertilizantes nitrogenados, de inibidores de urease, fazendo com que a liberação destes seja mais lenta, quando comparada aos fertilizantes convencio nais.
Por outro lado, os fertilizantes de li beração lenta são aqueles adicionados de formaldeído na composição dos grâ
nulos, fazendo com que, após esta associação, cadeias de carbono sejam formadas em torno do dado nutriente, e assim, a liberação do mesmo só aconte ça quando estas cadeias de carbono são quebradas.
Nesse sentido, a ação de microrganis mos, assim como a presença de umidade no solo, ou em condições de ocorrên cia de chuvas, faz com que estas cadeias sejam quebradas e, consequentemente, ocorra a liberação do nutriente.
Já os fertilizantes de liberação con trolada são aqueles onde os grânulos de cada nutriente são submetidos à adição de polímeros, que atuam revestindo os grânulos de cada tipo de fertilizante.
Assim, a liberação gradativa, atrelada a esta tecnologia, se dá por meio de di ferentes espessuras utilizadas no revestimento destes grânulos, de modo que uma dada porcentagem de grânulos possui uma fina camada de revestimento, e outra dada porcentagem uma maior camada de revestimento.
Portanto, por meio da ação do cli ma, principalmente no que diz respeito à umidade do solo, ocorre a liberação gradativa destes fertilizantes, por meio da degradação destas camadas de po límero.
Por fim, ressalta-se que este reco brimento realizado nos grânulos pode ser feito com polímeros de diferentes origens, assim como ácidos orgânicos, entre outros elementos.
Vantagens
Dentre as principais vantagens da utilização destes fertilizantes tem-se a maior eficiência na utilização dos nu trientes pelas plantas, isso porque, devido à liberação gradativa destes, menores índices de lixiviação, assim como de volatilização de nutrientes, são ob servados.
Ainda, salienta-se a possibilidade de realização de apenas um parcelamento da adubação, facilitando o operacional das propriedades cafeeiras, assim como a redução da demanda de mão de obra para regiões montanhosas, que indispõem de mecanização em suas áreas.
Desvantagens
Como algumas desvantagens, pode- -se listar o maior custo atrelado à utiliza
Lavoura nova de café com o manejo correto
ção destes fertilizantes, assim como, em alguns casos, como os fertilizantes de li beração lenta, que quando submetidos a grandes índices pluviométricos podem ser liberados de modo rápido, que im plica em possibilidade de lixiviação no perfil do solo e consequente falta deste nutriente até o final do ciclo de deman da deste pelas culturas.
Uso em cafeeiros em formação
Em se tratando de lavouras de cafeeiro em formação, a utilização de mão Geralmente, o custo associado à utilização destes fertilizantes é cer ca de 40 - 50% superior aos fertilizantes convencionais. Entretanto, quando se comparam as perdas de nitrogênio, principalmente os fer tilizantes convencionais chegam a até 40% em condições extremas, en quanto nos de eficiência aumentada, as perdas são muito reduzidas. Ainda, o custo inerente a 4-5 parcelamentos nos fertilizantes con vencionais deve ser levado em conta, pois no caso dos fertilizantes especiais, há possibilidade de uma única aplicação no início do perí odo chuvoso. Portanto, o posicionamento téc de obra se torna cada vez mais frequen te, e estes fertilizantes de eficiência aumentada, com aplicação única durante o período chuvoso, fazem com que ocorra a redução de gastos com trabalhadores, impactando no custo de produção.
Ainda, a garantia de liberação ao longo do tempo, atrelado às tecnologias inerentes a cada um deles, faz com que a marcha de liberação dos nutrientes seja equivalente à demanda nutricional da planta ao longo do tempo. No caso dos cafeeiros, existem fertilizantes com li beração por até seis meses após a apli
Custo
cação. nico da utilização destes fertilizantes de eficiência aumentada deve ser fei to de maneira muito categórica, de modo que cada cafeeiro possui ca racterísticas próprias ao seu local de cultivo.
Características como a meca nização, ou também o regime pluviométrico, são fatores chaves para a tomada de decisão de se utilizar ou não estas tecnologias.
O custo também deve ser anali sado, visto que, devido ao maior investimento inicial associado a esta técnica, os parâmetros de custo-be nefício devem ser estudados para que a viabilidade econômica destes seja atestada.
É TEMPO DE COLHER CAFÉ
Otávio Vitor Souza Andrade
Graduando em Agronomia – Universidade Federal de Lavras (UFLA) otaviovsandrade@gmail.com
Cássio Pereira Honda Filho
Doutorando em Fitotecnia - UFLA cassiop.honda@gmail.com
Acolheita é um dos momentos mais esperados pelos agriculto res em todas as culturas, e é nessa fase que o produtor consegue reaver todo o investimento feito ao longo do ano agrícola. Na cafeicultura não é di ferente, pois o valor da commodity está diretamente relacionado à qualidade e, quanto maior a qualidade, maior o va lor agregado.
O custo do processo de colheita pode representar até 30% do valor total do custo de produção. Pequenos erros nessa fase são comuns e podem acarretar per das no valor da saca, causando prejuízos e muitas vezes tornando inviável a atividade.
Durante o ciclo fenológico do ca feeiro podemos observar várias floradas que normalmente se iniciam no mês de setembro. Esse grande número de floradas faz com que a maturação não ocorra de forma homogênea, sendo possível encontrar no início do período de colhei ta grãos do tipo verde, verde cana, cereja, passa e seco.
O ideal para o posicionamento do início da atividade é fazer uma amostra gem para avaliar a quantidade de frutos em cada um dos estágios citados ante riormente, devendo se iniciar a colheita quando a quantidade de grãos do tipo verde variar entre 5 a 20% do total.
A velocidade de maturação pode va riar de acordo com a altitude da propriedade. Propriedades que se encontram em altitudes mais elevadas, acima de 900 metros, por exemplo, tendem a ter uma maturação mais lenta, enquanto nas áre as mais baixas ocorre uma maturação mais rápida.
Isso é devido à influência da tempe ratura no metabolismo do cafeeiro e no transporte de fotoassimilados que são responsáveis pela maturação. Detalhes como este são extremamente importan tes para um bom escalonamento da colheita, diminuindo perdas e buscando
Fotos Jacto
sempre alcançar uma maior rentabilida de.
Próximo passo
Passadas as análises citadas anteriormente, chega a hora da colheita propriamente dita, podendo ser feita na forma de derriça completa ou de coleta sele tiva. Na derriça completa são retirados todos os grãos, desde os verdes até os secos, enquanto na seletiva são retirados apenas frutos encontrados no estágio ce reja, o que exige a realização de mais colheitas durante o período, por conta da maturação desuniforme.
Além disso, a atividade pode ser rea lizada de forma manual, semimecanizada ou mecanizada.
Um grande entrave das áreas de mon tanha que representam uma parte significativa do parque cafeeiro do Brasil é que a colheita mecanizada se torna invi ável, sendo necessário que se faça a colheita manual ou semimecanizada.
No caso da colheita manual, a ativi dade pode ser realizada de forma seletiva ou também na forma de derriça comple -
ta. Um problema com a colheita manual é a grande necessidade da utilização de mão de obra, o que acaba onerando os custos e diminuindo a rentabilidade fi nal do produtor.
Na semimecanizada, fazendo a uti lização de máquinas portáteis esse custo sofre uma diminuição de aproximadamente 41%, porém, a coleta seletiva se torna inviável.
No caso das áreas onde é possível a realização da colheita mecanizada, es ses custos são menores, podendo chegar a uma diminuição de até 69% do cus to total da colheita, quando comparada à manual. Esse índice pode variar de acordo com o número de passadas que são realizadas.
Mecanização
Na vertente da mecanização, alguns produtores optam por realizar apenas uma passada com o café em estágios mais avançados de maturação, pois a força de desprendimento do grão é menor, o que facilita a retirada do fruto da planta e diminui a necessidade da realização de mais entradas com a máquina na mes ma área.
Um problema relacionado a esse tipo de posicionamento é a questão da quan tidade de frutos que acabam se soltando da planta antes da entrada da máquina, e também aqueles frutos que ficam retidos, normalmente os verdes, fazendo com que exista a necessidade de um re passe manual para a derrubada e posterior recolhimento.
Isso faz com que a quantidade de ca
fés de menor qualidade que se encontram no chão aumente, resultando, mais uma vez, em redução da rentabilidade final.
Para reduzir essas perdas existe a op ção da realização de mais entradas com a máquina para a realização da colheita, podendo chegar a até três passadas. Nor malmente a opção se dá pela realização de duas passadas.
Na primeira, comumente são reti rados os colares com as varetas da parte inferior da máquina trabalhando com uma velocidade maior e vibração me nor, colhendo apenas os ponteiros, onde normalmente, por conta da incidência direta de raios solares e novamente pela maior temperatura, os frutos amadure cem primeiro.
Com o estresse sofrido pela plan ta devido à primeira passada com a colhedora, aspectos fisiológicos fazem com que os grãos que sobraram entrem em estágio de maturação mais acelera do e aproximadamente entre 20 a 30 dias após a primeira passada os frutos que restaram já estarão maduros.
Então, a segunda passada poderá ser realizada, essa já com todos os colares acoplados, trabalhando a uma menor ve locidade e com maior vibração visando a retirada completa dos frutos que resta ram nos ponteiros, no terço médio e inferior do cafeeiro.
Regulagem das máquinas
Um outro aspecto importante na colheita mecanizada é que uma regulagem bem-feita da colhedora pode dar a pos sibilidade de realização da coleta seletiva. A relação entre velocidade e vibração podem ser aspectos decisivos na obten ção de cafés de melhores qualidades, visto que velocidades maiores, com menores vibrações, acompanhadas de um menor peso aplicado nos rolos propiciam a cole ta apenas dos grãos cerejas, passas e secos, que podem ser posteriormente separa dos nos lavadores, possibilitando a obtenção de cafés naturais em lotes maiores, quando comparado à coleta seletiva manual.
Pós-colheita
Após a colheita, entra a fase de pós- -colheita. Assim que o café chega à estrutura de secagem, em algumas situações existe a necessidade da passagem dos frutos por um sistema de pré-limpe za, que tem por finalidade retirar impurezas que não foram retiradas no campo.
Esse tipo de atividade visa propiciar melhores condições para a secagem dos frutos. Elas podem ser realizadas em me sas vibratórias com abanadores mecânicos que, na maioria das vezes ficam entre as moegas de recepção e os lavadores-se paradores.
Beneficiamento
Atualmente, existem duas modalidades de preparo do café, chamadas via seca e via úmida. Na via seca, cafés naturais são separados em dois lotes, cereja e verde, e um outro lote do tipo boia.
Para essa separação, o café que chega da lavoura é colocado em um lavador e a separação ocorre por den sidade. Na via úmida, se adiciona o processo de despolpação, que con siste na retirada da casca, podendo ser ou não ser retirada também a mucilagem.
Uma das grandes vantagens do preparo por via úmida está relaciona do à velocidade de secagem e ao volume ocupado. A diminuição desses dois fatores, tanto o tempo quanto o volume, pode agilizar bastante o processo, facilitando a obtenção de cafés de melhor qualidade em me nos tempo dentro da janela de colheita.