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Inseticidas de duplo mecanismo de ação em trigo
TRIGO
INSETICIDAS DE DUPLO MECANISMO DE AÇÃO
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Lucas Alexandre Batista
Engenheiro agrônomo - Universidade Federal de Lavras (UFLA) lucaslabatista@gmail.com
Guilherme de Sousa Ferreira
Graduando em Agronomia - UFLA guilheme.ferreiramb@hotmail.com
Otrigo na América do Sul é cultivado principalmente na região do sul, composta pela Argenti na, na região dos Pampas, Sul do Brasil, Centro do Chile e partes do Paraguai e Uruguai. No Brasil, há uma tendência de explorar a cultura do trigo no Cerra do, onde vem se investindo em cultivares adaptadas para a região.
Milhares de insetos são descritos na cultura do trigo ao redor do mundo onde são cultivados. A maioria dos insetos não causa grandes danos à produção do trigo, embora alguns sejam relatados como responsáveis por perdas expressi vas na produtividade.
Alguns desses problemas, como pragas, estão diretamente ligados ao sistema agrícola intensivo de monocultura em pregado em uma área específica, enquanto outros são herbívoros oportunistas ou generalistas que não têm como alvo o trigo especificamente como hos pedeiro.
Algumas dessas pragas são adapta das ao trigo e ao conjunto de condições ambientais e fisiográficas nas quais ele é cultivado. Como a agricultura se expan diu para áreas que não são tradicionalmente plantadas com trigo, e como essas práticas agrícolas eliminam ou impedem as forças reguladoras naturais que nor malmente controlariam suas populações, muitas pragas surgiram em surtos graves, causando destruição quase total nas cul turas que infestam.
Pragas mais comuns
vejos e os corós, que podem reduzir a qualidade dos grãos e a produtividade. Os pulgões (Rhopalosiphum padi, Me topolophium dirhodum, Sitobion avenae e Schizaphis graminum) podem ser en contrados nas folhas, no colmo e nas espigas.
Eles são responsáveis por infectar a planta com o Barley Yellow Dwarf Virus (BYDV) ou virose do nanismo amare lo da cevada (VNAC). Há, no mercado, cultivares tolerantes ao vírus, embora lavouras afetadas possam diminuir a produção em até 20%, podendo chegar a 80%, dependendo do nível de susce tibilidade da cultivar ao vírus.
A incidência do BYDV depende da presença de pulgões nas lavouras, que são influenciados pelas condições climáticas do ambiente. Anos quentes e secos in fluenciam no aumento da incidência de pulgões. Uma forma de prevenir e pro teger as plantas contra o ataque de pulgões é o tratamento de sementes, que proporciona uma segurança inicial para
o desenvolvimento das plantas (Informações Técnicas para Trigo e Triticale 2019 - Embrapa).
Alerta
As lagartas de maior influência na cultura são as lagartas do trigo (Pseuda letia adultera) e a lagarta-militar (Spodoptera frugiperda), que se alimentam das folhas e atacam as lavouras a partir do mês de setembro.
Para controlar as lagartas recomen da-se a aplicação logo nos primeiros focos de infestação, já que os produtos mais eficientes agem por meio da ingestão (Informações Técnicas para Trigo e Tri ticale 2019 - Embrapa).
Os percevejos-barriga-verde (Di chelops furcatus) podem ser encontrados desde o plantio da cultura do trigo até a fase de espigamento, sendo que a fase de maior suscetibilidade ao ataque é en tre o emborrachamento/espigamento.
As plantas atacadas por percevejos apresentam folhas com perfurações e ne crose. Assim, os prejuízos causados pelos danos do percevejo barriga-verde podem variar desde a perda total da planta até perdas de 30% da produção nas plan tas sobreviventes.
O controle pode ser realizado de for ma preventiva usando inseticidas no período de desenvolvimento da cultura, não deixando a população dessas pragas se elevarem a níveis críticos ou ao ponto de apresentarem danos e até perdas signifi cativas na cultura (Informações Técnicas para Trigo e Triticale 2019 - Embrapa).
Os corós-das-pastagens (Diloboderus abderus) e o coró-do-trigo (Phyllophaga Triticophaga) atacam a cultura somente quando ainda estão em estádio de lar vas. A incidência dos corós nas lavouras varia de ano para ano e ocorre em manchas nas áreas plantadas. Rotação de culturas e a própria palhada do trigo ajudam no controle dessas pragas (In formações Técnicas para Trigo e Triticale 2019 - Embrapa).
Duplo mecanismo de ação
Um inseticida com duplo mecanismo de ação faz o controle de pragas das plantas cultivadas, agindo nos insetos por contato e ingestão. Contendo dois ingre dientes ativos distintos, com funções diversificadas, seja para controle por ingestão ou contato, é recomendado para o manejo da resistência das pragas de di fícil controle.
Produtos com mais de um meca nismo atuam rapidamente nos insetos por apresentarem alternativas diferen tes para diminuir ou eliminar as pragas das lavouras.
A utilização de dois mecanismos de ação em inseticidas traz alguns benefícios, dentre eles, diminuir a necessidade de fa zer mistura de tanques, pois em um único produto já estão presentes dois ingredien tes ativos com mecanismos de ação distintos; diminuir a chance do alvo desenvolver resistência; aumentar o espectro de controle, maior taxa de controle e di minuição do custo de produção.
O controle de insetos pragas na cul tura do trigo, assim como em outras culturas, deve seguir alguns critérios para que seja eficiente, seguro e economica mente viável. O primeiro passo para um bom manejo de insetos é a realização de monitoramentos periódicos com o in tuito de identificar a real necessidade de controle.
Estes monitoramentos devem ser re alizados semanalmente, por meio da retirada de amostras ao acaso, mas que possuam uma boa representatividade do talhão, lembrando que cada inseto-praga possui uma metodologia específica para sua amostragem.
Feito isto e com dados em mãos, de ve-se tomar a decisão de entrar com o controle ou não, sendo que cada um de les apresenta determinado nível de dano econômico. Quando o mesmo estiver acima do limite aceitável, este que foi estabelecido com base em estudos téc nicos científicos, deve-se entrar com o controle.
Preventivo ou curativo?
O controle feito quando ocorre nível de dano econômico é chamado de curativo, mas há também o preventivo, que tem por objetivo cuidar para que não tenha infestação na lavoura.
Um bom exemplo de medida pre ventiva é o tratamento de sementes, pois não deixa que ocorra a infesta ção nos estádios iniciais da lavoura. No caso do trigo, o tratamento de semen tes pode ser usado como estratégia de prevenção ao ataque de pulgões, lagar tas e corós.
Flávio Martins Santana
Sintomas de ataque de pragas em trigo
Custo envolvido
O custo com inseticidas varia em função de vários fatores, dentre eles: suscetibilidade da cultivar, condições ambientais da área (há anos que as condições são mais propícias para o aparecimento dos insetos), histórico do talhão (algumas pragas são polífa gas, ou seja, atacam mais de uma cultura) e sistema de produção.
Todos estes fatores influenciam direta ou indiretamente na população dos insetos e, como já dito, para um manejo correto e economicamente vi ável, as aplicações só são feitas quando há um dano igual ou superior ao econômico.
Segundo levantamento feito pela Embrapa, o gasto com inseticidas é em torno de R$ 17,00/ha para uma produtividade esperada igual a 30 sacas por hectare (estimativa do custo de produção de trigo, safra 2011, para Mato Grosso do Sul - Embrapa).
FERTILIZANTES DE QUARTA GERAÇÃO
O FUTURO DA NUTRIÇÃO
Fotos Shutterstock
Éder Jr de Oliveira Zampar
Engenheiro agrônomo e mestrando em Solos e Nutrição de Plantas – Universidade Estadual de Maringá (UEM)
Bruna Cristina de Andrade Priscila Angelotti Zampar Lucas Pereira da Silva
Engenheiros agrônomos e mestrandos em Proteção de Plantas-UEM
Vítor Rodrigues Cordioli
Graduando em Agronomia – UEM e estagiário em Solos e Nutrição de Plantas
Oaumento da população mundial exige que a produção de alimen tos seja cada vez maior e cabe ao setor agrícola se responsabilizar pela se gurança alimentar do planeta. A alternativa para suprir essa crescente demanda é o aumento da produtividade dentro de uma mesma área, e não apenas visar a expansão de territórios agrícolas.
A utilização de cultivares cada vez mais adaptadas e tecnológicas oriundas do melhoramento genético requerem manejos mais eficientes. Além da adubação mineral realizada no momento da implantação da cultura, pode-se utilizar a adubação foliar como uma ferramen ta visando complementar ou suplementar as necessidades nutricionais das plantas, em que os nutrientes são aplicados dire tamente na parte aérea da planta, incluindo folhas e caules.
Essa prática agrícola pode ser es sencial para que os produtores consigam atingir altos tetos produtivos (Fernández & Brown,2013).
O mercado de adubos foliares avan çou consideravelmente com o surgimento dos fertilizantes de quarta geração, prin cipalmente no que se refere às formulações, as quais utilizam a adição de aminoácidos como agentes complexantes e “agente quelante” de macro e micronu trientes, buscando aumentar a absorção e a eficiência da adubação foliar.
Nutrição de plantas
pela utilização de elementos químicos ne cessários para que a cultura complete seu ciclo. A nutrição da cultura da soja se tor na essencial para o bom desenvolvimento das plantas e consequente produção pelo fornecimento dos macronutrien tes essenciais nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S) e os micronutrien tes zinco (Zn), manganês (Mn), cobre (Cu), ferro (Fe), molibdênio (Mo), co balto (Co) e boro (B) para o desenvolvimento da cultura.
As aplicações foliares de fertilizan tes devem ser utilizadas na complementação nutricional das culturas, como um manejo preventivo de deficiências ou vi sando minimizar algum tipo de estresse que a planta possa sofrer no decorrer do seu desenvolvimento, lembrando que o manejo via foliar nunca deve ter o in tuito de substituir a adubação de base.
Com o avanço das pesquisas na parte de nutrição foliar, notou-se a necessidade de transformar os elementos aplicados em fertilizantes mais eficientes, que não
apresentem reação no tanque de aplicação, que não gerem nenhum tipo de fitotoxidez e que tenham uma melhor absorção na planta quando comparado a formulações com sulfato, cloreto, nitra to, óxidos, hidróxidos, oxisulfato, carbonato e fosfitos.
Nesse contexto, surgiram os quela tos, produtos de alta estabilidade capazes de manter os íons metálicos cercados por uma molécula orgânica (agente que latizador) para que sejam protegidos do ambiente que favoreceria sua precipita ção na forma de hidróxido insolúvel e não disponíveis para a planta (Chen & Barak, 1982, Lucena, 2006).
Disponibilidade
Segundo Wallace (1996), as culturas necessitam receber de cinco a 10 vezes Zn quando se opta por um sal inorgâ nico em lugar de um quelato, ou seja, os quelatos de Zn são muito mais disponí veis e absorvidos por unidade aplicada do que as formas inorgânicas.
Se, por um lado, os quelatos usados em fertilizantes foliares precisam ter uma li gação química suficientemente forte para protegê-los de inesperadas reações quími cas, por outro, devem permitir a liberação de forma facilitada, quando absorvidos pelas plantas.
Desta forma, quelatos incorporam íons de metal numa forma solúvel e fa cilmente disponível às plantas, pois são altamente solúveis em água.
Fertilizantes foliares à base de aminoácidos
A aplicação foliar de produtos contendo aminoácidos é uma técnica que está sendo utilizada nos últimos anos, me lhorando a forma de dispor os nutrientes para as plantas e agregando mais aos fer tilizantes, reformulando-os como uma nova geração de produtos, a quarta ge ração.
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Translocação do boro via xilema e floema como jamais vista antes.
A partir dos aminoácidos são forma- das as proteínas e fitormônios indispensáveis para o desenvolvimento dos vegetais. Assim, aminoácidos promovem uma maior eficiência nas atividades metabóli cas da planta e, consequentemente, resultam em um aumento da produtividade (Braga, 2016).
Os “quelatos”, complexos compos tos por aminoácidos, possuem vantagens, pois os ligantes não são sintéticos como a maioria dos quelantes disponí veis. Os aminoácidos são metabolizados pela planta sem deixar resíduos que pos sam ser lixiviados pela água, como alguns agentes quelantes.
As plantas têm afinidade natural para metabolizar os aminoácidos ligantes. Se gundo Payne (1972), quando um íon estiver ligado quimicamente ao aminoácido, o resultado é um complexo que é transportado através da membrana das células de forma simples, sem gasto energético.
Eles apresentam cargas neutras, não atraindo nem repelindo cargas negativas da superfície das folhas, consequente mente, tendo passagem livre através das barreiras.
O complexo formado entre o ami noácido e o nutriente penetra mais rápido e de forma mais eficiente nas células, pois são reconhecidos pelos mecanismos de absorção como uma fonte de nitrogê nio orgânico (Ashmead, 1986).
Funções
Cada nutriente tem uma função dentro da planta, de formar um novo composto ou participar de alguma rota metabólica ou ser precursor de aminoácidos. Aminoácidos são formados por um gru po amina e (NH 2 ) e um grupo funcional carboxílico (COOH).
Do ponto de vista bioquímico, ami noácido é uma estrutura orgânica que tem como função a produção de prote ínas e é coadjuvante na síntese de hormônios. Porém, ainda existem aminoácidos que desempenham funções como suprimento de energia e fornecimento de parte da estrutura de hormônios e enzimas (Zobiole et al., 2010).
O fornecimento de aminoácidos por meio de aplicações foliares propor ciona uma resposta rápida, pois sua incorporação na planta pode passar de 25% de produto aplicado em 24 horas. A importância dos aminoácidos para as plantas está ligada aos metabolis mos primário e secundário. Os aminoácidos complexados com nutrientes têm sido utilizados muitas vezes no manejo de situações de estresses abióticos, como déficit hídrico, altas temperaturas, salini dade, entre outros, com a finalidade de mitigar os efeitos desses estresses.
A aplicação de aminoácidos em plan tas também é realizada para melhorar o crescimento e o nível nutricional das plantas, tornando-as mais tolerantes a danos por doenças (EL-Ghamry et al., 2009). Em plantas submetidas ao estres se, ocorre acúmulo de prolina e outros aminoácidos.
Os aminoácidos têm papel que va ria na regulação osmótica, regulação de transporte de íons, modulação na abertura de estômatos e desintoxicação de metais pesados. Os aminoácidos também afetam a síntese e atividade de algumas enzimas, na expressão gênica e homeostase-redox (Rai, 2002).
Os aminoácidos melhoraram o cres cimento e a produção de plantas submetidas a condições salinas. Neeraja et al. (2005) verificaram que o uso de ami noácidos proporcionou o aumento no número de flores e no rendimento de
frutos.
Aminoácidos nas plantas
A utilização de aminoácidos em Mesmo as plantas podendo con aplicações foliares pode ser realizada ter mais de 300 aminoácidos diferenem diversas culturas, como cereais, tes, apenas 20 são necessários para a olerícolas e hortifrúti. síntese de proteína, sendo eles: feni
As empresas, de forma geral, fa lalanina, tirosina, triptofano, hidrozem recomendações de aplicações em xiprolina, isoleucina, leucina, lisina, diferentes estádios fenológicos, mui metionina, ornitina, valina, alanina, tas vezes baseando essas aplicações arginina, aspartato, asparagina, cis nas altas demandas nutricionais dos teína, glutamato, glutamina, glicina, nutrientes complexados com os ami prolina e serina. noácidos. Existem aminoácidos que são
De forma resumida, as vanta muito importantes na composição gens da utilização desses fertilizandas proteínas vegetais, como metio tes estão numa melhor e mais rápida nina, lisina, glicina e ácido glutâmiabsorção, melhor qualidade da calda co (Rodrigues, 2008). Os aminoácide aplicação, sem interações quími dos são considerados aditivos pelo cas, com benefícios para o solo, com o MAPA e têm seu uso aprovado em escorrimento desses complexos para fertilizantes, em geral como estabili a rizosfera. zantes da formulação.
MATURAÇÃO DO CANAVIAL
ETAPA MERECE MAIS EFICIÊNCIA NAS OPERAÇÕES
Henrique Gualberto Vilela Penha
Doutor e professor - Instituto Federal do Triângulo Mineiro, campus Uberlândia (MG) henriquegualberto@iftm.edu.br
Camila de Andrade Carvalho Gualberto
Engenheira agrônoma, mestre e sóciapesquisadora da KP Consultoria Ltda. camila_carvalho03@hotmail.com
Gustavo Alves Santos
Doutor e sócio-diretor-pesquisador da KP Consultoria Ltda. asgustavo@yahoo.com.br
Acana-de-açúcar é uma cultura de grande importância socioeconô mica no Brasil, cuja produção de açúcar e etanol está diretamente relacio nada ao acúmulo total de açúcares, de modo que, quanto mais açúcar presente nos colmos industrializáveis, maior será a rentabilidade econômica do processo industrial.
Dessa forma, o planejamento estraté gico da colheita da cana-de-açúcar busca maximizar o retorno econômico da cultu ra, realizando o corte no período de pico de maturação do canavial, no qual os col mos apresentam máxima concentração de sacarose e, consequentemente, maior qualidade da matéria-prima.
No início da fase de maturação da cana-de-açúcar, observa-se a redução do crescimento vegetativo da cultura e o acréscimo no acúmulo de sacarose no órgão de reserva da planta, que é o col mo.
A maturação da cana-de-açúcar ocor re de baixo para cima, sendo que o entrenó que se forma primeiro acumula açúcar antes dos demais, até atingir o estado de maturação, quando estabiliza a con centração de sacarose.
De modo geral, a maturação da ca na-de-açúcar, vista pelo aspecto econômico da cultura, ocorre quando a planta atinge o teor mínimo de sacarose de 13% do peso do colmo, considerado vi ável industrialmente.
Influências
Os fatores climáticos são os mais importantes para a fase de maturação, principalmente a temperatura e a umi dade, sendo que, para atingir alta produção de sacarose, a planta precisa de temperatura e umidade adequadas para permitir o máximo crescimento na fase vegetativa, seguida de restrição hídrica ou térmica para favorecer o acúmulo de sacarose no colmo.
De modo geral, o processo de ma
Miriam Lins
turação da cana-de-açúcar ocorre naturalmente no início de maio na região sudeste do Brasil, devido às condições climáticas existentes, com gradativa queda da tem peratura e a diminuição das precipitações pluviais.
Entretanto, como a safra de cana - -de-açúcar no Brasil ocorre em média de março/abril até meados de novem bro, o índice pluviométrico e as condições de temperatura estão altas no início do ciclo, tornando-se necessária a utilização de maturadores (reguladores de crescimento), de modo a garantir que ocorra a máxima concentração de saca rose nos colmos.
Benefícios da aplicação de maturadores
Na região sudeste, maior produtora de cana-de-açúcar do País, a maturação acontece normalmente de abril a outubro, período que varia de acordo com os ciclos dos materiais (precoce, médio e tardio).
Assim, é economicamente viável an tecipar a colheita da cana-de-açúcar de início de safra, para que ocorra antes de atingir o pico de maturação, bem como possibilitar a extensão da safra até no vembro, sem, contudo, reduzir os teores
de açúcar da cana de final de safra.
Dessa forma, na busca pela amplia ção do período de moagem, aliada à obtenção de matéria-prima de elevada qualidade tecnológica à indústria, torna-se interessante o uso de maturadores na la voura.
Os maturadores retardam ou inibem o desenvolvimento vegetativo, o incre mento no teor de sacarose, a maturação precoce, os aumentos em produtividade de açúcar e o máximo potencial de ex ploração genético das variedades quanto ao acúmulo de sacarose.
Neste contexto, o uso de agentes ma turadores no início da safra “forçam” a planta a acumular sacarose mais cedo, aumentando a janela de colheita. Além disso, os maturadores evitam a indução ao florescimento, pois paralisam o de senvolvimento da cultura e, consequentemente, promovem o aumento do teor de sacarose e a qualidade da matéria - -prima.
Esses produtos também apresentam potencial de uso no final da safra, pois após atingir o pico de maturação (junho e agosto), as plantas retomam o cresci mento vegetativo, visto que há aumento da temperatura e as chuvas retornam.
Dessa forma, uma nova aplicação dos reguladores pode ser realizada para con servar o ponto máximo de saturação e, assim, potencializar o período útil de in dustrialização. Em síntese, o grande benefício do uso de maturadores é aumentar o teor de sacarose na cana-de-açúcar de início de safra e manter os teores mais altos na cana-de-açúcar de final de safra.
Resultados de pesquisas demonstram que a utilização de alguns maturadores também pode promover uma melhor rebrota, com maior vigor e uniformi dade, bem como o aumento no número e no peso de raízes da cana-de-açúcar.
Além disso, estudos mostram que o “palmito” da cana cresce menos quando se aplica o maturador e, como esta par te é descartada na colheita (desponte), desperdiça-se menos material.
Somado a isso, a maturação promo ve um maior acúmulo de sacarose na parte superior do colmo, possibilitan do maior altura de corte e, assim, mais material para as moendas, consideran do-se que os últimos nós terão aumento de rendimento.
Por fim, é importante evidenciar que
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esses produtos diminuem o crescimento da planta, mas não a produtividade, bem como aumentam o açúcar total recupe rável (ATR) da matéria-prima.
Como implantar a técnica no campo
A implementação desta técnica depende, inicialmente, de um adequado planejamento da colheita junto à unida de de processamento. Para se obter uma janela de colheita satisfatória, as opera ções de campo devem estar em consonância com a usinagem.
A melhor época para a aplicação é no final do período de máximo desen volvimento da cultura, ou seja, no final do período chuvoso, pois é a época que a matéria-prima está mais pobre em acúmulo de sacarose.
Entretanto, aliada à época de aplica ção, as doses recomendadas, a época de colheita e a variedade cultivada devem ser consideradas para a escolha do pro duto mais adequado e a aplicação no momento correto.
Existem alguns produtos que podem ser utilizados como maturadores em ca -
na-de-açúcar, os quais estão divididos basicamente em inibidores de crescimen to (ex: Glifosato; Sulfometuron methyl; Fluazifop-p-butil) e em retardantes do crescimento (ex: Etil-trinexapac; Ete fon).
Recomendações
Para obter o melhor manejo de utilização do maturador, deve-se atentar para as seguintes considerações:
Aplicação em início de safra: a aplicação deve ser realizada antes da indução floral para reduzir o chochamento e isoporização (desidratação do tecido e perda de peso final). Para a região su deste, observa-se que, de modo geral, os produtos devem ser aplicados entre me ados de fevereiro até abril, aproximadamente 45 a 60 dias antes da colheita, realizando-se uma única aplicação por ciclo.
Aplicação em meados da safra: essa aplicação costuma ser mais restrita às re giões chuvosas, o que permite explorar o máximo acúmulo de sacarose pela cultu ra.
Aplicação em final de safra: visa a manutenção do teor de sacarose, evi tando o declínio devido ao início das chuvas. Essas aplicações têm sido fei tas, normalmente, entre 45 a 50 dias antes da colheita, a depender do produto utilizado, sendo que alguns podem ser aplicados até 15 dias antes da colheita.
Ressalta-se, ainda, que os matura dores devem ser aplicados por meio de pulverização aérea, com um volume de aproximadamente 30 L ha -1 , e as doses recomendadas variam de produto para produto e, portanto, devem ser respei tadas as recomendações dos fabricantes.
Mais produtividade
De modo geral, a utilização dos maturadores vegetais resulta em maiores ganhos em ATR e, consequentemente, em produtividade de açúcar, uma vez que os benefícios desses produtos estão relacio nados às melhorias na qualidade da matéria-prima da cana-de-açúcar.
Acréscimos ao peso dos colmos tam bém têm sido observados com a utilização de maturadores, estando este fato associado à menor isoporização dos col mos.
O preço da cana-de-açúcar é definido em função da quantidade e da qualida de da cana-de-açúcar colhida. Portanto, quanto maior o peso de cana-de-açúcar e a concentração de açúcar no material, maior o preço da matéria-prima. Des sa forma, aumentar o ATR da cana-de- -açúcar resulta em aumentos na liquidez do produtor.
A utilização de maturadores pode au mentar a produção de açúcar em até 25%, o que traria maiores rendimentos por hectare cultivado para o produtor.
Pesquisas
Resultados de pesquisa têm demonstrado que a aplicação foliar de nutrientes em pré-colheita, antes ou em conjunto com a aplicação do maturador, pode potencializar a produção de sacarose. Dentre os nutrientes comumente apli cados na fase de maturação, destacam- -se o zinco, magnésio e o boro. O Zn é um elemento constituinte de enzimas, o qual atua no metabolismo de carboidratos e proteínas e ajuda na fo tossíntese. O Mg tem participação direta na fotossíntese e na atividade enzimáti ca, enquanto que o B tem papel fundamental na estrutura da parede celular, na formação e no balanço de fitohormônios, bem como participa da síntese e trans porte da sacarose, sendo, por isso, um dos principais nutrientes que ajudam na pro dução de açúcar.
Em experimentos conduzidos no mu nícipio de Tupaciguara (MG) com o objetivo de avaliar a eficiência da aplicação de um maturador, cujo ingrediente ati vo é o trinexapaque-etílico, na qualidade da matéria-prima da cana-de-açúcar de início de safra, acréscimos nos valo res de ATR de até 26 kg por tonelada de colmos foram obtidos em relação ao tratamento que não recebeu o matura dor.
Em um outro estudo conduzido no município de Goianésia (GO), obser vou-se que a aplicação de um maturador, cujo ingrediente ativo é o etefon, resultou em acréscimos de 13% no peso de colmos (kg) devido, principalmente, à menor porcentagem de isoporização obtida nos tratamentos que receberam o maturador.
Resultados positivos também têm sido observados com a aplicação de áci do bórico na pré-maturação da cana- -de açúcar, obtendo-se acréscimos médios de 13,44 kg t -1 nos valores de ATR de sete áreas em que esta fonte foi uti lizada, cujos melhores resultados foram obtidos com a aplicação aos 47 dias an tes da colheita.
Investimento x retorno
O custo-benefício depende diretamente do ganho em ATR obtido com a utilização do maturador. Por exem plo, ao se investir no uso de maturador, o produtor gastará em média R$ 100,00 (produto + aplicação) por hec tare.
Se a aplicação resultar em ganhos de 5,0 kg de ATR por tonelada de col mo, observa-se que, para uma produtividade de 100 t ha -1 , haveria um ganho de 500 kg de ATR.
Dessa forma, um simples cálculo pode ser realizado: se o ATR estiver em torno de R$ 0,65 kg -1 (dados do Consecana-SP para o mês de março, com fechamento dia 17/04/20), o produtor teria um ganho bruto de R$ 325,00 e ganho líqui do de R$ 225,00.
Portanto, a relação de investimento/ retorno dependerá dos ganhos em ATR, que é consequência da eficiência do ma nejo do produto na lavoura, sobretudo no que diz respeito ao planejamento e à épo ca de aplicação.
Miriam Lins