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Entrevista a Miguel Oliveira

ENTREVISTA | MIGUEL OLIVEIRA

‘Sucesso seria sermos campeões’

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MIGUEL OLIVEIRA CUMPRE ESTE ANO A SUA TERCEIRA ÉPOCA NO MUNDIAL DE MOTOGP, AGORA COMO PILOTO DE FÁBRICA DA RED BULL KTM. É UM GRANDE PASSO PARA O ALMADENSE, QUE REPRESENTA NÃO SÓ CONDIÇÕES REFORÇADAS PARA OS SUCESSOS, COMO TAMBÉM RESPONSABILIDADES ACRESCIDAS.

TEXTO: SIMON PATTERSON / FOTOS: MARCA

Depois de dar nas vistas na Tech3 em 2019 e 2020, Miguel Oliveira foi aposta da Red Bull KTM para a época deste ano do Mundial de MotoGP. Dos quatro pilotos a bordo das RC16, é agora o mais experiente com as motos austríacas e o segundo mais experiente na categoria rainha – apenas atrás do seu substituto da Tech3, Danilo Petrucci. A propósito do lançamento da nova temporada, Oliveira deu uma entrevista ao departamento de imprensa da KTM, na qual falou das suas perspetivas para esta nova época, bem como sobre as responsabilidades e ambições que tem ao enfrentar 2021, entre outros assuntos. Uma entrevista que passamos a reproduzir.

MOTORCYCLE SPORTS (MS): Como vencedor da última corrida do ano passado é normal que várias pessoas olhem para ti para a primeira de 2021? Como te sentes agora sobre a pressão?

Miguel Oliveira (MO): ‘É uma boa primeira pergunta! Sinto que tenho de repor a mentalidade para esta época. Apesar de ter estado no topo do pódio na última corrida não sinto qualquer pressão adicional para chegar a um lugar em que queria mesmo estar. Preciso de enfrentar o desafio de conhecer pessoas outra vez, de me sentir confortável com a equipa e a equipa comigo, de entender como tudo está a funcionar e começar a construir resultados. Mas vejo-me com as possibilidades de começar onde acabei 2020’.

‘IREMOS LIDERAR O CAMINHO NO DESENVOLVIMENTO DA MOTO’

MS: Até agora como tem sido diferente trabalhar com a Red Bull KTM e como esperas que varie face ao que conheceste do MotoGP até agora?

MO: ‘Acho que a minha introdução no MotoGP através da Tech3 foi muito boa porque foi um ambiente de muito baixa pressão e todos eram muito amistosos, por isso rapidamente me senti confortável com a equipa francesa. Estou à espera de entrar numa equipa e num mundo em que a realidade é um pouco mais dura. Sinto que sou capaz de trabalhar mais nos detalhes numa equipa de fábrica e de pelo menos ser mais consistente. Julgo que estas são as ferramentas que a equipa de fábrica me vai dar. É claro que tenho uma responsabilidade diferente porque testaremos mais componentes, isto é normal, e iremos liderar o caminho – em conjunto com a equipa – em termos de desenvolvimento da moto’.

MS: Agora és o piloto com mais experiência com a KTM RC16. Como definirias a moto? MO: ‘As versões de 2019 e de 2020 foram muito diferentes por causa da forma como as motos se pilotavam e pelo feedback que davam aos pilotos. Diria que a versão de 2019 ainda foi muito difícil de pilotar, precisavas de forçar a moto a entrar nas curvas várias vezes. Era muito selvagem! Foi um grande choque quando pilotei a moto. Ao longo de 2020 e nos testes vi muito mais potencial

nesta moto: foi muito mais natural e o feedback que deu foi muito agradável. Consegui sentir imediatamente que esta moto estava a caminho de bons resultados’.

MS: A teu ver o que irá representar uma époba de sucesso no fim de 2021?

MO: ‘Acho que o sucesso para nós seria sermos campeões do mundo. Olho para isto como uma realidade. Decerto que é muito ambicioso porque precisamos de se juntar muitas coisas, mas ter as ferramentas e ter as pessoas certas e a determinação no projeto significa que somos muito capazes de alcançar um resultado assim. Seguramente que para ser campeão do mundo precisas de ter vários detalhes juntos a acontecerem ao mesmo tempo e, para isso, dependendo de como a época corre e do que está a acontecer, podemos encontrar sucesso no projeto. Através deste processo, por vezes um quarto lugar será um resultado muito bom e por vezes um segundo lugar pode não cumprir as nossas expectativas, mas há que trabalhar nesse processo e, neste momento, como base de partida, estou a pensar muito em estabelecer uma fasquia de resultados que possamos considerar como de sucesso. Decerto ser melhor do que 2020 é já um bom começo’.

‘NÃO HÁ UM CAMINHO FIXO PARA ENTRAR NO MOTOGP’

MS: Há uma pista ou uma série de curvas ou uma zona de travagem que ainda te deixe espantado numa moto de MotoGP? Porquê?

MO:‘Bem, tenho de dizer que a travagem para a primeira curva da pista de Portimão dá-te borboletas no estômago porque chegas a uma velocidade muito elevada e precisas de travar onde a pista desaparece abaixo de ti. A sensação que dá no estômago é muito especial e é diferente de qualquer coisa que senti em qualquer outra pista. Penso em Mugello talvez, a 330km/h na encosta a travar para a primeira curva tem algo de semelhante. É algo a que te acostumas ao longo das voltas e as borboletas começam a desaparecer, mas são dois sítios especiais’.

MS: Para quem no mundo quiser ser um Miguel Oliveira o que é preciso para alcançar o MotoGP e depois para ter sucesso?

MO:‘Acho que não há um caminho fixo para entrar no MotoGP. Vê-se pilotos a chegarem ao MotoGP com carreiras muito diferentes dependendo do «timing» e do ano e, claro, das oportunidades. Mas diria que, da minha perspetiva, ter tido sucesso nos anos da minha carreira sempre com a KTM dá um sentido de propósito e missão além de mim ou do meu papel como piloto porque me sinto parte do «ADN» e do sucesso da KTM. Dá-te uma sensação especial quando pilotas e representas a marca, tendo feito o caminho com eles durante vários anos’.

MS: A KTM era a estreante, mas agora é uma das principais equipas: o quão importante é como atleta saber que tens equipamento para fazer o trabalho?

MO: ‘‘É muito importante saber que tens as ferramentas para alcançar bons resultados. Só precisas de garantir que estás sempre a 120 por cento. Este é o meu principal foco, mas também estar pronto mentalmente para os desafios pela frente. É um

As celebrações de Oliveira no seu primeiro triunfo. fator muito tranquilizador saber que a moto é capaz de ganhar, mas ao mesmo tempo não podes ter nada como garantido e quando se trata de repeti-lo torna-se mais difícil, por isso não vejo este como um trabalho estático. Acho que todos os anos precisas de trazer algo da tua parte para manter um nível muito bom neste campeonato’.

‘ESTOU MUITO MAIS CONFORTÁVEL COM A MOTO’

MS: Descreve o conjunto KTM RC16 & Miguel Oliveira…

MO: ‘‘Perfeição! Não, diria para o descrever que me integrei muito bem com a moto ao longo dos últimos dois anos. Decerto que na época de 2019 teria gostado de um pouco mais de tempo na moto sem a lesão e não ter falhado as últimas corridas, mas no geral desde 2020 – embora o tenhamos cortado como um ano mais curto – acho que construí uma boa experiência e estou muito mais confortável com a moto. É um trabalho sempre sem fim. Mesmo se estiveres tranquilo desenvolves algo extra e precisas de te habituar também a isso. É um processo interminável e precisas mesmo de estar em forma todos os fins de semana’.

MS: Conta-nos sobre as melhorias – mentais/ físicas – que quiseste fazer pessoalmente du-

rante a pausa e se isso foi difícil de conseguir. MO: ‘‘Fisicamente, mesmo se me senti bem na última época, ter mais corridas consecutivas deu-me mais perspetivas sobre a recuperação. Por isso, durante este inverno tentei perceber que tipo de ferramentas de recuperação posso ter para jogarem a meu favor se tivermos um campeonato encurtado ou muito intenso. Seguramente ser capaz de chegar ao fim da corrida e da última «sessão? do fim de semana onde tens mais horas no teu corpo para render bem. Temos crédito para os 40 minutos que pilotamos 20 vezes por ano. Essa é a perspetiva que mudei mentalmente para ser capaz de ver os lados físico e mental como um’.

MS: Os adeptos do MotoGP verão muito mais a língua do Oliveira em 2021?

MO: ‘Acho que verão muito mais. Tenho total convicção no meu trabalho. Tenho a humildade para aceitar as críticas e a humildade também para trabalhar em mim mesmo quando vejo um ponto fraco. Sou capaz de trabalhar 200 por cento comprometido a este projeto até alcançarmos um nível digno do nosso trabalho’.

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