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Visconde de Mauá construiu a primeira ferrovia do Brasil e iluminou toda a cidade do Rio de Janeiro com lampiões a gás. Gustave Eiffel presenteou Paris com a torre que leva seu nome e atraiu até hoje mais de 200 milhões de pessoas para visitá-la. Michelangelo passou 16 anos pintando a Capela Sistina. Juscelino Kubitschek realizou Brasília em 5 anos. A estatal portuguesa Parque Expo, em 1998, mudou a cara de Lisboa com seu Parque das Nações. Como podemos ver, a vida e a carreira de verdadeiros empreendedores não são pautadas apenas pelo dinheiro e pelo lucro. Ao contrário do que se ouve dizer, o dinheiro não é a prioridade antes de preceitos maiores. Geralmente, os que só pensam nele não o ganham. Porque são incapazes de sonhar. Afinal, tudo que é realizado hoje foi antes construído no coração. E, para as cidades, essa fascinação pelo realizar é essencial para estreitar a abissal distância entre o planejar e o fazer. O conhecimento dos problemas da Região Metropolitana do Recife existe. Falta uma ação de planejamento que o transforme em projetos e obras. A cidade está diante de dois planos fundamentais e da oportunidade de se reinventar. O primeiro é o Plano Diretor, instrumento regulador que deve organizar o crescimento e funcionamento da cidade, estabelecendo políticas públicas e as prioridades da população. O segundo, que recebe destaque na seção Soluções, nesta edição, é o Projeto Recife-Olinda, também conhecido como Frente Atlântica, que prevê intervenções de infra-estrutura, comércio, lazer, serviços e habitação, além da recuperação de uma faixa litorânea de 8 km. E, como projeto bom é aquele que sai do papel, a RARM buscou nesta edição entender melhor a viabilidade desse empreendimento, visando incentivar a sociedade a participar, para tornar essas idéias realidade. Como a nossa publicação é comprometida com as questões urbanas da capital pernambucana, reforçamos a abordagem do tema mostrando as idéias de dois grandes urbanistas para o debate que se avizinha. Nesta edição também preparamos uma matéria especial, que teve caráter de pesquisa qualificada com o empresariado local de variados setores de nossa economia, sobre as expectativas e anseios para o futuro governo estadual. Na coluna Gestão Hoje Especial, a globalização e a inventividade do ser humano são tratadas através da síntese sobre o livro Mundo Plano. E foi com essa visão que a RARM foi à Itália e trouxe para a seção Decoração um resumo exclusivo sobre a 45ª Feira de Milão e as novidades sobre arquitetura e design. Em Do Mundo para Pernambuco mostramos um relato de viagem sobre a incrível Dubai. Na seção De PE para o Mundo trazemos a pratica de rapel em Bonito. E ainda reportagens esclarecedoras sobre a volta dos financiamentos imobiliários, a utilização dos boilers nos condomínios, a relação do futebol com a economia do nosso Estado e a renovação do bairro do Pina. Assim esta revista é feita. Com o objetivo de contribuir de maneira proativa para todas as questões que envolvam um olhar de mundo plano e raiz plena em Pernambuco. E para todos aqueles que acreditam na nossa cidade, metade roubada ao mar e metade à imaginação, pois é, segundo Carlos Pena Filho, do sonho dos homens que uma cidade se inventa. Marcos Roberto Dubeux
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Ano 4 – Edição 13 – Julho de 2006
A revista Recife Antigo, Recife Moderno é uma publicação trimestral da Moura Dubeux Engenharia MOURA DUBEUX ENGENHARIA Av. Domingos Ferreira, 467 11º, 12º, 13º andares, Boa Viagem Recife/PE, Fone: (81) 3325-8000 www.mouradubeux.com.br Diretoria Editorial Aluísio J. Moura Dubeux Gustavo J. Moura Dubeux Marcos J. Moura Dubeux Marcos Roberto Moura Dubeux Editor Geral Marcos Roberto Moura Dubeux mrd@mouradubeux.com.br Editor Executivo Fábio Lucas (DRT/PE 2428) fabiolucas@uol.com.br Coordenação e Atendimento Comercial Bruno Perrelli bruno@mouradubeux.com.br Textos Ana Patrícia Galvão Carlyle Paes Barreto Fábio Lucas Joana Rodrigues Júlia de Almeida Colaboradores desta Edição Francisco Cunha Jório Cruz Lorena Moraes Maria do Amparo Pessoa Ferraz Waldecy Pinto Projeto Gráfico G Design Comunicação Diagramação Modulo Design Fotografia Agência Renata Victor Fotrografics Fúlvio Luna Lila Rodrigues Tânia Collier Revisão Laércio Lutibergue Solange Lutibergue Impressão Intergraf Tiragem 10 mil exemplares Tiragem auditada por Macdata Processamento de Dados * Os artigos divulgados não refletem necessariamente a opinião desta revista. * Os projetos imobiliários apresentados podem sofrer alterações após sua divulgação. A Revista Recife Antigo, Recife Moderno foi feita pensando em você. Participe das próximas edições enviando suas críticas, sugestões e assuntos de seu interesse para o e-mail da nossa redação, o faleconosco@mouradubeux.com.br Contamos com a sua colaboração.
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SUMÁRIO 08 Recife Antigo
Forte das Cinco Pontas Um marco na história do Brasil
12 Recife Moderno Edifícios Luis e Clarice Dubeux
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15 A Volta do financiamento bancário
Crescimento do mercado depende da superação de obstáculos culturais
18 Troque seu usado por um novo
O uso de imóveis antigos na compra de apartamentos novos é uma opção cada vez mais aceita
20 Do mundo para Pernambuco Arquiteta Lorena Moraes relata sua viagem a Dubai
24 Soluções
Metrópole à beira-mar O lançamento do Projeto Urbanístico Recife-Olinda e o desafio da viabilidade econômica para que o sonho saia do papel
36 Artigo: Jório Cruz Por uma reforma metropolitana
38 Especial
Eleições 2006: Empresários pernambucanos revelam em enquete exclusiva suas prioridades para o futuro do Estado
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48 Gastronomia
Confira as sugestões de pratos dos restaurantes La Cuisine, É, Soho e Parraxaxá
51 Entrevista
Maílson da Nóbrega: Ex-ministro da Fazenda fala da importância das reformas para o Nordeste
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54 Estilo de Vida
Marcos Magalhães, presidente da Philips para a América Latina
58 De Pernambuco para o mundo A prática de rapel e as cachoeiras de Bonito
62 Decoração
Salão de móveis de Milão inaugura novo espaço de exposição e atrai a atenção no maior evento internacional do setor
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70 Desiderato
O designer Edélcio Rodrigues destaca a importância da chegada de uma fábrica de alto padrão ao Estado
73 Aquecedores a gás Os boilers são cada vez mais usados nos condomínios
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77 A economia que rola nos estádios Futebol pernambucano também mostra a sua força do lado de fora do gramado
80 Artigo Waldecy Pinto
A importância do Plano Diretor
83 Bairros
A evolução gradativa do Pina
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88 Gestão Hoje Especial
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Francisco Cunha resenha o novo livro de Thomas L. Friedman
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onstruído e ocupado pelos holandeses, no período de 1630 a 1654, sob o nome de Forte Frederick Henrique, o tão conhecido Forte das Cinco Pontas, ainda no século 17, era também popularmente chamado de Fortaleza das Cacimbas, por guardar e proteger militarmente as cacimbas de suprimento d’água potável para os holandeses no Recife. Sua original forma de um pentágono lhe conferia a denominação que nos alcança hoje no século 21, Forte das Cinco Pontas. O Mapa do Recife – Mauritiopolis, Reciffa et circum lacentia castra – datado de 1644, publicado por Maurício de Nassau em suas memórias, mostra a localização do “Castrum Fr Henrici”, e Pereira da Costa, no século 19, registrou em seus Anais Pernambucanos o texto
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retirado de documento holandês de 1637 sobre a fortificação: “Está situado em uma ponta da ilha de Antônio Vaz, donde se descobrem totalmente os navios surtos no porto do Recife, e por isto serve este forte para defesa do mesmo porto. Acha-se edificado sobre um solo alto, que é o único caminho que poderia proporcionar ao inimigo o ensejo de aproximar-se do grande quartel de Antônio Vaz, e protege também os poços, os únicos que podem fornecer água ao Recife e Antônio Vaz, em ocasião de necessidade e cerco. “A princípio, as muralhas deste forte não tinham mais de 13 pés de altura, e, quando S. Exa. e os conselheiros supremos aqui chegaram, estavam tão arruinados que um cavaleiro com todas as suas armas poderia galgá-las; a estacada e as paliçadas se achavam de todo
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podres e derribadas, toda a obra mui aluída, os fossos bastante secos pelo movimento das areias. Mandamos alargar e aprofundar os fossos, engrossar e levantar as muralhas até a altura do velho parapeito e construir por cima delas um novo parapeito; também mandamos cercar o lado exterior do fosso com uma contra-escarpa e construir unia sólida sapata sobre o lado do mar, com o que este forte se acha agora fortalecido e defensável. O que de novo se fez custará à Companhia uns 20.000 florins”. Já o “Inventário das armas e petrechos bélicos que os holandeses deixaram em pernambuco e dos prédios edificados ou reparados até 1654”, elaborado pelos portugueses poucos dias após a partida dos holandeses, iniciado em 20/2/1654, registra no item 291 na lista dos prédios: “291. Fora das portas da
Na forma original de pentágono, a secular construção já serviu como depósito de cacimbas e para a defesa do Porto do Recife.
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Acima, detalhes de um canhão e de uma das entradas da fortificação; à direita, antigo mapa, de 1644, mostra a região onde se localiza o forte.
ponte de Santo Antonio, que vai para os Afogados, em uma campina fronteira ao mar da Barreta fica a força das cinco pontas, que o inimigo holandês fabricou, a qual tem seus alojamentos dentro com três armazéns que servem de recolher pólvora, balas e murrão cobertos de telha”. É, então, o Forte das Cinco Pontas um significativo monumento que marca a fundação e urbanização da cidade do Recife. Após a partida dos holandeses, os portugueses o denominaram Forte de São Tiago porque nele foi construída uma capela dedicada a São Tiago Maior, que funcionou até meados de 1823. A memória popular, no entanto, manteve a referência ao forte como sendo de São Tiago das Cinco Pontas, mesmo após sucessivas ampliações e melhorias feitas pelos portugueses e, a partir da Independência do Brasil, pelos pernambucanos. Suas instalações, nascidas para uma vocação militar, foram ocupadas como quartel do Exército em diferentes períodos, chegando a 1981 como propriedade da União e ocupadas pelo Exército brasileiro até ter uma destinação civil. Mesmo com sua visibilidade comprometida por um viaduto, a sua importância na paisagem urbana da cidade do Recife é um marco de beleza e de história da ocupação holandesa e da restauração pernambucana. Desde 14/1/1982, o forte abriga o Museu da Cidade do Recife, onde estão vários acervos, como a Fototeca, com mais de 300.000 fotografias do Recife, sendo 1.100 imagens em negativos de vidro – onde estão cenas, personagens, paisagens e edificações –; a Mapoteca, com mais de 3.000 desenhos e plantas da cidade; fragmentos resultantes da prospecção arqueológica no forte; e também peças de cimento e madeira retiradas da Igreja dos
Martírios quando da demolição feita para abrir a Avenida Dantas Barreto. Atualmente, está à frente da administração do museu a arquiteta Maria de Betânia Correa de Araújo, que tem a tarefa complementar de organizar o museu com recursos digitais para o século 21, integrando o museu e forte à vida cultural de nossos tempos.
Fontes: Acervo PCR BARLÉUS, Gaspar, História dos feitos praticados durante oito anos no Brasil - 1647 - Recife Pernambuco - 1980. INVENTÁRIO das armas e petrechos bélicos que os holandeses deixaram em Pernambuco e dos prédios edificados ou reparados até o ano de 1654. (Originais manuscritos do século 17, tipografados em 1ª edição no Recife, em 1839, em documentos separados – armas e petrechos bélicos; e prédios.) 2ª edição. Recife: Biblioteca Pública de Pernambuco/Imprensa Oficial, 1940.
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acesso à qualidade de vida da Av. Boa Viagem pode estar mais perto do que se imagina. A Moura Dubeux vai lançar em breve dois empreendimentos com condições inéditas de financiamento e prazo de quitação. Os detalhes serão anunciados na época do lançamento. Portanto, fique atento. Enquanto isso, a RARM adianta que o Clarice e o Luís Dubeux serão dois prédios num terreno único, embora sejam projetos distintos, ambos sob responsabilidade do escritório de Augusto Reynaldo. O Clarice Dubeux está localizado à frente, com uma testada acima do normal para os padrões de Boa Viagem. Isso quer dizer que o apartamento terá uma sala com amplitude maior, bem larga. A área de 225 m², com quatro suítes, contará ainda com versatilidade para distribuição e ajuste de acordo com a necessidade do cliente. O Ed. Clarice Dubeux oferecerá ótima estrutura de lazer para o desfrute de toda a família, com itens nem sempre usuais na Av. Boa Viagem, como piscina. A quantidade de apartamentos é ideal, para que a taxa de condomínio seja atrativa: serão 25 unidades. E está localizado na maior faixa de praia de Boa Viagem, no Pina, com saída rápida
Os dois edifícios, em fotomontagem, como serão vistos da praia: o Clarice Dubeux é o da frente, com 1 apartamento por andar, e o Luís Dubeux, em recuo, terá 2 por andar.
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Nesta montagem, destaque para a ampla faixa de areia que caracteriza o trecho de praia em que se situam os empreendimentos.
para o Centro, com menos engarrafamento. Hoje, trata-se de uma das regiões de maior perspectiva de valorização no Recife (leia matéria sobre o Pina na pág. 83). Ao lado, com acesso para o mar, estará o Ed. Luís Dubeux. Os apartamentos são um pouco menores, de 175 m². O acesso de automóveis será pela Rua Capitão Rebelinho – a “Navegantes” do Pina, onde se concentra um grande número de restaurantes e onde a vida noturna a cada dia se torna mais sofisticada e atraente. O Luís Dubeux também tem quatro quartos, sendo duas suítes, com quase todos os cômodos de frente para o mar, graças ao seu formato em semicircunferência. Com custos diferenciados, o Luís Dubeux é voltado para um público que prefere um produto
menor sem abdicar da qualidade de vida. Os dois empreendimentos serão lançados simultaneamente. Mais uma vez, aguarde novidades: as condições de pagamento são diferentes de tudo que a Moura Dubeux já lançou. Tanto no prazo de pagamento quanto no prazo de entrega: menor tempo para receber e tempo maior para pagar.
LUÍS DUBEUX 2 apartamentos por andar 21 tipos + cobertura duplex Sala para 03 ambientes Varanda Área de serviço completa 04 suítes, sendo 01 master c/closet Cozinha Aproximadamente 170m² 3 vagas Piscina/Sauna/Ducha Salão de festas com bar Terraço descoberto CLARICE DUBEUX 1 apartamento por andar 24 tipos + cobertura duplex Sala para 4 ambientes Varanda Área de serviço completa 04 suítes, sendo 01 master c/closet Cozinha Aproximadamente 200m² 3 vagas Piscina/Sauna/Ducha Salão de festas com bar Terraço descoberto
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s números da Associação Brasileira de Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) comprovam a tendência de crescimento do crédito para habitação. O montante de R$ 464 milhões contratado em janeiro deste ano foi quase 70% maior que o volume no mesmo período do ano passado. A Caixa Econômica Federal
praticamente dobrou o volume de empréstimos: de R$ 381 milhões para R$ 740 milhões. Em relação ao desempenho de 2004, o ano de 2005 mostrou um crescimento de 13% na quantidade de imóveis financiados, que alcançaram 60.769 unidades, e um aumento em torno de 60% do valor total financiado, que saltou de R$ 3 bilhões para R$ 4,7 bilhões.
As estimativas da própria Abecip e da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) para este ano são francamente otimistas: espera-se um crescimento nas operações da ordem de 43%, o que significaria cerca de R$ 6,7 bilhões apenas do sistema privado. Em fevereiro, o Santander Banespa, por exemplo, anunciou que vai destinar para o crédito imobiliário,
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A economista Mônica Mercês, da Fiepe, acredita que o mercado imobiliário devia tomar como modelo o mercado automobilístico, sobretudo na divulgação de seus produtos.
em 2006, um volume de recursos 73% superior ao do ano passado: R$ 1,1 bilhão será ofertado. Da parte do governo, a Caixa anunciou um orçamento superior a R$ 10 bilhões para este ano, dos quais um quinto é originário da caderneta de poupança. Em 2005, a Caixa investiu R$ 9,2 bilhões no crédito imobiliário um recorde em dez anos. Para que parcela expressiva desse dinheiro impulsione o mercado, o consumidor precisará quebrar rapidamente uma resistência cultural, que é resquício do tempo da inflação alta. E o próprio mercado terá que abandonar a fórmula atual de financiamento direto, que penaliza o consumidor e induz à retração econômica sob o manto do prazo esticado que se mostrou um “cobertor curto” para o setor imobiliário. Ainda antes da fundação do BNH, o plano direto de financiamento imobiliário atravessou um momento difícil. Com prazos menores que os de hoje, o plano direto fracassou, no passado, porque não havia correção monetária. “Com preço fixo e prazo longo, os pagamentos se desvalorizavam até chegar, às vezes, a menos do que o aluguel
do apartamento”, recorda Gabriel Neves, presidente do Sinduscon-PE. Em 1967, o regime militar criou o Sistema Financeiro da Habitação, que bancou o crescimento da construção civil com recursos oriundos do Fundo de Garantia e da caderneta de poupança. Esse cenário durou até o início da década de 1990, embora o BNH tenha sido extinto, oficialmente, em 1986. E foi o responsável por uma oferta de 10 mil imóveis no Recife mais que o dobro da oferta atual que levaram quatro anos para ser comercializados. Na época, a Caixa tentou assumir a função do BNH, mas a falta de estrutura suficiente dificultou a tarefa. Além disso, em virtude dos sucessivos planos econômicos, as pessoas tinham grande desconfiança em relação ao plano direto, com medo da correção monetária. Até que o Plano Real estabilizou a moeda e restabeleceu a credibilidade do autofinanciamento. Mas o excesso de oferta, por um lado, e a queda do poder aquisitivo da classe média, por outro, fizeram com que, nos últimos anos, o aumento dos prazos de financiamento gerasse a descapitalização das empresas. O desequilíbrio é evidente quando uma obra pode ser finalizada em 30 meses e o comprador pode quitar o apartamento em até 150 meses.
O modelo está esgotado. Por isso, tornou-se um consenso a necessidade da volta do financiamento bancário ao mercado imobiliário, o que já vem acontecendo gradativamente, sobretudo em São Paulo. “As construtoras não podem mais fazer o papel de bancos”, afirma Solange Lino, presidente do SecoviPE, expressando o sentimento generalizado no setor de que “vender dinheiro” não é o negócio de quem produz imóvel. O retorno dos bancos serve aos compradores e aos empresários. Para o comprador, confere mais segurança e traz mais economia ao desembolso, uma vez que o INCC, índice utilizado nos planos diretos, tem sido mais desfavorável do que a TR, taxa do financiamento bancário. Além de ter no agente financiador um fiscalizador da construção. Sem contar no seguro oferecido para invalidez permanente ou morte, que funciona como garantia para a família. Para o empresário, diminui o tempo da obra e contribui para a geração de mais empregos em outros empreendimentos, graças à capitalização. Questão cultural - O desafio é tirar da cabeça das pessoas o preconceito que subsiste contra o financiamento bancário. Muitos foram atormentados, em passado recente, pela aquisição de um bem cujo pagamento, além de não
Solange Lino e Gabriel Neves em debate no SECOVI-PE, sobre os novos rumos do finaciamento do SFH.
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terminar, aumentava a dívida como um poço sem fundo. A instabilidade monetária refletida nos planos econômicos naufragados atingiu em cheio o mercado imobiliário: o comprador quitava o valor inicial e ainda ficava devendo o dobro do valor do imóvel. A amortização se dava pelo sistema tabela price, com diminuição gradativa dos juros e aumento da amortização. O problema é que a inflação alta podia rapidamente dobrar o valor da dívida, e quase todo mundo conhece histórias de amigos ou parentes que não conseguiram quitar um apartamento. A realidade hoje é bem diferente, com tabelas mostrando uma diminuição das parcelas devidas ao longo do tempo, com prazo contratado de pagamento, sem a necessidade de negociação dos “resíduos” de antigamente. “Temos clientes que compraram apartamentos em 1998 e estão satisfeitos, com as prestações em pleno declínio”, atesta Ronaldo Barbalho, vice-presidente de política habitacional da Ademi-PE. A mudança de cultura não deverá atingir apenas os clientes. Como vários construtores em atividade não trabalharam senão com plano direto, também será preciso vencer o receio dos profissionais do mercado. “Muitos corretores também não viveram a época dos financiamentos bancários, estão acostumados com o autofinanciamento. É preciso mudar o mercado, respeitando o direito de cada construtora de optar pelo caminho que quer seguir”, avalia Solange Lino. “Naturalmente é mais difícil vender com financiamento, requer um maior domínio sobre a matéria. Mas os profissionais que voltarem a atenção para o financiamento habitacional vão largar na frente e tomar a dianteira no processo”, observa Ronaldo Barbalho. Para mudar a mentalidade coletiva, ainda presa ao modelo antigo, em muitas cidades, como Fortaleza, as entidades classistas estão se reunindo e formando convênios com os bancos para divulgar o financiamento, em campanhas publicitárias. “Se conseguirmos explicar ao cliente o assunto, ele vai entender que
Para o consultor Washington Marques, o consumidor só precisa de informação para optar pelo financiamento bancário.
é muito melhor comprar com financiamento”, garante o consultor Washington Marques. A superintendente nacional de habitação da Caixa, Vera Vianna, pensa da mesma forma. “Com a inflação baixa, sem o medo dos saldos devedores impagáveis, das prestações que tendiam ao infinito de tanto que aumentavam, começam a surgir cenários mais palatáveis e previsíveis para as pessoas. Agora talvez o que esteja faltando mesmo seja só propaganda”, reconhece ela, informando que a campanha institucional da Caixa este ano vai tomar a direção do esclarecimento do público para estimular o financiamento. “Temos que desestigmatizar o passado, a fim de reaquecer o mercado”, sustenta. O grande volume de recursos no sistema financeiro à espera de uma aplicação pode ser um fator que auxilie a aplicação no mercado imobiliário. Somente o patrimônio dos fundos de pensão ultrapassa a casa dos R$ 330 bilhões.
Alguns meses atrás, o Itaú lançou um plano com prestação fixa e prazo de 15 anos para apartamentos com valor entre R$ 60 mil e R$ 350 mil por enquanto, apenas válido para a cidade de São Paulo, a maior praça do país, onde quase todo o estoque anual é comercializado. Neste caso, os juros um pouco maiores são compensados pela certeza de que, após 180 meses, a última prestação será exatamente igual à primeira. Para o consultor Washington Marques, a iniciativa é um sinal de confiança na economia: “Se o banco não vai cobrar correção, é porque está achando que a inflação não será alta nesses 15 anos”, diz ele. Marques é da opinião, comum a muitos representantes do setor, de que a amortização poderia se alongar até 25 ou 30 anos, como ocorre em outros países. A medida diminuiria o valor das prestações e conseqüentemente a renda exigida para a compra. “Teríamos um boom de vendas no Brasil, pois a demanda é enorme”, acredita.
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ma prática comum no mercado de automóveis está se disseminando no mercado imobiliário. É o pagamento de parte do imóvel novo com imóveis usados. Muitas pessoas que querem adquirir novos imóveis já possuem um ou mostram interesse em utilizar o apartamento de algum parente na compra. Tudo para fazer um upgrade e se mudar para um lugar melhor. Na Moura Dubeux, essa é uma alternativa que se consolidou nos últimos seis anos. Na maioria dos casos, até 30% do valor do novo bem podem ser negociados em imóveis antigos. O restante é financiado para completar a operação. A avaliação do preço é feita de acordo com o mercado, e o imóvel adquirido como pagamento é colocado na carteira de usados da Moura Dubeux – criada exclusivamente para receber os apartamentos oriundos deste tipo de operação, já que a empresa não compra para revender. O diretor da Arcos Propaganda, Antônio Carlos Vieira Júnior, fez uso da operação e não se arrepende. Ele saiu do apartamento de 200 m² do Ed. Cordova para um maior, de 260 m², no Ed. Tereza Novaes, que tem ainda uma área de lazer mais ampla para os seus filhos adolescentes. “É uma postura inovadora que facilita a aquisição do imóvel novo e ainda oferece ao mercado apartamentos usados de ótima qualidade”, diz Antônio Carlos Vieira Júnior.
Facilitar o acesso do cliente ao produto é o objetivo, e por isso a avaliação é feita de maneira rápida, pelo valor de mercado, o que pode não atender à expectativa do proprietário se ele tiver beneficiado o imóvel a ponto de esse custo não se verificar no negócio. Mas os critérios são simples: localização, número de vagas na garagem, valor da taxa de condomínio, estado de conservação, tempo de construção, etc. O preço acordado não foge ao histórico de comercialização do prédio. “Nós não queremos lucrar com imóveis de terceiros. O que pretendemos é viabilizar a venda. É um diferencial da Moura Dubeux aceitar imóvel como parte do pagamento”, explica Tony Vasconcellos, gerente comercial da empresa. É possível utilizar dois apartamentos usados na mesma compra, desde que atendam aos padrões requeridos e a soma não ultrapasse o limite de 30% do novo. É comum que antigos proprietários da própria Moura Dubeux ofereçam seus imóveis na hora de adquirir um novo. “A avaliação é especial, porque temos interesse na valorização do nosso produto”, afirma Tony.
O publicitário Antônio Júnior trocou seu apartamento no edf. Córdova (acima) por um novo no edf. Teresa Novaes (ao lado).
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destino Dubai surgiu, para mim e meu marido, por causa de outra viagem. Tínhamos o sonho de fazer um safári. Mas eu sou meio medrosa e sempre adiava. Desta vez topei. Estudamos com cuidado, porque é uma viagem difícil, com uma época certa, pois o safári depende da migração dos animais. Fomos então para a Tanzânia e o Quênia, a meio caminho andado de Dubai. Como em todo fim de viagem gosto de ir a uma metrópole, era uma boa oportunidade. De onde a gente estava, eram ainda mais de 6 horas de vôo internacional. Mas, quando começamos a pesquisar, logo nos apaixonamos e resolvemos conhecer. Sou arquiteta, meu marido é engenheiro, e estávamos bastante curiosos.
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É uma cidade litorânea completamente diferente. O boom da riqueza surgiu depois que os Emirados Árabes descobriram petróleo por lá, há pouco mais de 30 anos. O xeique de Dubai, que é um dos sete emirados, preocupado com o futuro depois dos poços de petróleo, resolveu tornar Dubai a Disneylândia dos adultos. São megaprojetos por todo canto. Haverá três grandes ilhas artificiais, em forma de palmeiras entrando no mar, e ali estão sendo construídos empreendimentos gigantescos. Com campos de golfe e tudo. A obra da primeira palmeira está em andamento. Encontramos alguma dificuldade para visitar o lugar, mesmo com meu marido sendo da Odebrecht, que também está lá. Primeiro, porque eu era mulher, e não tem mulher lá dentro.
Tive que entrar como jornalista, mas não podia nem descer do carro. A obra das palmeiras em Dubai vai ser uma das poucas no planeta que poderão ser vistas da Lua, como as Muralhas da China. Além das três palmeiras, também estão projetando o mapa-múndi dentro d´água. Várias ilhotas representarão os continentes. Empresários russos compraram a Austrália e a Nova Zelândia. Cada ilha será um hotel, ou um hotel e um campo de golfe, um shopping center.Tudo isso a princípio inaugura-se em 2009. O problema é que eles não têm nenhuma preocupação ecológica, dão arrepio aos ecologistas. Tanto aterro deverá ter reflexo em algum canto. A transformação do ecossistema só se dará no mar,
mas é muita agressão, pois é muita coisa. Para fazer o Aeroporto de Osaka dentro d’água, os japoneses elaboraram montanhas de estudos. Fizemos essa pergunta a um engenheiro mexicano e ele fugia da resposta. Depois o pessoal da Odebrecht disse à gente que não está existindo essa preocupação. É assustador, sem dúvida. É deslumbrante, mas assustador. O hotel mais alto do mundo já foi inaugurado, é o Burj Al Arab. Ficamos hospedados no mesmo complexo hoteleiro, com acesso de carrinho de golfe ou pela beira da praia àquele hotel. É um ícone da arquitetura externa, mas, na parte de ambientação, é de um mau gosto danado, tudo dourado. Levei um choque de tão feio que achei. É coisa para xeique mesmo, para árabe. O restaurante do hotel
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O Hotel Burj Al Arab, o mais alto do mundo, tem uma quadra de tênis na cobertura, e já é símbolo de Dubai.
tem um aquário, e só se entra de terno e gravata. É caríssimo, mas não compensa. A comida não foi a melhor que a gente comeu lá. Vale somente para conhecer o prédio por dentro. É para ir uma vez, como turista. A cidade de Dubai é dentro de um deserto à beira da praia. Além dos megaprojetos das ilhas, pode-se ver outras coisas interessantes, como o mercado de especiarias e um mercado de ouro onde se compram jóias por um preço razoável. Visitamos um shopping de jóias de sete andares, semelhante ao mercado de Istambul: tudo brilha, e se acha todo tipo de ouro e de jóia. A água em Dubai é dessalinizada. É um artigo de luxo. Em comparação com a gasolina, custa mais barato. Os grandes empreendimentos ainda não mostram arborização de porte, porque não deu tempo. Mas lá é tudo gramado, florido, nem parece deserto. E estamos a dez minutos do deserto. As mansões dos ricos não se localizam na cidade, e sim no deserto, a 15 minutos do Centro. Tínhamos vindo do Egito, onde eu quase enlouqueço de calor. Em Dubai a gente não sentiu tanto esse impacto, apesar de estar mais quente. Fomos em fins de setembro, com 40 graus na sombra. Tem ar-condicionado em todo canto, os táxis são Mercedes, e você sofre menos com o calor. Até porque a praia é linda, a areia branca da cor de talco, o mar azul transparente. Você se sente no paraíso. A infra-estrutura para o turista é um negócio que não existe. É um país árabe sem as restrições de outros países árabes. Há mulheres na praia de biquíni. A população local é muito pequena, talvez 10% ou 15% dos habitantes; a maioria é estrangeira. Em Dubai,
o homem tem direito a quatro mulheres. Quando se casa, o governo dá uma casa. Então ele tem direito a até quatro casas, porém cada uma fica no nome da mulher. Eles também recebem um salário do governo. Por causa disso, o pessoal de lá é conhecido como preguiçoso, porque mesmo sem trabalhar eles têm garantida a renda. A mão-de-obra local não é valorizada pelas empresas. Para dar conta dos serviços, vem mão-de-obra do mundo inteiro, principalmente da Índia, porque os salários são astronômicos para os padrões indianos. Os arquitetos também são de fora. A quantidade de obras em Dubai é tão grande, estão fazendo tanta dragagem, que 80% das dragas do planeta estão locadas em Dubai. E 13% dos guindastes. É um porto livre, de comércio livre de imposto. As lojas e restaurantes são deslumbrantes. E a arquitetura é um negócio de louco. Cada prédio parece que quer brigar com os demais para ser o mais bonito. Nunca vi essa concentração de prédios novos e bonitos num lugar só. Em toda esquina há prédios de porte. Vários são de projetos premiados. É realmente uma Disneylândia para adultos. Para se ter uma idéia, o xeique é alucinado por cavalos. Estão construindo agora uma maternidade, toda climatizada, para os cavalos do xeique. O hotel onde a gente ficou – até pensamos em ficar no mais famoso, mas a diária mais barata é 1.280 dólares – tem uma arquitetura mais horizontal. Os atendentes são muito bem treinados, falam diversas línguas. Todo o hotel é ligado por canais de água salgada. Em blocos de nove apartamentos, para sair, o barquinho chega e vai nos buscar
na porta. Você vai do seu quarto para o restaurante – há mais de 40 restaurantes – e faz tudo de barco. É um negócio de cinema. Dubai é uma fantasia, não é uma cidade normal, não. Parece um parque de diversões mesmo. Fomos com outro casal e conversamos sobre o que vai ser daquilo. Na minha cabeça, vai virar uma cidadefantasma. Hoje todo mundo está empolgado, mas são pessoas estrangeiras. Quantos vão morar de fato lá, naqueles projetos impressionantes? Passamos só cinco dias. Fiquei com pena, não deu para ver tudo. Se ficar duas semanas em Dubai, tem o que conhecer. Quero voltar de todo jeito em 2009, para ver tudo pronto, torcendo para que a minha previsão não se realize.
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“Hoje é o primeiro dia do futuro.” Foi assim que o diretor da Parque Expo, Carlos Barbosa, resumiu o sentimento dominante no hall de entrada do Palácio do Campo das Princesas, no lançamento da maquete do Projeto Urbanístico Recife-Olinda, uma iniciativa que visa redefinir, de uma só vez, a fronteira entre as cidades irmãs, o centro da Região Metropolitana e a chamada frente atlântica que liga a capital à Marim dos Caetés. A proposta é ousada não apenas pelos números envolvidos, mas também pela amplitude dos seus objetivos. A apresentação oficial à população, em 10 de março, depois de 30 meses de estudos técnicos e discussões, foi fruto de um esforço inédito de cooperação e planejamento que envolveu o governo de Pernambuco, as prefeituras de Olinda e Recife,
o governo federal e a empresa estatal portuguesa responsável pela implantação do Parque das Nações, em Lisboa, que serviu de inspiração para o projeto local. Esses objetivos se abrem num leque de intervenções que pretendem, ao mexer de maneira inovadora no espaço urbano, alcançar resultados econômicos, ambientais, sociais e culturais que poderão transformar áreas abandonadas e bolsões de miséria em um novo território de oportunidades. No projeto, favelas e grandes vazios distribuídos em 470 hectares de terra, localizados desde o Coqueiral olindense até Brasília Teimosa, no Recife, deixam de ser antigos problemas e se apresentam como belas soluções. “Temos certeza de que se escreverá uma nova página no
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Na área de intervenção do projeto, as torres em construção pela Moura Dubeux (Pier Duarte Coelho e Pier Maurício de Nassau, aqui em montagem) são exemplos concretos e pioneiros da modernização urbana proposta.
desenvolvimento de Pernambuco”, exultou, na ocasião do lançamento, a arquiteta Amélia Reynaldo, coordenadora do projeto pelo governo do Estado. De fato, se vier a se concretizar a entrega, para a região, de quase 2 milhões de metros quadrados “completamente infra-estruturados, com água, esgoto, drenagem, iluminação pública e capacidade de recuperação e tratamento de resíduos sólidos”, como disse Reynaldo, será redigida uma página de luxo na nossa história urbanística: em 1,3 milhão de metros quadrados de área construída, com comércio e serviços, serão erguidas 8 mil unidades habitacionais. O ministro das Cidades, Márcio Fortes, também presente à solenidade, juntamente com o ainda governador Jarbas Vasconcelos, o prefeito do Recife, João Paulo, e a prefeita de Olinda, Luciana Santos, destacou que o programa é de urbanização com habitação. “De nada adianta revitalizar e continuarmos com espaços vazios. Queremos que haja vida nesses espaços”, discursou o ministro. A recuperação da área deve servir tanto ao turismo quanto à
população, segundo Márcio Fortes. A preocupação é pertinente. De acordo com Fernando Hinrichsen, diretor da Bento Pedroso – braço da Odebrecht em Portugal – e que mora há 19 anos em Lisboa, o sucesso do Parque das Nações, construído na foz do Rio Tejo em uma área com características semelhantes à do projeto pernambucano, devese em grande parte à oferta de unidades habitacionais cercadas por uma rede de infra-estruturas de primeiro nível, com transporte, lazer, comércio e turismo em volta de apartamentos residenciais de classe A. “Um novo bairro foi criado graças à infra-estrutura cara que atraiu a iniciativa privada”, avalia ele. Embora a experiência da Parque Expo, responsável pela implantação do Parque das Nações, seja um dos trunfos do projeto, a diferença começa na escala. O daqui é maior e, enquanto a estrutura básica para a Expo 98 européia ficou pronta em 4 anos, o projeto da nossa frente atlântica prevê um período de 15 anos de desenvolvimento, com obras e intervenções de impacto sobre o território no limite entre as duas cidades. Estão planejadas ações como a modernização no
Porto do Recife, inclusive com o aproveitamento de galpões portuários, e no antigo Terminal Açucareiro, que passará a exercer a função de terminal de passageiros. O istmo do Recife a Olinda receberá ligação de pedestres, facilitando e estimulando uma maior integração da população. O atual secretário estadual de Planejamento, Cláudio Marinho, considera que o projeto “estrutura a espinha dorsal do centro metropolitano, requalifica o casco histórico da RMR, aponta um novo modelo urbanístico de intervenção em um Estado que tem uma tradição urbanística” e ainda fortalece setores emergentes da economia, como a tecnologia de ponta do Porto Digital e as atividades turísticas e de lazer associadas à junção da orla com locais de tradição histórica, como a Ilha do Recife e o Cais José Estelita. “Estamos fazendo a coisa certa: estruturando a centralidade metropolitana com a nova economia que se avizinha em Pernambuco.” Metas sociais e ambientais - Mas o canteiro de obras não dispensará os canteiros de flores – mais de 300 mil metros quadrados estão reservados para novos espaços
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verdes. Além disso, estão entre as metas ambientais a valorização do estuário formado pelos rios Capibaribe e Beberibe, o uso de materiais e energias alternativas, a atração de aves e animais, o incentivo à atividade de pesca e, na linha de ação socioambiental, a melhoria da infra-estrutura de saneamento na zona de intervenção e no seu entorno. Graças à união de saberes e competências entre Pernambuco e Portugal – a recuperação de áreas degradadas, no currículo da empresa estatal portuguesa, e o conhecimento acumulado pelo Recife no tratamento de manguezais – , Cláudio Marinho afasta os temores daqueles que cogitam se preocupar com agressões ao meio ambiente. “Do ponto de vista ambiental, todo o cuidado foi tomado. É um projeto consistente e não tem, em nenhuma de suas intervenções, nada que possa vir a agredir qualquer legislação e, mais do que isso, qualquer sentimento de conservação e preservação ambiental que possa surgir das pessoas mais qualificadas”, garante ele. “É o melhor tecido no Recife com esses componentes ambientais, históricos e paisagísticos. Estamos falando de mais de 3 km de praia desconhecidos, nas proximidades do Centro de Convenções, entre a colina histórica de Olinda e o Bairro do Recife”, diz o ex-presidente da Empetur, Kleber Dantas. A
convergência é realçada também pelo diretor da Parque Expo, Carlos Barbosa: “A ligação histórica da população ao Centro é um elemento facilitador da implantação do projeto”, avalia. Barbosa explica ainda a compreensão filosófica que fundamenta a proposta. “O que nos move é a convicção de que não podemos queimar mais território. A Terra é só uma, com um perfil limitado. À medida que a população mundial cresce, o território tem que ser melhor utilizado. Nesta perspectiva, as áreas ociosas são territórios de oportunidade”, define. O ex-presidente da Empetur remete, do mesmo modo, a questão local ao contexto global. “Existe um fenômeno mundial de resgate, de volta ao Centro das cidades, como aconteceu em Lisboa, Londres e Amsterdã. É dentro dessa onda mundial que estamos inseridos.” Para Dantas, o investimento social garante ao projeto um círculo virtuoso: “Ao se tratar da periferia, valoriza-se a área e se geram mais empregos”. As comunidades do Maruim, Milagres, Azeitona, Santo Amaro, Pilar, Coque, Coelhos e Brasília Teimosa serão remodeladas e integradas ao enobrecimento do território. “Precisamos de uma área urbana que apresente altos padrões de qualidade de vida, para que possamos atrair os novos capitais que buscam investimentos atualmente no mundo”, justifica Kleber Dantas. A idéia é que os recursos financeiros resultantes dos novos
equipamentos sejam aplicados na requalificação urbana das favelas. “É neste conjunto de tecido social degradado e frágil que vamos ter boas ofertas de empregos, durante e após a implementação do projeto”, prevê Amélia Reynaldo. Do sonho à realidade - Os números grandiosos estabelecem um desafio: transferir o sonho da metrópole à beira-mar para a metrópole real. De partida, impõese a adoção de um modelo de gestão que permita a acolhida de sugestões formuladas por outras parcelas da sociedade, sem comprometer a celeridade do processo de viabilidade daquilo que já está planejado, debatido e orçado. Amélia Reynaldo acredita que o modelo de gestão urbanístico composto por quatro entes públicos para discutir o destino do seu desenvolvimento é original e inovador. Mas a articulação estatal não é suficiente. “Pernambuco também aposta no papel da sociedade. Esta é uma concepção básica, que será agora aberta à discussão coletiva. Vamos iniciar o processo para uma apropriação máxima das propostas que aqui estão”, fez questão de frisar em seu discurso. A mensagem foi semelhante à do ministro das Cidades, Márcio Fortes, para quem, apesar de representar a integração Maquete eletrônica de parte do projeto a ser implantado, tanto no porto quanto na Vila Naval. Abaixo, atual vista do Porto do Recife.
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Teleférico às margens do rio Tejo, em Portugal, concebido para a Expo 98.
dos esforços das equipes dos três níveis de governo durante vários meses, “agora é que as coisas vão começar”. A participação da estatal portuguesa Parque Expo, no entanto, é um sinal de como tudo que foi desenhado pode sair do papel. Com a experiência e a credibilidade mundial alcançada pela implantação do Parque das Nações, em Lisboa, a Parque Expo vem agregar ao Projeto RecifeOlinda a importância da parceria entre os agentes públicos e privados, e entre as diversas esferas de governo, das quais dependerá, em última instância, o amparo institucional de obras que deverão se prolongar por mais de uma década. “A Parque Expo sempre foi um instrumento operacional: transformamos projetos em realidade. É esta a nossa missão”, afirma Carlos Barbosa. Para lidar com as diferenças no enquadramento legal e na cultura dos dois países, Barbosa confia na participação ativa do poder público brasileiro. Mas não será isso, justamente, um problema? Afinal, um projeto desse porte precisa contar não apenas com a participação ativa, como também afinada, dos governantes. Sem esquecer os outros atores sociais, sobretudo os investidores privados. A conciliação é possível, na visão de Carlos Barbosa. “O que precisamos é nunca perder de vista o sentido público desta operação. Porque temos que preservar o objetivo de criar a coesão social. Os atores públicos são fundamentais. Por outro lado, quem gera riqueza são os agentes econômicos.” No fim das contas, o modelo de gestão deve ser traçado “com a visão pública, mas com a eficácia privada”. A cidade desejada – Além do resultado das análises e discussões técnicas sobre aspectos variados, como os impactos econômicos e ambientais, a valorização do patrimônio histórico e a indução de um modelo de desenvolvimento sustentável, o Projeto Urbanístico Recife-Olinda pode ser visto
como reflexo do sentimento do pernambucano de apego às suas origens e à sua terra. “Estamos num território onde, a cada passo que damos, topamos com algo da memória do Recife, tanto no chão que pisamos quanto na perspectiva que olhamos”, recorda Carlos Barbosa. O resgate da memória pode ser tido como tendência do mercado imobiliário, que se volta para bairros como o Pina (veja matéria nesta edição) e para a área próxima ao Cais de Santa Rita – onde foram lançadas, com sucesso instantâneo, duas torres residenciais pela Moura Dubeux. Para Amélia Reynaldo, o empreendimento antecipou, de certa forma, as conclusões que nortearam o projeto. “A população aceita morar no centro do Recife Antigo. Foi um sinal importante para a proposta em que estamos trabalhando”, admitiu. O evento de lançamento da maquete foi emblemático para a impressão de que o projeto vinha sendo bastante aguardado pela sociedade. O comparecimento de curiosos e interessados de tantos matizes deixou satisfeito o secretário Cláudio Marinho. “O que me surpreendeu foi a qualificação e a diversidade dos pernambucanos que foram ao Palácio do Governo para ver o desenho da cidade desejada”, comentou. Marinho
destacou dois grupos específicos: o dos arquitetos urbanistas, dos escritórios e das universidades, e o dos empreendedores imobiliários. “A pesquisa foi feita para conhecer o desejo da população”, confirma o ex-presidente da Empetur, Kleber Dantas. Segundo ele, a economia de Pernambuco está pronta para crescer a partir de um novo centro. “Para gerar um território de oportunidades, fomos conhecer o que a população do Recife e Olinda pensava a respeito”, atestou também o diretor da Parque Expo, Carlos Barbosa. Ao oferecer aos cidadãos mais espaços de moradia e lazer, maior circulação, com a derrubada de muros, como os da RFFSA, e a construção de equipamentos, como uma ponte na Vila Naval, o projeto quer provar que não deve ser tratado como um mero negócio imobiliário. “Os espaços públicos outrora privatizados se abrem para a população. As pessoas poderão chegar às frentes d’água como nunca aconteceu na Região Metropolitana”, defende Amélia Reynaldo. A oportunidade do território que se expande em novas fronteiras é apenas um dos apelos de um projeto que traz como maior qualidade a melhoria de vida de milhares de cidadãos, no
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entorno de áreas abandonadas ou subutilizadas. O resgate de elementos históricos da paisagem urbana com o vislumbre de uma nova cidade dentro da cidade promete valorizar a convivência das pessoas entre si e com o meio ambiente e o espaço público – na acertada visão de que o passado se integra ao presente e o presente não pode deixar, assim, de se incorporar ao futuro.
Oceanário do Parque Expo, em Lisboa.
A valorização urbana prevista no projeto Recife-Olinda também está apoiada na implantação de empreendimentos nobres, como se deu em Lisboa.
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RARM - O que é o Projeto Urbanístico Recife-Olinda? Valério Veloso - Estamos propondo, antes de mais nada, uma nova visão sobre a construção da cidade. Era preciso pensar algo diferente, para gerar uma nova centralidade para o desenvolvimento urbano imobiliário. E foi o que fizemos. Este é um plano de longo prazo. Estamos falando de um projeto de 15 anos, que requer investimentos da ordem de R$ 480 milhões, sendo R$ 277 milhões somente em infra-estrutura, para requalificar uma área de 2,2 milhões de m² que gerará uma área bruta de construção de 1,2 milhão de m². Não há nenhum projeto no Brasil, hoje, com essas dimensões. É bastante desafiador. RARM - Como foi concebida a viabilização do projeto? Valério Veloso - Fizemos um estudo mercadológico amplo, nos segmentos de serviços, turismo,
comércio e habitação. E uma série de estudos urbanísticos, do ponto de vista de mobilidade, meio ambiente, relação urbanística econômica, ou seja, o metro quadrado construído versus atividade econômica gerada. Visitamos modelos de projetos similares e decidimos então, três anos atrás, nos associar à Parque Expo, porque entendemos que o projeto do Parque das Nações era o que mais se aproximava à nossa característica. Chamamos a Parque Expo e começamos a fazer os estudos com parceiros locais. Criamos um modelo urbano em que há integração social, ambiental e econômica no mesmo espaço físico. Propusemos novas infraestruturas, uma nova filosofia de integração social, dentro desse mesmo espaço urbano, uma nova forma de gestão com a iniciativa privada e uma integração do negócio imobiliário com a
requalificação de comunidades carentes, como Pilar, Coque, Santo Amaro e Ilha do Maruim. RARM - A participação portuguesa foi importante nesta fase? Valério Veloso – A Parque Expo foi fundamental para nos ajudar a desenvolver um modelo econômico e societário inovador, que trabalha com a parceria público-privada (PPP). A idéia é ter uma instituição sem fins lucrativos, que comprará os terrenos passíveis de aquisição. Por exemplo, já há um pré-acordo com a Marinha do Brasil em relação à Vila Naval e à Vila dos Oficiais. Uma negociação com o Ministério dos Transportes para a avaliação da desmobilização do Porto do Recife. No Cais José Estelita, com o Ministério das Cidades, especificamente com a RFFSA, estamos tentando uma opção de compra daquela área. Para que, de posse desses ativos, possamos alavancar o projeto.
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RARM - Como os governos integram a proposta? Valério Veloso - O governo federal vai participar com terrenos, pois majoritariamente os terrenos pertencem à União. O governo do Estado com o projeto, o plano diretor, a visão filosófica, a construção, os regulamentos. E os municípios de Olinda e Recife com a legislação pertinente, específica do projeto. RARM - O setor público também estará na gestão? Valério Veloso - A instituição sem fins lucrativos assemelha-se a uma organização social (OS), a exemplo do Porto Digital, onde teremos um conselho de administração com todos esses entes. Mas a OS será responsável pela gestão de todo o território da área de intervenção, com três mandatos básicos. Primeiro, realizar as infra-estruturas, durante oito anos. Vamos receber os terrenos e em cima deles captar recursos no mercado financeiro, no mercado imobiliário e em outras instituições, até parceiros internacionais, para fazer os investimentos em infra-estrutura. É isso que vai viabilizar o projeto. RARM - Por quê? Valério Veloso - Porque o que a gente quer entregar, em parceria com o mercado imobiliário, para as construtoras, é um solo infraestruturado, com valor adicionado: não só com a infra-estrutura básica, mas com uma superestrutura. Por exemplo, novas acessibilidades, mais segurança, serviços adicionais de telecomunicações de última geração, praças de água, áreas de habitação popular, para que exista convergência entre os serviços e demandas e a população mais carente. RARM - Quais os outros mandatos básicos? Valério Veloso - Além de gerar mais impostos para as cidades, a organização social e as prefeituras vão administrar esse território, durante um período, para que possamos ter controle e domínio
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sobre o desenvolvimento da área, nos prazos adequados e em conformidade com os planos diretores. Isso significa também gerir o marketing do Projeto Recife-Olinda, sempre em busca de adicionar o máximo valor possível ao terreno infra-estruturado. O terceiro mandato seria a gestão do licenciamento. É uma inovação que propomos às prefeituras. RARM - Em que consiste? Valério Veloso - Hoje talvez o maior problema do negócio imobiliário seja a burocracia de licenciamento. Na organização, vamos contratar engenheiros ambientais, civis e as pessoas responsáveis pela análise de projetos, que serão remuneradas pelos seus clientes, de forma que possamos criar um mecanismo em que o investidor dá entrada com o projeto neste balcão, dentro da organização. Um leque capacitado de profissionais analisa o projeto à luz do plano diretor, em seguida dá um parecer, e daí esse parecer vai para um comitê gestor dentro da organização. O comitê envolve Estado, as prefeituras e o governo federal. Sendo aprovado pelo comitê, o projeto volta para o investidor. Com isso, a eficiência que poderemos atribuir ao processo é de que em no máximo 40 dias o investidor tenha o seu projeto aprovado.
internacionais, que já têm as cartas de intenções assinadas, para adquirirmos esses terrenos, e assim pagar tanto os terrenos quanto os investidores a partir do valor adicionado que vai ser gerado pela lógica do projeto. Por exemplo, no Cais José Estelita, o projeto prevê 436 mil m² de área construída, sobre um solo de 150 mil m². O potencial de construção alcançado com a nova infra-estrutura nos permite tomar crédito no mercado internacional para viabilizar o projeto. E, no terceiro ano, o próprio projeto, segundo a modelagem da estratégia econômicofinanceira, começa a liberar caixa para amortizar os investimentos feitos na aquisição de terrenos e infra-estruturas – que são mais importantes, para que se chegue ao valor adicionado que estamos propondo. RARM – Em suma, de onde virão os recursos? Valério Veloso - Dos terrenos colocados no mercado para financiar o projeto e da venda dos próprios lotes infra-estruturados. São essas as duas fontes primárias de recursos financeiros.
Panorâmica da região do Parque Expo em Lisboa.
RARM - Os agentes públicos estão de acordo com esta idéia? Valério Veloso - A proposta de gestão de novos processos foi bem aceita pelas prefeituras e pelo governo federal. Isso adiciona muito valor ao mercado imobiliário, principalmente às construtoras, pois se tenta mitigar um dos maiores riscos: o atraso no licenciamento, que provoca a demora dos projetos. RARM – A negociação dos terrenos está em curso? Valério Veloso - Os terrenos pertencem à União. Alguns terrenos a União repassará à organização, como capital. Portanto, ela terá um percentual no negócio. Outros nós captaremos recursos no mercado financeiro, inclusive a investidores
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A ilustração mostra como será a Vila Naval, depois da conclusão do projeto, inclusive com a nova ponte que será construída na área.
RARM - No caso do Parque das Nações, em Lisboa, houve dois momentos. A própria feira, em 1998, depois de quatro anos de construção dos equipamentos; e depois, a adição de novos equipamentos residenciais, comerciais e de lazer, todos dentro de um padrão nobre: as empresas que estão lá são multinacionais e os prédios residenciais são de classe A. Em que o projeto local é diferente? Valério Veloso - Temos aqui uma lógica de integração. Um percentual da área vai para habitação popular porque dentro da nossa estratégia ela adiciona valor ao negócio. O que queremos dizer com isso? A escala desse projeto é muito grande. Não existe mercado, nem regional, se considerar o Nordeste, para produtos de alto valor agregado nesta dimensão. É preciso criar alternativas, novas formas de olhar o território. A solução encontrada é um mix: vamos ter 60% da área para habitação, a maior parte destinada ao público A e B. E, para a classe C, serão destinados 15% de unidades habitacionais, que atendam a políticas públicas de habitação. Os espaços públicos que vão ser gerados requerem uma maior convivência dentro da cidade, para que a sociedade como um todo se aproprie do solo urbano. RARM - No caso pernambucano, como será atraído o investidor para o negócio imobiliário, uma vez que se pretende erguer imóveis também para habitação popular? Valério Veloso - Isso não significa que estamos retirando valor para o investidor. Significa que estamos trazendo valor para o conjunto da
obra. O investidor olhará para os produtos que terão um curto, médio e longo prazos, qual a lógica de valorização desses produtos, a fim de mobilizar capital ou não para o investimento. O percentual para habitação popular contribui para essa lógica. No momento em que requalificamos as comunidades carentes, que são bolsões de pobreza que envergonham a sociedade pernambucana, dando melhor qualidade de vida a essa população, e no longo prazo minimizando os problemas da violência, portanto, adicionando valor e capacitando mão-deobra para prestar serviços à nova população da área, a habitação popular adiciona valor ao projeto. RARM - Quando a requalificação do entorno começará a ser perceptível? Valério Veloso - De acordo com o projeto, no terceiro ano, ou seja, em 2009, vamos começar a requalificação da comunidade do Pilar. O projeto tem dez anos para fazer a requalificação dessas áreas. É o nosso compromisso com o poder público e com as comunidades. Há estudos sendo realizados pelas prefeituras para apontar outras áreas prioritárias. RARM - Como está a constituição dessa organização? Valério Veloso - A organização está em via de fundação, já com seu estatuto social desenhado, tendo como sócios os governos federal, estadual e municipais. Vamos convidar algumas pessoas para fazer parte do conselho de administração, órgãos de representação de classe do mercado imobiliário e os geradores de oferta, que são as construtoras.
RARM - Quais os próximos passos do projeto ainda este ano? Valério Veloso - O próximo passo é executar uma agenda de debates com a sociedade, indo a órgãos de classe como Ademi, Sinduscon, às câmaras de vereadores dos dois municípios, conversar com os diversos segmentos sociais que serão afetados pelo projeto. Em seguida, vamos começar a refinar os estudos do Cais José Estelita, que é a nossa Área 1, para que no segundo semestre já comecemos a colocar produtos na mão de investidores. Outra coisa fundamental é estruturar um modelo de consórcio urbano metropolitano, para facilitar a implementação do projeto. O que será feito concomitantemente à fundação da organização, nas próximas semanas. RARM – Na sua opinião, qual a importância do projeto para o setor privado? Valério Veloso - Estamos oferecendo ao mercado imobiliário um novo modelo de negócio. Sabemos que o mercado enfrenta um momento complicado, com muito estoque. É preciso inovar, para que a gente saia desse círculo vicioso. Inovar também com novas alternativas de financiamento para quem constrói e para quem adquire. Sem novas fórmulas de financiamento o projeto não sai do papel. E este projeto traz uma nova visão de desenvolvimento urbano e oferece uma nova centralidade para a RMR, evitando os erros que aconteceram em Boa Viagem e em outros bairros. Além disso, é um projeto de escala que dá a outros empreendedores a oportunidade de também entrar no negócio.
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á muito que a cidade metropolitana vem demonstrando que o aparato jurídico da sua autoridade gestora está superado. O paradoxal vazio de poder nas metrópoles evoca a reforma do frágil contexto institucional que lhe dá suporte. O rápido processo de urbanização desencadeou o fenômeno de cidades que ultrapassam os limites territoriais dos seus próprios municípios. Para sobreviverem, elas questionam o atual contexto institucional de poder, alçado ao âmbito estadual, e a informalidade do sistema gestor vigente. O que reforça a necessidade de uma revisão das normas jurídicas atuais está na característica da metrópole, como uma realidade urbana una e indivisível que se estende por vários municípios. Esse é um atributo fundamental em termos gerenciais, pois estimula o sentido coletivo e solidário de governabilidade. A cidade metropolitana, tal como é conhecida, é intermunicipal e só pode ser gerida como um ente comum a todos os municípios por onde ela se estende. Veja-se, por oportuno, que as demais cidades têm autoridade e
poderes legitimados; as metrópoles, não. Na cidade, a competência do município/gestor é inatacável; na metrópole é controvertida a competência do Estado/gestor. As cidades são geridas pelo todo; as metrópoles, pelas suas partes, pois a cidade metropolitana é sempre retalhada, territorialmente, para a realização de planejamento e gestão municipais. Se na cidade o poder constitucional pertence à prefeitura, na metrópole ele é arbitrado pelo Estado, pois se consagrou a errônea interpretação de que o metropolitano é um conceito supramunicipal e, portanto, de âmbito estadual. Para perceber a frágil condição de governabilidade desse conceito, basta observar que os serviços urbanos não são competência estadual, como pretendem as estruturas gerenciais que proliferaram com as leis complementares estaduais. São artifícios que tornam os Estados administradores das metrópoles, afrontando os poderes constitucionais dos municípios, estes sim únicos competentes em termos de serviços como uso do solo, transportes, saneamento e limpeza urbana. As autoridades
municipais envolvidas é que não têm assumido o dever constitucional de agir em conjunto, nos casos desses serviços urbanos comuns, que afetam a população metropolitana como um todo. Esta é a verdadeira essência jurídica do conceito metropolitano, ainda incompreendido no Brasil. O problema é de cunho eminentemente político, pois Estados e municípios parecem acomodados num modelo frágil e cheio de mútuas conveniências, que vigora há mais de 30 anos. Sem a mesma estatura jurídica dos planos municipais, por exemplo, os planos diretores metropolitanos nunca são sustentados por uma legislação que legitime suas diretrizes. Nas cidades, ao contrário, a legislação é clara quanto aos planos, às leis dos planos e à autoridade para implementá-los. O Estatuto da Cidade exige que os municípios com mais de 20 mil habitantes, ou situados em regiões metropolitanas, tenham plano diretor. Porém, ainda que reconhecendo as metrópoles, o estatuto nada estabelece quanto a planos diretores metropolitanos e à obrigação de eles precederem ao planejamento municipal.
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Foto de satélite do Bairro do Recife. A capital pernambucana sofre os efeitos de um planejamento dissociado da realidade metropolitana.
O maior desafio urbano da atualidade se expressa no binômio planejamento e gestão. O planejamento como instrumento para a boa gestão e esta como instituto efetivo de poder. Com uma autoridade controvertida no âmbito estadual, o planejamento e a gestão das metrópoles se distanciam da realidade, criando uma supremacia responsável por ressentimentos de perda de poder e de autonomia constitucional entre os municípios. O debate sobre planos diretores municipais mostra uma cristalina situação, em que os municípios são obrigados a fragmentar a cidade metropolitana que lhes é comum para exercerem suas prerrogativas autônomas de planejamento, ainda que sabendo o quanto tais planos diretores podem ser equivocados e anacrônicos. Em vez de se acomodarem com a ausência dos municípios em relação às metrópoles, os Estados deveriam conduzir o processo de planejamento e gestão, fazendo com que os municípios se responsabilizem pela cidademetrópole e identifiquem de que modo cada um tem a ver com as necessidades da população. Deveriam induzir os municípios
a compreenderem que suas responsabilidades nas regiões metropolitanas transcendem os seus próprios munícipes. E mostrar uma forma diferente de entender que, nas metrópoles, a autonomia municipal não significa isolar-se, mas solidarizar-se, em nome das necessidades da população como um todo. Prefeitos e vereadores não podem permanecer responsáveis por apenas uma parte dessa população. No plano jurídico-institucional, é imprescindível a remoção de disposições envelhecidas, que ainda brecam o compromisso hegemônico e formal dos municípios em relação às metrópoles. É essencial que se persigam bases para um direito metropolitano, assegurando legitimidade e poder ao planejamento e à gestão do desenvolvimento dessas cidades. E também garanta a prevalência do interesse comum metropolitano sobre os interesses locais, sem que isso subtraia dos municípios suas peculiares competências e direitos constitucionais.
A expectativa de que uma visão moderna venha consagrar a tão esperada influência do Ministério das Cidades está sendo ofuscada, infelizmente, pela demora para o governo abrir debate nacional envolvendo juristas, autoridades federais, estaduais e municipais, parlamentares, universidades, agentes do terceiro setor, técnicos e órgãos de representação profissional, empresários e comunidades, para construírem os alicerces de um legítimo direito metropolitano. Os centros nacionais mais pujantes e populosos do Brasil contam, ardentemente, com essa linha de perspectiva.
Jório Cruz é arquiteto.
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uando entrar no Palácio do Campo das Princesas no dia 1º de janeiro do ano que vem, o próximo governador de Pernambuco terá um desafio pela frente: aliar a necessidade de crescimento econômico e recuperação da base produtiva do Estado ao ordenamento da estrutura social degradada, que, entre outras conseqüências, tem na insegurança e na violência os seus efeitos mais visíveis. Mas o novo governo não parte do zero. Mesmo entre os candidatos da oposição, existe o consenso de que é preciso dar continuidade às obras de infraestrutura realizadas nos últimos oito anos, bem como trabalhar duro para viabilizar os megaprojetos anunciados, como a Refinaria da PDVSA-Petrobras, o Estaleiro da Camargo Corrêa e a fábrica da M&G, todos investimentos de porte no Complexo de Suape. A RARM fez uma enquete com empresários de destaque em variados setores da economia estadual para conhecer mais as expectativas do pernambucano sobre o próximo governo, o futuro governador e a atuação dos nossos parlamentares. O que se pode perceber é uma preocupação quase unânime com os grandes investimentos em Suape, tanto no que diz respeito à sua viabilização quanto aos
desdobramentos no entorno, principalmente nas cidades de Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho. A interiorização do desenvolvimento e o turismo como vocação mal explorada são outros itens de destaque, ao lado de áreas como educação, saúde e – claro – segurança. Além da indicação programática de ações prioritárias, os entrevistados deram sugestões concretas que servem, neste instante, para que os candidatos reflitam sobre possibilidades inovadoras de intervenção e apoio ao desenvolvimento socioeconômico de Pernambuco. A tradição de boa representatividade política no cenário nacional é levantada pela maioria dos empresários escutados. Porém, nota-se uma discrepância entre a força simbólica dos nossos políticos e a diminuição de nossa importância regional. Talvez por isso, o clima de euforia com o futuro é dosado pela ponderação de que o horizonte que se abre ainda está distante e sua travessia vai requerer disposição, inteligência e trabalho.
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ambiental, a CPRH, para que ele possa atender às demandas dos empreendimentos em implantação. Essa é uma questão que impacta qualquer investidor.” Prioridades 2007-2010: - Recuperação da capacidade de investimento do Estado, com diminuição da dependência de recursos federais - Complementação da infra-estrutura - Continuidade dos projetos iniciados pelo governo anterior Perfil do futuro governador: Pragmático como gestor, que apresente propostas de desenvolvimento e de bem-estar social, com ousadia e inovação. Sugestão: “Depois da consolidação de Suape, será preciso dar atenção aos empreendimentos menores que vão surgir em decorrência dos grandes empreendimentos estruturadores. Algumas coisas terão que ser feitas, como o aparelhamento do órgão
Prioridades 2007-2010: - Conclusão dos projetos estruturadores, como a refinaria, o estaleiro, o pólo petroquímico e o pólo têxtil - Apoio à realização da transposição do São Francisco - Apoio à viabilização da Transnordestina
Os parlamentares de PE: “A expectativa é que tenhamos uma bancada atuante, para também trazer investimentos e recursos para cá. E com pessoas proeminentes no cenário nacional que venham a ocupar espaços no governo federal. O governador pode ser oposição ao governo federal, mas um Estado não pode se dar a esse luxo.” Continuidade administrativa: “Gostaria de ver um distanciamento das práticas do passado, em que a oposição sabota a situação, interrompe obras iniciadas, rompe compromissos assumidos anteriormente e muda a agenda completamente. Em São Paulo, por exemplo, um túnel foi iniciado por Jânio Quadros e enterrado por Luiza Erundina. O próximo governo deve continuar do ponto em que Jarbas deixou. E os nossos parlamentares,
inclusive os da oposição ao governo estadual que for eleito, devem ter uma atuação pragmática pelo desenvolvimento econômico do Estado.”
Os parlamentares de PE: “A bancada pernambucana, tanto a estadual como a federal, foi muito ausente na crise política por que o país está passando. Não houve contestação. Faltou uma posição mais firme. Pernambuco é um Estado que sempre marcou presença em posições firmes, e desta vez foi muito omisso.”
Perfil do futuro governador: Deve ter conhecimento sobre as obras a serem realizadas e dar continuidade ao que foi implantado. Sugestão: “Nada vai mudar enquanto não for feita uma reforma política no Brasil. É uma das reformas de base que o país precisa fazer, como a do Judiciário e a tributária. O sistema político que nós temos impede qualquer reforma que se queira fazer.”
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Prioridades 2007-2010: - Capacitação profissional direcionada aos novos investimentos - Articulação dos municípios da Região Metropolitana, visando ao planejamento urbano em torno de Suape - Segurança pública Perfil do futuro governador: Equilíbrio para enfrentar o desafio social, espírito empreendedor e visão de futuro. Sugestão: “Esperamos, nos próximos dez anos, pelo menos dobrar o nosso PIB. Mas precisamos capacitar a massa trabalhadora. As universidades têm que estar aparelhadas, fazer parcerias com os empresários e com as associações. O poder público deve liderar, porque É algo estratégico para o aquecimento da economia pernambucana.”
conscientize e vote para escolher quem quer legislar para o bem da sociedade. Com tudo que aconteceu, não é possível que não haja pelo menos uma pequena purificação.” Risco de favelização: “O fortalecimento da economia vai melhorar a parte social. Mas temos que ter cuidado, por exemplo, para não favelizar Ipojuca. Vamos juntar os prefeitos da RMR para evitar que isso ocorra e trazer benefícios para todos.” Mudança de ânimo: “A auto-estima de um povo está ligada à condição de bem-estar, de bem viver. Nos últimos dois anos, o astral do pernambucano parece que está melhor. A conquista de novos investimentos parece ter dado uma injeção de ânimo que pode transformar a auto-estima do pernambucano.”
Os parlamentares de PE: “De maneira geral, avaliação positiva. Espero que o eleitor se
do gesso agrícola, o setor da construção civil com o pólo de informática, a refinaria consumindo álcool anidro. É importante que os arranjos produtivos não fiquem isolados e haja uma interconexão.”
Prioridades 2007-2010: - Continuidade administrativa para possibilitar avanços - Consolidação de Suape, com implantação dos investimentos previstos - Recuperação e ampliação das estradas - Programa hídrico para o agronegócio Perfil do futuro governador: Capacidade para conciliar interesses antagônicos, saber negociar e ser dotado de tolerância e pulso firme.
Os parlamentares de PE: “A Assembléia Legislativa amadureceu, foi diligente e atuante. O momento nacional é difícil, com muitos desencontros.” Investimentos e eleições: “Pernambuco vive um bom momento. Houve uma elevação de nível na infra-estrutura do Estado. Não podemos perder a chance histórica que se apresenta. Roupasuja deve ser lavada em casa. Devemos ter cuidado nas eleições que vêm, para não denegrirmos a imagem do Estado perante os investidores externos.”
Sugestão: “Os arranjos produtivos do Estado devem se comunicar em termos de negócios. O gesso com a cana-ade-açúcar, através do fornecimento
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Prioridades 2007-2010: - Segurança - Saneamento básico - Atração de investimentos do exterior - Infra-estrutura e expansão territorial de Suape - Enxugamento da máquina administrativa
Sugestão: “Somos quarto lugar na atração de investimentos estrangeiros. O Rio Grande do Norte, o Ceará e a Bahia estão bem na nossa frente. Se não despertar o interesse do investidor, ele não vem aqui comprar apartamento e investir na área imobiliária. A Empetur tem uma atuação tímida, com muita política, muita burocracia e pouco negócio, distante do empresariado. O novo governo deve buscar mudar esse quadro.” Os parlamentares de PE: “Têm sido muito pouco combativos. Você não vê oposição, tanto no nível estadual quanto no nacional.”
Perfil do futuro governador: Empreendedor, que prime pela honestidade e transparência. “O governante não é o dono do Estado: é o gerente do Estado. Foi eleito pela população para representá-la.”
Prioridades 2007-2010: - Continuidade às ações do atual governo - Interiorização do desenvolvimento - Turismo, com ênfase na sinalização das estradas, na qualificação da mão-de-obra e na modernização do Centro de Convenções - Plano diretor metropolitano - Melhoria da produtividade da canade-açúcar e produção de álcool Perfil do futuro governador: Ser antenado com as novas tecnologias, conhecer o Estado como um todo, politicamente hábil e agregador, para desenvolver parcerias com as prefeituras. “O governador não precisa ter conhecimento técnico, mas uma visão das novas técnicas disponíveis em todas as áreas. A tecnologia diminui os custos.”
Sugestão: “Suape não pode ser a única prioridade. É preciso olhar noutras direções. O pólo de gesso no interior, o dos tecidos em Caruaru. Assim como é preciso o turismo sair de Porto de Galinhas, resgatar a história do interior, de Olinda, e recuperar as rotas perdidas, como os Montes Guararapes. Para isso, o governo deve buscar parceria com os municípios.” Os parlamentares de PE: “Historicamente temos políticos atuantes, com cargos importantes no cenário nacional. Mas não há união em torno de objetivos comuns. A bancada é boa, mas falta uniformidade para Pernambuco trilhar um caminho só.” Geografia não basta: “Pernambuco tem que voltar a dar benefícios fiscais, como outros Estados do Nordeste estão dando. A geografia somente não basta mais como diferencial. Hoje a tecnologia
permite ter centros de distribuição avançados. A nossa posição logística é muito boa, mas é preciso proteger a indústria em termos de condição fiscal.”
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Prioridades 2007-2010: - Continuidade dos projetos estruturadores no litoral - Interiorização do desenvolvimento - Programa de extensão rural na Zona da Mata - Plano turístico integrado no Nordeste em torno da BR-101 - Programa “Água para Todos”
o álcool combustível. E na região há inclusive infra-estrutura, com estradas e água. Apesar da infraestrutura, a região está pobre e decadente. Falta só um pouco de orientação.”
que poderiam, cada um deles, me fornecer 50 ou 100 litros de leite. Bastariam cinco vacas, com uma boa extensão rural, para que eles fizessem de 70 a 100 litros de leite por dia.”
Os parlamentares de PE: “Temos uma tradição de políticos sérios. Veja que nesse mar de lama existem poucos pernambucanos.”
Investir no social: “Só acredito no social partindo da produção. Nada paternalista ou assistencialista tem vida longa. O governo do Estado tem que ser sempre o provedor da idéia e ir buscar os recursos para viabilizá-la.”
Perfil do futuro governador: Empreendedor, trabalhador e conhecedor da realidade em todo o Estado.
Continuidade: “O moderno, o bom, o novo, não é necessariamente mudar, abandonar tudo o que estava atrás. É importante terminar um programa bem começado. Suape arrastou-se por quantos governos? Tem muita coisa para fazer, mas primeiro não se pode deixar para trás as coisas válidas e as grandes obras que precisamos levar adiante.”
Sugestão: “Temos uma classe média rural completamente marginalizada, abandonada, desmoralizada, quebrada e desassistida, que é a do fornecedor de cana. E o álcool aparecendo como solução energética no mundo. Poderíamos ter programas de financiamento para os produtores de cana formarem associações para destilar
Zona da Mata: “O problema no Brasil não é fundiário, é agrícola. Terra tem demais, e a coisa mais barata do mundo é dividir terra. Mas se torna caro pela falta de assistência. Cuidou-se na Mata apenas da parte fundiária. Eu vou buscar leite a 200 km de distância, no Agreste e no Sertão. Embora tenha, em volta de mim, milhares de parceiros
os segmentos em torno de novos investimentos. “O governador deve ser um grande catalisador, o comandante para que as forças realmente se somem para levar o Estado ao desenvolvimento que a gente espera que ele venha a ter.” Prioridades 2007-2010: - Consolidação dos investimentos estruturadores - Capacitação da mão-de-obra - Infra-estrutura, com ênfase na água e no saneamento - Segurança - Educação - Interiorização, dentro de um projeto de política industrial que reforce os pólos existentes - Transnordestina
Sugestão: “É preciso dar condições para que a nossa indústria participe dos investimentos estruturadores, de forma que se adensem as cadeias produtivas com indústrias locais. Por exemplo, o governo estadual pode dar um foco maior às pequenas e médias construtoras, partilhando as maiores obras em tantos lotes quanto possível, para que as empresas pernambucanas apresentem condições de participar.” Os parlamentares de PE: “O Estado sempre foi caracterizado por uma representação parlamentar boa. Acho que vamos ter uma bancada federal melhor, mais apurada.”
Perfil do futuro governador: Empreendedor e aglutinador, que se aproxime da sociedade e mobilize
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Prioridades 2007-2010: - Implementação dos projetos em Suape, como a refinaria, o estaleiro e o Pólo de Poliéster - Plano estratégico de desenvolvimento, que defina formas de atração de investimentos públicos e privados - Turismo - Educação Perfil do futuro governador: “Como obrigação, deve ser sério, ético, comprometido com a verdade e com a questão social. Como vocação, ter espírito empreendedor, para criar um clima de confiança e atração de investimentos. Ter conhecimento dos problemas do Estado, experiência de gestão e um bom passado.”
Sugestão: “Vamos ter que romper com a história, ultrapassar a discussão de questões anacrônicas no mundo atual. Pernambuco passa por um momento extremamente alvissareiro na área econômica. Muita coisa está sendo realizada mas muita coisa ainda é expectativa. Para alcançar o objetivo do desenvolvimento, o governador tem que trabalhar junto, em integração total com a área empresarial. Deveria estabelecer uma linha direta, com reuniões permanentes com diversos segmentos. O crescimento econômico só acontece com o investimento privado.” Os parlamentares de PE: “Se fizermos uma relação entre cargos ocupados e o colégio eleitoral do Estado, provavelmente Pernambuco terá a maior nota nesta questão no país. Por outro lado, nem sempre reverteu esta projeção em atração de investimentos. Talvez a rivalidade acirrada das forças políticas tenha contribuído para a dispersão dos esforços e descontinuidade de projetos.”
Pacto suprapartidário: “Hoje todo pernambucano medianamente informado sabe o caminho e as aspirações do Estado. É preciso, portanto, que não só a classe política, mas também a sociedade como um todo faça o esforço conjunto para atingir esse propósito. É preciso fazer agora um grande pacto pró-PE suprapartidário e estabelecer um novo tempo de coesão e objetivo comum de efetiva promoção do desenvolvimento socioeconômico.”
e Petrolina, para fortalecer aquele eixo.”
Prioridades 2007-2010: - Saúde - Segurança - Educação - Turismo como fonte de geração de empregos, com destaque para a duplicação da BR-101 - Incentivo a novas indústrias
Os parlamentares de PE: Avaliação geral positiva. “Na hora em que os senadores e deputados lutarem para que a gente consiga mais industria, não só aqui no Grande Recife, mas também no Sertão e no Agreste, nós vamos sair ganhando bastante.”
Perfil do futuro governador: “Uma pessoa de tocar obras, que não seja um burocrata. Um homem simples, que goste de trabalhar. Em Pernambuco há muito o que fazer.” Sugestão: “O governo deve procurar uma indústria, quem sabe de calçados, para se instalar em Arcoverde ou em Serra Talhada, entre Caruaru
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e melhores resultados para Pernambuco.”
Prioridades 2007-2010: - Educação básica - Saúde, incluindo novos projetos para o Pólo Médico - Segurança - Política de incentivos para a indústria e o turismo
Os parlamentares de PE: “A minha expectativa é que o foco de suas preocupações seja defender o Estado e as necessidades dos pernambucanos, de forma a nos colocar em uma posição de destaque em desenvolvimento e crescimento na conjuntura do país.”
Perfil do futuro governador: “Deve ter penetração em todas as áreas, ser dotado de grande capacidade de diálogo, ser habilidoso, ter fácil acesso entre os empresários, os sindicatos, e principalmente estar atento às necessidades da sociedade como um todo, que está tão carente de atendimento às necessidades básicas.” Sugestão: “O governo deve coordenar os parlamentares para trazer mais
Prioridades 2007-2010: - Turismo, com ênfase na climatização do Centro de Convenções, na complementação da infra-estrutura de Porto de Galinhas e em investimento no litoral norte e no interior - Viabilização dos projetos estruturadores em Suape - Segurança - Educação
Sugestão: “O Recife deixou de ser um produto que pode ser vendido como sol e mar. O novo rumo de marketing tem que ser a cultura. O que a gente tem para se diferenciar das demais capitais do Nordeste é explorar a cultura. O governo do Estado está marcando passo nesta área. Temos que criar alguma coisa que transforme a cultura em produto. Se não tirarmos o comando do turismo no Estado da mão da iniciativa
pública, transferindo para um órgão formado pelo cluster de turismo, que tenha a participação do governo, mas não a liderança do governo, não vamos resolver o problema.” Os parlamentares de PE: “Os líderes pernambucanos têm sempre uma representatividade muito boa em nível nacional. Precisam se unir mais. Acabar com essa história de paternidade. O importante é trazer o negócio para Pernambuco.”
Perfil do futuro governador: Empreendedor. “O novo governador deve saber concretizar projetos como a refinaria e o estaleiro, que precisam sair do papel, para que Pernambuco dê um salto que não deu nos últimos 50 anos.”
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acaba pagando menos. E, se a população paga menos, o Estado se desenvolve, sobra mais dinheiro para comprar outras coisas.”
Prioridades 2007-2010: - Viabilização dos investimentos anunciados em Suape - Atração de novas indústrias - Interiorização do desenvolvimento - Educação, sobretudo o aumento do tempo de permanência na escola -Turismo
Os parlamentares de PE: “A bancada vem melhorando ao longo do tempo, mas ainda pode melhorar muito.”
Perfil do futuro governador: Capacidade administrativa para gerir a máquina e capacidade política de liderança.
Momento de recuperação: “Estamos vivendo um momento de felicidade por causa dos investimentos anunciados, mas passamos mais de 20 anos só perdendo as nossas indústrias. Os nossos governos estaduais não foram hábeis para trabalhar no sentido de incentivos fiscais adequados e perdemos muitos investimentos, principalmente para a Bahia e para o Ceará.”
Sugestão: “A redução de alíquotas de impostos de competência do Estado, como o ICMS, aumenta o volume de arrecadação e diminui o custo dos produtos no mercado. Quem ganha é a população, que
Crítica aos políticos: “A classe política no Brasil não olha muito para frente. Perdemos duas décadas porque os nossos políticos enxergam menos o social e mais os próprios interesses. O país arrecada bastante. Infelizmente esse dinheiro
é mal gerido pela classe política, em todas as esferas.” O valor do voto: “Muita gente não tem a capacidade de votar corretamente. Nas próximas eleições, em face de tudo que vem ocorrendo, dos escândalos do mensalão, acredito que as pessoas votarão de forma mais consciente. Lamentavelmente, não temos outra maneira de melhorar, se não for através da classe política. E apenas homens honestos, sérios e éticos podem fazer isso em benefício do país.”
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Poder saborear o melhor do tempero regional sem ter que pensar na balança depois é o grande diferencial do cabrito sertanejo, um dos pratos mais apreciados do restaurante Parraxaxá. A carne de cabrito é menos calórica do que a de boi e tão protéica quanto. Além disso, todos os produtos usados são naturais, o que garante o autêntico sabor das comidas feitas no interior. A carne guisada leva os temperos básicos como tomate, alho e cheiro-verde, mas o chef Olivan Silva destaca: a receita não é muito picante e dispensa alguns ingredientes bastante comuns, como o cominho, por exemplo. “Damos o nosso toque especial”, diz satisfeito.
O prato lounge é uma prova de confiança no bom gosto de Márcio Fushimi, chefe de cozinha do restaurante Soho. São 20 peças, cuidadosamente escolhidas entre as opções do cardápio, que variam a cada pedido. As mais freqüentes são o soho maki e a acelga maki especial. O primeiro é feito com fatias de salmão recheadas com cream cheese e camarão, enquanto o segundo traz arroz enrolado em acelga com cobertura de salmão grelhado. Se o visual deixa qualquer um com água na boca, imagine o gosto.
Serviço: Soho Av. Conselheiro Aguiar, 1275 Tel: (81) 3325 2666 É Rua do Atlântico, 147 Tel: (81) 3325 9323 La Cuisine Avenida Boa Viagem, 560 Tel: (81) 3327 4073 Parraxaxá (Boa Viagem) Rua Baltazar Pereira, 32 Tel: (81) 3463 7874
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O camarão à Borgonha do restaurante La Cuisine é uma viagem pelos sabores da culinária francesa adaptada ao bom gosto brasileiro. O crustáceo é servido com delicioso creme de ervas, purê de macaxeira ao queijo maturado do sertão, além do tradicional arroz com brócolis e amêndoas. O prato, que faz parte do novo cardápio de frutos do mar recém-implantado pelo restaurante, é indispensável para quem aprecia o tempero daquela que é considerada a melhor cozinha do mundo.
Requinte, inovação e sabor marcante são boas descrições para o camarão com pétalas do restaurante É. O prato é uma invenção do chefe de cozinha e proprietário do negócio, Douglas van der Ley, e traz na receita camarões cozidos no vapor, pétalas de rosas comestíveis, queijo-do-reino, mel agridoce e cebolinha verde. É um prato afrodisíaco que se inspira na mistura salgado com doce para despertar uma sensação ímpar no paladar de quem experimenta.
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Para Maílson da Nóbrega, a modernização da infra-estrutura é essencial para o Nordeste.
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uncionário de carreira do Banco do Brasil, Maílson da Nóbrega se destacou em sua trajetória no setor público em 1988, quando foi escolhido pelo presidente José Sarney para ser ministro da Fazenda. Atualmente consultor de empresas, o ex-ministro viaja pelo Brasil em disputadas palestras sobre economia nacional e internacional. Ele esteve no Recife, a convite do Sinduscon, e proferiu a palestra de abertura do seminário “A economia brasileira e a construção civil”, em que voltou a defender a urgência da implantação de uma agenda mínima de reformas para o país. Em entrevista exclusiva à RARM, o economista falou sobre a necessidade de investimento em infra-estrutura para o crescimento do Nordeste. Para Maílson da Nóbrega, o desenvolvimento regional será uma realidade quando o governo federal e os governos estaduais tiverem recursos para investir e eleger prioridades – e isso somente ocorrerá quando forem executadas as reformas de que o país precisa. RARM - Quais as reformas mais importantes para o Nordeste? Maílson da Nóbrega - Todas as reformas aumentariam o potencial de crescimento do país como um todo. A previdenciária concorreria para a eliminação do perigoso e
gigantesco déficit da Previdência, que é uma fonte de incertezas no campo fiscal e uma das razões pelas quais a taxa de juros é tão alta no Brasil. Outro grupo de reformas abre espaço para uma queda da carga tributária, que só será possível se for diminuída a rigidez da despesa pública. A reforma tributária não pode sair do nada. Outra seria a autonomia formal do Banco Central, que pode contribuir para que o país receba investimentos que, por seu turno, podem contribuir para a queda da taxa de juros. Tudo isso também acabaria beneficiando o Nordeste. RARM – Como? Maílson da Nóbrega - Políticas regionais de desenvolvimento têm que ser feitas via orçamento, com políticas públicas que criem condições para diminuir as diferenças que hoje separam, em termos de atração de investimento, muitas áreas do Nordeste do restante do país. Por isso podem ser tomadas como importantes aquelas reformas que ampliem a capacidade de o governo federal fazer políticas públicas. Políticas regionais de desenvolvimento são outro nome para políticas públicas. RARM – Por que as reformas são essenciais para o desenvolvimento brasileiro?
Maílson da Nóbrega - Ao contrário de outros países, como o Chile, o Brasil perdeu a capacidade de fazer políticas públicas porque, desgraçadamente, a Constituição de 1988, ao tornar rígido o processo orçamentário, ao criar benefícios, vantagens e privilégios, deixou a gestão de políticas públicas no Brasil um exercício cada vez mais difícil. Quando isso for possível, e quando se puder diminuir a vinculação de recursos a despesas e tirar a vinculação do salário mínimo ao piso previdenciário, por exemplo, o governo federal vai restaurar a sua capacidade de investir e poderá voltar a fazer políticas públicas diferenciadas em favor de regiões menos desenvolvidas. Se puder investir mais, o governo federal elegerá prioridades que favoreçam o Nordeste. RARM – Na sua opinião, por onde começam essas prioridades? Maílson da Nóbrega – Por um conjunto de ações voltadas para uma grande virada no Brasil, em termos de infra-estrutura, que reduzam o custo da logística no Brasil, aumentem a eficiência da economia e melhorem os diversos tipos de transporte. Particularmente no Nordeste, a infra-estrutura, principalmente de portos, aeroportos e estradas,
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Não para construir a estrada, mas para, durante um certo período, subsidiar o investimento. É um tipo de subvenção altamente desejável e justificável, em que o governo busca tornar idênticos o benefício social e o benefício privado. Seria ingênuo imaginar que uma privatização da BR-101 atraísse o empresário, porque não há potencial de geração de renda que cubra os custos do investimento. A saída para essas áreas não é o investimento público. RARM – Qual o papel do Estado nestes casos?
O ex-ministro da Fazenda participou de evento promovido pelo Sinduscon.
tem uma importância crucial para impulsionar um fator fundamental para a geração de emprego e renda: o turismo. Conheço pouco do assunto, mas apenas por intuição. Se você olhar exemplos do mundo, como o sul da França na virada do século 19, a Espanha e Portugal depois da Segunda Guerra Mundial, perceberá que esses países viram, de uma hora para outra, suas regiões deprimidas se tornarem prósperas, florescentes, por causa do desenvolvimento turístico. RARM – Como o salto aconteceu? Maílson da Nóbrega - Isso foi possível quando se pôde associar um aumento de renda – que está acontecendo no Brasil – à melhoria de infra-estrutura de hotéis e acomodação, desde o turismo de alto luxo até o turismo popular, da casa, da pousada, e à redução dos custos de transporte. Se tivéssemos uma estrada ligando o Sul ao Nordeste com a mesma qualidade de uma Rodovia Bandeirantes, de São Paulo, que são três pistas de rolamento de cada lado, operada pelo setor privado, com pedágio, de altíssima segurança, imagine o que isso geraria de fluxo de turismo.
que não terão o mesmo retorno financeiro nas regiões que mais necessitam dos investimentos. O que fazer para sair do círculo vicioso? Maílson da Nóbrega - A parceria público-privada (PPP) nasceu na Inglaterra exatamente em situações como a que você está descrevendo, em que se tinha investimentos com alto retorno social e baixo retorno privado. É o caso de fazer uma Rodovia dos Bandeirantes vindo até Fortaleza, Teresina ou São Luís e não ter tráfego ou não ter as pessoas com capacidade de pagar o pedágio. É aí que entra o setor público.
Maílson da Nóbrega - O investimento público direto pode ser feito. Mas isso tem limitações, porque depois vai haver dificuldade de manter. A BR-101 duplicada entre o Paraná e Santa Catarina começa a dar sinais de deterioração. O governo não tem condição de manter a estrada de maneira a torná-la permanentemente confortável para o cidadão. O setor público deve contribuir para gerar atratividade para o setor privado investir em infra-estrutura, principalmente em regiões como o Nordeste.
Centenas de empresários do setor da construção civil prestigiaram o seminário sobre economia nacional.
RARM – Mas é sempre mais fácil atrair os investimentos estruturais para o Sul e Sudeste, pois os empresários sabem
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O prédio, erguido nos moldes da requintada arquitetura da época, na Avenida Rio Branco, Em frente ao Marco Zero
onhecido mundialmente por sua trajetória profissional de sucesso, o engenheiro eletrônico Marcos Magalhães é destaque entre os executivos pernambucanos por sua conceituada história empresarial. Nascido em Sertânia e criado em Arcoverde (cidades do Sertão pernambucano), Magalhães se mudou para o Recife aos 15 anos de idade, onde completou o ensino médio no Ginásio Pernambucano e se formou em engenharia elétrica pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Competência, caráter e sorte são palavras determinantes na estrada percorrida pelo executivo. Após a graduação, Magalhães conseguiu uma bolsa de estudos para fazer mestrado em telecomunicações na Holanda. Quando estava concluindo o curso foi procurado pela Philips, que estava investindo no RecifePE, para fazer parte da equipe de telefonia. Depois de três anos, ele voltou para Pernambuco com a missão de apoiar a implantação da fábrica de telecomunicações que a empresa estava instalando na região. Ocupou diversas funções até chegar à gerência da fábrica da Philips Eletrônica do Nordeste, ponto decisivo para o impulsionamento da carreira.
Em 1979 assumiu um cargo já incluindo atividades comerciais no Brasil. Em 1988 foi para São Paulo tomar posse da diretoria da Philips Componentes. Em 1996 assumiu o cargo de presidência da Philips do Brasil. Até que em 1997 ele alcançou a presidência para o Brasil e América do Sul. Por fim, em janeiro de 2000, ocupou a presidência das operações da Philips na América Latina. Atual presidente e chefe executivo da Philips na América Latina, Marcos Magalhães passa, em abril de 2007, seu cargo para o executivo brasileiro Paulo Zottolo. Na ocasião, Magalhães se aposenta após 36 anos na companhia. Proprietário de um apartamento do Edifício Jardins, da Moura Dubeux, Marcos Magalhães aponta a combinação de conteúdo e determinação como sua receita de sucesso. Com uma forte e solidária personalidade, ele dedica uma boa parte do seu tempo a ações voltadas para a educação e responsabilidade social. Tendo a prática de tênis com um dos seus hobbies preferidos, Magalhães passou uma temporada no Beach Class Resort, da Moura Dubeux, para participar de um torneio. É nesse clima que ele bateu um papo com a equipe de reportagem da RARM.
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classes empresariais adotem ações estruturadas do setor de educação, já que é um dos maiores problemas do nosso país. Todos têm que assimilar seu importante papel com o bem-estar social e com a prosperidade da comunidade.
Eu sou... Arcoverdense. Eu faço... Acontecer a transformação social. O bom da vida é... Família e amigos. Um lugar para viajar... Toscana, na Itália.
Pernambuco significa... Sol, praia...
Uma cidade para morar... São Paulo.
Meu aconchego fica em... Minha fazenda em Camocim de São Félix.
Família é... Tudo Arcoverde lembra... Régua e compasso (risos) . Meu lema de vida é... Competência e caráter. Faça o que você promete e não prometa o que você não pode cumprir. Minha dica de sucesso... Fale sempre a verdade. Até porque a verdade é uma só, enquanto a mentira tem um monte de versões. Por mais dolorosa e dura que seja a verdade, você só vai trabalhar em cima daquele tema, de um único problema. Enquanto a mentira, como tem um leque
de variedades e opções, acaba dando mais trabalho e você acaba perdendo o controle. Adoro... Um excelente vinho. Meu hobby é... Jogar tênis e andar a cavalo. Gosto muito de equitação. O negócio ideal... Empreendimento social. Investimento em cultura representa... Futuro. É importante que toda a sociedade e as
Um pernambucano de destaque... Temos vários. Vejo Jarbas Vasconcelos como uma forte personalidade do nosso Estado. Não apenas pela representatividade política, mas também porque ele faz a diferença. Um ícone... Manuel Bandeira. Por tudo que ele representa e fez por nossa cultura. Pelo notável e brilhante poeta do modernismo brasileiro que ele foi. Meu estilo de música... Música popular brasileira e jazz. Na verdade, eu tenho uma dicotomia entre esses dois gêneros musicais. Meu prato preferido é... Peixe. Tenho hábitos alimentares bem simples. Quando estou em Pernambuco gosto de... Estar na minha fazenda em Camocim de São Félix. Sempre que eu quero fugir do estresse de São Paulo eu venho para a minha fazenda. É o meu refúgio. Ter um Moura Dubeux significa... Qualidade. A Moura Dubeux tem compromisso com o cliente e sempre cumpre o que promete.
Nas horas vagas, Marcos Magalhães gosta de andar a cavalo e jogar tênis.
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Na prática do rapel, a interação do grupo é um estímulo para a superação de limites individuais.
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emana cheia de compromissos, horários e obrigações: eis algo que é comum a quem vive em qualquer grande cidade. No Recife não é diferente. Mas que tal uma viagem no fim de semana para relaxar? Ou talvez uma excursão cheia de aventura e emoção. Melhor ainda é unir as duas propostas em uma só, acrescentando lindas paisagens e um clima agradável. Depois das malas feitas, o destino é o município de Bonito. A apenas duas horas de carro de Recife, Bonito é conhecido por suas belas cachoeiras e por ser muito procurado por turistas para a prática de rapel. Uma corda e uma “cadeirinha” feita com fitas que amarram a cintura e as pernas são os principais instrumentos para a descida com essa técnica, que muitos já consideram um esporte radical. Em Bonito, é na queda-d’água que os mais corajosos se aventuram a descer. Para isso, não é necessário ter experiência, pelo contrário. Os iniciantes em rapel são muito bemvindos, desde que tenham em mãos todos os equipamentos. Segundo Karina Galindo, da companhia Amigos da Trilha, a técnica pode ser aprendida facilmente. “Não tem mistério, é só seguir as orientações do instrutor e estar atento às normas de segurança.” Talvez por isso, a maioria dos interessados pelo passeio opte por contratar uma empresa de turismo, que forma grupos de até 30 pessoas e oferece todo o suporte técnico, guias preparados e às vezes até material didático para facilitar a vida dos “novatos”. Para Carlos Eduardo, fã das trilhas de Bonito e iniciante no rapel, “ir com um grupo é mais tranqüilo porque a empresa se preocupa com tudo e você só relaxa e curte o passeio”. Também conhecida como Cidade das Águas, Bonito é o destino turístico mais procurado para a prática de rapel em
Pernambuco, e o motivo para isso tem nome certo: cachoeira Véu da Noiva. Com aproximadamente 30 metros de altura, ela atrai turistas de todo o país e do exterior por sua beleza e pela força das suas águas. “No início você sente um frio na barriga por causa da altura, mas depois dá uma leveza no corpo e na alma. Naquele momento você esquece todas as coisas e é só você e o planeta”, conta Edmilson Apolinário, que já desceu duas vezes a cachoeira. “Na primeira vez achei complicado, não me senti no controle completo da situação, mas na segunda eu já sabia o que tinha que fazer e só aproveitei”, encoraja. E é já na primeira vez que a descida vira mania. Clarissa Prazin pratica rapel há dois anos e no ano passado convidou todos os seus amigos para passar seu aniversário em Bonito. Eles formaram um grupo, foram à cidade e a experiência foi aprovada. “Quero voltar sempre”, diz ela. O rapel desenvolve força, equilíbrio e flexibilidade, além de estimular a coordenação motora. Para Clarissa, “é preciso sim ter um certo preparo porque as pedras escorregam, então tem que pisar firme”. “Por mais que os equipamentos reduzam significantemente o peso do seu corpo, a gente não pode esquecer que está pendurado em uma corda então tem que ter uma certa força no braço e nas pernas para o equilíbrio”, lembra Edmilson. E não é só ao físico que o rapel traz benefícios, mas também à mente. Em sua primeira descida, Clarissa quase desistiu ao olhar a cachoeira de cima e ver o que ia enfrentar. “Eu estava com muito medo, mas queria vencer o desafio”, confessa. O rapel lida com a superação de limites, desenvolve autocontrole e autoconfiança e, apesar de parecer uma atividade individual, tem na motivação do grupo a principal ajuda para que o participante consiga vencer seu desafio pessoal.
Equipamentos para o rapel Corda - Deve ser estática. Existem modelos apropriados, como o sistema dry, para o rapel em cachoeira, que não absorvem água. O tamanho da corda varia de acordo com o local onde vai ser praticado. A espessura deve ser maior que 9,5 milímetros. Bouldrier - Também chamada de cadeirinha, é um conjunto de fitas, em geral de poliamida ou náilon, que fica na cintura e nas pernas, ligando o “rapeleiro” à corda. Freio Oito ou ATC - É o aparelho de atrito que controla a velocidade de descida. Mosquetão - Argola de fecho rápido usada para ligar o freio à cadeirinha. Existem vários modelos e formas. Prefira as marcas com trava ou rosca. Capacete - Essencial em caso de acidente, o capacete deve ser o mais colorido possível. Roupas - Em águas frias, que podem causar câimbras, é recomendável o uso da roupa neoprene. Em climas quentes, qualquer uma
leve e que seque fácil é bem-vinda.
Serviço: Amigos da Trilha As Cachoeiras de Bonito Telefone: (81) 33251799/3064 0957
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Ettimana piena di impegni, orari e o bblighi: sono scene frequenti per chi vive in qualsiasi grande città. A Recife non è diverso. Ma che ne pensi di un viaggio nel fine settimana per rilassare? O forse un’escursione piena d’avventura ed emozione. Meglio ancora è unire le due proposte in una sola, aggiungendo bellissimi paesaggi e un clima piacevole. Dopo aver preparato le valigie, il destino è il comune di Bonito. A solo due ore in macchina da Recife, Bonito è conosciuto per le sue belle cascate ed è molto frequentato da turisti per la pratica del rappel. Una corda e un’imbragatura, accessorio formato da bande di stoffa che cinge ai fianchi e alle cosce, sono i principali strumenti per la discesa con questa tecnica considerata già da molti uno sport estremo. A Bonito, è nella cascata che i più coraggiosi si avventurano a scendere. Per la pratica di questo sport, non è necessario avere esperienza, anzi, gli inizianti sono sempre benvenuti, purché abbiano in mano tutte le attrezzature. Secondo Karina Galindo, della compagnia Amigos da Trilha, la tecnica può essere imparata facilmente. “Non c’è mistero, si deve solo seguire gli orientamenti dell’istruttore ed essere attento alle norme di sicurezza”. Forse per questo, la maggior parte degli interessati optino per contrattare una delle imprese di turismo, che formano gruppi di circa trenta persone e offrono tutto il sopporto tecnico, guide preparate e a volte anche materiale didattico per facilitare la vita dei “novellini”. Per Carlos Eduardo, fan dei trekking a Bonito e iniziante alla pratica del rappel, “andare con un gruppo è più tranquillo perché l’impresa si preoccupa con tutto e
l’integrante deve solo rilassare e godersi la giornata”. Anche conosciuta come Città delle Acque, Bonito è il destino turistico più conosciuto per la pratica del rappel in Pernambuco, e il motivo di questa fama ha un nome giusto: la cascata Véu da Noiva. Con circa 30 metri di altezza, la cascata attira turisti di tutto il paese e dell’estero con la sua bellezza e la forza delle sue acque. “All’inizio senti un freddo allo stomaco per l’altezza, ma dopo senti una leggerezza nel corpo e nell’anima. In quel momento dimentichi tutte le cose e sei solo te e il pianeta.”, racconta Edmilson Apolinario, che ha già sceso la cascata due volte. “La prima volta ho trovato un po’ complicato, non mi sentivo nel controllo completo della situazione, la seconda volta, invece, sapevo già quello che dovevo fare e ho solo apprezzato il momento”, incoraggia. Ed è già alla prima volta che la discesa diventa una mania. Clarissa Prazin pratica da due anni, e l’anno scorso ha invitato tutti i suoi amici a celebrare il suo compleanno a Bonito. Loro hanno formato un gruppo, ci sono andati e l’esperienza è stata approvata. “Voglio tornare sempre”, afferma. Il rappel sviluppa la forza fisica, l’equilibrio, la flessibilità, oltre a stimolare il coordinamento motore. Per Clarissa, “è necessario avere un certo preparo perché le rocce scivolano, così dobbiamo pestare firme”. “Anche se l’equipaggio riduce significativamente il peso del corpo, non possiamo dimenticare che siamo appesi da una corda, e dobbiamo dunque avere una certa forza nelle braccia e nelle gambe per l’equilibrio”, ricorda Edmilson. E non è solo al fisico che il rappel porta benefici, ma anche alla mente.
Alla sua prima discesa, Camila ha quasi desistito mentre guardava la cascata da sopra vedendo cosa dovrebbe affrontare. “Avevo molta paura, ma volevo vincere la sfida”, confessa. Il rappel lavora il superamento dei limiti, sviluppa l’autocontrollo, la fiducia in se stesso e, anche se sembra un’attività individuale, ha nella motivazione del gruppo il principale aiuto per che il partecipante riesca a vincere la sua sfida personale.
Attrezzatura per il rappel
Corda - Deve essere statica. Ci sono modelli appropriati, come il Sistema DRY, per il rappel in cascate, che non assorbono l’acqua. La lunghezza della corda varia alla seconda del locale dove sarà praticato. La larghezza deve essere più di 9,5 millimetri. Bouldrier - Anche chiamata imbragatura, è un insieme di bande, in generale in stoffa o nylon, cingendo ai fianchi e alle cosce chi la indossa. Freno Otto o ATC - É l’attrezzatura di attrito che controlla la velocità della discesa. Moschettone - Anello di chiusura rapida utilizzata per collegare il freno all’imbragatura. Ci sono di modelli e forme variate. Preferite le marche con freno o spirale. Casco - Essenziale nel caso di incidenti, il casco deve essere il più colorato possibile. Cosa indossare - In acque fredde, che possono causare crampo si raccomanda l’uso dei vestimenti di neoprene. In temperature alte, vestiti leggeri e che secchino facilmente sono benvenuti.
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mais importante evento do mercado mundial de móveis ganhou este ano um novo atrativo. Na sua 45a edição, realizada no começo de abril, o Salão de Milão inaugurou um centro de exposições próprio, com 220 mil metros quadrados – cerca de dez vezes maior que o Centro de Convenções de Pernambuco – em um complexo de aço e vidro, de tom futurista, assinado pelo arquiteto Massimiliano Fuksas. Especialmente construído para abrigar a feira, o local é uma prova da magnitude alcançada pelo salão italiano, que recebe gente dos cinco continentes, com variadas expectativas e necessidades. De compradores de porte a observadores curiosos das tendências de estilo e design, o público de aproximadamente 200 mil pessoas abarrota a cidade de Milão por uma semana: além de vôos lotados e hotéis sem vagas,
até os restaurantes, nessa época, precisam ser reservados com antecedência. O salão é hoje um fenômeno cultural patrocinado pela vocação econômica. A pátria do móvel produz mais do que poderia consumir. Por isso, foi criado um selo – made in Italy – pela Federação Nacional de Fabricantes de Móveis de Madeira (Federlegno), que reúne várias empresas credenciadas para disputar novos mercados na praça global. Trata-se de uma cultura voltada à exportação, que encontrou na feira anual um instrumento eficaz de propaganda e geração de negócios. No primeiro ano em que ocorreu, em 1961, o Salão de Milão não teve nenhum expositor internacional. Isso só veio se dar em 1967, quando houve 63 expositores de fora da Itália – número que chegou a 248 agora, ao lado de mais 1.258 expositores nacionais.
O pavilhão de exposições de Milão, inaugurado nesta edição de 2006 da feira, com muito vidro e fibra de carbono em formas Sinuosas, como essa Luminária de Armani.
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O pavilhão de exposições de Milão, inaugurado nesta edição de 2006 da feira, com muito vidro e fibra de carbono em formas Sinuosas, como essa Luminária de Armani.
O designer e diretor da Desiderato, Edélcio Rodrigues, visitou o salão deste ano juntamente com a revista Recife Antigo, Recife Moderno. Edélcio, que vai ao evento há 12 anos, foi desta vez com o olhar preparado para um novo desafio: a Desiderato é a mais nova indústria de móveis de Pernambuco (leia entrevista nesta edição). “Quem vai a Milão para a feira precisa ir focado em um objetivo”, recomenda Edélcio. A quantidade de pavilhões e expositores pode facilmente fazer com que o visitante desavisado deixe passar o que seria mais importante para ele. “O ideal é que saiba quais as empresas que pretende ver, ou no mínimo ter uma noção da tendência de design que procura, para fazer um filtro”, aconselha. Para Edélcio, cada conceito de design é uma espécie de linguagem, e as pessoas devem procurar aqueles que falam a sua língua. Ainda mais porque a quantidade de “línguas” presentes é hoje uma enormidade que torna impossível, objetivamente, um tour completo de maneira proveitosa. Foi pensando nisso que os organizadores deram início a um processo de segmentação que traz, dentro do salão, feiras específicas para cozinha, luminárias, escritório, banheiro. São feiras temáticas que se revezam, de dois em dois anos,
no mesmo período e no mesmo espaço do grande salone. A feira do lado de fora O êxito obtido pelo salão ultrapassa o enorme centro de exposições recém-inaugurado. Em toda a cidade, ruas estreitas e luxuosos teatros compartilham com o evento oficial a mostra de eventos paralelos conhecida como fori fieiri. O fortalecimento da mostra paralela aconteceu, na última década, em duas direções. De um lado, empresas menores, que não tinham capacidade financeira para estar dentro do salão, partiram para desenvolver eventos-satélite nos seus próprios pontos comerciais. De outro, empresas de marca consolidada, mais conceituais, também escolheram o lado de fora para se destacar das gigantescas proporções assumidas pelo salão, que podem levar, em alguns casos, à diminuição de visibilidade. É o caso do Teatro Armani, o espaço mais badalado do circuito alternativo. Com capacidade financeira de sobra para estar lá dentro, Giorgio Armani prefere a feira do lado de fora, onde pode reunir o glamour e a atenção que deseja para os seus lançamentos. Atualmente, o que acontece fora da feira é tão importante quanto o próprio salão. A organização é a mesma ou maior, uma vez que
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os expositores da rua precisam chamar os visitantes para o seu endereço em ocasiões especiais. Como as pessoas têm que se deslocar muito, por causa da distância, são montados roteiros diários para atender aos mais variados interesses do público e das empresas. Na Itália, as empresas formam grupos estratégicos muito antes de essa tendência aportar no Brasil. Elas se localizam próximo de outras do mesmo padrão, que disputam o mesmo mercado, com produtos praticamente do mesmo nível e do mesmo preço. Na feira elas estão próximas, nos eventos de fora da feira também. Mesmo assim, para ajudar na sinalização, uma revista especializada dispõe banners e bandeirolas na entrada das lojas que participam da programação. Assim, não é raro que o público ache, na mesma rua, mais de uma atração do seu interesse. Edélcio Rodrigues chama a atenção para o fato de que muitos arquitetos brasileiros não valorizam o fori fieri como deveriam. “Falta informação, e as pessoas deixam
de aproveitar o melhor da feira, do lado de dentro e do lado de fora”, diz ele. Para Edélcio, o Salão de Milão é uma ótima oportunidade para desenvolver um estilo próprio. “O resultado do trabalho do arquiteto deve ser fruto de pesquisa, e não de pura inspiração. A feira serve pra isso.” De qualquer maneira, seja como benchmarking ou puro turismo, a feira de móveis mais famosa do planeta é um exemplo marcante da relação existente entre a economia e a cultura, em que a exploração do design se transformou num dos maiores espetáculos do comércio internacional. Pavilhão enche os olhos dos pernambucanos
O pavilhão de exposições de Milão, inaugurado nesta edição de 2006 da feira, com muito vidro e fibra de carbono em formas Sinuosas, como essa Luminária de Armani.
Entre os arquitetos pernambucanos que participaram do Salão de Milão deste ano, um tema foi unanimidade: a beleza do novo espaço. O teto de vidro, que remete a uma arquitetura líquida – de forma contorcida, entre outras características – e a funcionalidade do local deram um novo ar
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à feira e facilitaram o acesso aos estandes, já que criam um ambiente mais integrado que o dos anos anteriores. Dentro do salão, a qualidade de sempre. Mobiliário para todos os gostos com design que vai do moderno ao clássico e idéias que nem sempre são de fácil aplicação no Brasil, mas que sem dúvida são o que, hoje, existe de melhor na área de decoração de interiores. Confira o que relataram à RARM as arquitetas Mônica Paes, Luíza Nogueira, Sandra Brandão e o arquiteto Turíbio Santos. Mônica Paes
O pavilhão de exposições de Milão, inaugurado nesta edição de 2006 da feira, com muito vidro e fibra de carbono em formas Sinuosas, como essa Luminária de Armani.
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“O novo espaço é muito bem resolvido. Antigamente, para você passar de um pavilhão para o outro era tudo aberto, não existia uma comunicação. Por isso você ia levando chuva se estivesse chovendo. Desta vez não. O projeto é superbonito e muito mais integrado, sem dificuldade de locomoção. Achei a feira deste ano muito boa, tudo muito organizado, a maneira de expor estava muito interessante. O diferencial do Salão de Milão é que lá é uma profusão, a cidade inteira entra em festa, além dos eventos paralelos que acontecem. Uma das coisas interessantes são as montagens que eles fazem, as produções das festas e das lojas para os lançamentos. O clima como um todo vale a pena, além de especificamente ir para a feira para ver as tendências.” Luíza Nogueira “Eu demorei um pouco a ir para a feira, mas desde o ano passado coloquei como um compromisso. Ali é onde a gente tem a maior concentração e a produção de tudo que a gente faz. De um ano para outro sempre tem algo de inovador. Pode não ser a feira toda, mas sempre tem uma particularidade ou outra, e eu acho que é importante para a nossa profissão estar
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sempre se atualizando. A feira é muito internacional. Cada um sai de lá com uma idéia do todo para adaptar dentro da sua realidade. A feira de Milão está muito ligada ao que se vive hoje na arquitetura. Hoje a gente pode tudo. Cada vez o mobiliário e a estrutura do que você está fazendo estão mais livres. Há possibilidade de se ter os espaços mais amplos. Eu observei no salão a volta de uma tendência muito escura. Você encontrava muito preto, tanto como acabamento como para revestimento em todos os ambientes.” Sandra Brandão “O novo espaço foi uma das razões que me fizeram ir. É um projeto novo e me pareceu muito interessante conhecer um lugar que foi concebido para ser feira – e uma feira de design. O espaço é bastante coerente. Eu vou à feira há uns 12 anos praticamente seguidos. Já alternei, porque existe esse mito de que é melhor ir um ano sim, um ano não, já que a tendência não muda sempre. Claro que a gente não faz moda, mas a gente faz tendência. Então quando a gente é ligada a um design, a um bom design, a ida sistemática apura o nosso olho. Você termina ficando mais exigente e passa a entender melhor o que vê, o que é tendência, o que é aquilo que fica mesmo com o passar do tempo. Para mim, além de trabalho, é
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um grande prazer, pois faço uma coisa que eu adoro, me divirto e vejo coisas maravilhosas. Muitas vezes a gente não consegue trazer o que vê lá para o dia-a-dia, mas eu zero minha cabeça, faço uma limpeza, vejo muita coisa bonita, abstraio bastante do ponto de vista da funcionalidade, da execução, e passo a ver meramente a questão estética, a questão do bom desenho, o que é bonito, o que é interessante. Eu acho que é possível até criar melhor depois se você pensa assim.” Turíbio Santos “Eu me interesso por absolutamente tudo e você vê de tudo lá. É um salão para todos os gostos. Como este ano a ênfase foi na cozinha, talvez o maior ponto tenha sido mesmo este e talvez o próprio edifício tenha roubado um pouquinho a cena. Na minha opinião, até mesmo os estandes são uma aula de arquitetura. Se as pessoas, além de verem o produto
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que está exposto internamente, prestarem atenção ao estande, talvez venham a ter uma contribuição muito maior do que imaginam, de material, de forma, de desenho, de funcionalidade. Uma coisa importante que pude observar lá é essa questão da releitura de coisas que já foram feitas, mas de uma forma mais inusitada, e de como a tecnologia ajuda o design. Coisas que seriam impensáveis há algum tempo e que hoje são realizadas, como um lustre que é uma mera chapa de ferro toda recortada e depois distorcida. Além disso, vi também a presença forte do humor e a volta de matérias que teoricamente tinham caído em desuso, mas sempre com um diferencial, como um tapete que vem com bastante nós, mais fofo, menos fofo, antialérgico, antiácaro, e por aí vai.”
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ngenheiro mecânico por formação, o designer Edélcio Rodrigues foi diretor de operações de uma das mais conceituadas indústrias do país, a Ornare, durante mais de dez anos. Na antiga casa, sua carreira evoluiu conforme a necessidade, e em pouco tempo ele se viu com responsabilidade e influência sobre diversas áreas da empresa, da administração ao processo industrial, na montagem e até nas vendas. Na Desiderato, primeira
indústria de móveis de alto padrão de Pernambuco, a experiência de Edélcio Rodrigues o credencia à direção dos rumos que começam a ser trilhados velozmente: antes de abrir a loja no Recife, a Desiderato, com menos de um ano de vida, equipou dois grandes hotéis no litoral pernambucano e se prepara para inaugurar uma loja no prestigiado e concorrido mercado de São Paulo. Inserido em uma tradição que remonta a Aloísio Magalhães,
pernambucano que fundou a Escola Superior de Desenho Industrial, no Rio de Janeiro, pioneira na América Latina, Edélcio Rodrigues fala nesta entrevista sobre a importância da tecnologia na indústria de móveis e explica como a Desiderato pretende se inserir no mercado brasileiro. RARM - O que o atraiu para o ramo de móveis? Edélcio Rodrigues - No início eu achava que fazer armário era
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uma coisa simples que qualquer marceneiro faz. Mas não. Armário é tecnológico, é um produto sofisticadíssimo. Cada produto deve ter uma linguagem única. Cada peça tem uma história. E, se o fabricante souber usar a tecnologia a seu favor, faz um produto top. RARM - A tecnologia é o bastante para manter a qualidade? Edélcio Rodrigues - De jeito nenhum. É preciso controle sobre todo o processo industrial, do desenho ao pós-venda. O fabricante só consegue garantir que entrega o que projeta se tiver domínio sobre o processo da fábrica. Mas armário não é uma peça pronta, ela é montada na casa do cliente. Quem faz a qualidade do armário ou da cozinha é o montador. Então é preciso também um cuidado especial na montagem. Mas não adianta ter um bom projeto se, na área de venda, não existe sinergia com o produto. Por isso há que se estabelecer normas e padrões de engenharia de aplicação: cada produto deve ser vendido mediante determinadas regras. O ideal é que o cliente receba, na medida dele, algo tão especial quanto ele viu na loja. RARM - A grande maioria das fábricas de móveis se situa no Sul e Sudeste do país. Por que Pernambuco é uma boa escolha para a instalação de uma fábrica de móveis de alto padrão?
um produtor local de alto padrão. O mercado tem exigências e capacidade financeira para absorver os produtos. Só falta uma indústria. Por que não aqui? Conhecer o mercado é um grande diferencial. E nós conhecemos. Assim, estrategicamente, com a instalação em Pernambuco agregamos características mais competitivas, devido à proximidade, com agilidade para atender à demanda de toda a região e do exterior, através de Suape. RARM - Qual o negócio da Desiderato? Edélcio Rodrigues - A Desiderato é mais do que uma empresa que vende móveis. Nós queremos vender soluções voltadas para a qualidade de vida e o bemestar. E não simplesmente fazer um armário para colocar no dormitório de alguém, atendendo à necessidade básica de guardar as roupas. É óbvio que todos os nossos produtos atendem a uma necessidade. Mas a nossa proposta é entregar um produto que tenha a ver com o estilo de vida do cliente. RARM - Como os produtos se ajustam a essa proposta? Edélcio Rodrigues - São diversos padrões de acabamento, para diversos padrões de vida. Tudo dividido em linhas de armários, cozinha, estante, cama. Temos produtos mais frios, modernos,
dinâmicos, ao gosto dos jovens. Por outro lado, fabricamos armários totalmente de madeira natural, por dentro e por fora, com portas tradicionais, gavetas amplas, direcionados às pessoas mais convencionais. Além disso, o nosso produto traz um design clean que convive muito bem com móveis de época. Claro que não é invenção nossa. A coisa mais comum na Itália é um quarto moderno com peças antigas, porque convivem bem, há sintonia. Graças a um design simples, o produto pode ser moderno sem dar a sensação de modismo. RARM - A Desiderato foi responsável pelo mobiliário do Beach Class Resort, em Muro Alto. Como funciona a linha para clientes corporativos? Edélcio Rodrigues - Trata-se de fato de uma área importante para a Desiderato. Iniciamos as atividades, nove meses atrás, fazendo isso. Desenvolvemos projetos voltados para a necessidade específica de cada empreendimento. Esta linha tem como característica básica a produção em escala. Um hotel, por exemplo, já tem a sua linguagem arquitetônica, e nós produzimos uma parte de um todo. No Beach Class, mobiliamos 180 apartamentos, os bangalôs e os restaurantes. Agora estamos produzindo um [hotel] em Porto de Galinhas, que terá 350 unidades. Também estamos em alguns escritórios do Empresarial JCPM.
Edélcio Rodrigues - Os sócios da empresa são do mercado local. O que para o Sudeste e o Sul pode ser um mercado marginal, nós sabemos que não é. Vimos que esse mercado é carente de
Edélcio na fábrica da Desiderato, em areias.
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RARM - Existem outros serviços agregados ao produto da Desiderato? Edélcio Rodrigues - Mantemos um atendimento diferenciado desde o primeiro contato. Visitamos a casa de todo cliente, fazemos medição, fotografamos, para entender e sentir como é o ambiente dele. Este é o nosso primeiro serviço. Só depois de desenvolvida a solução, submetemos o orçamento ao cliente, que decide se vai comprar ou não. Uma vez que se tornou uma venda, a partir daí temos uma área da empresa responsável pelo pedido dentro da fábrica. O cliente pode ficar despreocupado com o seu pedido. Depois que comprou e recebeu, ele conta com suporte de assistência técnica. Nossos montadores vão atender o cliente a vida inteira. Aliás, os montadores são funcionários da fábrica. Trabalham tanto na fábrica como na montagem, na casa do cliente. É um esquema diferenciado, não conheço nenhuma empresa que trabalhe assim hoje no Brasil. E é uma maneira de manter o funcionário sempre atualizado. RARM – E quanto à garantia? Edélcio Rodrigues - Damos cinco anos de garantia para defeitos de fabricação. Uma das nossas preocupações foi, na seleção dos componentes que não são fabricados pela nossa empresa,
como dobradiças e elementos de fixação, ir buscá-los nas principais empresas do mercado internacional. Grande parte deles tem garantia vitalícia. RARM – Qual a relação da Desiderato com seus fornecedores? Edélcio Rodrigues – Enxergamos o nosso fornecedor como um braço de desenvolvimento. Escolhemos fornecedores preocupados em se manter atualizados. Na feira de Milão nós encontramos vários deles. Isto é muito importante: contar com fornecedores que joguem a gente para cima. Assim o nosso produto não deixa nada a dever aos melhores europeus, inclusive aos italianos. Se a Desiderato for a Milão, não faz feio. RARM – Uma indústria de alto padrão está associada, teoricamente, a preços altos. O que se pode esperar neste quesito? Edélcio Rodrigues - Desde o instante em que é desenvolvido, o nosso produto é fruto de um planejamento voltado para o mercado. Projetamos um produto para atender ao mercado, numa determinada faixa de preço. O jovem é um nicho de mercado, quer morar numa casa moderna, mas não teve tempo de ganhar dinheiro. Pensamos num produto
para ele. Oferecemos preço competitivo e facilidade de acesso, isto é, condição de financiamento. O nosso desejo é proporcionar as condições para fazer a venda. É óbvio que segmentamos, que temos um produto diferenciado. Não adianta dizer que vamos atender ao mercado como um todo. Não vamos. É um produto, sim, de alto padrão, mas com o preço mais competitivo do mercado. RARM – Além do Recife, a Desiderato se prepara para entrar em São Paulo. O que isso representa? Edélcio Rodrigues – Temos consciência de que estamos começando aonde muitas empresas não chegaram. Vamos abrir uma das maiores lojas na avenida que é o principal endereço de móveis em São Paulo, a Gabriel Monteiro da Silva, por causa da segurança que temos em nossa capacidade de fazer projetos e ter preço para brigar de igual para igual com eles. Podemos tomar espaço das empresas que já estão no mercado de lá. O nosso preço é compatível com o que a gente oferece. Ficar fechado no mercado do Recife é pouco para o tamanho de nossa capacidade industrial. O nosso nível de automação é igual ao dos melhores do mundo. RARM – O que significa a palavra “desiderato”? Edélcio Rodrigues - É uma expressão com origem no latim e significa “aquilo que se deseja”. Desejo é querer algo que se tem capacidade de conseguir. E realizar o desejo das pessoas é o nosso propósito.
A loja recém-inalgurada na Av. Domingos Ferreira, 1248.
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mercado imobiliário vem mudando e, no mesmo ritmo, surgem as inovações do segmento de equipamentos que prometem tornar a rotina doméstica mais prática. Muitas vezes, essas mudanças provocam uma revolução nos hábitos e costumes, alterando o conceito do que é prioridade numa casa. Exemplo disso são os aquecedores de água a gás GLP (de cozinha), também conhecidos como boilers. Praticamente desconhecidos há bem pouco tempo, eles são os atuais “queridinhos” do mercado, uma tendência cada vez mais freqüente em residências como alternativa aos velhos chuveiros elétricos. Antes mais utilizados em empreendimentos de grande porte, como hotéis e hospitais, os boilers passaram a estar presentes em estruturas menores, como banheiros e cozinhas de casas e, principalmente, apartamentos de alto padrão. Existem dois tipos: o de acumulação, que mantém a água permanentemente aquecida à temperatura selecionada, e o de passagem, que funciona liberando o gás para esquentar a água toda vez que uma torneira é aberta. Para o administrador de condomínios Francisco Cavalcanti, da RF Administradora, responsável por mais de 50 prédios no Recife, a maior vantagem do equipamento é financeira. “O gasto equivalente à energia consumida por um chuveiro elétrico durante um banho é três vezes maior do que o custo desse mesmo banho utilizando água aquecida por boiler”, explica. Fatores como praticidade e funcionalidade também contam na hora de fazer opção pelo boiler. Atualmente existem pelo menos 16 marcas de aquecedores no mercado brasileiro. A maioria
tem tecnologia importada, mas geralmente a fabricação e a montagem dos produtos são feitas no país. Todos os aquecedores oferecem a possibilidade de regular a temperatura desejada numa escala modular que vai muito além das opções “inverno” e “verão” dos chuveiros elétricos. Nos equipamentos mais modernos, essa regulagem pode ser ainda mais sofisticada, programando-se a temperatura da água por um visor digital. Numa época em que conforto e agilidade ditam as regras do dia-a-dia, os aquecedores não chegam a ser item de primeira necessidade numa casa, mas fazem uma enorme diferença nos lares modernos. Para o empresário Ricardo Farias, pioneiro no mercado de aquecedores a gás em Pernambuco, a relação custobenefício do aquecedor é muito vantajosa para o consumidor final. “O preço médio de um aquecedor doméstico varia de R$ 800 a R$ 2.600, dependendo do modelo escolhido e da infraestrutura de instalação disponível no apartamento ou na casa do cliente. O valor da instalação também oscila entre R$ 250 e R$ 350, pelas mesmas razões”, explica. Outro detalhe importante é o dimensionamento do projeto e a escolha do tipo de equipamento
a ser usado, que deve estar adequado às necessidades de cada usuário e à área disponível. A capacidade do boiler varia de 8 a 27 litros, dependendo da vazão de água que circula por dentro do aparelho. A quantidade de pontos instalados é outra variável para definição do modelo. Para a administradora de empresas Jeane Gomes, moradora do Edifício Jardins da Jaqueira, na Zona Norte do Recife, além de garantir os banhos quentes da família, a instalação de pontos nas dependências de empregada e na cozinha de seu apartamento deixaram-na mais tranqüila. “Minha empregada adorou, não tem mais medo de levar choque no chuveiro nem precisa mais esquentar água para passar na pia. Outra vantagem é que o boiler individual oferece muito mais comodidade do que as centrais de gás coletivas que existem em outros prédios, pelo fato de conseguirmos controlar os nossos gastos individualmente”, diz. “Além disso, no caso de
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prédios que têm central de gás compartilhada, se houver um defeito, todos os condôminos são prejudicados”, explica. Segurança – Técnicos, consumidores, fabricantes e revendedores são unânimes na opinião de que o boiler é um equipamento extremamente seguro, oferecendo riscos praticamente nulos de acidentes. “Em 29 anos de mercado nunca tivemos nenhum registro de acidente com nossos clientes”, afirma Ricardo Farias. No entanto, para garantir a total segurança dos usuários, especialistas recomendam alguns cuidados básicos na instalação do produto. A realização do serviço por profissionais experientes e com mão-de-obra especializada e autorizada pelos fabricantes é condição essencial para a segurança do consumidor. “Algumas vezes um cliente deixa de fazer a instalação com uma empresa autorizada por uma diferença mínima de orçamento e acaba tendo problemas nas mãos de curiosos, podendo perder a garantia do equipamento, além do risco de vazamentos de gás”, explica o revendedor Ricardo Farias, que também oferece serviços de instalação e assistência técnica dos equipamentos. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é a instituição responsável por regular e certificar a atividade das empresas instaladoras. Uma das exigências da ABNT é reservar um local amplo e arejado para a instalação do boiler, para facilitar a exaustão do gás. “Na maioria dos casos, ele fica na área de serviço e jamais pode ser instalado em áreas O empresário Ricardo Farias diz que a relação custo/benefício é vantajosa para o consumidor.
fechadas, como despensas”, explica Ricardo Farias. Também é preciso observar as instalações de gás e hidráulicas, que devem ser reforçadas com tubulação de cobre ou de plástico (PVC ou PPR), mais resistentes à ação da água.
Francisco Cavalcanti, que administra mais de 50 prédios no Recife.
VANTAGENS DO BOILER: Segurança: o risco de acidentes é praticamente zero se instalado por uma empresa credenciada. Relação custo-benefício: a economia chega a 70% em relação ao chuveiro elétrico. Praticidade e funcionalidade do equipamento. Fácil manuseio e vários níveis de regulagem da temperatura. Inovação tecnológica. Baixos custos de manutenção e durabilidade do produto. Garantia: a média para os aquecedores de passagem é de dois anos (a marca Sakura é a única que oferece cinco anos). Para os aquecedores de acumulação a garantia é de um ano.
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sporte é paixão. Obsessão. Sempre emoção. Mas não deixa de ter o lado da razão. O futebol também é negócio. E dos grandes, pois movimenta milhões de reais nas capitais brasileiras e bilhões de dólares no mundo inteiro. Em Pernambuco não é diferente. Apesar da crise técnica e financeira que vem atingindo todos os clubes, o esporte mais popular do planeta não pára de gerar investimentos, ajudando a economia local. Seja criando empregos, seja movimentando recursos em todas as classes sociais. Sport, Náutico e Santa Cruz, os três maiores clubes do Estado, movimentaram cerca de R$ 25 milhões no ano passado. A expectativa é que esse número
A melhoria técnica dentro de campo é fruto do investimento cada vez maior fora dele
aumente pelo menos 20% com a subida do tricolor do Arruda para a Série A, a elite do futebol nacional. A receita coral com transmissão de jogos, que no ano passado girava em torno de R$ 50 mil, além de passagens aéreas e hospedagens, este ano subirá para R$ 200 mil mensais. Isso significa mais contratações, mais visibilidade na mídia, maior presença de público nos estádios e maior volume em compras de materiais esportivos do clube. O rival Sport foi quem mais gerou recursos em 2005. No emblemático ano de seu centenário, o clube abriu os cofres. Contratou diversos jogadores, muitos deles de renome nacional. Mesmo não tendo sucesso dentro de campo, o rubro-negro empolgou sua torcida, que lotou o estádio na maioria das partidas. A média de público, por jogo, foi de 19 mil pessoas, uma das maiores do país. Com isso, a cada partida, a economia informal crescia. Segundo o diretor administrativo do Sport, coronel Genivaldo Cerqueira, cada confronto de grande porte faz com que mais de mil pessoas trabalhem em volta. Além dos atletas, há porteiros, fiscais, seguranças, gandulas, pessoal de limpeza, bilheteiros, cobradores e ambulantes. Enfim, diversos profissionais que quase nunca são vistos pelos torcedores. Na maior parte, são trabalhadores informais, que incrementam o orçamento familiar pelo menos uma vez por semana. “Dá para tirar uns R$ 500 por mês”, diz
Carlos Alberto Oliveira, presidente da Federação Pernambucana de Futebol diz que o esporte movimenta a economia em todos os segmentos sociais.
José Rodrigues, que costuma vender camisas não oficiais dos clubes pernambucanos em frente aos estádios. Isso sem falar nos policiais, bombeiros, agentes de trânsito e todos os demais funcionários públicos envolvidos. “Só de bebidas são mais de duas mil caixas por partida”, destaca o coronel, que nunca assiste a um jogo, pois está sempre gerenciando a parte administrativa e financeira dos eventos. Contando apenas o trabalhador formal, a estimativa é de que mil pessoas trabalhem diretamente nos mais de 50 clubes de futebol em Pernambuco. O número de empregos indiretos quintuplica. Mesmo o torcedor que não vai aos estádios fomenta a economia. Em dias de grandes jogos, os bares ficam lotados. Tanto é que a Rede Globo enviou, no início de março, informativos a bares e restaurantes sobre como proceder durante a Copa do Mundo da Alemanha. Os estabelecimentos não puderam cobrar entradas nem passar teipes das partidas. Em ano de Copa, os investidores aumentam. São diversas empresas que costumam colar sua marca no esporte. Em Pernambuco, cada clube tem seu investidor. São fundamentais na sobrevivência das equipes. Mas também têm retorno garantido de mídia. A Rede Globo vem comprando o Campeonato Pernambucano há quatro anos e deve permanecer por mais tempo. Transmite duas partidas por semana. Pagou cerca de R$ 1,5 milhão e deve embolsar pelo menos o dobro com publicidade específica. Carlos Alberto Oliveira, presidente da Federação Pernambucana de Futebol (FPF), afirma que o futebol movimenta todos os segmentos sociais. “Um jogo é visto por milhares de pessoas nos estádios. O
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O vendedor José Rodrigues faz ponto em frente aos estádios.
Campeonato Pernambucano foi visto por mais de oito milhões de pessoas pela TV. E muitas delas assistem fora de casa, em estabelecimentos comerciais. Isso é interessante para a economia do Estado”, avalia. O futebol também tem seu lado social. E, com a inclusão da camada mais pobre da população, também mexe na economia dos municípios. O governo do Estado criou o “Futebol Solidário”, que consiste na troca de alimentos não perecíveis por ingressos. Além do acesso a quem geralmente não tem R$ 14 para comprar entrada a cada rodada, o programa melhora a condição de vida da população carente. Este ano, a coordenação do programa prevê arrecadar 200 toneladas de alimentos. Em 2005 foram distribuídas 171 toneladas. Cerca de metade foi para a Fundação da Criança e do Adolescente. O restante é distribuído para 30 municípios pernambucanos. Patrocínio e competitividade - A interiorização do futebol não se dá apenas pela política assistencial. Da Primeira Divisão do Estadual, dez clubes participam. Sete deles não são do Recife. E, nos últimos três anos, vêm dando trabalho aos da capital. A melhora técnica dentro de campo é fruto do investimento cada vez maior fora dele.
O maior exemplo vem do Agreste. O Ypiranga conseguiu mobilizar toda a cidade de Santa Cruz do Capibaribe em volta do clube. Com a força do Pólo de Confecções, vários pequenos empresários passaram a dar suporte à equipe, que conseguiu contratar jogadores de ponta. Ou pelo menos que já foram assim considerados, como Júnior Amorim, Lima e Wilson Surubim, todos com passagem pelos times da capital. A folha salarial do Ypiranga é a maior do interior. Cerca de R$ 80 mil mensais. E nunca se vendeu tanto o uniforme do clube, que mais parece macacão de Fórmula1 devido ao grande número de logomarcas de patrocinadores. O fenômeno não é exclusivo do Agreste. O Sertão também passou a investir mais no futebol. Serra Talhada e Salgueiro sobressaem. O Serrano conseguiu chegar à quarta colocação em 2005 devido ao suporte financeiro do Armazém Tupan e da loteria Serrano dá Sorte. O bom desempenho fez com que toda a cidade passasse a viver mais o futebol. Hotéis, bares e restaurantes lotam em dias de jogo. As emissoras de rádios passaram a acompanhar o time em todo o Estado. Isso gerou empregos e atraiu investidores. “Aqui não pagamos salários tão altos, mas é tudo em dia”, garante o presidente José Raimundo.
Assim também é em Salgueiro. O “Carcará do Sertão”, atual campeão da Copa Pernambuco, tem apoio dos empresários da banda de forró Limão com Mel. Em dias de jogo, os municípios interioranos são invadidos por torcedores. A maioria só vai ver o jogo, mas muitos permanecem na cidade por mais de um dia, aquecendo o setor turístico. O presidente da Federação Pernambucana de Futebol, Carlos Alberto Oliveira, destaca a importância do turismo proporcionado pelo Estadual. “Quando há o deslocamento de um clube para o interior, faz com que a torcida vá também. Isso fomenta o turismo”, aponta. “E é importante para o comércio local”, acrescenta. O Recife também vive essa expectativa. Com a participação do Santa Cruz na Série A, estão sendo esperados torcedores paraibanos, potiguares, cearenses e alagoanos, infelizmente para assistir aos adversários do clube pernambucano. Mas futebol é futebol, negócios à parte... Os adversários se transformam em aliados quando fora do campo esquecem a emoção e fazem girar a economia do Estado.
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lei exige que todos os municípios brasileiros dotados de mais de 20 mil habitantes executem, até outubro de 2006, seus Planos Diretores. Essa nova ordem jurídica despertou nos cidadãos a esperança de que as cidades onde habitam possam, com base nas Diretrizes dos Planos Diretores, corrigir as deficiências e tornar melhor a qualidade de vida, ingressando talvez mais rapidamente na faixa do “Primeiro Mundo”. Acontece que o brasileiro nordestino cultiva erroneamente uma tradição de querer combater o mal sem analisar preventivamente a ação, ou seja, deseja eliminar o EFEITO sem antes combater a CAUSA. Troca a ordem da CAUSA pelo EFEITO. Alguns exemplos são nítidos, a começar pela doença: toma-se primeiramente uma medicação para combater a dor sem antes procurar um especialista para determinar a origem dela. Assim age para todas as coisas, sejam de origem cientifica ou não. No caso do urbanismo, ciência responsável pelos princípios da organização do espaço, em termos de desenvolvimento integrado – social, econômico e territorial –, falase muito de GABARITO, ou seja, da altura dos edifícios, como se
fosse um grande responsável pela desorganização do espaço urbano. Começa então a abordagem do EFEITO sem aprofundamento e conhecimento da CAUSA. Altura de edifício não determina densidade, ou seja, número de pessoas por metro quadrado de terreno ou por hectare ou mesmo por quilômetro quadrado. Assim, no diagnóstico do PD da cidade do Recife, os bairros detentores de maiores densidades, para citar alguns, são Brasília Teimosa, no Pina, e os morros de Casa Amarela, cuja tipologia das construções na sua maioria se constitui de um único ou no máximo dois pavimentos, ou seja, de baixíssimo gabarito (altura). Analisando a cidade como um todo, a partir da década de 1950 é que começou o crescimento vertical das edificações do Recife, acelerandose após as grandes enchentes provocadas pelo Rio Capibaribe e também pelas precipitações pluviométricas anormais. Outro fator responsável pela verticalização foi a preferência da população pelos bairros dotados de infra-estrutura, essencialmente os “equipamentos-âncora”, como estabelecimentos de ensino tradicionais, centros de abastecimentos, áreas de lazer e a própria paisagem urbana, a
edificada e a natural, como no caso de Boa Viagem, e também às margens dos recursos híbridos, rios e canais devidamente tratados em termos técnicos paisagísticos e despoluídos. Condenar os bons exemplos da arquitetura pernambucana em termos de verticalidade é desconhecer culturalmente a arte e a técnica. Os edifícios altos, nas suas soluções, estão aliados ao bem-estar coletivo em termos de lazer e segurança, a custos relativamente baixos, comparados com as inexistências dos espaços públicos organizados com segurança, boa conservação e qualidade. Alem disso, por sua vez, além do conforto ambiental privado, as suas ocupações muitas vezes são inferiores a 15% do total da área do terreno. O restante, de 25% a 60%, é obrigatoriamente preservado, com o solo natural, e ricamente tratado em termos paisagísticos e bem conservado, complementando ou mesmo emoldurando as cores, as formas, os cheios e os vazios desta grande escultura urbana que é a arquitetura. É nos edifícios altos e bem projetados e também nos conjuntos habitacionais que a valorização da cidade
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O bairro do Pina é um exemplo de modernização promovido por empreendimentos privados, em que a oferta de novos prédios altera a paisagem urbana.
edificada é destacada pelos espaços privados, enquanto os espaços públicos estão, a cada dia, deteriorados e muitos deles invadidos com atividades habitacionais inadequadas e de riscos, com um baixíssimo nível de qualidade de vida. Realmente são duas cidades, e dois espaços distintos, o público deteriorado na sua maioria e o espaço privado organizado e bem conservado, tentando complementar e enriquecer a paisagem natural. Os edifícios ofertam hoje todo um aparato de conforto e bem-estar, tais como estacionamento interno, segurança particular e lazer no seu espaço privado, enquanto os espaços públicos carecem de infra-estrutura, drenagem, saneamento, segurança, criação das novas vias, pontes, viadutos, passagens de pedestres, jardins, áreas verdes, micro e macrodrenagem, saúde, educação, transporte e construção de novas vias. Muitas dessas atividades existem, umas bem organizadas, outras altamente deficitárias, e outras nem pensam em existir, como é o caso da Avenida BeiraRio, da complementação do atual sistema viário, projetado e com grande parte edificada nos anos de 1970 e 1980. Neste elenco de deficiências, encontram-se muitas das CAUSAS para serem eliminadas, evitando os EFEITOS, mesmo porque as “mazelas’ DA CIDADE não deveriam ser atribuídas às alturas dos edifícios ou erroneamente apelidadas de “GABARITO”. Os Planos Diretores, nas suas DIRETRIZES, disciplinarão melhor o uso dos poucos recursos dos municípios e proporcionarão, com as parcerias, mais força na luta coletiva e na busca de financiamento para a execução das prioridades no decorrer das diversas administrações municipais, estaduais e federais.
Os Planos Diretores disciplinarão melhor o uso dos poucos recursos dos municípios e proporcionarão mais força na busca de financiamento para a execução das prioridades
de um planejamento participativo, recebendo as contribuições de todos os segmentos representativos da sociedade, somando-se assim às esperanças coletivas de que no fim de tudo venha primeiro o combate às causas para evitar as conseqüências danosas dos efeitos.
O elenco de diretrizes com este ordenamento, apoiado na Lei do Plano Diretor, permitirá também a continuidade das administrações que se sucederem de quatro em quatro anos, evitando uma luta de partidos contra partidos, de confrontações e vaidades, pois no fim desse embate de idéias e de melindres quem sai perdendo são o povo e a cidade. A legitimidade do Plano Diretor não terá a cara de ninguém, visto que a sua execução foi o resultado
Waldecy Fernandes Pinto é arquiteto urbanista e ex-secretário de Planejamento da Prefeitura do Recife.
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A extensão da faixa de praia é um dos fatores que proporcionam o crescimento do bairro.
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ssim se dá a construção das cidades: descampados cedem lugar a casas simples, que logo abrem espaço para moradias mais sofisticadas. Depois, chegam os estabelecimentos comerciais, e não demora muito para que surjam os grandes prédios, aqueles que dão à cidade a cara de cidade. Com o Pina não foi diferente. Hoje ele está perfeitamente de acordo com a paisagem que se espera de um bairro de uma metrópole – e não fica em nada atrás de seu vizinho de porta, o bairro de Boa Viagem. Supermercados, padarias, lojas de roupas: o Pina é auto-suficiente. Tem tudo de que precisa para suprir as necessidades de seus moradores, além da vantagem de estar perto do aeroporto, do shopping e a uma ponte do Centro do Recife. O mercado imobiliário vê o bairro como grande promessa e a localização privilegiada, claro, como um diferencial. As mudanças acontecem em um ritmo acelerado e um grande passo será dado este ano com a inauguração do JCPM Trade Center, já avaliado
por empresas de assessoria imobiliária internacional como triple A em qualidade. Segundo o arquiteto Jerônimo da Cunha Lima, responsável pelo projeto, “o prédio teria presença positiva em qualquer cidade onde estivesse localizado; no Recife, então, é surpreendente”. Além do JCPM há diversos projetos em andamento na Av. Antônio de Góes e imediações. O Pina recebe um grande volume de investimentos, além de fortes indicativos de crescimento, como o anúncio da construção da Via Mangue, que ligará o bairro às marginais dos canais Setúbal e Jordão. Com aproximadamente 5 km, a via promete melhorar a fluidez do tráfego da Zona Sul, valorizando ainda mais a região. O Parque dos Manguezais, com pista de cooper e espaço arborizado, integra o projeto e será uma alternativa adicional de lazer para a população. É certamente uma boa fase para o bairro, que há alguns anos também vem acolhendo empreendedores de outro setor: o gastronômico. Nesse quesito, o Pina tem que ser reconhecido
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Empreendimentos como o JCPM Trade Center são ilustrativos da renovação urbana no local.
pela variedade. De frutos do mar a comida japonesa, passando por pizzarias, restaurantes de comida regional e cozinha francesa, são muitas as opções. São estabelecimentos que em geral prezam pelo conforto do cliente, pela qualidade do atendimento, apresentação do prato, pelo menu variado e, acima de tudo, por um ambiente sofisticado. Para aqueles que acreditam que um bom serviço vale qualquer preço, a escolha não poderia ser mais acertada. Já os que precisam se preocupar um pouco mais com o orçamento talvez prefiram outra opção. Mas não têm que ir muito longe para achar. O Pra Vocês é o restaurante mais antigo do Pina. Surgiu no início da década de 40 e, desde então, teve vários donos. Severino Reis começou a trabalhar no restaurante aos 16 anos, quando saiu de sua terra natal, Limoeiro. “Vim escondido de minha mãe, atrás de trabalho”, conta. No início, ele foi empregado como lavador de pratos, depois como garçom, até chegar ao cargo de ajudante administrativo. Severino viu o primeiro dono morrer, os dois seguintes falirem, até que em 1972 obteve um arrendamento do restaurante, tornando-se o proprietário do negócio. Ele preservou a estrutura e o cardápio originais, ajustando apenas alguns itens. Futuro é otimista - Severino morou no Pina durante 38 anos. Ele lembra que acompanhou a construção da Av. Domingos Ferreira e a reforma – na sua
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opinião, lenta – que tornou o bairro o que é hoje. Mesmo tendo seguido todo o processo de urbanização, não acha que o lugar tenha se transformado tanto, mas vê o futuro numa perspectiva bastante otimista. “Tenho a impressão de que dentro de uns oito anos isso aqui vai se tornar o melhor bairro do Recife. Querem construir um túnel e uma ponte ligando o Pina ao resto da cidade e existem vários outros projetos de construção. Isso aqui vai ficar bom”, diz, entusiasmado. Carmem Monteiro, 75 anos, também viveu toda a sua vida no bairro. Excluindo-se um curto período em que morou no Rio de Janeiro, todas as outras memórias lhe remetem ao Pina. “Eu já morava aqui no tempo em que o bonde fazia a curva no final da Herculano Bandeira”, conta. Uma das suas principais lembranças é da praia em frente à sua casa, onde todas as crianças costumavam brincar e que, segundo ela, era uma “imensidão de areia branca”, como nos versos do poeta Baltazar de Oliveira: “No pensamento: o branco areal do Pina,/ ilha, então, só de humildes moradores.../ Redes ao sol... O mar canta em surdina.../ Velas pandas ao vento... Pescadores...”. De fato, a praia foi o primeiro atrativo da região, antes mesmo de dona Carmem mudar-se para lá. A Praia do Pina, quando ainda não tinha ligação com a cidade e só se chegava a ela de barco, era a preferida dos banhistas recifenses, especialmente os de maiores posses, que iam passar lá o fim de semana. Hoje, o status de boa praia continua, mas certamente abriga um público mais democrático. O professor universitário Artur Gomes faz religiosamente a sua visita ao bairro aos domingos, de preferência acompanhado da esposa, de uma toalha e protetor
solar. A Praia do Pina é conhecida por ter as mesmas características da Praia de Boa Viagem, que atrai turistas do mundo inteiro, porém com um atrativo maior: menos gente na areia. “Eu prefiro ficar no Pina porque a praia é menos badalada e mais tranqüila”, afirma. Em 1920, foi construída a primeira ponte ligando o Pina ao Recife. Seis anos depois, a Av.
1953, e a Ponte Paulo Guerra é de 1978. Carmem Monteiro ainda não tinha nascido na época das primeiras inaugurações, nos anos 20, mas se lembra da paisagem da região na década de 40, “quando a Av. Boa Viagem tinha duas linhas de bonde”. “O Pina era um bairro maravilhoso, de família, de residências”, conta. Mas dona
Severino Reis, proprietário do restaurante Pra Vocês: “Isso aqui vai virar o melhor bairro do Recife”.
Herculano Bandeira, que ia da ponte à beira-mar, era inaugurada. Hoje, a avenida é praticamente ocupada por estabelecimentos comerciais, responsáveis pela auto-suficiência de serviços do bairro. A Av. Boa Viagem foi inaugurada no governo de Sérgio Loreto em 20 de outubro de 1924, quando nela se implantou a linha dos bondes da Pernambuco Tramways. A Ponte Agamenon Magalhães (conhecida como a Ponte do Pina) foi inaugurada em
Carmem não enxerga o bairro só com olhos saudosos. Também está atenta às mudanças e, principalmente, às mais recentes. Para ela, o Pina atravessou uma fase decadente e só agora parece estar se recuperando. Como uma pessoa que morou 70 anos no bairro, diz com propriedade que essa fase atual de investimentos já trouxe benefícios e “tem trazido boa gente”. Na sua opinião, o Edifício Enseada da Barra, da Moura
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O edf. Enseada da Barra foi o primeiro projeto de um novo complexo de prédios nobres que está se formando no bairro. Nesta montagem também se pode ver os edifícios Maria Júlia e Enseada do Mar.
Lá fizeram seus primeiros shows bandas como a Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, que hoje são sucesso nacionalmente. Com um passado tão rico e perspectiva de futuro promissor, o Pina é hoje lembrança obrigatória tanto para moradia como para estabelecimentos comerciais. Os novos empreendimentos prometem criar mais serviços, mais empregos e melhoria na qualidade de vida da população. O desafio agora é agregar às conquistas urbanas a tranqüilidade conhecida pelos que curtem o seu “branco areal”.
Detalhe da fachada do Edf. Enseada da Barra.
Dubeux, é um exemplo do novo ar de modernidade que se instala. “O Enseada deu um clima bom a essa parte do Pina”, diz, referindose ao final da Avenida Boa Viagem. Segundo o arquiteto do edifício, Carlos Fernando Pontual, a “beleza natural do bairro” e a proximidade do Centro são os principais motivos para explicar essa requalificação urbana por que o bairro vem passando. O Pina também abriga, além de importantes prédios, instituições como o Aeroclube de Pernambuco, a Estação Rádio Pina (construída pelos americanos durante a 2ª Guerra Mundial) e o
Convento e Capela de São Félix, onde está sepultado o corpo do missionário Frei Damião. O Teatro Barreto Júnior é outro ponto de referência, desta vez como parte da história cultural do bairro. E ninguém pode esquecer o Pólo Pina. Poucas pessoas não se remetem à região, que fica entre a Av. Boa Viagem e a Conselheiro Aguiar, quando querem falar da efervescência pela qual o Recife passou no fim da década de 80, quando o ritmo mangue começava a despontar. Era um pequeno aglomerado de bares e restaurantes onde havia apresentações musicais.
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Crescimento gradual Lançamentos à beira-mar no Pina dão continuidade à tendência de ocupação nobre dos extremos da Av. Boa Viagem Fábio Lucas Fotos: Arquivo e Fotografics
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em todo mundo sabe que a numeração de uma casa ou edifício representa simplesmente a distância, em metros, que a construção guarda do início da via. Por esse prisma, é interessante notar como tem se dado, ao longo dos anos, a ocupação gradativa na beira-mar mais valorizada do Nordeste, a Av. Boa Viagem. Com aproximadamente 7 km de extensão, a avenida se desenvolveu, primeiro, no trecho entre os números 2000 e 4000. Deste núcleo central, a expansão se moveu rumo às extremidades, fenômeno hoje facilmente notado pela existência de empreendimentos como o Atlante Plaza e o Brennand Plaza, numa ponta, e o Enseada da Barra e o Empresarial JCPM, na outra. Os novos lançamentos da Moura Dubeux no Pina refletem essa evolução. O Edifício Maria Júlia é vizinho do Enseada da Barra, que foi o pioneiro naquela região, dono de um design arrojado que valoriza ainda mais uma área com facilidades de acesso e infra-estrutura. O Maria Júlia, por sua vez, será um trêsquartos premium, com 118 m², em vez dos usuais 80 m², vista ampla da praia, área de lazer, estrutura de segurança e preço convidativo em comparação ao preço praticado na Av. Boa Viagem. A tabela de pagamento poderá ser quitada em até 60 meses.
O projeto de Márcia Nejaim é a garantia de um produto diferenciado. “O Maria Júlia é um projeto que consolida a atual demanda por espaços menores em que conforto e qualidade de vida são prioridades”, explica Márcia. “A orla sempre foi o privilegio de grandes empreendimentos, ficando os imóveis de menor porte destinados a áreas mais afastadas da beira-mar. Esta mudança vem atender às expectativas de uma nova sociedade que valoriza a otimização dos espaços, aliada a uma boa localização, com custos mais baixos de condomínio, menos consumo de energia e manutenção prática e econômica”, defende a arquiteta. Outro lançamento da Moura Dubeux no complexo do Pina será o Edifício Enseada do Mar, no melhor padrão de dois apartamentos por andar na avenida. Projeto do arquiteto Carlos Fernando Pontual, o Enseada do Mar tem estilo semelhante aos edifícios Mário Saraiva e Miriam Dubeux, empreendimentos que ficam na Rua Francisco da Cunha, e metragem também semelhante, de 160 m², com 4 quartos, 2 suítes, além de ótima área de lazer. No caso específico do Enseada do Mar, haverá uma quantidade de vagas de garagem vendidas à parte, além das 2 vagas-padrão. Ou seja, independentemente do andar adquirido, o proprietário poderá comprar a sua terceira vaga de garagem. O Enseada do Mar será construído em regime de condomínio fechado. Na realidade, desenha-se a consolidação de uma tendência do mercado em Boa Viagem. E cria-se um novo pólo. À semelhança do que ocorre
O edf. sede da Moura Dubeux e o Clinical Center Karla Patrícia (fotos das extremidades) foram pioneiros na ocupação que está sucedendo a observada nos três jardins da Av. Boa Viagem (fotos ao centro).
com um shopping center, bons produtos se agrupam, e um puxa a valorização do outro. Foi assim no 3º Jardim de Boa Viagem, onde só existia, décadas atrás, o Edifício Casa Alta, com apenas sete andares, por causa da legislação pertinente à influência da Rádio Estação do Pina. A Moura Dubeux fez um planejamento de massa para o 3º Jardim, onde ficava o antigo restaurante Veleiro. Daí surgiram o Morada Atlântida e o Plaza del Mar. Depois vieram o Edifício Veleiro, o Beach Class Suítes e o Comendador Pedro Renda. Em fase de acabamento está o Tereza Novaes, que fica do lado direito, olhando para o Casa Alta. No 2º Jardim, a Moura Dubeux entregou os edifícios Córdova, Cortez Nejaim, Telma Freire e José Eleutério, que, juntamente com o Porto Banus, da Seno, formaram ali outro complexo de destaque. E, enfim, no 1o Jardim, antes de chegar ao Pina, foram construídos o Edifício Jardins, o Millennium e, agora, o Maria Roberta. À medida que prédios vão surgindo nos vazios, os trechos urbanos são remodelados. O complexo do Pina pode ser considerado o novo Jardim de Boa Viagem. É um efeito de mercado, que muda a paisagem – quase sem que se note – e transforma a relação do recifense com a cidade.
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stima-se que mais de mil livros são publicados diariamente no mundo, o que torna imperiosa a necessidade de ser seletivo na leitura para evitar o afogamento por excesso de papel. Em “O Mundo é Plano Uma Breve História do Século XXI” (Editora Objetiva, 2005, Rio de Janeiro) do jornalista norte-americano Thomas L. Friedman, isso fica evidente. Trata-se de uma grande reportagem sobre o “achatamento” do mundo que, apesar do excesso de texto (a grande maioria dos livros norte-americanos de negócios poderia ser escrita com a metade de páginas), merece ser lido com atenção por aqueles que se preocupam com os impactos da globalização para suas vidas e para suas empresas. “...quando Bill Clinton foi eleito presidente dos Estados Unidos, em 1992, praticamente ninguém que não pertencesse ao governo ou ao meio acadêmico tinha e-mail...” Thomas L. Friedman
Trata-se de uma grande reportagem sobre o achatamento do mundo para aqueles que se preocupam com os impactos da globalização nas suas vidas e nas suas empresas.
Em menos de 15 anos, portanto, deu-se uma verdadeira revolução na forma de comunicação entre pessoas e organizações de todos os tipos. As evidências disso são o que o autor chama de “dez forças que achataram o mundo”: (1) a Queda do Muro de Berlim (que coincide com a consolidação do Windows como
sistema operacional padrão dos computadores pessoais no mundo); (2) o Surgimento do Netscape (que equivale à consolidação da navegação na web e ao início da bolha das empresas ponto-com); (3) os Softwares de Fluxo de Trabalho (cujo principal exemplo é a fixação do padrão Word para processadores de textos); (4) o Código Aberto (cujo exemplo talvez mais ilustrativo seja a enciclopédia virtual Wikipédia, literalmente escrita pelos usuários); (5) a Terceirização Internacional de Serviços (que tem como principal ícone a Índia); (6) o Offshoring (cujo maior exemplo é a transferência de fábricas para a China e outros países orientais); (7) as Cadeias de Fornecimento Globais (cujo maior exemplo é a incrível estrutura do WalMart); (8) a Internalização da Produção dos Clientes (cujo maior exemplo é a UPS, empresa mundial de entregas); (9) o Autofornecimento de Informações (cujo maior exemplo é o
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Google, ferramenta universal de pesquisa); e (10) as Tecnologias Potencializadoras (cujo maior exemplo é o sistema de telefonia por internet Skype). “O fato de tanta gente ter todas essas ferramentas de colaboração ao seu dispor, aliado à possibilidade de acessar, por meio dos motores de busca e da web, bilhões de páginas de dados brutos, vai garantir que a próxima geração de inovações venha de todos os cantos da Terra Plana.” Thomas L. Friedman Segundo Friedman, essa novíssima realidade não foi ainda bem compreendida por conta de três eventos perturbadores que vieram desviar a atenção do essencial: (1) o estouro da bolha das empresas ponto-com, pelo que provocou de descrença na internet; (2) o atentado de 11 de setembro, pela comoção que criou e pela reação dos EUA no Afeganistão e no Iraque; e (3) o escândalo da Eron e de outras empresas de grande porte, pelo que provocou de desconfiança nas grandes corporações. Mas, segundo ele, as mudanças são irreversíveis e tem impactos importantes também sobre as empresas. “Assim como os indivíduos precisam de uma estratégia para ajustar-se ao achatamento do mundo, as companhias também precisam.” Thomas L. Friedman São sete as regras que as empresas, no entendimento do autor, devem observar para não ficarem vulneráveis neste novo cenário de “achatamento”: (1) Não tente construir muralhas: se a empresa for atingida pelo “achatamento” do mundo, convém reagir fugindo da comoditização e reforçando as competências básicas (o mais difícil de ser copiado pela concorrência); (2) Se pequeno, se comporte como grande: as empresas pequenas devem procurar usar, ao máximo, as facilidades do mundo
O que serve para as empresas, serve também para as organizações que trabalham com Projetos sociais.
plano para reforçar a rapidez de sua ação e a capacidade de ir além da concorrência; (3) Se grande, se comporte como pequeno: as empresas grandes, por sua vez, devem lançar mão dos recursos do mundo plano para se tornarem ágeis no atendimento aos clientes da forma mais próxima possível; (4) Colabore: dada a complexidade do mundo plano, terão vantagens competitivas aquelas empresas que conseguirem mais colaboração produtiva com outras que as complementem (redes de cooperação, por exemplo); (5) Mantenha-se saudável e venda a experiência: no mundo plano as empresas devem cuidar permanentemente da sua “saúde” e aproveitar essa experiência para vender soluções para os clientes; (6) Terceirize para crescer e, não, para diminuir: a terceirização de serviços deve ser um recurso para melhorar e crescer e, nunca, para o inverso; (7) Use a terceirização também para os projetos sociais: o que serve para as empresas no mundo plano, serve também para as organizações sem fins lucrativos que trabalham com projetos sociais.
o primeiro do quarteirão a compreender de que modo todos esses instrumentos de capacitação podem ser reunidos de maneiras novas e excitantes para criar produtos, comunidades, oportunidades e lucros.” Thomas L. Friedman Um mundo “plano”, cheio de oportunidades e ameaças, onde pessoas, empresas, regiões e paises estão desafiados a inventar coisas novas e melhores para não ficarem para trás.
“Neste mundo aplainado, o atributo mais importante que se pode possuir é a imaginação criativa a capacidade de ser
Francisco Cunha é Diretor da TGI Consultoria em Gestão.
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