câmara
municipal do recife Aqui a cidadania é construída ESPECIAL
Nordeste quer retomar vocação histórica e voltar a ser destaque no cenário global
SOLUÇÕES
Entidades se pronunciam sobre as prioridades de Pernambuco
MEIO AMBIENTE
Ecobuilding valoriza técnicas e procedimentos sustentáveis
editorial
O que será, é o que você faz agora No mundo dos negócios, na política internacional ou na vida pessoal, ter visão significa reconhecer o que está por vir antes dos outros. Têm visão aquele indivíduo e aquela empresa que alcançaram mais rápido seus objetivos porque largaram na frente e não perderam a direção e a confiança no caminho a ser percorrido. Pensando nisso e em todo o potencial de crescimento que se apresenta no Brasil, em especial na Região Nordeste, lembrei-me de uma afirmativa de Sidarta Gautama, o Buda, que resume muito bem esta edição: “O que você é, é o que você foi; o que será, é o que você faz agora”. De acordo com Ian Bremmer, da consultoria especializada no mercado financeiro e em ciências políticas Eurosaia, entre os países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), o nosso país é o que está mais bem posicionado para o crescimento de longo prazo. Segundo ele, a China apresenta um crescimento extraordinário, mas, se o governo chinês tiver que escolher entre a abertura econômica e a estabilidade política, escolherá a estabilidade política. A Índia tem uma economia extraordinária, mas para apenas 5 milhões de pessoas numa população total de 1 bilhão. E a Rússia, como Estado produtor de petróleo, extrai suas riquezas do chão, não precisa de condições favoráveis para atrair investidores estrangeiros. No caso do Brasil, o otimismo está no consenso da economia de mercado e na perspectiva das reformas. Nesta edição, a Recife Antigo Recife Moderno traz uma matéria especial, bilíngüe, sobre o futuro cada vez mais atual da Região Nordeste, que consolida um período de crescimento à parte no Brasil. E mais, uma região em que os negócios florescem como nunca, apoiados em grandes investimentos estruturais realizados nas últimas décadas, sem falar naqueles que estão acontecendo ou em via de acontecer. É o caso de Pernambuco, principalmente em pólos dinâmicos como Suape ou a indústria de moda e confecções do Agreste. Um ciclo virtuoso arremessa o Nordeste com força para o futuro. Um ciclo que diz respeito diretamente ao setor imobiliário em razão de apresentar (I) PIB em crescimento acima da média nacional, de acordo com o IBGE; (II) o maior déficit habitacional do Brasil, representando 39% do déficit habitacional estimado total do país, de acordo as estimativas da Fundação João Pinheiro; (III) crescente investimento do governo em infra-estrutura, especialmente em Pernambuco; (IV) elevado investimento de empresas estrangeiras nos setores de turismo e lazer; (V) menor renda domiciliar per capita entre as regiões brasileiras e o maior crescimento médio, segundo dados do Ipea de 2005, o que deverá resultar em aumento do consumo, inclusive habitacional; e (VI) tendência demográfica favorável, com aumento do número de potenciais consumidores em razão da estimativa de alto crescimento da população com idade entre 25 e 60 anos.
Com a mira fixa nas mudanças, a Moura Dubeux ao mesmo instante contribui para este novo ciclo e se prepara para transformações ainda mais profundas que devem ocorrer em nossa região. Além da marca MD tradicional, conhecida na região pela excelência dos imóveis ofertados, investimos em duas marcas complementares, com o objetivo de acelerar o futuro promissor vislumbrado para o mercado imobiliário em Pernambuco e no Nordeste. Nesta edição, apresentamos o novo empreendimento com a marca Beach Class que já é um sucesso de vendas, destinado a hospedagem e segunda residência de alto padrão, uma tendência acentuada no litoral nordestino. Guardamos as novidades e os detalhes da Vivex, marca que apresentaremos ao mercado de habitação popular, para os próximos números da RARM. A atuação nos três segmentos de mercado é uma proposta ousada, mas que se fundamenta perfeitamente na realidade regional, como podemos ver na matéria especial desta edição. O mesmo mote de compromisso com o futuro permeia as páginas que você vai ler agora. Na seção Soluções, entidades pernambucanas dão sugestões concretas para o novo governo estadual. A preocupação com o meio ambiente, tema recorrente e de importância crescente no setor, está nas matérias sobre ecobuilding, sobre a gestão do consumo nos condomínios, no artigo assinado por Marcos Alencar sobre a indústria canavieira e no Gestão Hoje Especial. Vale salientar que a Moura Dubeux foi a primeira empresa do ramo a receber o certificado ISO 14.001 no Nordeste – mais uma prova de envolvimento com a retomada do desenvolvimento na região. Acreditar que o que se faz agora é o que poderá mudar a realidade de amanhã é um trabalho não apenas de empresas e homens de visão. É um imperativo de toda a sociedade. Cada um pode dar a sua contribuição, fazer a sua parte, para que, não tão de repente, a mudança que se inicia pequena se alastre, e a visão projetada se revele um fato consumado.
Marcos Roberto Dubeux
06 Ano 4 - Edição 15 - Junho de 2007 A revista Recife Antigo Recife Moderno é uma publicação trimestral da Moura Dubeux Engenharia. MOURA DUBEUX ENGENHARIA Av. Domingos Ferreira, 467 10º, 11º, 12º e 13º andares, Boa Viagem, Recife-PE. Fone: (81) 3087.8000 - www.mouradubeux.com.br Diretoria Editorial Aluísio J. Moura Dubeux Gustavo J. Moura Dubeux Marcos J. Moura Dubeux Marcos Roberto Moura Dubeux Editor Geral Marcos Roberto Moura Dubeux mrd@mouradubeux.com.br Editor Executivo Fábio Lucas (DRT/PE 2428) fabiolucas@uol.com.br Coordenação e Atendimento Comercial Bruno Perrelli bruno@mouradubeux.com.br Coolaborador Editorial Marcos Alencar Textos Carlyle Paes Barreto Fábio Lucas Joana Rodrigues Júlia de Almeida Paula Perrelli Roberta Jungmann Colaboradores desta edição Francisco Cunha Maria do Amparo Pessoa Ferraz Mônica Mercês Regina de Cássia dos Anjos Verônica Machado Projeto Gráfico: G Design Comunicação Diagramação Felipe Duque felipe@mouradubeux.com.br Fotografia Fotografics Tânia Collier Revisão Laércio Lutibergue e Solange Lutibergue Tradução Tânia Onorati (Italiano) Cameron Furlong (Inglês) Impressão: Gráfica Flamar Tiragem: 8 mil exemplares Tiragem auditada por Macdata Processamento de Dados *Os artigos divulgados não refletem necessáriamente a opinião desta revista. *Os projetos imobiliários apresentados podem sofrer alterações após sua divulgação. A Revista Recife Antigo Recife Moderno foi feita pensando em você. Participe das próximas edições enviando suas críticas, sugestões e assuntos de seu interesse para o e-mail da nossa redação, o faleconosco@mouradubeux.com.br. Contamos com a sua colaboração.
Sumário 06 Recife Antigo
Prédio da Câmara de Vereadores abriga tradição política
10 Recife Moderno
Beach Class International consolida marca de “segunda residência” em Pernambuco
14 Especial
(Bilíngüe) Investimentos públicos e privados fazem com que o Nordeste vislumbre novo ciclo de crescimento em cima de vocação histórica
26 Artigo: Colhe-se o que é plantado
14
Marcos Alencar analisa o ressurgimento da agroindústria canavieira na esteira da crise energética mundial
28 Soluções: Pacote de idéias Entidades dão sugestões concretas ao novo governo estadual
36 Artigo: Boas expectativas
A economista Mônica Mercês, da Fiepe, assina artigo sobre as perspectivas do mercado imobiliário no Grande Recife
38 De Pernambuco para o Mundo O crescimento de Petrolina mostra a força do Sertão
44 Ação Social: Cidadania contra a exclusão
Nova seção da RARM abre espaço para as parcerias e para os projetos que estão promovendo a transformação da sociedade
28
52
10
50 Gastronomia
Monalisa, Ponte Nova, Boteco e Paesano
52 Estilo de Vida
O médico Hilton Chaves: a saúde do corpo e da mente
56 Do Mundo para Pernambuco Verônica Machado e a emoção de sobrevoar o Monte Everest
62 Bairros
No Bairro do Recife, a história viva da capital pernambucana
66 Recife Moderno II Ed. Mar Azul traz novidade para o Pina
68 Condomínio: Gestão do consumo
62 50
68
Tecnologia pode mudar medição de energia, água e gás
72 Ecobuilding
Conceito valoriza os recursos naturais no processo construtivo
72
78 Gestão Hoje Especial
O aquecimento global e a oportunidade de mudança do modelo energético
56
recife antigo
a Câmara Municipal do Recife Construído em 1920, o prédio no bairro da Boa Vista abriga o parlamento municipal desde 1962 Maria do Amparo Pessoa Ferraz Fotos: Fotografics
06 recife antigo RECIFE MODERNO
Em 1920, quando sediava a 1ª Escola Normal de formação de professoras primárias.
Q
uando você passar pelas calçadas do prédio nº 410 localizado na Rua Princesa Isabel, no cruzamento com a Rua do Hospício, vizinho ao Parque 13 de Maio, no bairro da Boa Vista, sinta que ali estão pilares da História do Recife, que em muitos aspectos também marcam a história do Brasil. Embora aquele prédio não tenha sido construído originalmente para abrigá-la, é lá que funciona a Câmara Legislativa da cidade do Recife. Seus participantes são os vereadores do Recife, eleitos por voto direto em pleito que ocorre a cada quatro anos, com a função constitucional de representar os munícipes. O edifício onde hoje funciona a sede da Câmara Municipal foi construído em 1920 para sediar a primeira Escola Normal destinada ao ensino e formação de professoras primárias de Pernambuco, e no mesmo prédio funcionava uma escola de aplicação para estágio das futuras pedagogas. Depois foi admitido o ingresso de rapazes para formação pedagógica primária. Sua arquitetura, vista do alto mostra a existência de um pátio interno circundado pelo que antes foram salas de aulas e hoje são gabinetes de trabalho dos parlamentares municipais – os vereadores. Em 1962, com a mudança de nome e a transferência da Escola Normal para os novos prédios do então Instituto de Ensino de Pernambuco (IEP), havendo a desocupação total da edificação, a Câmara Municipal, na época com 31 vereadores e funcionando no Edifício Alfredo Fernandes, na Avenida Barbosa Lima, nº 149, no Bairro do Recife, mudou-se para o endereço onde está até hoje. Embora a atual Câmara Municipal tenha sido criada com base na
doutrina de Estado republicano, a atividade legislativa no Recife, e no Brasil, remonta ao século XVII, ainda no Brasil Colônia. Foi com a presença de Maurício de Nassau que o governo republicano do Brasil holandês realizou a primeira assembléia legislativa na América. Os eleitos para essa assembléia republicana, representantes dos distritos, eram chamados de escabinos.
Foi com a presença de Maurício de Nassau que o governo republicano do Brasil holandês realizou a primeira assembléia legislativa na América. Com a partida dos holandeses, retomado o domínio português em Pernambuco e todo o Nordeste do Brasil, era a Câmara de Olinda que discutia e votava questões relativas aos recifenses, sem que lá houvesse representantes dos interesses desses. Foi a luta por vagas na Câmara de Olinda para os recifenses que gerou um grande conflito entre representantes dos
cidadãos recifenses e olindenses, resultando no combate que veio a se registrar pela história como a Guerra dos Mascates. Com a saída dos holandeses, o Recife havia perdido sua condição de cidade, não tendo sequer o reconhecimento legal como vila. Essa condição de vila somente lhe foi dada pela Carta Régia datada de 19.11.1709, embora apenas viesse a ter o reconhecimento pleno dessa condição em 18.11.1711, quando foi levantado um novo pelourinho no Bairro do Recife. Hoje a municipalidade comemora como data de fundação da cidade do Recife 12 DE MARÇO DE 1537, baseada no registro documental do FORAL DE OLINDA, que dá conta da existência, naquela época, de uma povoação que se formou em razão do funcionamento do porto da vila de Olinda. Na Câmara Municipal são discutidas e votadas leis de interesse de todo cidadão recifense, porque é lá que são escritas para regulamentação municipal leis federais e estaduais importantes, como também o Plano Diretor da cidade; a Lei de Uso e Ocupação do Solo; a Lei Orgânica do município; o Código de Obras; leis de preservação do patrimônio histórico municipal, o Estatuto dos Servidores Municipais; leis de transportes recife antigo RECIFE MODERNO 07
Acima, deste ângulo, podemos ver o pátio interno que é cincundado pelo que antes eram salas de aula. À esquerda a entrada da atual Câmara de Vereadores do Recife.
urbanos no que se refere a tarifa, concessão e traçado das linhas de transportes municipais; Atualmente, a Câmara do Recife é formada por 36 vereadores, sendo o mais experiente e profundo conhecedor do seu funcionamento, e com mais tempo de mandato, o vereador Liberato Pereira da Costa Júnior. Ele recebeu o seu primeiro mandato em 1955 e está em sua décima legislatura. Essa vida parlamentar municipal somente foi interrompida em dois momentos: em 1967, quando foi eleito deputado constituinte, e em 1969, quando teve seus direitos políticos cassados pelo regime militar da época. Nascido no Recife, na Rua da Imperatriz, Liberato deixa transparecer a dedicação à sua cidade também nas propostas de lei. Ele foi o vereador responsável pela emenda de lei que criou a obrigatoriedade de os edifícios com mais de 1.500m² terem a exposição permanente de uma obra de arte. Entre tantas outras leis que reafirmam seu perfil de municipalista nato como se autoclassifica, propôs o ensino 08 recife antigo RECIFE MODERNO
obrigatório nas escolas municipais da origem e motivação dos nomes dos bairros e ruas. E mais, tendo ficado viúvo há 14 anos, diz com muito orgulho que tem então como seu maior amor a cidade do Recife. A Câmara do Recife tem como patrono, desde a década de 1940, José Mariano Carneiro da Cunha, que ainda no Brasil imperial, como presidente da câmara, na época denominada Conselho Municipal, liderava no Recife as ações pela libertação dos escravos. Sua importância é reafirmada ao se chamar a câmara de “Casa de José Mariano”, lembrando que o caráter humanista deve permear o exercício parlamentar de todos os que participam dessa casa.
Maria do Amparo Pessoa Ferraz é Mestre Historiadora.
recife antigo RECIFE MODERNO 9
recife moderno
“Second home” de primeira
Beach Class International chega para consolidar marca de turismo Fábio Lucas Ilustrações: MV3D
A
liberação do gabarito na área e a alteração da altura permitida para edificações no bairro do Pina, com a desativação do Aeroclube, fizeram com que o terreno que abrigaria os edifícios Luis e Clarice Dubeux fosse escolhido para receber um empreendimento de maior porte: o Beach Class International. A mudança atendeu ainda ao crescimento da demanda por um tipo de equipamento cada vez mais procurado no Nordeste, conhecido como “second home” (segunda residência). A característica principal é a aquisição do imóvel para ocupação em temporadas regulares, sobretudo por turistas estrangeiros. “Trata-se de uma modalidade de investimento em crescimento no Brasil”, diz o gerente comercial da Moura Dubeux, Tony Vasconcelos. O Beach Class International consolida a marca Beach Class, da Moura Dubeux, na linha de mercado de hotéis, flats e resorts adequado ao “second home”. Será o terceiro de uma série que inclui ainda o Beach Class Suítes, em Boa Viagem, e o Beach Class Resort, na Praia de Muro Alto, a poucos quilômetros de Porto de Galinhas (veja quadro). “Apesar de ser uma marca relativamente nova, tem alta respeitabilidade pelos produtos e pela rentabilidade”, assegura Vasconcelos. A marca é respeitada porque oferece conforto aos usuários e segurança e rentabilidade ao investidor. Com o flat, o proprietário tem rendimentos 10 recife antigo RECIFE MODERNO
com o imóvel sem necessitar de um inquilino. Para o adquirente usuário, a vantagem imediata é a comodidade resultante dos serviços oferecidos. Para o investidor, é importante contar com uma operação que lhe permita auferir a renda esperada. O investidor pode ainda deixar sua unidade integrar o “pool” de locação à disposição da operadora para aproveitamento em fins de hospedagem. A conservação do imóvel fica então sendo responsabilidade da administradora e o rendimento pelo seu uso é repartido entre os participantes do “pool”, independentemente da ocupação efetiva de todas as unidades. No caso do segmento de “second home”, o flat é ideal para os que pretendem desfrutar de um local próprio para curtas temporadas sem abrir mão dos serviços de primeira linha dos melhores hotéis do mundo. O Beach Class International, em sintonia com esta tendência, será uma atraente opção tanto para o hóspede quanto para o investidor.
BEACH CLASS SUÍTES - RECIFE Localizado num dos trechos mais valorizados da Praia de Boa Viagem, no Recife, o projeto é um marco da arquitetura e da engenharia pernambucanas. Foi inaugurado em 2003 e suas 232 unidades de 45 m2 cada têm uma ocupação média de 90%, com excepcional retorno para os investidores. A administração do flat é responsabilidade conjunta da Atlantica Hotels International e da Gestão Compartilhada de Clientes, destacandose como o melhor resultado entre 54 hotéis da rede em todo o Brasil. A renda proporcionada por unidade atualmente é de R$ 1.800.
BEACH CLASS RESORT - MURO ALTO Na região da melhor praia do país – Porto de Galinhas – está situado o empreendimento que conta com a melhor área de lazer de Pernambuco, incluindo a maior piscina do Brasil. Inaugurado em 2006, o Beach Class Muro Alto Resort dispõe de uma área de 67.000 m2 e 252 unidades, onde é possível optar entre apartamentos de 45 m2 e bangalôs de 68 m2. As taxas de ocupação geram uma distribuição mensal de R$ 1.200 por unidade aos investidores, valor que deve aumentar em 70% nos próximos anos, de acordo com os operadores.
BEACH CLASS INTERNATIONAL – RECIFE 33 pavimentos-tipo com 8 unidades por andar, cada uma com 38 m2, e mais 2 pavimentos com 4 unidades por andar no 34º, sendo as duas unidades de 103 m2, que contam com um belo terraço, e 2 unidades de 51,35 m2. No último andar, haverá ainda 2 unidades de 53 m2 e 2 unidades de 51 m2. Ao todo serão 272 unidades. Todos os apartamentos terão vista para o mar. A infra-estrutura proporciona o conforto requerido pelo estilo “second home”. Há 4 pavimentos de garagem, piscina com espelho-d’água, lojas, coffee shop, spa e fitness club, 6 elevadores, dentre os quais 2 panorâmicos, e internet wireless.
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12 recife antigo RECIFE MODERNO
recife antigo RECIFE MODERNO 13
especial
a country called the North East
14 recife antigo RECIFE MODERNO
Large scale investments and an emerging consumer market attract big business and will make the region return to its historical vocation: intense contact with the world Fábio Lucas Photos and illustrations: Publicizing
B
razil was the North East; at least during the first phase of extraction, adopted by the Europeans as a form to compensate for the high investments made in the colony. The Brazilian civilization – taking the term in the western historical sense, in transferring the European lifestyle to the “new world” - had sweet beginnings through the sugar plantations that made Pernambuco bloom. More than four centuries after the height of the sugar cane industry, the economic disparity between regions shows great social inequalities. The concentration of wealth and urban population in the south-central region contributes to deemphasising an important historical fact: Brazil started in the North East. With economic diversification, the moving of central power, and industrial modernization, the North East’s decadence was imposed almost as an accepted fact. The mass exodus of workers, mainly to Sao Paulo – including the current President of the Republic – helped fabricate the stigma that the region
was poor. To make matters worse,
to a variety of sections throughout
the decline became associated as
the economy. Analysts compare
an illustration of the “(nor)destino”
21st century North East Brazil to
– destino meaning destiny - as if
19th century Mid-West America.
the future of the country had been
Additionally, analogies of the Chinese
completely detached from its past.
giant are not lacking either.
Nowadays it seems that history is
It is not just now that things are
repeating itself. The boom in the
changing. The North East is waking
region has not only been sustainable,
up, opening its eyes and looking
but has also spread to every state and
ahead after a long period of waiting
recife antigo RECIFE MODERNO 15
The petrol chemical, automobile and fruit production sectors had a significant production capacity increase
Santo Agostinho - 10%. In practical terms this illustrates the viability related to the consumer market, which bit by bit, moves away from one of potential to that of a real
and of preparation. In the initial years of the new millennium, economic performance has confirmed a trend of regional recovery, which has been outlined for several decades. According to data from SUDENE, from 1960 to 1999, the North East’s slice of the Brazilian national per capita GDP rose from 41% to 56%. In this same period there was a profound change in the regional economic matrix. While in 1960 agriculture accounted for 30% of the GDP, in 1999 the rate was 9.7%; services grew from 47% in 1960 to 64% in 1999. According to CEPAL, by as early as 1998 the north-eastern GDP was greater than that of most Latin American and Caribbean countries (with the exception of
market. In a report by consultants Target, families in the North East are expected to spend somewhere in the region of R$ 117 billion, more than Chile’s GDP. According to the same study, over the last five years family spending has gone up by 143% in the North East as compared to 126% in Brazil. To get a clear idea of the phenomenon just take the increase in spending on cars, which varied by 330% from 2002 to 2007.
Only in transport, the Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) will invest, R$ 7.3 billion.
Mexico and Argentina). From 2001 the growth developed a more easily recognizable outline: in seven years, the North East has had an average growth rate of 4.2%, while in the rest of Brazil it has been 2.3%. Pernambuco and Bahia lead the ranking with growth in the order of 7%. As shown in the magazine ‘Exame’ (25th April), the North East is growing at the same rate as Ireland. There are Pernambuco towns which have already reached Chinese growth speeds: Toritama - 15%; Cabo do
16 recife antigo RECIFE MODERNO
The total north-eastern spending growth in 2006 was 8%, but there are several cases where the rate was higher. An example of a business that is spending an increasing amount in the region is Kimberly-Clark, prominent in the hygiene products segment and who have had 16% growth a year in the North East. They are reaping what they have sowed: from 1996 to 2005 they invested US$ 450 million in infra-structure and technology. They have 60,000 retail outlets in the North and North
East supplied by a distribution centre based in Recife. This is far from being an isolated case. In 2006, Nestlé’s sales in Brazil were propelled by the North East, registering a sharp rise that was double that of the rest of the country. It was not by chance that Nestlé decided to invest R$ 100 million in the construction of a new factory in Feira de Santana, Bahia. Perdigão is another business taking advantage of the moment in the North East: growing by 25% here against 5% in the country as a whole. The difference is also evident in the shoe-making sector. During the biggest event in the leather industry, Couromoda, held in Saõ Paulo, the highlight in sales was the North East with growth at 12% above the national average. “The North East is being closely watched by companies (especially those targeting end consumers), as an island of growth in Brazil”, stated the professor of Strategy, and Academic Director of Ibmec, Sergio Lazzarini, in an interview given to the newspaper O Estado de S. Paulo (20.10.2006). Private initiative is one of the engines of the new cycle. According to estimates by Banco do Nordeste, private investment in the region leaped from R$300 million in 2001 to R$3 billion in 2006. Over the next few years the Federal Government has also promised to provide resources that when transformed into projects, will certainly contribute to the acceleration of growth that the region currently enjoys. In the transport
recife antigo RECIFE MODERNO 17
Representation of the area distant 300km and 800km from Recife
sector alone the Growth Acceleration Program has earmarked a major slice of investments for the North East; R$ 7.3 billion. Asiatic standards - According to figures from BNDES, the North East’s portion in additional value gained in transformation industries (steel, aluminium etc.), rose from an average of 9.1% from 1995 -1998 to 10.5% between 1999 and 2003. Additionally, there was a regional balance of trade surplus in 2003, 2004 and 2005 of US$ 1.8 billion, US$ 2.53 billion and US$ 4.29 billion, respectively. Since 2000, exports have boomed, having reached US$ 10.55 billion in 2005, a growth of 31% in relation to 2004. Imports came to US$ 6.27 billion in the same period, an increase of 13.7% over the year before. “Apart from a more favourable international environment the increase in the region’s exports mostly reflects structural changes in the regional production matrix over the last ten years when the region received large investments and experimented 18 recife antigo RECIFE MODERNO
with significant expansion in production capacity in sectors and industries that are internationally competitive, such as: automobile; petrochemical; cellulose and paper; steel; metallurgy; leather goods and shoes; clothing; sugar cane-alcohol; soya and derivatives; and beef and fruit production. It can be said that the recent growth in regional exports can be explained, in large, as a consequence of the investments made in the mid nineties”, wrote economist Tagore Villarim de Siqueria, for the magazine BNDES in June 2006.
Since 2000, exports have boomed, having reached US$ 10.55 billion in 2005 “The growth of north eastern exports in the last five years - quicker than national exports - has rekindled the expectation that the region can reach
a level of economic development similar to that of the Asian model, in which the rest of the world has a crucial role in supplying the necessary inputs and in the demand for the final products, as well as contributing to improvements in quality, productivity and investments in R&D, directly influencing the improvement of international competition of the domestic productive system”, maintains Siqueira. The growth of the economy in states such as Pernambuco and Bahia corroborates the comparison since a 7% rate is comparable to Asian countries such as India and Thailand. If Asia is the inspiration, a study undertaken by the Secretariat for planning in Pernambuco shows a privileged area for the expansion of development. Within a radius of 800km from Recife, there are 20 million people, who produce 90% of the region’s GDP, in a zone where there are 6 capitals, 4 international airports and 5 international ports. If the radius is reduced to 300km from Recife, there are 12 million people and 35% of regional GDP, 4 state capitals, 2 international airports, and 3 regional airports. As a part of north-eastern growth, Pernambuco could experience an economic expansion of 5% per year until 2030, tripling the economy and elevating its slice of the national economy from its current 2.7% to around 3.2%. This is Ceplan’s prognosis. According to professor José Carlos Cavalcanti from the Department of Economics at UFPE, for so much to happen, strong competition for a place in the sun in the global economy will need to be faced. “The North Eastern states, which today
Business growth in the North East have the incentive of competing among themselves rather than cooperating, have taken their own measures to stimulate the attraction of new investments, it’s what happened in Pernambuco from 1999 to 2002. Total numbers related to economic development over this period show increases in capital inputs and work. However the equation of economic growth is not only determined by increase in capital and work inputs, but also by an improvement in the total productivity of these factors.” According to José Carlos Cavalcanti, these improvements not only depend on technology but also on the ability and competence of the people involved in the production process. This is where the secret of sustainability lies: “If we use our own or a cheaper technology, and if we educate our work force well, it is certain that we can think about growth and development that will last”, he states.
According to the magazine Exame, private investment in the region increased 10 times between 2001 and 2006, reaching R$ 3 billion. Some examples illustrate the race to the North East:
Growth by 16% per year in the North East. US$ 450
million invested over the last ten years. With 60 thousand retail outlets in the North and North East and a distribution center in Recife.
R$ 100 million invested in a new factory in Feira de
Santana, Bahia. Last year, sales in the region increased by almost double compared to the rest of the country.
25% growth in NE and 5% in the rest of the country in 2006.
The car plant in Camaçari (BA), represented an investment of US$ 1.2 billion, generating a growth of 150% in the per
capita income of the population in only five years.
The tire factory in Germany invested R$ 500 million in
Camaçari (BA), to produce 18 million tires per year.
R$ 100 million in soya industry in Uruçuí (PI).
NUMBERS Transnordestina Railway: R$ 4.5 billion Abreu e Lima Refinery in Suape: US$ 2.5 billion Atlântico Sul Shipyard in Suape: R$ 1.1 billion Petrochemical Plant in Suape: US$ 862 million Transport in NE (Programa de Aceleração do Crescimento): R$ 7.3 billion Sudeste-Nordeste Gas pipeline: R$ 1.3 billion Prodetur II: US$ 800 million Bolsa-Família (social program): R$ 10 billion (in 2006 and 2007) Estimated spending in 2007: US$ 117 billion
One third of its national income comes from the North
East. This supermarket chain opened 7 new shops in the region in 2006. And this year, they intend to open 14 more, make a total investment of R$ 300 million, of which R$ 100 million is in PE.
R$ 15 million in 2007. The fast food chain’s 49 outlets
has experienced an increase in sales for 36 consecutive months,
outperforming the rest of the country. The turnover in the North East is greater than that of Chile, Uruguay and Peru.
17% growth in sales for the North East in 2006
and 9% in the country as a whole encourage the company to increase production and open distribution centers in the region.
R$ 800 million in The Reef Club, in Barreiros (PE), by 2014.
recife antigo RECIFE MODERNO 19
Housing: the leader in the new North East From resorts to popular houses, the input of national and international investments is one of the factors that heats up the regional construction market.
According to Silvio Bezerra, president
a golf course, with an investment
of Sinduscon-RN, in an interview to
of R$ 800 million by 2014. The first
the newspaper Valor (20.03.2007),
hotel in the complex is expected to
this result is, in part, a consequence
open its doors in 2009. The Spanish
of the arrival of new resorts and
undertaking on the Pernambucanan
hotels to the state, a phenomenon
coast illustrates a market trend. For
that, in his opinion, is happening all
the president of Brazilian Resorts
over the North East, making tourism
Association, Alexandre Zubarรกn, in
a dynamic part of the regional
an interview published in Estado de
economy.
S. Paulo (23.04.2007), it should bring
The effect is impressive, the
about R$ 6 billion to the region by
Thanks to the work done to improve infra-structure and to increase investments in tourism, the construction sector is experiencing favourable conditions, achieving
prognosis of the Anuรกrio de Turismo
2010 (just in the hotel industry).
Exame is that in the next five years
Between January and November
the North East will have an influx of
last year, foreign investment in
about R$5 billion, or nothing less
property in Brazil came to US$ 1.3
than 74% of the total investment
billion, according to figures from the
surprisingly good numbers in the North East. To take just one example, in Rio Grande do Norte, the number of formal jobs was three times more than the national average, generating 4.3 thousand posts.
in the country. An example is the
central bank. The total represents
undertaking that the Spanish group
nothing less than a 410% increase
Qualta has on the beach of Barreiras
against 2005 numbers. One of the
(PE). The Reef Club will have two
explanations for the phenomenon
hotels, three guest houses, 4,000
is the expansion of tourist activity in
bungalows, a shopping mall and
the North East, including the growing
20 recife antigo RECIFE MODERNO
habit of owning a second home,
facilities. About 2.8 million houses
important to the expansion.
known as “second habitation”, where
need building, especially affordable
The house deficit generates the
the tourist wants to spend regular
housing for low-income families,
demand; the expansion of GDP
periods away from their first home.
which constitute approximately
produces the resources necessary
(see the material in this edition about
90% of the total deficit. A ‘virtuous
for the population; the regional
the Moura Dubeux brand Beach
circle’ favours the real estate boom
demographic tendency and the
Class option for a “second home” in
that’s occurring in the North East
guarantee of clients in sufficient
Pernambuco).
and whose trend is to consolidate
numbers; the confidence of a good
Other than this, it is estimated that
sustainable numbers over the
return on finances and new lines
nearly 40% of the housing deficit
next few years whilst opening the
of credit create the conditions that
in brazil - around 8 million homes
market to private investment in
the demand require; closing the
- is mostly concentrated in the
the sector. The ‘virtuous circle’
circle, public and private investment
region, which creates conditions for
is illustrated in the diagram and
provide the infrastructure for a
the offering of credit and financial
contains five elements that are
market strong in growth.
recife antigo RECIFE MODERNO 21
22 recife antigo RECIFE MODERNO
especial
Um país chamado nordeste
Investimentos de porte e um mercado consumidor emergente atraem grandes empresas e fazem a região retomar uma vocação histórica: o contato intenso com o mundo Fábio Lucas Fotos e ilustrações: Divulgação
O
Brasil já foi o Nordeste. Pelo menos durante a primeira fase do extrativismo, adotado pelos europeus como forma de compensar os altos investimentos realizados na colônia. A civilização brasileira – tomando o termo na acepção histórica ocidental, na transferência do modo de vida da Europa para o “novo continente” – teve início docemente com os engenhos de açúcar, que fizeram florescer a capitania de Pernambuco. Mais de quatro séculos depois do auge do ciclo da cana-de-açúcar, a disparidade econômica entre as regiões mostra grandes desigualdades sociais. A concentração da riqueza e da população urbana no Centro-Sul contribui para a diminuição da importância de um fato histórico: o Brasil começou no Nordeste. Com a diversificação econômica, o deslocamento do poder central e a modernização industrial, a decadência nordestina foi se impondo quase como consumada. O êxodo de massas de trabalhadores, sobretudo para São
Paulo – incluindo o atual presidente da República –, ajudou a fabricar o estigma de uma região empobrecida. Para piorar, o declínio se associou a uma imagem de “(nor)destino”, como se o futuro do país tivesse sido descolado inteiramente de nosso passado. Hoje a história parece estar sendo refeita. O “boom” na região tem sido não apenas sustentável, como também distribuído por todos os Estados e em diversos ramos da economia. Analistas comparam o Nordeste brasileiro do século 21 ao MeioOeste americano do século 19. Também não faltam analogias com o gigante da China. Mas não é de agora que tal realidade está mudando. O Nordeste sacode a poeira e ergue o olhar para frente após muito tempo de espera e preparação. Nos primeiros anos do novo milênio, o desempenho econômico tem confirmado a tendência de recuperação regional que se esboça há algumas décadas. De acordo com dados da Sudene, entre 1960 e 1999, a participação do PIB per capita do NE no PIB per capita do Brasil passou de 41% para 56%. Nesse período, houve uma profunda modificação na matriz econômica regional. Enquanto em 1960 a agropecuária respondia por 30% do PIB, em 1999 o índice era de 9,7%; os serviços tinham participação de 47% em 1960 e passaram para 64% em 1999. Já em 1998, segundo a Cepal, o PIB nordestino era maior que o da maioria dos países da América Latina e Caribe, com exceção do México e da Argentina. É a partir de 2001 que a expansão ganhou contornos mais nítidos: em sete
anos, o Nordeste cresceu a uma taxa média de 4,2% ao ano, enquanto o Brasil ficou em 2,3%. Pernambuco e a Bahia lideram a retomada, com crescimentos da ordem de 7%. Como ressaltou a revista Exame (edição de 25 de abril), o Nordeste já cresce a um ritmo de países como a Irlanda. E há cidades que já vão com aceleração chinesa, como as pernambucanas Toritama (15%) e Cabo de Santo Agostinho (10%). Em termos práticos, isso demonstra a viabilidade de um mercado consumidor que aos poucos deixa de ser “potencial” e se torna um mercado real. De acordo com estudo divulgado pela consultoria Target, as famílias nordestinas deverão gastar em 2007 cerca de R$ 117 bilhões, mais do que o PIB de um país como o Chile. Segundo o mesmo estudo, nos últimos cinco anos o consumo familiar aumentou 143% no Nordeste e 126% no Brasil. Para se ter uma idéia do fenômeno, basta olhar o aumento relativo ao gasto com automóveis: chegou a variar 330% entre 2002 e 2007.
O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) destina ao Nordeste R$ 7,3 bilhões. O incremento do consumo total nordestino em 2006 foi de 8%, mas há vários casos que superam esse índice. A exemplo de outras empresas que investem cada vez mais na região, a Kimberly-Clark, destaque no segmento de produtos de higiene, tem crescido 16% ao ano no Nordeste. Está colhendo o que plantou: de 1996 a 2005, investiu US$ 450
recife antigo RECIFE MODERNO 23
Os setores de confecção e calçados tiveram significativa ampliação da capacidade de produção
milhões em infra-estrutura e tecnologia. Possui 60 mil pontos-de-venda no Norte e Nordeste, alimentados por um centro de distribuição sediado no Recife. E isso está longe de ser um caso isolado. Em 2006, as vendas da Nestlé no Brasil foram puxadas pelo Nordeste, que registrou um aumento na comercialização dos produtos da empresa de quase o dobro do observado no resto do país. Não foi por acaso que a Nestlé resolveu investir R$ 100 milhões na construção de uma nova fábrica em Feira de Santana, na Bahia. A Perdigão é outra empresa que está aproveitando o momento do Nordeste: cresceu 25% aqui, contra 5% no país inteiro. A diferença também apareceu no setor de calçados. Durante o maior evento da indústria de couro no país, a Couromoda, realizada em São Paulo, o destaque no consumo ficou com o Nordeste, com 12% de crescimento, acima da média nacional. “O Nordeste tem sido observado pelas companhias, principalmente aquelas voltadas para o consumidor final, como uma ilha de crescimento dentro do Brasil”, justificou o professor de estratégia e diretor acadêmico do Ibmec, Sérgio Lazzarini, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo (20.10.2006). A iniciativa privada é um dos motores do novo ciclo. De acordo com estimativas do Banco
24 recife antigo RECIFE MODERNO
do Nordeste, o investimento privado na região saltou de R$ 300 milhões em 2001 para R$ 3 bilhões em 2006. Por sua vez, o governo federal promete injetar, nos próximos anos, recursos que, transformados em obras, certamente vão contribuir para acelerar o crescimento. Somente no setor de transportes, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) destina ao Nordeste a maior fatia de investimentos, R$ 7,3 bilhões. Padrão asiático - Segundo dados do BNDES, a participação do Nordeste no valor adicionado na indústria de transformação subiu de uma média de 9,1% no período de 1995 a 1998 para 10,5% entre 1999 e 2003. Tem mais. A balança comercial regional mostrou uma tendência de superávit em 2003, 2004 e 2005, de US$ 1,80 bilhão, US$ 2,53 bilhões e US$ 4,29 bilhões, respectivamente. Desde 2000, as exportações se acentuaram, tendo alcançado US$ 10,55 bilhões em 2005, um crescimento de 31% em relação a 2004. As importações chegaram a US$ 6,27 bilhões em 2005, um incremento de 13,7% em relação ao ano anterior. “Além de um ambiente internacional mais favorável, o incremento das exportações da região refletiu principalmente as mudanças estruturais apresentadas pela matriz de produção regional nos últimos dez anos, quando a região recebeu grandes investimentos e experimentou significativa ampliação da capacidade de produção em setores que apresentam elevada competitividade internacional, tais como automotivo, petroquímica, celulose e papel, siderurgia, metalurgia, artefatos de couro e calçados, vestuário e confecções, sucroalcooleiro, soja em grãos e derivados, carcinicultura e fruticultura. Pode-se dizer, assim, que os recentes incrementos nas exportações regionais são explicados em grande medida como conseqüência dos investimentos realizados a partir de meados da década de 1990”, escreveu
o economista Tagore Villarim de Siqueira para a Revista do BNDES de junho de 2006. “O crescimento das exportações nordestinas nos últimos cinco anos – mais rápido, inclusive, do que as exportações nacionais – reacendeu a expectativa de que a região poderia se adequar a um padrão de desenvolvimento econômico semelhante ao modelo asiático, no qual o comércio exterior tem papel crucial no fornecimento de insumos e na demanda pelos produtos finais, além de contribuir para a elevação da qualidade, produtividade e investimentos em P&D, influindo diretamente no aumento da competitividade internacional do sistema produtivo doméstico”, sustenta Siqueira. O crescimento da economia em Estados como Pernambuco e Bahia corrobora a comparação, uma vez que a taxa de 7% é compatível com a de países asiáticos, como a Índia e a Tailândia.
Desde 2000, as exportações se acentuaram, tendo alcançado US$ 10,55 bilhões em 2005 E se a inspiração é a Ásia, estudo efetuado pela Secretaria de Planejamento de Pernambuco dá conta de uma área privilegiada para a irradiação do desenvolvimento. A um raio de 800 km do Recife, encontram-se 20 milhões de pessoas que produzem 90% do PIB da região, numa zona onde se localizam 6 capitais, 4 aeroportos internacionais e 5 portos internacionais. Fechando o arco, em um raio de 300 km do Recife, estão 12 milhões de pessoas e 35% do PIB regional, 4 capitais, 2 aeroportos internacionais e 3 aeroportos regionais. Como pólo do crescimento nordestino, Pernambuco pode experimentar uma expansão econômica de 5% ao ano até 2030, triplicando a economia e elevando a sua participação na economia nacional dos atuais 2,7% para cerca de 3,2%. O
prognóstico é da Consultoria Econômica e Planejamento (Ceplan). Para tanto, será preciso enfrentar a forte concorrência por um lugar ao sol na economia global, segundo o professor do Departamento de Economia da UFPE José Carlos Cavalcanti. “Os Estados do Nordeste, que contam hoje com incentivos mais para a competição entre si do que para um jogo cooperativo, tomaram iniciativas próprias que estimularam a atração de novos investimentos, como foi o caso do governo de Pernambuco no período de 1999 a 2002. Na contabilidade geral do crescimento econômico, certamente foram acrescidos durante esse período mais insumos de capital e de trabalho. No entanto, a equação do crescimento econômico é formada tanto por acréscimos de insumos de capital e insumos de trabalho quanto por melhorias na produtividade total destes fatores.” De acordo com José Carlos Cavalcanti, essas melhorias dependem tanto de tecnologia quanto da habilidade e da competência das pessoas envolvidas no processo de produção. E aí está o segredo para a sustentabilidade. “Se nós estivermos empregando tecnologia própria, ou mais barata, e se estivermos educando bem nossa força de trabalho, certamente poderemos pensar num crescimento e num desenvolvimento duradouros”, defende ele.
Habitação: o carro-chefe do novo Nordeste Do resort à casa popular, o afluxo de investimentos nacionais e estrangeiros é um dos fatores que aquecem o mercado imobiliário regional Graças às obras de infra-estrutura e aos investimentos no setor de turismo, a construção civil, que vive um bom momento no país, já contabiliza números surpreendentes do Nordeste. Apenas no Rio Grande do Norte, o aumento do número de empregos formais foi três vezes maior que a média nacional, com a geração de 4,3 mil postos de trabalho. De acordo com o presidente do SindusconRN, Silvio Bezerra, em entrevista ao jornal Valor (20.3.2007), o resultado é fruto, em grande parte, da chegada de novos
resorts e hotéis ao Estado, fenômeno que, segundo ele, se registra em todo o Nordeste, fazendo do turismo um pólo dinâmico da economia regional. O efeito é impressionante. O prognóstico do Anuário de Turismo Exame é de que o Nordeste receba nos próximos cinco anos cerca de R$ 5 bilhões, ou nada menos que 74% do total de investimentos no país. Um exemplo é o empreendimento do grupo espanhol Qualta na Praia de Barreiros (PE). O The Reef Club terá dois hotéis, três pousadas, 4 mil bangalôs, um shopping e um campo de golfe, com investimentos de R$ 800 milhões até 2014. A previsão é que o primeiro hotel do complexo abra as portas em 2009. O empreendimento espanhol no litoral pernambucano ilustra uma tendência de mercado. Para o presidente da Associação Brasileira de Resorts, Alexandre Zubarán, em entrevista publicada em O Estado de S. Paulo (23.4.2007), devem aportar na região cerca de R$ 6 bilhões até 2010, somente na área hoteleira. Entre janeiro e novembro do ano passado, os investimentos estrangeiros em negócios imobiliários no Brasil somaram US$ 1,3 bilhão, segundo dados do Banco Central. O valor representou nada menos que 410% a mais do que em 2005. Uma das explicações para o fenômeno é a expansão da atividade turística no Nordeste, inclusive com a disseminação
da modalidade conhecida como “segunda habitação”, aquela adquirida pelo turista com a finalidade de passar temporadas regulares fora de casa. (Leia matéria nesta edição sobre a marca Beach Class, da Moura Dubeux, opção de “second home” em Pernambuco.) Além disso, estima-se que quase 40% do déficit habitacional brasileiro – cerca de 8 milhões de moradias – estejam concentrados na região, o que colabora para induzir a uma maior oferta de crédito e financiamentos. É algo em torno de 2,8 milhões de unidades habitacionais a serem criadas, sobretudo para as classes de baixa renda, alvo de 90% desse déficit. Um “círculo virtuoso” favorece a explosão imobiliária que ocorre no Nordeste, cuja tendência é se consolidar em números sustentáveis nos próximos anos, abrindo mais o mercado aos investidores do setor. O “círculo virtuoso” está resumido no gráfico, e contém cinco elementos que se articulam para a expansão. O déficit habitacional gera a demanda; a expansão do PIB produz os recursos necessários para a população; a tendência demográfica regional é a garantia de clientes em número suficiente; o retorno da confiança nos financiamentos e de novas linhas de crédito cria as facilidades de que a demanda precisa; e, fechando o círculo, os investimentos públicos e privados dotam de infra-estrutura um mercado em franco crescimento.
recife antigo RECIFE MODERNO 25
artigo
colhe-se o que é plantado É hora de içar as velas e aproveitar o vento nordeste
Q
uem diria que após tantos anos de duras críticas ao coronelismo e à cultura
da cana-de-açúcar fossem eles, Marcos Alencar Fotos: Divulgação
em pleno século XXI, ressurgir como a “tábua de salvação” do desenvolvimento nordestino? O sinônimo de atraso e sucateamento da economia regional, em poucos meses, passa a significar um eldorado, uma mina de ouro, de “ouro verde”, e uma viável solução para o desemprego e a diminuição da miséria nas capitais do Nordeste, principalmente no Recife. É um ciclo que se reinicia, com longevidade. Os pessimistas de plantão dizem que os árabes podem abaixar o preço do “ouro negro”, e assim aplicar um “dumping” nos usineiros, frustrando o ressurgimento do novo ciclo alcooleiro. Mas há um “curinga” do nosso lado: a questão ambiental, que veio para ficar. O mundo não tolera mais as emissões de gás carbônico, o que serve de pilar para sustentação do álcool brasileiro, que é verde e não polui. Pela ótica do mercado de trabalho, são também animadoras as mudanças que estão por vir. O panorama é positivo com ampla geração de empregos diretos e indiretos. Com o aquecimento das usinas e pelo fato de as terras daqui serem acidentadas, sem chance de mecanização, poderá rapidamente
26 recife antigo RECIFE MODERNO
ser invertido o êxodo, passando os
empresas passem a crescer com
na economia regional. Assim
trabalhadores que antes migraram
profissionalismo, investindo na
atenderemos de forma exemplar
em busca de emprego nas capitais
capacitação dos seus empregados,
à demanda mundial, geraremos
do Nordeste a voltar para o interior.
em cursos de aperfeiçoamento,
muitos empregos e sedimentaremos
Os nossos antepassados na história
profissionalizantes, melhoria da
o crescimento da economia, pois
pernambucana passam a ser
qualidade de vida profissional, das
não podemos esquecer que o maior
resgatados.
condições de segurança e medicina
direito do trabalhador é o direito ao
Fazendo uma rápida retrospectiva,
do trabalho, alçando as inúmeras
emprego, que dá fim à miséria e à
em 1914 já funcionavam 56 usinas.
certificações ISO, um panorama que
criminalidade, viabiliza a agregação
Naquela época os engenhos
há muito não se via.
da família e permite todo um
centrais foram fechados ou transformados em usinas. Em 1934, 20 anos depois, apesar da crise dos anos 20, o número de usinas elevou-se a 66, indicando certo dinamismo no processo usineiro. Nesse período de crise, porém, acentuaram-se as disputas entre usineiros, fornecedores de cana e lavradores, levando o governo a criar o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) para disciplinar a agroindústria. Nos últimos 10 anos, a crise chegou ao seu limite. Algumas das mais importantes usinas suspenderam a moagem, isso a partir das safras de 19981999, como ocorreu com a Central Barreiros, a Nossa Senhora de Lourdes e a Santo André, por exemplo.
crescimento social.
Não é esperar demais que agora surjam inúmeros postos de trabalho na agroindústria Portanto, é muito importante que patrões e empregados amadureçam e percebam que um depende do outro; que amenizem a triste história de conflitos desse setor; que encarem essa nova fase como vida nova; e que, com a paz no campo e o intermédio de seus respectivos sindicados, negociem cláusulas justas e equilibradas, pensando no maior objetivo, que é aproveitar os melhores frutos desse novo impulso
Realmente o vento sopra em direção ao Nordeste e temos que içar as velas, aproveitando o bom momento, pois estamos bem politicamente, com o governo estadual alinhado com o federal; com demanda mundial aquecida do principal produto da economia estadual; com o Porto de Suape em plena expansão. Em suma, não é esperar demais que agora surjam inúmeros postos de trabalho
Marcos Alencar é advogado trabalhista.
na agroindústria e que essas recife antigo RECIFE MODERNO 27
soluções
pacote de idéias Entidades pernambucanas lançam propostas de ação para o futuro do Estado Paula Perrelli e Fábio Lucas Fotos: Tânia Collier e divulgação
28 recife antigo RECIFE MODERNO
D
epois de trazer à tona a opinião de alguns dos principais empresários de Pernambuco (RARM edição 13), agora abrimos espaço para os representantes de entidades de classe, com o objetivo de saber o que eles esperam e o que propõem para os próximos quatro anos. São depoimentos que podem servir de base às políticas públicas a serem implementadas pelo novo governo estadual. Nas entrevistas, é unânime a opinião de que Pernambuco deve estar preparado, sob todos os pontos de vista, para
receber investimentos estruturadores, a exemplo da Refinaria Abreu e Lima e do Estaleiro da Camargo Corrêa. Em paralelo a isso, todos demonstraram imensa preocupação com os males trazidos pela insegurança social e pela violência urbana. Segundo as entidades entrevistadas, esses são fatores que exigirão do novo governo um esforço prioritário. A seguir, as reflexões e propostas do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Pernambuco (Sinduscon-PE), da Ordem dos Advogados do Brasil Secção Pernambuco (OAB-PE), da Câmara de Dirigentes Lojistas do Recife (CDL-Recife), da Universidade de Pernambuco (UPE) e do Instituto Antônio Carlos Escobar (Iace).
Sinduscon: propostas estruturadoras Como resultado do ciclo de palestras realizado sobre planejamento, urbanismo e obras estruturadoras na Região Metropolitana do Recife, o Sindicato da Indústria da Construção Civil de Pernambuco elaborou um documento contendo diversas propostas consideradas estratégicas para o futuro do Estado. De acordo com o diretor da entidade, Marcos Dubeux, as ações sugeridas representam a visão do Sinduscon para as linhas estratégicas em direção ao desenvolvimento estadual. No rastro dos grandes investimentos, tomados como conquistas, o desafio agora, segundo o documento, é posto em três planos complementares: a elevação da competitividade, a consagração das vocações econômicas e a plena apropriação das oportunidades geradas. Nesse contexto, algumas ações prioritárias são indicadas pelo Sinduscon: - equilíbrio das contas públicas, com ampliação da capacidade de investimento do Estado; - regionalização do desenvolvimento a partir do fortalecimento dos pólos existentes na Zona da Mata, no Agreste e no Sertão, ao lado de políticas consistentes de atendimento social e complementação da infraestrutura; - integração dos Planos Diretores dos 14 municípios da Região Metropolitana do Recife, visando à retomada do planejamento metropolitano;
- adoção de parcerias públicoprivadas (PPP) para viabilizar e acelerar as obras estruturadoras necessárias ao desenvolvimento do Estado; - busca do adensamento populacional ao longo do eixo do Metrô Recife, dentro de um programa de habitação popular; - mobilização articulada entre os setores públicos e privados no governo federal para concluir a Linha Sul do Metrô Recife; concluir o Sistema Pirapama e retomar o financiamento para o esgotamento sanitário na Zona Sul da RMR; implantar a Ferrovia Transnordestina; garantir o suprimento de gás para o Estado, especialmente em Suape; inserir Suape no Programa Prioritário de Investimentos (PPI) federal; definir o marco regulatório para o saneamento básico, projeto que se encontra em tramitação no Congresso. Além dessas prioridades, o Sinduscon elegeu obras estruturadoras de essencial importância para o setor
Em cima, a sede do Sinduscom e abaixo, sua diretoria
produtivo e a população. Na área de transporte e acessibilidade, foram destacados a Via Metropolitana Sul (que vai da Cabanga à PE-60, passando por Boa Viagem, Piedade, Candeias, Praia do Paiva, Gaibu e Suape); o trecho da Estrada da Batalha entre o Aeroporto dos Guararapes e a BR-101; o alargamento do Viaduto Capitão Temudo; a duplicação da PE-60, de Suape à entrada de Porto de Galinhas; a construção do Elevado do Parque Amorim, sobre a Av. Agamenon Magalhães; e a conclusão da terceira perimetral e da Linha Sul do Metrô. As outras duas áreas que tiveram obras indicadas como prioritárias foram meio ambiente e saneamento básico. A lista do Sinduscon inclui a dragagem e urbanização da Lagoa Olho d’Água, em Jaboatão dos Guararapes; a contenção do avanço do mar no litoral de Jaboatão a Paulista; e a implantação do Parque dos Manguezais, no Recife. recife antigo RECIFE MODERNO 29
Iace: insegurança atinge a todos Para começar a tratar da segurança, os governos devem entender que a questão não se resume à criminalidade. Temas igualmente complexos - a exemplo da educação, saúde, polícia e leis - interferem nos resultados que a sociedade sente em seu dia-a-dia. De acordo com um relatório apresentado pelo Instituto Antônio Carlos Escobar (Iace), nos
praticam os crimes, sabem que a
últimos 25 anos ocorreram 794
impunidade impera. Portanto, não há
mil assassinatos no Brasil. Nesse
nada que os segure”, comenta.
período, houve um crescimento médio anual de 5,6% do número de homicídios para cada 100 mil habitantes. Diante dessa marcha acelerada da violência letal no país, cabe dizer que esse processo endêmico reúne um conjunto de fatores estruturais que alimentam a dinâmica criminal. “O Iace surgiu para protestar contra essa violência que nos tira vidas tão queridas. Temos o apoio de 50 entidades da sociedade civil de Pernambuco e estamos acompanhando as ações do governo para minorar tal problema”, declara a psicanalista Teresa Guimarães Lima, presidente da instituição. Para ela, o descaso com a educação dos
“Hoje é impossível ter orgulho em ser policial” Para Teresa, o sistema prisional deve ser reformulado urgentemente, pois a decisão de misturar detentos de periculosidades distintas dentro do mesmo ambiente pode ocasionar ainda mais problemas. “Somado a isso, percebemos um total despreparo da polícia para lidar com a criminalidade. Além de serem mal remunerados e não receberem incentivos de cargos e carreiras, eles têm medo de voltar fardados para casa. Hoje é impossível ter orgulho em ser policial”, diz. A presidente do IACE
jovens é um fator de peso nessa
clama ao governo do Estado para
dinâmica social. “Sabemos que nem
que assuma com responsabilidade
todos conseguem alcançar o ensino
e zelo a tarefa de promover ações
superior, mas eles nem sequer
efetivas em segurança, uma vez que
têm uma perspectiva de concluir
a conseqüência da insegurança – o
um curso técnico. Já muito cedo,
medo e a violência – atinge a todos
sentem-se abandonados. E quando
os cidadãos, sem distinção.
30 recife antigo RECIFE MODERNO
Em cima, a diretoria do Iace e abaixo, Teresa Guimarães, presidente
recife antigo RECIFE MODERNO 31
OAB: cidadania com autonomia Defensores públicos são profissionais responsáveis por garantir assistência jurídica aos necessitados e conscientizá-los dos seus direitos de cidadãos. Hoje, em Pernambuco, há mais de 80 comarcas sem um defensor público. Embora 135 profissionais exerçam essa função, há 122 cargos vagos. A autonomia financeira da Defensoria Pública como saída para que seus componentes exerçam a função democrática que lhes cabe é o tom do discurso do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Pernambuco (OAB-PE), Jayme Asfora. Para ele, o exercício pleno da cidadania só pode de fato acontecer quando a Defensoria Pública alcançar os direitos constitucionais similares aos do Ministério Público, recebendo o duodécimo para pagar os salários e funcionar a contento. “Uma atuação mais efetiva deste órgão permitiria uma redução dos índices alarmantes da violência que presenciamos hoje, pois garantiria ao cidadão uma composição fraterna e justa dos conflitos judiciais”, acredita. Asfora adianta que o tema violência será
real de combate a esses problemas, contribuindo para que o Executivo dê continuidade a esses papéis”, diz o presidente da OAB. Entre as idéias preliminares estão a implantação total da Lei Maria da Penha, a criação de varas criminais especializadas na mulher, a melhoria das condições de atendimento das delegacias da mulher, o impedimento da superlotação das unidades de internação de menores, a proibição do tráfico de drogas nesses
Em cima, Jayme Asfora, presidente da OAB-PE e abaixo, sua sede
estabelecimentos e o cumprimento absoluto do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
“O momento agora é o de conservar o que já foi feito” reguladoras, a fim de que elas
o mais discutido nesta gestão da OAB, considerando dois enfoques
Além disso, Jayme Asfora acredita
possam fiscalizar o serviço público.”
principais: a violência contra a mulher
que o novo governo deve dar
Como ex-presidente da Agência de
e a ressocialização de crianças e
continuidade aos investimentos
Regulação de Pernambuco (Arpe),
adolescentes infratores.
estruturadores em Pernambuco. “O
Asfora explica que ainda há muito a
“Estamos constituindo comissões
momento agora é o de conservar
amadurecer na relação das agências
de estudos para se aproximar de
o que já foi feito, permitindo
com os serviços essenciais prestados
determinados setores da sociedade
estradas em boas condições de
à sociedade. “Pouco a pouco, a
e traduzir seus anseios. Assim,
trafegabilidade, obras de saneamento
sociedade vai percebendo mais o
poderemos oferecer um material
e o fortalecimento das agências
sentimento de justiça”, projeta.
32 recife antigo RECIFE MODERNO
CDL: mais investimentos, novos negócios Que sugestões propor a um novo governo para garantir a sustentabilidade dos negócios no varejo? A Câmara de Dirigentes Lojistas do Recife (CDL-Recife) tem uma receita especial. Para começar, o presidente da entidade, Sílvio Vasconcelos, crê no desenvolvimento de grandes obras para Pernambuco. “Nossa maior aposta é no crescimento social e econômico que será gerado com os investimentos estruturadores previstos para o Porto de Suape, entre os quais a Refinaria Abreu e Lima. Esse novo ciclo requer uma atenção especial do governo no que diz respeito à capacitação de mãode-obra especializada para atuar nas novas empresas que hão de surgir”, aponta. As conseqüências disso, segundo ele, serão a criação de novos postos de trabalho e a geração de renda, que podem se reverter em consumo de bens e elevação da participação do varejo na economia local. “Isso contribui para o crescimento do comércio e das pequenas empresas no Estado, em especial nos maiores centros, como a capital.” Mas nem só de investimentos em infra-estrutura vive um novo governo. “A adequação da carga tributária que proporcione o crescimento da formalização das empresas é uma reivindicação antiga da classe lojista. As altas taxas de impostos entravam o desenvolvimento econômico e não cumprem seus objetivos constitucionais: prover a sociedade de serviços públicos eficientes e de qualidade”, pondera Sílvio Vasconcelos.
Sílvio Vasconcelos, presidente do CDL-Recife
“As altas taxas de impostos entravam o desenvolvimento econômico” Segundo o empresário, o setor produtivo e as entidades de classe de Pernambuco estão mobilizados na cobrança da reforma tributária, assim como de todas as reformas estruturais (trabalhista e previdenciária) e as que fazem parte da agenda pública do país. “Não podemos esquecer de exigir o reforço do investimento na educação básica, pois temos a visão de que este é o fundamento para uma sociedade saudável, economicamente ativa e próspera. A falta de escolaridade da população inviabiliza as estruturas do desenvolvimento sustentável”, afirma o presidente da CDL-Recife. Vasconcelos acredita que, se realizadas, essas sugestões vão promover o progresso igualitário da sociedade, aperfeiçoando a força histórica do comércio pernambucano à altura das expectativas que rondam os grandes investimentos, proporcionando para o setor “a melhor época dos últimos 50 anos”. recife antigo RECIFE MODERNO 33
UPE: conhecimento é riqueza Carlos Calado é o atual reitor da Universidade de Pernambuco (UPE). Antes de ser eleito para essa função, ele concedeu uma entrevista à revista Recife Antigo, Recife Moderno em relação à educação no Estado. O mais importante, para ele, é “investir em educação de forma racional e objetiva, criando oportunidades para a juventude e alocando recursos para todos os níveis de educação em Pernambuco”, numa formulação que sintetiza o seu pensamento. Segundo Calado, a população normalmente não se dá conta de que a deficiência na educação gera uma nação condenada a comprar conhecimento de quem o tem lá fora. “Isso é muito triste. O
inovações tecnológicas e formar mais profissionais com visão empreendedora.
“Escolas técnicas e centros tecnológicos podem atuar fortemente na formação de mão de obra qualificada”
brasileiro não é menos inteligente que outros povos. Falta-nos a cultura
“Creio que devemos interagir o
do planejamento, implementação
processo formal do ensino de
desse planejamento, avaliação
aprendizagem com a sabedoria
dos resultados, correção das
popular. A universidade, por
deficiências e nova avaliação. Não
exemplo, precisa utilizar melhor
podemos ficar restritos à agricultura,
os projetos de extensão para ir à
criação de animais ou extração
busca do saber popular, a fim de
mineral para produzir riquezas que
enriquecer cada vez mais seu papel
comprem pacotes tecnológicos
social.” Sobre as sugestões para
de outras nações.” De acordo
o futuro governo estadual, o novo
com o seu diagnóstico, do ponto
reitor enfatizou a necessidade de
de vista da educação superior,
se investir na UPE e no Instituto de
pode-se afirmar que existem boas
Tecnologia de Pernambuco (Itep),
universidades em Pernambuco,
objetivando a elaboração de planos
de mão-de-obra qualificada
com cursos de graduação e pós-
de desenvolvimento públicos e
para as novas oportunidades de
graduação de qualidade. No que
privados para Pernambuco. “Escolas
negócios”, diz ele, referindo-se
concerne à pesquisa, no entanto,
técnicas e centros tecnológicos
aos empreendimentos de porte
é preciso fortalecer as patentes de
podem atuar fortemente na formação
anunciados para os próximos anos.
34 recife antigo RECIFE MODERNO
Em cima, o prédio do ITEP e abaixo, Carlos Calado, reitor da UPE
recife antigo RECIFE MODERNO 35
artigo
tendências do mercado imobiliário Os investidores devem ficar atentos à evolução dos projetos estruturadores e à demanda por novas áreas de moradia Mônica Mercês Fotos: Tânia Collier e acervo MD
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sperava-se mais do mercado imobiliário do Grande Recife em 2006. E espera-se muito em 2007. Já há alguns anos a velocidade de vendas dos imóveis residenciais novos, em média, não alcança índices que promovam impactos significativos no mercado. Em 2006, o crescimento das vendas foi de 1,4% se comparado ao desempenho do ano de 2005, em termos de unidades vendidas. Entretanto, se considerada a área privativa comercializada, o panorama muda, apresentando uma redução de 4%. Ou seja, o mercado absorveu mais unidades, porém de tamanhos mais reduzidos, e essa vem sendo sistematicamente a dinâmica nos últimos anos. Mesmo com essas evidências é importante observar que o desempenho do mercado no segundo semestre de 2006, em relação a igual período do ano de 2005, exibiu uma elevação nas vendas de aproximadamente 10%. Tal fato revelou que os negócios no ano passado começaram tardiamente a ter um ritmo mais dinâmico, impedindo, assim, um comportamento mais expressivo no comparativo anual. Essa constatação também valida a afirmação inicial de que se espera muito do ano de 2007, sobretudo se considerada a tese de 36 recife antigo RECIFE MODERNO
que os financiamentos bancários são uma realidade, apesar ainda da pouca prática adotada pelo mercado consumidor do Grande Recife. Outro aspecto em que se aposta, nesse mesmo contexto, é na oferta de unidades já prontas para morar como um forte atrativo para acelerar as vendas utilizando os financiamentos bancários, pois quase 30% dos imóveis em oferta no mercado do Grande Recife estão em acabamento ou prontos, fato esse que exerce, indiscutivelmente, uma influência positiva no momento da compra. Muito se discute e há quem defenda a permanência do modelo
de financiamento direto com o incorporador, ou ainda aquele que adota o regime de condomínios fechados. Porém, na minha opinião, a verdade é simples e não podemos fugir dela: é o consumidor quem vai decidir. Mas para isso é importante que os defensores de uma ou de outra modalidade ofereçam informações consistentes que permitam ao consumidor escolher, de forma segura, a melhor opção de financiamento para a aquisição do imóvel de acordo com a sua realidade. E essa escolha depende, em grande medida, do produto oferecido e da percepção
do consumidor de ter as suas necessidades atendidas. Pode parecer simplório afirmar que os incorporadores / construtores devem entender o consumidor para melhor atendê-lo, mas muitos insistem em desafiar essa simples verdade. Como conseqüência, há depoimentos incrédulos sobre o sucesso de vendas de um determinado empreendimento, às vezes localizado no mesmo bairro, às vezes na mesma rua, de um outro que não consegue emplacar, sendo até cogitado de ser retirado do mercado. Assim, me pergunto: o que será que faz a diferença? Certamente uma conjunção de fatores, todos voltados a atender corretamente o consumidor. E por que isso é tão difícil de ser entendido e praticado? Deixo essa pergunta como reflexão a todos os que sabem que não há espaço para amadores nesse jogo, sobretudo quando o mercado começa a experimentar novos e fortes jogadores, acostumados a correr riscos, mas, diferentemente do que se pensa, riscos calculados e baseados, fundamentalmente, em informações.
O ano de 2007 será de grande janela para os investidores no mercado imobiliário em Pernambuco. Nesse sentido, julgo que a tentativa de prever o comportamento do mercado imobiliário do Grande Recife em 2007 deve considerar, por um lado, a recente história de sua dinâmica e, de outro, os novos cenários econômicos desenhados
para Pernambuco. Baseado nisso, têm-se expectativas de que o bairro de Boa Viagem continue sendo a vedete do mercado por todos os atrativos e infra-estrutura que tem. Entretanto, aposta-se em movimentos imobiliários para outros bairros, localizados na área norte do Recife, e que também oferecem boas infra-estruturas em suas bases. Além dos que já estão usufruindo esses novos movimentos, como é o caso do Rosarinho, Torre e Madalena, especulam-se investimentos mais estruturados em áreas como Campo Grande e Torreão, sem contar algumas outras que extrapolam o município do Recife e que começam a receber empreendimentos do tipo condomínio horizontal para moradia permanente e não só para lazer. Ressalta-se que, de acordo com dados da Prefeitura da Cidade do Recife, em 2006, o volume de aprovações de projetos iniciais para construção volada ao uso residencial superou em 20,2% o volume de 2005, com uma área a ser edificada de 1.223.381 m2 de um total de 1.424.191 m2. Ao montante residencial estão vinculadas 9.939 subunidades que, teoricamente, devem ser introduzidas no mercado
do Recife, nos próximos anos, casos esses projetos sejam licenciados e, de fato, construídos. Tais projetos apontam alguns dos bairros já citados e ainda o Pina, Imbiribeira e Casa Amarela. Acredito ainda que o ano de 2007 será de grande janela para os investidores no mercado imobiliário em Pernambuco, que deverão observar atentos a evolução dos grandes projetos estruturadores e seus desdobramentos em termos de demanda por novas áreas de moradia, como nos arredores de Suape. Isso certamente deverá balizar os planejamentos estratégicos das empresas para os anos finais desta década, quando já se comenta que o mercado estará mais empenhado em moradias para a baixa renda.
Mônica Mercês é economista e Coordenadora da Unidade de Pesquisas Técnicas da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco.
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de pernambuco para o mundo
Na margem do São Francisco, a beleza A fruticultura irrigada puxa o desenvolvimento de Petrolina, metrópole sertaneja com história, riqueza cultural e encantos naturais Joana Rodrigues Fotos: Tânia Collier e divulgação
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ono de um grande território, o Estado de Pernambuco aos poucos se descobriu capaz de expandir suas atividades econômicas e turísticas para além da Região Metropolitana do Recife. Uma das principais provas desse empreendimento é a prosperidade urbana a distantes 714 km da capital, às margens do Rio São Francisco: 38 recife antigo RECIFE MODERNO
Petrolina. O lugarejo, antes conhecido como Passagem de Juazeiro, tornou-se vila em 1870, quando recebeu o nome de Petrolina, uma homenagem ao imperador dom Pedro II. Utilizada por viajantes do norte como porta de entrada para a Bahia e demais Estados do sul, Petrolina cresceu rapidamente até ser reconhecida
como cidade em 1895. Desde então não pára de se desenvolver e já adquire contornos de metrópole, com seus 385 mil habitantes, segundo dados do IBGE (2004), formando com sua cidade vizinha, a baiana Juazeiro, o maior conglomerado populacional do semi-árido. Na verdade, de pouco adiantaria ter muitos habitantes se Petrolina
Ao lado as videiras do semi-árido. No centro a produção de vinho. Em baixo as mangas da região.
também não exibisse um belo parque industrial e um comércio dinâmico. Seria mais uma cidade pobre e superlotada, como tantas outras no Brasil. Mas não é assim. Uma amostra de sua riqueza e vigor econômico pode ser percebida na infra-estrutura do aeroporto da cidade. Segundo dados da Infraero, o Aeroporto de Petrolina tem a segunda maior pista de pouso do Nordeste e capacidade operacional para receber 150 mil passageiros por ano. O que mais impressiona, no entanto, é o terminal de cargas, de dois mil metros quadrados, destinado a armazenar e escoar cerca de um milhão de toneladas de frutas e de outros produtos perecíveis. É precisamente a fruticultura irrigada pelo Rio São Francisco que rende à região ribeirinha o título de maior produtora e exportadora de frutas do país. Mangas, uvas e bananas são exportadas para a União Européia, Japão e Estados Unidos, entre outras localidades. Com negócios tão volumosos e lucrativos em jogo, não é de se espantar que muitos vôos de carga já realizem viagens sem escala para cidades como Miami e Londres. No Brasil, apenas quatro aeroportos podem, legalmente, se transformar em industriais, e o de Petrolina está entre eles. É uma aposta no futuro e um passo à frente na implementação de projetos auto-sustentáveis.
Monteiro Soares, o vinho da região de Petrolina pode ser descrito como jovem, frutado e aromático, além de muito diferente de outros vindos de regiões com latitudes maiores, como Chile e França. “O cultivo da videira na região semi-árida do Nordeste brasileiro, situada entre os paralelos 9 e 10° S, dá às uvas características muito peculiares e exclusivas desta região”, explica José Monteiro. As características de que fala o pesquisador são temperatura amena, com uma média de 26,5°, dias ensolarados, chuvas concentradas em somente quatro meses do ano, solos predominantemente arenosos e de média profundidade e, claro, recursos tecnológicos aptos a irrigar as videiras com a abundante água do Rio São Francisco. Seguida a receita, que já deu certo, são 5 milhões de litros de vinho por ano prontos para a degustação.
Vinhos sertanejos - Outro grande responsável pelo bem-estar econômico da cidade é o vinho. Em pleno semi-árido, o Rio São Francisco ajudou a erguer, com um pouco de incentivo do governo e visão empresarial, uma sólida produção vinícola na região. E não qualquer uma, mas a segunda maior produção do Brasil. De acordo com o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) José
Passeando pela cidade - Além da visita às vinícolas, uma boa dica de passeio para quem busca relaxar em meio às paisagens naturais é uma excursão de barco pelas águas do Velho Chico. O percurso dura em média 5 horas e as barcas vão do cais – na orla de Petrolina – até a Ilha da Amélia, passando pelas Ilhas do Massangano, Maroto e Pantanal. Durante a viagem, o visitante tem direito a muita música, natureza e pausa para um mergulho refrescante. recife antigo RECIFE MODERNO 39
Mas, entre todas as ilhas fluviais, é a do Rodeadouro que merece destaque. Música ao vivo e o tradicional peixe ribeirinho são só um pretexto para conhecer a paisagem de areia fina. Uma parte da ilha fica em Petrolina e a outra, em Juazeiro. Cerca de 40 barracas servem um cardápio à base de peixes típicos do São Francisco, como o dourado e o surubim. Mas se o gosto é outro, por que não procurar uma comida rica em nutrientes e pobre em gordura, como uma típica carne de bode? A busca não seria longa. Há alguns anos Petrolina bolou um “bodódromo” no bairro da Areia Branca e, logo, bares e restaurantes peritos na arte da
culinária caprina se instalaram. Hoje em dia o bodódromo virou ponto turístico e gastronômico indispensável. Tem para todos os gostos, todas as fomes e todos os bolsos. Pratos que vão desde o característico bode assado ao sarapatel, passando pelo carneiro guisado, com preços tão variados quanto R$ 5 ou R$ 20. Já para quem aprecia visitas instrutivas, um passeio pelo Museu do Sertão pode trazer muito conhecimento. São mais de 3 mil peças narrando a história da cultura local, com ênfase nos costumes indígenas e na exibição de objetos pessoais de Virgolino Ferreira, o famoso Lampião. Quem se entusiasmou com a orla fluvial da cidade pode ter esquecido que estava em pleno sertão, terra de cangaço e vida árdua. Terra extremamente católica – e devota de Padre Cícero – que exibe em uma das torres neogóticas da Catedral do Sagrado Coração de Jesus um relógio doado pelo próprio padre. Apesar da religiosidade manifesta, é um símbolo metade homem, metade animal feroz que representa a cidade. A carranca, escultura de barro ou madeira, que, diz a crença popular, espanta os maus espíritos e afugenta os maus presságios, é
conhecida nacionalmente como “arte de Petrolina”. Quem popularizou as carrancas nas casas e no imaginário brasileiro foi uma pernambucana que leva no nome a sua paixão, Ana das Carrancas. Segundo se conta, ela, ainda recémchegada a Petrolina, com dificuldades financeiras e desesperada, pediu a São Francisco e a Padre Cícero, santos de quem era devota, que intercedessem por ela e lhe mostrassem uma forma de ganhar dinheiro. No dia seguinte, foi até o Velho Chico para apanhar o barro que utilizava para fazer panelas quando lhe veio a inspiração de sua vida. Ao ver as carrancas de madeira nas proas dos barcos, encantou-se. Fez ali mesmo sua primeira carranca, ainda com proporções menores. Hoje existe um local especial que abriga obras da artesã: o Centro de Artes Ana das Carrancas. Nele são realizadas atividades culturais e pode-se observar detalhadamente boa parte das obras da escultora. É uma oportunidade única de entrar no universo artístico daquela que é conhecida internacionalmente por suas esculturas de barro. SERVIÇO Petrolina Palace Hotel Av. Cardoso de Sá, 845 (Orla I) Fone: (87) 3862.1555
Ao lado uma carranca de madeira. Abaixo a Av. Beira Rio.
JB Hotel R. Olímpio Virgínio, 88 Fone: (87) 2101.3777 Museu do Sertão R. Esmelinda Brandão Fone: (87) 3862.1943 Centro de Cultura Ana das Carrancas BR-407, 500 - Cohab Massangano Fones: (87) 3863.0030 / (87) 3031.4399 Bodódromo Av. São Francisco
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da pernambuco al mondo
ai margini del San Francesco, la bellezza La frutticoltura irrigata attira lo sviluppo di Petrolina, metropoli “sertaneja” con la sua storia, ricchezza culturale e meraviglie naturali
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roprietario di un grande territorio, lo Stato di Pernembuco a poco a poco si scopre capace di espandere le proprie attività economiche e turistiche fin oltre la zona metropolitana di Recife. Una delle principali prove di questa attività è la prosperità urbana a 714 km dalla capitale, ai margini del fiume San Francesco:Petrolina. L’abitato, prima conosciuto come Passaggio di Juazeiro, è diventato un paesino nel 1870, quando ha ricevuto il nome di Petrolina, in omaggio all’Imperatore Don Pedro II. Utilizzata dai viaggiatori del nord come porta d’entrata per Bahia egli altri stati del sud, Petrolina è cresciuta rapidamente sino ad essere finalmente riconosciuta come città del 1895. Da allora non ha smesso di svilupparsi ed ha già acquisito caratteristiche di una metropoli con i suoi 385.000 abitanti, secondo i dati dell’IBGE (2004), formando insieme alla città vicina, la bahiana Juazeiro, il maggior conglomerato di popolazione del semi-arido. In realtà a poco servirebbe avere tanti abitanti se Petrolina non avesse anche un bel parco industriale ed un commercio dinamico. Sarebbe solo un’altra tra le tante città povere e sovrappopolate del Brasile. Non è così. Un esempio della sua ricchezza e vigore economico si può percepire nell’infrastruttura dell’aeroporto della città. Secondo i dati dell’Infraereo, l’aeroporto di Petrolina ha la seconda maggiore pista di atterraggio del Nordest e la capacità operazionale di ricevere 150.000 passeggeri all’anno. Ma ciò che più impressiona, è il terminale di merci di 2.000 metri quadrati, destinati ad immagazzinare e smistare circa un milione di tonnellate di frutta e altri prodotti deperibili. Ed è proprio la frutticoltura irrigata dal Rio San Francesco che conferisce alla regione fluviale il titolo di maggior produttrice ed esportatrice di frutta del paese. Mango, uva, banane sono esportate verso l’Unione Europea, Giappone e Stati Uniti, tra le altre località. Con affari talmente voluminosi e lucrativi in gioco, non bisogna stupirsi del fatto che molti voli di merci già ora realizzino viaggi senza scala per città come Miami e Londra. In Brasile, solamente quattro aeroporti possono, legalmente, trasformarsi in industrie e quello di Petrolina è uno di loro. Si tratta di una scommessa per il futuro e un passo in avanti nella realizzazione di progetti auto-sostenibili. Vini sertaneji - Un altro grande responsabile per il benessere economico di Petrolina è il vino. In pieno territorio semi-arido, il fiume San Francesco, con un piccolo incentivo del governo e una prospettiva imprenditoriale, ha contribuito all’emergere di una solida produzione viticola nella città e nelle aree circostanti. E non si tratta di una produzione qualsiasi, ma della seconda maggior produzione in Brasile.
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Secondo il ricercatore dell’Impresa Brasiliana di Ricerca Agropecuaria (Embrapa), José Monteiro Soares, il vino prodotto nella regione di Petrolina può essere descritto come giovane, fruttoso e aromatico, e anche molto diverso da altri vini provenienti da regioni con latitudini maggiori come il Cile e l’Argentina. “La coltivazione della vite nella regione semi-arida del Nordest brasiliano, è situata tra i paralleli 9° e 10° S, dove la produzione di uva acquisisce caratteristiche molto peculiari ed esclusive di questa regione”, spiega José Monteiro. Le caratteristiche di cui parla il ricercatore sono la temperatura amena, con una media di 26,5°, giorni di sole, piogge concentrate in soli quattro mesi dell’anno, suoli generalmente arenosi e di media profondità e, ovviamente, risorse tecnologiche adatte ad irrigare i vigneti con abbondante acqua del fiume San Francesco. Seguendo la ricetta che ha già avuto successo, sono 5 milioni di litri di vino all’anno, pronti per la degustazione. Passeggiando per la città - Oltre alla visita ai vigneti, una buona indicazione per una gita per quanti cercano il relax nel paesaggio naturale è un’escursione in barca per le acque del vecchio “Chico”. Il percorso dura in media 5 ore e le barche vanno dal molo -nella costa di Petrolinafino all’isola di Amelia, passando per le isole di Massangano, Maroto, e Pantanal. Durante il viaggio, il visitante ha diritto a musica, natura e una pausa per un bagno rinfrescante. Ma tra tutte le isole fluviali, quella che merita un attenzione particolare è Rodeadouro. Musica dal vivo ed il tradizionale pesce del fiume sono solo il pretesto per conoscere il paesaggio dalla sabbia così fina. Una parte dell’isola si trova a Petrolina, e l’altra a Juazeiro. Circa 40 piccoli bar servono un menu a base di pesci tipici del San Francesco, come il “Dourado” e il “Surubim”. Ma se il palato è un altro, perché non cercare una pietanza ricca in elementi nutritivi e povera
in grassi come una tipica carne di capra? La ricerca non sarebbe lunga. Da alcuni anni Petrolina ha organizzato un “caprodromo” nel quartiere di Areia Branca, e presto, bar e ristoranti periti nell’arte culinaria caprina sono arrivati. Oggigiorno il Bododromo è divenuto un punto turistico e gastronomico indispensabile. Ce n’è per tutti i gusti, tutti i tipi di fame e per tutte le tasche. Piatti che vanno dalla caratteristica capra arrosto al sanguinaccio, passando per lo stufato di agnello, con prezzi tanto vari quanto 5 o 20 reali. Per chi invece apprezza visite istruttive, una gita al Museo del Sertão può offrire nuovi saperi. Sono più di 3.000 oggetti che narrano la storia della cultura locale, con enfasi nei costumi indigeni e nell’esibizione di oggetti personali di Virgolino Ferriera, il famoso Lampião. Chi si fosse entusiasmato con la costa fluviale della città potrebbe essersi dimenticato che si trovava in pieno Sertão , terra del cangaço e dell’ardua vita. Terra estremamente cattoilica –e devota del Prete Cicero- che esibisce in una delle torri neogotiche della Cattedrale del Sacro Cuore di Gesù un orologio donato dallo stesso prete. Nonostante la religiosità manifesta, è un simbolo per metà uomo e per metà bestia che rappresenta la città. La scultura in creta o legno, che secondo la credenza popolare, spaventa gli spiriti malvagi ed allontana i cattivi presagi, è conosciuta a livello nazionale come “arte di Petrolina”. Colei che ha popolarizzato le carrancas (delle facce che fanno smorfie) nelle case e nell’immaginario brasiliano è stata una pernambucana che porta il nome della sua passione, Ana das Carrancas. Secondo quanto racconta era appena arrivata a Petrolina quando, con difficoltà economiche e disperata chiese a San Francesco e al Prete Cicero, santi di cui era devota, che intercedessero per lei e le mostrassero un modo di guadagnare soldi. Il giorno dopo andò al vecchio Chico per raccogliere la creta che utilizzava per fare pentole quando le venne l’ispirazione della sua vita. Al vedere le facce di legno nelle prue delle barche, rimase incantata. E lì stesso fece la sua prima carranca , questa con proporzioni ancora minori. Oggi esiste un locale specifico che ospita le opere dell’artigiana: è il Centro di Arti Ana das Carrancas. Qui vengono realizzate attività culturali e vi si possono osservare dettagliatamente buona parte delle opere della scultrice. È un’opportunità unica di entrare nell’universo artistico di colei che è conosciuta internazionalmente per le sue sculture in creta.
ANÚNCIO NORDESTE
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responsabilidade
cidadania contra a exclusão Fazer cada um a sua parte, para o bem comum, é a filosofia de projetos de inclusão originados da própria sociedade Júlia Nogueira de Almeida Fotos: Divulgação/Agência Lumiar
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á alguns anos, diversas praças do Recife começavam a ser transformadas com simples serviços de manutenção: pintura, cercamento e recuperação de jardins. Os mais atentos devem se lembrar. Justamente nesse período se iniciava uma mudança quase silenciosa no jeito de enxergar a cidade e cuidar dela. Recantos e pracinhas de bairro esquecidos ou malcuidados reapareceram. Os jardins foram recuperados e, junto com eles, foi resgatado o costume de freqüentar esses espaços – gratuitos e, por isso mesmo, essencialmente democráticos. Tal mudança teve um nome: “Adote uma Praça”. O título do projeto, que fala por si, era um convite às empresas recifenses para que colaborassem com a revitalização do patrimônio público, contribuindo para o embelezamento da cidade e a recuperação de praças - algumas situadas em bairros nobres do Recife. A construtora Moura Dubeux integra o grupo de empresas da iniciativa privada que foram pioneiras no apoio ao projeto. Essa iniciativa foi a raiz de algo que, em poucos anos, cresceu e
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tornou-se um vigoroso instrumento de inclusão. Surgia ali, em âmbito local, uma prática da cidadania que promove ações de parceria dentro do conceito de responsabilidade social. Mas, afinal, o que é isso? E como funciona? Segundo a superintendente do Instituto Ação Empresarial pela Cidadania em Pernambuco (IaecPE), Susana Leal, a responsabilidade social expressa compromissos que
vão além das obrigações legais das empresas, como o cumprimento das leis trabalhistas, tributárias, sociais e ambientais. “Cidadania é o encontro entre o projeto social do indivíduo, na conquista dos seus direitos perante a sociedade, com o projeto social da coletividade, no cumprimento dos deveres individuais de cada um em prol da sociedade como um todo”, diz. Esse conceito expressa a adoção e a difusão de valores, condutas e procedimentos que, além de induzir e estimular o contínuo aperfeiçoamento dos processos empresariais resultam em preservação e melhoria da qualidade de vida da comunidade, do ponto de vista ético, humano, social e ambiental. O que eles têm em comum é o encontro dos interesses individuais, ou da empresa, com os
Susana Leal comanda o Ação Empresarial pela Cidadania em PE
interesses da sociedade, visando à promoção do bem comum. A partir desta edição, Recife Antigo Recife Moderno traz uma nova seção: Ação Social. Como o nome já diz, o espaço pretende lançar luz sobre as múltiplas formas encontradas pela iniciativa privada e a sociedade civil na busca pela construção de uma realidade melhor, mais justa e equilibrada, compartilhando responsabilidades e multiplicando resultados. Vai mostrar pequenas atitudes capazes de gerar grandes oportunidades e, ainda, contar histórias de quem, sozinho ou acompanhado, não consegue ficar de braços cruzados esperando um milagre acontecer. Da teoria à prática - O fato é que nunca a responsabilidade social rendeu tantos frutos e foi tão levada à prática como hoje. Boa parte das pessoas – e das empresas - já incorporou aos seus hábitos o ato de se solidarizar com o próximo, de ajudar, indo além da caridade pura e simples, olhando mais longe que os próprios negócios e interesses. O que mais chama atenção nesse novo item do código de costumes contemporâneo é que, diferentemente do que se possa supor, os gestos em benefício dos menos favorecidos não são exclusivos das classes sociais mais elevadas. Ao contrário, estão presentes em diversas camadas da sociedade. Por outro lado, o que não falta são exemplos de responsabilidade social no mundo corporativo. No Brasil, os primeiros registros datam da década de 1960, com o surgimento de associações empresariais vinculadas a instituições religiosas, embora ainda de caráter filantrópico
e paternalista. Nessa época, a discussão girava em torno de três temas: a postura ética da empresa, a conduta do empregador para com seus empregados e o apoio dos empresários à cultura, às causas filantrópicas e à defesa da moralidade. A partir dos anos 1970, a responsabilidade social deixou de ser simples curiosidade e transformouse numa tendência na gestão estratégica das empresas. Da década de 1990 para cá, o assunto tomou novo impulso e hoje o Brasil é referência mundial nesta temática, com o movimento em franca expansão. A cada dia surgem novas empresas ou grupos de pessoas querendo participar. E as iniciativas têm sido cada vez mais organizadas, profissionalizadas, ou mais que isso: as empresas começam a despertar para a importância de definir uma rota, um caminho, adotando um modelo ou programa sistematizado de ações a seguir. Toda essa efervescência pode ser traduzida pelo Investimento Social Privado (ISP), que trata da criação de fundos para os quais é feito um repasse voluntário de recursos
privados, de forma planejada, monitorada e sistemática. Os recursos são investidos em projetos sociais de interesse público. É um tipo de investimento normalmente feito a longo prazo, com um grande potencial de transformação social. Nos últimos anos, o empresariado brasileiro, e de Pernambuco em especial, tem percebido a relevância estratégica de investir no social. Ser uma empresa cujas preocupações vão além do lucro tornou-se um diferencial competitivo. E muita gente já aprendeu a lição. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontam que 70% das empresas brasileiras realizam algum tipo de ação social – embora a maioria ainda opte pela filantropia. Na última pesquisa do Ipea sobre ação social das empresas, realizada em 2003/2004, Pernambuco aparece como o segundo Estado brasileiro que mais cresceu nesse campo, ultrapassando a média brasileira e chegando aos 73% de participação. Apesar dos avanços, segundo Susana Leal, o retorno social esperado ainda está distante e só será possível se houver uma ampla
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articulação entre os três setores – empresas, sociedade civil e governo – em prol do desenvolvimento sustentável. A elevação do engajamento das empresas pernambucanas na área da responsabilidade social (que não tem mais que uma década) é gradativa e visível. Um exemplo dessa transformação é o banco de práticas das 75 empresas associadas ao Instituto Ação Empresarial pela Cidadania. A Moura Dubeux faz parte dessa história. “A construtora está em franco desenvolvimento de suas ações de responsabilidade social, além de ocupar uma importante função de exemplo como empresa líder no setor da construção civil. A iniciativa de apoiar a disseminação do tema da responsabilidade através de sua revista e o apoio às atividades do Instituto Ação Empresarial pela Cidadania são amostras do exercício dessa liderança”, afirma Susana Leal. Para Susana, o planejamento deve ser a tônica das empresas que querem seguir o caminho, propondo soluções duradouras para os problemas sociais. “Todo e qualquer investimento feito no setor empresarial tem como foco resultados mensuráveis, e o mesmo deve acontecer em relação aos projetos e investimentos sociais das empresas. Resultados efetivos só são alcançados com um bom planejamento, monitoramento e alcance das metas estabelecidas”, diz. Para ela, ações pulverizadas – aqui e acolá – podem ajudar, mas não rendem resultados duradouros, em termos de transformação social. “Gestos pontuais e desarticulados podem até alcançar resultados imediatos, mas não permanecem. Conseqüentemente, não conquistam o reconhecimento da sociedade”, aponta.
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RUMO À CERTIFICAÇÃO SOCIAL Enquanto não chega a “ISO 21.000”, denominação provisória para a certificação internacional de responsabilidade social, em processo de estudo e que vai se incorporar às demais normas internacionais para o sistema de gestão (como ISO 9.000 e 14.000), as empresas devem seguir os passos sugeridos por entidades como o Instituto Ação Empresarial pela Cidadania, desenvolver ações em parceria com a comunidade e apoiar projetos de interesse público, como faz a Moura Dubeux, que aguarda a definição do novo selo para integrá-lo ao seu sistema de gestão. É possível ainda se inscrever para obter um certificado SA 8.000, uma norma abrangente, global e de fácil verificação para comprovar o cumprimento de responsabilidade corporativa. Aplicável tanto a pequenas quanto a grandes empresas, a SA 8.000 mostra que os direitos humanos básicos são garantidos em todos os ambientes de trabalho. O selo é emitido por um organismo independente e o certificado garante aos consumidores que foram implementados os processos internos necessários que asseguram os direitos fundamentais aos funcionários da empresa.
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A responsabilidade colhe frutos - Apesar de o conceito de responsabilidade social não ser algo exatamente inédito para os brasileiros (afinal, estamos falando de algo que teve início na década de 1960), ainda é recente. Por isso não é raro encontrar quem ainda confunda responsabilidade social com filantropia. E é importantíssimo saber distinguir as duas coisas. Na realidade, existem muitos conceitos gravitando em torno da responsabilidade social e há um certo mal-entendido a respeito. Diferentemente de tudo o que já foi dito sobre responsabilidade social e cidadania empresarial, a filantropia tem um caráter assistencial e, em geral, atende pontualmente a uma necessidade. É uma ajuda instantânea, que não planta sementes e não rende frutos em longo prazo. Na maioria dos casos, a filantropia cria dependência, em vez de promover o desenvolvimento e a independência social. “A confusão de conceitos vem da tradição e da aceitação dos conceitos de caridade e assistência social em contraposição à visão inovadora da responsabilidade social e do investimento social privado. Muitos não compreendem o novo e preferem permanecer naquilo que já conhecem”, explica Susana. “Não queremos dizer com isso que a filantropia e a assistência social não ocupem um papel fundamental em situações emergenciais. E também não significa que seja mais fácil prestar assistência do que investir no desenvolvimento social. Tudo depende da situação social em que se encontra a comunidade onde se pretende intervir.”
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Saiba mais sobre responsabilidade social - Empresas socialmente responsáveis são aquelas que definem sua gestão pela relação ética e transparente com todos os públicos com os quais se relaciona, bem como pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais. - O Instituto Ação Empresarial pela Cidadania em Pernambuco surgiu em 1999 e tem 75 associados. A meta é chegar a 100 empresas até o final do ano. O Ação é um dos fundadores da Rede Ação Empresarial pela Cidadania do Brasil, formada por 14 núcleos de disseminação da responsabilidade social, e do Investimento Social Privado (ISP). O Iaec-PE atua nas empresas a partir de três linhas: 1 - sensibilização e mobilização: seminários, fóruns e palestras para estimular a adesão de colaboradores e empresários à prática da cidadania empresarial; divulgação de boas práticas empresariais; produção e disseminação de informações e conteúdos, além da divulgação na mídia local; 2 - apoio e capacitação: suporte técnico para direcionar o investimento social da empresa, cursos e oficinas para apoiar a formação de lideranças e executivos em responsabilidade social empresarial, espaços para relacionamento e troca de experiências entre as empresas, ONGs e governo; 3 - articulação política: contribuição técnica em prêmios e comitês de entidades empresariais, da sociedade civil e do setor público sobre o tema, estímulo à participação do setor privado no desenvolvimento de iniciativas sociais intersetoriais e participação em redes e conselhos intersetoriais para proposição de ações comuns que contemplem a atuação do segmento empresarial no âmbito social.
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gastronomia
o sabor da tradição Opções na Zona Sul destacam pratos da culinária tradicional preparados com requinte e simplicidade
1. Carne de cordeiro é uma das especialidades da cozinha francesa e foi nos três anos que passou estudando na Escola Superior de Gastronomia de Paris que o chef Joca Pontes, do Ponte Nova, tirou a inspiração para o seu agneau (ou cordeiro, em português). A preparação chama atenção pelos detalhes. De início, a carne é cozida por quatro horas, desfiada e prensada em uma terrina. Em seguida, vai à geladeira por
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4 dias e, finalmente, é cuidadosamente grelhada. O cordeiro prensado e grelhado é servido com costelinhas inteiras, tudo ao molho marengo – que, entre outros ingredientes, tem mostarda dijon, tomate, molho curry e tempero sírio. Acompanha cuscuz marroquino e batata palha. 2. Prato típico do cardápio italiano, o ravióli exige dois cuidados especiais na preparação: uma massa com boa
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consistência e molho que faça um balanço harmonioso entre os sabores. No caso do ravióli com espinafre e ricota do restaurante Paesano, isso não é nem de longe um problema. O prato é feito com massa caseira e o molho, na manteiga aromatizada. O parmesão dá o toque final. É um dos carros-chefes da casa, que abriu em dezembro de 2006. Amantes da boa massa e vegetarianos, vale a pena experimentar.
3. Uma das muitas especialidades
Acompanha maionese de batata, que,
tradicional paella valenciana. Com
do bar e restaurante Boteco é reviver
segundo o chef, é feita com rodelas
lugar certo entre os pratos mais
a tradição da boa gastronomia.
de batata “nem tão grossas, nem tão
apreciados da culinária espanhola,
E um ótimo exemplo disso é o
finas”, além de salsinha, cebola e
a paella conquista admiradores
camarão Costa do Sol. No preparo,
pimenta-do-reino. O prato serve duas
pelo sabor forte e pela variedade
simplicidade. Os camarões do tipo
pessoas.
de ingredientes. Frango em cubos,
rosa são temperados com limão,
lingüiça toscana, camarão, mexilhão
sal e pimenta, passados no trigo e
4. A grande inspiração do cardápio
e lula são misturados ao risoto
levados à frigideira, onde são assados
do restaurante Monalisa é a cozinha
com açafrão, proporcionando uma
na manteiga e com alho crocante.
mediterrânea e o destaque, a
combinação perfeita.
Serviço:
Boteco Av. Boa Viagem, 1660 - Boa Viagem Tel.: (81) 3325.1428
Ponte Nova Rua Bruno Veloso, 528 - Boa Viagem Tel.: (81) 3327.7226 Paesano Rua Des. João Paes, 184 - Boa Viagem Tel.: (81) 3325.0156
Monalisa Av. Engenheiro Domingos Ferreira, 467 - Pina Tel.: (81) 3464.2250
recife antigo RECIFE MODERNO 51
estilo de vida
52 recife antigo RECIFE MODERNO
um coração que não pára O cardiologista Hilton Chaves vai presidir em agosto o Congresso Brasileiro de Hipertensão Roberta Jungmann Fotos: Tânia Collier
“
A falta de tempo é desculpa dos que perdem tempo por falta de método.’’ Essa é a frase preferida do médico cardiologista Hilton Chaves, que se confessa um apaixonado pela vida, pela música e pela medicina. Desde criança, com 5 anos, ao fazer “operações” nas bonecas das irmãs, sabia que tratar do ser humano seria o seu destino. Primo em segundo grau do cientista Nelson Chaves, Hilton começou a tornar seu sonho realidade ao sair do Marista, no anos 70, e ingressar na Faculdade de Medicina da UFPE. Em 1980 formou-se, fez residência e logo ganhou o mundo em função da carreira médica. Como bolsista do Conselho Britânico, passou dois anos em Londres e, assim que saiu da faculdade, passou no concurso de professor. Lecionar, uma de suas tantas paixões, caminha lado a lado com o estudo e o exercício da medicina. No imenso currículo destacamos o mestrado em doenças infecciosas e o doutorado em cardiologia pelo Incor (USP), onde defendeu tese orientada pelo presidente da Academia Brasileira de Ciências, o renomado Eduardo Krieger. Desde então, é sempre convidado para integrar
bancas de tese em todos os Estados do Brasil e até em outros países. O cardiologista Hilton Chaves, também engajado nas causas sociais, foi o criador do Dia Nacional de Prevenção à Hipertensão, que virou lei em 26 de abril de 2003 e lhe rendeu uma simpática entrevista no programa de Jô Soares. Junto com o Sesi, fez também levantamento que traçou o perfil da saúde do trabalhador brasileiro. Sua grande missão, agora, é presidir
o 15º Congresso Brasileiro de Hipertensão, em agosto, no Centro de Convenções, que reunirá dois mil participantes brasileiros, além de vários convidados do exterior. Mas a vida desse apaixonado pela medicina não é só trabalho. Casado há 25 anos com Ana Lúcia, tem três filhas: Mirella (24), Maria Eduarda (20) e a temporã Maria Luiza, com apenas 10 anos. O pisciano Hilton Chaves adora cantar, tocar violão, andar de bicicleta, esportes, carnaval
recife antigo RECIFE MODERNO 53
e não dispensa um vinho tinto e um uisquezinho em ocasiões especiais. Mas o coração de Hilton bate mesmo pelo bairro de Casa Forte, onde nasceu. E, ao olhar o Sítio das Águas, no Poço da Panela, com casarões tombados e o baobá na calçada, não teve dúvidas de que ali seria o lugar onde queria morar. Faz questão de dizer que a maneira como foi tratado na Moura Dubeux tornou-se ponto decisivo para optar por este novo apartamento, que está habitando desde o início deste ano. Apesar de estar ainda “bobo” com o seu novo apê, foi em seu consultório, na Boa Vista, que ele nos recebeu para este bate-bola. Eu sou: “Uma pessoa bem resolvida, apaixonado pela vida e sincero”. Ser médico é: “Ser honesto com o outro e dedicado”. Meu maior bem: “Minhas filhas, Mirella, Maria Eduarda e Maria Luiza”. O melhor remédio para os males da alma: “Ter os pés no chão. Quanto mais se fantasia, mais se sofre”. Férias ideais: “Em Praga ou Paris”. Sempre me dou ao luxo de: “Ser gente. Chorar, por exemplo”. Um presente inesquecível: “O primeiro violão, que ganhei num sorteio”. Sempre esqueço: “De canetas. Perco todas”. Nunca esqueço: “Dos menos favorecidos. Como optei por fazer medicina, tenho obrigação de não esquecê-los”. 54 recife antigo RECIFE MODERNO
Para relaxar: “Uma boa sauna e massagem”. Lugar para morar: “Casa Forte, o Morumbi do Recife”. Minha casa é: “Onde eu me sinto bem”. Nela não pode faltar: “Móveis da Desiderato e boas conversas”.
Chaves, o primeiro a falar de desnutrição no Nordeste, e minha psicanalista, Lenice Sales”. Um profissional de saúde é: “Aquele que aprendeu a escutar e não simplesmente a ouvir o paciente”. E um bom paciente: “Não existem maus pacientes. Nós é que temos obrigação de ser bons médicos”.
Um ritmo: “Sempre MPB”.
Para ter sempre uma pressão 12x8: “Beber com moderação, se manter no peso ideal, jogar o saleiro fora e fazer exercícios”.
Comida que faz esquecer o colesterol: “Ravióli”.
Que nota dá ao pólo médico de PE: “9”.
Um lugar em Pernambuco: “Oficina Brennand”.
Saúde pública: “Tem cura, desde que ande junto com os projetos de educação”.
Meu cantinho favorito: “Meu quarto de estudos”.
O que faz bem ao coração: “Ser emoção 24 horas”. Religião para mim: “É vida. Sou católico”. Paixão incontrolável: “Cantar. Quando pego o microfone, não largo mais”. Time do coração: “Náutico”. Um destaque na medicina: “Nelson
Plano de saúde: “Infelizmente inevitável no Brasil”. Um conselho: “Nunca deixe de ter um sonho para correr atrás”. Ter um Moura Dubeux é: “Acima de tudo, qualidade de vida. Ter um apartamento MD, como o meu, é poder aliar o prazer ecológico com alto padrão de qualidade de construção”.
recife antigo RECIFE MODERNO 55
do mundo para pernambuco
viagem ao topo do mundo
H
á dois anos minha Mãe,
minha Irmã e eu resolvemos fazer uma viagem pelo Sul
da Ásia. Ao elaborarmos o roteiro, com um grande mapa-múndi aberto, resolvemos incluir o Nepal. Ora,
Sobrevoar o Monte Everest é uma experiência fascinante e inesquecível, feita com segurança e conforto a partir de Kathmandu
estaríamos ao lado da Cordilheira do Himalaia, por que não incluí-lo? É um dos países mais pobres do mundo, tendo como base a agricultura e o turismo, de religião 90% hinduísta e o restante budista, muçulmana ou católica. Os
Verônica Machado Fotos: Acervo pessoal e divulgação
nepaleses dependem da Índia e da China, tanto na exportação quanto na importação de produtos. O turismo se destaca graças à Cordilheira do Himalaia, onde estão oito dos dez mais altos picos do planeta, um paraíso para os aventureiros. Dispensando comentários, o mais alto deles, com 8.850 metros, é o Everest - Sagarmatha para os
56 recife antigo RECIFE MODERNO
Monte Everest (8844m) e Monte Lhotse (8516m)
Nepaleses, a deusa-mãe da Terra.
exótica, sim, mas com infra-estrutura.
pessoa é cremada como veio ao
Chegamos a Kathmandu no dia 22
Por indicação do guia local
mundo, coberta por dois mantos,
de dezembro e ficamos até o dia
decidimos fazer o sobrevôo ao
um branco e outro alaranjado, à
26, comemorando o Natal entre
Himalaia, junto com outros turistas.
beira do Bagmati, o rio sagrado de
hinduístas e budistas. Kathmandu é
O passeio é regular, sempre pela
Kathmandu. Apenas os filhos homens
uma cidade de arquitetura simples
manhã, até 1 hora da tarde, com
podem acompanhar a cerimônia
e que ressalta uma característica do
partida da capital, Kathmandu. Minha
inteira. Todos os filhos têm que se
povo nepalês: o trabalho manual. As
mãe quase não embarca. Ela não
banhar no rio sagrado, não importa
esquadrias de janelas e portas de
gosta de voar e nesse dia havia muita
a temperatura que esteja na hora.
madeira são entalhadas com detalhes
névoa, a visibilidade era baixíssima.
O filho mais velho dá três voltas em
extremamente delicados. Cada
Quase não enxergávamos o outro
torno do local onde está o corpo. Não
entalhe tem um formato diferente.
lado da rua.
é uma sensação agradável visualizar
O Dwarika, hotel onde ficamos, é
Por causa da névoa, fomos visitar
uma pessoa querida ser cremada
todo de tijolo aparente, portas e
mais cedo o templo hinduísta de
na sua frente. O fogo começa pela
janelas de madeira com os famosos
Pashupatinath, e uma das cerimônias
boca, com uma mistura de leite e
entalhes, sem exceção, trabalhados
a que assistimos foi a de cremação
um combustível. Alguns familiares
cada um diferente do outro. A oferta
de corpos. A primeira idéia que temos
preferem que aconteça na beirada
de serviços do hotel é excelente,
é de algo chocante, mas pensando
do rio, outros preferem em altares,
não fica a dever nada a nenhum
bem é muito mais higiênico do que
jogando depois as cinzas na água.
outro cinco estrelas. É uma aventura
nosso velório e sepultamento. A
Em seguida fomos ao aeroporto e
Detalhes das janelas do Templo da Living Godess Kumari Ghar, Kathmandu. E o ritual/benção na Swoyambunath
recife antigo RECIFE MODERNO 57
À esquerda, sobrevôo à Cordilheira do Himalaya. No centro, aeronave da companhia Buddha Air que opera o vôo. E à direita uma criança budista, após prece e benção
embarcamos em uma companhia
montanhas. Até que a comissária
local, que faz linhas regionais e
chega e avisa: “Aquele ali é o Monte
turísticas, para o sobrevôo ao
Everest”, com a simplicidade de
Himalaia. Tudo profissional: o
quem vê o extraordinário todos os
cartão de embarque é igual ao dos
dias. Com o coração disparado
vôos comerciais, e a segurança é
de emoção, falei para mamãe e
a mesma, dentro de um aeroporto
Gabriela: “Vocês têm noção de onde
Foi um presente de Natal, uma
do tamanho do nosso no Recife. Ao
nós estamos?” Assim passamos
grande surpresa, pois o sobrevôo
decolarmos, o sol nos ajudando e
pelo topo do mundo, com um
não estava, como disse, no nosso
dissipando a névoa, vimos o paredão
visual incrível, olhando para o lugar
roteiro original. Há passeios para
de montanhas, todas com picos
cuja escalada muitas pessoas
o sul visitando o Annapurnas e o
nevados. Surpreendentemente, no
consideram uma conquista de vida,
Dhaulagiri, montanhas localizadas
entanto, encontramos pouca neve.
na superação da capacidade física,
no lado oposto ao Everest. Há
Metade do avião era de japoneses,
respiratória, de desafio, após anos
também a opção de fretar um avião
obcecados por imagens, chegando
de preparação para subir, com
ou helicóptero e fazer o passeio com
a ultrapassar o limite da boa
possibilidade de não voltar. E eu
mais detalhes e mais de perto. Será
educação...
sempre pensei no Everest, mas não
que já estou elaborando um novo
A comissária de bordo explica
sabia que havia esses vôos. Como
roteiro?
o passeio, e nos mapas que
o Nepal não é um roteiro conhecido
Naquela manhã, pelo menos cinco
recebemos visualizamos todos os
aqui, nem pensamos nisso.
vôos partiram para o mesmo trecho
picos. Os mais “baixinhos” têm de 4 a 5 mil metros. Acima do vale de Kathmandu, que já está a 1.350 metros acima do nível do mar, vamos identificando todos os montes. Um deles, o Gauri Shankar, é sagrado, e não pode ser escalado. Ninguém sobe. Muitos outros têm estrutura de apoio para alpinismo. Ficamos diante de um horizonte de 58 recife antigo RECIFE MODERNO
Até que a comissária chega e avisa: “Aquele ali é o Monte Everest”, com a simplicidade de quem vê o extraordinário todos os dias.
que fizemos. A duração é de uma hora e meia. Vale a pena. As imagens são belíssimas, principalmente da cabine do piloto, onde os passageiros são chamados para olhar aquela imensidão de montes maravilhosos. Foi um dos momentos mais deslumbrantes e impactantes que tive na vida. Nunca imaginei ver o Everest daquela maneira.
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ANÚNCIO CLIMAFRIO
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recife antigo RECIFE MODERNO 61
bairros
o recife começa aqui No Bairro do Recife, a história viva da capital pernambucana Joana Rodrigues Fotos: Tânia Collier
Q
uando a história de um bairro acompanha a história do crescimento de uma cidade, ver os seus primeiros passos é ver como tudo começou. O Marco Zero está lá para provar que foi dali que o Recife deu a largada. Tornou-se um pequeno povoado, depois uma vila, em seguida uma cidade já com importância econômica e ares modernos, até que se transformou na metrópole que é hoje, com mais de 1,5 milhão de habitantes, segundo o último censo do IBGE. Todos os finais de semana, as ruas do Bairro do Recife recebem visitantes que se divertem nos bares e na feirinha organizada pela prefeitura. Em um passeio um pouco maior, apreciam a vista para o mar, o parque de esculturas de Francisco Brennand, que ilustra o horizonte, ou somente procuram saber mais sobre a história do local. O Bairro do Recife teve início como uma área portuária de entrada e saída de produtos destinados a Olinda. Na história, o primeiro registro da região está em um documento de 1537, o Foral de Olinda. Nele, o bairro é chamado de Recife dos Navios e a descrição dá o tom do que a região tinha até então: mangue de um lado, porto do outro. O que hoje é o Bairro do Recife era um povoado em formação, onde havia somente uma pequena igreja dedicada a São Pedro Gonçalves, que recebia os trabalhadores do porto. Eram eles que compunham, então, a população do bairro. A irmandade 62 recife antigo RECIFE MODERNO
À esquerda a Torre Malakoff e à direita o Paço Alfândega.
vinculada à igreja tinha um papel de protetora daqueles homens do mar, que arriscavam a vida cada vez que saíam para trabalhar. Ali se fundou um hospital, o primeiro da região, e mais tarde surgiu uma espécie de previdência privada, um programa de amparo às “viúvas do mar”. A localidade, naturalmente, começou a crescer. Investimentos em engenhos de cana-de-açúcar pelas regiões mais interioranas impulsionaram a vila, onde antes havia somente um incipiente povoado. O açúcar, muito bem recebido no mercado internacional, trouxe uma fase de prosperidade econômica e desenvolvimento social para todo o Estado – e em especial para o atual Bairro do Recife. O sucesso do empreendimento açucareiro foi tanto, que chamou a atenção de companhias estrangeiras interessadas no novo e próspero mercado. Entre elas, a holandesa Companhia das Índias Ocidentais, que, em 1630, atacou Pernambuco. Segundo o arquiteto e professor de história da cultura brasileira José Luiz Mota Menezes, os holandeses desembarcaram com uma posição privilegiada na região. “Eles chegaram com 3 mil homens e nós só tínhamos 200”, conta. No Bairro do Recife havia na época algo em torno de 40 casas, número muito pequeno para abrigar
a quantidade de holandeses. Começava onde hoje é a Rua do Bom Jesus, seguindo pelas imediações da Marquês de Olinda, até a Ponte Maurício de Nassau. Nessas condições, iniciou-se um processo significativo de ampliação do Recife, um segundo momento na história do bairro. De acordo com José Luiz, “nesta Recife de Nassau era possível ver a convivência entre judeus, alemães, franceses, holandeses e portugueses”. Para ele, a grande primazia da cidade é ter tido essa ocupação. “Se de um lado foi uma coisa negativa, no sentido de ter tido a propriedade da terra tomada, por outro lado ela se torna positiva devido à nova cultura que se soma à lusitana”, diz.
A primeira ponte do Brasil foi inaugurada aqui, em 1644 No período holandês, ruas foram pavimentadas e pontes, construídas. O transporte entre o Bairro do Recife e o continente, que era cobrado e feito por balsa até então, deu lugar à primeira ponte do bairro – e do Brasil –, inaugurada com festa em 1644. Cresceu também o número de casas na localidade. Quando os holandeses deixaram a região, em 1654, tinha-se registro de aproximadamente 180 residências. Nessa época, podese dizer que estava configurada a
ocupação da ilha onde hoje fica o Bairro do Recife. Apesar disso, poucas construções desse período chegaram aos nossos dias. Surge então um terceiro momento: os portugueses retomam o Recife e vão reconstruí-lo. De acordo com José Luiz, o bairro passou por ampliações e reformas, acompanhando o ritmo da cidade. A Alfândega recebeu autorização para funcionar e entrou em atividade onde antes era o Convento dos Padres da Ordem de São Filipe Néri – hoje o Shopping Paço Alfândega. Bem mais recentemente e já com suas características atuais, o bairro passou por uma intensa urbanização. Grandes avenidas – Rio Branco e Marquês de Olinda – foram abertas para facilitar o acesso e a localidade passou a ter um maior apelo turístico. Na década de 80, um projeto encabeçado pela prefeitura da cidade propôs uma reabilitação urbana, que pretendia não apenas recuperar a estrutura física do bairro, mas também movimentar a economia local. Incentivos como isenção fiscal foram concedidos aos imóveis que fossem sendo recuperados e os pólos Bom Jesus e Rua da Moeda começaram a se desenvolver. Foi um período de muita efervescência no bairro, que era, diariamente, palco de programações culturais e agitação noturna. Muitos bares e restaurantes foram inaugurados e os próprios recifenses passaram a freqüentar mais o Recife Antigo. A fase durou até a inauguração do Shopping Paço recife antigo RECIFE MODERNO 63
Feirinha de domingo na Rua do Bom Jesus.
Alfândega. Hoje o Bairro do Recife passa por uma fase intermediária. Nem apresenta o mesmo vigor que se seguiu à reabilitação, nem está totalmente ausente em termos de políticas públicas. Segundo José Luiz Mota Menezes, que também é membro titular do Conselho de Desenvolvimento Urbano da Prefeitura da Cidade do Recife, desde o ressurgimento da Rua do Bom Jesus como pólo, ele teria chamado a atenção para o aparecimento do pólo Paço Alfândega – que atrairia as atenções para si em detrimento do pólo Bom Jesus quando fosse inaugurado. Foi o que aconteceu. O Paço agrega um setor de alimentação, um de eventos, a Livraria Cultura e várias lojas. “Com o sucesso de um pólo, morre o outro,
porque não diversificou o suficiente”, alerta José Luiz. Na sua opinião, a solução seria integrar as regiões do Bom Jesus e Alfândega a fim de atrair a atenção para todo o bairro. Além, claro, da implantação de um outro tipo de comércio nas imediações do Bom Jesus e da Praça Alfredo Lisboa, mais conhecida como Praça do Arsenal, que complementasse as opções gastronômicas já disponíveis. Além da cultura e da beleza de suas pontes, o Recife Antigo hoje também abriga um importante centro de
tecnologia com fama nacional: o Porto Digital. O empreendimento, que chegou a ser comparado ao Vale do Silício americano, vem fomentando a economia não só do bairro, como também de todo o Estado. No Bairro do Recife, o antigo e o novo são conceitos em constante contato e também alvo de grandes polêmicas. Vencendo o medo natural de que o passado será destruído pelo presente, o bairro mostra que cada esquina continua contando uma história que permanece viva.
bom jesus
Rua da Cruz, dos Mercadores, dos Judeus, do Bom Jesus. Todos nomes para uma via que merece um capítulo à parte na história do Bairro do Recife e, por que não dizer, da cidade. Nela foi construída a primeira sinagoga das Américas, em
1637. Dela saíram os holandeses que, expulsos do Recife, foram fundar Nova Iorque, o atual centro financeiro do mundo. No início da Rua do Bom Jesus, ficava a porta norte da cidade, representada pelo Arco do Bom Jesus. Embaixo dele, Antônio Fernandes Vieira recebeu do comandante holandês as chaves da cidade após a retomada da região pelos portugueses. Por ser o maior dos três arcos da cidade, aí eram celebradas as festividades religiosas, permitindo-se o acesso do público. Em 1850, o arco foi demolido. Quando se passa pela Rua do Bom Jesus, a impressão é que a história pouco interferiu naquele local. O conjunto de casarios, o ambiente comercial, muitos passantes. A verdade é que foi a rua que interferiu na história.
64 recife antigo RECIFE MODERNO
recife antigo RECIFE MODERNO 65
recife moderno
Um por andar no Pina Quarto lançamento da Moura Dubeux no Complexo Pina, Edifício Mar Azul terá apartamentos de 237 m² com quatro suítes e três vagas na garagem Fábio Lucas Ilustrações: MV3D
C
om o mesmo charme da badalada vizinhança, o Pina vem se consolidando como
uma alternativa para o mercado imobiliário que deseja lançar novos empreendimentos na Zona Sul. Hoje, o seu metro quadrado é um dos mais procurados do Recife. Tendo sido a primeira construtora a apostar na nova área, a Moura Dubeux lançou, há pouco mais de um mês, o quarto empreendimento do Complexo Pina: o Edifício Mar Azul. Até agora, 50% dos apartamentos já foram comercializados. A empresa investe R$ 21 milhões na obra, que contará com 25 apartamentos-tipo, distribuídos em 25 andares, ou seja, um por andar, uma novidade para o Pina. Cada unidade 66 recife antigo RECIFE MODERNO
terá 237 metros quadrados de área privativa, sendo quatro quartos, todos suítes (uma master), sala para três ambientes e dependência completa de empregada. Os moradores dos apartamentos terão à disposição três vagas na garagem, com a possibilidade de adquirir mais uma. “Há sete vagas extras que podem ser compradas por qualquer morador, não importa se eles terão um apartamento num andar baixo ou alto”, explica o diretor comercial da Moura Dubeux, Tony Vasconcelos. Segundo ele, é comum as construtoras disponibilizar as vagas extras para os compradores dos andares mais altos. “Para quem quer residir na Avenida Boa Viagem, esse empreendimento é um investimento inteligente”, acrescenta. Cada unidade-tipo custa a partir de R$ 880 mil, dependendo do andar. Em regime de incorporação, o imóvel pode ser pago em 60 meses.
cidade é um dos objetivos da MD”,
Área total do terreno: 1.400 m²
O destaque é a relação custo-
atribui Vasconcelos. Com ampla vista
benefício em virtude do preço do
para o mar, o edifício será erguido
metro quadrado cobrado pela Moura
próximo também às quadras de tênis
Área de lazer com piscina, sauna, salão de festa e fitness center
Dubeux para o imóvel. Hoje essa
da orla. A previsão de entrega do
medida na Avenida Boa Viagem está
Mar Azul é de 36 meses. Com isso, o
em torno de R$ 6 mil. No Mar Azul,
edifício deve ser concluído em 2011.
o metro quadrado custa por volta de
É do arquiteto Carlos Fernando
R$ 3,7 mil. A área de lazer do edifício
Pontual o projeto do edifício. O
dispõe de piscina, sauna, salão de
Mar Azul vem reforçar o interesse
festa e fitness center.
da Moura Dubeux em investir na
O prédio será construído num
consolidação da área do Pina.
terreno de 1,4 mil metros quadrados.
Outros três edifícios compõem o
“A proximidade com o Empresarial
Complexo Pina: Enseada da Barra
JCPM garante ao empreendimento
(o pioneiro da construtora na orla do
uma área de constante
bairro), Maria Júlia e Enseada do Mar
desenvolvimento. Gerar crescimento
(vencedor do Prêmio Ademi 2006, já
60 meses é o prazo de pagamento
para todas as regiões de nossa
tendo sido entregue no fim de 2005).
36 meses é o prazo de entrega
25 apartamentos, sendo um por andar 237 m² de área por apartamento 4 suítes, sendo uma master Sala para três ambientes Dependência completa para empregada 3 garagens, com possibilidade de adquirir mais uma
recife antigo RECIFE MODERNO 67
condomínio
Gestão de consumo Aparelho transmite em tempo real os dados individuais de gastos de cada consumidor Júlia Nogueira de Almeida Fotos: Tânia Collier
68 recife antigo RECIFE MODERNO
Q
uem passa o dia na rua, no trabalho ou estudando sabe como é injusta (e o quanto pesa no bolso) a obrigação de pagar, todo mês, no rateio de custos comuns ao condomínio, o mesmo valor que o vizinho que fica o dia inteiro em casa e usa uma quantidade bem maior de energia elétrica, água e gás. É assim que funciona na maioria dos edifícios residenciais do Recife. Ou pelo menos esse é o formato mais usual. Porém já existem mudanças. Com base no fato de que as pessoas preferem pagar pelo que consomem, surgem empresas que investem em tecnologia para oferecer soluções de controle inteligente, adequadas ao perfil de cada consumidor, no uso de bens e serviços essenciais. Uma delas é a Procenge. Com 35 anos de estrada, foi uma das primeiras empresas de tecnologia da informação (TI) de Pernambuco. Desde a sua fundação, a Procenge tem como foco o desenvolvimento de sistemas de gestão para companhias de saneamento em todo o Brasil. A partir de uma demanda de mercado, identificada junto a esses clientes, os diretores da Procenge observaram um traço em comum às concessionárias de água e esgotos do país: a carência de tecnologia de ponta. E foi assim, recentemente (a partir de 2005), que surgiu a necessidade de desenvolver um equipamento que, integrado a um sistema de transmissão de dados com tecnologia GSM/GPRS, fosse capaz de oferecer, em tempo real, informações individualizadas sobre o gasto de água e gás de cada consumidor, como já ocorre com a energia elétrica. Na prática, isso é possível acoplando o tal dispositivo ao medidor de consumo dos apartamentos. Além de ler o hidrômetro, ele oferece o acionamento automático para abrir ou fechar o fornecimento de água. Tudo é feito
Silvio Dantas, diretor da Procenge
via internet. O equipamento envia um sinal que é captado por uma antena de celular (operadora GSM) e esta, por sua vez, envia informações para um portal na web, com acesso exclusivo e restrito para clientes. O equipamento, que traz novidades na gestão de consumo e na forma de custeio de despesas mensais de qualquer residência, foi batizado de SmartOK!, concebido pela Procenge e fabricado pela TechnoOK! - empresa do Grupo Procenge que tem como função o desenvolvimento de sistemas embarcados. A tecnologia é adequada para apartamentos, condomínios (verticais ou horizontais), e para diferentes setores de empresas ou instituições de grande porte, as chamadas grandes consumidoras, que destinam largas fatias de seu faturamento para pagar as contas das concessionárias. Com a facilidade de poder acessar as informações de qualquer lugar, via internet, com dados atualizados a cada 30 minutos. Esse tipo de aferição é chamado de telemetria. Em todas as aplicações, é possível saber, além dos gastos por apartamento, o consumo total de água, energia e gás nos condomínios, através da geração de relatórios com perfil e histórico de consumo. A partir daí, fica mais fácil (e justo) gerir o rateio dos insumos. No final, cada morador tem a certeza de que está pagando apenas pelo que consumiu. Integração - Segundo o diretor da Procenge, Sílvio Dantas, o grande diferencial da tecnologia SmartOK! é o fato de que, num só sistema, é possível oferecer uma solução completa, gerada a partir de um determinado fornecedor, sem a imposição, para o consumidor, de ter que adquirir o aparelho de uma empresa e o sistema tecnológico de outra. “Isso é possível porque a Procenge, além de fabricar o equipamento, desenvolve o sistema
que vai se integrar a ele”, explica. Para Sílvio, ainda não existe em Pernambuco nenhuma outra empresa que trabalhe de forma semelhante, a partir da transferência de dados pela internet, via tecnologia GSM/GPRS, tendo como enfoque a gestão do consumo. Para quem ouve falar em gestão de consumo pela primeira vez, vale esclarecer que o SmartOK! é um hardware ou equipamento de tecnologia, que permite identificar, mesmo a distância, horários em que há picos de consumo de água, luz e gás na residência, e também possíveis perdas e vazamentos. Também é possível estabelecer cotas de consumo e a auto-suspensão/religação do fornecimento.
No final, cada morador tem a certeza de que está pagando apenas pelo que consumiu. Outra vantagem é que, com a medição informatizada, evita-se a presença de um funcionário leiturista circulando nas dependências do condomínio ou da empresa. “Isso representa uma vantagem em dobro: tanto para a segurança dos condomínios, já que, por questões de segurança, a maioria não permite mais a entrada de funcionários terceirizados nos prédios; e também para as concessionárias fornecedoras, que acabam economizando em tempo e gastos com mobilização e transporte de pessoal”, explica o gerente de negócios da Procenge, Rodrigo Vilar. “Além das vantagens práticas e financeiras, existem ainda outros ganhos, que têm repercussão direta no meio ambiente, porque a tecnologia SmartOK! ajuda a evitar desperdícios
e estimula o consumidor a só utilizar aquilo que realmente precisa”, emenda. Comercialização - A fatia de mercado que vem sendo ocupada pela Procenge, no que se refere à telemetria, ganha ainda mais corpo se levarmos em conta a existência de uma lei municipal do Recife que determina que todos os edifícios construídos a partir do ano de 2002 devem contar com sistemas individualizados de medição de água. Mesmo após cinco anos de sua criação, essa lei ainda não é plenamente cumprida. Na prática, para que a lei seja uma realidade nos edifícios da cidade, é preciso que haja tecnologia capaz de suportar a demanda. E é justamente essa lacuna que a Procenge pretende preencher. Para chamar a atenção do mercado, a Procenge aposta na relação custo-benefício. Os valores a serem praticados pela empresa para a comercialização do SmartOK! são de R$ 15 mensais por imóvel, para condomínios residenciais a partir de 20 unidades. Já no caso de empresas e grandes indústrias, o custo está inicialmente estimado em R$ 180 por ponto. Esses valores incluem o modem, a tecnologia GSM/GPRS de transmissão de dados com cartão sim (SIM card de qualquer operadora) já recife antigo RECIFE MODERNO 69
tudo começou na incubadora habilitado, armazenamento de dados e acesso ao sistema na web. Segundo Sílvio Dantas, a Procenge tem como mercados-alvo toda a Região Nordeste, da Bahia ao Piauí, além das cidades de São Paulo e Ribeirão Preto, onde a empresa possui filiais. Em números, isso significa 14 milhões de clientes em potencial. Atualmente, além de um edifício residencial no Recife, onde o SmartOK! está funcionando em fase de testes, empresas como a Portobrás e Algás, ambas localizadas em Maceió (AL), utilizam a tecnologia para aferição de consumo de água e gás em suas dependências, respectivamente. A Infraero Recife também já está usando o sistema, através da Compesa. “Além disso, construtoras como a Moura Dubeux fazem parte de nossas prioridades, em função do perfil de consumidores que queremos atingir”, explica Sílvio Dantas. Numa ação pioneira no Estado, a Moura Dubeux adotou a tecnologia SmartOK! para auxiliar na quantificação de energia elétrica consumida em algumas de suas obras. A meta para 2007 é comercializar 2 mil equipamentos. Após as etapas de concepção e desenvolvimento do projeto (2005) e das primeiras instalações (2006), este será o primeiro ano efetivo do produto no mercado. Dos mais de 32 milhões de ligações de água existentes no país, 7,4 milhões se concentram na Região Nordeste. Destes, 1,3 milhão está em Pernambuco. Já as ligações de energia em nosso Estado chegam à casa dos três milhões. Por sua vez, o mercado de São Paulo oferece números tão surpreendentes quanto convidativos: somente no Estado existem mais de 9 milhões de ligações de água. Além disso, dos mais de 55 milhões de ligações para fornecimento de luz existentes em todo o território nacional, 13 milhões estão lá. 70 recife antigo RECIFE MODERNO
As primeiras idéias, que mais tarde viriam a se transformar no que hoje é o SmartOK!, surgiram há pouco mais de dois anos, quando a TechnoOK! ainda era uma empresa incubada no Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep). Apesar de ser fruto da iniciativa dos diretores da Procenge e de ter envolvido uma equipe de 12 profissionais ao longo de todo o seu processo, a solução de telemetria a serviço da gestão do consumo de água, energia e gás em residências e ambientes corporativos, viabilizada pela empresa, tem outra origem. O “pai” dessa idéia se chama Frederico Braga, hoje consultor de Desenvolvimento da Procenge. Ele concebeu a idéia original e a adicionou ao know-how e visão de mercado da empresa. Segundo Fred Braga, como é mais conhecido, na época o grande desafio não era desenvolver um sistema de telemetria para os hidrômetros das empresas de saneamento (uma vez que existem outras soluções na área industrial), mas sim uma alternativa focada na redução de perdas, compatível com a capacidade de investimento dos clientes, e que trouxesse benefícios às empresas, consumidores e ao meio ambiente. “Eu já estava focado no problema ambiental da enorme perda na distribuição de água nos grandes centros urbanos e encontrei uma empresa (a Procenge) que atuava no segmento de gestão comercial das empresas de saneamento. O casamento de interesses foi imediato, e a partir daí resolvemos iniciar um projeto de pesquisa e desenvolvimento da tecnologia”, conta. Depois a tecnologia foi estendida para energia elétrica e gás natural. “Se já era competitiva em água, ficou ainda mais em energia elétrica e gás”, opina Braga. Sobre o período de incubação da empresa no Itep ele afirma que, nessa fase (entre 2004 e 2006), a Procenge não tinha experiência em desenvolvimento de equipamentos eletrônicos e sistemas embarcados, e então criou a TechnoOK! para, durante os dois anos seguintes, desenvolver os primeiros protótipos e as chamadas “cabeças de série”. Assim, resolveu montar uma espécie de laboratório-empresa numa incubadora de empresas de base tecnológica. Segundo o diretor da Procenge, Sílvio Dantas, durante a incubação, a TechnoOK! procurou se cercar de cuidados que garantissem a maior segurança possível para o SmartOK!, que ainda dava seus primeiros passos. “Além dos custos baixos e do espaço físico adequado, uma vantagem desse período foi a nossa proximidade com o ambiente universitário, excelente fonte para recrutar mão-de-obra especializada, principalmente na Universidade Federal e no Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet-PE)”, explica Dantas. “A Incubatep foi o ambiente ideal para este propósito, pois reunia todos os requisitos necessários para fomentar os projetos, infra-estrutura pronta e ligação com os órgãos de fomento à pesquisa e ao empreendedorismo”, avalia Fred Braga.
ANÚNCIO FLAMAR
recife antigo RECIFE MODERNO 71
meio ambiente
Ecobuilding: um conceito que veio para ficar Em todas as etapas de construção, os recursos naturais estão ao lado das mais avançadas tecnologias Joana Rodrigues *Colaborou Regina de Cássia dos Anjos Carvalho, engenheira civil, mestranda em tecnologia ambiental e recursos hídricos na UFPE Fotos: Fotografics e divulgação
O
ano de 2007 será o mais quente da história mundial, segundo o relatório divulgado em fevereiro deste ano pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), organizado pela ONU. De acordo com o documento, é possível que os oceanos elevem-se entre 18 e 58 cm até 2100, e tanto tufões quanto secas tornem-se mais intensos em todo o mundo. Tudo isso devido à ação humana. Em meio a uma perspectiva de futuro tenebrosa, volta à tona o eterno clichê: o homem está desconectado da natureza. Para restabelecer esta ligação, duas das principais organizações ambientais de alcance mundial, Greenpeace e WWF, apontam soluções que perpassam por diversas áreas. Uma delas é a construção civil, que adquire contornos “verdes” com a difusão do ecobuilding – modelo de construção ecologicamente correta. O ecobuilding prega a utilização de materiais que não agridam a natureza – não tóxicos e antialérgicos, principalmente –, além de aconselhar o construtor, por exemplo, a comprar madeira cultivada e com a certificação do Conselho de Manejo Florestal (FSC). É uma importante medida para diminuir o consumo de madeira originária de desmatamentos. Aqui no Brasil, uma iniciativa vem 72 recife antigo RECIFE MODERNO
A escolha de madeira autorizada pelo IBAMA e o uso racional da água podem fazer a diferença
ganhando espaço, mesmo que lentamente: os tijolos ecologicamente corretos. Não vão ao forno, logo, não há fumaça e, conseqüentemente, não liberam CO2 – o vilão do aquecimento global – para a atmosfera. A técnica consiste em uma mistura de proporções exatas, cuja matéria-prima é o barro e o cimento. São tijolos mais fáceis de encaixar e não precisam da argamassa de assentamento. Dessa forma, apesar de custarem mais caro no momento da compra, a economia pode chegar a 40% do custo total da obra. Primeiro passo - O uso de materiais ecologicamente corretos é só o primeiro passo para a realização de uma obra perfeitamente encaixada ao conceito de ecobuilding. Ter em conta o lugar onde se está construindo é fundamental para um projeto ecologicamente sustentável. A temperatura, a pluviometria, a radiação solar, a direção do vento e sua velocidade média, o relevo do terreno e a existência de lençóis d’água, tudo isso terá grandes conseqüências no resultado final. É com base na temperatura externa que, por exemplo, será calculada a espessura das paredes e assim decidido se elas deixarão passar menos ou mais calor. O mesmo acontece com a disposição das janelas no alto da obra para facilitar a ventilação e substituir o ar quente pelo ar frio renovado. São muitas as opções. Do planejamento à manutenção, passando por todas as etapas de construção, o ecobuilding alia recursos naturais às mais avançadas tecnologias para a realização de um projeto. Os benefícios imediatos para quem aposta nesta nova forma de ver a engenharia são ecossistemas protegidos e mais saúde para os futuros ocupantes do
empreendimento. Este último, em especial, um grande aliado na tarefa de solidificar princípios ecológicos na realidade capitalista. Muitas empresas passaram a adotar o ecobuilding na construção de seus escritórios, não somente por ser a opção “verde”, mas também por ser econômico. Empregados que trabalham em ambientes agradáveis sabidamente produzem mais e aumentam os rendimentos da empresa. Além disso, o ecobuilding utiliza materiais não prejudiciais à saúde, o que também diminui as chances de ter funcionários doentes por intoxicação no ambiente de trabalho. Se em alguns casos optar por uma obra ecológica pode ser mais caro, pensar no futuro – tanto da natureza como dos lucros do negócio – pode compensar os gastos. Para o biólogo com pós-graduação em gestão ambiental Mauro Jaymes, “as conseqüências da escolha do ecobuilding são extremamente positivas, o que falta é a vontade de inovar, de apostar em tecnologias não tradicionais”. Na sua opinião, a grande dificuldade de expansão da filosofia do ecobuilding no Brasil é a desconfiança em relação à novidade. “Se o empreendedor tem arrojo e coragem para ousar, ele vislumbra um grande ganho, seja direto – pela racionalização dos recursos, corte dos desperdícios –, seja no valor agregado que a sua obra vai adquirir”, lembra. A mídia começa a abordar de forma mais enfática as conseqüências da degradação da natureza pelo homem e, para o biólogo, isso já está gerando um crescimento significativo da sensibilidade não só nos empreendedores, como também nos consumidores, que passam a buscar o produto ecologicamente correto. Ao contrário de outros países como o Canadá, os Estados Unidos e a França, somente para citar alguns, o Brasil não tem um órgão de avaliação
recife antigo RECIFE MODERNO 73
de desempenho ambiental em edifícios – isso significa dizer que o impacto não é regulado legalmente. Toda e qualquer mudança surgirá a partir da conscientização. Exemplos expressivos de ecobuilding, no Brasil, ainda são difíceis de encontrar, mas eles existem. O prédio do Bank Boston em São Paulo é um deles. O empreendimento possui sistema de ar condicionado com refrigeração a gás ecológico, sistema de filtragem dupla para renovação do ar interno, estação de tratamento de água, sistema para captação da água das chuvas, lâmpadas de baixo consumo, entre outras características. Em outros países, exemplos são mais comuns. O Commerzbank, prédio de 60 andares, em Frankfurt, funciona com ventilação natural durante mais da metade do ano, suas áreas internas recebem luz natural e as janelas possuem camadas duplas para controlar a quantidade de calor que entra no ambiente. O prédio tem ao todo nove jardins, todos com um design diferente. Toda a construção é pensada para proporcionar bemestar e máximo conforto físico e psicológico aos funcionários, além de um impacto ecológico mínimo. Tão importante quanto a construção “verde” é a gestão eficiente dos recursos naturais de que o prédio precisará para funcionar. Em especial, o gasto de água e energia exige cuidados até mesmo durante a fase de planejamento do projeto. Uso racional da água – Se o Brasil possui 12% da água doce do planeta, apenas pouco mais de 3% desse total encontram-se no Nordeste. Por isso a adoção de usos múltiplos da água é fundamental para a boa gestão do recurso. Nos edifícios de grande porte, o reúso da água, o aproveitamento da chuva e a
74 recife antigo RECIFE MODERNO
Acima, a sede do Bank Boston em São Paulo. Ao lado, o Commerzbank em Frankfurt.
implantação de economizadores são medidas de suma importância para que usos menos nobres não utilizem água potável em seu consumo. A medição individualizada, por exemplo, pode reduzir em até 25% o consumo. A Moura Dubeux disponibiliza a infra-estrutura necessária após a entrega dos edifícios. Na construção, um sistema utilizado pela Moura Dubeux que serve de ilustração é a concentração de tubulações em uma mesma parede (chamado “shaft visitável”), que otimiza os materiais no ambiente sanitário e facilita a busca por vazamentos. O custo de um sistema predial hidráulico para o uso racional da água em obras de grande porte chega a 4% do custo total da obra, e a variável que mais pesa neste item é o reservatório, sobretudo o inferior, pois, quanto mais água de chuva for armazenada, melhor para o usuário. Embora represente investimento inicial alto, o custo-benefício a ser considerado tende a levar cada vez mais à disseminação do uso da água de chuva e do reúso da água cinza em descargas, promovendo a conservação do recurso natural e a
valorização ambiental decorrente do uso racional da água. Uso racional da energia - Já em relação ao consumo de energia elétrica, há dois pontos com que se preocupar: de onde vem esta energia e como fazer para reduzir o consumo. Fontes energéticas alternativas, como energia solar ou eólica, vêm ganhando espaço e tendem a se tornar economicamente mais viáveis (ver matéria a seguir sobre a Casa Laboratório). Optar por energia “verde”, ou proveniente de fontes alternativas, é exercer um importante papel ecológico: menos consumo significa menos hidrelétricas sendo construídas e menos ecossistemas destruídos em prol de uma área alagada que produziria energia. Num mundo em que o alerta de “cuidado” já está aceso há mais de uma década, o homem começa a assumir responsabilidades. De acordo com o biólogo Mauro Jaymes, a construção é uma das atividades humanas de maior impacto ambiental – cerca de 73% dos insumos são de materiais não-renováveis. Portanto, uma coisa é certa: o ecobuilding veio para ficar.
recife antigo RECIFE MODERNO 75
casa laboratório Um exemplo ecológico No Recife, uma iniciativa pioneira no trabalho de conscientização ecológica deve ser inaugurada até o fim do ano. Trata-se da Casa Laboratório, projeto do Espaço Ciência com parceria da construtora Moura Dubeux. A casa, autosuficiente em recursos energéticos, será uma vitrine para que os visitantes adquiram informações sobre novas fontes de energia e recebam dicas de como reduzir o consumo em sua residência. Com uma área de 40 m², as divisões são praticamente as mesmas de uma casa comum: cozinha, quarto, área de serviço e banheiro. Logo na entrada, um medidor apontará o gasto energético de cada aparelho doméstico instalado, como geladeira, ar-condicionado ou chuveiro elétrico. Assim, o visitante poderá comparar aparelhos com performances econômicas àqueles tradicionais – que abusam no desperdício – e verificar a eficiência das fontes energéticas alternativas. Quando se pensa em energia elétrica, a imagem mais comum que vem à cabeça é a do resultado final do seu processo de produção, ou seja, do consumo. São as lâmpadas acesas, computadores ligados, o ferro de passar na tomada e tantos outros objetos do dia-a-dia que funcionam a partir de impulsos elétricos. O que muitas vezes não se sabe com detalhes, contudo, é qual percurso foi feito para essa energia chegar às residências e escritórios e qual o custo ecológico desse processo. 76 recife antigo RECIFE MODERNO
No Brasil, o caminho clássico é a energia ser produzida nas hidrelétricas, passando em seguida pelas subestações, distribuída para os transformadores por toda a cidade e, só então, chegar ao consumidor. Mas será essa a única opção viável? A resposta é um contundente “não” e a Casa Laboratório, uma prova disso. Nela, toda a energia necessária será fornecida pelos painéis e aquecedores solares e armazenada por baterias para os momentos de ausência de sol: noite e dias chuvosos ou nublados. Além disso, uma turbina eólica já foi instalada e dividirá a responsabilidade no processo de produção de energia. O objetivo do projeto, segundo o consultor de recursos energéticos sustentáveis, Pedro Rosas, é sensibilizar o público para a problemática do desperdício. “A Casa Laboratório será um modelo aberto para visitação, onde vai ser possível ver na prática que há alternativas viáveis para a produção de energia”, afirma. Para o francês Francis Dupuis, designer de exposição do projeto, a Casa Laboratório está de olho no futuro. Se hoje a energia eólica e a energia solar ainda têm um custo muito elevado e não podem ser utilizadas amplamente por falta de recursos financeiros, ele acredita que esta é uma tendência que deve mudar nos próximos 10 ou 20 anos. “O mais importante é trazer as crianças para ver, conscientizar um novo público consumidor que, tendo essas informações, poderá optar por uma energia ecologicamente correta no futuro”, diz Dupuis.
cERTIFICADO DE RESPONSABILIDADE AMBIENTAL A primeira com ISO 14.001 A Moura Dubeux Engenharia foi a primeira construtora do Nordeste a receber a certificação ambiental ISO 14.001. O período de implantação durou quase oito meses e abrangeu inicialmente os edifícios Brennand Plaza, Píer Maurício de Nassau e Píer Duarte Coelho, além do Escritório Central. Ainda na primeira auditoria de acompanhamento, que será realizada pela Fundação Carlos Alberto Vanzolini, de São Paulo, este ano, todas as obras da empresa deverão contar com a certificação. O processo de certificação ambiental começa com o levantamento de legislação aplicável, e dos impactos ambientais de cada empreendimento e vai até a implementação de procedimentos que atendam ao cumprimento da lei e promovam o adequado controle dos impactos gerados. Há ainda um programa de educação ambiental destinado aos funcionários com palestras e treinamentos constantes. Desde então, a Moura Dubeux conta com um moderno Programa de Gestão Ambiental, com objetivos e metas especificamente voltados para o respeito ao meio ambiente. Entre os quais podemos destacar o projeto de ecobuilding da Casa Laboratório, em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Outro exemplo concreto é o da reutilização de águas pluviais – água da chuva – na área de vivência das obras, como o banheiro dos funcionários. Constam também do Programa a coleta seletiva de lixo, o plano de monitoramento de resíduos nos canteiros de obras, a diminuição dos níveis de ruído, a diminuição da poluição urbana e a conscientização dos colaboradores terceirizados, visando à disseminação de uma cultural ambiental de amplitude maior, da empresa em direção à comunidade. Com idêntico espírito, a aquisição de madeira é criteriosa, apenas sendo efetivada dentro de rígido controle de origem, com a chancela do Ibama, verificado junto aos fornecedores. Vale frisar que o Programa de Gestão Ambiental da Moura Dubeux não só inclui o controle dos impactos provenientes de cada empreendimento, como também atribui atenção especial à situação dos terrenos antes de qualquer intervenção. Para isso, é produzido pela construtora um dossiê que traz uma análise prévia com o passivo ambiental porventura existente em cada área objeto de estudo. Com o ISO 14.001, a Moura Dubeux é pioneira ao se apresentar com um sistema integrado de gestão, que, além do certificado ambiental, é composto do certificado de segurança e saúde ocupacional (OHSAS 18.001) e do certificado de qualidade (ISO 9.001). De
No alto, a coleta seletiva de lixo e a área onde está sendo contruído o edifício Jardins do Capibaribe. Mais abaixo, o certificado ISO 14.001.
acordo com Paulo Lucas, consultor responsável pela implantação da ISO 14.001 e da OHSAS 18.001 na Moura Dubeux, a integração é uma tendência das grandes organizações, com benefícios diretos para a gestão e repercussão na sociedade, visto que o público está cada vez mais exigente e atento a essas questões. “O sistema integrado de gestão representa para nós um constante desafio”, diz o diretor de engenharia Aluísio Dubeux. “Os certificados internacionais que conquistamos dão tranqüilidade ao nosso cliente, e o nosso dever é continuar perseguindo metas cada vez mais ambiciosas de qualidade, segurança e de respeito ao meio ambiente.”
recife antigo RECIFE MODERNO 77
artigo
os problemas e as oportunidades do aquecimento global Francisco Cunha Fotos: Tânia Collier e divulgação
T
odos nós temos a ver com o aquecimento global e ele já é, em boa parte, irreversível. Essa foi a conclusão de 500 cientistas de elite que, no final de janeiro, reuniramse em Paris para trabalhar sobre um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês), para o qual contribuíram 2.500 dos principais pesquisadores de mudanças climáticas do planeta, oriundos de 153 países. O IPCC existe desde 1988 e se reúne periodicamente para discutir o assunto. O fenômeno é provocado pela queima de combustíveis fósseis, incêndios em florestas e outras atividades humanas que liberam gases no ambiente (como dióxido de carbono, metano, hidrofluorcarbonos, perfluorcarbonos e hexafluoreto de enxofre) e provocam, pela poluição, o “escurecimento” da atmosfera, causando o chamado efeito estufa. Esse efeito impede que uma parte da luminosidade provocada pelo Sol seja refletida de volta para o espaço, permanecendo presa na atmosfera e elevando a temperatura da Terra. O relatório do IPCC traça cenários de crescimento da temperatura média 78 recife antigo RECIFE MODERNO
da Terra entre 1,8 e 4,0 graus até o fim do século. As temperaturas subiram 0,7 grau no século 20 e os 10 anos mais quentes desde o início dos registros, nos anos 1850, aconteceram a partir de 1994. Parece difícil acreditar que o aumento de “apenas” 3 graus (a média das previsões) na temperatura da Terra possa ser tão danoso. Acontece que o clima do planeta se sustenta num frágil equilíbrio. “Apenas” um aumento aparentemente insignificante quanto este na média global é capaz de provocar, em médio prazo, cataclismos como o derretimento do gelo dos pólos e das altas montanhas ou a transformação da Floresta Amazônica em cerrado.
“Compare os 3oC no ambiente com o que ocorre quando o organismo humano tem uma febre igual. A variação de 37oC para 40oC provoca reações intensas no corpo humano. Os efeitos são muitos similares para a Terra. Da disfunção do planeta resulta uma patologia. Três graus significam um nível de desregulação ambiental único.” Hervé le Treut, meteorologista francês O alerta de Hervé le Treut, diretor do Laboratório de Meteorologia Dinâmica do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França, membro da Academia Francesa de Ciências, um dos co-autores do relatório do IPCC e um dos climatologistas mais respeitados da Europa, é muito significativo pelo que sinaliza de catastrófico para a vida humana sobre a face da Terra. Só com a elevação do nível dos mares (o relatório estima que até 2100 a elevação ficará entre 13 e 58 centímetros), muitas regiões costeiras serão inundadas e grandes contingentes populacionais podem ter que se deslocar, gerando o que já está sendo chamado de “refugiados do clima”. Para evitar o pior cenário possível em 2100 – um aumento maior que 4oC na temperatura média global –,
a humanidade terá que cortar pela metade a emissão de gás carbônico prevista para o século 21. Para se ter uma idéia do tamanho deste desafio, é imperdível o excelente filme “Uma Verdade Inconveniente” (EUA, 2006, Paramount), sobre as mudanças climáticas, protagonizado pelo ex-vice-presidente norteamericano Al Gore, premiado com o Oscar de melhor documentário e lançado em DVD no Brasil. A situação é preocupante porque deixou de ser um problema longínquo e passou a ter os seus efeitos mais severos sobre aqueles que hoje já estão nascidos, além de ser agravado pela ação corriqueira e cotidiana de cada um de nós.
esforço gigantesco de pessoas, empresas e governos em âmbito planetário. E aí está o que em planejamento estratégico configurase como uma situação mais do que propícia para a transformação de um grande problema numa grande oportunidade de mudança. Pela primeira vez na história da humanidade uma situação, pela dimensão de sua gravidade, está a exigir cooperação universal para ser equacionada. Com isso, surge a oportunidade única para a mudança do modelo econômico, nascido na revolução industrial do século 19, baseado em geração de energia proveniente da queima de combustíveis fósseis. A economia do petróleo.
“Incendiamos o planeta cada vez que damos partida no nosso automóvel. Cada vez que deixamos aberta a torneira por mais tempo do que o necessário. Cada vez que lançamos lixo em local inadequado. Sempre que estimulamos, ou toleramos, o avanço da área de produção agrícola sobre as florestas. Toda vez que derrubamos árvores, seja para exportação, seja para a fabricação de bens supérfluos, ou para queima nos altos fornos das siderúrgicas.” Cristovam Buarque, senador/DF
“O aquecimento global não é apenas um espaço onde se vão distribuir sacrifícios. É um espaço também de enormes oportunidades (...) O momento aponta o que pode ser uma nova revolução industrial, baseada numa nova matriz energética, pós-petróleo. Da energia solar, dos ventos, dos biocombustíveis.” Fernando Gabeira, deputado/RJ
Todos, portanto, se estamos implicados nas causas, temos uma contribuição, por aparentemente menor que seja, para dar, diante da gravidade do problema, para sua solução. Por sinal, no final do filme de Al Gore, é exposta uma extensa lista de atitudes que podem e devem ser individualmente adotadas como parte da solução global. Todavia, a solução global exige um
o etanol, para a construção de uma matriz energética baseada em energia limpa e renovável. Um poeta alemão chamado Hördelin já disse uma vez: “Onde está o perigo está a salvação”. No caso do aquecimento global, um grande perigo que pode ensejar uma grande mudança do modelo poluidor e perdulário de energia que está em vigor. Uma mudança que depende também da contribuição de cada um de nós, pessoas e empresas. Depois do último relatório sobre o aquecimento global, temos a obrigação de formular constantemente a pergunta: o que posso fazer para diminuir a emissão, direta ou indireta, de gases do efeito estufa na atmosfera? Dos milhões de pequenas e grandes respostas depende o futuro da humanidade na face da Terra. Tão simples quanto dramático e revolucionário.
Neste particular, o Brasil tem, pelo menos, duas importantes contribuições a dar: (1) o exemplo da bem-sucedida mobilização da população brasileira para evitar o apagão (ainda que bastante reduzida se comparada com a necessária para enfrentar o aquecimento global); e (2) a experiência de produção em larga escala do álcool combustível,
Francisco Cunha é diretor da TGI Consultoria em Gestão.
recife antigo RECIFE MODERNO 79
ANDAMENTO DAS OBRAS
Entregue
03
Entregue
03
Luiz Numeriano | Casa Forte
257
4 Qts / 4 Sts
03
Dez/07
04
Dolores Moura | Av. Boa Viagem
137
3 Qts / 1 St
02
Out/07
05
Teresa Novaes | Av. Boa Viagem
255
4 Qts / 4 Sts
03 e 04
Out/07
06
Luiza Ramos | Boa Viagem
82
3 Qts / 1 St
02
Out/07
07
Alameda dos Flamboyants | Torreão
188
4 Qts / 4 Sts
03
Nov/07
08
Engenho Poeta | Caxangá
232
4 Qts / 4 Sts
04
Jan/08
09
Mário Saraiva | Boa Viagem
165
4 Qts / 2 Sts
02 e 03
Mar/08
10
Antônio Espíndola | Rosarinho
Dez/08
11
Joanna Dhália | Boa Viagem
12
150
4 Qts / 2 Sts
02
157 / 167
4 Qts / 4 Sts
02 e 03
Set/09
Engenho Madalena | Madalena
200
4 Qts / 4 Sts
03
Dez/08
13
Reginaldo Araújo | Av. Boa Viagem
241
4 Qts / 4 Sts
03
Dez/08
14
Brennand Plaza | Av. Boa Viagem
412
4 Qts / 4 Sts
05
Ago/09
15
Alameda dos Pinheiros | Boa Viagem
173
4 Qts / 2 Sts
02 e 03
Ago/09
16
Pier Maurício de Nassau | São José
247
4 Qts / 4 Sts
03
Out/09
17
Pier Duarte Coelho | São José
247
4 Qts / 4 Sts
03
Out/09
18
Alice Queiroz | Rosarinho
132
4 Qts / 2 Sts
02
Dez/09
19
Casa Rosada | Rosarinho
177
4 Qts / 4 Sts
03
Out/10
20
Morada dos Navegantes | Boa Viagem
94/95/103
3 Qts / 2 Sts
02
Jan/09
21
A. Trajano | Av. Boa Viagem
233
4 Qts / 4 Sts
03
Jun/09
22
Enseada do Mar | Pina
160
4 Qts / 2 Sts
02 e 03
Jun/11
23
Maria Júlia | Pina
118
3 Qts / 1 St
02
Ago/09
24
Jardins do Capibaribe | Graças
185
4 Qts / 2 Sts
03
Jul/11
25
Beach Class International | Boa Viagem
38/51/53/103
1Qt / 1 St
-
Mai/10
Quartos/ Suítes
Vagas Garagem
Previsão de entrega
Item
Nome
Área (m2)
26
Clarice Roma | Boa Viagem
101
3 Qts / 1 St
02
-
27
Mar Azul | Av. Boa Viagem
237
4 Qts / 4 St
03 e 04
-
28
Zezé Cardoso | Boa Viagem
81
3 Qts / 1 St
02
-
80 recife antigo RECIFE MODERNO
Entrega
03
4 Qts / 4 Sts
Entrega
4 Qts / 4 Sts
191
Acabamento
181
Laura Caúla | Madalena
Acabamento
Miriam Dubeux | Boa Viagem
02
Alvenaria
01
Alvenaria
Previsão de entrega
Estrutura
Vagas Garagem
Estrutura
Quartos/ Suítes
Fundação
Área (m2)
Fundação
Nome
Início das obras
Item
Início das obras
Lançamentos«
Construção«
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recife antigo RECIFE MODERNO 81
82 recife antigo RECIFE MODERNO