JULHO | AGOSTO | SETEMBRO DE 2021
Tornemo-nos uma Igreja com o cântaro na mão, que desperta a sede e leva a água.
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És um projeto do Pai: tua missão é fermentar do Evangelho este momento da história!
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Editorial O cursilhista, neste momento, é chamado a, com o cântaro na mão, ir ao encontro de todos e responder, de forma firme e inabalável, “Cristo conta contigo” e “Eu com a sua graça”. Este é um momento único em que precisamos deixar aflorar a sensibilidade e perceber as graças que Deus sopra sobre nossas vidas. Ficar no “sofá” é não ter sensibilidade de perceber a presença de Deus ao meu lado, a rotina é fechar-se à sensibilidade, ao amor e à ternura de Deus. Fechar-se à sensibilidade que nos conduz à percepção da Graça de Deus, é fechar-se no individualismo, na religião sem comunidade. A sensibilidade à graça de Deus nos conduz a senti-lo próximo, lado a lado, nos faz cantar – de forma verdadeira – em alto e bom tom: “Quão grande és tu”, e assim viver alegre, entusiasmado e sendo um evangelizador criativo e ousado. Cursilhista, olhe para o seu lado, olhe para dentro de si, sinta, seja sensível a este Deus que está tão próximo, que caminha conosco, que inunda nossa vida com a sua graça, com o seu amor e com a sua misericórdia. Cursilhista, viva a misericórdia e ofereça a água viva a todos em todos os ambientes, com a palavra e com o testemunho, sobretudo com sensibilidade. Viva a vida!
CAROS IRMÃOS E IRMÃS, DECOLORES! PASSO A PASSO, ESTAMOS VENCENDO A PANDEMIA E PARA QUE ISTO OCORRA, DE FORMA FIRME E DEFINITIVA, CADA UM DE NÓS É CHAMADO A FAZER A SUA PARTE, VALORIZANDO A VIDA, O CUIDADO COM O PRÓXIMO E CONSIGO MESMO, COMO TESTEMUNHO INDELEGÁVEL DE TODO CRISTÃO.
Toda Igreja está sendo conclamada a viver uma nova época, onde a misericórdia seja sua “arquitrave”. Com a misericórdia na mente e no coração, a credibilidade aumenta e chama mais e mais pessoas ao encontro com o Cristo, imbuídos de alegria e esperança. Se alguns cristãos, já cansados, os quais vivem um ser cristão na rotina, na “mesmice”, aproveitaram o momento para ficarem parados – “no sofá” e, assim, reforçaram o comodismo, tornaram os obstáculos intransponíveis, apesar do Cristo continuar ao lado de todos, pois “ele nos amou primeiro”.
WLADIMIR COMASSETTO Coordenador do Grupo Executivo Nacional
wfbcomassetto@gmail.com
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NOSSA CAPA
O Papa Francisco nos conclama a sermos a Igreja com o cântaro, com a água viva, a Igreja que, com o testemunho do encontro com o Cristo, serve com a palavra e a vida. Na pandemia, somos chamados, de forma especial e intensa, a ir ao encontro de todos e levar a ternura de Deus sob as mais diversas formas: pela escuta, pela acolhida, pela palavra, pela mensagem presencial ou virtual. Cada cursilhista, cada Setor, GED, GER e o GEN, todos somos chamados a vencer o comodismo e a testemunhar a alegria e o entusiasmo do ser Igreja, a servir com amor e ousadia. Somos chamados a viver a misericórdia – alicerce e credibilidade da Igreja, rumo ao Jubileu, como profetas – “Onde todos somos irmãos”.
Expediente Jornalista Responsável Giulia Micheli Pozzobon - MTB/RS 18.496 Editor Wladimir Francisco Barros Comassetto Artigos Padre Francisco Luis Bianchin Padre José Roberto Ferrari Corinto Luis do Nascimento Arruda Cristiane Kubaski Lucília Alves Cunha Padre José Gilberto Beraldo Padre Wagner Luis Gomes Rafael Cechella Isaia Wladimir Francisco Barros Comassetto
NESTA EDIÇÃO
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A Vida quer Florescer
Marketing e Vendas Grupo Executivo Nacional Publicidade e Assinaturas Grupo Executivo Nacional Revista Alavanca É uma publicação trimestral do Movimento de Cursilhos de Cristandade do Brasil GEN - Grupo Executivo Nacional Coordenador Wladimir Francisco Barros Comassetto
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Caminhos de Santiago
Vice-Coordenador Corinto Luiz do Nascimento Arruda Assessor Eclesiástico Nacional Pe. José Roberto Ferrari Vice-Assessor Eclesiástico Nacional Pe. Wagner Luis Gomes Assessores Eclesiásticos Adjunto Pe. Valcir Baronchello Endereço Rua Domingos de Moraes, 1334 Conjunto 07 - Vila Mariana São Paulo (SP) - CEP 04010-200 Críticas e Sugestões (11) 5571 7009 gen-alavanca@cursilho.org.br www.cursilho.org.br Projeto Gráfico e Diagramação ideiasemidias.com.br Revisão Dizy Ayala
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Caminhos de Santiago
SEÇÕES
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Editorial
05
Reflexão
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Palavra do Papa
08
Assunção de Nossa Senhora
14
Carta o MCC
23
Fraternidade
28
Fala Jovem
33
Carisma do MCC
37
Fraternidade
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Mémória
43
Transfiguração do Senhor
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Você já Leu
Circulação Nacional
cursilho brasil
ISSN 2178-5333
mccbrasil
REFLEXÃO
E
stamos vivendo em estado de jubileu. No próximo ano (2022), completaremos 60 anos de caminhada à luz de nosso carisma: “Transformando vidas para transformar ambientes”. Em 2012, celebramos o Jubileu de Ouro e tínhamos por lema: “Rumo ao jubileu” e por tema: “Todos juntos unidos na mesma fé”. Agora, temos o alegre e jubiloso compromisso de celebrar os últimos dez anos de caminhada e, assim, viver os 60 anos da rica e profunda história de mistério, amor, anúncio e vivência do nosso fundamental cristão. Nesses dez últimos anos, fizemos uma trajetória de muitas realizações, encontros e, especialmente, vivências e, como tínhamos nos proposto em 2012, a partir do jubileu, viver um novo Pentecostes. Creio, firmemente, que tivemos muitos eventos, momentos e oportunidades que foram experiências de Pentecostes, como a Romaria ao Santuário Basílica de Aparecida, em 2018, o Congresso em Itaici, em comemoração ao ano do Laicato, nossos Encontros de Formação e Vivência, nossas Assembleias Nacionais, Regionais e Diocesanas, nossos Encontros de Macros, os Retiros-Cursilhos e a Vivência nos Grupos. Agora, vivendo em estado de Jubileu, não só desejamos chegar ao Jubileu de Diamante, unidos na mesma fé, mas, também, com a consciência de que somos chamados a sermos todos irmãos. Sim, a nos sentirmos todos irmãos da mesma carne, criados iguais em dignidade e direitos (FT n5), verdadeiramente, irmãos pela graça batismal e, ainda mais, por nosso carisma comum. Para celebrar o Jubileu, uma das dimensões necessárias é fazer memória da história vivida, por isso, lembramos, ao menos um pouco, do que experimentamos nos últimos dez anos: procura-
mos compreender, reavivar, reacender o entusiasmo e a vivência de nosso carisma. Buscamos compreender os fundamentos e as estruturas de nosso MCC, empenhando-nos no cultivo da formação integral. Depois, procuramos despertar, em cada cursilhista e nas comunidades, a consciência missionária, sabendo que não se trata tanto de fazer missão, mas ser missão, através do nosso protagonismo, sendo sujeitos e agentes de transformação. Para isso, desenvolvemos uma espiritualidade baseada na Exortação GE, do Papa Francisco, cientes de que uma espiritualidade, de acordo com nosso carisma, precisa ser uma espiritualidade ‘de saída’, de estrada, daí, adquirir botinas e não sofás, conscientes, ainda, de que um agir, eficaz e duradouro, necessita ser comunitário e não isolado, individual. Toda essa caminhada deverá constituir-se num caminho de santificação, a partir de nossa própria vocação pessoal, do profetismo inerente ao nosso carisma e, sobretudo, devido à pandemia do coronavírus (Covid-19), criar e viver uma nova cultura que valorize a amizade, a mudança de mentalidade e, consequentemente, a mudança de postura em nossos ambientes, que se preocupe com todas as pessoas, em detrimento do individualismo. Desta forma, revivendo essa história, estaremos preparando e vivendo em estado de jubileu. DECOLORES!
Pe. Francisco Luis Bianchin (Pe. Xiko) ASSESSOR REFERENCIAL PARA FORMAÇÃO
gen-pexiko@cursilho.org.br JUNHO | AGOSTO | SETEMBRO DE 2021
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PALAVRA DO PAPA
Hoje, peçamos a graça de uma fé que não se canse de procurar o Senhor, de bater à porta do seu Coração.
NO ANGELUS DO DIA 13 DE JUNHO DE 2021, O PAPA FRANCISCO NOS OFERTA ESTA LINDA REFLEXÃO DO EVANGELHO DE SÃO MARCOS, QUE NARRA O EPISÓDIO DA TEMPESTADE ACALMADA POR JESUS (MC 4, 35-41). O barco em que os discípulos atravessam o lago é acometido pelo vento e pelas ondas e eles têm medo de afundar. Jesus encontra-se com eles no barco, mas está na popa, deitado na almofada, e dorme. Cheios de medo, os discípulos gritam com Ele: “Mestre, não te importas que pereçamos?” (v. 38). E muitas vezes, também nós, assaltados pelas provações da vida, gritamos ao Senhor: “Por que permaneces em silêncio e não fazes nada por mim?”. Sobretudo, quando temos a impressão de afundar, porque esvaece o amor ou o projeto no qual tínhamos colocado grandes esperanças; ou quando estamos à mercê das ondas insistentes da ansiedade; ou quando nos sentimos esmagados pelos problemas ou desorientados no meio do mar da vida, sem rota e sem porto. Ou ainda, nos momentos em que falta a força para ir em frente, porque não há trabalho ou um diagnóstico inesperado nos faz temer pela saúde, nossa ou de um ente querido. Há muitos momentos em que nos sentimos numa tempestade, em que nos sentimos quase perdidos. JUNHO | AGOSTO | SETEMBRO DE 2021
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A fé começa quando acreditamos que não somos autossuficientes, quando nos sentimos necessitados de Deus. Quando vencemos a tentação de nos fecharmos em nós próprios, quando superamos a falsa religiosidade que não quer incomodar Deus, quando clamamos a Ele, Ele pode fazer maravilhas em nós. É a força suave e extraordinária da oração, que faz milagres. Suplicado pelos discípulos, Jesus acalma o vento e as ondas. E faz-lhes uma pergunta, uma interrogação que também nos diz respeito: “Por que tendes medo? Ainda não tendes fé?” (v. 40). Os discípulos deixaram-se surpreender pelo medo, pois tinham fixado mais as ondas do que Jesus. E o medo leva-nos a olhar para as dificuldades, para os problemas graves e não para o Senhor que, muitas vezes, dorme. Acontece o mesmo conosco: quantas vezes olhamos para os problemas, em vez de ir ter com o Senhor para depor nele as nossas preocupações! Quantas vezes deixamos o Senhor num canto, no fundo do barco da vida, para o acordar apenas no momento da necessidade! Hoje, peçamos a graça de uma fé que não se canse de procurar o Senhor, de bater à porta do seu Coração. A Virgem Maria, que na sua vida nunca deixou de confiar em Deus, volte a despertar em nós a necessidade vital de nos confiarmos a Ele, todos os dias.
Nestas situações, e em muitas outras, também nós nos sentimos sufocados pelo medo e, como os discípulos, corremos o risco de perder de vista o que é mais importante. Com efeito, no barco, embora durma, Jesus está presente, e partilha com os seus tudo o que acontece. Se o seu sono, por um lado, nos surpreende, por outro, põe-nos à prova. O Senhor está ali, está presente; efetivamente, espera – por assim dizer – que o interpelemos, que o invoquemos, que o coloquemos no centro do que vivemos. O seu sono estimula-nos a despertar. Pois, para ser discípulo de Jesus, não basta acreditar que Deus está presente, que existe, mas é preciso pôr-se em jogo com Ele, é necessário levantar a voz com Ele. Escutai isto: é preciso gritar com Ele. Muitas vezes, a oração é um grito: “Senhor, salva-me!”. Hoje, Dia do Refugiado, vi, no programa “A sua imagem”, muitos que vêm em embarcações e, no momento do naufrágio, gritam: “Salva-nos!”. A mesma coisa acontece na nossa vida: “Senhor, salva-nos!”, e a oração torna-se um clamor! Hoje, podemos nos perguntar: quais são os ventos que se abatem sobre a minha vida, quais são as ondas que impedem a minha navegação e colocam em perigo a minha vida espiritual, a minha vida familiar, inclusive a minha vida psíquica? Digamos tudo isto a Jesus, contemos-lhe tudo. Ele deseja isto, quer que nos apeguemos a Ele para encontrar abrigo contra as ondas anómalas da vida. O Evangelho narra que os discípulos se aproximam de Jesus, que o acordam e falam com Ele (cf. v. 38). Eis o início da nossa fé: reconhecer que sozinhos não somos capazes de permanecer à tona, que precisamos de Jesus, como os marinheiros das estrelas para encontrar a rota.
Aponte a câmera de seu celular para o QR-Code ao lado e acesse o vídeo da súplica do Papa Francisco Senhor, não nos deixes à mercê da tempestade
Aponte a câmera de seu celular para o QR-Code ao lado e acesse o vídeo da oração do Papa Francisco JUNHO | AGOSTO | SETEMBRO DE 2021
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ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA
ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA QUERIDA FAMÍLIA CURSILHISTA, DOS VÁRIOS RINCÕES DO NOSSO IMENSO BRASIL, E ÀQUELES ONDE ESTE VEÍCULO DE COMUNICAÇÃO CHEGAR, SAUDAÇÕES DE AMIZADE, SAÚDE E PAZ A TODOS. JUNHO | AGOSTO | SETEMBRO DE 2021
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N
esta edição, vamos fortalecer nossa esperança em mais um tesouro que nossa Igreja nos oferece, como certeza de nossa caminhada como filhos e filhas de Deus, buscando a santidade e a salvação, bem como evangelizando nossos ambientes através do Carisma do MCC, que é a Assunção de Nossa Senhora, Mãe da Igreja e nossa Mãe, aquela que nos ensina a dar nosso SIM, com convicção e coragem.
Ela reencontra Seu Filho, após a separação de sua morte na cruz, e entra em união definitiva com Ele. Maria não necessita mais da fé para conhecer Jesus. Ela, agora, dispensa os obscuros e limitados símbolos terrestres e se encontra face a face com a divindade, está junto dela no céu, como sempre esteve na terra. Vemos, ainda, na sua gloriosa Assunção, que sua Maternidade Espiritual recebe seu último acabamento, isto é, desde a Anunciação, Maria recebera uma graça materna para com os homens, da qual recebeu os fundamentos na Encarnação. Enquanto Cristo, ao se encarnar, tornava-se, radicalmente, cabeça dos homens, Maria se tornou sua mãe, fundamento de sua maternidade em relação a nós. Na Cruz, Cristo tornou-se, formalmente, Cabeça da Igreja e, Maria, Mãe desta, tanto que Cristo escolheu esta hora para proclamar sua missão materna como nos deixa claro em São João (Jo 19,25-27).
Para relembrarmos da Proclamação da Assunção de Nossa Senhora, como Dogma de Fé, eis o trecho de Pio II: “Pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma dignamente revelado, que a Imaculada Mãe de Deus e sempre Virgem Maria, terminando o curso de sua vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial”. (Constituição apostólica “Munificentissimus Deus” (M.D DE Pio XII – primeiro de Novembro de 1950). Entende-se por Assunção a glorificação corporal antecipada da Santíssima Virgem, em razão dos méritos do seu Filho Jesus Cristo. Assim, enquanto dizemos que Jesus ascendeu aos céus, sobre Maria é certo que esta foi assunta ao Céu, de Corpo e Alma. Isso porque Jesus subiu aos céus por virtude própria, enquanto Maria foi assunta aos céus pelas virtudes e méritos de Jesus. Ela foi, assim, levada, não tendo subido por si mesma, mas por aquele a quem gerou. Dizemos, portanto, glorificação antecipada porque a glorificação corporal das criaturas é prevista apenas para o fim dos tempos, como o próprio Jesus nos disse, enquanto que, com Maria, ela aconteceu antecipadamente.
Em Pentecostes, está claro que o Regime da Graça entrou em vigor e Maria assumiu, efetivamente, sua maternidade, intercedendo pelos homens, amando-os, com amor universal, através de Seu Filho, embora os conhecesse, indistintamente, e não conhecesse, claramente, o poder e o efeito de sua intercessão. Como intercessora e Mãe, caminha, também, com os filhos e filhas de Deus, intercedendo pela sua missão na Igreja e nos caminhos da vida. Sendo assim, no Céu, de Corpo e Alma, conhece cada um de nós, de modo individual e pessoal. Estando no céu, com seu Corpo, (glorificado como o de Cristo), Maria mantém para conosco uma “conaturalidade” física (faz parte de cada um de nós desde o início) e uma capacidade afetiva, as quais os outros santos estão, atualmente, privados. Assim, tem um conhecimento materno ardente e preciso, mais íntimo do que o dos demais bem-aventurados.
Se Maria morreu ou não morreu, não é esse o mérito da questão. A Tradição afirma, frequentemente, que sim, mas esta afirmação não é artigo de fé e constitui divergência, desde os primeiros séculos da Igreja. De qualquer modo, se Deus envolveu de mistério o fim de sua santíssima Mãe, não cabe a nós nos perdermos em tais discussões, até porque fatos mais importantes, decorrentes da glorificação corporal de Maria, se tornam essenciais para essa certeza em nossa vida de fé. Reflitamos sobre alguns!
Ainda sobre a Gloriosa Assunção de Maria, esse Dogma de fé, proclamado pela Igreja, nossa Mãe e Mestra, se faz importante frisar algumas
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mente, sobre a morte. Maria é vitoriosa sobre o pecado e a morte não por si mesma, como Cristo, mas porque está unida a Cristo vitorioso. A virgindade de Maria, também, é motivo de sua Assunção, por ter sido Ela vocacionada a doar sua carne, unicamente, a Deus, através do seu Fiat. A Assunção de Maria é sinal de que a graça não transforma somente o espírito, mas todo o ser humano. A graça da glorificação do corpo humano foi antecipada em Maria, enquanto nós haveremos de esperar a ressurreição final. Que diante deste Dogma de fé, dessa ação clara de Deus na vida de Maria, serva e obediente até o fim, tornando-se, assim, exemplo de discípula, verdadeira possibilidade de se chegar à salvação, possamos, também nós, em nossa fé, missão e discipulado, dar sempre, com amor e alegria, nosso SIM a Deus. E, assim sendo, não nos esquecer que este SIM tem que nos acompanhar por toda a VIDA e sermos, como Maria, fiéis e comprometidos com a vontade do Senhor. Como Ela mesmo disse, em Caná: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. A certeza dessa obediência é a garantia do céu, da verdadeira felicidade, do nobre sentimento de dever cumprido, na tão breve caminhada da vida.
observações sobre o que citamos acima. Maria ultrapassa os santos em algumas condições que a fizeram ser escolhida para tão específica missão:
•
Jamais pecou, de modo que tem perfeita unidade com o amor divino;
• • •
É cheia de Graça; Está no céu, em alma e corpo; Deus se compraz em escutar o duplo eco de suas intenções, na liberdade humana de Jesus e de Maria.
Desse modo, Maria tem comunhão total com Deus e, portanto, não podemos dissociar as intenções de Deus das de Maria, a ação de Deus da de Maria e o poder de Deus, que inspira e penetra sua oração, dando aos seus desejos, o poder de atingir seu objetivo, como nossa Mãe e intercessora. Desde a origem, Maria precedeu a Igreja em todas as etapas de sua vida. Agora, na Virgem assunta ao céu, a Igreja, em marcha para a glorificação, realiza já a perfeição do seu mistério. A Assunção não pode ser considerada como um fato isolado, mas, no contexto da obra redentora de Jesus e no contexto da missão que Jesus encomendou à Maria na cruz, em favor da Igreja. Com relação a Jesus a Assunção de Maria não tem luz própria, mas o reflexo que Cristo ressuscitado faz incidir sobre Ela. É participação na glória de Cristo, devido a redenção. Por desígnio divino, Maria está associada à vitória de Cristo sobre o pecado e, consequente-
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Pe. Wagner Luis Gomes Vice-Assessor Eclesiástico Nacional
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FORMAÇÃO
A vida quer Esse Deus, que é Amor e nos ama como filhos e filhas, caminha conosco e nos dá a vida e conclama: “...não haja tristeza, porque a alegria do Senhor será a vossa força!” (Ne 8,10). A alegria do Senhor é uma obra que ultrapassa o natural, porque está dentro de nós e, permanecendo assim, é a presença viva do Espírito Santo em nosso coração. Portanto, o Pentecostes na nossa vida precisa ser agora. Ciente disso, o MCC realizou tão bela Novena de Pentecostes! Caros leitores e leitoras, tenham certeza: apesar dos pesares, a vida quer florescer! Vamos dar espaços a ela em nós, em nossa família, em nossos amigos, em nossa comunidade... Como? Cumprindo as orientações básicas de saúde e as orientações da nossa Igreja, cuidadora e zelosa de seu povo! Mesmo com todas as contradições que se nos apresentam, em meio a tanta violência, dores, doenças e mortes, Deus dá a vida! Retomemos o que disse o profeta Isaias: “O lobo será hóspede do cordeiro, a pantera se deitará ao lado do cabrito; o bezerro e o leãozinho pastarão juntos, e um menino os guiará; pastarão juntos o urso e a vaca, e suas crias ficarão deitadas lado a lado, e o leão comerá capim como o boi. O bebê brincará no buraco da cobra venenosa, a criancinha enfiará a mão no esconderijo da serpente” (Is 11,6-8). Esse profeta está nos mostrando que, mesmo em meio às nefastas contradições, o possível de Deus acontece! Trazemos presente neste texto um tema que o MCC apresentou e que conosco permaneceu por longo tempo e que, ainda hoje, nos interpela: “Peregrinar com fé é abrir caminhos”.
SOMOS DECOLORES! COM A FÉ QUE PROFESSAMOS, PODEMOS VER A VIDA DE MUITAS CORES! SERÁ POSSÍVEL PINTARMOS ALGUMAS CORES NESTE CENÁRIO CINZENTO? ESTE TEMPO FECHADO E ESCURO PODERÁ TER ALGUMAS PINCELADAS DE CORES, DE LUZES QUE SUAVIZEM TANTA DUREZA?
S
omos chamados a sermos profetas! Ora, as ações de um profeta, hão de ser ações proféticas e seu agir, portanto, um agir profético: aí está o coração de seu profetismo! Quando? Onde? Aqui e agora... Em todo tempo... Em todo lugar... Mesmo que o tempo seja fechado, nos mantendo isolados e distantes uns dos outros, fisicamente, Deus precisa de porta-vozes para ser, nesse mundo, sinal de alegria, de esperança, como sempre nos lembra Padre Xiko, em suas Orações da manhã: podemos estar longe dos olhos, não, porém, do coração! Isso é ser um pequeno pincel que, aos poucos, vai dando cores a esse painel escuro, cheio de incertezas, dúvidas, medos, mentiras, lágrimas e dores e, até, de perdas irreparáveis... Mas, apesar de tudo isso e, em meio a tudo isso, Deus dá a vida, Deus quer a vida do ser humano, fruto do seu amor, gerado de Seu coração, de Sua vontade, feito a Sua imagem e semelhança!
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• Olha os rostos dos nos-
No caminho, nós andamos, avançamos, retrocedemos, caímos, levantamos... Nosso olhar no olhar de Cristo, nossos pés nos rastros de Cristo, enfim, com Cristo e por Ele, temos a certeza de chegarmos seguros ao fim do caminho, pois Deus que nos ama, em Cristo, caminha conosco, ao nosso lado e nos dá a vida! Peço licença para me referir a alguns trechos da homilia do Papa Francisco, na Quarta- feira de Cinzas desse ano, em Roma: Para, olha e retorna! Para mim, esta é uma reflexão para toda nossa vida cristã comprometida em todo tempo e todo lugar, principalmente, no tempo difícil que vivemos agora... • Parar um pouco é atitude preciosa para desmascarar tentações que nos rodeiam e deixar que o nosso coração volte a bater segundo as palpitações do coração de Jesus. Sim, todo tempo que Deus nos dá é precioso e está conforme seu projeto, também, esse tempo pandêmico que vivemos agora, tempo de provação... Como o próprio Papa Francisco cita, na Oração ao Espírito Santo, transcrito no final desse texto: • Para um pouco, deixa esta agitação e este correr sem sentido que enche a alma de amargura, sentindo que nunca se chega à parte alguma. • Para, deixa esta obrigação de viver de forma acelerada, que dispersa, divide e acaba por destruir o tempo da família, o tempo da amizade, o tempo dos filhos, o tempo dos avós, o tempo da gratuidade... o tempo de Deus. • Para um pouco com o ruído ensurdecedor que atrofia e atordoa os nossos ouvidos e nos faz esquecer a força fecunda e criativa do silêncio. • Para diante do vazio daquilo que é instantâneo, momentâneo e efêmero, que nos priva das raízes, dos laços, do valor dos percursos e de nos sentirmos sempre a caminho... • Olha os sinais que impedem de se apagar a caridade, que mantêm viva a chama da fé e da esperança. Rostos vivos com a ternura e a bondade de Deus, que age no meio de nós. • Olha o rosto das nossas famílias que continuam a apostar, dia após dia, fazendo um grande esforço para avançar na vida e, entre muitas carências e privações, não descuram tentativa alguma para fazer da sua casa uma escola de amor. JUNHO | AGOSTO | SETEMBRO DE 2021
sos idosos, enrugados pelo passar do tempo: rostos portadores da memória viva do nosso povo. Rostos da sabedoria operante de Deus. • Olha os rostos dos nossos doentes e de quantos se ocupam deles; rostos que, na sua vulnerabilidade e no seu serviço, nos lembram que o valor de cada pessoa não pode jamais reduzir-se a uma questão de cálculo ou de utilidade. • Olha os rostos arrependidos de muitos que procuram remediar os seus erros e disparates e, a partir das suas misérias e amarguras, lutam por transformar as situações e continuar para diante. • Olha e contempla o rosto do Amor Crucificado, que continua hoje, a partir da cruz, a ser portador de esperança; mão estendida para aqueles que se sentem crucificados, que experimentam na sua vida o peso dos fracassos, dos desenganos e das desilusões. • Olha e contempla o rosto concreto de Cristo, crucificado por amor a todos, sem exclusão. De todos? Sim, de todos. Olhar o seu rosto é o convite cheio de esperança deste tempo para vencer os demônios da desconfiança, da apatia e da resignação. Rosto que nos convida a exclamar: o Reino de Deus é possível! Retorna à casa de teu Pai. Regressa sem medo aos braços ansiosos e estendidos de teu Pai, rico em misericórdia (cf. Ef 2, 4), que te espera! Retorna! Sem medo: este é o tempo oportuno para voltar à casa, a casa do ‘‘meu Pai e vosso Pai’’ (cf. Jo 20,17). Este é o tempo para se deixar tocar o coração... Permanecer no caminho do mal é fonte apenas de ilusão e tristeza. A verdadeira vida é outra coisa muito diferente, e bem 12
Ao concluir esse texto, convido você a rezar comigo a Oração ao Espírito Santo, sugerida por Papa Francisco: “Espírito Santo, memória de Deus, reavivai em nós a lembrança do dom recebido. Libertai-nos das paralisias do egoísmo e acendei em nós o desejo de servir, de fazer bem. Porque pior do que esta crise, só o drama de a desperdiçar fechando-nos em nós mesmos. Vinde, Espírito Santo! Vós que sois harmonia, tornai-nos construtores de unidade; Vós que sempre Vos doais, dai-nos a coragem de sair de nós mesmos, de nos amar e ajudar, para nos tornarmos uma única família. Amém”.
o sabe o nosso coração. Deus não Se cansa nem Se cansará de estender a mão (Bula Misericordiae Vultus, 19). Estamos todos e todas ansiosos que esse tempo nebuloso passe, que os dias clareiem, que a vida retome seu curso, mesmo que seja de um jeito novo... Não podemos afirmar onde está o ponto final desse tempo, estamos, outrossim, cheios de interrogações e reticências... Somos chamados a dialogar com Jesus Ressuscitado, Aquele que a tudo venceu... Com Ele, queremos recomeçar. A vida quer recomeçar, quer florescer no coração das pessoas, na vida da natureza, na vida da Igreja, das comunidades, e quer florescer na vida do Movimento de Cursilhos! Com fé, coragem, alegria e esperança, vamos ser, cada um de nós e todos nós em conjunto, canal da graça para ver a vida florescer em todos os cantos e recantos!
Lucília Alves Cunha Mestre em Ciências da Religião Membro do Grupo de Apoio do GEN e GER C/O JUNHO | AGOSTO | SETEMBRO DE 2021
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CARTA AO MCC
CARTA AO MCC • 263ª “Estando fechadas as portas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: ‘A paz esteja convosco’. Depois disse a Tomé: ‘Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel’. Tomé respondeu: ‘Meu Senhor e meu Deus!’” (Jo 20, 26b-28).
1. Jesus entra onde estavam os discípulos com “as portas fechadas”. É missão de todos os cristãos, consagrados e consagradas, leigos e leigas e, sobretudo, dos ordenados para a missão, abrir as portas tanto para deixar Jesus entrar, como para sair anunciando a Boa Notícia, com palavras e testemunho de vida. É urgente, primeiro, ouvir a palavra de Jesus: “A paz esteja convosco”. Se o coração não estiver em paz, se encontrar-se agitado por muitas preocupações, ou repleto de vaidades, de orgulho ou de amor-próprio e de desejos alheios ao Reino de Deus, não conseguirá ouvir a saudação de Jesus. Uma “Igreja em saída” só será possível quando os seguidores de Jesus, de coração aberto e em paz, saírem para anunciar. Anunciar o Reino da justiça, da paz, do perdão, da solidariedade. Não como uma Igreja para dentro, mas como uma Igreja para fora. Pois é lá fora que estão as ovelhas desgarradas, que está uma sociedade cada vez mais distante de Deus,
Irmãos e irmãs, leitores e leitoras destas Cartas Mensais, que nos unem em nossos esforços para seguir o Mestre: esteja com cada um e cada uma de vocês, aquela mesma Paz que Jesus ofereceu aos seus discípulos, depois da sua Ressurreição, e que continua a oferecer aos que escolhe para trabalhar pelo Reino. Introdução. Este mês é muito rico em celebrações e comemorações litúrgicas. Entretanto, pareceu-me oportuno propor uma breve reflexão sobre aquele apóstolo que, antes incrédulo, depois de apalpar as chagas de Jesus, o reconhece como Deus e Senhor. Porque Tomé é um exemplo sempre atual de manifestação da fé na pessoa de Jesus, homem-Deus. A circunstância em que se dá o encontro do Ressuscitado com Tomé nos leva a refletir sobre três momentos: o dom da paz, a humildade do Mestre que vai ao encontro da incredulidade do discípulo e a profissão de fé.
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uma sociedade líquida, cujos valores estão relativizados, uma sociedade na qual cada indivíduo é dono da sua verdade. Pois, esses valores ou antivalores e essas “verdades” condicionam uma mentalidade. E, consequentemente, determinam um agir.
correr do tempo de vida de cada um. Mas, sobretudo, diante das novas circunstâncias ou acontecimentos. De maneira especial, é urgente o amadurecimento da fé na transição do tempo presente: de uma cultura antiga para outro modo de ser e de viver. Num primeiro momento, Tomé não acreditou nos companheiros. Foi preciso uma outra manifestação de Jesus para que ele pudesse, finalmente, exclamar: “Meu Senhor e meu Deus”! Esse discípulo vem nos ensinar – a nós que jamais vimos o rosto de Jesus, nem ouvimos suas palavras, nem sentimos seus abraços – o percurso que devemos fazer para chegar à fé em Cristo Ressuscitado. Mesmo com dúvidas ou interrogações, é preciso saber que elas fazem parte do amadurecimento na fé.
2. Jesus convida Tomé: “Estende a tua mão e coloca-a no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê”. O convite de Jesus é extensivo a toda a comunidade eclesial. Porque, além de uma Igreja ad intra, há uma Igreja ad extra, isto é, presente em todas as realidades do mundo. Onde estão, hoje, as chagas de Jesus? Nos abandonados, nos infelizes, nos pobres, nos rejeitados... Qual o significado, hoje, de “estende a tua mão”? Não seria, precisamente, ir ao encontro dos que esperam a Boa Nova, lá nas periferias existenciais dos lugares onde vivemos? E a ordem de Jesus: “não sejas incrédulo, mas crê” não seria uma forma de nos chamar a atenção para aquilo que está no centro da mensagem evangélica: a FÉ na pessoa de Jesus?
Conclusão. Além de viver na presença de Jesus, seu seguidor viverá a presença d’Ele em todos os momentos de sua vida. Os discípulos se transformam quando veem Jesus ressuscitado no meio deles. Alegram-se com a saudação de Jesus, recuperando a paz e libertando-se do medo que existia no meio deles. Será que a presença de Jesus na Igreja, no meio de nós, não tem sido muito mais uma doutrina pregada do que uma experiência, diariamente, vivida? A partir da
3. Uma caminhada para a fé. Ainda que a fé seja um dom, um presente de Deus recebido no batismo, é preciso consciência e determinação para amadurecê-la, com o
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Rafael Antunes Willemann Advogado - OAB-SC 40554 Especialista em Direito do Trabalho Causas: Trabalhistas, Previdenciarias, Medicamentos e Cíveis Fone: (48) 9667-5193 / 3622-3753 rafaelantuneswillemann@gmail.com
doutrina que nos é ensinada, algumas interrogações simples nos ajudariam a viver essa experiência no nosso dia a dia: O que Jesus faria diante desta situação ou diante destes acontecimentos? O que Jesus diria a esta pessoa que está falando comigo? Nossa vida diária está cheia de momentos em que podemos recordar os critérios de Jesus e o seu Espírito. Momentos de renovar nossa alegria e abrir as portas do coração, recordando a sua presença viva. Jesus ressuscitado está presente no meio de nós, transmitindo-nos mais força e mais alegria. Tomé não aceitava o testemunho de seus companheiros. Somente ao ver Jesus presente, recuperou a paz, a alegria e explodiu numa exclamação comovente: “Meu Senhor e meu Deus”!
falta de consciência de uma verdadeira pertença, ao invés da simples frequência? b) E o amadurecimento na fé? Você já chegou ao ponto de crer em ALGUÉM e não em ALGO? Ou você continua confundindo FÉ com CONFIANÇA, como quem espera que algo aconteça ao invés de viver conforme nos pede Jesus? Sempre unido a cada um e cada uma, através da minha oração e de minha vida sacerdotal, despeço-me com um abraço fraterno.
Aponte a câmera de seu celular para o QR-Code abaixo e acesse o vídeo do Pe. Beraldo
Sugestões para reflexão pessoal ou em grupo: a) O que significa para a Igreja, hoje, estar de “portas fechadas”? Seria o apego ao tradicionalismo? Seria o medo do novo, a tendência de continuar a fazer o que sempre se fez? Seriam as falsas seguranças? Seria a
Todas as Cartas Mensais escritas pelo Pe. Beraldo podem ser encontradas no site do MCC, através do seguinte link: www.cursilho.org.br/index.php/cartas-mensais
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Pe. José Gilberto Beraldo Equipe Sacerdotal do Grupo Executivo Nacional
jberaldo79@gmail.com
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CAMINHOS DE SANTIAGO
O CAMINHO DE SANTIAGO DE COMPOSTELA E O CURSILHO O Caminho de Santiago de Compostela e o Movimento Cursilhista da Cristandade (MCC) entraram na minha vida há pouco mais de vinte anos. De lá para cá, eles se entrelaçam de uma maneira singular, fortalecendo corpo e espírito. Nesse período, realizei oito peregrinações na Península Ibérica, afora outras aqui pelo Brasil. Já no MCC, participei em mais de três dezenas de retiros e inúmeras outras atividades. Quando recebi o convite para unir esses dois temas neste artigo, percebi que essa se tornaria uma escrita que envolve muitos afetos, pois essas realidades me proporcionaram companheiros e amigos peregrinos-cursilhistas que me sustentam e incentivam para caminhos mais desafiadores e a ser um cristão comprometido.
Certamente, muitos já ouviram falar sobre o Caminho de Santiago, alguns demonstram o desejo de fazê-lo e outros até já o realizaram. Aqui, me proponho a falar um pouco sobre sua origem e história, além das minhas percepções sobre a peregrinação, tendo sempre como pano de fundo o retiro do Cursilho.
AS ORIGENS Compostela, junto com Jerusalém e Roma, é um dos principais lugares de peregrinação cristã. A sua importância no contexto da história do cristianismo decorre da tradição de que o
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grupo de discípulos chamados por Jesus. Este grupo acompanhou o Mestre em momentos especiais do seu ministério e da sua vida, como a ressurreição da filha de Jairo (Mc 5,22-24.35-42), a transfiguração (Mc 9,2-8), a agonia no Getsémani (Mc 14,32-42). E, segundo o livro At, Tiago foi o primeiro dos Apóstolos a morrer mártir, tendo sido decapitado em Jerusalém, no ano 44, por ordem do rei Herodes Agripa I (At 12,2). A tradição, também, diz que Tiago anunciou o Evangelho na Península Ibérica. Após o seu martírio em Jerusalém, dois dos seus discípulos trasladaram o seu corpo numa barca para sepultá-lo na região onde evangelizara. Atravessaram o mar Mediterrâneo, passaram pelo oceano Atlântico e aportaram na costa da Galícia, sepultando o seu corpo. O rei das Astúrias, Afonso II, acompanhado da sua corte, dirigiu-se em peregrinação a Compostela (Caminho Primitivo), colocando-se a si pró-
Mapa Península Ibérica)
Apóstolo São Tiago (44 d.C.) foi sepultado no local onde, hoje, se ergue a Catedral Compostelana. Esta convicção faz convergir para Santiago de Compostela milhares de peregrinos, anualmente, desde a Idade Média. No princípio do século IX, num bosque onde hoje se ergue a Catedral de Santiago de Compostela, um monumento sepulcral foi descoberto por um eremita Pelayo. Ele julgou estar perante os restos mortais do Apóstolo Santiago. O bispo Teodomiro, da então Diocese de Iria Flavia, foi avisado e dirigiu-se ao local e encontrou as ruínas de uma antiga igreja e de um túmulo, não tendo dúvidas em declarar que aquele era o sepulcro do Apóstolo São Tiago. O bispo Teodomiro apressou-se a comunicar esse descobrimento entre os reinos cristãos da Europa de então. Posteriormente, construiu-se a primeira igreja, consagrada a São Tiago, no ano 834. Deste modo, confirmava-se o lugar como um espaço sagrado que, rapidamente, se converteria num espaço singular no contexto da Europa cristã. A partir da Bíblia, sabemos que Tiago era natural da Galiléia e irmão de João. Tal como seu pai, Zebedeu, era pescador (Mc 1,16-20). É conhecido como São Tiago Maior, para distingui-lo de outras figuras do NT com o mesmo nome. Juntamente com Pedro e João, Tiago fazia parte do primeiro JUNHO | AGOSTO | SETEMBRO DE 2021
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prio e ao seu pequeno reino sob a proteção do apóstolo. Assim, logo o bispo e o rei cuidaram de informar o papa acerca de tão precioso achado. A divulgação da notícia por toda a Europa transformou Compostela num local privilegiado de peregrinação. O fato de possuir um tesouro invulgar, concretamente, o túmulo de um dos doze apóstolos, conferia-lhe um estatuto especial no conjunto das outras igrejas da Cristandade, só comparável a Roma e Jerusalém.
A PEREGRINAÇÃO A peregrinação ocupa um lugar de destaque no universo doutrinal e devocional do cristianismo, recordando-nos que, do nascimento até a morte, o homem é um peregrino sobre a terra. A este propósito, João Paulo II afirma que a peregrinação: “reproduz a condição do homem, que gosta de descrever a sua própria existência como um caminho. Do nascimento até a morte, cada um vive na condição peculiar do homo viator” (homem caminhante).
OS CAMINHOS Não tardou muito para que os peregrinos de toda a Europa começassem a percorrer a Compostela para venerarem as suas relíquias, tornando-a num ponto de referência na espiritualidade medieval. A posterior instituição do Ano Santo Compostelano (quando 25 de julho, data da morte de Tiago cai num domingo), no século XII, contribuiu, decididamente, para o incremento da peregrinação e para o prestígio do local. A sua beira, construíram-se igrejas, conventos, hospitais e albergues para acolher os peregrinos, prestar-lhes assistência religiosa e cuidar dos doentes.
Caminho primitivo
Como sabemos, a vida humana é, na perspectiva cristã, uma caminhada, uma peregrinação ao encontro de Deus. Na Bíblia, temos vários textos que falam sobre isso: vida na terra é tempo da peregrinação (1Pe 1,17); o cristianismo é o Caminho (At 9,2; 19,9; 22,4); uma caminhada espiritual, cuja meta final é a Jerusalém celeste (Ap 21,1-4); reconhecimento de que o homem não tem morada permanente (2Cor 5,1-6). Assim, na caminhada do homem, Deus o acompanha e sustenta com a sua graça, a caminho da vida eterna.
PERCEPÇÕES DO CAMINHO DE SANTIGO
Caminhos pela Europa
Esses caminhos nasceram como caminhos de fé, mas tornaram-se, também, vias que facilitaram o intercâmbio cultural. Por eles passaram, ao longo dos séculos, incontáveis peregrinos de todos os países da Europa e do resto do mundo, contribuindo, substancialmente, para o intercâmbio de pessoas, ideias e bens.
Quando realizamos a caminhada, surge uma série de percepções que são despertadas no peregrino. Elenco algumas, sendo a primeira o crescimento na confiança tão necessária para enfrentar o temor face às contingências da pereJUNHO | AGOSTO | SETEMBRO DE 2021
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grinação. Fazer o caminho é também um exercício de autoconfiança, descobrindo que ninguém nos pode substituir no caminhar. Daí, nasce a consciência de que cada pessoa tem um contributo único a dar à sociedade em que vive. Outra percepção é o diálogo, na aceitação do outro e na articulação das diferenças, pois cruza-se com pessoas provenientes de todos os continentes. E cada peregrino traz consigo as suas experiências existenciais, afetivas e religiosas, com suas ideias e hábitos culturais. É um espaço onde o diálogo com o outro é possível num plano de igualdade, porque todos os peregrinos estão, por assim dizer, “fora de casa”, não só geograficamente falando, mas também simbólica e culturalmente. O diálogo conduz ao conhecimento mútuo e este é um passo importante no combate ao medo face ao desconhecido. É sair-se de si, indo ao encontro do outro, quebrando os medos que separam, na busca de um novo modelo de unidade, na diversidade. Proporciona uma comunidade aberta às outras e envolvida no processo de humanização.
Na peregrinação, a realização de pequenas tarefas, como preparar uma refeição, lavar a louça, deixar limpo o local onde o grupo pernoitou pode ser uma ocasião propícia para descobrir a beleza do serviço. É natural que quem peregrina esteja sujeito a fazer bolhas nos pés, a ter dores musculares, a ser encharcado pela chuva, talvez dormir no chão, a passar frio ou sede. Mas, esses acidentes de percurso podem gerar autênticos gestos de serviço fraterno e ajudar a tomar consciência do valor e da importância que a dimensão da gratuidade tem na vida das pessoas. Pelos Caminhos de Santiago, há uma relação muito próxima com a natureza. O caminho a pé cria uma espécie de cumplicidade com a terra que se pisa, a água que sacia a sede, o vento que ameniza as tardes quentes e o calor do sol que enxuga as roupas molhadas ou aquece durante o frio. A peregrinação possibilita o caminhar, passo a passo, observando a paisagem e as pessoas, deixando-se envolver pelos cheiros da natureza e pelos seus sons. Mas, também, onde se vê os contrastes: paisagens belas de cortar a respiração e zonas poluídas; ora puro silêncio, ora ruído inWladimir, Angelillo e Rafael, fernal. São momentos para os três Cursilhistas Peregrinos, 2015) uma reflexão crítica sobre as sugestões e orientações que o mundo promove na defesa do meio ambiente e da qualidade de vida do ser humano. Quanto aos motivos da peregrinação, é preciso dizer que eles são diversos. Há os peregrinos crentes que fazem o caminho a partir das suas convicções cristãs e há peregrinos não crentes, não praticantes, afastados da Igreja. Há peregrino que busca, mesmo não crente, um horizonte que dê sentido a sua vida e história, uma busca espiritual, consciente ou não. O que faz o caminho
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por razões culturais, a fim de contatar com as numerosas obras de arte, fruto do trabalho artístico de vários séculos. É possível encontrar, até, algum peregrino que não sabe muito bem porque é que iniciou a caminhada, associando o caminho a uma mística ou a um chamamento mais ou menos difuso. Há os que partem por espírito de aventura, com o objetivo de testar os próprios limites físicos e psicológicos. Todavia, quaisquer que sejam os motivos pelo quais fazem o caminho, todos os peregrinos poderão chegar a Compostela mais livres e mais ricos. Livres, se aproveitarem os dias da peregrinação para experimentar uma forma de vida mais criteriosa, mais desprendida e mais simples. Mais ricos, se conseguirem descobrir o que é, verdadeiramente, essencial nas suas vidas, a nível espiritual, afetivo, familiar e profissional, e se forem capazes de prescindir das muitas coisas desnecessárias que tornam a mochila pesada e os dias cinzentos. O Caminho proporciona o desafio do desprendimento. Na encíclica Centesimus Annus, S. J. Paulo II já alertava para os perigos do consumismo, pois o homem pode “criar hábitos de consumo e estilos de vida objetivamente ilícitos e frequentemente prejudiciais a sua saúde física e espiritual”. Não é mal desejar uma vida melhor, mas é errado o estilo de vida que se presume ser melhor,
quando é orientado para o “ter” e não para o “ser”, para um consumo do prazer como um fim em si próprio. Enfim, é um aprendizado que proporciona adotar um estilo de vida no qual se busca o verdadeiro, o belo, o bom e a comunhão. É indiscutível que os caminhos de Santiago nasceram cristãos e que os peregrinos que os percorriam nasciam e cresciam num ambiente, profundamente, cristão. É certo que, atualmente, tal atitude não é tão verdadeira como outrora. Mas, o verdadeiro peregrino cristão de hoje vai a Santiago de Compostela, em primeiro lugar, numa atitude de peregrino. Considera a espiritualidade como o empenho assumido e consciente para integrar a própria vida no horizonte da transcendência, aquilo que cada qual percebe como o valor último da sua existência. Em consequência, a espiritualidade traduz-se num compromisso que liberta a pessoa para se comprometer, responder, criar e ajudar a transformar o mundo. E no final da peregrinação, ao cruzar o majestoso Pórtico da Glória da Catedral de Santiago de Compostela, os peregrinos, orientando a sua vida à luz das escrituras sagradas, regressam aos seus lugares de origem para, ali, serem testemunhas vivas de Jesus Cristo.
Oração da manhã do Peregrino
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gressiva, que incute o Evangelho nos ambientes. Uma verdadeira proposta de ação, na esperança de poder transformar a sociedade através dos valores cristãos. Apesar de um ou do outro terem suas peculiaridades, como a duração do retiro (longas semanas de peregrinação ou somente três dias), as percepções e experiências vivenciadas pelo peregrino, ao realizar o Caminho, ou o cursilhista que realiza seu retiro são semelhantes: tornamo-nos mais felizes, capacitados para melhor discernir e levar, com alegria, a Boa Notícia aos irmãos. Diante de tudo isso, fica fácil entender por que permanece no peregrino uma inquietude, um constante fascínio e desejo de realizar uma nova peregrinação, ou um novo retiro de Cursilho. Essas são experiências admiráveis, surpreendente e transcendentes. Decolores! Viva a Vida!
O CAMINHO DE SANTIGO E O CURSILHO Apesar das dificuldades, provações e dores, o Caminho de Santiago proporciona aos peregrinos uma descoberta de um belo caminho interior: o autoconhecimento; das renúncias do que é secundário e do essencial para escolher os melhores caminhos para a felicidade; do resgate ao prazer de viver; da renovação e redirecionamento da mentalidade, apontando e clareando os valores fundamentais que definem o verdadeiro sentido da vida. Voltamos de lá melhores homens e mulheres. Mais conscientes para enfrentar os caminhos da vida profissional, comunitária, familiar e pessoal neste mundo tão cheio de contradições, incertezas e desafios. O Cursilho com um modus operanti diferente, também, opera uma transformação no homem: uma vida espiritual centrada em Jesus Cristo, alimentada pela Graça que efetiva experiências de Deus, num processo de conversão integral e pro-
Rafael Cechella Isaia Cursilhista de Santa Maria, RS, Administrador e Teólogo
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FRATERNIDADE
FRATERNIDADE, além do nome! E encontrou, passando um mês no local. A história resume bem a filosofia da entidade que já existe há vinte anos. Ali, não há distinção entre classes sociais e problemas, não há distinção de cor, raça, credo ou condição social. Dentro dela, todos são seres humanos frágeis, mas filhos de Deus que se fortalecem no dia a dia com fé, trabalho coletivo e uma única crença: tudo é possível para os homens de boa-vontade e para Deus nosso grandioso Pai. Não por outro motivo, histórias de verdadeiros milagres saem de lá. Uma delas é a de Luiz Fernando Daniel, um mendigo de feira de Santana (BA) que foi apedrejado em São João Del Rei e desenganado pelos médicos, que diziam que morreria em uma semana. Porém, foi recuperado na instituição Fraternidade Sagrado Coração de Jesus, depois de longos dois anos inconsciente em uma cama e, hoje, casado e com uma filhinha, reconstruiu a sua vida. Não se trata de uma casa de repouso, de uma clínica de recuperação, de um asilo, um abrigo ou casa de passagem. O próprio nome aponta e Wesley faz questão de frisar: na casa de beira de estrada funciona uma FRATERNIDADE que abarca tudo isso. “Aqui tem gente pobre, doente, com problemas emocionais, vícios, deficiências graves e dependências de álcool e outras drogas. Mas, não é isso o que enxergamos todos dias. Vemos homens que precisam de ajuda e têm solução sim, mesmo que o mundo os
CERTO DIA, HÁ PELO MENOS DOIS ANOS, UMA GRANDE CAMINHONETE BRANCA ESTACIONOU EM FRENTE A UM IMÓVEL SIMPLES NA BR-494, ENTRE SÃO JOÃO DEL REI E RITÁPOLIS. DO AUTOMÓVEL, DESCEU UM SENHOR DISTINTO, BEM APARENTADO, PERGUNTANDO QUEM CUIDAVA DA CASINHA VERMELHA ONDE DEZENAS DE HOMENS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL ERAM ACOLHIDOS.
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esley Carvalho se apresentou e imaginou que o misterioso homem pretendia fazer doações à comunidade. Segundos depois, veio o choro do desconhecido e a revelação: era ortopedista e capitão do Exército em outro Estado. Sentia -se perdido, pensava em se matar. Bem como outros residentes da Fraternidade Sagrado Coração de Jesus, ele procurava por socorro, por ajuda.
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chame de “casos perdidos”, que “esse aí não tem jeito”, que “pau que nasce torto morre torto”, afirma o idealizador da comunidade. Por lá, a transformação se baseia em quatro pilares: fé, perseverança, disciplina e liberdade. “Pode parecer contraditório. Mas, o que defendemos é que aqui dentro vai haver regras, horários e rotinas, vai haver trabalho coletivo, vai haver colaboração, boa-vontade e tratamento psicológico e terapêutico. Todo mundo pode, da sua forma, fazer algo por si mesmo, pela casa e pelo próximo. E pode deixar a fraternidade quando bem entender. Não há muros aqui, ninguém está preso. Eu aposto na confiança e na vontade de mudar de cada um. Fica quem, realmente, quer mudanças e transformação em sua vida. Caso contrário, se fosse necessário criar muros, criaria uma prisão”, explica. E foi de uma prisão, aliás, que o aposentado Emílio Senra Filho escapou. Aos 83 anos, dos quais há cinco abrigados na Fraternidade, ele lembra com precisão dos quatro meses em que foi mantido em cárcere privado no Bairro Tijuca. “Era um homem sozinho. Então me casei com uma mulher que conheci na igreja evangélica e que prometeu cuidar de mim. Logo que assinamos os papéis, ela começou a me trancar, agredir, deixar sem comida e remédios de uso diário. Fiquei tão magro que consegui fugir por um basculante da cozinha”, conta Emílio. Debilitado, ele demorou duas horas para conseguir deixar o cárcere. Na fuga, ainda despencou da janela e se machucou. Foi socorrido por vizinhos que o encaminharam para o atendimento médico e chamaram a Assistência Social em São João Del Rei. “Foi aí que me indicaram a Fraterni-
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dade SCJ. E daqui não saio. Morro nesse lugar se for preciso”, defende ele, que chegou à casa com dificuldades de locomoção e fala. Hoje, está totalmente recuperado. Emílio Filho diz que uma de suas maiores alegrias é sentir a luz do sol na pele enquanto caminha ao redor da casa. Imagine o que isso significa, então, para o simpático João Bosco. Com pouco mais de 40 anos, Bosco passou maior parte da vida – exatos 38 anos, na realidade – preso a uma cama. “Ele nasceu com problemas degenerativos e era cuidado por um irmão com problemas mentais. Nós o encontramos comendo e bebendo dentro de uma embalagem de desinfetante. Estava tão magro que conseguíamos pegá-lo com uma mão e tínhamos até medo de quebrá-lo, de tão sensível e frágil”, lembra Wesley. Não demorou para que João Bosco começasse a ganhar peso e até sorrir. Mas, andar parecia uma possibilidade remota. “Era uma realidade que ele desconhecia. Porém, depois de quatro meses, ele conseguia se sentar. Pouco depois, em novembro de 2013, ficou em pé. Três meses mais tarde, apesar do medo, se ergueu sozinho quando chamei os moradores daqui para almoçar e foi andando para o refeitório”, conta o idealizador da Fraternidade com olhos brilhando.
O ENCONTRO COM DEUS E OS IRMÃOS TRANSFORMA Religioso, Wesley, que conheceu o verdadeiro Cristo e seu Evangelho através do Movimento
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algo para o seu próprio crescimento e, também, não nos prendemos às limitações que alguns possam ter, de modo que as atividades são distribuídas de acordo com a capacidade de cada um”, comenta. De fato, todos se superam dentro da Fraternidade. Na data da entrevista para a revista, os internos se dividiram em grupos para cuidarem da casa e dos demais afazeres na instituição. E cada um se ocupou de uma tarefa específica. Não é justo olhar alguém que tem problemas nas pernas e dizer: “Tadinho, você não consegue fazer nada. Pode ficar quietinho”. Não é bem assim. Tentamos mostrar que é possível se adaptar, viver, lutar contra todas e quaisquer dificuldades e vencer, a pessoa pode demorar 10 minutos para lavar um único prato, mas saberá que é capaz, que pode driblar limitações e buscar autonomia”, frisa Wesley. Foi assim que Luiz Fernando se recuperou de uma surra com pedras e paus nas ruas de São João Del Rei, há 12 anos atrás. Ele saiu de Feira de Santana, na Bahia, a pé. E desceu o mapa do Brasil até chegar em Minas. Andarilho e perdido, diz que chegou a se alimentar de lavagem de animais para sobreviver e que não se lembra dos agressores que quase o mataram. Segundo ele, essa é a única lembrança das quais não sente falta. Com as pancadas foi acolhido, cuidado e, com o tempo, se recuperou dos traumas na instituição Fraternidade Sagrado Coração de Jesus, apesar de ter perdido parte da memória e dos movimentos no lado direito do
de Cursilhos de Cristandade, defende que a força para seguir com a instituição vem de Deus e que esta obra é realmente Divina. “Em 2002, fui convidado a passar um final de semana participando do encontro de Cursilho e no primeiro momento, diante de uma timidez que era enorme, fiquei bastante apreensivo com o convite, mas não consegui dizer não e lá estava eu, quietinho no meu canto, somente escutando, aprendendo, sentindo e, ao final, me comentaram sobre um quarto dia, do pós cursilho. Então, comecei a frequentar as Escolas Vivenciais todas as terças-feiras na minha cidade e, aprendendo com Cristo, comecei a perceber que queria algo mais, que precisava, realmente, levar este Cristo vivo àqueles que não O conheciam, que estavam à beira do caminho, caídos e, muitas vezes, marginalizados. E foi assim que a instituição Fraternidade Sagrado Coração de Jesus surgiu e que o Cristo e o Movimento de Cursilhos de Cristandade começaram a fazer parte, inteiramente, da minha vida, dia após dia, incansavelmente, participando perseverante de todos os encontros, assembleias etc. E, hoje, estou como Coordenador do GED da minha cidade de São João Del Rei. E é isso o que tento mostrar e ensinar aos moradores e internos da FSCJ, a fé e o grandioso amor a Deus que transforma e quer fazer novas todas as coisas. Porém, isto não é sinônimo de acomodação por lá. “Não há coitadinhos aqui. Quando a pessoa chega, tentamos mostrar que estar viva já é uma benção e que a recuperação é questão de tempo e que todos tem possibilidades de fazer
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corpo, mas agradece por estar vivo e, ainda, tendo possibilidades na vida. Chegou a passar um ano e meio deitado em um colchão de água, sem andar ou sequer conversar. Trauma? Não, para ele essa foi a primeira vitória. “Quando me deixaram aqui, o médico que havia me operado disse ao Wesley que eu só viveria cinco dias”, relata. E completa: “Quando abri os olhos, soube que eu conseguiria ir além. Então, passei muito tempo olhando para o teto rezando. Aos poucos e com a insistência de todo mundo aqui me apoiando, eu me recuperei”. Abandonado pela família ainda na infância, Luiz Fernando, hoje, comemora, também, a paternidade. Há dois anos e meio, ele tem orgulho de carregar no colo uma filhinha e ostentar na mão esquerda uma aliança de casamento. Feliz da vida, já conseguiu alugar uma casinha e está refazendo sua vida. Mesmo destino quer ter o jovem Josimar Januário de Freitas. Hoje aos 36 anos, ele ainda se recupera dos 14 em que viveu debaixo de uma
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ponte em São João Del Rei, experimentando quase todos os tipos de drogas e vivenciando surtos solitários. “Ele não conseguia ficar dentro de casa. Saía e sumia meses, foi então que a mãe dele pediu que nós o socorrêssemos e não foi fácil. Quando chegou aqui, teve crises enormes em que passava horas gritando no refeitório. Dali, em segundos, corria no quintal e jogava pedra em tudo. Um minuto depois, já queria sentar no chão e brincar feito uma criança. Procuramos um médico e descobrimos que ele sofria de esquizofrenia grave. Atualmente, recebe medicação, atenção, carinho, muito amor e perspectivas. Está tão bem que já consegue visitar a mãe sozinho”, conta Wesley. “Ela sorri quando me vê chegar. Há muito tempo não a via tão feliz. Eu, também, estou assim. Sou outro homem, sabe? E um dia quero cuidar das pessoas como Wesley cuida da gente”, diz Josimar.
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chegam como indigentes, por exemplo, então batalhamos para recuperar a identidade deles, conseguir documentos, transformá-los em cidadãos. Das roupas aos produtos de higiene, tudo é cedido por nós e vem das doações. Vivemos calculando, dividindo, rezando para multiplicar. Não é fácil, mas a vontade de mudar a vida dessas 52 pessoas, hoje acolhidas, é maior do que os obstáculos a serem enfrentados. Cada dia que um alcóolatra desiste da bebida, um viciado sobrevive sem crack ou um debilitado, mentalmente, quebra paradigmas, faz todo o esforço valer a pena. Todos eles são a prova viva de que é preciso ter um olhar diferente em direção a quem precisa. Há histórias por trás dos vícios, dos crimes, da agressividade, das paralisias. E elas podem ser contornadas com amor e motivação, finaliza Wesley, antes de sair rumo ao refeitório onde reúne os internos todos dias, às 12h para as orações, partilha da palavra e evangelho do dia, antes do almoço.
DIFICULDADES O cuidado e a manutenção, aliás, são um trabalho árduo. A Fraternidade Sagrado Coração de Jesus sobrevive com base em doações. E elas são, muitas vezes, escassas. Ainda assim, parecem se multiplicar. Há vinte anos, quando abriu as portas, a entidade funcionava em uma casinha de quatro cômodos (30 m²) em que viviam sete pessoas. aos poucos, com a boa vontade da comunidade e alguns subsídios governamentais, o prédio cresceu, se transformou em um imóvel com sete quartos grandes com capacidade, em média, para sete a dez pessoas em cada, oito banheiros (três deles com adaptação para cadeirante), cozinha grande com dispensa para armazenar os alimentos, refeitório, varanda, auditório para palestras e terapias individuais e em grupos, sala de estar e TV, escritório, sala de artes, lavanderia, casa de ferramentas e horta. Faltava o apoio de profissionais médicos. E eles começaram a chegar aos poucos, enquanto a angústia de Wesley Carvalho diminuía. Mas, não sumia. “Aqui nós cuidamos de tudo. Muitos
Aponte a câmera de seu celular para o QR-Code ao lado e acesse o vídeo da Instituição Sagrado Coração de Jesus
Todas as contribuições são bem-vindas, ajude-nos a ajudar! Sua doação é muito importante para mantermos esta obra Divina! Doe através do Banco do Brasil Instituição Fraternidade Sagrado Coração de Jesus CNPJ: 02.145.414/0001-34 Ag.: 0162-7 | Cc: 25290-5 chave: 02.145.414/0001-34
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FALA JOVEM
Olá, queridos leitores. Estamos, mais uma vez, juntos nestas páginas para acompanharmos um pouco do que a juventude cursilhista vem realizando. Nesta edição, vamos falar um pouco dos Encontros Regionais para Jovens Cursilhistas que estão chegando e de como os jovens vem evangelizando nas redes sociais, nesse tempo de pandemia, e, assim, sendo sal, fermento e luz em todos os ambientes, mesmo através da tela de um celular. Então, vamos dar início ao nosso tour pelo Brasil.
JOVENS ARRECADAM MAIS DE UMA TONELADA DE ALIMENTOS DURANTE CARRETA DE CORPUS CHRISTI EM VIRADOURO (SP) Como sempre dizemos aqui: “Cursilho é Movimento” e a ação faz parte do nosso dia a dia, mesmo durante a pandemia. Seguindo todos os protocolos sanitários, os jovens cursilhistas do setor de Viradouro, do GED de Jaboticabal (SP), ajudaram a coletar alimentos para as famílias carentes da cidade durante a Festa de Corpus Christi. Devido à pandemia, a celebração do Corpo e Sangue de Cristo aconteceu em formato Drive-Thru e, logo em seguida, os fiéis seguiram, de carro, o padre da Paróquia Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Sebastião Ricardo Vicente, que abençoou os bairros da cidade com o Santíssimo Sacramento, durante a carreata. Pelo percurso, os moradores recebiam as bençãos do Santíssimo Sacramento e doavam os alimentos que foram entregues à Pastoral Social da Paróquia, para distribuição. JUNHO | AGOSTO | SETEMBRO DE 2021
O “Caminhão da Esperança” levou alguns dos jovens do Movimento de Cursilhos, que estavam, devidamente, equipados com máscara, luvas e álcool gel e que coletavam os alimentos que os moradores doavam, das portas de suas casas, durante o trajeto. O caminhão ficou, completamente, lotado e mais de uma tonelada de alimentos foram arrecadados. 28
Entre as doações, também, havia materiais de limpeza e higiene. Com a graça de Deus e as benção do Santíssimo Sacramento do Altar, muitas famílias puderam ter alimentos em suas mesas e nós, cursilhistas, tivemos o privilégio de estar a serviço da comunidade, com muita alegria, disposição e amor. A saudade de participar de ações como essa era grande, já que temos nos encontrado apenas virtualmente, por meio das Escolas Vivenciais online, através das redes sociais. Outros membros do Movimento de Viradouro, também, colaboraram muito para que essa ação fosse um sucesso, seguindo o Caminhão da Esperança com carros de apoio, para que nenhum fiel ficasse sem fazer sua doação. Que nunca nos falte a disposição em ajudar, a alegria em servir e o amor pelo próximo. Que nossas ações possam edificar e nos preencher de fé e esperança. Que possamos ser sempre o sinal de Cristo na vida dos nossos irmãos, lhes concedendo, muitas vezes, o único evangelho que eles terão.
Que o Santíssimo Sacramento sempre nos dê força para continuarmos firmes na caminhada. Que nós, jovens, nunca cansemos de trilhar sempre o caminho do bem. Leonardo Rodrigues Representante Jovem Diocesano e do Setor de Viradouro (SP)
Intercâmbio entre as escolas vivenciais Aconteceu no último mês, por iniciativa dos jovens, um intercâmbio entre os GEDS de Jales e São João da Boa Vista, que fazem parte do GER SUL I Ribeirão Preto, onde foram feitas duas escolas vivenciais de modo remoto (on-line), com o tema: Como ser um Cristão Comprometido em tempos de Pandemia. Este tema foi preparado e refletido pelos jovens Daiana Buzzo, Representante Jovem da Macro Região Sudeste e Representante Jovem no GEN, Douglas Frizoni, Representante Jovem do GER SUL I Ribeirão Preto, e Leonardo Rodrigues,
Representante Diocesano do GED de Jaboticabal. Em uma dessas escolas, tivemos a participação da Silvia Helena, Coordenadora do GED de Jaboticabal e na outra, a presença de um casal de Cursilhistas do setor Viradouro, Florisvalda e Benedito. A dinâmica do tema é levar aos outros jovens a reflexão de como estão levando a palavra de Deus, durante o tempo de pandemia, e como estamos cuidando dos nossos corações, sem deixar que eles caiam na tentação do esquecimento do Senhor. JUNHO | AGOSTO | SETEMBRO DE 2021
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As escolas foram bastante participativas e tiveram como objetivo levar a mensagem do evangelho aos outros jovens. Sendo assim, como diz nosso amado pastor Papa Francisco: “Queridos jovens, unidos em oração, em lugares tão distantes! Vocês são uma profecia da paz e da reconciliação para toda a humanidade. Nunca me cansarei de repetir: Não construam muros, mas Pontes! Unam as extremidades dos oceanos, que os separam, com entusiasmo, determinação e amor. Ensinem aos adultos, de coração endurecido, a escolher o caminho do diálogo e da concórdia, por um mundo mais belo e digno do homem”. Douglas Frizoni Representante Jovem do GER SUL I Ribeirão Preto
Nós, jovens do GED de Campos, Rio de Janeiro, demos início às escolas vivenciais para jovens diocesanos. No encontro ocorrido no dia 16 de julho, lemos e partilhamos a parábola dos talentos (MT 25,14-28). Depois, falamos sobre os Santos, o quanto eles corresponderam à missão que Deus designou para cada um deles e o porquê de representá-los em imagens, respondendo à pergunta: Católicos adoram imagens? Ainda sobre a reunião, trago a reflexão de hoje: QUAL O MEU TALENTO? E O QUE EU PRECISO FAZER PARA QUE ELE SE MULTIPLIQUE?
Contamos com a oração de todos, para sempre perseverarmos, com muita fé nessa missão que Deus nos deu, dentro do movimento de cursilhos. Laís Santos. Representante Jovem do GED Campos
NOVENA MARIANA No mês de maio, nós jovens do GED de Ponta Grossa, PR, pertencentes ao GER SUL 2 PR 1, iniciamos a Novena Mariana, com o Tema: Maria de Todos os Povos e Lema: Não importa o nome ou o título pela qual chamamos, ela é sempre a mesma, a única Santíssima Virgem Maria. Essa novena tinha como intuito levar, a cada dia do mês de maio, uma aparição de Nossa Senhora, pois bem sabemos que Maria, em suas aparições pelo mundo, foi diferente em cada lugar, mas sempre a mesma Senhora, ou seja, a JUNHO | AGOSTO | SETEMBRO DE 2021
mesma Maria. Maria é uma criatura como todos os seres humanos são. Maria é aquela que todos os povos chamam de “bem-aventurada”. Um ser pequeno, mas, ao mesmo tempo, grandioso, que Deus escolheu para ser a mãe de seu filho e nossa mãe. Com o seu “sim” dado a Deus, todo o curso da humanidade foi mudado, pois foi através dela que uma nova “Eva” surgiu, deixando de lado o pecado original. 30
A novena foi transmitida em lives pelo Instagram do nosso cursilho, @cursilhopg_. Sendo, a cada encontro, convidado um jovem do nosso GED para contar a história de uma das aparições de Nossa Senhora. Durante esses dias, também, foram convidados os representantes jovens dos nossos GEDs, os representantes jovens do GER, Emiliana e Lucas, nossa Representante Jovem da Macro, Taynara, bem como a Representante Jovem do GEN, Daiana.
Maria recebe títulos originados de suas aparições ou mesmo referindo-se a sua atuação junto às necessidades de seus filhos, no decorrer da história: Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora Mãe de Deus, Nossa Senhora de Guadalupe, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora de Lourdes, Nossa Senhora de Nazaré, Nossa Senhora do Caravaggio, Nossa Senhora Rainha dos Apóstolos, Nossa Senhora da Piedade, Nossa Senhora do Sorriso, Nossa Senhora do Bom Parto, Nossa Senhora do Carmo, Nossa Senhora da Cabeça, Nossa Senhora da Boa Morte, Nossa Senhora da Imaculada Conceição, Nossa Senhora da Salete, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Nossa Senhora da Penha, Nossa Senhora da Boa Viagem, Nossa Senhora Divina Pastora, Nossa Senhora do Desterro, Nossa Senhora das Candeias, Nossa Senhora Desatadora dos Nós, Nossa Senhora Auxiliadora, Nossa Senhora das Graças, Nossa Senhora da Luz, Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora das Dores, Nossa Senhora da Saúde e Nossa Senhora da Glória… E tantos outros nomes, que nos mostram quão grandiosa é, junto à Trindade Santa. Apesar de tantos nomes, é a única Santíssima Virgem Maria, é ela que roga junto a seu filho por nós e por toda a humanidade. Por isso que dedicamos esses títulos à Maria, em novena, no mês de Maio. No último dia do mês, dia 31, foi realizada em live, também, a Coroação de Nossa Senhora e, apesar de ser um momento virtual, foi inesquecível e, ao mesmo tempo, tocante e emocionante. Durante a coroação, senti uma emoção muito grande, pois, ali, percebi o quão generosa e amável é Nossa Senhora. É nesses momentos que percebemos que Maria intercede e ora, junto a Jesus, por nós. Portanto, a palavra que descreve essa novena é GRATIDÃO. Pois, nela, pudemos levar o amor de Maria para vários lares e diferentes lugares e ainda, com ela, movimentamos os nossos jovens, fazendo com que a chama do Espírito Santo nunca se apague. Deus e Nossa Senhora vos abençoem, Decolores, Viva Vida. Um forte abraço! Jeferson Martins Representante Jovem de Ponta Grossa (PR) JUNHO | AGOSTO | SETEMBRO DE 2021
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Encontros Regionais para Jovens Cursilhistas Atenção Juventude cursilhista do nosso Brasil, esse ano é o ano dos Encontros Regionais. Estamos preparando cada encontro com muito carinho! Fique atento que, nesse segundo semestre, todos os encontros irão se realizar. Encontros cujo tema é “Jovens Profetas: rostos da amizade e da fraternidade” e o lema: “Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36). “Jovens Profetas: rostos da amizade e da fraternidade” nos evoca a sermos capazes de reagir com um novo sonho de fraternidade e amizade social, que não se limite a palavras. Quando refletimos a Encíclica Fratelli Tutti, à luz do carisma do MCC, somos, de imediato, chamados a pensar e repensar no valor da comunidade, do viver a unidade e a profecia no carisma do MCC, somos chamados a refletir sobre a forma de amizade que estamos alicerçando o nosso SER cursilhista, sobre como estamos vivendo a amizade em nossos grupos de cristãos, AMIZADE que é um caminho excepcional e privilegiado para a evangelização. O lema “Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36), nos diz que, na misericórdia, Deus sempre nos surpreende, sempre excede nossas estreitas expectativas, para abrir caminhos a partir de nossas fragilidades. Só o amor misericordioso de Deus nos reconstrói por dentro, destravando-nos e abrindo-nos em direção a horizontes maiores de coragem, responsabilidade e compromisso. A misericórdia é não só a mais divina, mas, também, a mais humana das virtudes. É aquela que melhor revela a natureza do Deus Pai e da Mãe de infinita bondade; a que revela, igualmente, o lado mais luminoso da natureza humana. Por isso, é a que mais humaniza as relações entre as pessoas. A princípio, os encontros acontecerão de forma online, assim como ocorreu com o encontro nacional, e, se Deus assim nos permitir, alguns JUNHO | AGOSTO | SETEMBRO DE 2021
regionais, até o final do ano, serão realizados de forma presencial, com número reduzido e com todas as precauções. Contamos com a alavanca de todos para o êxito de todos os encontros, em todos os regionais. DECOLORES Viva a vida. Daiana Cristina Buzo Representante Jovem da Macro Região Sudeste e Representante Jovem no GEN.
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CARISMA DO MCC
CARISMA DO MCC: GRAÇA DO ESPÍRITO SANTO E UM DESAFIO À FIDELIDADE CRIATIVA PARA VIVE-LO EM NOSSO DIA A DIA O TESTEMUNHO DOS DEZ ANOS DO MUNDO NOVO EDUCAÇÃO ESPECIAL demais habilidades, num ambiente estruturado e com atividades selecionadas a partir do seu nível de desenvolvimento, respeitando a sua individualidade e as suas necessidades específicas, interagindo com a família, professores e demais profissionais que atuam com essa pessoa, contribuindo para o processo de inclusão escolar e social, e com o desenvolvimento sustentável da comunidade em que atuamos”. O trabalho transdisciplinar oferecido no Mundo Novo visa a articulação entre todos os profissionais envolvidos no desenvolvimento dos nossos alunos/pacientes, de modo que toda a equipe pensa junto e com o mesmo objetivo, focando nas características e necessidades de cada pessoa, trazendo melhores resultados e ganhos para todos os envolvidos. Nossa equipe é composta por Educadoras Especiais, como Fonoaudióloga, Psicóloga, Fisioterapeuta, Profissional de Educação Física e Terapeuta Ocupacional. As terapias oferecidas contemplam: Educação especial que realiza a avaliação e intervenção educacional, por meio de um ensino estruturado e individualizado, com o foco no desenvolvimento de habilidades pedagógicas, sociais e comportamentais. Fonoaudiologia que atua na avaliação, diagnóstico e na terapia dos distúrbios de comunicação, possibilitando melhora das habilidades comunicativas e sociais, favorecendo o desenvolvimento de seus pacientes. Ginástica Artística Especial que desenvolve capacidades e habilidades motoras e cognitivas,
POR MEIO DA PARÁBOLA DOS TALENTOS (MT 25.14-30), CRISTO NOS ENSINA QUE DEVEMOS “MULTIPLICAR” OS DONS QUE RECEBEMOS DE DEUS, PARA QUE GEREM FRUTOS E, ASSIM, AJUDARMOS NA CONSTRUÇÃO DO REINO DOS CÉUS.
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sta parábola nos inspira muito e, de certa forma, é o que buscamos ao longo destes dez anos do Mundo Novo Educação Especial. Ao compartilhar um pouco desta trajetória, esperamos poder testemunhar como buscamos viver o Carisma do MCC em nosso dia a dia. A paixão pelo autismo começou ainda na graduação em Educação Especial na Universidade Federal de Santa Maria e, logo, percebemos a necessidade de melhorar o atendimento para estas pessoas. Pensamos em qual seria a melhor maneira de apoiar no desenvolvimento das pessoas com autismo e imaginamos algo muito especial, mas ainda não existia nada parecido aqui em Santa Maria, nem na região. Então, criamos o Mundo Novo com este propósito, um serviço inovador, pensado com muito carinho para este público. A nossa missão é “Desenvolver um trabalho transdisciplinar de intervenções psicoeducacionais para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou transtornos do desenvolvimento, com o objetivo de torná-las o mais independentes possível, desenvolvendo a comunicação e
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E quais os sinais que podemos observar? Ainda bebês, já podemos observar algumas características no indivíduo que nos levam a uma suspeita de autismo, como:
com atividades que englobam motricidade, coordenação motora, atenção e concentração. Psicologia que, através de um trabalho transdisciplinar com os profissionais envolvidos em cada caso, atua sob o comportamento humano, observando e intervindo em determinadas ações, reações, sentimentos, expectativas e autoestima, visando a qualidade de vida do paciente. Auxilia no processo diagnóstico e terapêutico de crianças, jovens e adultos, assim como seus familiares e outros contextos sociais. Terapia Ocupacional que busca melhorar as respostas adaptativas, organizando as sensações do próprio corpo e a percepção do ambiente, por meio de uma abordagem transdisciplinar, em ambiente diferenciado e com ensino estruturado, a partir das necessidades especificas de cada pessoa, desenvolvendo habilidades para sua maior independência e autonomia.
• Baixo contato visual; • Ausência de atenção compartilhada; • Poucas expressões faciais; • Ser muito agitado, ou passivo demais; • Não balbuciar; • Pouco engajamento sociocomunicativo; • Preferência por objetos em vez da interação com pessoas; • Não apontar; • Não responder quando chamado pelo nome (parecer surdo); • Apresentar movimentos repetitivos; • Não utilizar gestos convencionais (dar tchau, jogar beijinho); • Ausência de brincadeiras funcionais; • Não seguir comandos simples; • Ausência de palavras com significados.
Mas o que é o autismo? Atualmente, a ciência fala não só de um tipo de autismo, mas de muitos tipos diferentes, que se manifestam de uma maneira única em cada pessoa. Para definir esta grande abrangência e os vários níveis de comprometimento, usa-se o termo Transtorno do Espectro Autista (TEA), que é caracterizado por déficits nas habilidades sócio comunicativas e por comportamentos repetitivos e/ou restritos. Apresentando graus que variam do mais leve até o mais grave, quando há maior comprometimento cognitivo e a pessoa precisa de maior suporte. (Nível 1, 2 e 3) e todos afetam as habilidades sociais e o comportamento. O diagnóstico do autismo é realizado por meio de observação cuidadosa do comportamento da criança, seu desenvolvimento e pela coleta de informações com os pais ou cuidadores. Não há um exame de sangue ou exame médico que possa diagnosticar, mas existem algumas escalas padronizadas para o diagnóstico e rastreio de autismo, que somente devem ser utilizadas por profissionais treinados e capacitados para isso. Lembrando que o diagnóstico é sempre realizado pelo médico que acompanha a criança. JUNHO | AGOSTO | SETEMBRO DE 2021
O autismo não tem cura, mas tem tratamento. Cada pessoa com este diagnóstico exige um tipo de acompanhamento específico e individualizado que deve contar com a participação dos pais, dos familiares e de uma equipe profissional transdisciplinar. De acordo com a literatura científica e conforme recomendação da Organização Mundial da Saúde, o tratamento que apresenta melhores resultados são as terapias comportamentais, no entanto, é importante sempre tornar as intervenções o mais divertidas e prazerosas possível. O plano de tratamento deve ser elaborado após uma avaliação individualizada, explorando as habilidades emergentes da criança com foco nas habilidades que estão defasadas. Lembrando que quanto antes iniciamos a intervenção melhores os resultados obtidos. Também é importante ressaltar que quando uma criança tem autismo ela terá esta condição para a vida toda. Algumas podem ter alta das te34
criada e construída desde a gravidez, ou seja, o luto está relacionado a sonhos! Para alguns autores, o luto passa por cinco fases: Negação (Impossível!), Raiva (Porque comigo?), Depressão (A vida nunca mais vai ser como antes), Barganha (Eu faria tudo para isso não ser verdade), Aceitação (Vou fazer o melhor para ajudar meu filho/a). Cabe destacar que cada família passa por estas fases de forma diferente, algumas por um período mais breve, outras mais demorado. Ainda, para o pai pode ser de uma maneira e para a mãe de outra. Mas, é importante ter em mente que cenários como este e suas variações são comuns, pois o luto é esperado e até natural. Entretanto, neste momento, torna-se imprescindível a união dos pais, desde o recebimento do diagnóstico, como na busca por tratamentos especializados e na compreensão das respostas que serão dadas pelos seus filhos mediante os estímulos oferecidos. Outro fator relevante é que as informações a respeito do autismo estão cada vez mais difundidas na sociedade, de modo que alguns pais já procuram auxílio profissional desde muito cedo e, ao receberem o diagnóstico, afirmam que já desconfiavam e só esperavam por uma confirmação. Neste momento, também, se torna muito importante a rede de apoio de amigos e familiares, para tornar este caminho ainda mais leve. Assim como profissionais competentes com informações de qualidade. No Mundo Novo Educação Especial temos o Grupo de Pais, conduzido pela nossa psicóloga. O grupo é um espaço voltado às famílias, tendo em vista a importância de cuidar, também,
rapias, outras vão precisar por muito tempo ou, até mesmo, sempre, devido ao seu comprometimento, já que à medida que a criança vai crescendo as demandas, também, se tornam diferentes. É importante ressaltar que receber um diagnóstico de autismo ou de qualquer deficiência, na maioria das vezes, é muito difícil para a família, pois este diagnóstico traz alguns sentimentos como medo, desafio, expectativas frustradas e a percepção de que a criança idealizada não existe. Junto com o diagnóstico, chega o luto, causando grande impacto, não por conta da morte do filho, mas sim pela morte daquela expectativa
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ver a evolução dos nossos alunos, a emoção e reconhecimento dos pais, a cada passo, e fazer parte da história destas famílias, que nós chamamos, com muito carinho: a Família Mundo Novo. Nada do que construímos fizemos sozinhos. Agradecemos a Deus pelos dons que recebemos e pela oportunidade de podermos apoiar as pessoas com TEA e suas famílias, à nossa equipe, extremamente qualificada e engajada com a nossa missão, às famílias que confiam seus filhos ao nosso trabalho e a toda comunidade que nos acolheu nessa trajetória.
daquele que cuida. Nele, compartilham-se experiências, ideias e temas relevantes, mas, principalmente, situações vividas no dia a dia de cada um que dele participa. É um momento, portanto, de escuta, de muitas trocas entre as famílias, empatia e, particularmente, acolhida. Um dos nossos valores é a Aprendizagem contínua, pois acreditamos muito que o conhecimento está em constante evolução, em especial na busca por respostas mais efetivas para o tratamento do autismo, e a nossa qualificação e especialização é fundamental para realizarmos o nosso propósito. Desde a fundação do Mundo Novo, os cursos de avaliação e de aprimoramento em modelos de intervenção tiveram início e esta paixão só aumenta! Cada vez mais, temos a certeza de que amamos o que fazemos e que, para trabalhar com este transtorno, temos que estudar muito e saber o que estamos fazendo, pois entramos na vida destas pessoas e, também, de suas famílias e isso exige comprometimento, responsabilidade, empatia e muito amor. Buscamos muitas referências para o nosso trabalho, aqui e lá fora. Além dos EUA, Portugal, também, tem se destacado no atendimento às pessoas com autismo. Visitamos a APPDA (Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo), em Lisboa e o CIAD (Centro Integrado de Apoio à Deficiência), na cidade do Porto, que nos inspiraram e apoiaram na organização de uma de nossas salas, um espaço muito especial. Nossa maior conquista nestes dez anos e o que nos motiva para sermos cada vez melhor é
Cristiane Kubaski Educadora Especial, Psicopedagoga, Mestre em Educação, possui diversos cursos e especializações (nacionais e internacionais) sobre autismo; Fabricio Coutinho Kubaski: Consultor Empresarial, Professor e Mestre em Ciências Empresariais. Fizemos o 79º Cursilho da Arquidiocese de Santa Maria RS em 2016, e a 20ª Tenda de Shalom, em 2018. Atualmente, vice-coordenadores do GED Santa Maria (RS).
Para conhecer um pouco mais sobre o Mundo Novo Educação Especial, acesse nossas redes sociais
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TESTEMUNHO
Comunidade Terapêutica Sagrada Família Dom Olívio Aurélio Fazza Aos poucos, as expectativas e as mudanças vão sendo modificadas conforme os indivíduos avançam e se propõem a acompanhar o programa proposto pela C.T. Durante o tratamento, espera-se que os residentes aprendam a ter novos comportamentos como, por exemplo: ter mais responsabilidade, mais pontualidade, caso contrário, a equipe da comunidade entenderá que o residente ainda não teve o tempo suficiente para aprender e aceitar mudanças referentes a esses comportamentos. Para que isto possa ser colocado em prática e faça sentido para os residentes, é importante que, quando não sejam respeitadas as regras, seja usada a experiência de aprendizagem (situações de aprendizagem) para compreender as expectativas e regras da C.T. Dentro desse método, é importante que o processo de singularização seja possível, para não ter uma visão “padronizada”, e sim mais flexível e mais compreensiva sobre o fenômeno do consumo de drogas. Nesse aspecto, é importante ressaltar a responsabilidade do sujeito pelo uso de drogas, e não culpabilizar o objeto droga pela existência no mundo. O que tentamos é identificar em que momento e onde se inscreveu a droga para que o sujeito comece a questionar. Além do trabalho que a C.T. faz em relação a comportamentos que devem ser mudados, também, atua de modo a provocar o indivíduo naquilo que se queixa, de maneira que, aos poucos, ele consiga assumir sua responsabilidade sobre o que escolhe.
É UMA INSTITUIÇÃO NÃO GOVERNAMENTAL, SEM FINS LUCRATIVOS, QUE ATUA NO TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA, VISANDO A PREVENÇÃO, REABILITAÇÃO E REINSERÇÃO SOCIAL.
A COMUNIDADE Em março de 2008, a Igreja Católica, juntamente com alguns integrantes do Movimento de Cursilho de Cristandade (MCC), Renovação Carismática Católica (RCC) e Cáritas, estruturou a Comunidade Terapêutica Sagrada Família Dom Olívio Aurélio Fazza, com capacidade de internação para trinta pessoas, direcionada a sujeitos do sexo masculino, maiores de 18 anos, que aceitem o tratamento de forma voluntária. É necessário pontuar que a comunidade terapêutica nada mais é do que uma abordagem social e psicológica única, para levar pessoas usuárias abusivas de substâncias psicoativas ao encontro com a verdadeira sobriedade. A Comunidade Terapêutica trabalha com ênfase em valores sociais resgatando, no convívio entre seus residentes, o sentido de integridade, valorização da vida e dignidade.
METODOLOGIA Entende-se a comunidade como lugar onde a participação e o envolvimento dos residentes fazem parte do método para o processo de mudança.
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Nesta segunda etapa, é importante acompanhar e orientar o residente para se inserir, novamente, à sociedade. O suporte ocorre de quatro formas. São as seguintes: • encaminhamento ao mercado formal de trabalho, • acompanhamento do usuário por meio de grupos realizados quinzenalmente, • atendimento psicológico • acompanhamento através do Grupo de Reinserção, que acontece, também, quinze nalmente. A duração deste processo é de um ano.
EQUIPE DE TRABALHO O serviço prestado se dá através do direcionamento por parte do quadro técnico da Instituição, formado por um Administrador, um Coordenador Técnico, um Coordenador Administrativo; um Assistente Social, uma Psicóloga e cinco Educadores Sociais, assim como voluntários e estagiários de diversas áreas do conhecimento.
INSERÇÃO NA COMUNIDADE O usuário que procurar a C.T. para internamento deverá ser maior de 18 anos, do sexo masculino e aceitar, voluntariamente, as normas estabelecidas pela Instituição. Para ser admitido o usuário passará, primeiramente, por uma triagem que é agendada por telefone por ele mesmo, familiares ou pelos serviços públicos. Este agendamento garante ao usuário um dia e horário individualizado para seu atendimento com a Psicóloga ou Assistente Social, que avaliará as condições do mesmo para o internamento. Na triagem, o usuário e o familiar que estiver acompanhando, receberão todas as informações pertinentes às regras da C.T., assinando um termo de concentimento.
GRUPOS DE FAMÍLIAS O encontro do Grupo de Apoio e Orientação a Familiares de Dependentes Químicos é realizado, semanalmente, pela Assistente Social e Psicóloga da instituição. Este grupo visa promover a recuperação e reintegração social de dependentes químicos, minimizar o impacto das drogas na vida das famílias, promover a prevenção ao uso abusivo de substâncias psicoativas, fomentar a discussão sobre formas de prevenção ao uso abusivo e dependência de drogas, promover estratégias de enfrentamento ao uso, abuso e dependência, assim como de fortalecimento dos vínculos pessoais, orientando sobre os direitos sociais, possibilitando o acesso às políticas públicas existentes no município e informando os meios para acesso à garantia e consolidação dos direitos, fortalecendo, portanto, o desenvolvimento do protagonismo social.
ETAPAS DO TRATAMENTO: O tratamento disponibilizado pela Comunidade Sagrada Família divide-se em duas etapas, sendo a primeira relacionada à internação do indivíduo, em regime de Comunidade Terapêutica, por no mínimo nove meses. Após ter cumprido o tratamento e sendo considerado apto pela equipe técnica, o residente passa para a segunda etapa do tratamento chamada de Reinserção Social. JUNHO | AGOSTO | SETEMBRO DE 2021
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que demandem acompanhamento terapêutico e protetivo.
O MCC sempre está presente na diretoria da Comunidade Sagrada Família, sendo o presidente e outros membros da diretoria Cursilhistas. No dia 18 de maio de 2021, foi inaugurada em Foz do Iguaçu uma extensão da comunidade Sagrada Família.
Qual é a porta de entrada para este serviço? O CAPS AD Qual é a equipe/profissionais que farão o acompanhamento desses (acolhidos)? Profissionais de Psicologia, Serviço Social e Educadores Socias. A Unidade é um espaço permanente, temporário ou de passagem? É um acolhimento residencial de caráter transitório (até seis meses). Há parceria com outras instituições na oferta desse serviço? A UAA é um serviço promovido pela PMFI/ SMSA/SM e executado pela Sagrada Família em parceria com toda a A RAPS (APS, CAPS, SAMU, UPA, HOSPITAL - Leito Geral e Psiquiátrico). Qual é a capacidade de atendimento dia/ mês? Capacidade de até quinze acolhidos de ambos os sexos.
O que é o UAA?
Qual é a expectativa ao implantar esse novo serviço no município? Resgatar os direitos de cidadania e desenvolvimento humano, por meio de ações que visem a reabilitação e a reintegração social de pessoas que fazem uso de substâncias psicoativas, em risco pessoal e vulnerabilidade social. Proporcionar atendimento especializado individual e em grupo, propondo atividades educativas, oferecendo oficinas terapêuticas e encaminhamento para a rede Socioassistencial. Garantir a proteção integral e reconhecer, nos processos de conflito e dificuldades, as possibilidades de desenvolver suas capacidades, habilidades e autonomia. Desenvolver ações para o fortalecimento de vínculos familiares e que apoiem o processo de reabilitação das pessoas atendidas, através de espaços coletivos de escuta e troca de vivências familiares.
É um equipamento da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e tem como objetivo oferecer acolhimento voluntário e cuidados contínuos para pessoas com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas. Qual é o público atendido pela unidade de acolhimento? Maiores de 18 anos de ambos os sexos, em situação de vulnerabilidade social e/ou familiar e
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45 99810-9096 Men de Sá - Jardim Renato Festugado - 31
Da Esquerda para a direita: Presidente da Comunidade, José Hortolan, Emerson Raupp e Pe. Sérgio, na inauguração da UAA. JUNHO | AGOSTO | SETEMBRO DE 2021
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MEMÓRIA
OS CURSILHOS SE RENOVAM Nesta edição, quero enfatizar o item 9º ‐ Movimento para criar comunidade, como mentalidade do Pós‐cursilho. Na página 37, o parágrafo 8º enfatiza: “O pós‐cursilho deve estar orientado de modo que os cursilhistas façam de sua vida uma convivência com os irmãos na própria comunidade eclesial e no mundo, onde devem realizar sua missão específica como leigos”. Dom Hervás, bispo de Maiorca, que incentivou os cursilhos de cristandade, resume tudo que se refere ao Pós‐ cursilho na seguinte frase: “É o contato com o Cristo (vida interior) e o contato com os irmãos (espírito de equipe, solidariedade, disciplina). No terceiro dia do Cursilho, sempre começou com o rollo ‘Estudo do ambiente’ (atual mensagem Evangelização dos Ambientes). Qual a razão dessa proclamação? Na verdade, é o campo de missão dos cursilhistas no ‘quarto dia’”. O parágrafo 9.2, enfatiza: “Hoje não podemos nos conformar com um Pós‐cursilho de franco atiradores. Temos que nos organizar para realizar com perfeição nosso compromisso de recristianizar os ambientes”. Em seguida, diz: “a estratégia é ‘ser fermento de Evangelho’ e ‘fermento comunitário’. Porém, as coisas não mudaram muito neste sentido. Será porque falha a metodologia. Será porque se vê na metodologia uma opção consagrada para toda a vida, sem possibilidade de evolução?”. Vemos que esse equívoco continua nos dias atuais. O próprio autor, ao falar sobre a Mentalidade do Pós‐cursilho, reconhece que é necessário assegurar:
Saudações Decolores! Nas duas edições anteriores, foram apresentados textos extraídos do livro em epígrafe, editado em 1972. Nele, foram elencados os postulados essenciais relativos ao MCC. Gostaria de recapitular os dez postulados apresentados na primeira parte. “Os cursilhos de Cristandade são: 01. Um Movimento de Igreja; 02. Um Movimento vivencial; 03. Aptos para homens e mulheres de todos os países; 04. Levam o cursilhista a um encontro com o Deus vivo e pessoal; 05. Uma Escola de Espiritualidade Cristã; 06. Um agente com função específica na Pastoral (ambiental); 07. Destinados a fazer penetrar o fermento de Evangelho nos vários ambientes; 08. Um Movimento libertador; 09. Um Movimento para criar comunidade; 10. Para estar comprometido e para comprometer. Na edição seguinte, parte 2, abordou‐se os três tempos do MCC: Pré‐cursilho, Cursilho e Pós‐cursilho. JUNHO | AGOSTO | SETEMBRO DE 2021
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do, ao Pós‐Cursilho. Nosso Pós‐cursilho‐Vida teria que ser, proeminentemente, a vivência (o viver) do fundamental cristão. As estruturas do Pós‐cursilho, que pretendem (como Movimento) conseguir esta vivência, teriam que orientar‐se no sentido de consegui‐lo. E a finalidade, das Reuniões de Grupo e da Ultreia, a de: ‘impossibilitando na vida a vivência autêntica, contínua e progressiva do ‘Fundamental cristão’ (que é o que sempre foi), a Escola será: ‘Escola de santidade e o Secretariado (Grupo Executivo), antes de tudo: ‘Acelerador do Fundamental cristão’. Os cursilhos têm seu lugar na pastoral, pois a resposta de Deus ao mundo é Cristo. A resposta dos Cursilhos ao mundo será a presença de outros Cristos, homens (e mulheres) com‐figurados, com‐formados e convertidos em Cristo, comprometidos com o mundo e a ele consagrados... como luz e sal o iluminem, transformem e preservem”. “A respeito das comunidades... não se faz o homem (a mulher) para a comunidade, mas a comunidade para o homem (a mulher). A comunidade é que torna possível o desenvolvimento material e espiritual. Por isso, a comunidade, que aperfeiçoa o indivíduo, não pode negar nem limitar sua individualidade”.
a) A permanência de seus frutos (não das pessoas); b) A maturidade (humana e cristã) de seus membros. A maturidade á a verdadeira perseverança. Perseverar é viver uma vida, não evitar uma morte. Um adulto é antes de tudo uma criança que perseverou; c) A fermentação dos ambientes. Na América Latina definiu‐se como: “Suscitar Núcleos de cristãos que vão impregnando os ambientes com o fermento do Evangelho. A situação pastoral obriga a colocar ênfase no ‘Suscitar Núcleos’, comunidades de base, células unitárias de pastoral, foco na evangelização e determinante para a ‘vertebração da cristandade’”. A definição dos Cursilhos, como Vivência do fundamental cristão, não se aplica somente aos três dias (ou dois dias) de Cursilho, mas, sobretu-
O autor observa que: “Numa época em que se tende a absolutizar a comunidade, tornam‐se necessários certos esclarecimentos: 1. A comunidade, do ponto de vista secular, não é uma ESTRUTURA, mas sim, um MODO DE VIDA que se manifesta em certas atitu des, sobretudo de amor, serviço e ajuda JUNHO | AGOSTO | SETEMBRO DE 2021
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Finaliza dizendo que: “O cursilhista serve à comunidade enquanto serve aos demais e, como cristão, enquanto realiza seu compromisso humano com a atitude e critérios cristãos. O serviço dos Cursilhos à comunidade não consistirá, pois, em lhe oferecer novos serviços, e sim em descobrir e batizar as vocações existentes, de maneira que estas mesmas vocações, iluminadas pelos imperativos da graça, se projetam sobre a comunidade (em seu sentido mais amplo: a SOCIEDADE) com renovada generosidade e eficácia, ampliando‐se em muitos casos os campos de projeção.
mútua. É uma realidade existencial, não estrutural; 2. A comunidade é uma estrutura de pasto ral concreta, com carisma e objetivos concretos. (Pastoral Ambiental); 3. A dimensão comunitária, como exigê cia de cristianismo, sugere a vida, não a estrutura; 4. A comunidade não pode marcar, nem limi tar as suas projeções; 5. A afirmação ‘em e para a comunidade’ caracteriza a vivência intraclesial. Daí a confusão. Pelo contrário, toda a doutrina conciliar recomenda uma abertura do leigo ao mundo profano; 6. Comunidade é o meio onde se realiza livre mente o carisma pessoal; 7. A orientação exclusiva ou predominante do Movimento de Cursilhos para as Comu nidades de Base constitui especialização; 8. A reunião de grupo (Grupo de Comunida de) possibilita uma autêntica vida comuni tária. Torna possível viver em comunidade, sem perder a personalidade, ajuda a desco brir a vocação, ao mesmo tempo que a respeita e possibilita ao indivíduo projetar os seus carismas, com a absoluta liberdade de opção, atuando com grupo ou a partir do grupo, sobre a ‘comunidade’ ou fora dela, sem limites nem limitações no campo humano e do cristão”.
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A visão querigmática do Pós‐cursilho supõe a concentração de todo o seu esforço para penetrar o REINADO de Deus no coração das pessoas, onde o cursilhista, ao escutar a Palavra de Deus e vê‐la tornada vida nos irmãos, descobre a vontade do Pai, e a cumpre alegremente até as últimas consequências, orientando progressivamente toda a sua vida e todos os seus atos à luz de todo o Evangelho. A ‘vertebração cristã’ da sociedade e de suas estruturas é a consequência desse reinado”.
Corinto Luiz do Nascimento Arruda Vice-Coordenador do Grupo Executivo Nacional
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SOLENIDADE DE TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR
SOLENIDADE DA TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR Textos da transfiguração: Mt 17,1-9 | Mc 9,2-8 | Lc 9,28-36 | II Pe 1,16-18 Exortamos a ler o texto Bíblico antes de ler o artigo.
Na verdade, Jesus, pouco tempo antes da transfiguração, já tinha falado a eles, claramente, que Ele teria que subir à Jerusalém, sofrer muito, ser perseguido pela cúpula religiosa e que seria morto para ressuscitar ao terceiro dia (Mt 16,21). Ao mesmo tempo, teria falado a eles, abertamente: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, toma a sua cruz e siga-me. Depois, aquele que quiser salvar a sua vida, vai perdê-la, mas aquele que perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la (Mt 16,24-25). É compreensivo o medo e o espanto dos discípulos diante de tais afirmações do mestre. Por isso mesmo, Jesus quer alimentar neles a esperança, manifestando a sua glória na presença de Pedro, Tiago e João.
Queridos irmãos e irmãs, amados e amadas de Deus. A solenidade da Transfiguração do Senhor tem sua origem já no quinto século, no oriente, e desde 1457, no ocidente. O seu significado prende-se na preparação dos Cristãos para a permanência na fé, que rasga a escuridão da morte com a sua resplandecência. OBS. Aspectos históricos sobre esta solenidade encontramos na revista Alavanca, no artigo sobre a transfiguração do ano de 2020.
JESUS, PEDRO, TIAGO E JOÃO
Na narração de Mateus 17,1-9, encontramos o episódio da transfiguração em um momento delicado para os Apóstolos.
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do marasmo deste mundo, todo envolvido e entrelaçado com “very news ou fake news” que não levam a nada, ou pior, nos tornam dependentes, como que drogados, sempre ansiosos, precisando de novas notícias, novas informações, a cada minuto abrindo ferramentas para saber quantos morreram e quem é o culpado. Tudo isso não leva a nada, porque não são as informações, os noticiários que nos edificam e nos fazem crescer como pessoas humanas, filhos de Deus, mas sim a PALAVRA, que é a verdade que liberta, que nos dá discernimento e ilumina os nossos passos para caminharmos na verdade. Descer, para encontrar com os irmãos, mergulhar, como iluminados, nas trevas deste mundo, nos sofrimentos, dificuldades, doenças, angústias, ignorância, pobreza material e espiritual. Condividir os frutos da experiência feita com Deus, lá em cima do monte, no ENCONTRO. Condividir a Graça recebida. Esta é a missão do Cristão, esta é a missão dos incontáveis irmãos e irmãs que Deus escolheu, como privilegiados a fazerem parte de uma família que tem como missão evangelizar os ambientes, (MCC) levar uma boa notícia (evangelho), mesmo em tempos difíceis e de sofrimento (pandemia), anunciando, com força e coragem, o Querigma, que depois da Cruz vem a Ressurreição, depois do sofrimento vem a Glória. “NÃO TEM GLÓRIA SEM CRUZ”. Que Maria, nossa Mãe Santíssima, e São Paulo Apóstolo, nosso celestial patrono, intercedam por nós e nos ajudem a vivermos, com alegria, nossa sublime missão de sermos Igreja, uma igreja em saída, como nos convida o Papa Francisco.
SOBRE UMA ALTA MONTANHA - SEPARADOS Esta subida ao monte (à parte), em companhia dos três discípulos, tem analogia com o episódio de Moisés subindo ao monte Sinai, acompanhado por Aarão, Nabad e Abiú, juntamente com os setenta anciãos (Ex 24,9). Estes mesmos três apóstolos serão os que mais de perto acompanharão Jesus no Getsêmani (Jardim das Oliveiras), no momento em que Jesus rezava, em sua agonia (Mc 14,33). Estes episódios podem parecer contrastantes entre si, cenas de feliz esplendor e cenas de angustia e sofrimento, nas quais Pedro, Tiago e João são testemunhas e fazem companhia a Jesus. Mas, ao mesmo tempo, existe uma profunda relação entre eles: “Não há glória sem a cruz”. Como no monte Oreb, Jesus, diante dos discípulos aterrorizados, vem, pela vós de Deus Pai, definido como o “Filho amado”, que estava sendo preparado para a cruz gloriosa (Mt 17,5), assim, também, no monte Moriá, Deus coloca Abraão à prova, pedindo o sacrifício de Isaac, “o filho que tanto amas”, para o sacrifício. Na obediência, Abraão se torna nosso pai na fé. Na obediência, Jesus se torna nosso Salvador e Senhor. Na verdade, no episódio da transfiguração, a Igreja viu uma preparação dos Apóstolos para suportar o escândalo da Cruz. Diante do legitimo temor dos discípulos, prostrados por terra, Jesus ordena: levantai-vos e não tenhais medo. Hoje, também, somos convidados a nos colocar a caminho e não termos medo, o medo não condis com o cristão, porque Cristo prometeu que sempre estaria conosco. Sendo assim, essa não é uma característica do Cristão. De cabeça erguida, com coragem e passo firme, somos chamados a subir e descer a montanha sagrada da vida quotidiana, nossa realidade existencial. Subir, para entrarmos na escuta da PALAVRA, “este é meu Filho amado, escutai-o”, destacando-se
DECOLORES. VIVA A VIDA.
Pe. JOSÉ ROBERTO FERRARI ASSESSOR ECLESIÁSTICO NACIONAL DO MCC
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ASSEMBLEIA ECLESIAL
Assembleia Eclesial: “A sinodalidade eclesial é sinal de corresponsabilidade de todo o povo de Deus na construção de seu Reino”.
Todos estamos sendo conclamados ao diálogo para definirmos quais são os desafios da Igreja, na América Latina e no Caribe, à luz da V Conferência Geral de Aparecida. JUNHO | AGOSTO | SETEMBRO DE 2021
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A assembleia tem como objetivos:
A base para que estes objetivos sejam alcançados é o processo de escuta, ao qual todos somos convidados a participar ativamente como GED, GER e GEN. Enfatizamos que o processo de escuta foi prorrogado até o final de agosto de 2021.
Reacender a Igreja de maneira nova, apresentando uma proposta restauradora e regeneradora. Ser um evento eclesial em chave sinodal e não apenas episcopal, com uma metodologia representativa, inclusiva e participativa. Fazer uma releitura agradecida de Aparecida, que possibilite gerenciar o futuro. Ser um marco eclesial que consegue relançar grandes temas, ainda em vigor, que surgiram em Aparecida e voltar a temas e agendas marcantes. Ele é um kairós. Um sinal compartilhado com outros continentes dos quais muitos frutos podem brotar. Reconectar as cinco Conferências Gerais do Episcopado Latino-Americano e Caribe, ligando o Magistério Latino-Americano ao Magistério do Papa Francisco, marcando três marcos: de Medellín a Aparecida, de Aparecida à Querida Amazônia, da Querida Amazônia ao Jubileu de Guadalupano e da Redenção em 2031+2033.
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“Esse processo de escuta, na perspectiva sinodal, será a base do nosso discernimento, e nos esclarecerá para guiar os passos futuros que, como Igreja na região e como CELAM, devemos acompanhar o Jesus encarnado hoje no meio do povo, em seu “sensus fidei” que é seu sentimento de fé”. Como Movimento Eclesial precisamos nos inserir na caminhada rumo a Assembleia Eclesial, peregrinar unidos e buscar servir ao Senhor como “projetos do Pai neste momento da história”. A igreja nos convida a fazer o VER-DISCERNIR para AGIR, uma oportunidade única para que todos, como irmãos, participemos como profetas da misericórdia e da esperança e deixemos mais este presente para o Jubileu de 60 anos do MCC. Decolores! Viva a vida!
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Aponte a câmera de seu celular para o QR-Code ao lado e acesse o vídeo do CELAM Assembleia Eclesial 2021
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Profetas rumo ao Jubileu, onde todos somos irmãos!