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Nutrição de precisão na produção de aves
Conceito maximiza o desempenho das aves, evita que o excesso de nutrientes seja eliminado no ambiente, melhora o ganho de peso e a conversão alimentar, além de proporcionar maior rentabilidade ao sistema produtivo
No sistema industrial de produção avícola, independentemente da região ou sistema de criação, o custo de alimentação representa aproximadamente 70% dos custos totais. Apesar de toda a evolução em genética, sanidade, manejo, ambiência, com altos investimentos em automatização; mão de obra; melhoria das dietas e matériasprimas, a produção avícola é muito competitiva e possui uma estreita margem de lucro. Assim, formulações voltadas à nutrição de precisão que busquem o ajuste mais preciso entre as exigências de nutrientes e o fornecido nas rações aos animais, podem contribuir para aumentar a margem de lucro e diminuir a excreção de nutrientes ao ambiente.
Em que se baseia a nutrição animal?
Por muito tempo, as pesquisas em nutrição foram voltadas no estudo de três aspectos principais, ou seja, na composição nutricional e digestibilidade dos ingredientes; nas exigências nutricionais dos animais; e na resposta animal em relação à utilização e excreção de nutrientes. E o que significa exigência nutricional? Quando falamos em exigências de um nutriente podemos entender como a quantidade de nutrientes necessária para atingir o máximo desempenho em termos de ganho de peso, produção de ovos e conversão alimentar.
Com base nesses aspectos produtivos, os programas nutricionais são estabelecidos pelo balanço entre a quantidade de nutrientes presentes nas rações e as exigências nutricionais de cada espécie animal, fornecendo um número sucessivo de dietas com o objetivo de atender as exigências em função das diferentes fases de criação, levando sempre em consideração variáveis como uniformidade do lote, estado sanitário, sexo e fatores climáticos no momento da tomada de decisão em relação aos níveis nutricionais que serão utilizados em cada fase. Entretanto, a intensificação produtiva tem levado a indústria e a área técnica a desenvolverem estratégias nutricionais que busquem outros objetivos de produção além apenas do máximo desempenho.
Nesse sentido, surgiu o conceito de “Nutrição de Precisão”, que se baseia em conhecer as exigências nutricionais de cada lote e cada fase de criação, além da determinação e acurácia das matrizes nutricionais dos ingredientes utilizados, permitindo que o nível nutricional da formulação corresponda à realidade de cada ingrediente que será utilizado nas rações. Essa prática proporcionará benefícios como:
• Maximizar o desempenho das aves;
• Evitar que o excesso de nutrientes seja eliminado no ambiente;
• Formular rações de custo mínimo;
• Melhorar o ganho de peso e a conversão alimentar;
• Proporcionar maior rentabilidade do sistema produtivo.
Nutrição de precisão ao “pé da letra”
Para se alcançar uma nutrição de precisão, o nutricionista deve coletar todas as informações necessárias para definir os níveis nutricionais que serão trabalhados. Para isso, existem aplicativos que ajudam na coleta dessas informações, assim como programas de modelagem abastecidos com diversas variáveis e com equações que refletem a realidade de cada criação também auxiliam na definição da estratégia nutricional que será utilizada.
O conhecimento dos ingredientes disponíveis para as rações e a correta amostragem definem a representatividade do que se realmente tem na fábrica. Um plano de amostragem deve ser definido baseado na quantidade, no número de fornecedores, e na frequência de entrega das matériasprimas. A utilização do NIRS (Near Infra Red Spectrometry) e um laboratório para controle de qualidade são ferramentas essenciais para se garantir um banco de dados de nutrientes, possibitando ao nutricionista um número confiável de informações que poderão ser trabalhadas no momento de se estabelecer uma nutrição de precisão.
O controle de qualidade de uma fábrica de ração está, tanto no processo de planejamento, ajudando a construir a matriz nutricional, quanto na rotina de execução de uma fórmula. Análises rápidas, como: classificação do milho, urease do farelo de soja, peróxidos em farinhas de origem animal e óleos, ajudam muito a restringir a entrada de ingredientes de baixa qualidade na fábrica, possibilitando, inclusive, a elaboração de um ranking de fornecedores, ajudando no direcionamento de compras, mantendo a qualidade do produto acabado. Pode-se dizer que a fábrica de ração é o “coração” de uma integração de frangos de corte, na criação de aves de postura e matrizes, sendo capaz de contribuir com o sucesso ou fracasso de toda a operação.
As Boas Práticas de Fabricação (BPF) auxiliam na manutenção desse processo em conformidade com os padrões pré-estabelecidos. Todo cuidado deve ser tomado desde a recepção da matéria-prima, no processo de armazenagem, na moagem dos ingredientes, na pesagem e na qualidade de mistura, na expedição e no transporte das rações até o destino.
Assim, diante de tal complexidade, o propósito nutrição de precisão é que se procure a perfeição naquilo que se formula como alimento para os animais, sendo fundamental que se considere que, depois de definir os níveis nutricionais que devem ser fornecidos aos animais, que se tenha uma formulação precisa através do conhecimento de cada ingrediente que se utiliza dentro das rações, tendo o real conhecimento dos inúmeros desafios para que esta condição “ideal” seja alcançada.
Vantagens e desafios no atendimento deste conceito
Como foi dito anteriormente, além dos benefícios técnicos e econômicos, este conceito vem fortemente atrelado aos princípios básicos de sustentabilidade do meio ambiente. Um conjunto de nutrição, formulação e alimentação precisos faz com que os animais sejam mais eficientes, consumindo menos alimento por unidade de ganho de peso (conversão alimentar) e, consequentemente, consumindo menos água e produzindo menos dejetos.
A redução na produção de dejetos promove, por consequência, uma redução de excreção de nitrogênio e de fósforo, dois elementos químicos muito poluentes ao ambiente. Além disto, esta eficiência faz com que a produção de equivalente CO2 seja menor, por unidade de produção. Por exemplo, em um cálculo, comparando duas dietas à base de milho e de farelo de soja, com diferença de 1% de proteína bruta, onde os animais apresentavam o mesmo desempenho zootécnico, a redução da proteína permite a redução de equivalente CO2 em 6,9%.
Claro que esta precisão esperada, traz um benefício econômico relevante pois quando se conhece a proposta nutricional e a qualidade dos alimentos que serão empregados, toda e qualquer margem de segurança empregada em outras situações, poderá ser descartada.
Em princípio, é importante ressaltar que o conceito de nutrição de precisão vai se tornando mais complexo, à medida que a densidade de criação vai aumentando, ou seja, é impossível nutrir um grupo de animais como se fossem indivíduos, pelo menos com as tecnologias atualmente disponíveis. Em uma população, sempre existirão animais melhor transformadores de energia e de nutrientes em produto do que outros, menos eficientes. Por esse motivo, garantir um “excesso” de nutrientes, por vezes, permitirá que todos os animais expressem a sua máxima resposta em populações heterogêneas.
Portanto, com base nessa complexidade, serão considerados alguns fatores indispensáveis, quando se pensa em nutrição, formulação e alimentação de precisão.
1. Qualidade das matérias primas e tabelas de composição nutricional de alimentos
Para que se tenha segurança na aquisição de ingredientes de qualidade, o primeiro passo é conhecer e qualificar os fornecedores. Para isso, fundamental auditá-los com uma frequência definida, e estabelecer, criteriosamente, o que deve ser esperado de todo o produto recebido. Quando essas especificações não são atendidas, abre-se um protocolo de não conformidade, o produto é rejeitado e devolvido ao fornecedor. Quando a empresa possui laboratório de bromatologia próprio, a certificação da qualidade e a verificação das especificações técnicas do que se recebe, ganha agilidade e garante maior segurança ao processo. Para isso, o grau de sofisticação do laboratório deve ser compatível com as análises de rotina que serão implementadas.
Depois da viabilização da tecnologia NIR, as análises de rotina se tornaram mais acessíveis, empregando curvas de equações de predição robustas e confiáveis, desenvolvidas no próprio laboratório através de dados coletados na rotina de análises, ou também serem obtidas de fornecedores que prestam esse tipo de serviço.
As tabelas de composição nutricional dos alimentos são ferramentas utilizadas pelos nutricionistas que através de equações, ajustam os valores das análises obtidas com os valores esperados. Através destas equações, são feitos ajustes de energia e de digestibilidade dos aminoácidos. Neste caso, a tecnologia NIR se torna indispensável ao fornecer equações de predição qualificadas para oferecer informações que não constam nas tabelas de composição de ingredientes.
2. Formulação e produção de ração em tempo real
Um grande passo em direção à nutrição de precisão foi a utilização do “NIR in Line”, onde o equipamento que é acoplado na linha de passagem do ingrediente, analisa sua composição antes de chegar ao misturador. De acordo com os resultados obtidos das análises dos ingredientes, o sistema permite a reformulação em tempo real e a próxima batida de ração será ajustada através da real composição nutricional dos ingredientes, garantindo formulações mais uniformes e com precisão nutricional muito maior. Em outras palavras, a ração que chega no comedouro terá os níveis nutricionais muito próximos aos formulados pelo nutricionista, para cada espécie e fase da vida do animal. Como benefícios, além do melhor desempenho, espera-se a redução nos custos da ração através do melhor aproveitamento dos ingredientes e uso racional de recursos na produção e consequentemente menor impacto ambiental.
3. Diferenças genéticas e número de fases de produção
Quando se trata de nutrição e alimentação de precisão, esses pontos ganham muita relevância.
Existem diferenças significativas nas recomendações nutricionais propostas pelas diferentes genéticas, inclusive variações dentro das fases de produção. Para os produtores que usam mais de uma genética e não têm condições de formular dietas diferentes, a recomendação é que se formule para a genética que tem a maior representatividade dentro do plantel ou também que se formule para a genética mais exigente nutricionalmente. Entretanto, ambos os casos acarretam maiores custos nas formulações, além de gerar aumento na excreção ou perdas de nutrientes para o meio ambiente.
Sabe-se ainda, que além das diferenças genéticas, dentro de uma mesma genética e nas diferentes fases de produção, existem animais mais eficientes do que os outros. Neste sentido, as recomendações nutricionais podem ser adequadas para atender aos animais de maior desempenho ou para a média de desempenho do lote, dependendo do número de fases e do modelo matemático utilizados. Quanto maior o número de fases, especialmente em animais em crescimento, menores serão as perdas nutricionais e os custos de produção. Além disso, quando falamos em modelos matemáticos, os não lineares permitem adequar as
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formulações conforme o que se espera do produto final, considerando as recomendações das diferentes genéticas objetivando o preço do quilo do produto na plataforma assim como a margem que o mesmo deixará para o negócio, entre outros. Quando se fala em resultado econômico do processo nem sempre a ração “mais barata” promoverá o melhor retorno econômico.
4. Outros aspectos que interferem na nutrição de precisão
Além do que foi descrito anteriormente, existem aspectos não menos importantes que devem ser considerados quando o assunto é nutrição de precisão. Dentre eles, o DGM dos ingredientes, o processamento das rações, a qualidade, quantidade e temperatura de água, o tipo de instalação, a ambiência, a sanidade do lote, entre tantos outros, são aspectos que influenciam positivamente na busca do conceito de nutrição, formulação e alimentação de precisão.
Considerações finais
Nesse sentido, pode-se concluir que o maior avanço está relacionado com uma melhor compreensão dos mecanismos que determinam a utilização dos nutrientes pelos animais. Com a relevância desses aspectos, produtores e nutricionistas estão reavaliando os programas nutricionais atuais, para alcançarem uma nutrição mais precisa, reduzindo custos com maior sustentabilidade, mantendo ou melhorando o desempenho zootécnico e garantindo a qualidade do produto final.