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Impactos da influenza aviária no mercado global

Brasil acende alerta e intensifica medidas de prevenção contra o H5N1

Rafael Suzuki

Saúde Animal e não há tratamento específico para essa enfermidade.

Ela afeta várias espécies de aves domésticas e silvestres, principalmente as aquáticas (em sua forma mais agressiva), também mamíferos como cães, gatos, ratos, suínos, cavalos e até mesmo o homem (MAPA, 2023).

A enfermidade pode ser subdividida de acordo com sua capacidade de provocar sinais clínicos severos, sendo classificada como:

• Influenza aviária de baixa patogenicidade (IABP): resulta em sinais subclínicos que podem passar desapercebido;

• Influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP): sua disseminação ocorre rapidamente, podendo atingir todo o lote em menos de 48 horas. Afeta múltiplos órgãos e podem apresentar apatia, edema facial, inchaço da crista e barbela com coloração arroxeada, diarreia, sinais neurológicos (andar cambaleante) e respiratórios (tosse, espirros, muco e hemorragias) e queda brusca na produção de ovos em galinhas de postura. Resulta em uma alta mortalidade, acima de 75%. Apenas os vírus com hemaglutininas H5 e H7 têm provocado alta patogenicidade até o momento (MAPA, 2006; UFPEL, 2021; EMBRAPA, 2023; MAPA, 2023).

Não foram registrados casos de influenza aviária no Brasil. Apesar disso, várias notificações de focos de IAAP têm surgido ao redor do mundo nos últimos meses, incluindo a América do Sul.

Como está a disseminação da enfermidade no mundo?

Focos de influenza aviária têm sido reportados em diversos continentes e países ultimamente, incluindo: França, Noruega, Islândia, Holanda, China, Índia, Japão, Coreia do Sul, Austrália, África do Sul, Inglaterra, Itália, Alemanha, Rússia, Canadá, Estados Unidos, México, Honduras e Panamá.

Considerando a América do Sul, já foram afetados: Colômbia, Equador, Peru, Chile, Bolívia e, mais recentemente, o Uruguai. Na maioria dos países sulamericanos trata-se do primeiro registro de Influenza Aviária Altamente Patogênica.

Além da rapidez da transmissão da doença entre aves através do contato direto (secreções nasais, oculares e excretas de aves contaminadas), ou indireto (água, alimento, fômites, circulação de pessoas, insetos, roedores, cama e carcaça contaminadas, entre outros), há fatores que contribuem para sua transmissão para outros países e continentes, que são (UFPEL, 2021; MAPA, 2023):

• Migração de aves

• Globalização e comércio internacional

• Venda de aves vivas

Como a Influenza

Aviária afeta o mercado de frango e ovos?

O Brasil, que é livre de Influenza Aviária, acabou tento o cenário de exportações da carne de frango favorecido pela incidência da enfermidade em diversos países, além de outros fatores como o conflito entre Rússia e Ucrânia e o aumento de custos de produção na União Europeia.

As exportações brasileiras de carne de frango totalizaram 4.822 milhões de toneladas em 2022, o que representou um avanço de 4.6% em relação ao total exportado em 2021 (ABPA, 2023). Esse volume gerou uma receita de US$ 9,76 bilhões, valor 27.4% superior ao ano anterior.

Com relação ao mercado de ovos, países como Estados Unidos, Inglaterra, Portugal e Nova Zelândia passam por uma escassez de ovos. Nos Estados Unidos, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, 2023), o surto atual resultou na morte de mais de 44 milhões de aves poedeiras , o equivalente a aproximadamente 4 a 5% do plantel norte-americano. Na Europa, além da ocorrência da enfermidade, o cenário é agravado com a guerra entre Rússia e Ucrânia, assim como os aumentos de custos de produção, como alta dos grãos e energia elétrica. Por fim, na Nova Zelândia, em 2012, foi determinado por lei que haveria uma transição gradual da produção de ovos com aves livre de gaiolas com o prazo limite ao início de 2023. Dessa forma, a produção de ovos com essa transição não foi suficiente para acompanhar a demanda de ovos no país.

A exportação de ovos do Brasil em 2022, por sua vez, caiu 16.5% comparado ao ano anterior, com um volume exportado de 9,47 mil toneladas. No entanto, considerando a receita anual de US$ 22,419 milhões, houve um acréscimo anual de 24.2%.

Considerando a grandeza e importância do Brasil no mercado mundial de carne e ovos, a entrada da Influenza Aviária no país impactaria não somente o mercado interno brasileiro, mas também as ofertas de produtos para exportação, principalmente carne de frango. Segundo estimativas do USDA (2023), o país deverá representar cerca de 14.32% da produção mundial em 2023, com uma estimativa de 14,74 mil toneladas, ficando atrás somente dos Estados Unidos.

O que tem sido feito para evitar a entrada da Influenza Aviária no Brasil?

O Brasil tem intensificado as medidas de prevenção contra a Influenza Aviária. Esse trabalho está sendo desenvolvido no sentido de (MAPA, 2023):

• Aumentar as ações de vigilância, seja pelo serviço veterinário oficial, ou pelos órgãos ambientais, incluindo também a vigilância em portos e aeroportos pelo Serviço de Vigilância Agropecuária Internacional;

• Reforçar medidas de biosseguridade nas granjas pelos avicultores;

• Lançar campanhas de conscientização, como a “Influenza Aviária? Aqui não!” desenvolvida pelo Ministério da Agropecuária, Pecuária e Abastecimento;

• Aumentar a capacidade de detecção precoce de casos suspeitos e de comprovação da condição livre da doença;

• Promover treinamentos teóricos e práticos visando as ações de prevenção e atuação emergencial para o controle da doença, se for o caso;

• Desenvolver um Plano de Comunicação direcionado para todos os públicos envolvidos com aves, com a finalidade de alertar sobre os riscos da introdução da enfermidade e aplicar a notificação imediata ao serviço veterinário oficial em caso de suspeita;

• Aumentar a capacidade de atendimento a demandas de diagnósticos laboratoriais para a Influenza Aviária, assim como treinamento e capacitação de profissionais;

• Interação entre o MAPA, órgãos estaduais de sanidade agropecuária, setor privado de avicultura, Embrapa, universidades, entre outros;

• Buscar conhecimento em reuniões e fóruns de discussão com instituições internacionais e países vizinhos, para a atualização de informações, definição de estratégias e cooperação para o combate à doença.

Passamos por um momento delicado, em que é necessário reforçarmos os conceitos e a aplicação de medidas de biosseguridade nas granjas brasileiras, além de realizarmos um trabalho de excelência em conjunto com órgãos e instituições competentes.

Rafael Suzuki - equipe de Inovação & Pesquisa do departamento de aves na Agroceres Multimix

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