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Influenza Aviária Ameaça ou oportunidade para o Brasil?

Dione Carina Francisco

Você já deve ter percebido que a maioria das ameaças também escondem grandes oportunidades aos que estão preparados. Com a Influenza Aviária acontece o mesmo, mas antes de explicar os motivos é importante relembrarmos que agente infeccioso é esse que causa um grande impacto mundial.

Segundo a Organização Panamericana da Saúde (OPAS/OMS), a Influenza Aviária também conhecida como gripe aviária é uma enfermidade infecciosa que acomete principalmente as aves e pertence a um vírus da família Orthomyxoviridae e ao gênero influenzavirus A. Os vírus do Influenza A caracterizam-se por subtipagem dos segmentos dos genes da hemaglutinina (HA) e da neuraminidase (NA). Existem 18 subtipos HA e 11 da gripe NA A, com apenas H1 até H16 e N1 até N9 detectados em aves (HOKPEN,M).

De acordo com REISCHAK, D, “Os vírus influenza A que infectam aves domésticas podem ser divididos em vírus de alta patogenicidade e vírus de baixa patogenicidade segundo a habilidade que possuem em causar a doença, sendo que, até o momento, a Influenza Aviária de alta patogenicidade está associada apenas aos subtipos H5 e H7 do AIV

Segundo o MAPA, existe um conjunto de fatores que contribuem para a introdução e transmissão da Influenza Aviária em uma região, como o contato direto de aves domésticas com aves silvestres migratórias, provenientes de outras regiões e países, o elevado fluxo de pessoas e produtos no mundo, aumentando as chances de uma rápida disseminação da doença e mercados e feiras que vendem aves vivas propiciam um ambiente que facilita o contato entre animais de diferentes espécies, incluindo o homem. O melhor então é prevenir! A prevenção é uma soma de fatores tanto governamentais quanto da iniciativa privada o que nos garante acesso a diversos mercados.

Sim, somos livres de Influenza Aviária perante a OIE! Ainda desconhece a importância desse status? É ele quem nos garante exportar para uma infinidade de países que tem como requisito de saúde animal a garantia que a carne de frango e/ou seus demais produtos é derivada de aves provenientes de áreas onde não há registro de ocorrência de Influenza Aviária de alta patogenicidade (cada país determina o tempo). Os requerimentos de exportação aplicados pelos compradores ao Brasil também se aplicam a outros países exportadores, sendo assim, essa é uma grande oportunidade da cadeia avícola em aumentar suas exportações, não apenas de carnes, mas também de ovos, sejam eles para consumo ou férteis.

Mas, para que possamos tirar o melhor proveito dessa situação é importante que sigamos fazendo o nosso dever de casa com maestria e isso inclui toda a cadeia de aves, além dos órgãos fiscalizadores estaduais e Ministério da Agricultura e Pecuária os quais têm um papel essencial na comprovação do status de livre de Influenza Aviária. Por toda cadeia avícola, leia-se granjas, fornecedores de insumos, incubatório, transporte, fábrica de rações, abatedouro, incluindo as pessoas que atuam no setor, tanto direta quanto indiretamente. Cada indivíduo é importante!

Enquanto auditora eu tenho a oportunidade riquíssima de conhecer e auditar todos os elos da cadeia de produção de frangos de corte em boa parte do território brasileiro o que me permite ter uma visão global de como um elo pode afetar o seguinte. Antes de mais nada, vale lembrar que o status de livre de Influenza Aviária não é atingido por empresa A ou B, mas sim pelo país. Dito isso, quero compartilhar alguns pontos importantes que muitas vezes são pouco discutidos quando falamos de sanidade avícola. Costumamos enfatizar os cuidados de biossegurança que as granjas devem ter, mas poucas vezes falamos sobre a importância dos cuidados em incubatórios, fábricas de rações e transporte. Cada elo precisa analisar minuciosamente o que precisa ser implementado ou melhorado para impedir a entrada do vírus da Influenza Aviária.

Ela está na “boca do povo”, sendo citada na Time, The Economist, em mídias pelo mundo afora, não é à toa que diversos meios de comunicação, não restrito aos meios do agro, evidenciem as diversas faces da Influenza Aviária.

Países que já foram acometidos, os quais não os citarei porque ao longo dos meses vários países estão somando-se a essa estatística e poderia escrever algo com informações defasadas, estão sofrendo os efeitos desse vírus e esses não são poucos.

O poder devastador da Influenza Aviária não se restringe ao sofrimento das aves, mas afeta também emocionalmente quem trabalha no setor, principalmente quem tem contato direto com esses animais, e ainda temos o dano financeiro.

O impacto econômico tem uma repercussão em toda a sociedade, à medida que os preços da carne de frango, os produtos derivados da mesma, assim como ovos e ovoprodutos são impactados pela menor oferta de produtos. Em um mundo pós pandemia essa não é a melhor notícia que poderíamos ter.

Conseguimos medir os danos financeiros, mas como medir o impacto emocional de produtores, veterinários e outros técnicos que têm contato com as aves? Como somar isso ao risco das empresas? O capital humano, mesmo com o avanço da tecnologia continua sendo um ativo fundamental nas empresas avícolas.

Pensando em bem-estar animal, das cinco liberdades dos animais a que remete a livre de dor, ferimentos e doenças é afetada seriamente pela Influenza Aviária. Dentre os sintomas temos morte súbita; falta de energia, apetite e coordenação; descoloração arroxeada e/ou inchaço de várias partes do corpo; diarreia; descarga nasal; tosse, espirros; e redução da produção de ovos e/ou ovos com casca mole ou deformados. Bemestar animal é sinônimo de atendimento à legislação e também a requisitos de clientes, como fornecimento de produtos de frango a cadeias de fast food ou certificações específicas. Há muitos consumidores que buscam informação acerca das ações das cadeias de fast food no que diz respeito aos requerimentos exigidos dos seus fornecedores para o atendimento ao bem-estar animal.

Em se tratando de consumidores não podemos esquecer que as informações que estão recebendo podem não ser de fácil compreensão, haja vista que não são técnicos do setor. Influenza Aviária é uma zoonose, mas analisemos os dados. Segundo o Manual Merck, os primeiros casos de H5N1 em seres humanos foram descobertos em Hong Kong em 1997. Em 2003 e 2004, reapareceram infecções por H5N1 em humanos e casos esporádicos continuam a ser notificados, principalmente na Ásia e no Oriente Médio. Uma infecção humana foi confirmada em 2021 e ocorreu na Índia. Mais de 800 infecções humanas e mais de 400 mortes foram confirmadas desde 2003.

Desde 2014, mais de 50 infecções humanas por H5N6 foram documentadas; todas ocorreram na região do Pacífico Ocidental, principalmente na China continental. Em fevereiro de 2021, as primeiras infecções humanas por H5N8 foram notificadas em 7 trabalhadores aviários na Rússia. Não foi observada transmissão entre seres humanos e considerase o risco para o público em geral muito baixo. Em 2023 também há relatos de transmissão para humanos, mas os números são baixíssimos se comparados ao número de aves silvestres, de subsistência e de produção comercial; entretanto, na visão do consumidor o que desperta interesse é o fato em si da transmissão para humanos, e não a análise de que, além do número baixíssimo de infecções, elas foram provocadas pelo contato direto com os animais e não por meio do consumo de alimentos, em outras palavras, isso pode impactar negativamente o mercado. a bibliografia o

Em suma, a Influenza Aviária é uma ameaça real ao mesmo tempo que, se soubermos trabalhar adequadamente para mantermos nosso status de livre de Influenza Aviária ela é uma oportunidade de alavancarmos ainda mais nossas exportações. Para isso, nosso melhor arsenal contra essa ameaça ainda é a informação adequada e os cuidados de biossegurança que precisam ser pensados e executados de forma precisa.

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