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Com as expressivas altas do milho e do farelo de soja, cai o poder aquisitivo do produtor do frango e do ovo

Pelo que se viu nas análises anteriores, o ovo fechou o semestre com boa valorização em relação ao mesmo período do ano passado (preços cerca de um terço superio res), enquanto o frango vivo fechou o semestre com resultado que, embora negativo, é aceitável frente ao tumultuado momento enfrentado.

Tais conclusões, porém, têm validade somente quanto aos preços alcançados. Porque, frente aos custos enfrenta dos no semestre , os resultados - especialmente os do frango - ficaram muito aquém da realidade anterior. E isso se deve, fundamentalmente, à evolução dos preços das duas maté rias-primas essenciais para o setor, milho e farelo de soja, cujos preços agora têm como referência o dólar.

Milho: nos últimos 12 meses, variação anual de até 43%

Comparativamente a junho de 2019, o milho encerrou o primeiro semestre de 2020 com uma valorização de pouco mais de 21%. Mas isso não reflete todo o comportamento de preços do grão nos últimos 6 meses.

Assim, por exemplo, em março passado o grão foi comer cializado, internamente, por valor equivalente a, aproximadamente, de US$12,50/saca, valorizando-se 11% em relação ao mesmo mês de 2019. A questão é que, nesse mesmo espaço de tempo, o valor do dólar aumentou mais de 25%. E o efeito, para o avicultor, foi não só um custo mais de 40% superior, mas também o maior valor nominal pago pelo milho em todos os tempos.

No segundo trimestre de 2020 os preços registrados sofreram ligeiro recuo. Mas o poder aquisitivo do produtor de frangos, que vinha sofrendo deterioração desde o final de 2019, não experimentou recuperação. Em junho do ano pas sado uma tonelada de frango vivo possibilitava adquirir perto de 5 (cinco) toneladas de milho em grão. Neste ano, em junho, o volume adquirível – apesar da baixa do milho e da alta do frango vivo – foi 15% menor, não chegando a 4,230 toneladas.

Neste caso, menos mal para o produtor de ovos que, exceto em janeiro, manteve, aproximadamente, o mesmo poder de compra de um ano atrás.

De toda forma, no mês de encerramento do semestre, frente à variação anual de 21,21% no custo do milho, a remuneração obtida pelo ovo não passou dos 15% e a do frango vivo não chegou a 3%.

Feitas as contas, o produtor de ovos encerrou o primeiro semestre de 2020 necessitando de um volume do produto quase 23% maior para adquirir a mesma quantidade de farelo de soja obtida em junho de 2019

Farelo de soja; aumento em 12 meses ultrapassa os 40%

No caso do farelo de soja a perda de poder aquisitivo é, tanto para o produtor de frango quanto para o de ovos, bem maior que a do milho. Pois enquanto o preço do frango evo - luiu perto de 3% e o do ovo não mais que 15%, o aumento de preço do farelo superou os 40%

E o pior, neste caso, é que as maiores variações de preço passaram a ser registradas a partir de março, isto é, quando a produção animal passou a sofrer os efeitos da pandemia.

Feitas as contas, o produtor de ovos encerrou o primeiro semestre de 2020 necessitando de um volume do produto quase 23% maior para adquirir a mesma quantidade de farelo de soja obtida em junho de 2019. Ou seja: enquanto há um ano se adquiria uma tonelada de farelo de soja com pouco mais de 19 caixas de ovos, neste ano foram necessá - rias cerca de 23,5 caixas para adquirir o mesmo volume da matéria-prima.

Já para o produtor de frangos a situação é bem mais crí - tica. Pois enquanto há um ano uma tonelada de farelo de soja era adquirida com 363 kg de frango vivo, neste ano esse volume aumentou mais de 37%, exigindo perto de meia tonelada da ave viva.

Diogo Tsuyoshi Ito é Coordenador Técnico na Hisex – Hendrix Genetics Ltda diogo.ito@hendrix-genetics.com

Se pe Ambiência: dentre os objetivos das instalações temos: minimizar os efeitos danosos do estresse calórico do ambiente e das próprias aves, da amplitude térmica e das oscilações climáticas. O estresse calórico causa uma cascata de problemas como picos de mortalidade; redução de consumo de ração que pode ocasionar queda de produção ou demandar rações mais concentradas e; piora na qualidade das fezes favore cendo a disseminação de patógenos e reduzindo a qualidade do ar nos galpões. Períodos de inverno propiciam o apare cimento de problemas respiratórios que desestabilizam a produção e a qualidade dos ovos e aumentam a neces sidade de medicação. Os registros de temperatura, umidade e qualidade do ar são importantes. Planejar as escolhas em ambiência no presente gera consequências à médio e longo prazo.

Manejo: buscamos atender as necessidades das aves diariamente pois a “manejite” resulta em perda genera lizada de desempenho zootécnico e econômico. O acompanhamento do peso e uniformidade dos lotes desde as primeiras semanas de vida a fim de para identificar/separar/

Big data? Inteligência artificial? Algoritmos?

Decisões de custo:benefício

“O ovo representa um alimento bastante nutritivo atrelado a uma cadeia produtiva inovadora, preocupada com sustentabilidade, segurança alimentar e bem-estar animal. Neste contexto, como aproveitar os dados zootécnicos nos processos de decisão e diferenciação entre investimento, despesa, desperdício, prevenção?”

quantificar aves com atraso de desenvolvimento, é importante para a identificação de possíveis causas e elaboração de soluções viáveis. A assistência técnica de suporte também precisa ser considerada para treinar, orientar e identificar os problemas e propor soluções. Ponderar o dimensionamento da mão de obra é estratégico.

Sanidade: cada problema sanitário pode acometer 1 ou mais índices zootécnicos de forma aguda (surgem de repente) ou crônica (aumentam aos poucos, lote a lote e persistem). Por exemplo, doenças respiratórias causam quedas de produção que duram de semanas a meses, piorando a conversão alimentar. Enquanto isso, doenças imunossupressoras aumentam a taxa de mortalidade e isto compromete o índice de Ovos Ave Alojada. Manter o desafio controlado para que as defesas naturais da ave possam agir reduz perdas (aves e ovos). Embasamento técnico na adoção das medidas de sanidade é primordial.

Nutrição: as oscilações nos preços e variações na qualidade e disponibilidade das matérias primas influenciam a formulação final. Cuidados são necessários ao avaliar o caminho a ser adotado com esse cenário. Às vezes, o

produtor precisa decidir entre reduzir os níveis nutri- cionais, reduzir o uso de aditivos ou extrapolar o uso de determinados ingredientes. Porém, dependendo da estratégia adotada pode ocorrer aumento no consumo de ração, redução da produção dos lotes e diminuição no aproveitamento de ovos vendáveis, respectivamente. A conversão alimentar é base de análise (Kg de ração por caixa de ovos e R$ com ração por caixa de ovos). O fator qualidade e disponi - bilidade de água também precisa ser considerado. Otimizar os custos de nutrição é dinâmico e essencial.

Genética: os produtores buscam linhagens genéticas que tenham potencial para resultados rentáveis e que atendam aos padrões exigidos pelos consumidores. Comparar os resultados de lotes entre núcleos/galpões diferentes nos permite avaliar o efeito de nossas decisões e realidades. Comparar o resultado ano a ano nos permite avaliar se estamos melhorando efetivamente ou nos aproveitando da evolução genética das linhagens. Comparamos o resultado entre linhagens para as decisões futuras da empresa/granja. Os dados zootécnicos primários gerados nos galpões, salas de classificação de ovos e fábricas de ração (produção (%), viabilidade (%), consumo de ração (g/ave/dia), custo da ração (R$/ ton), peso médio dos ovos (gramas), aproveitamento dos ovos (%)) resultam nos parâmetros zootécnicos secundários para análise gerencial (Conversão Alimentar (kg / caixa de ovos e R$ / caixa de ovos) e Ovos Ave Alojada). Para condições de criação “imutáveis” muitas vezes optamos pela linhagem que “menos perde” nas condições “atuais”, nestes casos a rusticidade das aves é importante. Outras vezes, ajustamos a estrutura (sanidade, nutrição, ambiência, manejo) quando concluímos que investi - mentos adicionais são economicamente viáveis para aproveitar melhor o potencial genético das linhagens e obter 500 ovos às 100 semanas tornou-se uma possibilidade real. A persistência e uniformidade dos resultados, lote a lote, também precisa ser consi - derada. Racionalidade na escolha das linhagens e controle sobre a base de comparação e seus interfe - rentes protegem a rentabilidade da produção de ovos.

Mais aves geram mais dados. Novas tecnologias estão nos permitindo uma obtenção mais intensa e constante dos dados zootécnicos e da situação de criação das aves. Com isso, mais dados geram banco de dados mais robustos que demandam maior controle e checagem. O controle demanda novas ferramentas de análise. Diante de tudo isso, vale lembrar que a Inteligência Artificial depende da Inteligência Natural pois informações erradas nos levam a decisões erradas. Decisões corretas hoje refletem em melhores resultados aman

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