TOP Carros Edição 10

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História

Elétricos

Jaguar I-Pace e Porsche Taycan

Retorno

O Defender está de volta

BMW R 1250 GS Pequeno mamute

Top Car-0010 ter

a-feira, 14 de outubro de 2014 09:20:37

Tecnologia Novidades da mobilidade e a arte de desintegrar PÁGINA 46

Número 10 • R$30,00

Bentley, Citroën e Porsche 917








EVOLUÇÃO na máxima potência

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*Três anos de garantia, sem limite de quilometragem. Honda Assistance com serviço gratuito por 3 anos, por todo o período da garantia do produto. A cobertura abrange o Brasil, Chile, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia.

No trânsito, dê sentido à vida.




Então, por que fazemos isso? Por que inventamos qualquer desculpa para sair por aí? E por que, mesmo depois que acabamos de voltar de uma viagem, já ficamos sonhando com a próxima? Você sabe o porquê. É pela sensação. Pela liberdade. Pelos momentos inesquecíveis que passamos sobre duas rodas sentindo o vento bater no rosto. Por sempre pegar o caminho mais longo para casa. Pela viagem, pelo trajeto, pela aventura.

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No trânsito, dê sentido à vida.








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— índice —

TOP Road

TOP Power

TOP Estilo

Capa

Os duros caminhos desbravando a inóspita Amazônia. PÁG. 26

Nissan lança série comemorativa do GT-R e empresa italiana relança Lancia Delta HF. PÁG. 30

As novidades de Pininfarina, bikes BMW. Ski Porsche Desing. Clássico IWC. Baú no Rolls-Royce. Malas McLaren. A Bíblia da Ferrari. PÁG. 36

A arte de Fabian Oefner, o fotógrafo suíço que produz imagens exclusivas simulando a explosão de carrões. PÁG. 46

Mille Miglia

Brooklin Bike

Porsche 917

Bentley 100 anos

Um retorno às estradas e charmosas paisagens da corrida mais bonita do mundo. PÁG. 54

O livro que conta a história caótica de ex-membro do folclórico e ameaçador grupo Hell’s Angels. PÁG. 68

Há 50 anos a Porsche lançou o modelo de competição que dominou as corridas de longa duração. PÁG. 82

O objetivo de construir um carro rápido, um bom carro, o melhor de sua classe foi o que moveu um engenheiro inglês. PÁG. 92

Fórmula E

Ensaio

100 anos Citroën

Land Rover

A categoria idealizada para demonstrar o potencial da mobilidade elétrica e sustentável. PÁG. 106

A cachoeira em Minas Gerais que é um “monumento” e grande desafio aos raticantes do rapel. PÁG. 120

A comemoração dos 100 anos da marca francesa, que sempre se destacou por muita criatividade. PÁG. 134

A marca inglesa relança seu popular utilitário, Defender, reestilizado e com acabamento requintado. PÁG. 146

BMW NEXT

Audi RS6/RS7

Toyota Corolla

Avaliados

O conceito da marca alemã prevê que, em breve, os automóveis poderão conduzir ou ser conduzidos. PÁG. 154

Os dois novos “foguetes” da marca alemã são equipados com potente motor V-8 biturbo. PÁG. 164

A marca de automóvel mais vendida na história ganha exclusiva versão híbrida. PÁG. 172

Porsche Taycan Turbo S PÁG. 180 Honda Accord Touring PÁG. 186 Audi Avant RS4 PÁG. 190 Mitsubishi Pajero Sport PÁG. 196

Avaliados

Avaliados

TOP Tecnologia

TOP Colunistas

Porsche Carrera 911 PÁG.200 Mercedes C 63 AMG PÁG. 206 BMW 330i PÁG. 212 Lexus ES 300h PÁG. 218 McLaren 600 LT PÁG. 222

Land Rover Evoque PÁG. 228 VW T-Cross PÁG. 234 Jaguar I-Pace PÁG. 238 BMW R 1250 GS Adventure PÁG. 242

Conectar ou sucumbir. PÁG. 248

Roberto Marks: A era dos encarroçadores. PÁG. 42 Roberto Marks: Carruagem dos deuses. PÁG. 250

Estradas pelo mundo

Viagem no tempo

Novidades no mercado

Diário da motocicleta

Um novo tipo de competição Aventura no Tabuleiro

O futuro da esportividade

Mais Top Testes

O melhor de dois mundos

Mais Top Testes

Atitude e elegância

A saga de um vencedor

Um século de criatividade

Trajetória invejável

TI no automóvel

Máquinas em desintegração

História de agonia e glória

O retorno de um ícone

Top Testes

Classics e Prazer


— equipe —

Fernando Calmon

Bob Sharp

Josias Silveira

Andreas Heiniger

Engenheiro e jornalista especializado desde 1967, Calmon começou com o programa Grand Prix, na TV Tupi. Foi editor de Automóveis de O Cruzeiro e Manchete e diretor de redação da Auto Esporte. Também produziu e apresentou o programa Primeira Fila em cinco redes de TV. Sua coluna semanal sobre automóveis, Alta Roda, estreou em 1999 e hoje é reproduzida em uma rede de 105 jornais, revistas, portais, sites e blogs. É correspondente no Brasil do site inglês Just-auto.

Carioca, mas radicado em São Paulo, é um misto de jornalista, técnico e piloto, além de ser formado em Construção de Motores e Máquinas. Atua na imprensa automobilística desde 1973, e já trabalhou na Fiat, Volkswagen, General Motors e Embraer, nas duas primeiras em área técnica e nas duas últimas como gerente de imprensa. Atualmente trabalha para revistas do Brasil e do exterior e é editor do site Autoentusiastas.

Costuma dizer que aprendeu jornalismo na Escola de Engenharia Mauá. Ou seja, mais um engenheiro que virou suco, ou melhor, jornalista, em 1972. Josias fez dezenas de revistas e foi um dos criadores de Duas Rodas e Oficina Mecânica. Tem paixão por carros e motos e até agora não descobriu se foi um hobby que virou profissão ou o contrário. Escreve sobre duas, quatro e até mais rodas há mais de quatro décadas, inclusive como colaborador da Folha de S.Paulo.

Suíço radicado no Brasil desde 1974, Andreas Heiniger é unanimidade quando o assunto é fotografia e profissionalismo. Apaixonado pelo que faz e com uma simpatia cativante, tem um currículo ligado à fotografia automotiva que inclui clientes como Volkswagen, GM e Fiat, além de outros trabalhos publicitários e editoriais para marcas como Natura e Havaianas. Andreas também conta com obras autorais como a série Vaqueiros, coleções expostas pelo mundo e prêmios como Clio Awards e Cannes Lions.

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PUBLISHER CLAUDIO MELLO CAROLINA KAWAMURA: Assistente de Direção PROJETO GRÁFICO MARCELLO SERPA MARCUS SULZBACHER PEDRO ZUCCOLINI FILHO BRUNO BORGES DIRETOR DE CRIAÇÃO E FOTOGRAFIA ANDREAS HEINIGER REDAÇÃO TOP CARROS FERNANDO CALMON: Diretor de Redação BOB SHARP: Editor Técnico JOSIAS SILVEIRA: Editor Adjunto ROBERTO MARKS: Editor Adjunto LETÍCIA IPPOLITO: Revisão Geral ARTE ROSANA PEREIRA: Diretora e Coordenadora de Arte LUANA JIMENEZ: Assistente de Arte PAULO BELEZA: Retoque de Imagens COLABORADORES GUILHERME SILVEIRA, KIKE MARTINS DA COSTA, LUCAS BERTI, WAGNER GONZALEZ (Texto) CLAUDIA BERKHOUT (Edição Ensaio) BILL PHELPS, FECO HAMBURGUER (Fotos) EDITORA TODAS AS CULTURAS LUCAS BULED E RICARDO POLINÉSIO: Diretores de Criação CAROLINA ALVES: Gerência de Assuntos Corporativos CAROLINE MELGAÇO E CARLA FERRAZ: Produção Executiva AMANDA BERALDI, JÉSSICA ANDRA E TATIANA WEINHEBER: Projetos Especiais DIANINE NUNES: Relações Públicas FINANCEIRO ANTONIO CEZAR R. CRUZ: Financeiro (financeiro@topmagazine.com.br) THIAGO ALVES: Planejamento Financeiro (thiago@topmagazine.com.br) CIRCULAÇÃO REGIANE SAMPAIO (regiane@topmagazine.com.br) Atendimento ao Leitor: sac@topmagazine.com.br Assinaturas: assinatura@topmagazine.com.br Números Atrasados: (11) 3074 7978 Assessoria Jurídica: BITELLI ADVOGADOS Pré-impressão e Impressão: IPSIS GRÁFICA E EDITORA / Distribuição: DINAP S.A. contato@revistatopcarros.com.br TOP Carros é uma publicação da Editora Todas as Culturas Ltda. Rua Pedroso Alvarenga, 691, 14˚ andar, Itaim Bibi, 04531-011, São Paulo/SP. Tel.: (11) 3074 7979. As matérias assinadas não expressam necessariamente a opinião da revista. A revista não se responsabiliza pelos preços, que podem sofrer alteração, nem pela disponibilidade dos produtos anunciados.

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FOTOGRAFIA ANDREAS HEINIGER

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— TOP Road —

O desbravamento da Amazônia começou com a abertura de estradas atravessando a inóspita floresta tropical. Primeiro a Belém-Brasília, atual BR 010, no fim da década de 1950. Na década de 1970, vieram os projetos da BR-319 (Porto VelhoManaus) e da Transamazônica (BR 230). Esta última, de 5.000 quilômetros de extensão, parte de João Pessoa (PB) e chega à fronteira do Peru. O trecho fotografado é em Altamira (Pará), município mais extenso do País.

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— TOP Power — POR GUILHERME SILVEIRA

Nissan GT-R Cinquentão Um dos carros orientais mais admirados mundo afora, o Nissan GT-R completa 50 anos de estrada. Para comemorar a data, recebeu a série especial 50th Anniversary Edition, revelada no Salão de Nova York. Há três combinações de cores, todas com dois tons, que fazem alusão aos carros do campeonato japonês. Dentre elas, destaque para o Azul Bayside do famoso “R34”, adornada por listras brancas de corrida. Por dentro, exibe um esquema de cores em tons de cinza, em couro napa. Demais detalhes incluem acabamento exclusivo na manopla do câmbio e no volante, além de revestimento do teto e dos para-sois em Alcântara. O motor de 3,8 litros V-6, por sua vez, recebeu novos turbos e coletores de escapamento. Resultado desse novo conjunto foi um aumento de 5% na potência, junto de respostas mais rápidas ao acelerador. Enquanto a versão “comum” entrega 572 cv, a Track Edition chega a 600 cv. O câmbio automatizado de dupla embreagem recebeu novo acerto eletrônico e trocas ainda mais rápidas das seis marchas, adaptando-se ao uso “inteligente” diante do tipo de condução. Outros detalhes deste GT-R realmente especial aparecem no escape, com silencioso de titânio e ponteiras no tom azul polido. Da mesma forma o sistema de suspensão melhorou, controlado eletronicamente para entregar mais firmeza em curvas e uma condução mais suave em retas. O esterçamento da direção ficou mais preciso, exigindo apenas correções sutis mesmo ao rodar a 300 km/h. Para frear o “monstro”, entra em cena um novo servofreio. Este propiciou aumento na resposta inicial da frenagem usando menos pressão no pedal, com maior potência máxima de frenagem. Na versão Track há até mesmo freios opcionais da Brembo: as dimensões são generosas, além de discos e pinças feitos de compósito cerâmico.

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— TOP Power —

Lancia Delta Futurista

Ao valor de salgados 300 mil euros (algo próximo de 1,5 milhão de reais), o compacto foi todo repensado e

Obra de Eugenio Amos, piloto e playboy italiano, a série

modernizado, para ser lançado em uma série de apenas 20

especial Futurista do Lancia Delta HF Integrale chega

unidades construídas pela preparadora Amos Automobili.

para celebrar os tempos dourados da marca. No incrível

Pode parecer caro — e realmente é —, pelos 330 cavalos

grupo “A” dos ralis, a Lancia dominou os campeonato

gerados no motor de 2.0 litros, com duplo comando de

mundial de rali de 1987 a 1992, com seis títulos mundiais

válvulas. É quase que pouco, perto do que entregam

consecutivos. Bem diferente do que ocorreu logo após,

pocket rockets (foguetes de bolso) como o Audi RS 3 (de

quando virou uma marca de certa forma marginalizada

396 cv), mas com a pegada purista de um Lancia com

dentro da Fiat.

tração “integrale”.

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uma carroceria alargada, na qual houve redução de peso com o uso de painéis de alumínio, a remoção das portas traseiras e aplicação de fibra de carbono. Essa aparece na dianteira com o típico “nariz” retangular tanto no capô como nos novos para-choques. Saias laterais e também a tampa traseira são feitas com esse material. Dessa maneira, o peso total caiu de 1.300 kg para 1.250 kg. A pintura recebeu tom de verde, batizado por seu criador de “brinzio”. Devidamente preparado pela oficina Autotecnica, o motor quatro-cilindros ganhou novo turbo e moderna injeção eletrônica. Embora a potência não chame tanto a atenção, o “chão” do carro é típico de um puro-sangue: suspensão do tipo Double Wishbone (braços triangulares superpostos), com ajustes, enquanto os freios são muito mais poderosos, da Brembo, junto a imensos aros e pneus. O monobloco do Delta, inclusive, recebeu reforços de uma A alma do modelo consagrado pelos ralis ganhou conforto.

gaiola de proteção. Para suportar o maior torque, a caixa de

Apesar da inédita carroceria de duas portas, o interior

câmbio ganhou engrenagens reforçadas nas cinco marchas.

com bancos “2+2” exala luxo e foi forrado em camurça

Com preço digno de superesportivo e porte bem compac-

Alcântara (by Recaro). Permanece o típico painel

to, esse Delta do século 21 pode parecer caro para alguns,

envolvente, com suas linhas quadradas e instrumental

mas digno do valor segundo seu criador: “Trata-se de uma

completo. Vidros elétricos e volante com botões — o mais

visão romântica de um veículo que marcou época; ele é assép-

importante dedicado ao “obrigatório” overboost para o

tico e rápido como o vento”.

turbo — completam as mudanças.

De fato, para quem já o viu passar ou pôde guiar um Lancia

Externamente, as linhas do compacto foram revigoradas

dos tempos dourados, o valor não chega a ser descabido para

por Borromeo de Silva, designer de Milão que criou

ter na garagem um de apenas 20 exemplares produzidos.

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— TOP Estilo —

PININFARINA E A COLEÇÃO EXCLUSIVA LEONARDO DA VINCI O artista e inventor italiano inspirou criações da marca de acessórios Pininfarina Segno, para comemorar o aniversário de 500 anos da morte do gênio da Vinci. Com ponta em liga de metal, capaz de escrever sem limites de forma indelével, a Ethergraf faz parte da coleção exclusiva Leonardo 500th de produtos para

a escrita e acessórios de mesa. O mais aguardado é o Codex, refazendo as faixas do “Cryptex”, inspirado no best-seller O Código da Vinci. A estrutura artesanal feita à mão é um verdadeiro segredo de design. Combina a pureza do alumínio à essencialidade da madeira maciça de nogueira. Disponível nas melhores lojas e em store.pininfarina.com. pininfarinasegno.it/en/leonardo-500th 36


NOVA GERAÇÃO DE BIKES DA BMW

fosco e listras no esquema de cores M Motorsport. Câmbio Shimano de 11 marchas. Freios hidráulicos a disco, também Shimano, oferecem excelente capacidade de parada. Sua arquitetura leve deve-se aos elementos de compósito de fibra de carbono. Os modelos Cruise Bike e Active Hybrid E-Bike também estão de cara

Inspirados na tendência fixa, com projeto inovador do quadro, os modelos esportivos de alta qualidade foram desenvolvidos pela marca alemã em colaboração com a Desingworks. Em todos, o inconfundível logotipo redondo da BMW. M Bike inspira-se nos carros da grife M — portanto, ainda mais esportiva. Pintura em preto

nova. shop.bmwgroup.com

PORSCHE DESIGN AMPHIBIO Em parceria com a Elan Skis, a fabricante alemã lançou um novo ski exclusivo. Produzido nos Alpes, é feito de compósito de fibra de carbono, o que deixa o produto leve e forte. Com a tecnologia Amphibio Truline, cria uma novidade no design e melhor desempenho. Produto pensado para os esquiadores experts, que gostam de combinar um design único e funcional, além de velocidade nas pistas. Com quatro tamanhos diferentes, foi pensado em detalhes, inclusive projetado para derreter o gelo sob as botas e acabar com qualquer inclinação no percurso. porsche-design.com

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— TOP Estilo — EDIÇÃO LIMITADA DA IWC EM TOM DE VERDE O icônico Pilot’s Watch Chronograph Edition Racing Green é um clássico da IWC. A caixa do cronógrafo é em aço inoxidável, tem diâmetro de 43 mm e altura de 15 mm. Algarismos arábicos em negrito caracterizam o seu mostrador e combinam com os ponteiros afilados altamente legíveis. A cor verde British Racing é o destaque. Em tom único, dá um toque especial ao seu desenho atemporal. Permite medir tempos únicos e agregados de até 12 horas. Exibe dia e mês. Seu estojo garante a resistência à agua a 60 metros de profundidade. Produção limitada a apenas mil unidades. A coleção Pilot foi criada há mais de 80 anos. www.iwc.com

ROLLS-ROYCE CHAMPAGNE CHEST A marca inglesa apresentou o novo item da sua linha de assessórios: um baú de champanhe que vem com quatro taças inspiradas no motor V-12. Desenhado pelo RollsRoyce Bespoke Design Collective, custa em torno de R$ 185 mil. Acompanha duas caixas térmicas para caviar, duas colheres de caviar de madrepérola, dois portacopos e uma cápsula de canapé. Feito com os mesmos materiais dos luxuosos carros, o baú é de alumínio e compósito de fibra de carbono, madeira de carvalho e revestimento de couro. Com apenas um toque o produto se abre, fica iluminado e a tampa pode ser usada como bandeja. Conta, ainda, com guardanapos bordados com o monograma RR da marca. Pode ser comprado nas concessionárias. rolls-roycemotocars.com

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BESPOKE LUGGAGE MCLAREN A primeira coleção de malas da marca foi feita exclusivamente para o McLarenGT, otimizando o espaço do porta malas. A linha conta com uma mala de roupas (US$ 2.300), bolsa para o fim de semana (US$ 2.500), bolsa de cabine (US$ 3.800) e até uma sob medida para tacos de golfe (US$ 6.800). Todas projetadas para encaixar em um local do carro e para diferentes ocasiões. O conjunto de quatro peças foi desenhado por um especialista italiano e feito com o mesmo material de couro do interior do veículo. Há três cores para combinar com o carro: Pioneer Black, Luxe Black e Luxe Porcelain. Além da cor, o consumidor pode escolher a costura para casar com o design do interior do GT. cars.mclaren.com

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— TOP Estilo —

A BÍBLIA DA FERRARI

assim como os bancos das máquinas originais da Ferrari. O livro de arte vem dentro de uma case que reproduz as tampas do cabeçotes em alumínio fundido dos motores V-12 da landária fabricante italiana. Uma criação do renomado designer australiano Marc Newson. Os primeiros 250 livros são ainda mais especiais: neles, os coletores de escape do cabeçote simulados pela case se transformam em um incrível pedestal de aço cromado. Foram assinados, um a um, por John Elkann, chairman da Ferrari; Piero Ferrari, filho de Enzo Ferrari; e Sergio Marchionne, executivo-chefe da Fiat Chrysler Automobiles (FCA), pouco antes de falecer em julho de 2018. Parte de uma “art edition”, cada um desses primeiros 250 exemplares custam US$ 30 mil (cerca de R$ 120.000). Já cada exemplar dos outros 1.697 saem por “módicos” US$ 6 mil (cerca de R$ 24.000). Todas as versões vêm acompanhadas com um par de luvas brancas — para o livro ser tratado como o verdadeiro

Se você é fã do universo automobilístico, prepare-se para ter a peça de decoração definitiva na sua sala de estar. Il Fascino Ferrari é um livro para lá de especial, com centenas de fotografias dos arquivos da Ferrari e de colecionadores particulares que “revelam toda a história por trás dos protagonistas da marca, suas vitórias, seu passado, presente e futuro”. São 514 páginas editadas pelo jornalista Pino Allievi, que acumula décadas de experiência escrevendo sobre carros, além de ter trabalhado diretamente com Enzo Ferrari e recebido o prêmio Dino Ferrari de jornalismo, lançado pelo próprio Commendatore. Criação da editora alemã Taschen, em parceria com a Ferrari, a publicação é uma edição limitada e numerada, com apenas 1.947 exemplares impressos, em referência ao ano de fundação da marca do cavallino rampante. Todos têm capa em couro vermelho costurado a mão,

motor V-12 do primeiro Ferrari 125 S. Puro luxo! 40



— TOP Classics —

A era dos encarroçadores —

Coachbuilder, carrossier, carrozziere, Karosseriebauer. Os fabricantes de carruagens construíram as carrocerias dos automóveis nos primórdios

por Roberto Marks Destaque no 6º Encontro Brasileiro de Autos Antigos

americana Brewster, rapidamente passaram dos carros

realizado na estância paulista de Águas de Lindoia este

puxados por cavalos para os empurrados por cavalos-

ano, o Cadillac Town Car 1927, premiado com o troféu

motor, apesar de na fase de transição ainda se dedicarem

“Best in Show” ( juntamente com um Chrysler Imperial

às duas atividades.

1959 e um utilitário DKW-Candango, também de 1959), é

Esse também é o motivo de as carrocerias dos

um exemplo da fase pioneira da indústria do automóvel.

automóveis antigos e vintage receberem denominações

Pode-se defini-la como a Era dos Encarroçadores.

que anteriormente já eram utilizadas para as carruagens,

Apesar de fabricado nos EUA, o Cadillac (foto acima)

como Brougham, Cabriolet, Coupe, Landau, Limousine,

teve sua carroceria produzida em Milão, pela Carrozzeria

Phaeton, Victoria. Assim como a denominação Town

Castagna. Para isso, seu primeiro proprietário precisou

Car dada ao Cadillac premiado em Lindoia e que foi a

enviar o “chassi rolante” em navio para a Itália e

interpretação que os americanos deram para o termo

esperar alguns meses para poder finalmente usufruir o

francês: Coupe de Ville.

automóvel. Pode parecer estranho, mas isso era normal

Coupe de Ville era, originalmente, a denominação

na época, principalmente em se tratando de modelos

dada a um coche fechado, com apenas dois lugares,

caros e donos que desejavam total exclusividade.

no qual o cocheiro ia do lado de fora, ao relento. Essa

E essa exclusividade era proporcionada pelos encar-

configuração acabou sendo utilizada nos primeiros

roçadores tradicionais, que já tinham a experiência na

automóveis requintados e se popularizou com a figura

construção de carruagens com suas equipes de artesãos

do “choffeur” de quepe no banco dianteiro, sem teto,

especializados em detalhes como estofamento e pintura.

enquanto o compartimento dos passageiros era fechado

Foi também uma maneira prática da então incipiente in-

e com ampla área envidraçada.

dústria do automóvel, ainda com escala de produção re-

Mas o mais interessante na trajetória deste Cadillac

duzida, poder se desenvolver sem necessitar de grandes

com carroceria italiana foi a preocupação de seu

investimentos nas áreas de acabamento dos veículos.

primeiro proprietário com a exclusividade, já que,

Empresas centenárias como as da família britânica

na época, a própria fábrica oferecia uma versão bem

Mulliner, que desde meados do século 18 estava

semelhante: o Cadillac Transformable Town Cabriolet

envolvida no ramo de construção de coches e

— Body by Fleetwood, encarroçadora americana

carruagens, as francesas Labourdette, Rothshild e

renomada mundialmente e que então já fazia parte do

Falber, a alemã Gläser, além da italiana Castagna e a

conglomerado General Motors.

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Vale lembrar que o slogan da Cadillac na época

A carroceria do carro premiado em Lindoia se diferenciava em detalhes do acabamento do modelo fabricado pela Fleetwood na América

era: “Cinquenta estilos e tipos de carroceria, com quinhentas combinações de cores e estofados”, tudo isso para garantir um nível exclusivo de personalização e individualização em cada unidade comercializada. Mesmo assim, o exigente comprador decidiu gastar bem mais apenas para ter a carroceria assinada pelo

renomado carrozziere italiano. Na época, a Carrozzeria Castagna era a principal empresa italiana do setor e se destacava por detalhes exclusivos no acabamento, sendo a preferida pelos compradores dos imponentes modelos fabricados então pela também italiana Isotta Fraschini e que se notabilizaram pelos enormes capôs que protegiam o potente e enorme motor de 8 cilindros em linha e quase 6 litros de cilindrada. Em 1927, enquanto o modelo mais popular da época, o Ford Modelo T, custava cerca de 300 dólares, o Cadillac Transformable Town Cabriolet encarroçado

1

pela Fleetwood tinha preço de tabela de 5.500 dólares. Mas para ter a exclusividade de possuir um modelo diferenciado, apenas em detalhes, o primeiro proprietário

1. O Cadillac Town Car 1927, premiado com o troféu “Best in Show” 2. O Cadillac Transformable Town Cabriolet (abaixo) encarroçado pela Fleetwood custava na época US $ 5.500 e não era muito diferente do modelo fabricado especialmente na Itália

do carro exposto em Lindoia deve ter gasto cerca de três a quatro vezes mais do que o modelo de fábrica.

2

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— Máquinas em desintegração — Imagens produzidas pelo fotógrafo suíço Fabian Oefner simulam a explosão de carrões TEXTO KIKE MARTINS DA COSTA FOTOS FABIAN OEFNER

As imagens produzidas pelo fotógrafo suíço Fabian

prazer único e inexplicável ao construir artificialmente

Oefner exploram as fronteiras entre tempo, espaço e

um momento. Ter o poder de congelar o tempo, para mim,

realidade. Em seu estúdio, a 100 km de Nova York, na

é algo fascinante e entorpecedor”, completa.

cidadezinha de Danbury, no estado de Connecticut, ele

Seu trabalho metódico exigiu que cada peça fosse

cria momentos ficcionais que parecem absolutamente

fotografada

reais, só que nada ali é exatamente o que se observa

maiores molas aos mais diminutos parafusos, para

à primeira vista. Ao abrir e dissecar carrões como

depois ser posicionada na tela do computador numa

Ferraris, Porsches, Bugattis e Mercedes na série

escalafobética composição que geraria essa impressão

“Desintegrating”, ele monta digitalmente imagens que se

de desintegração, de desmontagem acontecendo na

assemelham a explosões e revela como essas máquinas

frente dos olhos de quem a observa. Cada foto é, na

são por dentro. “Minha ideia era capturar o exato

verdade, uma montagem composta por centenas de

momento em que um carro explode, só que, na verdade,

outras imagens meticulosamente produzidas. “Cada

esse momento nunca existiu”, resume Oefner. “Sinto um

peça tinha de ser clicada numa perspectiva exata, 46

individualmente,

uma

a

uma,

das


Lamborghini Miura SV 1972

Auto Union Type C 1936

Maserati 250F 1957

47


— “Minha ideia era capturar o exato instante em que um carro explode, só que esse momento nunca existiu” —

48


para que ficasse perfeita na hora de formar a imagem final. Isso deu um trabalho enorme, e muitos desses componentes tinham de ser suspensos por agulhas, fios de nylon e cola para que a gente pudesse retratá-la da maneira correta”, conta o fotógrafo. Os primeiros trabalhos da série “Desintegrating” foram realizados nos anos de 2012 e 2013, a partir de miniaturas de modelos icônicos com o Mercedes-Benz 300 SLR Coupe 1954, Jaguar E-Type 1964 e Ford GT40 1969. Apesar de altamente inovadoras e impactantes, as imagens não resistiam a um olhar mais cuidadoso, que permitia notar que alguma engrenagem ou algum rolamento estava fora de escala. A exceção a Ferrari 330 P4 1967, cuja composição (ou melhor, decomposição)

Isso é muito engraçado, é como se tivéssemos ficado

transmitia uma incrível sensação de realismo. “Na

íntimos”, conta o fotógrafo.

primeira vez que exibi essas fotos, a maioria das pessoas

Em 2018, para celebrar os dez anos de um de seus

acreditava que as imagens haviam sido registradas por

motores de maior sucesso, a Audi contratou Oefner para

uma câmera com um obturador absurdamente veloz.

“explodir” e “desintegrar” um lindo R8 V10, as elegantes

Mas a realidade é que o meu trabalho é exatamente o

linhas da frente do veículo, que aparecem intactas na

oposto disso. Cada imagem demorou meses para ser

foto, contrastam com os incontáveis componentes

produzida. São, possivelmente, as mais lentas imagens

que aparecem caoticamente voando após a “explosão”

em alta velocidade de todos os tempos”, ri o fotógrafo.

engendrada pelo fotógrafo suíço.

Anos depois, em 2016-2017, Oefner lançou a série

Como bem definiu Maximilian Büsser, fundador

“Desintegrating 2”, que levou sua proposta a um outro

e

patamar, bem mais aperfeiçoado e acurado. Não por

comercialmente Fabian Oefner, as obras do fotógrafo

acaso, nessa segunda leva os “modelos” que “posaram”

são exemplos perfeitos de que a engenharia e a

para as fotos eram carros de verdade. Fazem parte dessa

mecânica

série as imagens o Maserati 250F 1957 e o Lamborghini

bonitas. “Enxergar esses carrões superesportivos assim

Miura SV 1972, que tem uma história interessante.

fragmentados é algo que altera a nossa percepção das

“Este foi o primeiro automóvel de verdade com o qual

coisas. Isso é pura arte”, finaliza o fundador e curador da

trabalhamos nessas séries. Um amigo meu conhecia

galeria, com sede em Geneva, na Suíça.

curador

da

M.A.D.

podem

gerar

Gallery,

imagens

que

poderosamente

um colecionador que estava prestes a restaurar seu Miura, e ele me ofereceu o carro para que eu pudesse fotografar cada uma das peças que seriam retiradas daquela relíquia. Foi complicado trabalhar fora do meu estúdio, em uma garagem na cidadezinha de Sant’Agata Bolognese, ao lado dos mecânicos desmontando o carro, em pleno verão italiano. No total, foram 1.500 fotos diferentes para compor a imagem final. Mas valeu. Ao final desse processo todo, eu havia descoberto todos os segredos daquele carro. Cada vez que vejo um modelo semelhante, eu olho para ele penso: ‘Te conheço, hein?’.

Para saber mais acesse:

49

representa


Mercedes-Benz 300SL de 1955

50


51


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— Viagem no tempo em cenário espetacular — Mille Miglia, entre os anos de 1927 e 1957, era conhecida como “a corrida mais bonita do mundo”. Renasceu como encontro de fãs de modelos vintage TEXTO KIKE MARTINS DA COSTA

Na Itália, existe um ditado segundo o qual é gasolina,

Limitada a modelos de produção em série, sem

e não sangue, o que circula pelas veias dos moradores

modificações, a primeira edição, em 1927, reuniu 77 duplas

de Brescia, cidade na região da Lombardia e um dos

– todos italianos. O vencedor foi Giuseppe Morandi, com

pioneiros polos industriais do país. A paixão dos

um OM (Officina Mechaniche, uma das fábricas sediadas

brescianos por veículos a motor: autos, motos e aviões,

em Brescia), que percorreu o circuito em 21 horas e 5

data do final do século XIX, quando alguns fabricantes

minutos, com velocidade média de 78 km/h.

começaram a se estabelecer na região. E, em 1921, foi

Em seguida, a Alfa Romeo passou a dominar a

lá, no circuito de Montichiari, a primeira edição do

competição vencendo 10 das 11 edições realizadas de

Gran Premio d’Italia, que no ano seguinte, 1922, foi

1928 até 1938, sendo superada somente pela Mercedes-

transferido para Monza, nos arredores de Milão.

Benz, em 1931. Porém, grave acidente ocorrido na

Sem o GP, dois brescianos ilustres – os jovens condes

12ª edição, em 1938, na qual faleceram 10 pessoas

Aymo Maggi e Franco Mazzotti – decidiram organizar

(sendo sete crianças) fez o governo italiano proibir a

outra prova, igualmente grandiosa, mas não restrita

competição, que não foi realizada em 1939.

a um autódromo. Nascia assim a Mille Miglia, que

Os dirigentes brescianos não desistiram e a 13ª edição

consistia em longo circuito de estrada, em forma de

da Mille Miglia, realizada em 1940, foi disputada em um

oito, que começava em Brescia, ia até Roma e retornava,

circuito menor ligando as cidades de Brescia-Cremona-

totalizando algo em torno de 1.600 quilômetros, ou

Mantova, com 167 km de extensão. Para completar as

1.000 milhas – daí o nome.

mil milhas teve nove voltas.

54


foto Bugatti


foto Rémi Dargegen

Esta edição marcou a estreia de um novo fabricante: a

de alta competitividade e muito charme percorrendo

Auto Avio Costruzione, de um certo Enzo Ferrari. Na

algumas das paisagens mais belas do planeta, foi

ocasião, devido ao acordo de rescisão de seu contrato

também uma das mais letais: de 1927 a 1957, causou a

com a Alfa Romeo, ele ainda não podia utilizar o próprio

morte de 56 pessoas: pilotos, mecânicos e espectadores.

nome. Mesmo assim, os dois primeiros protótipos

E uma nova tragédia ocorreu em 1957, na localidade de

construídos nas oficinas da Scuderia Ferrari, em

Guidizzolo, resultando em 11 mortes – incluindo o piloto

Modena, logo se destacaram. Lideraram as primeiras

espanhol, Alfonso de Portago e seu acompanhante, o

voltas, mas abandonarem por problemas mecânicos,

jornalista americano Ed Nelson, além de cinco crianças

deixando a vitória para a BMW.

que acompanhavam a corrida na beira da pista. Foi o fim

De 1941 a 1946, a corrida foi suspensa devido a Segunda

da histórica competição.

Guerra Mundial. Em 1947 retornou na sua configuração

Em 1977, o Automóvel Clube de Brescia resolveu

original. A Mille Miglia, mesmo envolta em uma aura

ressuscitar a prova, mas em outro formato. Foi 56


— Agora em sua nova configuração, a Mille Miglia reuniu 430 carros antigos em seu percurso por estradas entre Brescia e Roma —

assim que a Mille Miglia “renasceu” como corrida de regularidade (semelhante a um rallye) reservada a veículos produzidos de 1927 a 1957, mas somente de modelos dos quais algum exemplar foi inscrito em uma das 24 edições da competição original. A rota (Brescia–Roma-Brescia) é semelhante ao percurso das décadas de 1920 a 50, mantendo largada e chegada na Viale Venezia, em Brescia. Dividida em quatro etapas, passa por cidades como Milão, Ferrara,

1

Ravenna, Roma, Siena, Bolonha e Parma. Além disso, tem uma série de eventos paralelos, como desfiles de

1. Belas paisagens fazem parte do roteiro

moda, festas, missas e jantares. 57


58


59


A edição de 2019, realizada entre 15 e 18 de maio, reuniu 430 carros, incluindo 44 modelos Alfa Romeo, 35 Jaguar, 33 Fiat, 29 Mercedes-Benz, 29 Lancia e também modelos da BMW, Ferrari, Aston Martin, Porsche, Triumph e Maserati. A dupla formada pelo médico Giovanni Moceri e o jornalista Daniele Bonetti foi a vencedora, a bordo de um Alfa Romeo 6C, de 1928. Na Coppa Delle Dame, categoria reservada às mulheres, Silvia Marini e Francesca Ruggeri venceram com um Aston Martin 1937. E, entre os pilotos profissionais, Romain Dumas foi o vencedor, com um Porsche 550A Spyder 1957. A Mille Miglia já se consolidou novamente como evento importante para os fãs de automobilismo e aqueles que sabem apreciar a beleza das incríveis máquinas construídas no século passado. Mais do que uma simples corrida, é uma exaltação ao estilo de vida dinâmico e sofisticado, que mistura criatividade, tecnologia e design. Sempre destacando essas palavras de ordem, o Automóvel CIube de Brescia promove todos os anos a lendária e histórica prova, que durante décadas foi considerada a “corrida mais bonita do planeta”. Nenhuma outra competição percorre paisagens tão arrebatadoras como as encontradas entre Brescia e Roma. E não estamos falando apenas de natureza, mas também de bucólicos povoados medievais, de obras arquitetônicas, de maravilhas artísticas e de outras belezas que só podem ser encontradas na Itália.

— A edição 2019 da Mille Miglia reuniu modelos das marcas: Alfa Romeo, Mercedes, Maserati, Porsche,Ferrari, Jaguar, Aston Martin, BMW e outras... — 1 1. Um dos primeiros modelos construídos por Ferrari participou da atual competição

60


61

foto RĂŠmi Dargegen


foto RĂŠmi Dargegen

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63

foto RĂŠmi Dargegen


Um dos momentos mais especiais é o desfile de carros

E Milão, a capital financeira e industrial da Itália,

pela Via Veneto, um dos endereços mais badalados de

também desempenhou um papel importante nesse

Roma. A plateia, formada por “diesel freaks”, aficionados,

evento. Promove uma experiência imersiva no futuro das

colecionadores e turistas do mundo todo, vai à loucura

soluções alternativas para a questão da mobilidade, não

com essa viagem ao passado proporcionada pela visão

apenas exibindo protótipos, mas também permitindo

de automóveis antigos que misturam charme, glamour

que as pessoas façam test drives nos veículos elétricos.

e esportividade.

Por fim, se você não tiver a oportunidade de passar

Coordenada por profissionais jovens e cheios de

por Brescia ou Milão na primavera do ano que vem

energia, a empresa está se expandindo rapidamente e

(a próxima edição da Mille Miglia está programada

se transformando em uma marca global. Em 2018, por

para os dias 13, 14, 15 e 16 de maio de 2020), não se

exemplo, o grupo promoveu em Washington, Carmel e

desespere: dá para ter uma boa amostra do espírito

Monterey, nos Estados Unidos, ações organizadas em

da prova visitando o Museu Mille Miglia, instalado

parceria com a HVA (Historic Vehicles Association of

no monastério beneditino de Sant’Eufemia della

America) para divulgar a corrida italiana e disseminar

Fonte, edificado há dez séculos, no ano de 1008, nos

internacionalmente a paixão pelos carros antigos.

arredores de Brescia.

Os eventos, na realidade, serviram também para

O acervo da instituição reúne documentos, fotos

reforçar a identidade contemporânea da Mille Miglia,

e objetos relativos às 24 edições, além de vários

que funde modernidade com tradição. A ideia é que a

modelos da época de marcas, como: Ferrari, Bugatti,

marca funcione como embaixadora dos produtos Made

Alfa Romeo, Lancia e Fiat. A entrada custa 8 euros. Ao

in Italy, com essa mistura única de rica herança cultural,

percorrer a estradinha que leva até o museu, o visitante

engenharia de ponta e apurado senso estético.

poderá sentir-se numa das 24 edições da Mille Miglia,

A propósito desse mix de tradição e modernidade, a

passando por vinhedos, colinas verdejantes, campos

Mille Miglia faz questão de deixar claro que não vive

de trigo e vilarejos que remetem à Itália do início do

apenas de olho no passado, no retrovisor. Recentemente,

século passado. Buon viaggio!

nos dias 27, 28 e 29 de setembro, promoveu a primeira edição da Mille Miglia Green, a primeira corrida de endurance (resistência) especialmente concebida para carros elétricos e híbridos. O evento nasce para ser uma

— Em setembro, Brescia sediou a 1000 Miglia Green, só para carros híbridos e elétricos —

vitrine da inovação e do compromisso das empresas italianas dos setores energético e automotivo com a sustentabilidade. Como não poderia deixar de ser, em se tratando de uma marca que cultua tanto os aspectos históricos da indústria automotiva, participaram do evento não só modelos atuais, mas também os carros vintage e protótipos produzidos anteriormente ao ano de 1990. No centro desse projeto, fica Brescia, o polo industrial que nos últimos anos vem vivenciando uma bemsucedida transição para a era das máquinas movidas a energia renovável e das cidades inteligentes. Paralelamente à corrida, a série de conferências Green

1

Talk reuniu representantes de universidades, centros de pesquisa, fabricantes de veículos e empresas de

1. Um admirado Bugatti 35, modelo do qual diversos exemplares participaram das primeiras edições na década de 1930

energia para discutir o futuro da mobilidade. 64


foto Bugatti

Para saber mais acesse:

65





— Meu querido diário de motocicleta — Harleys cromadas, couro e caras de mau: uma ode aos motociclistas não precisa de mais nada TEXTO LUCAS BERTI FOTOS BILL PHELPS




Quando o jornalista Jerry Langton lançou The Hard Way Out (2017), em parceria com o autor-vítima Dave Atwell, quis passar uma mensagem sem ruídos. Ou pelo menos com a menor quantidade de ruídos possível, já que falar de moto e velocidade — mesmo através de um brilhante e estanque ensaio fotográfico — necessariamente transporta a imaginação para uma estrada barulhenta e libertinosa. O livro cheio de detalhes conta a história caótica pela qual passou Dave, um ex-motoqueiro do famigerado, folclórico e temível Hell’s Angels. Na obra, desenha com bastante sabor como foi viver como um motoqueiro destemperado, mas, principalmente, relata seu divórcio traumático com o grupo. Sair, muitas vezes, significa criar uma dívida eterna, só paga com a própria vida. Ironicamente, o baderneiro aposentado precisou se aproximar de quem uma vez já esteve na lista de antigos algozes: um jornalista, para fazer o livro, e das autoridades, quando resolveu delatar outros motoqueiros. De fato, Atwell, que hoje vive em fuga, entendeu que seu passaporte de clandestinidade jamais caducaria. Para seu azar e para sorte de quem é apaixonado por esse universo, essa característica intransigente, de fugir do envelhecimento e resistir ao tempo, é realmente uma regra. Bom, melhor deixar para lá a ideia de explicar tudo isso sem ruídos. Em linhas gerais, o tal livro quis mostrar como é complicado pertencer aos bandos motociclistas. Apesar de verdadeiro, reforça um certo estereótipo. Por outro lado, apesar de estereotipado, é verdadeiro. O problema é que essa contradição tem um quê de delírio que, ame ou odeie, é bastante fascinante. E a natureza selvagem que surge desse mundo delirante, específico, transgressor, também captou o fotógrafo Bill Phelps. O que não é muito difícil de perceber. Jaquetas pretas de couro, caras despreocupadas de mau, o jeans clássico e os desarmoniosos fios ao vento. Não há outra categoria em que o clichê se faça tão necessário. Os inventivos que deem licença, mas nada como alimentar esse imaginário literário, quase poético, de um piloto de moto com cara de… piloto de moto.

— A natureza selvagem que surge desse mundo delirante também captou Bill Phelps —






Nada é mais autoexplicativo do que isso. Um movimento de desobedientes marginais que respeita hierarquias, regras e modelos. Descrentes e desacreditados que, por devoção, marcam a pele com um mesmo símbolo e o veneram. Salvo-condutos sem destino que estão presos a si mesmos, como conta Dave Atwell. Mas sempre autênticos, apesar do padrão. Angels talvez partilhe desse sentimento. Ou, quem sabe, sentiu um calafrio de curiosidade antes de escolher seus cliques, como a inquietude que jogou o jornalista Hunter Thompson de cabeça dentro do destemido grupo. Thompson, artista como Phelps, precisou literalmente viver a nobre arte de serpentear extensas rodovias e causar espanto generalizado a cidadãos comuns. Não resistiu ao ronco do motor, nem à incerteza acoplada aos motores sincopados, muito menos à tentação de transmitir tudo isso ao público. E você? Gostaria de experimentar, por um só dia, a sensação de uma vida sem pedágios? Do alto do brasão de uma Harley-Davidson, com a imponência cromada em aço, fogo e o que mais vier por impulso, é difícil não se encantar. Congelar isso tudo em um retrato, dando textura ao instante, deixa um gostinho silencioso de porvir que instiga a imaginação — que completa o que olhos enxergam com roncos, derrapagens, garrafas quebradas e um Born To Be Wild no último volume. Há algo que todos esses personagens têm em comum: o tempo. Elemento que precisou de algumas décadas para popularizar o imaginário das motos na contracultura. O mesmo que em 2019 matou Peter Fonda, que eternizou essa estética motociclística sem fronteiras em Easy Rider (1969). Tempo esse que, depois de todo esse tempo, nos remete a esse mundaréu infinito, nos põe na garupa e nos convida a desbravar tudo isso em só seis recortes.

— E você? Gostaria de experimentar, por um só dia, a sensação de uma vida sem pedágios? —




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— A saga do Porsche 917 — Há 50 anos, a Porsche lançou o modelo que iria dominar as competições de esporteprotótipo POR ROBERTO MARKS



Uma celebração merecida. A Porsche comemora, em 2019, 50 anos do lançamento do 917, o emblemático modelo de competição que se destacou como um dos mais bem-sucedidos e admirados nas pistas de corrida. Em exposição especial no Museu Porsche, em Stuttgart, 14 exemplares contaram a trajetória de sucesso, incluindo a primeira unidade construída. Protagonista nas competições de carros esporte desde o começo da década de 1950, a fabricante teve de se contentar durante muito tempo com posições secundárias nas provas de longa duração, como a 24 Horas de Le Mans. Costumava vencer em sua classe, mas não conseguia na classificação geral por enfrentar protótipos como Ferrari e Ford, com motores maiores e mais potentes. Isso se devia à prudência de Ferry Porsche. Para ele, o automobilismo tinha o propósito de desenvolver os modelos de produção. Enquanto Enzo Ferrari fabricava os esportivos com objetivo básico de financiar sua equipe de competições, o alemão via nas corridas apenas um “laboratório” para aperfeiçoar componentes e aprimorar o desempenho dinâmico dos seus carros de produção. O cenário começou a mudar em meados da década de 1960, quando o sucesso do 911 consolidou a marca como maior fabricante de automóveis esporte. Ao mesmo tempo, a nova geração da família liderada por Ferdinand Alexander “Butzi” Porsche, primogênito de Ferry, e Ferdinand Piëch, primogênito de Louise Porsche — irmã de Ferry — sonhava aumentar o protagonismo nas pistas. Para isso, precisaram convencer a empresa familiar a

Novo regulamento elaborado pela FIA para as compe-

investir em projetos específicos. Primeiro foi o 904 Car-

tições de “esporte-protótipos” entrou em vigor em 1968

rera GTS, de 1963. Do belo grã-turismo, de acabamento

e estimulou uma cartada decisiva. Os protótipos deve-

espartano típico de competição, foram fabricados 110

riam ter motor de até 3.000 cm³, enquanto os da cate-

exemplares para atender exigências da FIA — Federa-

goria esporte, até 5.000 cm³ e produção mínima de 25

ção Internacional do Automóvel —, que previa o mínimo

carros. Procurava, assim, atender de maneira equânime

de 100 unidades para homologação na categoria GT.

os principais concorrentes: Ferrari, Ford e Porsche.

Com motor boxer de quatro cilindros, do 356 Carrera,

Os alemães apostaram no desenvolvimento do protó-

montado entre eixos, o 904 foi muito bem-sucedido e,

tipo com motor boxer de oito cilindros “flat” e 3 litros,

inclusive, venceu a Targa Florio de 1964. Isso animou

chassi tubular de alumínio e carroceria de plástico re-

a empresa a investir em protótipos. Daí nasceram os

forçado com fibra de vidro. Denominado 908, era um

906, 907 e 910, que se caracterizavam pela aerodinâ-

modelo leve e ágil. Seus engenheiros logo constataram

mica, mas ainda limitados pelo motor de seis cilindros.

que a diferença de potência em relação aos motores de

Mesmo assim, obtiveram bons resultados e algumas vi-

5 litros poderia até ser compensada em pistas sinuosas,

tórias, chegando a disputar o título mundial de constru-

porém, em circuitos de longas retas, como o de Le Mans,

tores com a Ferrari, em 1967.

seria muito difícil. 84


— Na exposição do Museu Porsche, 14 exemplares do vitorioso modelo contaram a trajetória de sucesso, inclusive a primeira unidade construída —

1 Para saber mais acesse:

1. O frontal agressivo do 917 caracterizava os protótipos da Porsche

85


A decisão da Ferrari de construir um modelo com motor V-12 de 5 litros confirmava a tese. Assim, de maneira arrojada, a Porsche também decidiu produzir seu carro para a categoria esporte. Como já havia gasto muito dinheiro no projeto do 908, foi obrigada a usar a imaginação para desenvolver o 917. Para aumentar a cilindrada, foi adotada uma engenhosa solução unindo dois motores boxer de seis cilindros do 911. Para reduzir custos, além do chassi, foram aproveitados pistões, bielas e camisas de cilindro do motor do 908. Por isso, as primeiras unidades do doze-cilindros tinham apenas 4,5 litros e potência de 560 cv. Para construir as 25 unidades, a fábrica precisava de 15 milhões de marcos, quantia elevada na época. Segundo consta, só foi possível com apoio da VW, que adiantou o valor. Uma curiosidade: o dinheiro curto levou a diretoria a convidar qualquer funcionário que manuseasse ao menos uma chave de fenda para acabar de montar as 25 unidades em tempo da inspeção da FIA. A primeira participação do 917 na 24 Horas de Le Mans, em 1969, não foi bem-sucedida. Apesar de nos treinos superar por sete segundos o recorde da pista e ter liderado boa parte da mais famosa prova de longa duração, problemas mecânicos forçaram o abandono. Mesmo assim a Porsche quase venceu com o 908, ultrapassado por um Ford GT 40 a 100 m da bandeirada. Apesar da decepção naquela corrida, a marca alemã se impôs no campeonato e conquistou seu primeiro título mundial. Com a cilindrada aumentada para 5 litros e potência acima dos 600 cv, o 917 passou a dominar o Mundial de Esporte-Protótipos. Em 1970, finalmente,

— Para construir as 25 unidades, a Porsche precisou de 15 milhões de Deutsh-Marks, que, segundo conta, foram adiantados pela VW —

veio a primeira vitória na classificação geral de Le Mans e de modo avassalador: no pódio, dois 917 e um 908.

1 2

3

1. As primeiras 25 unidades no pátio da Porsche 2 e 3. A versão aerodinâmica “long-tail” chegou a alcançar velocidade de 400 km/h em Le Mans

86


87


reta de Les Hunaudières (ainda sem as chicanas) e na

— A façanha da Porsche foi documentada no filme Le Mans, estrelado por Steve McQueen —

qual a versão “cauda longa” do 917 chegou a alcançar os

1

O carro vencedor era pilotado por Hans Herrmann e Richard Attwood. Esta façanha foi documentada no filme Le Mans, estrelado por Steve McQueen. Nas cenas iniciais havia tomadas verídicas, quando os bólidos “rasgavam” a longa

400 km/h, fenomenal na época. Porsche voltou a se impor em Le Mans no ano seguinte,

1 e 2. Em 2013 os engenheiros da Porsche desenvolveram um estudo de reinterpretação do 917, mas que ficou na maquete que também foi exposta

mas seu domínio foi tamanho que, no fim de 1971, a FIA baniu os carros esporte do campeonato.

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— Bentley, 100 anos de agonia e glória — “Construir um carro rápido, um bom carro, o melhor de sua classe” foi o objetivo de Walter Owen Bentley ao desenvolver seu primeiro modelo há exatamente 100 anos POR ROBERTO MARKS



— A Bentley obeteve cinco vitórias nas oito primeiras edições da 24 Horas de Le Mans, sendo quatro seguidas: 1927, 28, 29 e 30 —

“Os caminhões mais velozes do mundo.” Assim, de maneira jocosa, o ítalo-francês Ettore Bugatti se referia aos automóveis construídos por seu adversário nas pistas na década de 1920, o inglês W.O. Bentley. Era também espécie de reconhecimento à resistência dos modelos da marca inglesa, a primeira a se impor de maneira incontestável na 24 Horas de Le Mans, a dura prova de longa duração. Nas oito primeiras edições, a Bentley obteve cinco vitórias, sendo quatro consecutivas: 1927, 28, 29 e 30. Na época, o circuito de La Sarthe tinha algo em torno

1

de 17 quilômetros (atualmente são 13,6 km) e ainda não era totalmente pavimentado. Por isso, resistência

1. Para comemorar o centenário da marca foi feita uma série especial do atual Bentley Continental com número que evoca a saga da marca em Le Mans

e confiabilidade eram fatores muito mais importantes do que a velocidade pura. Mesmo assim, na última vitória, em 1930, a média de velocidade foi de 122 km/h e a distância total percorrida pelo Bentley vencedor com motor de 6,5 litros, pilotado pela dupla Barnato/ Kidston, foi de 2.930 quilômetros em 24 horas. Um feito excepcional naquele tempo. Walter Owen Bentley, que preferia ser chamado apenas de W.O., foi o engenheiro e empreendedor que fundou a empresa homônima com objetivo de “construir um carro rápido, um bom carro, o melhor da sua classe”. O primeiro modelo foi fabricado há exatamente um século, em 1919, numa garagem improvisada. Na instalação alugada, os irmãos Bentley iniciaram atividades, em 1912, na distribuição e atendimento técnico, para a Inglaterra, dos modelos da marca francesa DFP — Doriot, Flandrin & Parant. Com um deles, W.O. também começou a participar de competições e teve a ideia de fabricar pistões em alumínio para melhorar o desempenho. Foi um dos primeiros engenheiros a perceber as vantagens desse material mais leve e eficiente. Alumínio era considerado pouco resistente para suportar as elevadas temperaturas do motor. Depois de diversas experiências, Bentley desenvolveu uma liga especial para a fundição das peças estabelecendo a fórmula de 88% de alumínio e 12% de cobre. Sua tentativa foi recompensada. Com os novos pistões no seu DFP, ele estabeleceu o recorde de 144 km/h no circuito de Brooklands. A descoberta foi vital para seu sucesso futuro.

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Condecoração

Pelos serviços prestados, W.O. Bentley foi condecorado

A Primeira Grande Guerra, em 1914, praticamente

pelo rei Jorge V como Cavaleiro da Ordem do Império

cessou as atividades da empresa e W.O. decidiu então

Britânico , em 1919. Também ganhou um prêmio

se apresentar ao governo britânico para oferecer seus

no valor de 8 mil libras esterlinas do escritório

serviços como engenheiro. Trabalhando para ao serviço

governamental para inventores do Reino Unido, o que

aéreo da Marinha, desenvolveu seu primeiro motor

lhe proporcionou o capital necessário para fundar sua

— um rotativo equipado com pistões de alumínio. O

própria fábrica de automóveis. Assim, em 1919, era

Bentley BR.1 foi montado no mais bem-sucedido caça

criada a Bentley Motors.

britânico da guerra, na época.

O protótipo só ficou pronto em novembro daquele ano.

98


— O atual Bentley Continental ao lado do modelo que se destacou em Le Mans —

No projeto do motor, W.O. foi influenciado por dois carros pré-guerra. O 4 cilindros em linha, com 3 litros, já tinha quatro válvulas por cilindro, como no MercedesBenz Grande Prêmio de 1914 e no Peugeot de 1913, além de duas velas de ignição por cilindro e magnetos duplos. A potência era de 65 cv. O projeto também fazia uso extensivo de alumínio e magnésio, outra proposta

1

avançada na época. Uma das características dos motores era o elevado

O atual Bentley Continental ao lado do modelo vencedor Le Mans

99


torque em baixas rotações, o que facilitava aceleração

o total de 1.622 unidades produzidas de 1921 a 1929.

e retomada de velocidade e, além de boa dirigibilidade,

Venceu várias corridas, incluindo Le Mans de 1924

também refletia em maior durabilidade. Mas ele não

e 1927. Por sinal, foram as vitórias na pista francesa

ficou satisfeito com o projeto inicial e passou todo

que transformaram a Bentley em marca de prestígio.

o ano de 1920 testando e aprimorando a mecânica,

Inicialmente, W.O. foi contra a participação na prova,

principalmente quanto ao funcionamento do motor.

achando uma loucura e que os automóveis não eram

Preferiu optar por um mais silencioso, mesmo que

projetados para suportar aquelas condições por 24

diminuísse o desempenho.

horas seguidas.

Em teste da revista especializada inglesa Autocar, a

Mas o aventureiro John Duff, um dos primeiros

mais antiga do mundo e ainda em circulação até hoje,

clientes de Bentley, decidiu inscrever seu carro na

o Bentley 3-Litre foi definido como verdadeiro modelo

primeira edição da competição, em 1923. Ele persuadiu

esportivo para enfrentar confortavelmente longos

W.O. a viajar até La Sarthe para assistir à corrida que

trechos na estrada, em velocidades elevadas.

achava “maluca”.

Porém, somente em setembro de 1921 o primeiro

Pilotado pela dupla Duff/Clement, o carro fez a volta

carro foi entregue, com o preço do chassi rolante de

mais rápida e terminou em quarto lugar porque perdeu

1.100 libras. Bentley, assim como outros fabricantes

tempo para consertar um furo no tanque de gasolina.

de carros de prestígio, fornecia apenas o chassi e a

No ano seguinte, 1924, a mesma dupla retornava, já com

mecânica (motor, transmissão e suspensão). A escolha

total apoio da fábrica, para vencer o desafio de Le Mans.

do fornecedor da carroceria era do cliente.

A vitória teve grande repercussão na Inglaterra, pois

Esse foi o modelo que ficou mais tempo em linha, com

até então as marcas do país não tinham obtido sucesso

100


nas pistas. Jovens aristocratas, incluindo o príncipe de Gales, Edward VIII e o duque de York, mais tarde coroado rei George VI, tornaram-se clientes fiéis da Bentley. Isso influenciou uma geração de rapazes e moças que acabaram sendo apelidados de Bentley Boys e Bentley Girls, jovens de famílias ricas, bon-vivants. Alguns se dedicaram às corridas e ajudaram a promover a companhia inglesa. A vitória de 1924, além de alavancar a reputação, também ajudou a salvar a firma de um fim prematuro. Isso porque o multimilionário Woolf Barnato, herdeiro da fortuna de diamantes das minas Kimberley, ficou impressionado com o resultado em Le Mans e decidiu investir na empresa, que enfrentava sérias dificuldades financeiras. Assim, Barnato tornou-se dono da Bentley, enquanto W.O. ficou com a direção executiva. Dessa forma, o projeto de Le Mans ganhou novo alento.

— Uma das características dos motores projetados por Bentley era o elevado torque em baixas rotações e a retomada de velocidade — 1

2 3

1. O milionário Woolf Barnato (à direita) foi quem assumiu o controle da Bentley e também venceu em Le Mans 2 e 3. Ilustrações da época em que os modelos da Bentley se destacavam nas competições como Le Mans (alto) e no anel de velocidade de Brooklands

101


Humilhação

de Paris, alcançou média de 191 km/h em cinco voltas.

Apesar do sucesso nas pistas, a crise econômica

Apesar de alguns membros do conselho administrativo

mundial de 1929 não poupou a Bentley. Cansado de

da Rolls-Royce contestarem, achando que era um modelo

investir na marca, Barnato vendeu o controle, em

“muito esportivo” para uma empresa que fabricava

novembro de 1931, para um fundo de investimentos

limusines, Evernden persuadiu a diretoria de que existia

que, posteriormente, a repassou para a Rolls-Royce.

um mercado para um modelo grã turismo (GT).

W.O. continuou, mas foi constrangido a abrir mão até de

Embora apenas 208 unidades do R Type tenham sido

seu automóvel de uso pessoal e, suprema humilhação, o

produzidas, estimulou o desenvolvimento de uma

alocaram no departamento de vendas.

família de modelos. A linha Continental ficou em

Longe das pranchetas e do chão de fábrica, ele também

produção até 1966, com diversas configurações, e até

teve o dissabor de ver sua marca se tornar uma espécie

com versão de quatro portas. Porém, as dificuldades

de segunda linha no grupo Rolls-Royce. Por isso, em

financeiras do grupo Rolls-Royce, nas últimas décadas

1935, demitiu-se e voltou a trabalhar como engenheiro,

do século passado, fizeram a marca Bentley cair

na Lagonda. Coincidentemente, um modelo dessa

novamente no ostracismo, apesar de compartilhar

marca venceu a edição da 24 Horas de Le Mans

modelos com a marca principal.

daquele ano, mas não existe registro preciso se W.O. teve participação direta no sucesso. Posteriormente,

Nova vida

ele também trabalhou na fábrica de autos e aviões

A sorte da Bentley, depois de décadas na sombra e

Armstrong Siddeley, até se aposentar.

atribulada luta pela sobrevivência, viria mudar em

A Bentley só voltou a brilhar novamente no começo

1998. Após um feroz leilão com a BMW, a Volkswagen

da década de 1950, quando o engenheiro-chefe, Ivan

assumiu o controle do grupo inglês. Porém, como a

Evernden, apesar de ser funcionário da Rolls-Royce

BMW havia firmado anteriormente um acordo pelo

ao longo da vida, decidiu resgatar a tradição esportiva

qual se tornou proprietária, de fato, da marca Rolls-

da marca. Auxiliado por John Blatchley, chefe do

Royce, houve um acordo para devolver a produção dos

departamento

modelos desta marca para sua concorrente germânica,

de

estilo,

desenharam

o

Bentley

Continental R-Type, um elegante cupê fastback

no começo de 2003.

aerodinâmico, que podia superar os 200 km/h, algo de

A VW investiu cerca de 582 milhões de euros na

destaque naquela década.

modernização da fábrica e no desenvolvimento de

Em setembro de 1951, na pista de Montlhèry, próximo

uma completa gama de modelos. Isso resgatou o esplendor da Bentley, a começar pelo atual “carrochefe”, o Continental GT, que tem estilo assinado pelo designer brasileiro Raul Pires e inspirado nas linhas do R Type Continental da década de 1950. Equipado com o revolucionário motor W-12, leva apenas 3,7 s para atingir 100 km/h e velocidade máxima de 333 km/h.

1

2

1.e 2. Assim como os Bentley Boys, as Bentley Girls eram jovens de famílias ricas que ajudaram promover a marca. Uma das mais destacadas foi Mary Petre, primeira mulher a ser multada por excesso de velocidade no Reino Unido e também a pioneira a circunavegar a Terra em voo solo

102


Outro modelo exclusivo e de sucesso da Bentley é o Bentayga Speed. Considerado o SUV em produção mais rápido do mundo, causou polêmicas desde que foi anunciado até chegar ao mercado. Utiliza o mesmo motor W-12 de 6 litros, mas com potência aumentada para 635 cv e um torque brutal de nada menos que 92 kgfm. Assim é capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em apenas 3,9 s e alcançar a máxima de 306 km/h. Por suas dimensões, potência e desempenho, ele muito bem pode relembrar a definição de Ettore Bugatti. Se não chega a ser um “caminhão”, no sentido figurado não está tão distante assim, e surpreendeu pela brutalidade da proposta. Essa nem W.O. esperaria, se vivo fosse.

— A sorte da Bentley mudou em 1998, quando, após uma disputa com a BMW, a Volkswagen assumiu o controle da marca —

103




Mesclando sustentabilidade, tecnologia e entretenimento, Fórmula E quer consolidar seu espaço no automobilismo

foto Getty Images

— Fórmula E —



foto Getty Images

Em setembro de 2014, uma corrida reuniu pilotos de

câmeras captando imagens em 360 graus que oferecem

sobrenomes como Senna, Prost e Piquet e deu início a

uma experiência imersiva e emocionante para os

uma nova vertente do automobilismo mundial. Fãs no

espectadores.

mundo todo acompanharam pela TV e pela web, direto

Tudo isso sem falar do envolvimento de celebridades

de Pequim, a primeira prova de Fórmula E (F-e) —

como Leonardo DiCaprio, Elon Musk, Michael Andretti

uma categoria com monopostos elétricos disputando

e Richard Branson que possuem participações em

provas de rua.

equipes como a Venturi, a BMW i Andretti Motorsport e

A nova categoria surgiu apoiada no buzz das redes

a Envision Virgin Racing. Um “ePrix” de Fórmula E não

sociais, com filhos de grandes campeões de um

é “apenas” uma corrida. É uma verdadeira festa, com

passado recente (como Nicolas Prost, Bruno Senna

DJs de música eletrônica animando o clima na eVillage,

e Nelson Piquet Jr.) e uma transmissão ousada, com

e na área dos paddock os fâs podem confraternizar sem

108


— As provas da Fórmula E misturam esporte, velocidade, entretenimento, tecnologia, inovação e sustentabilidade —

barreiras com os pilotos, pelo menos enquanto estes não são famosos... “Não cogito de trocar a posição que tenho hoje dentro da Audi Sport porque a F-e vem crescendo bastante”, afirma Lucas Di Grassi, que teve uma passagem de fracos resultados pela F-1 nas escuderias Renault e Virgin, entre 2008 e 2010. Na F-e, Di Grassi contabiliza dez vitórias e um título de campeão conquistado na temporada 2016-2017. Assim como ele, alguns outros pilotos da F-1 que tiveram dificuldade na categoria maior migraram para

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foto Getty Images



fotos Getty Images

a F-e. São os casos do suíço Sebastien Buemi (campeão

técnica que mobilizam parte predominante da plateia e

da temporada 2015-2016), do francês Jean-Éric Vergne

vai ao encontro do discurso de governos nacionais.

(campeão das temporadas 2017-2018 e 2018-2019), do

É o caso de, em ordem alfabética, Audi, BMW, Citroën,

belga Stoffel Vandoorne, dos alemães Pascal Wehrlein e

Jaguar, Mahindra, Nissan, Porsche e Renault que

Nick Heidfeld, do japonês Takuma Sato, do italiano Jarno

investem em marketing e buscam boa relação custo-

Trulli e dos brasileiros Felipe Massa, Nelson Piquet Jr.

benefício. A Mercedes-Benz demorou, mas entrará na

(campeão da temporada 2014-2015) e Felipe Nasr.

F-e agora na temporada 2019-2020.

Algumas grandes marcas do setor automobilístico

A categoria foi idealizada para demonstrar o potencial

também estão investindo na F-e. Trata-se de uma

da

categoria barata e traz apelos de inovação e pesquisa

entretenimento, conectividade e tecnologia. Com seus 112

mobilidade

sustentável,

fundindo

esporte,


— Os motores dos carros da Fórmula E têm cerca de 335 cv e atingem a velocidade de 290 km/h —

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foto Getty Images

carros que não emitem poluentes regulados no local, a

os pneus, por exemplo, desenvolvidos pela Michelin, são

F-e quer servir de campo de testes para novas soluções

feitos com material totalmente reciclável.

de transporte nos centros urbanos.

As provas são sempre realizadas em circuitos

Ao longo do campeonato, quer servir também de

temporários em metrópoles, como Paris, Berlim,

inspiração para a adoção de práticas sustentáveis e

Londres, Hong Kong, Santiago e Nova York. Os

de baixo impacto ambiental. Nos ePrix, a emissão de

espectadores são incentivados a usar as redes de

carbono é próxima de zero, desde que a energia elétrica

transporte público para ir aos eventos. Por fim, de

tenha sido gerada de forma renovável, o que não se pode

olho no surgimento das smart cities com tudo cada vez

garantir. Cada país apresenta situações diversas. Mas,

mais conectado e integrado, a categoria também quer

114


contribuir para o desenvolvimento de carros autônomos.

— A Fórmula E quer inspirar mudanças de atitude e a adoção de práticas sustentáveis, de baixo impacto ambiental —

Testes com essas máquinas de competição sem ninguém ao volante já foram feitos nos ePrix de Buenos Aires, Marrakech, Berlim e Nova York. Mais ou menos à semelhança de um autorama gigante ou hipergame. Empresas como a Qualcomm estudam uma tecnologia sem fio de carregamento das baterias. Os carros rodariam sobre uma espécie de tapete implantado no asfalto e o carregamento seria por indução magnética

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como nos telefones celulares, sem a necessidade de pit

dos motores”, avalia Bernie Ecclestone, que durante

stops. Ainda não há ideia dos custos envolvidos.

décadas foi o poderoso chefão da Fórmula 1.

Mas

a

Outros críticos reclamam também que os carros não são

combustíveis de origem fóssil para as impulsionadas por

essa

mudança

das

máquinas

movidas

tão potentes e velozes como os da F-1, o que resultaria

energia elétrica não é algo tão simples quanto usar um

em provas menos emocionantes. “Tenho a impressão

interruptor. A grande maioria dos fãs de automobilismo

de que os motores são fracos e que os carros parecem

não se conforma com a ausência do ronco dos motores.

brinquedos numa pista travada”, opina o finlandês Keke

“Esse silêncio é perturbador, especialmente no boxes.

Rosberg, campeão da F-1 em 1982. A potência, de fato, é

Tira boa parte da graça do espetáculo. Eu acho um tanto

inferior a 300 cv e ainda tem de lidar com alto peso da

bizarra a existência de uma prova de automobilismo em

bateria. Na F-1 a potência chega a alcançar em torno de

que os gritos da torcida são mais altos do que o barulho

1.000 cv nos treinos. 116


— Vários pilotos migraram da F-1 para a Fórmula E, e grandes marcas também fizeram esse movimento, como a Porsche, a Nissan, a Citroën e a Mercedes —

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Com 273 metros de altura, a Cachoeira do Tabuleiro é a maior de Minas Gerais. Não é pouca coisa. Imagine-se no topo de um prédio de 90 andares... TEXTO FECO HAMBURGER EDIÇÃO CLAUDIA BERKHOUT

foto Denis Souza

— Tabuleiro —



foto Feco Hamburger



Gabriel Finelli e Elizabeth Viera de Oliveira, condutores de turismo de esportes verticais, conceberam e executaram com sucesso o projeto Gratidão Tabuleiro. Um minucioso projeto de descenso da cachoeira, incluindo mapeamento e contemplação, tendo em vista estabelecer rotas seguras para a prática do canionismo e fortalecer o turismo na região. Além, é claro, de realizarem um sonho antigo. Com supervisão da liga desportiva do Estado de Minas Gerais, da Federação Paulista de Canionismo e do Centro de Apoio ao Profissional do Rapel, o projeto já realizou duas descidas, a primeira em 2018 e a segunda em 2019. O canionismo, ou canyoning, é uma atividade multidisciplinar: consiste na prática de descida de cursos d’água, sem embarcação, com transposição de obstáculos aquáticos, horizontais ou verticais. Finelli, que também atua como instrutor profissional, nos explica melhor a atividade: “O canionismo envolve técnicas como rapel, mergulho, flutuação, saltos e técnicas de alpinismo, além de ser fundamental ter conhecimento de geologia e primeiros socorros”. Uma espécie de jogo de xadrez antecedeu o descenso da Cachoeira do Tabuleiro, que estava fechada por O Parque Estadual Serra do Intendente, criado em

prevenção de eventuais acidentes. O casal idealizador

2007, possui cerca de 13 mil hectares numa região

providenciou as licenças ambientais e autorizações

reconhecida pela Unesco como Reserva da Biosfera, em

oficiais, buscou apoio na iniciativa privada, e, por fim,

Minas Gerais. Conceição do Mato Dentro, localizada

reuniu um time de especialistas para a realização da

a aproximadamente 200 km de Belo Horizonte, é a

façanha. Depois de anos de esforço, finalmente, a equipe

simpática cidade base para a exploração do parque.

seguiu rumo à Cachoeira do Tabuleiro. A logística foi

A região oferece inúmeras atrações naturais para a

praticamente a mesma nas duas descidas.

prática da caminhada, da escalada, do base-jumping e do canionismo, sempre com a autorização da Secretaria do Meio Ambiente. Zé Cornicha, Rabo de Cavalo, Fumaça e Roncador são algumas das incríveis cachoeiras da Serra do Intendente. A mais conhecida, entretanto, é a Cachoeira

— O canionismo é uma atividade multidisciplinar: utiliza técnicas de rapel, mergulho, flutuação e alpinismo, além de conhecimentos de geologia e primeiros socorros —

do Tabuleiro, a maior de Minas Gerais e terceira mais alta do Brasil. Não é pouca coisa. Com 273 metros de queda d´água, a Cachoeira do Tabuleiro também é chamada de Monumento. É fácil entender o porquê. Espécie de Graal dos esportistas, a descida do Monumento é um desafio técnico e mental. Afinal, não é fácil encarar essa altura pendurado por uma corda, no meio da água. Imagine-se no topo de um prédio de 90 andares...

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fotos Gabriel Finelli


foto Denis Souza



foto Denis Souza



No dia 1, cientes da dificuldade da empreitada, os esportistas caminharam vários quilômetros por trilha levando 1 tonelada de equipamento, 1200 metros de corda e mosquetões sem fim, até atingir o topo da cachoeira. Como o projeto tem por princípio impacto ambiental zero, as cordas fossem fixadas sem uso de pinos ou perfurações artificiais. A execução da complexa ancoragem tomou o dia todo e, ao entardecer, a turma retornou ao acampamento montado na casa de um morador da serra, o seu Chico Niquinho, que foi fundamental para a realização da aventura. Uma noite fria na Serra do Intendente antecedeu o esperado dia 2, o dia da descida. Com a ancoragem pronta, restava descer. Instrutores e praticantes experientes enfrentaram o desafio e conseguiram, com sucesso, atingir o solo depois de percorrer toda a extensão do penhasco. O tempo médio de 35 minutos de descida pode apontar uma falsa impressão de facilidade. A descida é de nível técnico avançado e implica em controle mental considerável. O vento e a água minam a resistência e a hipotermia é sério risco presente. Finelli, com toda a bagagem acumulada, salienta que o projeto tem por objetivo fomentar o turismo e a prática vertical, mesmo entre aqueles não têm preparo para tal desafio. A Cachoeira do Tabuleiro é maravilhosa para a contemplação, e a região oferece inúmeros pontos de prática mais acessíveis. “O grau de dificuldade varia conforme o percurso, mas, obviamente, a atividade deve ser feita sempre com equipe treinada e equipamentos de segurança.” Guardadas as devidas proporções, no ano em que comemoramos os 50 anos da chegada do homem à Lua, podemos celebrar a realização de outro sonho: a descida com segurança da Cachoeira do Tabuleiro.

— Uma tonelada de equipamento, 1.200 metros de corda e mosquetões sem fim foram transportados por trilha até o topo do monumento —

Agradecimentos: Ligarapel.com.br

arcoeflecha.com.br

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fotos Feco Hamburger

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— Citroën: um século de criatividade — A saga do pioneiro que criou uma imagem diferenciada para sua marca, que perdura até hoje TEXTO ROBERTO MARKS



— Apenas 10 anos após a fundação da empresa, Citroën já era o maior fabricante de veículos da França e o segundo da Europa —

Um dos empreendedores mais criativos, dinâmicos e arrojados na história da indústria do automóvel foi o francês André Citroën. Apesar de ter ficado apenas 15 anos no comando da fábrica que leva seu nome, ele conseguiu criar uma imagem diferenciada para a marca que perdura até hoje, cem anos após a fundação da empresa. Engenheiro formado na prestigiosa École Polytechnique, em Paris, com apenas 24 anos já comandava um bem-

1

sucedido empreendimento: a Société des Engrenages Citroën. Ele difundia o sistema de dentes helicoidais em

2

1. O “Traction Avant” popularizou a marca mundialmente 2. O DS19, lançado em 1955, foi revolucionário e reforçou a imagem de criativade da Citroën

engrenagens, solução que colocou em prática após uma viagem à Polônia, onde notou o sistema funcionando em um moinho d’água. Por isso, adotou o logotipo de dois “chevrons” para a empresa e que, posteriormente, transferiu aos seus veículos. Durante a Primeira Guerra Mundial, trabalhou para o Exército francês na produção de granadas e obuses. Após o armistício, tomou a arrojada decisão de fabricar

136


137


138


139


automóveis. Arrojada porque teria de enfrentar duas empresas pioneiras da indústria automobilística — Peugeot e Renault — já consolidadas no mercado. Para o empresário bon-vivant, ao contrário do taciturno Louis Renault e da discreta família Peugeot, o desafio era maneira de viver. Além de frequentar cassinos, gostava de aventuras e desenvolveu um veículo especial com tração traseira por lagartas, com o qual foi pioneiro ao atravessar o deserto do Saara, em 1922. Em viagem aos EUA conheceu métodos de produção em massa. Assim, foi o pioneiro fabricante europeu a adotar esse sistema na linha de montagem dinâmicado seu primeiro modelo: Tipo A. Esse primeiro modelo já vinha equipado com partida elétrica, capota, estepe e outros detalhes. Mesmo assim, a preço competitivo. Para divulgar a marca, também usava de muita imaginação na propaganda, aproveitando toda oportunidade possível, como iluminar a Torre Eiffel com seu nome. Uma ideia brilhante para os anos 1920. Também organizou caravanas pela França e Europa para promover seus modelos. Patrocinou eventos como o “Croisière Noire”, caravana que atravessou a África rodando mais de 20 mil quilômetros, em meados da década de 1920. Posteriormente, o “Croisière Jaune” fez a rota de Marco Polo, com uma equipe partindo de Beirute para Pequim e outra no sentido inverso. A aventura épica levou três anos. Essas façanhas eram muito bem exploradas. Também tinha visão pragmática na distribuição e no atendimento aos clientes. Para isso criou uma rede que chegou a 5 mil pontos em 1925. Foi também o primeiro fabricante europeu a financiar vendas em até 18 meses. Todo esse dinamismo fez com que apenas dez anos após a fundação, a empresa se tornasse o maior fabricante da França e o segundo da Europa, empregando 30 mil trabalhadores e com capacidade de montar até mil unidades/dia. Somente em 1929 foram comercializados mais de 100 mil veículos.

— Para divulgar sua marca, André Citroën aproveitava todas as oportunidades, como iluminar a Torre Eiffel com seu nome —

Existe um falso consenso de que Citroën não era bom gestor financeiro. Como poucos ele sabia ganhar dinheiro, mas porque também não tinha medo de perder. Era um apostador bem-sucedido. O sucesso alcançado, juntamente com o espírito aventureiro típico de jogador, fez com que não desse a devida atenção para a crise financeira mundial de 1929. 140


1 1. Com o resgate da denominação DS, a Citroën investe em uma linha que se destaca por requinte e esportividade 141


Acreditando que as nuvens negras eram passageiras, man-

ça com intuito de se tornar escultor. E foi Bertoni (sem

teve a força de trabalho e investiu no desenvolvimento de

parentesco com o carrozzière italiano Giovanni Bertone)

novos modelos. Apostou no projeto “Traction Avant”, con-

quem “esculpiu” o estilo característico da família “Trac-

ceito avançado e inédito de combinar tração dianteira e

tion Avant”.

estrutura monobloco. Deu origem à família de modelos 7,

Lançada em 1934, essa linha foi muito bem-sucedida e

11 e 15 e popularizou a marca mundialmente.

fabricada até 1957. Entretanto, o executivo audacioso não

A Citroën não foi pioneira em adotar tração dianteira,

pôde testemunhar isso. Diagnosticado com câncer e a em-

mas o produto desenvolvido pelo brilhante engenheiro

presa em situação falimentar, foi destituído do comando

aeronáutico André Lefebvre utilizava soluções da aviação

em 1934 (faleceu em julho de 1935). Pierre Michelin, dono

na época. O conjunto mecânico autoportante fixado na ex-

da produtora de pneus, assumiu por ser então o maior cre-

tremidade dianteira do chassi era inovador: permitiu bai-

dor da companhia. A Peugeot comprou a Citroën em duas

xar o centro de gravidade e aumentar o espaço na cabine.

etapas, 1974 e 1976.

Graças a isso, antecipou tendências que só se popularizari-

Porém, o espírito dinâmico do empreendedor se manteve

am décadas depois. Amante das artes, André Citroën aju-

vivo graças aos projetos de Lefebvre e “esculpidos” por

dou Flaminio Bertoni, jovem italiano que foi para a Fran-

Bertoni, como o popular 2 cv. A ideia original foi do pró-

142


prio fundador, que sonhava democratizar o automóvel, embora só surgisse após sua morte. Apesar de estudos iniciados em meados da década de 1930, o modelo só foi

— Desde 1976 a Citroën faz parte do Grupo PSA, após a Peugeot ter assumido o controle da marca, que era da fábrica de pneus Michelin —

lançado após a Segunda Guerra, em 1948. Permaneceu em linha até 1990, com mais de 5 milhões de unidades fabricadas. A grande obra de Lefebvre e Bertoni, que incorporou o espírito arrojado do fundador, foi o DS 19, de 1955. Se o “Traction Avant” foi inovador, o DS 19 foi revolucionário. Desenho aerodinâmico, suspensão hidropneumática, embreagem automática, direção servoassistida. Também o primeiro automóvel de rua equipado com

1

2

pneus radiais e freio dianteiro a disco. Um automóvel diferenciado que marcou época e reforçou a imagem de criatividade e exclusividade.

1. O Citroën Aircross é o SUV top da marca 2. C4 Cactus, o mais recente lançamento da Citroën

− 143


NOVO RANGE ROVER EVOQUE

JÁ É TRADIÇÃO ESTAR ENTRE OS MAIS DESEJADOS

A segunda geração do desejado SUV urbano foi desenhada para inspirá-lo a viver a cidade com mais sofisticação. Agora, o Novo Range Rover Evoque tanto faz jus a tudo que você esperava do modelo antigo como supera expectativas: tem uma silhueta ainda mais refinada e oferece tecnologias ainda mais inovadoras, como a intuitiva Touch Pro Duo com duas telas e o retrovisor interno com “Clearsight View”. Com materiais premium, o espaço interno também merece destaque: é ainda maior do que o modelo antigo e conta com teto panorâmico fixo de série. Só por ser Evoque, o modelo já tem tudo o que você quer. E o que você ainda não sabe que quer, também. Visite uma de nossas concessionárias e conheça o Novo Range Rover Evoque ao vivo.

/landroverbr Preço para o Land Rover Care é para o Range Rover Evoque R-DYNAMIC HSE modelo 2020: R$ 2.490,00. O plano Land Rover Care inclui os seguintes itens de revisão básica: óleo do motor, filtro de óleo do motor, filtro de ar, filtro de pólen, filtro de combustível (para veículos com motor a diesel), fluido de freio e mão de obra para estes itens. Pacote válido para até 5 (cinco) revisões básicas pelo período de 5 (cinco) anos ou 55.000 km, o que ocorrer primeiro. As revisões devem ocorrer em intervalos de 12 (doze) meses ou 10.000 km, o que ocorrer


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— O retorno de um ícone —

Venerado por artistas, esportistas e políticos há sete décadas, Land Rover Defender está de volta, com ainda mais charme e robustez POR KIKE MARTINS DA COSTA



Na última edição do Salão de Frankfurt, a Land Rover apresentou o novo Defender. Fora de linha desde 2016, após ficar quase 70 anos em produção, o popular modelo da marca inglesa renasce para a alegria de milhões de fãs desse clássico que, durante décadas, foi sinônimo de robustez, de força, de emoção e da capacidade de encarar todo tipo de terreno. A lista desses fãs reúne celebridades das mais diversas áreas. A mais ilustre, dona de vários Defenders, é a Rainha Elizabeth, que ganhou seu primeiro em 1952 e, desde então, sempre dirige um modelo da marca nos arredores dos castelos de Windsor e Balmoral, ao lado de seus cãezinhos da raça corgi. Sir

David

Attenborough,

aristocrata

biólogo

e

apresentador de programas de TV do canal National Geographic, também já passou boa parte da sua vida a bordo de um Defender explorando densas florestas tropicais, escaldantes desertos e tundras geladas. Mas a vida do Defender não é só poeira e lama: ele é também um ícone pop. Paul McCartney, Sean Connery e David Beckham são outros conhecidos cidadãos britânicos que já foram felizes proprietários de Defenders. Ano passado, o astro da série de TV Game of Thrones, Kit Harington, saiu de seu casamento guiando um Defender ao lado de Rose Leslie, sua noiva. No cinema, o carro já brilhou nas mãos de Lara Croft (interpretada por Angelina Jolie no blockbuster Lara Croft) e vai aparecer no próximo filme do agente 007 — há algumas semanas, Daniel Craig, o ator que interpreta James Bond no longa, foi flagrado num Defender dos anos 70 no set da produção, na Jamaica.

— Além de enfrentar desafios em raides como o Camel Trophy, o Defender também fez sucesso no cinema guiado por Lara Croft e James Bond —

148


149


Em outra ilha caribenha, ali perto, o Defender já foi o

E o novo Defender traz ainda outros muitos

veículo predileto de um certo Fidel Castro. E, nos Estados

aprimoramentos em relação a seus antepassados.

Unidos, transportou e decorou as garagens de estrelas

Exploradores como Indiana Jones, acostumados a

como Steve McQueen, Sylvester Stallone e Tom Cruise.

rodar em carros brutos e toscos, hoje poderiam se

Com um passado cheio de glórias nas ruas, nas selvas, nos

deslocar com muito mais conforto e estilo. O Defender

pântanos e em desafios como o Camel Trophy, o Defender

2020 tem quatro câmeras HD e sistema de assistência

pode ter um futuro ainda mais brilhante — pelo menos

ao motorista para uma condução mais segura, central de

essa é a expectativa da Land Rover. Após ter sua produção

mídia e navegação com um enorme painel touchscreen,

descontinuada por não atender às normas europeias de

câmbio automático com oito velocidades, carregador de

emissões de poluentes e ter obtido maus resultados em

celular sem fio e ar-condicionado digital.

testes de impacto nos EUA, o Defender agora volta mais

Sua silhueta quadradona foi repaginada e ganhou

poderoso e requintado. Segundo a fábrica, esse novo

linhas

modelo é o mais forte que ela jamais produziu. Capaz

concebidas por Massimo e Amy Frascella, casal

de transportar até 900 kg de carga e rebocar mais de 3,7

de designers italianos que busca inspiração nos

toneladas engatadas em sua traseira, na hora de cruzar

trabalhos de Raf Simmons (diretor criativo de grifes

um riacho ele pode mergulhar até 90 centímetros dentro

como Dior e Calvin Klein), Charles e Ray Eames

da água. Seu chassis, todo em alumínio, é anunciado

(famosos por suas cadeiras) e a pintora norte-

com o mais sólido e resistente do mercado.

americana Georgia O’Keeffe.

150

mais

harmoniosas

e

contemporâneas,


— A tradicional silhueta quadradona do Defender foi repaginada e, na versão 2020, tem linhas mais harmoniosas e contemporâneas —

Com todas esses aperfeiçoamentos, aliados ao seu vigor, o Defender 2020 deve ser o legítimo sucessor do legado que esse off-roader construiu ao longo de 70 anos. Reza a lenda, sua história começou quando Maurice Wilks, engenheiro da Rover, rabiscou com um graveto nas areias da baía de Red Wharf, em Anglesey, os primeiros esboços do carro que seria lançado no ano seguinte, em 1948, no Salão do Automóvel de Amsterdam. De cara, o carro tornou-se um sucesso instantâneo, com 8 mil unidades vendidas no primeiro ano e, já no terceiro, uma média de mil automóveis por semana! Desde 1948 até 2016, um total de 2.016.933 Defenders foram produzidos na histórica fábrica de Solihull, em Coventry. O lançamento aqui no mercado brasileiro deve acontecer em meados de 2020. Especialista em suplantar obstáculos, esperamos que ele também seja capaz de superar as nossas expectativas!

Para saber mais acesse:

151


NOVO JAGUAR I-PACE

JÁ PODEMOS CHAMAR O FUTURO DE HOJE. VENHA CONHECÊ-LO.

O primeiro SUV 100% elétrico da Jaguar acaba de chegar ao Brasil. E além de oferecer total tranquilidade com cinco anos de manutenção básica e Assistência 24h inclusos no preço1, também garante o que nenhum outro carro tem: os prêmios de “Carro do Ano”, “Design do Ano” e “Carro Verde do Ano” obtidos no World Car Awards de 2019. Com 400 cv, torque instantâneo, 470 km de autonomia2 e aceleração de 0 a 100 km/h em 4,8 segundos, o Novo Jaguar I-PACE é tudo aquilo que você esperava do futuro. Visite uma de nossas concessionárias e venha conhecê-lo o quanto antes.

jaguarbrasil.com.br 1

Jaguar Care é para o JAGUAR I-PACE EV 400 SE Modelo 2020. O plano Jaguar Care inclui os seguintes itens de revisão básica: filtro de ar da cabine, fluído limpador do para-brisa, fluido de freio, tubo flexível dos freios dianteiros e traseiros (esquerdo e direito) e mão de obra para estes itens. Pacote válido para até 3 (três) revisões básicas


5 ANOS DE GARANTIA E MANUTENÇÃO INCLUSOS

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pelo período de 6 (seis) anos ou 105.000 km, o que ocorrer primeiro. As revisões devem ocorrer em intervalos de 24 (vinte e quatro) meses ou 34.000 km, o que ocorrer primeiro. O descumprimento ao plano de manutenção do veículo cancela o plano. 2Dados obtidos durante testes no ciclo WLTP.


— Futuro da esportividade — Para a BMW, em breve os automóveis poderão conduzir ou ser conduzidos POR BOB SHARP



A BMW acredita que num futuro já não tão distante mo-

A inspiração vem do icônico BMW Turbo (de 1972) e do i8

toristas poderão conduzir ou ser conduzidos. O concei-

híbrido plugável. Adota interpretação focada no futuro de

to Vision M NEXT mostra sua visão de como poderá ser

elementos de desenho como a silhueta baixa em formato

o prazer de dirigir de quem escolher sentar ao volante.

de cunha, portas asa-de-gaivota e um vibrante esquema de

Tal conceito oferece um aperitivo do futuro eletrificado

cor. As proporções de carro esporte são inconfundíveis.

da marca BMW M ao focar diretamente no motorista

O Vision M NEXT engloba dois conceitos que a fábrica

ativamente engajado. Tecnologias de bordo inteligen-

denomina “EASE” e “BOOST”. O EASE compreende

tes proverão assistência total, porém, com o objetivo de

todas as experiências durante uma viagem em que o

torná-lo um motorista perfeito.

veículo assume a missão de dirigir. Nesse caso transfor-

Trata-se de um avançado carro esporte híbrido que

ma-se numa sala de estar sobre quatro rodas, na qual os

passa nítida e confiante mensagem em termos tanto de

passageiros se sentem seguros e protegidos. Do repou-

aparência quanto de interação e alto desempenho. Ele

so ao relaxamento, permite conversas descontraídas,

mexe com a emoção e transmite claramente o potencial

interação e apreciar o entretenimento a bordo. Tudo

de acelerar e vencer curvas, reunindo o estilo clássico

conforme as necessidades dos ocupantes. Já o conceito

aos modelos contemporâneos.

BOOST significa dirigir. 156


A experiência de condução real, por sua vez, é tão cativante quanto o visual externo. A propulsão híbrida

— O Vision M NEXT engloba dois conceitos que a marca denomina EASE e BOOST —

permite escolher entre tração integral ou nas rodas traseiras, seja em modo só elétrico ou pelo motor quatro-cilindros turbo a gasolina de 600 cv, potência para levá-lo à velocidade de 320 km/h e que permite acelerar de 0 a 100 km/h em apenas 3 segundos. Seu coeficiente aerodinâmico (Cx) é de apenas 0,18. Há também um modo BOOST+, que provê potência adicional ao apertar de um botão. O alcance em modo só elétrico é de 100 quilômetros — suficiente para muitas opções de uso. Um verdadeiro automóvel esporte e adequado também para a zona central das cidades, onde

1

exigência de zero emissões pode ser criada no futuro. EASE e BOOST têm em comum, em níveis iguais,

1. Detalhes de abertura das amplas portas

157




as diretrizes de fabricação do futuro do Grupo

ximo do solo. As linhas dos ombros servem para criar o

BMW quanto à inovação. Tudo focado em condução

efeito semelhante ao da icônica coluna Hofmeister em

autônoma, conectividade, eletrificação e serviços de

vez de incorporá-la ao desenho das janelas.

compartilhamento.

Um olhar mais atento revela um detalhe: a abertura

A silhueta em forma de cunha e as linhas das laterais

localizada à frente da roda traseira serve para canalizar

subindo em direção à traseira conferem um visual que

cuidadosamente o fluxo de ar para trás de maneira a

parece saltar para a frente, mesmo parado. As saias late-

contribuir para a aerodinâmica.

rais pretas fabricadas em compósito de fibra de carbono

As rodas multirraio tridimensionais resultam em

reciclado dão aparência de o carro estar ainda mais pró-

baixo peso, máxima rigidez e arrasto aerodinâmico

160


— Tecnologias de bordo inteligentes proverão assistência total —

mínimo, além de otimizar a transferência de potência para o solo. O desenho dos raios das rodas dianteiras de 21 pol. e traseiras de 22 pol. de diâmetro favorece o arrefecimento dos freios. O Vision M NEXT ainda não está pronto, mas a capacidade de magnetizar os olhares fica sobejamente demonstrada. A BMW ainda definirá a data de chegada

1

ao mercado, mas preferiu não dar pistas ao apresentá-lo em evento na sua sede em Munique.

1. A realidade virtual se destaca no painel

161




— O melhor de dois mundos — Uma velha máxima no universo automobilístico afirma que carro perfeito tem que ser europeu, mas equipado com potente motor V-8, típico de modelos americanos. Os novos Audi RS6 Avant e RS Sportback estão entre os que atendem esse conceito com refinamento TEXTO ROBERTO MARKS

Dois novos “foguetes”, lançados no recente Salão do

extremidades inferiores dianteiras. Os dois modelos

Automóvel de Frankfurt, enquadram-se na definição

também incorporam novo capô bem abaulado e com

dos entusiastas. Trata-se dos Audi RS7 Sportback,

vincos para dirigir o fluxo de ar. Os faróis mais finos

segunda geração, e a quarta geração da perua RS6 Avant.

apresentam desenho bem esportivo e sistema laser

Além de detalhes de estilo, compartilham a mesma

RS Matrix LED.

mecânica: motor V-8 com cerca de mais 40 cv em relação

Essas características conferem perfil afilado e reforçado

aos modelos anteriores. É o mesmo usado no SUV

na lateral vincada, além de largas molduras das rodas.

Lamborghini Urus e no sedã-cupê Porsche Panamera.

Estas são de liga leve de desenho em forma de estrela,

O visual, bem arrojado, destaca o novo frontal com

aro de 21 pol e pneus 275/35. Há ainda opção mais

grade em colmeia de desenho hexagonal, herdada do

radical: rodas de 22 pol e desenho trapezoidal de cinco

superesportivo R8, assim como as entradas de ar nas

raios em V, montadas em pneus 285/30. Tudo isso dá a

164



sensação de que os dois modelos parecem bem maiores

desempenho esportivo, mas também um rodar civilizado

do que os 5 metros de comprimento.

no trânsito urbano.

Na traseira, duas enormes saídas de escape em formato

Isso porque o V-8, com ângulo do V de 90 graus, é definido

oval, fixadas nas extremidades do extrator. As lanternas

como motor “quadrado”, pois diâmetro e curso dos

de LED têm indicador de direção dinâmico com

pistões têm a mesma medida: 86 mm. Na usinagem os

sequenciamento específico para quando o veículo está

cilindros são revestidos com pulverização atmosférica

trancado e destrancado. Porém, enquanto no Avant elas

a plasma. Isso melhora dissipação de calor, resiliência

são separadas, no Sportback o desenho mais afilado

térmica e mecânica e reduz o desgaste, pois diminui o

atravessa toda a seção traseira da enorme porta, que

atrito interno, além de reduzir o consumo de óleo.

também incorpora o vigia.

O câmbio Tiptronic de oito marchas também inclui

Se o visual destaca muita esportividade, o conjunto

função de controle do sistema permanente de tração

mecânico realça ainda mais as características típicas

integral quattro (patente Audi). A tração, distribuída

da linha Audi RS. A começar pelo motor V-8 biturbo de

entre os eixos dianteiro e traseiro na proporção de 40/60

4 litros TFSI, com potência de 600 cv e torque de 800

por meio do diferencial central Torsen totalmente

Nm (81,5 kgfm) em faixa de rotações bem plana que se

mecânico, conta com sensor de torque.

mantém inalterada de 2.050 a 4.500 rpm. Possibilita

Em caso de patinagem, o torque vai automaticamente

166


para o eixo com mais tração. Até 70% podem ser enviados

— O visual destaca muita esportividade e sensação de maiores dimensões —

às rodas dianteiras e até 85%, às traseiras. O diferencial também altera a tração entre as rodas traseiras, nas curvas mais rápidas, conforme o necessário. Tudo isso melhora aderência, estabilidade e dinâmica em curvas. Os dois modelos incorporam sistema híbrido leve de 48 volts, com o gerador acionado por correia para carregar uma pequena bateria de íons de lítio, que atua por meio da frenagem regenerativa e da partida no motor. Até 12 kW de energia podem ser recuperados durante desacelerações. Se o motorista tirar o pé do acelerador a uma velocidade entre 34 e 99 km/h, o gerenciamento do inversor seleciona uma opção dependendo do modo de condução registrado no Audi Drive Select: recupera

1

energia ou roda até 40 segundos com o motor desligado. Ao se pressionar novamente o acelerador, o motor de

1. A perua RS6 Avant chega à quarta geração

167


partida/alternador reinicia o funcionamento do V-8.

No modo RS2, o motorista pode alternar o Controle

Dessa forma permite o funcionamento do Start/Stop em

Eletrônico de Estabilidade (ESC, na sigla em inglês)

velocidades de até 22 km/h. A tecnologia sob demanda

de duas formas. No modo esportivo, com um toque no

da Audi possibilita um consumo de combustível, no ciclo

botão, salva essa configuração permanentemente; se

ECE, de apenas 9,5 litros por 100 quilômetros (10,5 km/l).

pressionar o botão por mais de três segundos, desativa

O

câmbio,

completamente o ESC. Aí o destino fica nas mãos do

direção,

motorista...

Audi

Drive

transmissão,

Select

assistência

gerencia

motor,

hidráulica

da

suspensão, direção dinâmica (opcional) nas quatro

Existem seis modos de condução: eficiente, conforto,

rodas, diferencial esportivo quattro, som do motor e

automático, dinâmico, além dos personalizáveis RS1

também a maneira como funciona o ar-condicionado.

e RS2. Estes podem ser configurados para atender às

168


— O motor V-8 biturbo é o mesmo que equipa o Lamborghini Urus e o Porsche Panamera —

preferências do motorista e armazenados para ativação direta por meio do botão RS MODE no volante. O motor ressalta o som V-8 encorpado e esportivo, que o motorista pode ajustar usando o sistema de manuseio dinâmico Audi Drive Select. Assim, é capaz de alternar entre os modos de acionamento RS1, que destaca o ronco do motor, e o RS2 mais silencioso. O sistema de freio dispõe de discos de aço com 42 cm

1

(dianteiros) e 37 cm (traseiros). Existe opção do sistema de discos revestidos em cerâmica de 44 cm, reduzindo

1. O motor agora tem potência de 600 cv

169


as massas não suspensas em cerca de 34 quilos, o que se

limitada eletronicamente em 250 km/h. Porém, existe

reflete no desempenho dinâmico da suspensão. Nesse

o pacote opcional Dynamic, que aumenta o limite até

caso, as pinças de dez pistões podem ser escolhidas em

280 km/h. Quem ainda assim não ficar contente, pode

cor cinza, vermelha ou azul.

optar pelo Dynamic Plus, que vai até 305 km/h.

A suspensão pneumática tem amortecimento controlado

Apesar do lançamento oficial no salão alemão, os dois

e oferece a opção entre conforto em longas distâncias ou

modelos só terão início de comercialização na Europa até

desempenho máximo. Acima de 120 km/h é rebaixada em

o começo do ano que vem, com preço base em torno de

1 cm, mas possibilita elevar o veículo em 2 cm em baixa

120 mil euros. Nos Estados Unidos e Canadá, só deverão

velocidade. É também oferecida a opção de suspensão esportiva RS e o Dynamic Ride Control (DRC).

chegar no próximo verão no Hemisfério Norte. No Brasil,

Os dois modelos aceleram de 0 a 100 km/h em 3,6 s e,

é provável que estejam no Salão de São Paulo, no fim de

em 12 s, alcançam os 200 km/h. A velocidade máxima é

2020, e sejam comercializados a partir do ano seguinte.

170


— A suspensão pneumática tem amortecimento controlado, oferecendo a opção entre conforto para longas distâncias ou desempenho — 1 1. O RS7 Sportback tem lanternas traseiras exclusivas

171


— Trajetória invejável — Nascido no Japão em 1966, o Toyota Corolla se transformou no carro mais vendido do mundo em 53 anos foto Getty Images

POR JOSIAS SILVEIRA



foto Getty Images

A estreia mundial do híbrido mais ecológico do planeta

— Já na segunda geração, em 1970, o Corolla começou a se sofisticar. Deixava de ser sucesso regional no Japão para conquistar o mundo —

foi agora em setembro no Brasil, marcando 53 anos de desenvolvimento e tecnologia do Corolla. A chegada do novo médio-compacto da Toyota mostrou um avanço inimaginável, desde quando o então pequeno sedã foi lançado no Japão, em 1966. O novo Corolla Hybrid brasileiro emite apenas 29 g de CO2/km quando roda com etanol, enquanto a meta compulsória na Europa para a média da frota vendida por cada fabricante, a partir de 2020, será de 95 g de CO2/km. Ou seja, o modelo fabricado no Brasil, em Indaiatuba (SP), polui menos de um terço do que os automóveis europeus serão obrigados a cumprir. Esta 12ª geração do sedã mais vendido no mundo carrega alguns superlativos. O grupo Toyota, com suas quatro marcas (além da principal, inclui Lexus, Daihatsu e caminhões Hino), representa o segundo maior fabricante mundial de veículos leves (automóveis, SUVs,

1

minivans, crossovers, peruas e picapes) e pesados. Corolla é o nameplate (nome de referência) mais

2 3

1. O primeiro Corolla era um pequeno sedã de duas portas e apenas 3,85 m de comprimento 2. No Museu da Toyota no Japão, está exposta a primeira unidade fábrica do Corolla 3. O primeiro modelo e o atual Corolla

vendido da história, também globalmente, com mais de 47 milhões de unidades desde que se iniciou sua fabricação, ultrapassando inclusive o Fusca. Essa conta

174


inclui todas as versões: sedã, hatch ( já se chamou Auris,

Em 1969, o Corolla já era líder de vendas no Japão, e no

na Europa) e perua (no Brasil, era Corolla Fielder; na

final dessa geração pioneira, em 1970, comemorou o

Europa, hoje, Corolla Touring Sports).

primeiro milhão de automóveis produzidos. Na segunda geração (1970 – 1974) a cilindrada subiu para 1.400 cm3

Era um carro pequeno

(86 cv) e o modelo ganhou inclusive um tanque maior, de

O primeiro modelo surgiu, em outubro de 1966, como

45 litros. A intenção era dar condições para o motorista

pequeno sedã de duas portas e apenas 3,85 m de

percorrer os 500 km de Tóquio até o extremo sul do

comprimento, propulsionado por motor de 1.100 cm3 e

Japão sem reabastecer. O comprimento aumentou para

potência de 60 cv. Ainda na primeira geração ganhou as

3,94 m. Também estreou a versão de duas portas cupê.

versões sedã de quatro portas e station wagon (perua).

Em 1974 estreou a terceira geração com linhas mais

Seu nome tem raízes no latim (algo como Pequena

arredondadas, e graças às suas várias versões começou

Coroa), pois seria um diminutivo de seu irmão maior

a conquistar outros mercados. Em alguns países

na época, o Crown (Coroa, em inglês). Uma referência

asiáticos, era vendido como Daihatsu Charmant e

ao regime de império que, simbolicamente, ainda é vigente no Japão. Inicialmente com tração traseira, pretendia oferecer ao consumidor uma série de novidades tecnológicas que formariam um tripé de premissas de projeto: qualidade, durabilidade e confiabilidade. Esta receita continua depois de mais de cinco décadas, enquanto o automóvel foi crescendo, se sofisticando e se tornando internacional. A primeira geração saiu das linhas de montagem entre 1966 e 1970. Desses primeiros exemplares vieram pouquíssimos para cá por meio de importação independente. Para preservar a sua memória, a filial brasileira localizou, comprou e restaurou uma unidade de 1968, mantida em exibição permanente na sede de São Bernardo do Campo (SP).

175




chamado de “charmoso” na tradução do francês. Na quarta “encarnação”, surgida em 1979, linhas mais retas voltaram a aparecer. Principal evolução mecânica foi o sistema de injeção de combustível, inicialmente como opcional e apenas no Japão. Tração dianteira A quinta geração, em 1983, passou a oferecer a injeção como opcional também fora do Japão. A grande virada, porém, foi a troca da tração traseira pela dianteira a fim de ganhar espaço interno e no porta-malas. Mas, em alguns mercados, permaneceu a oferta de tração traseira. Também incorporou a opção de câmbio automático de apenas três marchas. Os modelos começam a ser regionalizados. Os vendidos

A sexta geração estreou em 1987. As linhas se

no Japão apresentam certa limitação de largura da car-

mantiveram, mas o carro cresceu e ficou 8 cm mais

roceria por razões fiscais. Afinal, as ruas estreitas do país

longo. A tração passou a ser sempre na dianteira, à

impõem imposto maior para automóveis que ocupam

exceção de uma versão 4x4 com motor diesel turbo.

mais espaço. Teve início o processo de internacionaliza-

Surgia também uma esportiva, com motor de 1.600 cm³

ção e novas fábricas se espalharam pelo mundo dos Esta-

turbo de 145 cv. Os outros traziam o motor de aspiração

dos Unidos à China e da Índia à África do Sul.

natural e 120 cv.

178


Apenas na geração número sete (1991 a 1977) o Corolla começou a chegar ao Brasil, após a reabertura de importações decretada em 1990. Estreia aconteceu em 1994 e já trazia airbag (ainda só para o motorista) e freios com ABS. A geração seguinte, a oitava, começou a ser fabricada na nova fábrica da Toyota em Indaiatuba (SP), em 1988. O Corolla brasileiro era menor (4,40 m de comprimento) que o atual (4,63 m), e o motor de 1,8 litro entregava 116 cv. Esse pioneiro foi substituído em 2002 pela nona geração, conhecido como “Brad Pitt”, pois era o garotopropaganda dos comerciais. O desempenho do ator norte-americano ajudou bastante: o Corolla pulou de 15 mil unidades vendidas, em 2002 para 41 mil, em 2003.

— Corolla 2020 nacional, da 12ª geração, transformou-se no híbrido mais “limpo” do planeta, quando roda com etanol —

Essa fase foi especialmente importante para o modelo no Brasil. Tanto que em 2004 surgiu a station wagon Fielder, exclusiva para o país (com a mesma frente do sedã), apesar de usar algumas soluções da versão japonesa. Mesmo sendo uma perua, era 8 cm mais curta que o sedã: 4,45 m contra 4,53 m. Nessa época, o motor 1,8 litros foi aperfeiçoado e já rendia 136 cv, surgindo a primeira versão Flex, para rodar com gasolina ou etanol. A Fielder continuou em linha até 2006 e não teve substituta na décima geração que

1 2

chegou naquele ano. Já começava a escalada dos SUVs,

3

que substituíram as stations. A partir de 2006, o Corolla 1. Novo Híbrido Flex, exclusivo para o Brasil 2. Logotipo em azul significa motor ecológico 3. Interior ficou mais sofisticado no novo Corolla

também ganhou opção de motor 2-litros de 142 cv. A 11ª geração, de 2014, marcou uma revolução na vida do Corolla nacional. A distância entre eixos aumentou 10 cm, indo para 2,70 m. No comprimento, quase 80 cm maior que o original de 1966. O espaço interior ficou mais generoso e a inspiração de suas linhas veio claramente do Camry, o irmão maior. Trazia também controle eletrônico de estabilidade (ESC, na sigla em inglês). O carro brasileiro continuava assemelhado ao europeu, com mais equipamentos. O vendido nos EUA inclui sempre versões mais simples e pequenas diferenças. Assim, o novo Corolla 2020, décimo-segundo da linhagem, marca a quinta geração nacionalizada. Em 2017 a Toyota comemorou 4 milhões de unidades produzidas aqui. Claro que um sedã de porte médio se sujeita à forte concorrência dos SUVs na faixa de preço superior a R$ 100.000. Então as vendas podem não disparar em termos absolutos, porém, a tendência é de aumentar a liderança no segmento. Ainda mais que a versão híbrida flex aponta procura maior que a esperada.

− 179



— Eletrizante poder —

Porsche Taycan Turbo S 761 cv (modo superaceleração) POTÊNCIA 107 kgfm (modo superaceleração) TORQUE Automático 1 marcha (dianteiro) e 2 marchas (traseiro) CÂMBIO Dianteira ou integral TRAÇÃO 4,96 m COMPRIMENTO DISTÂNCIA ENTRE EIXOS 2,85 m 4 NÚMERO DE LUGARES PORTA-MALAS Dianteiro, 81 litros; traseiro, 366 litros 93,4 kWh (líquido, 83,7 kWh) BATERIA ALCANCE MÁXIMO 450 km (WLTP, 412 km) 2.300 kg PESO R$ 1.000.000 (estimado) PREÇO POR FERNANDO CALMON


Primeiro modelo da fábrica de Stuttgart com propulsão

CO2 da linha completa e iniciar uma transição gradual

totalmente elétrica, o Taycan exigiu muito empenho

da para a eletromobilidade que inclui híbridos. Tudo

para preservar as características esportivas, típicas

isso com preço relativamente competitivo, equiparado

de um verdadeiro Porsche. O projeto incorporou

ao dos modelos com motor a combustão. No caso, entre o

conceitos tecnológicos de vanguarda, sem descuidar de

Cayenne e o Panamera, equivalentes em equipamentos,

confiabilidade e versatilidade, tradicionais na marca.

embora seja menor que o sedã-cupê.

TOP Carros esteve na apresentação estática do modelo

Também havia outro desafio para a equipe de projetistas.

perto de Berlim, Alemanha, em um aeroporto desativado

Afinal, o engenheiro que empresta seu nome à marca foi

e transformado em gigantesca fazenda solar de energia.

um dos pioneiros em automóveis totalmente elétricos.

A proposta objetiva reduzir o nível médio de emissões de

No final do século 19, o jovem Ferdinand Porsche

182


O sedã esportivo será o primeiro elétrico de série com

— Porsche preservou características esportivas da marca, como bancos baixos e volante de direção quase vertical —

o inédito sistema de baterias de 800 V, em vez dos

1

projetou o primeiro veículo para a empresa austríaca de carruagens Lohner com um avançado, na época, trem de força elétrico. O Lohner-Porsche teve reconhecimento e muitos elogios na Exposição de Paris, em 1900. O Taycan, da mesma forma, incorpora conceitos exclusivos quanto à propulsão e ao sistema de recarga.

400 V da na maioria dos modelos atuais desse tipo. A arquitetura de 800 V desenvolvida pela Porsche

1. Perfil nitidamente inspirado nas linhas do 911

183


funciona com corrente mais baixa, possibilitanto uso de cabos de bitola menor, o que reduz as temperaturas das baterias tanto com o carro rodando quanto na recarga. Além

de

melhorar

o

desempenho,

possibilita

maior autonomia: até 450 km (padrão WLTP). O “abastecimento” rápido, em rede de alta potência, proporciona 40% de carga em cinco minutos ou 100 quilômetros de alcance. O tempo para atingir 80% demora cerca de 22 minutos. As baterias de íons de lítio com 93 kWh podem ser recarregadas em casa ou no escritório. Uma estação de parede e um carregador móvel são fornecidos com

— Para não atrapalhar quem dirige com mais prazer, a regeneração ao levantar o pé do acelerador é menor —

o carro. Possibilita autonomia máxima em torno de 11 horas, neste caso em corrente alternada (CA). O conjunto de baterias é instalado abaixo do assoalho do carro e funciona como componente estrutural do chassi para baixar o centro de gravidade. A fim de aumentar o espaço para os ocupantes, os bancos encaixam-se em rebaixos na plataforma. Outro destaque é o trem motriz com dois motores, um em cada eixo, que trabalham juntos a maior parte do

Quando o veículo atinge velocidade entre 80 km/h e 105

tempo. Novidade mesmo é o motor traseiro ser acoplado

km/h ou o acelerador é aliviado, o câmbio troca para a

a um câmbio de duas marchas. Sua troca independe

segunda marcha, que é mais longa e de mesma relação

da vontade do motorista, e quando o carro arranca

da marcha única do motor dianteiro. Em velocidades de

da imobilidade no modo Normal, sempre o faz com a

viagem e/ou com pouco acelerador, se a energia estiver

marcha mais reduzida, para máxima aceleração.

no modo Range (Alcance), um sistema de engate rápido 184


desacopla o motor traseiro do câmbio — sempre sem interferência do motorista — e o Taycan vira um carro de tração dianteira. Nas arrancadas fortes, ambos os motores atuam, e estando ativado o modo Alcance Plus, a primeira marcha não é utilizada. A Porsche justifica o câmbio de duas marchas por passar mais torque para as rodas e reduzir a temperatura do motor traseiro, o maior deles. O Taycan utiliza basicamente a frenagem para regeneração das baterias. Enquanto na maioria dos EVs a regeneração é baseada no curso do pedal do acelerador, ou seja, quanto mais se levanta o pé, mais o carro reduz a velocidade, os engenheiros da Porsche não consideraram isso muito intuitivo, especialmente para a direção esportiva em velocidades mais elevadas. Assim, o carro aproveita apenas uma parcela de regeneração por meio do curso do acelerador. Esse sistema, inclusive, pode ser totalmente desativado por botão no volante. Há o modo de regeneração automática, quando uma câmera analisa a estrada à frente para ajustar o nível possível de obter. Os freios de serviço, porém, apresentam o altíssmo padrão Porsche. Quanto ao estilo foi mantido o DNA da marca. Com

cv e nada menos de 107 kgfm, com 0 a 100 km/h em

apenas 1,38 m de altura, o Taycan tem linhas fluidas e

impressionantes 2,8 s, apesar da massa total de 2.300

esportivas, ressaltando o Cx de apenas 0,22. O desenho é

kg. Velocidade máxima limitada em 260 km/h. Haverá

bem equilibrado, com apelo mais jovial e esportivo do que

uma terceira versão, menos cara, que terá tração apenas

o do Panamera. Porém, as entradas de ar verticais ao lado

nas rodas traseiras.

dos faróis destoam. Internamente, configuração 2+2 com

A produção do Taycan começou em outubro e as

os quatro bancos proporcionando bom apoio. A posição

primeiras unidades deverão ser entregues no primeiro

vertical do volante o identifica como legítimo Porsche.

semestre de 2020. Os preços do Taycan, na Alemanha,

O quadro de instrumentos digital com tela colorida é

vão de 152.200 (Turbo) a 185.500 (Turbo S) euros.

configurável e destaca três círculos que lembram os

Chegará ao Brasil no fim de 2020 ao preço estimado a

tradicionais mostradores analógicos da marca. Não há

partir de R$ 1milhão.

botões (à exceção do de “ignição”): todos os comandos

A Porsche também já apresentou a versão Taycan S,

são por toque na tela. Acionamento do ar-condicionado

com bateria de 79,2 kWh e com potência de 522 cv,

e aquecimento, interruptores das janelas e fechaduras

na versão básica, e com preço mais acessível: cerca de

são operados através da tela sensível ao toque. A

104 mil euros.

superfície vibra ao acender os faróis. Incialmente haverá duas versões: Turbo e Turbo S. A denominação, algo estranha, não se deve a qualquer

1 2

forma de turboalimentação, mas para alinhar a

3 4

nomenclatura com os outros modelos da marca. O Turbo tem potência de 625 cv, mas no modo de

1. Tempo de recarga é baixo por utilizar primeiro sistema de 800 volts 2. Filete de LEDs na traseira segue o padrão Porsche 3. Algo controverso o apêndice, quase vertical, nos faróis 4. No painel e console, todos os botões eliminados, menos o de “ignição”

superaceleração passa a 680 cv e torque de 86,6 kgfm. Acelera de 0 a 100 km/h em 3,2 s. No Turbo S são 761

185


— Inovação na direção certa —


Honda Accord Touring MOTOR COMBUSTÍVEL POTÊNCIA E TORQUE CÂMBIO TRAÇÃO COMPRIMENTO DISTÂNCIA ENTRE EIXOS NÚMERO DE LUGARES PORTA-MALAS TANQUE AUTONOMIA MÁXIMA PESO PREÇO

POR BOB SHARP

4 cil, 2 litros, turbo Gasolina 256 cv e 37,7 kgfm Automático, 10 marchas Dianteira 4,89 m 2,83 m 5 574 litros 56 litros 690 km 1.547 kg R$ 204.900


São três as novidades que o sedã mais caro da Honda

xima a 50/50% com a carga máxima de 598 kg, especial-

traz ao mercado. A versão denominada Touring, única

mente se boa parte dela estiver no enorme porta-malas

importada, ganhou novo motor 2 litros turbo quatro-ci-

de 574 litros, 68 litros mais que modelo anterior.

lindros de 256 cv e 37,7 kgfm de torque. Antes era um

O novo Accord tem entre-eixos de 2,83 m, 5,5 cm mais

V-6 3,5 litros, aspiração atmosférica, de 280 cv e 34,6

que o anterior. Evoluiu bem em conforto, sentido com

kgfm. Apesar da menor potência, o maior torque e em

clareza por quem viaja no banco traseiro. O compri-

rotações mais baixas (1.400 rpm ante 4.900 rpm) ga-

mento diminuiu marginalmente, 1 cm, e agora mede

rante mais vigor nas acelerações e retomadas, ajudado

4,89 m. A largura da carroceria passou a 1,86 m, aumen-

ainda pelo peso 85 kg menor.

to de também 1 cm, e altura diminuiu 1,5 cm, é de 1,46

A segunda novidade é ao mesmo tempo primazia mun-

m agora. Os bancos precisaram ter diminuída sua altura

dial em carros de tração dianteira: o câmbio automáti-

em relação ao assoalho, menos 2,5 cm nos dianteiros e 2

co de 10 marchas. Não há alavanca seletora, só quatro

cm, no traseiro, para manter distância adequada ao teto,

botões, mais borboletas junto ao volante para as trocas

agora mais baixo.

de marcha manuais. A primeira pôde ser bem encurtada

O rodar do Accord Touring é de primeira grandeza, pois

para agilidade nas arrancadas, e a última marcha é bem

o grande entre-eixos ajuda a mitigar os efeitos do nosso

longa, para baixas rotações em velocidades mais altas.

conhecido asfalto ondulado ou esburacado. As suspen-

E consumindo pouca gasolina para um automóvel desse

sões independentes, dianteira McPherson e traseira

porte: 12,3 km/l (cidade, 9,1 km/l).

multibraço, são firmes sem prejudicar o conforto. Com-

A terceira inovação na marca é a adoção de vários sistemas

binadas com os pneus 235/45R18W Yokohama Advan

avançados de auxílio ao motorista reunidos sob a denomi-

DB Decibel, formam um carro obediente, previsível e

nação Sensing. A fabricante japonesa optou por estabele-

rápido de curva. Ajuda a direção de relação variável

cer preço único de R$ 204.900, sem oferecer opcionais.

(não informada) de apenas 2,2 voltas entre batentes.

A distribuição de peso com o carro vazio é 61/39% dian-

Os bancos dianteiros são confortáveis e contam com

teira/traseira, o que permite estimar distribuição pró-

ajuste elétrico, inclusive lombar, e duas memórias no do

188


motorista. No banco traseiro o passageiro do meio não tem

— Uma das novidades do novo Accord é o câmbio automático de 10 marchas —

o mesmo conforto, uma vez que o encosto é a parte inferior do descansa-braço. Atrás há saída de climatização. O quadro de instrumentos oferece visibilidade perfeita. O velocímetro é real, mas o conta-giros, virtual e configurável. Quando câmbio está colocado em modo Sport, à escala normal junta-se outra, a de pressão do turbo. A tela tátil do sistema multimídia de 8 pol. está bem posicionada. Há projeção de informações no para-brisa.

1

A tecnologia Sensing de segurança e assistência de di-

2

reção compõe-se por uma câmera no para-brisa e um 1. Espaçosa e confortável, a nova geração tem um visual mais atual 2. O estilo fastback na traseira caiu muito bem

radar na grade. Essa combinação auxilia o motorista a prevenir acidentes e se mostrou bastante precisa. Há controle de cruzeiro adaptativo, frenagem automática, alerta de colisão frontal e assistência de conservação na faixa com aviso de saída. O Accord, topo da gama de automóveis Honda, está entre os campeões nos EUA, onde o Geração-9 foi o sedã mais vendido entre 2011 e 2016. A produção americana, desde 1982, já passa de 11 milhões de unidades. No Brasil foram vendidos 18 mil Accords desde que começou sua importação em 1992.

189



— Station de pista —

Audi Avant RS4 MOTOR COMBUSTÍVEL POTÊNCIA E TORQUE CÂMBIO TRAÇÃO COMPRIMENTO DISTÂNCIA ENTRE EIXOS NÚMERO DE LUGARES PORTA-MALAS TANQUE AUTONOMIA MÁXIMA PESO PREÇO POR JOSIAS SILVEIRA

V-6 turbo, 2,9 litros Gasolina 450 cv e 61,2 kgfm Automático, 8 marchas Integral permanente 4,78 m 2,82 m 5 505 litros 58 litros 530 km 1.715 kg R$ 546.990


Poucos modelos conseguem reunir tantas qualidades

A Avant evolui muito desde então, quase sempre com

em um só veículo como as station wagons. As “peruas”,

um motor V-8, que acrescentava muita esportividade

usando o mesmo comprimento de um sedã, têm bem

a um carro teoricamente familiar. E se transformou em

mais espaço para bagagem, conforto para os ocupantes

Avant RS4 em 1995. A sigla, de RennSport, em alemão,

e, no topo de linha, podem ter enorme tempero de espor-

significa algo como Esportivo de Competição e merece

tividade. Além de sempre exibirem desenho mais equi-

uma fábrica separada localizada em Neckarsulm. A di-

librado pela simplicidade da carroceria de dois volumes

visão RS concorre com os também germânicos AMG, da

e teto baixo.

Mercedes, e M, da BMW.

Entre elas, a Audi Avant é certamente lendária pelo fato de

Acossadas pelas crescentes vendas dos SUVs — e qua-

a primeira ter sido trazida para o Brasil por Ayrton Senna.

se extintas no mercado brasileiro —, as wagons (para

Era uma S4 de 1993, seu carro de uso por aqui, e até hoje

os íntimos) continuam prestigiadas na Europa, prin-

está com a família, preservada por seu irmão Leonardo

cipalmente na Alemanha, pelas três marcas premium

Senna. Foi um dos primeiros Audi importados nos anos

Audi, BMW e Mercedes-Benz, além de outras fabri-

1990, quando o piloto trouxe a marca alemã para o país.

cantes. Para mantê-las vivas, até surgiu o movimento

192


“Save the wagons”, com adeptos pelo mundo todo e

— Um esportivo de 450 cv e performance de competição disfarçado na carroceria de um station wagon familiar —

como forma de oferecer resistência à invasão global dos utilitários esporte. A Audi RS4 Avant certamente está no topo das peruas de elite sobreviventes, verdadeira homenagem a um tipo de veículo que combina a improvável mistura de carro familiar versátil à alta esportividade. Agora, em sua mais recente geração, comete pelo menos dois pecadilhos para os apreciadores desses modelos:

1

troca o motor V-8, de 4,2 litros e aspiração natural por um V-6 menor, turbo, de 2,9 litros. O câmbio automati-

1. Rodas de aro 20 pol com pneus de perfil ultrabaixo

zado de sete marchas e dupla embreagem foi substituído por um automático de oito marchas. Exigências de tempos ecologicamente mais corretos, pois melhorou

193


17% em consumo e, por consequência, emissão de CO2

nas quatro rodas, distribui o torque 60% para o eixo

(gás de efeito estufa).

traseiro e 40% para o dianteiro. Claro que a suspensão

Motor menor não significou perda de desempenho. Ao

igualmente tem assistência eletrônica, adaptando-se

contrário: manteve a enorme potência máxima de 450

ao tipo de pista e forma de pilotar. Tudo isso compõe

cv e ganhou muito, muito torque com o turbocompres-

a deliciosa incoerência de um “carro familiar” supe-

sor. No V-8 eram 43,8 kgfm, que se tornaram brutais

resportivo e um enorme porta-malas de 505 litros que

61,2 kgfm, mantidos entre 1.900 e 5.000 rpm. Resultado

deixa SUVs com inveja.

prático: 0 a 100 km/h em estonteantes 4,1 s e velocida-

Rodando em autódromo, onde a Avant se comporta como

de máxima limitada a 250 km/h que, por opção, pode

legítimo “carro de pista”, chega a ser estranho olhar pelo

ser estendida para 280 km/h. Em razão do turbo, o alto

retrovisor e ver um grande porta-malas e o óculo trasei-

desempenho se mantém praticamente com o motor em

ro bem distante. A sensação é de se pilotar um verdadei-

qualquer rotação.

ro esportivo de dois lugares, e não uma wagon com 4,78

Devido à tração integral quattro e à aceleração brutal,

metros de comprimento. A excelência de construção e o

a adrenalina está sempre garantida. Não só pela perfor-

desempenho ímpar mais do que compensam a aparente

mance de competição, como por um sistema de escapa-

vantagem de dirigir “altinho” um pesado SUV.

mento especial com flaps, que muda sua sonoridade de

Tanta esportividade precisa de muita eletrônica para

acordo com o modo de direção escolhido. Garante até

não trazer sustos a um motorista comum. Os controles

uma gostosa “embaralhada” artificial do motor a cada

de tração e estabilidade podem ser desligados, mas sem-

troca que catapulta as oito marchas. Para os mais téc-

pre vem um frio na espinha quando toda a agressivida-

nicos, toda essa experiência ao volante é completada

de é liberada sem as babás eletrônicas. Nesse caso exige

pelo sistema multimídia do painel que, entre muitas in-

“braço” e experiência incomuns.

formações, indica potência e torque utilizados em cada

Mesmo com os controles atuando, ao escolher o modo

momento da pilotagem.

esporte de direção as reações mudam muito, em razão

O sistema quattro, que garante tração permanente

de um acelerador com respostas ainda mais rápidas e

194


um “peso” maior no volante. A suspensão fica tão firme que a Avant chega a pular em irregularidades do asfalto. Mas, ao contrário de um “carro de pista”, esbanja luxo e requinte, tanto no visual externo quanto no conforto para os ocupantes. Acabamento de alto padrão, rodas de 20 pol com pneus de perfil 30 ultrabaixo do tipo run flat (rodam vazios), faróis full LED, interior em dois tipos de couro com bancos tipo concha na dianteira, ar-condicionado trizona, multimídia com touchpad no console (sem tela tátil, o que não é tão bom para manusear) e som Bang & Olufsen com 755 watts. Também está lá o

— As linhas da carroceria e todos os equipamentos não deixam dúvida quanto à performance esportiva da Avant RS4 —

controle de largada, para arrancadas rápidas e coice nas costas garantido. Ainda assim, há opcionais, inclusive para aumentar a esportividade inerente ao modelo, caso dos discos de freio cerâmicos e compósitos de carbono. Há outros auxílios eletrônicos para o motorista: assistente de permanência na faixa de rodagem, farol alto automatizado e controlador de velocidade de cruzeiro adaptativo. Assim, com muita eletrônica e motor turbo, a Audi con-

1

tinua a aliar valores universais de um carro esporte a muito conforto em um único modelo, que se disfarça

1. Som do escape modulado de acordo com a pilotagem 2. Painel completo mostra até a potência utilizada 3. Touch Pad no console controla painel de multimídia

como wagon familiar. Claro, para famílias que gostam de viagens rápidas, seguras e muita emoção.

2 3

− 195


— Mudou para valer —

Mitsubishi Pajero Sport MOTOR COMBUSTÍVEL POTÊNCIA E TORQUE CÂMBIO TRAÇÃO COMPRIMENTO DISTÂNCIA ENTRE EIXOS NÚMERO DE LUGARES PORTA-MALAS TANQUE AUTONOMIA MÁXIMA PESO PREÇO

POR JOSIAS SILVEIRA

2.4 turbodiesel, 4 cilindros Diesel 190 cv e 43,9 kgfm Automático, 8 marchas 4x4 4,78 m 2,80 m 7 971 litros 68 litros 740 km 2.095 kg R$ 265.990



Boa parte dos SUVs não é assim tão SUV. Apesar da

malas). O conjunto traseiro é polêmico, encontrando

aparência, não tem grande aptidão para enfrentar todo

poucos admiradores.

tipo de caminho.

Mesmo assim, esta nova versão Sport traz dezenas de

Não é o caso do novo Pajero Sport 2020, que supera

aperfeiçoamentos, com eletrônica de última geração,

cada vez melhor os terrenos difíceis. Para isso mudou

mudando bastante para substituir o modelo anterior,

quase tudo: de carroceria aos recursos eletrônicos para

o Dakar. O novo Sport virá em versão única, HPE, top

controle na terra e trilhas complicadas.

de linha com sete lugares. Traz ajustes de suspensão e

Este novo SUV chega importado da Tailândia para

dirigibilidade personalizados para o Brasil. Dependendo

manter a tradição da Mitsubishi de surpreender também

das vendas, pode ser montado em Catalão (GO). Será o

no fora-de-estrada. Há décadas que os japoneses são

Mitsubishi mais caro da linha no Brasil.

competentes em todo-terreno.

Continua um SUV “raiz”, com carroceria apoiada em

E o Pajero, fabricado desde 1982, continua com muitos

chassi reforçado, o que diminui torções também no

admiradores e formou uma família de modelos. Sempre

fora-de-estrada. Com tudo isso, o novo Sport passou de

foi confortável no asfalto, mas muito eficiente nos

duas toneladas (2.095 kg), distribuídas em 4,78 m de

caminhos e trilhas de terra ou lama, território proibido

comprimento.

para os “SUVs de shopping”.

Mesmo pesado, o novo Pajero é muito agradável de

O Pajero Sport 2020 é totalmente novo e seu visual

dirigir, rápido no asfalto e surpreendente em trilhas,

também mudou bastante. Sua frente segue os traços da

principalmente pelo conforto na buraqueira.

nova face family dos SUVs da Mitsubishi, que estreou

Boa parte desse desempenho vem do motor diesel

com o Eclipse Cross, chamada de Dynamic Shield. Uma

turbo 2.4, quatro cilindros em alumínio, com 190 cv.

dianteira agressiva, cheia de traços marcantes que têm

Melhor ainda é o torque, de 43,9 kgfm, que permite boas

também função aerodinâmica para reduzir o arrasto da

acelerações no asfalto e força em trilhas complicadas.

grande área frontal.

Com quase quatro décadas de vida, o Sport precisava

Mas é na traseira que mora a discórdia: longas lanternas

de uma boa renovação de design para marcar sua

verticais lembram o Toyota Prius, além da metade do

quarta geração. Internamente a nova carroceria traz

estepe ficar exposto (alojado sob o assoalho do porta-

conforto, com bancos de couro, e ótimo espaço para os

198


passageiros, inclusive na traseira. Fica particularmente

e o Sport controla essa velocidade pelo carro que vai à

refinado com revestimento em couro creme.

frente. Com estrada livre, acelera automaticamente.

Claro, os dois bancos da terceira fileira são limitados.

Mas os recursos para enfrentar terra e trilhas

Mas há um espaçoso porta-malas, para 971 litros, com

ganharam mais com a eletrônica. Além da “sopa de

os dois bancos extras recolhidos. Com os sete lugares

letras” de segurança, estabilidade, tração e frenagens,

ocupados, o espaço para bagagens reduz bastante.

a transmissão foi maximizada. Conta com quatro

O Pajero Sport usa o mesmo motor turbo-diesel da

seleções que mudam a tração normal (4X2, só nas rodas

picape L200, com ajustes para este SUV, e se mostrou

traseiras) para outras três posições de 4X4. Distribui

bastante econômico no asfalto. Rodando a 110/120

a tração até 60%/40% entre a traseira e dianteira. A

km/h, a média ficou nos 12 km/litro de diesel. Com

quarta posição bloqueia o diferencial, permitindo sair

boa retomada, gasta 12 s no 0 a 100 km/h. A máxima

de atoleiros mesmo que apenas uma roda tenha tração.

seria de 180 km/h, mas a Mitsubishi não confirma. O

Para realçar as qualidades em estradas ruins, o test

isolamento acústico também foi aperfeiçoado e só se

drive de cerca de 300 km tinha mais da metade por

percebe o motor diesel na marcha lenta.

estradas de terra e trilhas.

O câmbio automático de oito marchas está bem

Cheio de recursos atuais — como faróis de LED,

escalonado e com ótimo gerenciamento eletrônico, com

conectividade e adaptação eletrônica ao terreno —,

as quatro primeiras marchas curtas para estradas ruins,

o novo Pajero Sport concorre com o Chevrolet Trail

com as seguintes alongadas para o asfalto. Sétima e oitava

Blazer, pela sua faixa de preço. Seu melhor argumento

marchas são overdrive, para economia de combustível: a

certamente será o de unir o luxo e eletrônica de um SUV

100 km/h, o motor vira a menos de 2.000 rpm.

atual no asfalto com a ótima capacidade de enfrentar

Sua direção é bastante leve e precisa e, provavelmente

fora-de-estrada.

pelas exigências do fora-de-estrada, tem assistência hidráulica e não elétrica. E no asfalto também aparecem os novos recursos eletrônicos. Com câmera e sensores atrás do logotipo dianteiro, a Pajero conta com frenagem automática em emergências, quando o motorista não reage rapidamente. O mesmo recurso permite programar velocidade de cruzeiro (“piloto automático”)

— Pajero Sport 2020 chega da Tailândia totalmente renovado, com mais recursos eletrônicos —

1 2

1. Nova carroceria traz traseira polêmica 2. Quatro seleções de tração no câmbio de oito marchas

199


— Lenda alemã —


Porsche Carrera 911 S e 4S MOTOR COMBUSTÍVEL POTÊNCIA E TORQUE CÂMBIO TRAÇÃO COMPRIMENTO DISTÂNCIA ENTRE EIXOS NÚMERO DE LUGARES PORTA-MALAS TANQUE AUTONOMIA MÁXIMA PESO PREÇO

POR JOSIAS SILVEIRA

3.0 biturbo, 6 cilindros, boxer Gasolina 450 cv e 54 kgfm Automatizado 8 marchas Traseira ou integral 4,52 m 2,45 m 2+2 132 litros 64 litros 660 km 1.515 kg a 1.635 kg R$ 679 mil a R$ 769 mil


Apenas um número define não só um carro esporte como também uma marca lendária alemã. Os três algarismo do 911 são o símbolo da Porsche, desde 1963. Mesmo não sendo hoje o mais vendido — os SUVs Cayenne e Macan lideram —, o 911 e seus derivados definem a Porsche, tendo uma multidão de admiradores pelo mundo todo. São mais de cinco décadas de fabricação, e agora o 911 entra em sua oitava geração. Dos poucos mais de 100 cv dos anos 1960, o modelo 2020 evoluiu para brutais 450 cv (30 cv a mais que a geração anterior), capaz de levar esse esportivo da era digital a mais de 300 km/h. De 0 aos 100 km/h são necessários apenas entre 3,4 e 3,7 s, dependendo da versão e equipamentos. Porém, o que mais empolga não é essa aceleração

Conceitos

históricos

continuam

obrigatoriamente

que pressiona o banco contra as costas. Em uma boa

preservados, desde o quadro com cinco instrumentos

autoestrada de pista dupla, uma leve acelerada e o

redondos (conta-giros com o tradicional ponteiro no

cupê se livra de um “bolo” de veículos que esperava um

centro) até todas as sensações ao dirigir que garantam

caminhão desocupar a esquerda. A partir de uns 90

tratar-se desse lendário modelo da Porsche. Sensações

km/h, a velocidade cresce mais que rapidamente e os

hoje mais do que ampliadas no novo 911, só controláveis

outros carros desaparecem no retrovisor. Comecei a

por motoristas “normais” devido à assistência eletrônica. Tanta potência só seria dominada, sem computadores,

notar que a estrada estava passando bem mais rápido

por pilotos habituados às pistas. A eletrônica controla

que o habitual. Mas a sensação de segurança é quase

praticamente tudo, da suspensão à aderência das

indescritível. Tudo sob controle. Direção, estabilidade e

rodas, passando pela distribuição da enorme força do

freios completam-se entre si.

motor. Tudo de acordo com o traçado e a pressão do pé no acelerador. É o chamado chassi dinâmico e seus

Evolução quase discreta

amortecedores inteligentes.

Para a Porsche, fazer evoluir um 911 com todo esse desempenho pode parecer uma tarefa fácil. Mas não é. Mesmo com os melhores recursos de desenvolvimento tecnológico, esse ícone é cuidadosamente vigiado por apaixonados, principalmente puristas. O carro pode, e deve, evoluir, mas precisa continuar sendo um 911. Mesmo com o enorme gerenciamento eletrônico sempre

— Novo Porsche Carrera esbanja desempenho e potência com seu motor biturbo que rende 450 cv —

de última geração (muitas vezes precursor de recursos que só surgirão em outras marcas em alguns anos), precisa manter linhas básicas de desenho e características clássicas que já fazem parte da história do mito. Tudo começa com um motor traseiro, de seis cilindros, boxer, 3,0l biturbo. Para desagrado dos puristas, um motor com refrigeração líquida, já que os motores “a ar” tiveram de ser abandonados, em 1997, por

1

razões regulatórias de emissões. Mas nada impediu a sobrevivência do sobrenome Carrera, outra herança dos

2

1. Lanternas traseiras agora são unidas 2. Vincos do capô lembram o primeiro 911

anos 1970. 202


Trata-se de um esportivo puro-sangue, e os limites são bem

Outra novidade está nas rodas, agora de diâmetro diferente

mais amplos que nos carros de luxo. Dá para dirigir muito

nos dois eixos. Enquanto as dianteiras têm aro de 20 pol,

rápido, sem interferência sensível das “babás eletrônicas”.

as traseiras usam aro 21 pol. A Porsche acrescentou um

Aliás, esta geração estréia mais um recurso inédito: o

novo modo de condução exclusivo para pista molhada que

booster do freio (que multiplica a força aplicada no pedal)

capta ruído de água por microfones nas caixas de rodas e

agora é elétrico, em lugar do tradicional “hidrovácuo”.

muda os acertos de acordo. Muito útil quando se tem tanta

Segundo a Porsche, este sistema garante 41% menos

potência para despejar no asfalto com chuva.

esforço do motorista, além de maior precisão e eficiência

Além de tanta inteligência eletrônica, até as dimensões do

nas frenagens. Afinal, não basta ser rápido, pois os freios

911 colaboram para estabilidade e dirigibilidade esportiva.

têm de acompanhar a ousadia ao volante. O câmbio

Essa geração cresceu ainda mais um pouco, chegando aos

automatizado de oito marchas (de dupla embreagem)

4,52 metros de comprimento. E a largura, que passa dos

também foi otimizado para acompanhar a maior potência.

2,0 metros (exatos 2.024 milímetros), também ajuda a

Para quem gosta de pilotar, as borboletas no volante

manter o carro no chão, mesmo nas curvas mais rápidas

garantem a troca manual de marchas.

de qualquer raio.

203


As linhas, além de ganharem em aerodinâmica (recebeu

De qualquer forma, vale a profecia de Jerry Seinfeld,

aerofólio maior) remetem mais aos primeiros 911, com

comediante americano e conhecido colecionador de

frente em cunha acentuada, dois vincos no capô e

Porsche. Durante o lançamento do Macan em Los Angeles

traseira arredondada.

(EUA), perguntei a Jerry o que ele achava da Porsche fazer

Outra qualidade sempre valorizada pela Porsche

tantos SUVs. “Acho ótimo. Eles vão ganhar muito dinheiro

continua viva: mesmo oferecendo comportamento

e melhorar ainda mais o 911.” Acho que acertou.

digno de autódromos, pode ser dirigido tranquilamente nas ruas, em baixa velocidade, sem desconforto. O motor trabalha tranquilo, ainda que seu ronco denuncie as centenas de cavalos que estão descansando. Ou seja,

— Mesmo com tanta tecnologia e eletrônica, o 911 mantém vínculos visuais com os primeiros modelos dos anos 1960 —

um carro de desempenho muito esportivo, quase “de pista”, mas que pode ser usado no dia a dia. No total são quatro versões do 911 no modelo 2020: o Carrera S (com tração traseira) e o Carrera 4S (com tração integral), sendo que ambos podem ter teto rígido ou conversível. Também está lá toda a eletrônica de entretenimento (com interface apenas com Apple CarPlay, uma falha), mas a informação vai bem mais longe, mostrando aspectos

1

técnicos do carro em movimento. É preciso se habituar a tanta informação, além de conhecer um pouco de

2

1. Painel continua com o conta-giros central 2. A silhueta do primeiro 911 refletido no espelho d’água

engenharia sobre rodas.

204


205


— Expoente em sedã —

Mercedes C 63 AMG MOTOR COMBUSTÍVEL POTÊNCIA E TORQUE CÂMBIO TRAÇÃO COMPRIMENTO DISTÂNCIA ENTRE EIXOS NÚMERO DE LUGARES PORTA-MALAS TANQUE AUTONOMIA MÁXIMA PESO PREÇO

POR BOB SHARP

V-8 4,0 biturbo Gasolina 510 cv e 71,4 kgfm Automático, 9 marchas Traseira 4,70 m 2,84 m 5 500 litros 66 litros 653 km 1.680 kg R$ 546.900



Num mundo onde tanto se fala de carro elétrico ultima-

desta “usina” que possibilita ao sedã de 1.680 kg acele-

mente, saber que existe e, melhor, dirigir um sedã com

rar de 0 a 100 km/h em apenas 3,9 s e chegar a 290 km/h

motor V-8 de 4 litros que entrega nada menos que 510

— essa uma velocidade limitada, pois tem potência para

cv e passar as impressões ao leitor ou leitora de TOP

passar bem de 300 km/h. É um desempenho brutal e ao

Carros é um verdadeiro alento no primeiro caso e um

mesmo tempo dócil, que permite utilização normal e

enorme prazer no segundo. Isso num sedã de quatro lu-

calma na cidade como qualquer outro carro.

gares — até três passageiros no banco traseiro, mas dois

Mas não é só no motor que reside a excelência desse

estarão mais bem acomodados — com porta-malas de

Mercedes. Seu câmbio é uma obra de arte de engenha-

480 litros de capacidade, não é todo dia que se vê.

ria. Denominado AMG Speedshift MCT 9G, em que

O novo Mercedes-AMG C 63 S é propulsionado por

MCT é sigla em inglês para multiclutch transmission

um motor especial no sentido de ser montado por um

(câmbio multiembreagem), é uma única embreagem

só funcionário, um engenheiro altamente qualificado e

multidisco em vez de duas embreagens, como é relati-

treinado, na fábrica Mercedes-AMG em Affalterbach,

vamente comum hoje nos câmbios de alto desempenho.

na Alemanha, dentro do que a fabricante chama de “um

Esse câmbio tem algo inédito e genial: em vez de ser um

homem, um motor”.

automático epicíclico (convencional) com conversor de

Por aí é possível avaliar o grau de cuidado na produção

torque, este um elemento que sempre representa perda 208


— A velocidade máxima é limitada em 290 km/h, mas tem potência para superar facilmente os 300 —

1

2

1. Na frente se destaca visual esportivo 2. Comandos touchpad no console central

inerente ao seu princípio de funcionamento, e seu ne-

uma carroceria que reúne elevada tecnologia e seguran-

cessariamente grande diâmetro representar um obstá-

ça e exibe um apelo ainda mais emocional, começan-

culo a altas rotações, há uma embreagem automática

do pela grade frontal exclusiva da AMG, reveladora da

multidisco em banho de óleo no seu lugar.

identidade do veículo e que também ressalta a sua apa-

Assim, nada dos intricados sistemas de dupla embrea-

rência muscular. À frente do motorista está um quadro

gem, criados exclusivamente para possibilitar trocas

de instrumentos totalmente digital com os cativantes

de marchas rápidas, já que isso hoje provou ser per-

mostradores AMG e a nova geração de volantes de dire-

feitamente conseguido com os modernos câmbios au-

ção da marca do Grupo Daimler.

tomáticos convencionais. Agora se tornou ainda mais

Além de mostradores de desenho muito atraente, um

verdadeiro ao associar uma embreagem única de discos

touchpad (minipainel de toque) para comando de

múltiplos que transmite sem perdas o excepcional tor-

funções como num noteboook, teclas de controle no

que do motor V-8 biturbo, de nada menos que 71,4 kgfm.

volante e comando de voz, as qualidades dinâmicas

Além disso, o C 63 S sempre arranca em primeira mar-

desse supersedã são realmente surpreendentes aos

cha, diferentemente de muitos câmbios automáticos

nossos sentidos.

que ora arrancam em primeira, ora em segunda.

Ao nos aproximarmos desse Mercedes, não se tem im-

Todo esse soberbo conjunto motriz é envelopado por

pressão ou sensação de se tratar de algo tão veloz. Mas 209


quando se aperta o botão de partida e vem de imedia-

A sensação de segurança é incrível ao chegar rapida-

to aquele som gutural de um V-8 dessa estirpe é que se

mente a uma curva e constatar que os potentes freios

começa a ter noção de estar sentado ao volante de um

dissipam a velocidade como se estivessem brincando.

produto especial.

A qualidade da resposta da direção ao iniciar e depois

A maneira como acelera, o som do escapamento quando

contornar a curva, para em seguida acelerar, são ine-

nos modos de condução Sport, Sport+ e Race, a manei-

briantes até para quem é acostumado com carros de

ra de o carro todo nos envolver, como se estivéssemos

elevado desempenho.

em outro mundo, produz sensações que nunca espera-

Deixar o câmbio trabalhar sozinho efetuando as trocas

ríamos ter num sedã de quatro portas de belo desenho e

de marcha ou comandando-as pelas borboletas no vo-

dotado de todo o conforto.

lante dá no mesmo, tal a perfeição de funcionamento

210


— A sensação de segurança é incrível e os potentes freios reduzem a velocidade facilmente —

1

2

1. O estilo mescla esportividade com elegância 2. No extrator traseiro, as quatro saídas de escapamento

dessa caixa. Os algoritmos nela aplicados são de tal ordem que é como se o nosso cérebro a ela estivesse conectado. Ela pensa por você. Tudo isso significa que você ou você com sua família a bordo poderão contar com um automóvel que lhe atenda em qualquer tipo de locomoção — a lazer, em viagens de fim de semana ou no trabalho de todo dia. Nesse caso, não estranhe se acordar antes de o despertador do celular só para dirigi-lo mais um pouco, antes de começar a labuta diária.

− 211


— Familiar veloz —


BMW 330i MOTOR COMBUSTÍVEL POTÊNCIA E TORQUE CÂMBIO TRAÇÃO COMPRIMENTO DISTÂNCIA ENTRE EIXOS NÚMERO DE LUGARES PORTA-MALAS TANQUE AUTONOMIA MÁXIMA PESO PREÇO

POR JOSIAS SILVEIRA

2.0 turbo, 4 cilindros Gasolina 258 cv e 40,8 kgfm Automático de 8 marchas Traseira 4,71 m 2,85 m 5 480/365 litros 59 litros 760 km 1.470 kg R$ 219.950/269.950


O destaque das qualidades dos carros premium mudou

liar. Nesse caso, porém, as mudanças são apenas visuais.

já há algum tempo. Esse parece o caso do novo BMW Sé-

Inicialmente o 330 virá importado da Alemanha, mas

rie 3, o modelo tradicionalmente mais vendido da marca

em breve será produzido em Araquari (SC).

germânica. Qualidades dinâmicas, motor, soluções me-

A novidade interativa do novo Série 3 está no IPA. E não

cânicas, até o visual... Tudo isso ficou relativamente em

se trata de uma cerveja especial, mas um recurso eletrô-

segundo plano na apresentação do modelo.

nico que até combate a solidão. IPA significa Intelligent

Informática, capacidade digital, auxílio ao motorista...

Personal Assistant, ou Assistente Pessoal Inteligente.

Todos os recursos eletrônicos parecem ser o principal

Simplificando, um carro falante e interativo. Usando in-

atrativo. A “placa mãe sobre rodas” não é mais a “cereja

teligência artificial, esse BMW responde questões e até

do bolo”. É o próprio bolo. Mas em meio a tantos gigabytes

dá sugestões. Se você se confessa “entediado”, ele sugere

está um ótimo sedã de tração traseira, em sua oitava ge-

que se coloque o carro no modo esportivo, para que as

ração (G20), que mantém a aura de esportividade tanto

emoções ao dirigir espantem seu tédio.

quanto os primeiros Série 3 que aqui chegaram nos anos

Pode também regular funções de conforto por coman-

1990 e se tornaram um símbolo da própria BMW.

do de voz, mas parâmetros que interferem na forma de

O Série 3 mudou bastante, cresceu muito e tem duas

dirigir têm de ser ajustados manualmente. Às vezes,

versões, a 330i Sport e, a mais completa, a 330i M Sport.

uma frase é pouco entendida pelo sistema, mas, segun-

Além dos equipamentos, o M da versão mais cara signi-

do a BMW essa inteligência artificial vai aprimorando

fica Motorsport, a divisão da BMW que adiciona pimen-

o diálogo com o uso. Ele se acostuma com até quatro

ta no desempenho, mesmo em automóveis de uso fami-

motoristas ou acompanhantes, entendendo sotaques,

214


aumentando vocabulário e incluindo novas funções.

olhos, alertando em casos de desatenção, fadiga ou sono

Tudo auxiliado por atualização frequente, via um cartão

e assim disparar alertas luminosos e sonoros. Há ainda

SIM de 4G, que apenas troca dados com o fabricante.

conexão com o celular para se usar as câmeras 360° e

Não é possível acessar internet, nem permite ligações

verificar se não existe alguma ameaça antes de chegar

telefônicas. Essa atualização constante marca uma di-

ao carro.

ferença importante, pois a BMW avalia que carros concorrem tecnologicamente com os celulares, porém, estes evoluem mais rapidamente. Assim, a diferença se estreita.

— Motor 2.0 Turbo garante 258 cv e performance de sedã esportivo para o novo BMW 330i —

Para ter mais um mimo eletrônico diferente — além de várias funções para auxiliar o motorista ao volante —, a fabricante incluiu também uma programação de volante que reproduz os últimos 50 metros dirigidos para a frente, quando se volta em marcha à ré. Ou seja, o 330i consegue escapar de becos sem saída e vagas complicadas. Tudo de forma autônoma. Basta engatar a ré e acelerar que o volante reproduz exatamente os últimos 50 metros sem intervenção do motorista. Engenheiros

1

eletrônicos sempre procuram novas funções para dife-

2

renciar o carro da concorrência. Também é o caso de uma câmera voltada para o moto-

1. Traseira imponente com duplo escape 2. Na capa do motor, destaque para a marca

rista, que “lê” expressões faciais e direcionamento dos

215


— Em meio a tanta eletrônica, BMW incluiu câmera para analisar possível fadiga no comportamento do motorista —

Claro, há vários outros recursos de monitoramento eletrônico já conhecidos nos veículos de luxo e continua o serviço de concierge da BMW. Trata-se de uma assistência mundial da fabricante germânica, que funciona em várias línguas, sediada na Espanha. Basta apertar um botão no painel central e o concierge oferece sugestões de hotéis, restaurantes, postos... Inclusive programa remotamente o GPS, além de atender emergên-

1 2

cias ou problemas técnicos. Apesar da pequena frota de BMW no país, o Brasil é o segundo usuário mundial desse serviço.

3

1. O painel digital tem fácil e prática visualização 2. Rodas 18 ou 19 pol têm pneus run flat 3. LEDs acentuam agressividade da dianteira

O novo Série 3 também traz recursos semiautônomos de condução, como seguir faixas (bem conservadas) na estrada ou frenagens emergenciais. Ainda que pareça exagero tanta eletrônica e mimos digitais (presentes principalmente na versão M Sport), é fácil entender que há algumas ameaças ao carro convencional: veículos híbridos ou elétricos, autônomos, compartilhados, mudanças de hábito das novas gerações. E a saída, no momento, parece indicar a direção da sofisticação em veículos mais caros. Continuam algumas premissas tradicionais, uma delas o hábito de crescer o carro através dos anos. Esse Série 3 aumentou 8 cm em relação ao modelo anterior, e já chegou aos 4,71 m de comprimento e a 2,85 m de entre-eixos, correspondente a um Série 5 de duas gerações atrás.

216


É um sedã médio-grande que rivaliza com modelos

para se andar muito rápido, graças à excelente rigidez

considerados grandes há poucos anos. A premissa de

da carroceria, uma tradição alemã em geral. A carroce-

que “as famílias crescem” é uma verdade parcial. Depois

ria “imóvel” em situações limite dá sensação de solidez

de alguns anos voltam a diminuir, quando os filhos saem

e estabilidade, o que faz toda a diferença em relação a

de casa. Mesmo assim, ficou 60 kg mais leve graças ao

automóveis com estrutura mais frágil.

uso de alumínio na carroceria. Pesa 1.470 kg.

Em outras palavras, a fama de sedã veloz e esportivo

Mesmo maior, o novo Série 3 ganhou em prazer ao

da Série 3 está mais do que mantida, inclusive

dirigir, notado principalmente em serras ou estradas

visualmente. Apesar de manter a aparência “bombada”

sinuosas. Na autódromo Velo Città, em Mogi Guaçu

da última década dos BMW, houve simplificação de

(SP), ficou ainda mais evidente. Mesmo sem o motor

linhas que até remetem para os anos 1990.

de seis cilindros em linha, o 2.0 Turbo de quatro

O interior de muito bom gosto exibe acabamento à

cilindros sabe “falar alto”. Uma evolução do motor

altura de seu preço, principalmente com o estofamento

já conhecido, essa nova versão ganhou 13 cv (258 cv

em couro caramelo, um charme muito maior que o

a 6.500 rpm), mas quem faz a festa é o ótimo torque,

“pretinho básico”.

praticamente plano entre 1.550 e 4.400 rpm. São 40,8

O porta-malas pode ser grande, mas não é. Na versão

kgfm que empurram o 330i com gosto e prazer.

para o Brasil, apesar dos pneus run flat, foi incluído

O câmbio automático ZF de oito marchas também foi

também estepe, que rouba quase 150 dos 480 litros

aperfeiçoado e casa com precisão com o motor. Acelera

de capacidade. Como esses pneus rodam vazios, basta

muito bem (0 a 100 km/h em 5,8 s) e só não passa dos

deixar o estepe em casa para aumentar o porta-malas.

250 km/h por ser limitado eletronicamente.

O estepe no meio do assoalho também atrapalha a

Os controles de estabilidade e tração podem ser desli-

acomodação da bagagem, mas muitos proprietários ao

gados, permitindo mais ousadias ao volante. Mas, em

redor do mundo pediram essa solução.

emergências, como colocar o 330i de lado numa curva, estes controles intervêm no meio da derrapagem,

No fundo, um pormenor para adaptar as grandes

mesmo que o motorista já esteja contraesterçando

rodas do 330i (de 18 ou 19 pol) e enfrentar os temíveis

para retornar à trajetória. Ainda assim, há margem

buracos das ruas e estradas brasileiras.

217


— Eletricidade puxa eficiência —


Lexus ES 300h MOTOR COMBUSTÍVEL POTÊNCIA E TORQUE CÂMBIO TRAÇÃO COMPRIMENTO DISTÂNCIA ENTRE EIXOS NÚMERO DE LUGARES PORTA-MALAS TANQUE AUTONOMIA MÁXIMA PESO PREÇO

POR BOB SHARP

4 cilindros 2,5 litros Gasolina 217 cv e 31,7 kgfm CVT 6 marchas Dianteira 4,97 m 2,84 m 5 454 litros 50 litros 900 km 1.681 kg R$ 249.990


A Lexus, divisão de carros de luxo da Toyota, decidiu: agora, no Brasil, só híbridos. Um deles é este ES 300h, por R$ 249.990. Um sedã grande, cujos 4,97 metros de comprimento e distância entre eixos de 2,84 metros resultam em amplo espaço interno. E em se tratando de Lexus, muito conforto. A Toyota, 22 anos atrás, inovou verdadeiramente ao lançar o híbrido Prius, modelo de sucesso mundial — mais de 10 milhões já vendidos. Por isso, nada mais natural que em 2006 a tecnologia fosse estendida à sua marca premium criada em 1989. Difícil dizer quem aprecia mais o ES 300h. Se quem é conduzido acomodado confortavelmente no banco dianteiro ou aquele que o está conduzindo: a excelência não escolhe lugar. E uma das características mais marcantes concentra-se na propulsão híbrida. Ocupantes do banco traseiro apreciam suavidade, forte aceleração linear e quase nada de ruído. Atrás do volante admira-se a precisão de tudo que vê, toca e ouve. Difícil passar para o papel a sensação de dirigir o ES 300h, porém, tudo se passa como se estivéssemos em outra era, anos à frente. O modo como o motor a combustão se complementa com o elétrico torna-se um espetáculo em si mesmo. Difícil imaginar como se chegou a tal grau de perfeita integração. Bem define isso o fato de dispensar qualquer técnica ou aprendizado específico para dirigir o ES 300h. É como um automóvel comum. Os menos avisados poderão nem perceber que se trata de um híbrido e estarem dirigindo um carro diferente do convencional. A única estranheza — sutil — será premir o botão de partida e não escutar o motor de arranque: apenas energizam-se os circuitos elétricos relacionados à propulsão. Cumprida essa etapa, basta selecionar marcha à frente,

então quando segue rodando na inércia ao se levantar o pé

acelerar e sair. E sair silenciosamente, pois a arrancada da

do acelerador. Ao frear há também geração de energia para

imobilidade é feita pelo motor elétrico.

carregar a bateria.

O carro tem câmbio tipo CVT de seis marchas virtuais. Pode

Carros híbridos, como o Lexus ES 300h, são vantajosos

ser controlado por borboletas atrás do volante, embora a

em vários aspectos. Primeiro, inexiste o que se chama de

finalidade destas seja mais para usar marcha mais reduzi-

“ansiedade de autonomia”. Esse termo se origina do receio

da de maneira a obter freio-motor, como numa descida de

de não chegar ao destino planejado, como ocorre com o

serra, do que qualquer outra coisa. Na maior parte do tem-

automóvel 100% elétrico. O híbrido é dotado de um motor

po basta pôr a alavanca seletora em “D” e esquecer. Os dois

a combustão, que funciona a gasolina, e recarrega perma-

motores produzem, juntos, 217 cv.

nentemente a bateria.

Falando do motor elétrico, o que o faz funcionar é exclusiva-

Outra vantagem está no consumo de combustível mui-

mente energia acumulada na bateria de tração. Tudo gerado

to baixo devido ao motor a combustão ser permanente-

a bordo e sem necessidade de qualquer tomada e carregador

mente ajudado pelo elétrico. Assim, consegue-se facil-

nas proximidades. Para isso o motor elétrico inverte função

mente rodando em cidade autonomia da ordem de 18

e passa a gerador, este acionado pelo motor a combustão, ou

km/l — de gasolina comum. Na estrada, números prati220


camente iguais ou até ligeiramente melhores.

— Os menos avisados poderão nem perceber que se trata de um modelo híbrido —

Também é vantajoso jamais precisar conectar o veículo a uma tomada de energia elétrica, algo sempre incômodo. E quem reside na cidade de São Paulo ou aqui vem está isento do rodízio. A bateria de tração do Lexus, tipo hidreto metálico e não de íons de lítio, é garantida por oito anos. Mas, na realidade, ela apresenta durabilidade igual à do veículo, tanto em tempo quanto em quilometragem, segundo experiências relatadas pelo fabricante.

1

Por tudo isso, mais o estepe igual às demais rodas — nada de estepe temporário ou esquemas de selante para

1. Difícil dizer quem vai apreciar mais: motorista ou passageiros

reparo e bomba elétrica de encher pneu —, quem precisa de um sedã grande para uso particular ou corporativo pode pensar na opção Lexus.

− 221


— Para desfrutar o sonho —


McLaren 600 LT MOTOR COMBUSTÍVEL POTÊNCIA E TORQUE CÂMBIO TRAÇÃO COMPRIMENTO DISTÂNCIA ENTRE EIXOS NÚMERO DE LUGARES PORTA-MALAS TANQUE AUTONOMIA MÁXIMA PESO PREÇO

POR WAGNER GONZALEZ

V-8 3,8 litros biturbo Gasolina 600 cv e 63,2 kgfm Automático, 7 marchas Traseira 4.604 mm 2.670 mm 2 150 litros 72 litros 612 km 1.356 kg R$ 2.700.000


Não há mortal com um mínimo de gasolina nas veias

de 10% da meta para 2019, primeiro ano cheio de operação

que fique indiferente a esse grã-turismo exclusivo, bem

da McLaren São Paulo, loja inaugurada em 2018.

caro e capaz de gerar um novo sonho de consumo. Con-

O portfólio atual de automóveis da marca inglesa, criada

sumir, porém, não é um termo que se presta ao McLaren

em 1963 pelo neozelandês Bruce McLaren, guarda pouca

600 LT. Mais cabível a esse grã-turismo de alto desem-

relação com o primeiro modelo de rua da marca, o F1, lan-

penho é desfrutar suas qualidades, algo que faz jus a sua

çado em maio de 1992. Entre as peculiaridades dessa cria-

presença nas páginas de TOP Carros como raros outros.

ção de Gordon Murray estavam o motor BMW V-12, o fato

As primeiras quatro unidades destinadas ao mercado bra-

de acomodar motorista e dois passageiros e usar o silen-

sileiro foram logo vendidas e representaram pouco mais

cioso como elemento absorvedor de impactos traseiros.

224


— Os quatro 600 LT que chegaram foram vendidos a R$ 2,7 milhões —

Dos pontos comuns com o 600 LT — modelo da Série Esportiva (Sport Series ou SS, em inglês) — destacam-se a obsessão por soluções de ponta e a estrutura de compósito em fibra de carbono, item com o qual o F1 foi pioneiro em carros de produção em série. Aproximar-se do carro não ajuda muito a entender a razão da sigla LT: os 74 mm extras de comprimento não

1

justificam a abreviatura de long tail (cauda longa, em português), recurso aerodinâmico típico dos automó-

1. Cada cv do motor V-8 biturbo impulsiona apenas 2,3 kg

225


veis que competem em Le Mans e circuitos similares.

— Sonho de consumo não é expressão adequada a um McLaren. Ideal é “desejo de desfrutá-lo” —

Quando seus olhos percorrerem o imponente capô traseiro em busca dessa cauda longa você nota um pequeno recorte ao centro dessa carenagem e dois escapamentos com controladores de fluxo. O primeiro serve para checar e completar os níveis de água e de óleo; os últimos alteram a vazão dos gases queimados e contribuem para melhor aproveitamento dos 600 cv, a 7.500 rpm e dos impressionantes 63,2 kgfm de torque de 5.500 a 6.500

1 2

rpm, do motor V-8. Esses gases são direcionados para a asa traseira, aumentando a carga aerodinâmica. Aquele pequeno retângulo tem uma razão simples de

3

1. O equilíbrio do 600 LT é ponto alto do belo GT 2. As portas leves ajudam a garantir acesso fácil ao habitáculo 3. O capô traseiro só pode ser aberto em oficina autorizada

ser: você jamais conseguirá abrir o capô traseiro. Ele só pode ser retirado em uma oficina autorizada ou na garagem de um fanático de carteirinha, tipo Jay Leno, comediante norte-americano que possui uma incrível coleção de automóveis raros, caros e exclusivos e que põe a mão na graxa para cuidar dos seus brinquedos. Os 30 cv a mais e os 96 kg a menos em relação ao McLaren 570 garantem a excelente relação peso-potência de apenas 2,3 kg/cv. A potência cresceu graças aos comandos de válvulas e central eletrônica modificados. Já a balança levou em consideração pormenores como pneus, rodas, freios e suspensão mais leves, esta última com várias peças em alumínio forjado. Entrar no McLaren 600 LT é sensivelmente mais fácil e confortável que seus rivais Ferrari e, principalmente,

226


Lamborghini. Primeiro porque a estrutura do monoblo-

Comandos do câmbio automatizado de sete marchas

co apresenta uma reentrância junto à soleira do habitá-

estão atrás dos arcos centrais do volante. As mudanças

culo que permite acesso impensável nos rivais italianos;

são praticamente imperceptíveis pela suavidade das

segundo, as portas movimentam-se com leveza sur-

trocas e comportamento do carro, de tração traseira.

preendente. Por fim, a sensação de amplitude do cockpit

Nas acelerações mais fortes, constatei o chassi equili-

é extremamente agradável. Ali dentro não faltam lumi-

brado, sensação que aumenta no contorno de curvas,

nosidade, espaço e até 12 alto-falantes.

quando os pneus P Zero Trofeo de aro 19 (225x35 na

Os bancos também são em compósito de fibra de car-

frente e 285x25 atrás) cumprem bem seu papel em qual-

bono e revestidos em Alcântara, material sintético que

quer situação. Na aproximação das curvas e nas freadas

oferece textura semelhante à da camurça, e é sóbrio

marcam presença os freios construídos em compósito

como convém; a regulagem de altura é item opcional.

de fibra de carbono e cerâmica aliados ao trabalho equi-

Já o volante, com diâmetro apropriado e arco inferior

librado das suspensões dianteira e traseira.

achatado, tem regulagens elétricas de altura e distância

Depois de sentir bem o carro, a única frustração é não

controladas por um sistema que lembra um pequeno

ter como juntar os R$ 2,7 milhões para comprar algum

mouse e sintetiza o perfeccionismo da marca.

dos que faltam chegar ao Brasil.

227


— Evoque 2020 está mais refinado —


Land Rover Evoque MOTOR COMBUSTÍVEL POTÊNCIA E TORQUE CÂMBIO TRAÇÃO COMPRIMENTO DISTÂNCIA ENTRE EIXOS NÚMERO DE LUGARES PORTA-MALAS TANQUE AUTONOMIA MÁXIMA PESO PREÇO

POR CLAUDIO MELLO

4 cilindos 2,0 litros Gasolina 300 cv e 40,8 kgfm Automático, 9 marchas Mista, dianteira ou integral sob demanda 4,37 m 2,68 m 5 591 litros 67 litros 670 km 1.862 kg R$ 312.900


Ao lançar o Evoque, em 2011, a Land Rover iniciou qua-

Isso contribui para ganhos no consumo de combustível:

se uma revolução no segmento dos utilitários espor-

a fábrica anuncia 9 km/l em cidade e 10 km/l na estra-

te oferecendo um modelo compacto, o menor da linha

da, bastante razoável para seu nível de potência e peso.

Range Rover, que incorporava uma série de conceitos

Houve redução clara do nível de ruído na cabine ao se

inovadores, a começar pelo estilo arrojado e, inclusive,

rodar em velocidade mais elevada na estrada, o que me-

revigorou os padrões da marca. Agora, a segunda ge-

lhora a atmosfera a bordo, um dos destaques no novo

ração chega ao mercado brasileiro e a marca o define

Evoque. E apesar de o SUV inglês manter as mesmas

como uma evolução na revolução.

dimensões externas da geração anterior, o aumento de 2

Estilo básico foi mantido, mas ganhou atualização em

cm na distância entre eixos ampliou o espaço na cabine,

especial no frontal. Lateralmente, a linha de cintura

em especial para os passageiros do banco traseiro. Ou-

ficou um pouco mais pronunciada, reforçando o visual

tro avanço é o requinte no acabamento, bem superior ao

fluído e dinâmico característico do Evoque. As lanter-

da primeira geração.

nas traseiras estão mais estreitas e elegantes. As modi-

Foi descontinuada a versão de duas portas, que fez su-

ficações de estilo refletiram em acentuada melhora na

cesso quando da estreia desse modelo há oito anos. E,

aerodinâmica que, segundo o fabricante, reduziu o Cx

apesar de ter quatro versões de acabamento e seis op-

(coeficiente de forma aerodinâmica) de 0,35 para 0,32

ções de motorização, o Evoque, no mercado brasileiro,

— algo em torno de respeitáveis 10%.

será comercializado inicialmente somente na versão 230


Vale destacar que em velocidades abaixo de 17 km/h esse sistema, considerado semi-híbrido, é programado para que apenas a tração elétrica atue, colocando automaticamente o motor a gasolina em espera. Em termos práticos, também contribui para redução do turbolag, o atraso de resposta do motor que ocorre ao se pisar no acelerador. Com isso, a retomada de velocidade melhorou o que aumenta a agilidade e facilita as ultrapassagens. Essa segunda geração mantém as boas características que fizeram do Evoque o maior sucesso da marca ingle-

— A carroceria tem mesmas dimensões externas da primeira geração, mas o aumento no entre-eixos ampliou o espaço na cabine — 1 2

1. O estilo básico foi mantido, mas ganhou atualização no frontal e a linha na lateral reforçou o visual do Evoque 2. As lanternas traseiras foram redesenhadas e agora são mais estreitas e elegantes

topo de linha R-Dynamic HSE P300. O motor é um quatro-cilindros em linha, a gasolina, biturbo, de 2.000 cm³, potência de 300 cv e torque de 40,8 kgfm. O câmbio automático não mudou: ZF de nove marchas, utilizado na primeira geração. Esta versão acelera de 0 a 100 km/h em 6,6 s e a máxima é de 242 km/h, segundo a empresa. A principal novidade na nova geração do Evoque é o sistema híbrido leve (MHVE), que equipa todas as versões com câmbio automático. Nele, o alternador incorpora a função reversível de motor de arranque e apoio ao principal. Assim, além de manter a missão de carregar a bateria, de 48 V, e acionar a partida do motor a combustão, atua agregado ao trem de força para acrescentar até 10,2 kgfm de torque. O sistema atende exigências de menor consumo de combustível e, por consequência, reduz emissões de CO2 cada vez mais combatidas. A economia de gasolina pode chegar a 6%.

231


232


sa em todos os tempos. O sistema “Driveline Disconnect 2”, agora aprimorado, desativa a tração no eixo traseiro automaticamente, quando não necessária. Destaque para o eficiente sistema “Hill Descent Control”, que administra freio e tração em descidas íngremes, sem a ação do motorista. Apesar dessas qualidades, típicas de todo-terreno, o Evoque continua bastante versátil e eficiente para trafegar tanto em estradas quanto no trânsito urbano.

— Outro detalhe que se destaca na nova geração é o requinte no acabamento, bem superior ao da geração anterior —

1 2

1. Detalhes aprimoraram o acabamento requintado da cabine 2. Sistema multimídia de infoentretenimento com tela de 10 pol Touch Pro

233


— O SUV compacto que faltava —


VW T- Cross MOTOR COMBUSTÍVEL POTÊNCIA E TORQUE CÂMBIO TRAÇÃO COMPRIMENTO DISTÂNCIA ENTRE EIXOS NÚMERO DE LUGARES PORTA-MALAS TANQUE AUTONOMIA MÁXIMA PESO PREÇO

POR BOB SHARP

4 cilindros, 1,4 litro, turbo Flex 150 cv e 25,5 kgfm Automático, 6 marchas Dianteira 4,20 m 2,65 m 5 373 litros 52 litros 686 km 1.292 kg R$ 109.990 (básico)


Não é grande por fora, mas o espaço para passageiros e bagagem é dos melhores. O T-Cross surge como primeiro SUV da Volkswagen produzido no Brasil. Parece ter sido concebido para tempos de tráfego por vias congestionadas típicas das grandes cidades brasileiras. Mede apenas 4,2 metros de comprimento, mas seu entre-eixos bem longo, 2,65 m, explica o ótimo espaço interno. O conforto também resulta da boa largura da carroceria, 1,76 m e da altura, 1,57 m. O sempre crítico espaço para passageiros do banco traseiro, em carros desse porte, surpreende de tão amplo. Uma curiosidade: o T-Cross brasileiro é mais espaçoso internamente que seu homônimo europeu. Lá a base é a do Polo; aqui, do Virtus, de maior entre-eixos, inexistente no Velho Continente. São três versões, todas com motor turbo e injeção direta. Apenas a de entrada oferece câmbio manual e as demais, automático. A topo de linha é a 250 TSI Highline, única com motor 1.4 turbo quatro cilindros de 150 cv. O T-Cross utiliza a arquitetura mundial do Grupo Volkswagen denominada MQB. Além de modular (aplicada do Polo ao SUV grande Atlas), emprega aços especiais para assegurar grande proteção aos passageiros em caso de acidente. Foi um dos fatores que levaram o T-Cross a receber nota máxima nos testes de colisão do Latin NCAP. A versão 250 TSI Highline avaliada prima pelo elevado desempenho com baixo consumo. O câmbio automático, da fabricante japonesa Aisin, tem funcionamento excelente e está bem casado com o motor. Permite tro-

sição mais vertical, algo incômodo em viagens longas.

cas de machas sequenciais tanto pelas borboletas junto

A versão é repleta de itens de segurança, como airbags

ao volante de direção quanto pela alavanca seletora de

laterais e de cortina, além dos obrigatórios frontais, as-

câmbio por meio de breves torques para a frente ou para

sistente de partida em aclive, controle de estabilidade

trás, subir ou reduzir marcha, respectivamente.

e tração, bloqueio eletrônico do diferencial com vetora-

A aceleração de 0 a 100 km/h requer apenas 8,7 s e a ve-

ção de torque, engates Isofix para dois bancos infantis

locidade máxima é de 198 km/h. Ou seja, há boa reser-

atrás, luz de rodagem diurna em LED, sensor de obstá-

va de potência para ultrapassagens. O comportamento

culos na traseira, entre outros.

dinâmico é um dos pontos altos do T-Cross, combinado

O teto solar panorâmico opcional custa R$ 4.800. Há o

com a excelente direção eletroassistida. Quatro freios a

pacote Innovation por R$ 4.000: quadro de instrumen-

disco proporcionam alta capacidade de frenagem.

tos digital reconfigurável, seletor de modo de condução,

O consumo de combustível declarado é de 7,7 km/l na

sistema de áudio com navegador e tela tátil de 8 pol., co-

cidade e 9,3 km/l na estrada, com etanol; gasolina, 11

mando de voz e entrada USB no console central. O pacote

km/l e 13,2 km/l, respectivamente. A capacidade do

Tech & Beats, de R$ 6.090, inclui assistente de estacio-

porta-malas, de 373 litros, pode ser ampliada para 420

namento versão 3.0, faróis em LED com luz de rodagem

litros ajustando os encostos do banco traseiro numa po-

diurna integrada e sistema de áudio com subwoofer.

236


Se somados os três pacotes ao preço básico de R$ 109.990, a unidade testada atinge R$ 124.800. Em suma, prazer ao dirigir é o principal atrativo do T-Cross. Ágil nas respostas, equilibrado nas curvas, direção precisa e freios bem dimensionados. Tudo isso somado ao surpreendente espaço interno.

— São três versões, todas com motor flex turbo e injeção direta —

1

2

1. Sem ser grande por fora, o conforto interno destaca-se 2. O T-Cross brasileiro é mais espaçoso do que o modelo europeu

237


— Elétrico na veia —

Jaguar I-Pace MOTOR COMBUSTÍVEL POTÊNCIA E TORQUE CÂMBIO TRAÇÃO COMPRIMENTO DISTÂNCIA ENTRE EIXOS NÚMERO DE LUGARES PORTA-MALAS BATERIA AUTONOMIA MÁXIMA PESO PREÇO

POR JOSIAS SILVEIRA

Dois elétricos Eletricidade (100%) 400 cv e 71 kgfm Automático, marcha única Integral permanente 4,68 m 2.99 m 5 656 litros 90 kWh 470 km 2.208 kg R$ 437.000



O novo Jaguar I-PACE chega ao Brasil à procura de um

Distribuição de peso perfeita (50%/50%) também ex-

lugar ao sol para os elétricos puros. E também quer de-

plica a sensação de “incapotável”, mesmo o I-PACE

monstrar grande prazer ao dirigir por uma combinação

sendo relativamente alto devido ao pacote enorme

tecnológica aproveitada ao máximo. Nos motores elé-

de baterias. Depois de algumas curvas, já se perce-

tricos, a “força” (torque) é sempre instantânea. Ao ace-

be quanto é grudado no chão. A sensação é a de um

lerar vem uma “paulada nas costas”.

esportivo muito rápido (0 a 100 km/h em 4,8 s), mas

Outra vantagem está no centro de gravidade extrema-

exige adaptação.

mente baixo, pouco acima dos eixos. Toda a grande mas-

A forma de conduzi-lo é diferente de um carro conven-

sa deste SUV (2.200 kg) concentra-se na altura das ro-

cional. Aqui, ele foi apresentado em evento no autódro-

das, pois os dois motores de 200 cv (um em cada eixo) e

mo Velo Città, em Mogi Guaçu (SP). Mas no lançamen-

mais de 600 kg de baterias estão inseridos no assoalho.

to mundial, em Portugal, cheguei a rodar mais de 500

Você dirige praticamente sentado sobre as baterias.

km em diferentes condições. 240


Nas estradas descobre-se que o melhor é usar a recupe-

ta. Mas existe uma novidade: o tradicional navegador

ração de energia no nível máximo, quando praticamen-

GPS traz um aplicativo com todas as estações de recar-

te dispensa o pedal do freio, na maioria das situações.

ga. Ele analisa a autonomia e, se for necessário, mostra

Apenas tirando o pé do acelerador, consegue-se até 0,4

alternativas de rota para evitar surpresas.

G de desaceleração. Cheguei a rodar cerca de uma hora

Em tomada comum (220 V) se recarrega de 20% até 80%

sem pisar no freio, mesmo nas cidades, e assim ganhar o

das baterias em 10 horas. Nas estações de alta potência são

máximo de recarga por regeneração e autonomia.

só 40 minutos. Se for azarado e a tomada de 110 V, pode levar

O “aprender” a pilotar pede para confiar no carro. Cur-

mais de 40 horas de 0 a 100%.

vas são vencidas de forma diferente, com a eletrônica de

No I-PACE a manutenção é muito simples. Por isso as três

estabilidade e tração mais sutis. Ao acelerar, o sistema

revisões (a cada dois anos ou 34.000 km) são gratuitas, com

libera potência para as rodas dentro do maior limite que

garantia de cinco anos, além de oito anos para as baterias.

aquela curva suporta. O que também muda as sensações ao volante é não existir câmbio. A rotação do motor

— Novo Jaguar mostra que os carros elétricos também são ótimos esportivos —

cresce de forma “infinita”, até os 200 km/h, velocidade limitada para poupar as baterias. Autonomia teórica chega a 470 km (padrão WLTP). Em Portugal, rodei com a versão de suspensão hidráulico-eletrônica, um opcional caro. Para o Brasil, vem a suspensão convencional, também com assistência eletrônica, por iniciais R$ 437.000. O silêncio interno é atração à parte, apesar de existir simulador de ruído de

1

motor, recurso obrigatório na Europa a partir de 2021. Claro que o interior é muito luxuoso, ergonomia exem-

2

1. Silêncio traz sensações diferentes ao dirigir 2. Linhas aerodinâmicas para aumentar autonomia

plar, além de todas as atrações de infotainment de pon241



— Pequeno mamute — BMW R 1250 GS ADVENTURE MOTOR COMBUSTÍVEL POTÊNCIA E TORQUE CÂMBIO TRAÇÃO COMPRIMENTO DISTÂNCIA ENTRE EIXOS NÚMERO DE LUGARES PORTA-MALAS TANQUE AUTONOMIA MÁXIMA PESO PREÇO POR JOSIAS SILVEIRA

Boxer, 2 cilindros, 1.254 cm³ Gasolina 136 cv e 14,6 kgfm Manual, 6 marchas Árvore cardã 2,27 m 1,50 m 20 ou 30 litros 580 km 249 kg De R$ 69.950 a R$ 95.950


244


— Rápida no asfalto e ágil na terra, a nova GS continua a preferida para longas viagens —

Poucos veículos merecem tanto a sigla SUV de duas rodas como as motos big trail, rápidas no asfalto e prontas para encarar terra com naturalidade. Por isso são as preferidas para grandes aventuras. Entre elas a BMW GS, sempre uma das favoritas, tanto que os fãs adiaram sua compra à espera do novo modelo. Valeu a expectativa, pois entrega emoção aos baldes. Os ampliados 1.254 cm³ do motor boxer despejam 136 cv (antes, 125 cv). Além de acelerar mais rápido,

1

a suavidade de funcionamento surpreende para a tradicional solução da BMW, de dois cilindros opostos

1. .LEDs e para-brisa regulável para maior conforto

e árvore cardã no lugar de corrente. Modelo mais vendido da marca alemã no mundo, a 1250 GS é montada na Zona Franca de Manaus e deve continuar sua carreira de “rainha da aventura”. Sempre unindo rapidez no asfalto com boa capacidade na terra, areia ou neve. Seu desempenho é até acima do necessário, com a vantagem de oferecer muito mais conforto que as motos esportivas. Com as costas eretas e suspensões de longo curso (19 cm na dianteira e 20 cm na traseira) podese pilotar horas sem cansaço. Foi o que se comprovou em mais de 200 km de teste, além do bônus de 40 km de estradas de terra nem sempre civilizadas. Todo o conjunto é bastante equilibrado para cruzar a boa velocidade média no asfalto ou subir morros por estradinhas precárias. O motor boxer, mais uma vez, destaca-se com facilidade. Passou por várias mudanças, desde o escape com curvas mais suaves até a adoção de comando de válvulas variável nos dois cabeçotes. Tudo isso sem significar consumo de combustível desmedido: a 120 km/h chega aos 20 km/l de gasolina. Só que basta virar o acelerador eletrônico para valer e os “cavalinhos” estão soltos, porém perfeitamente domáveis. A BMW divulga a velocidade máxima como “mais de 200 km/h”. Certamente bem mais: a 120 km/h o motor ronrona a meras 3.500 rpm, em sexta e última marcha. Os 136 cv só aparecem a 7.750 rpm, com corte de rotação nas 9.000 rpm. Deve surgir limitação de segurança lá pelos 250 km/h. Aceleração de 0 a 100 km/h também não é divulgada, porém, parece ficar em algo entre 3,7 e 3,9 s. De fato, se acelerar tudo pode escurecer a vista, mesmo percebendo que a eletrônica (controles de tração e estabilidade) funciona o tempo todo para manter a

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roda dianteira firme e reta na pista. Aliás, em qualquer

compromisso para viagens. Já a seleção esportiva

moto com mais de 100 cv as “babás” eletrônicas são

transfere toda a força possível para a roda traseira,

fundamentais para andar rápido sem grandes riscos.

garantindo acelerações muito fortes. Tudo se autoajusta

Tudo é regulável, até mesmo o amortecimento das

em milissegundos, “lendo” a pista, estilo da tocada e

suspensões. Existem três posição fixas, selecionáveis

peso sobre a moto, como garupa e bagagem.

também em movimento: Rain (chuva), Road (estrada)

Recursos eletrônicos variam de acordo com o modelo,

e Dynamic (esportiva). Na primeira opção, a resposta

podendo se tornar “pacote Premium”. A mais completa

do acelerador é bem suave; na segunda, surge o melhor

é a Adventure, com variações entre a Exclusive e HP, 246


e muitas outras funções fazem parte do computador de bordo. O sistema permite pareamento com celular por meio de um aplicativo da própria BMW, para se ter mapas e roteiros na tela. Seria mais útil o pareamento direto com o celular para usar Waze ou Google Maps. Se ao rodar na estrada se alcançam níveis de conforto, ergonomia e desempenho inimagináveis anos atrás, na cidade a vida não fica tão simples. Por suas próprias dimensões (2,21 m de comprimento e 95 cm de largura) e também pelo peso da moto, em torno de 250 kg. Outro complicador é a altura do banco ao solo, de 87 cm, podendo ser regulada para 85 cm. Mesmo quem tem mais de 1,80 m só encosta a ponta dos pés no chão. Existem kits para diminuir a altura, e há ainda a possibilidade de abaixar a suspensão, indo para 82 cm a distância do banco ao solo. Tudo isso é compensado pelo prazer em longas viagens, quando as dimensões se tornam adequadas inclusive para se levar muita bagagem. Os modelos de topo da nova GS já vêm com suportes para malas da própria BMW. Sobram poucas críticas, como a regulagem manual do para-brisa, quando em concorrentes é elétrica. Claro que freios, iluminação (por LEDs), leitura do painel TFT, qualidade de acabamento e outros aspectos estão à altura da proposta da 1250 GS. Sem dúvida, um pequeno mamute germânico/manauara.

— Muita eletrônica ajuda a trafegar inclusive em terrenos difíceis, cheios de pedras —

que conta com tanque maior, para 30 litros de gasolina (20 litros nas outras). Vêm ainda manoplas aquecidas e partida keyless (basta ter a chave no bolso). As comodidades continuam com a nova GS trazendo recursos de carros de luxo, tudo mostrado pelo painel em TFT e controlado por botões nos punhos.

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Há ainda controle de velocidade de cruzeiro e até leitura 1. Controle de tração ajuda em qualquer terreno

da pressão dos pneus. Claro, consumo, tempo de viagem 247


— TOP Tecnologia —

Conectar ou sucumbir POR ROBERTO MARKS

Conectividade é a motivação do momento: “Quem não se conecta, se trumbeca” poderia muito bem ser o bordão atual de Chacrinha, popular comunicador, caso estivesse vivo. E a conectividade também invade o universo do automóvel por intermédio das centrais multimídia que, de meios de infotenimento, estão se transformando em complexos sistemas de intercomunicação e interface do motorista com o carro. Quem tem mais de 40 anos de idade deve se lembrar do seriado de televisão A Supermáquina, no qual o personagem principal conversava normalmente com

anteriores, que dependem de uma única rede, já que

o carro para obter informações importantes, algo que

pode utilizar as redes existentes — 2G, 3G e LTE —,

hoje já é possível mesmo em modelos comuns.

bem como a nova tecnologia de acesso por rádio com

Esse

processo

foi

acelerado

pela

evolução

da

ondas milimétricas, o que permitirá o lançamento de

comunicação por celulares, e isso ficará mais evidente

inúmeros novos aplicativos.

com a futura implantação da conexão 5G, que tem

Isso, inclusive, pode tornar irrelevantes rapidamente

como

e

sistemas como Android Auto ou Apple CarPlay, pois a

ultravelocidade. Ela é uma evolução frente aos padrões

intercomunicação poderá ser feita diretamente pela rede

principal

característica

a

flexibilidade

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celular, inclusive a conexão com outros veículos e outras

delas, a assistente virtual, reconhecerá sotaques das

“coisas”, como edifícios, semáforos inteligentes, câmeras

diversas regiões do Brasil e prestará informações a

de trânsito etc., denominados de sistemas V2V e V2X.

partir de solicitações do motorista. Também permitirá

E os fabricantes de automóveis estão atentos a

acessar funções básicas, como ligar o rádio ou monitorar

essas

recentemente,

e controlar funções do veículo remotamente, como dar

o novo Chevrolet Cruze Premier é destacado pela

partida ao motor, destravar portas e até determinar

General Motors como primeiro automóvel no Brasil

limites geográficos que, se ultrapassados, acionam

com Wi-Fi nativo por meio de chip interno. Vários

um sistema de alerta. Caso o carro sofra uma batida

modelos importados têm o mesmo sistema, mas

enquanto estacionado, o sensor do assistente virtual

ficam inoperantes no Brasil por falta de conexão com

envia uma mensagem para o celular do proprietário.

operadoras brasileiras de telefonia celular.

Outro aplicativo do sistema é o On Board Diagnose

A tecnologia proporciona conexão automática de alta

(OBD), que possibilita uma avaliação remota de

velocidade para até sete dispositivos simultaneamente

diversos componentes do carro. Por meio dele, a

e a possibilidade de serviços conectados na tela do

fabricante

veículo. Isso acontece em razão de a antena do veículo ser

automóvel sobre revisões programadas ou consultar

dotada de sistema de amplificação. O posicionamento

como foi a experiência dele em relação ao serviço

dela sobre o teto também contribui para reduzir a perda

realizado pela concessionária. A resposta convertida

de sinal nas áreas de “sombra”, como se denominam os

em texto é enviada para avaliação do nível de satisfação

fenômenos que atrapalham a conexão.

do cliente. No sistema atual, as empresas já podem

A Claro é a provedora do sinal de telefonia e Wi-Fi

usar as telas para enviar notificações e promoções para

nos modelos Chevrolet. Os planos partem de R$ 30

os motoristas. Em breve, devem ganhar também um

por 2 GB de dados e podem chegar a 20 GB. Em outras

sistema de comércio virtual.

novas

tendências.

Lançado

poderá

comunicar

o

proprietário

centrais multimídia é possível usar o chip (SIM card) de qualquer operadora, mas a fabricante lembra que há problemas de segurança envolvidos, e o chip, nesse caso, está soldado internamente.

— A velocidade com que evolui a conectividade pode tornar irrelevantes rapidamente sistemas como Android Auto e Apple CarPlay —

Essas tendências também têm estimulado o surgimento de novas empresas denominadas autotechs, que são startups focadas no desenvolvimento de componentes e aplicativos com tecnologia da informação para a indústria automobilística. Uma delas é a LogiGO Connected Mobility, que iniciou atividades há quase dez anos como distribuidora de centrais multimídia e acabou se transformando em desenvolvedora de sistemas. Ela fornece atualmente para modelos fabricados no Brasil da Toyota, Nissan, Mitsubishi e negocia com mais uma marca. Suas centrais utilizam modens que se conectam à internet, permitindo o download de aplicativos diretamente na tela, sem necessidade de cabos. Mas também podem se conectar aos telefones a bordo por meio de roteador presente nos aparelhos. A LogiGo monta seus equipamentos na fábrica de Itatiaia, RJ, onde desenvolve novas tecnologias. Uma 249

do


— TOP Prazer —

Carruagem dos deuses — O desafio da VW para disputar o segmento de alto luxo com BMW e Mercedes-Benz — por Roberto Marks

Em 2002, a VW lançou o Phaeton, modelo mais luxuoso

marchas tinha botões de acionamento no volante e a

já fabricado pela marca. Foi exposto no Salão do

tração era integral. Verdadeiro tapete sobre rodas, que

Automóvel de São Paulo daquele ano. Era a proposta

tive a exclusividade de experimentar em estrada.

arrojada de Ferdinand Piëch — neto de Ferdinand

Apesar de todos os atributos, não obteve o sucesso

Porsche —, principal executivo do grupo alemão de

esperado. E, assim como o Phaeton da mitologia, que,

1993 a 2002 e responsável pela verdadeira revolução em

castigado por Zeus, foi jogado no fundo do Rio Erídanos

métodos de produção.

junto com a carruagem, o modelo da VW acabou esquecido

A “cereja do bolo”, último grande projeto antes de ir para

pelos sucessores de Piëch.

o Conselho de Administração do grupo, era o requintado

Só resta aguardar que essa “carruagem dos deuses” alcance,

Phaeton para concorrer com BMW Série 7 e Mercedes-

no futuro, o reconhecimento do personagem mítico que

Benz Classe S. O nome do modelo resgatava uma tradição

lhe emprestou o nome. Retirado do rio, foi enterrado com

do começo do século 20, que definia modelos de luxo

o epitáfio: “Aqui repousa Phaeton, condutor audacioso do

que destacavam a separação entre os bancos dianteiro

carro paterno que, se não pôde controlar, ao menos lhe

e traseiro.

permitiu perecer em gesta glória”.

A origem do nome vinha de um tipo de carruagem requintada do século 19, inspirada na mitologia grega, na figura de Phaeton (Brilhante, nas línguas latinas), filho de Hélios — o deus que conduzia a carruagem solar. Phaeton teve permissão para “pilotar” o veículo do pai, mas, inexperiente, reza a lenda que perdeu o controle dos cavalos e “incendiou” o céu e a terra. O Phaeton da VW não corria esse risco. Um projeto muito bem elaborado e que já incorporava componentes de segurança ativa. Desatacava-se pelo motor W-12, arquitetura única. Com 6 litros, desenvolvia 420 cv, potência superior à do BMW Série 7 e do Mercedes Classe S, na ocasião. O câmbio automático de cinco

250




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