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Uma região inóspita e pouco explorada para uma viagem intensa

empresa chinesa já cuida de deixar a estrada com um tapete de asfalto, as obras seguem em ritmo frenético. Uma nova rota terrestre que surge para a alegria dos turistas e tristeza para quem curte o diferenciado, o difícil e o inusitado de uma estrada sem as maravilhas do progresso.

Algo que chama a atenção em cidades bolivianas é que o principal meio de transporte da população é a motocicleta, que carrega famílias inteiras: de bebês recém-nascidos a senhoras de idade, muitas vezes, todos na mesma moto.

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O isolamento da região proporciona a conservação da floresta amazônica com suas gigantescas árvores quase em meio à estrada. Rios caudalosos surgem ao horizonte como o Orton, Madre de Dios e Beni, todos afluentes do rio Madeira que faz a divisa entre o Brasil e a Bolívia. Aos poucos, no departamento do Beni, percebe-se a transição dos biomas, cruzando-se extensas e baixas planícies aluviais até chegarmos nos vales pré-andinos. Rurrenabaque é uma cidade do Beni, voltada ao ecoturismo boliviano e base de descanso nessa rota antes de encarar a Cordilheira dos Andes.

As vilas e pequenas cidades são muito pobres e muitas vezes com uma rede hoteleira que se resume a um minúsculo estabelecimento sob administração familiar. Esses são alguns dos obstáculos a se superar para conhecer um país belíssimo e único.

Diferente de outros países sul-americanos, os bolivianos são mais reservados, mas nem por isso menos brincalhões. Durante a viagem, uma pousada bem simples, familiar e no “meio do nada” cha- mou a atenção pelo nome: Sheraton! (Duvida? Dê um Google Maps!).

Àquela altura do caminho, um Sheraton para abrigar os viajantes, seja de que porte for, é sempre muito bem-vindo, ainda mais se vier acompanhado de um silpancho. Esse prato leva arroz, batata, cebola e carne de boi empanada (ou um peixe frito empanado), além de ovos e também uma salada, que é comumente feita com pimenta boliviana, tomate, cebola e alguns condimentos. Delícia!

Ao servir a refeição, é costume ouvir a saudação: “Provecho!”, tão sagrado quanto um “te amo”.

Aliás, uma curiosidade do povo boliviano é a resistência aos restaurantes fast-food. Os mais tradicionais são contrários ao conceito de comida rápida, gostam mesmo de apreciar o momento de refeição, saber quem a preparou e, se possível, enxergar o que compõe o seu prato. E a gastronomia boliviana tem pratos deliciosos como a salteña, sopa de maní, platô paceño e outros tantos que em sua composição levam sempre batatas, milho, frango, carne e quinoa. Nas principais cidades, a exemplo do que ocorreu décadas atrás no Peru, já se veem iniciativas em aprimorar a gastronomia com conceitos de originalidade e legitimidade dos pratos.

A expectativa dos expedicionários é “escalar” as gigantescas montanhas pela famosa e histórica Estrada da Morte, também conhecida como “Camino a los Yungas”. Até 2007, essa estreita estrada de terra era a única ligação de La Paz até a região mais baixa de floresta de Yungas. Um sonho de aventura para quem adora uma adrenalina: de um lado há a parede da montanha e, do outro, um precipício de até 600m de altura. Mas é preciso dizer que essa aventura precisa de expertise e conhecimento.

Toda rota pela Estrada da Morte tem 64 km, sendo 25 km no cascalho e o restante pela “ruta” nacional 3, e atualmente é muito utilizada por ciclistas que a percorrem em descida: ela inicia no “cumbre” a 4.700 m de altitude e termina em pouco menos de 1.200 m em Yolosa, com 3.500 m de baixada! Os RedRiders, porém, fizeram no final da tarde o percurso inverso, quando o movimento das bicicletas no contra fluxo já havia se encerrado. A adrenalina é intensa e toma conta do corpo, exigindo total concentração na pilotagem, com um olho à frente e outro nos precipícios!

A Montanha Huayna Potosí, a 25 km de La Paz, é visita indispensável

Na chegada a La Paz, também conhecida como “Ciudad del Cielo” ou “Ciudad Maravilla”, avistamos a beleza dos picos andinos. A suntuosidade das imponentes montanhas nevadas da Cordilheira é de tirar o fôlego. Além disso, o povo é carismático e ao mesmo tempo distante do resto do mundo, uma mensagem clara de que é possível chegar longe e nas alturas.

Ainda na zona urbana da capital administrativa boliviana, formações em arenito esculpidas pelo vento surgem na parte mais baixa da cidade formando o curioso Vale de la Luna.

Destaque em La Paz são os teleféricos que podem transportar qualquer pessoa por todos os cantos da cidade, conectando com El Alto, onde vive a maior parte da população. É um sistema de transporte de dar inveja e deixar outros lugares boquiabertos com sua eficiência.

A proximidade da cidade com sítios fantásticos, como o lago Titicaca, Tiwanaku, Salar de Uyuni e as altas montanhas, fazem dela um centro logístico perfeito.

Partimos cedo para vermos de perto a montanha Huayna Potosi, com seus 6.088 metros de altitude.

O caminho de 25 km desde La Paz é por estrada de cascalho, passando por lagos de degelo, um curioso cemitério de trabalhadores de minas e acampamentos base para alpinistas. Com as motos, chegamos a 4.900 metros de altura, suficientes para nos emocionarmos com a beleza e grandiosidade do nevado.

Seguimos para Copacabana, que pode ser comparada ao bairro brasileiro do mesmo nome pelo charme e simpatia dos que ali vivem. Na verdade, a relação com o bairro carioca é que a virgem de Copacabana, que se manifestou na cidade boliviana, ficou muito famosa na América do Sul, até que uma réplica da imagem dela foi levada para o Rio de Janeiro.

Pelo lado boliviano, a partir de El Alto, o percurso à cidade lacustre é por excelente estrada, em sua maior parte com pista duplicada e a travessia em pequenas balsas pelo estreito de Tiquina, uma passagem que liga as partes menor e maior do lago Titicaca.

O entardecer em Copacabana é um encantamento, com o contraste das dezenas de barquinhos ancorados após levarem os turistas às míticas ilhas do Sol e da Lua, onde existem ruínas datadas de mais de 3.000 anos a.C. Hora de degustar a cerveja Paceña e um tira gosto de truta frita!

Lado Peruano

De Copacabana a Puno, no Peru, são apenas 140 km passando pela fronteira de Kasani, na maior parte circulando em solo peruano, pela margem do maravilhoso lago Titicaca – o mais alto navegável do planeta. A navegação às ilhas de Uros não pode ficar de fora da programação, com sua milenar comunidade flutuante.

O lago Titicaca é o maior da América do Sul em volume de água e é também o mais alto do mundo: ele está a 3.812 metros acima do nível do mar, entre duas cadeias de montanhas. Mais que isso, há muitas histórias por ali. O lago é considerado o berço da civilização Inca.

Segundo a narrativa inca, tudo começou quando o primeiro imperador, Manco Capac, chegou à Isla del Sol, uma das muitas do Titicaca. E são exatamente as ilhas Uros e Taquile que ajudam a fazer do lago um dos lugares mais incríveis para se conhecer no país.

Uros é um conjunto de 68 ilhas artificiais e flutuantes no lago Titicaca e diz respeito ao povo que habita as ilhas. Eles são descendentes dos Aymarás e sua origem é mais antiga que a dos Incas.

O fascinante das ilhas de Uros é que elas são feitas com totora, uma planta aquática. A base das ilhas é um conjunto de camadas de totora sobrepostas que precisam ser trocadas a cada cinco anos. Para que as ilhas não fiquem à deriva no lago, sua base é ancorada com cordas.

“Depois de pilotar 380 km por paisagens deslumbrantes, surge a imponente Cusco, cidade que é considerada o umbigo do mundo. As motos Africa Twin se destacam e chamam a atenção na Plaza de Armas, o centro nevrálgico dessa cidade que já foi o coração do Império Inca”, conta Cassiano

Marques, que acompanhou essa viagem.

Cusco é cercada por bares e restaurantes localizados nos mezaninos dos prédios históricos. A gastronomia do Peru é um capítulo à parte. Do ceviche ao lomo saltado, do porquinho-da-índia, conhecido como cuy, filé de alpaca, ao pirarucu fresco com molho de maracujá servido no mezanino do restaurante Limo. “Tudo, mas tudo mesmo, sem exageros, é delicioso! O grupo não se fez de rogado e saboreou tudo”, conta o rider Cassiano.

O frio de Cusco pede um vinho ou uma cerveja, a famosa Cusqueña, ou para animar, o pisco sour, preparado com aguardente de uva. A cidade tem inúmeras opções para degustação. Mas se você não gosta de nada alcoólico, pode provar a Inka Kola, refrigerante mais popular do que a Coca-Cola no Peru, com coloração amarela, e o Chicha Morada, um refresco que leva um milho de cor de uva e especiarias. “Em Cusco, a dica é visitar o Vale Sagrado dos Incas e conhecer as ruínas de Saqsaywaman, Pukapukara, Qenqo, Pisac, nomes meio bizarros, mas que valem cada segundo da sua visita. E existe a opção ainda de ir ou não para Machu Picchu, que é um santuário único”, comenta ele.

Travessia da Cordilheira

Logo cedo, as motos Africa Twin estão a postos para seguir ao próximo desafio: cruzar a Cordilheira dos Andes, a mais de 4.700 m, e suas dimensões planetárias. Não há como não se emocionar!

A Cordilheira, com seus incríveis picos nevados, é venerada pelos aventureiros de todo o mundo. Não há quem não se emocione naquele lugar. No ponto mais alto está Abra Pirhuayani, parada obrigatória, local de encontro e de agradecimento. Um casal belga de ciclistas viajantes contava empolgado e deslumbrado o quanto estava agradecido por estar ali. São muitos os viajantes que se encontram pelo caminho, amizades construídas e laços que só quem participa de viagens em grupo entende.

O contraste do frio e calor é sentido em Puerto Maldonado, cidade de passagem na selva peruana. A intensidade do verde é revelada nas planas estradas até Rio Branco (AC), nosso destino final. E, ao chegar, depois de tantas vivências, todos já fazemos planos para a próxima Expedição. Viajar e pilotar é viciante.

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